Leitura dos espaços urbanos como exercício de pertencimento

July 12, 2017 | Autor: Claudia Nascimento | Categoria: Urban Geography, Cultural Semiotics, Arquitetura e Urbanismo
Share Embed


Descrição do Produto

Educação Patrimonial

Leitura dos espaços urbanos como exercício de pertencimento Profª. Drª. Tania de Jesus Gutiérrez Rodríguez, Universidade Federal de Roraima (UFRR) / Instituto Superior Politécnico José A. Echeverría (ISPJAE) – La Habana, e-mail: [email protected]; [email protected]; [email protected]; Profª. Msc. Claudia Helena Campos Nascimento, Universidade Federal de Roraima/UFRR, e-mail: [email protected]

INTRODUÇÃO A cidade pode ser compreendida sob vários aspectos, quer físicos, quer simbólicos, contudo, ambos, caracterizam e traduzem a forma de compreensão dos espaços e territórios que a constituem. A interpretação e a construção de um processo de síntese desses espaços são mediados pela cidade. A compreensão desses signos que compõem a cidade fazem parte de um sistema de comunicação, nem sempre de fácil leitura, porém que são compreensíveis e identificáveis, além de referendados pela capacidade coletiva de dar-lhes sentido. Kevin Lynch (1997) afirma que “parece haver uma imagem pública de qualquer cidade que é a sobreposição de muitas imagens individuais” (LYNCH, 1997, p. 51). Portanto esse processo de produção e leitura da cidade, que se constitui como resultado de um fenômeno social, também se manifesta nas formas de apropriação, percepção e, por consequência, resultado cultural constituído de elementos que compõem a urbe. Em 2014, duas atividades foram desenvolvidas no âmbito da atuação do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Roraima: uma como atividade de extensão desenvolvida no VII Seminário de Integração de Práticas Docentes e VII Seminário Institucional do PIBID, outra inerente ao conteúdo da disciplina de Patrimônio Histórico e Cultural. A primeira atividade, denominada “Lectura de espacios urbanos: una contribución para la práctica educacional” constou de uma oficina de curta duração, dividida em atividades teóricas e práticas, voltadas para professores e alunos de graduação, em especial de licenciaturas, onde a proposta visava instrumentalizar o mediador-educador com repertório e instrumental capaz de promover a leitura da cidade a partir de seus principais elementos de sintaxe – códigos para leitura e desenho: pontos, linhas, planos e volumes. A outra atividade visou à construção de uma cartografia de referências pessoais e de sentimento de pertencimento, com descrições de motivações que indicavam o valor – na dimensão pessoal – de determinados espaços, edificações e lugares. Essa atividade, introdutória à disciplina de Patrimônio Histórico e Cultural, intencionava identificar os elementos de relevância pessoal do grupo de discentes da disciplina (como subsídio para o diálogo posterior) e promover nos futuros arquitetos o exercício da percepção da cidade na dimensão simbólica. Desta forma, o presente pôster apresenta duas atividades de leitura e compreensão do contexto da cidade, executadas sobre o mesmo espaço – Praