Ledo Ivo: Pelos caminhos do mundο até à Grécia

June 2, 2017 | Autor: Yorgos Rouvalis | Categoria: Literatura brasileira, Poesía, Literatura Brasileira Contemporânea, Ledo Ivo, Traducao em Grego
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Ledo Ivo: Pelos caminhos do mundο até à Grécia
Jorge Rouvalis
Universidade de Atenas, Grecia

Queridos colegas, querida e incansável Luísa, queridos Gonçalo y Denise,
Muito obrigado pelo vosso convite. É para mim uma grande alegria estar aqui no Nordeste para poder falar sobre o nosso inesquecível Lêdo Ivo.

Como se traduz um poeta? Através de que processo se chega desde o conhecimento, a leitura, a admiração de um trabalho poético até à sua tradução e publicação? No meu caso pessoal, de traductor já com algumas horas de vôo, este processo pôde tardar, por vezes, 30 anos. É o período que decorreu, por exemplo entre o visionamento do filme Vidas Sêcas de Nelson Pereira dos Santos na Cinemateca de Paris nos anos 70, até à efectiva tradução e edição do livro em 2012. Ou, também desde a leitura da fabulosa novela Três tristes tigres do genial Cubano Guillermo Cabrera Infante, lido em 1972 no Instituto da América Latina em Paris até à publicação da tradução em Atenas, em 2008.
Poderão entender que se trata aqui de projetos literários y de tradução de grande força, cuja qualidade precisamente instigou a permanência do desejo de traduzí-los, mais tarde ou mais cedo.
Felizmente para mim, a poesia de Lêdo Ivo não teve um caminho tão longo até chegar à forma de livro traduzido. Conheci o poeta num festival literário chamado Literatura del Bravo na Ciudad Juárez, México, em 2009. Ambos tinhamos sido convidados a fazer leituras da nossa produção literária em escolas superiores e teatros da cidade e a conviver durante uma semana. Eu ignorava quem era o poeta mas a sua idade respeitável assim como a deferência com que o tratavam os outros companheiros escritores, todos mais jovens que ele, chamou-me a atenção. Numa das mesas do almoço, sentei-me ao seu lado e, vivo e ágil como só ele, perguntou-me de imediato se eu era poeta. Tardei em responder, não porque não me sentisse poeta mas porque cultivava outros géneros como o Conto, a Novela, etc. "Não tenho a certeza", respondi. "Bem, mas e' ou não se é poeta!" Fulminou-me Ledo. "Tive que ceder e confessar que sim, que era poeta". Desde esse momento fui aceite no círculo dos seus admiradores, alguns dos quais também eram seus tradutores em espanhol e todos o tratavam com muito respeito, ao qual me juntei sem problemas. Numa leitura comun, Lêdo leu o seu famoso poema "Os pobres na estação rodoviária", uma Obra Mestra que aumentou a minha admiração pela sua poesia.
Frequentar os momentos de refeição aumentou as possibilidades de conhecê-lo melhor e admirar o seu espírito versátil mas profundo, a sua agilidade física e a sua plena disposição para se inteirar e integrar em todas as actividades do encontro. Inclusivé os brasileiros de Juárez, ao saber que tinham presente um ilustre compatriota e académico, organizaram-lhe uma festa nuna casa onde assistiram todos os participantes do encontro.
Muitos livros de poesia trouxe dessa viagem, assim como novas amizades de poetas e escritores. Mas a recordação mais intensa consistia em Lêdo Ivo e a sua forte poesia.
Já de regresso a Atenas, comentei essa "descoberta" com um amigo, poeta e editor, Dinos Siotis, o qual organizava também um encontro literário na ilha de Tinos, Ciclades, na Grécia. De imediato decidiu convidá-lo para o Verão de 2010. Assim, um belo dia cheguei ao aeroporto de Atenas para receber o poeta que vinha viçoso que nem uma alface e sem se queixar, embarcou no automóvel de um amigo em direcção a Náfplio, a minha maravilhosa cidade natal, junto ao mar. É uma pequena cidade muito pitoresca, construída pelos Venezianos e que foi também a primeira capital do Estado Grego Moderno. Lêdo ficou em nossa casa e passou esses 2 ou 3 dias em plena sombra dos cafés da Marginal olhando o mar. Já tinha estado há mais de 10 anos na Grécia e percorrido tudo o que havia de Museus e Escavações Arqueológicas. Agora só queria descansar. Obviamente, gostou muito da cidade, comprou lembranças para os familiares e em Atenas embarcou connosco no barco que nos levaria a Tinos. Ai' encontrámo-nos com um jovem engenheiro do Rio Grande do Sul e as suas filhas que viajavam para Mykonos. Nesse ano chegavam milhares de Brasileiros para conhecer a Grécia.
Em Tinos fomos recebidos por Dinos Siotis e seguimos para o hotel, a 3 kilómetros do centro, junto á praia. Comemos num restaurante ao ar livre, peixe e fruta. O poeta comia de tudo menos frango como nos confessou, que lhe davam nos aviões: "I hate chicken", tinha gritado a uma empregada. No dia seguinte, chegámos á aldeia na companhia do poeta greco-mexicano Homero Aridjis, a sua esposa Betty e a minha Elia. Aí sim, os poetas provaram de tudo e beberam de tudo.
Ledo declamou o seu poema Os Pobres e mais um ou dois que eu tinha traduzido. O público fez-lhe uma recepção entusiástica - Ovação de pe'. Gostaram tanto que á saída para além de felicitarem o poeta chegaram a fazê-lo com o tradutor... Repetiram-se mais duas leituras noutras aldeias do interior da ilha, de ambiente muito pitoresco, cheias de árvores e água, em que Lêdo participou encantado. Pudemos também alojá-lo por uns dias na nossa casa de Atenas e percorrer a Plaka e outros bairros pitorescos da capital. Á despedida, já Dinos Siotis tinha tomado a decisão de editar um livro com a sua poesia. Insisti para que a edição fosse bilingue, português-grego. Do Rio, Lêdo enviou-me o tomo impressionante da sua poesia completa mas também vários outros livros, traduções suas em diferentes países da América-Latina, bem como outros livros seus, Novelas, Ensaios, crónicas, num dos quais (O vento do mar, 2011, pag.211) tive o gosto de encontrar uma foto minha com ele, em Tinos. A selecção que fiz incluíu 50 poemas de diferente índole. Também lhe pedimos uma recordação da sua viagem a Tinos e ele enviou-nos um texto mais filosófico a que chamou A RESPOSTA. Pouco a pouco esses poemas e textos foram publicados nas duas revistas de Siotis. Dekata (trimestral) e Poetix (semestral). Também decidimos pôr na capa uma obra do seu filho Gonçalo e o livro ficou quase montado, já que Lêdo tinha escolhido o título: «O mar e os navios».

Nos entretantos, Lêdo demonstrou novamente o quanto era solidário. Ajudou substancialmente à edição em grego de VIDAS SÊCAS contactando pessoalmente a Senhora Dona Eloísa Ramos, herdeira de Graciliano, para a convencer a ceder os direitos por uma soma modesta, assim como à editora Record para os ceder a nós. Posso afirmar que sem esta ajuda inestimável, o livro talvez ainda não tivesse saído. E é lógico o seu interesse, já que Graciliano era Alagoano como ele, amigo da família e amigo chegado, no Rio. Recordo ainda o que conta o próprio Lêdo, ao saber que quando o livro saíu , a primeira crítica (e durante algum tempo a única) que recebeu o autor, de um jornal local, foi de um garoto de 14 anos, o próprio Lêdo. Graciliano tinha conservado a crítica numa gaveta e mostrou-a ao jovem, quando o visitou, no Rio.
Tanto ele como outros escritores Nordestinos (Jorge de Lima, José líns do Rêgo, Raquel Queirós, etc.) foram o primeiro círculo de amigos de Lêdo no Rio, além do círculo do editor José Olympio (Olímpio?). Lêdo conta que foi recebido de braços abertos pelos colegas e foi ajudado na sua carreira literária de várias maneiras.
Devo acrescentar que vários ensaios de Lêdo sobre Graciliano, que ele me enviou, me ajudaram a redigir a introdução desta minha tradução. Aí pude apreciar a inteligência e fineza das suas observações críticas. Enquanto esteve na minha casa em Atenas, discorremos sobre outros autores, sobretudo os franceses que ele conhecia pofundamente e tinha analisado em detalhe. aí também pude apreciar a alegria e bonomia de Lêdo. estava sempre com um sorriso na boca, para não dizer uma gargalhada. era um ser alegre, além de ágil, profundo e solidário.
Por infortúnio, o procedimento de preparação do seu livro durou mais de 2 anos porque esperávamos uma subvenção do Ministério dos Negócios Exteriores do Brasil, que já estava aprovada mas que tardava em chegar. Nessa altura, desgraçadamente, soubemos da perda do nosso amigo, em Sevilha. Razão de sobra para acelerar a publicação do livro que saíu na Primavera de 2013
e que foi apresentado no Auditório da Embaixada do Brasil em Atenas, com a presença de Gonçalo Ivo, sua esposa e dois brilhantes ensaios de dois literatos gregos. Gonçalo trouxe-nos também o último poema de Lêdo que publicámos de imediato em grego e que fala da proximidade da Morte.
Do pouco da literatura lusófona traduzida na Grécia (alguns livros de Machado de Assis), vários poemas de Fernando Pessoa, etc., temos agora a alegria de dispôr da maravilhosa poesia de Lêdo Ivo, traduzida em grego. Para terminar gostaria de precisar que para mim foi uma grande oportunidade ter assistido ao colóquio da Ciudad Juárez, onde não somente encontrei a poesia de Lêdo, como também muitos outros jovens poetas nordestinos e onde se criaram laços indestrutíveis de amizade. Esta é a vantagem deste tipo de encontros.
Além disso, beneficiei de múltiplas ajudas para a minha aproximação à poesia de Lêdo. Antes de mais, queria agradecer à Monique mendes, ajudante na Academia e editora de Os navios do mar, as diferentes mensagens enviadas pelo poeta. E sobretudo a ajuda que recebi do Gonçalo e Denise Ivo que fizeram a viagem a Atenas para estar presentes na apresentação da minha tradução. Gonçalo, extraordinário pintor e ser humano sensível, seguiu enviando-me todo o tipo de artigos ou notícias ou vídeos relativos com nosso querido amigo. Certamente que tudo isto não substitui a poesia mas ajuda à crítica. Também trabalhou para a posteridade do seu pai, construindo uma importante biblioteca com os seus arquivos em Teresópolis, Rio de janeiro, que espero conhecer brevemente.
Já que estou em Natal, penso ir a Maceió para descobrir o universo de Ledo no armazéns do porto, o farol, as velhas mansões e tudo o que resta daqueles tempos e que tanto inspirou o nosso poeta. Folgo em dizer que a minha própria terra, Náfplio, foi o ponto de inspiração para a minha própria produção literária e que há já alguns anos, estou trabalhando na construção de uma mitologia desta cidade antiquíssima. Algo como a muito lograda mitologia de Maceió que todavia irrompe da poesia de Lêdo Ivo.


Anexo 1
A RESPOSTA

Do Festival Internacional de Poesias da Ilha de Tinos (2010), a primeira imagem que guardo é a de minha chegada a Atenas, em cujo aeroporto me esperavam as figuras queridas de Giorgios Rouvalis e de sua mulher Elia Ramirez. Era a minha segunda viagem à Grécia. Da janela do jato eu via, no mar esplendidamente azul, se sucederem as ilhas, ora verdejantes, ora exibindo a dureza e aspereza dos penhascos. Azul do mar, e do céu, brancura das nuvens e ondas, verde e cinza das ilhas: eu estava mais uma vez na Grécia, e as casas brancas, com as suas portas e janelas azuis surgiam e ressurgiam diante de mim proclamando que era ali um lugar luminoso, primevo e perpétuo, de origem e nascimento. Era ali o berço do Ocidente. Ali tinham surgido as artes e as ciências que há milênios alimentam o mundo. A viagem de Ulisses simboliza a viagem do homem, a aventura suprema de partida e do regresso – a trajetória da busca. No mar mediterrâneo, o sulco do navio de Homero jamais haverá de apagar-se. Era e é eterno.
No festival que me levou a Tinos, Chora, Volax e Pyrgos, os poetas de 19 países do mundo presentes nessa peregrinação transmitiam a lição de que a Poesia não é apenas uma arte poética, uma expressão do espírito criador e inventivo do homem. É também uma lição de fraternidade e descoberta. Nos convívios, diálogos e leituras descobríamos novas modulações da música imemorial. As vozes que ouvíamos, vindas de tantos países do Ocidente e do Oriente se juntavam, num coro planetário, para dizer aos milhares de assistentes do Festival, que a Poesia é uma dádiva e uma partilha. A voz do poeta e o silêncio atento do ouvinte se uniam e formavam uma aliança e uma indispensável leitura do mundo e da memória do mundo.
Na apresentação do Festival, o professor Dinos Siotis, diretor do evento, lembrou que a arte e a literatura criam uma resposta quando questionamos a brutalidade da vida moderna: e que vivemos uma época em que nada é mais necessário do que a descoberta da nossa dignidade coletiva.
Na verdade, todas as épocas são brutais. E a Poesia é sempre uma resposta. A dignidade coletiva abrange os poetas e a dos que leem e os escutam. E ambos, poeta e ouvinte ou leitor, respondem ao mesmo tempo no silêncio ou no rumor do mundo. Nós somos a resposta.

Lêdo Ivo (2010)
Anexo 2
FOTOS CON LEDO IVO – ATENAS, AGOSTO 2010







Anexo 3



Anexo 4

Critica
A revolução poética da vida quotidiana
Giorgos Blanas
28.07.2013
Lêdo Ivo
O bom navegador faz sempre duas viagens em cada viagem sua. Nós conhecemos uma delas, aquela em relação à qual os factos nos convencem
O mar e os navios
Antologia poética bilíngue
Tradução: Giorgos Rouvalis
Koinonia ton (de)katon, 2013, pág. 139
Havia uma vez um cartógrafo italiano chamado Angelino Dalorto. Foi alguém que contribuiu muito para o desenvolvimento da geografia e o seu portulano (Génova, 1325) constituiu um guia de grande valor para os marinheiros. Ora nesse mapa aparece uma ilha misteriosa com o nome de Brasil. Ficava no Oceano Atlântico. O cartógrafo nunca a tinha visitado. Deduzia a sua existência a partir de testemunhos medievais. Desde então, e até meados do século XIX, nunca foram abandonadas as tentativas para a encontrar. Entretanto, sempre iam chegando algumas informações aos portos. Ora diziam que viviam aí grandes coelhos pretos e um mago, ora que era um paraíso. Ora que estava cheia de fadas e duendes, ora que era assolada por monstros.
Um mito! Sim, mas esse mito fez com que grandes veleiros navegassem, com enormes custos. Essas viagens não pararam nem após o descobrimento do Brasil. Este facto histórico não podia quebrar o encanto do mito. Os navegadores poderiam bem supor que a ilha misteriosa era uma informação pouco clara sobre a existência de terra no extremo do Atlântico. Mas o bom navegador faz sempre duas viagens em cada viagem sua. Nós conhecemos uma delas, aquela em relação à qual os factos nos convencem.
Em Fevereiro de 1500, Cabral partiu com os seus navios em direcção à Índia. Em Abril do mesmo ano chegou ao actual Brasil, prosseguiu rumo à Índia, fez os trabalhos que tinha a fazer e em Julho de 1501 regressou a Portugal, alegando que descobrira uma nova ilha. Os navegadores que se seguiram confirmaram as suas alegações, constataram que não se tratava da ilha mítica do Brasil –nem sequer de uma ilha- e os trabalhos prosseguiram. A outra viagem que Cabral fez foi do mito à realidade. E a isto chamamos história. O percurso do mito em direcção à realidade, que é, no fim de contas, criação. Vivemos o mito, viajamos através dele e para cobrirmos as nossas necessidades subtraímos continuamente elementos, até decidirmos que o trouxemos a um ponto a que chamamos realidade. E fazemos o nosso trabalho. E conseguimos isto não porque possamos ver o que existe, mas porque podemos ver o que não existe.
A poesia brasileira, escrita exclusivamente em português, tardou a virar-se para a experiência mítica dos nativos. Quando, no início do século XX, foi feita essa viragem, criou um modernismo colorido, baseado no sentimento do mundo directo e corporal mantido durante 2.600 anos pelas tribos locais. O objectivo do modernismo brasileiro era «... O mundo não datado. Não rubricado. Sem Napoleão. Sem César», como escreveu no seu Manifesto Antropofágico o patriarca da geração de 1922, Oswald de Andrade. A viragem foi tão importante que a poesia brasileira conquistou desde então uma posição importante nas literaturas de todo o mundo, completamente distinta da literatura da metrópole Portugal.
O poeta Lêdo Ivo (1924-2012), embora destacado representante da geração antimodernista de 1944, conseguiu dar forma ao mundo sonhado pelo modernista Andrade. Nascido e criado numa aldeia piscatória do Noroeste brasileiro, experienciou um mundo completamente diferente do mundo da grande cidade do Rio, onde se encontrava aos vinte anos. Era como se tivesse nascido no Brasil mítico e, zarpando rumo à poesia, tivesse chegado ao Brasil. A viagem poética real começou aí. E foi uma viagem em direcção à sua terra natal mítica, ou antes uma busca do mundo imaginário, no real. O seu método: «Κοιτάξτε αυτό που δεν υπάρχει. Πιστέψτε το και θα γίνετε ποιητές!» (pág. 37) «...Διδάσκω το φανταστικό και στην ιεροτελεστία αυτή ξαναγεννιέμαι να παρατηρήσω το ανύπαρκτο... σαν εκείνα τα φανταστικά νησιά που δεν ταιριάζουν με τις κοινές ώρες των θαλασσοπόρων, χώρες που ποτέ δεν γεννήθηκαν...» (pág. 39).
Lêdo Ivo quer que o leitor em cada leitura esteja disponível para participar num ritual. E isso significa que o poema pode agradar-nos, porém o mais importante é levarmos a sério o que nos diz. Ser-nos-á possível a nós, pessoas realistas, atulhadas de problemas, abandonarmos os nossos trabalhos e fantasiarmos um mundo por trás do mundo? Não nos iludamos, no ponto em que chegou a história, é o que de mais realista podemos fazer. Ou progredimos –partindo de nós a iniciativa- na criação de um mundo novo, sonhando «...ότι και τα βουνά ονειρεύονται κι αυτά, ότι τα βουνά μάς ονειρεύονται όταν τα ονειρευόμαστε, ότι είμαστε τα όνειρα των βουνών και όταν ξυπνάμε ονειρευόμαστε και πάλι και γινόμαστε βουνά...» (pág. 131) ou é o nosso fim, pois hoje é exercida sobre nós um imperialismo que –se não na sua forma, com certeza na substância- se parece com aquele que foi exercido sobre os habitantes naturais do Brasil. O poeta deixa-nos o conselho: «...να κάψουμε ό,τι μπορούμε...». É claro que é difícil –se não inexequível- queimarmos «...τους λογαριασμούς του τηλεφώνου, τα συμβόλαια και τα έγγραφα». Mas podemos pelo menos «...στους παλιανθρώπους στον δρόμο να δείχνουμε μόνον τα μυτερά μας δόντια... πάντα όχι να λέμε στα ηλεκτρονικά σκουπίδια...» (pág. 109). Assim talvez nos tornemos pessoas que perderam tudo, mas criaram a realidade.
A antologia de Lêdo Ivo é um livro –o seu primeiro em grego- de excelente poesia contemporânea, mas também um manual de revolução da vida quotidiana, um manual de preparação para a criação. Por trás de cada poema existe um mundo «não datado. Não rubricado. Sem Napoleão. Sem César». Mostra-nos continuamente que o gesto quotidiano mais simples é o fim e o início de uma viagem, que descobre aquilo que não existe. Não é simples, mas seremos nós algo simples?
* Giorgos Blanas é poeta
Publicado no diario Avgi (Atenas) 28.07.2013
Intervencao do poeta Giorgos Blanas na apresentacao da antología do Ledo Ivo "O mar e os navios", salao da embaixada do Brazil en Atenas, 19.03.2013.

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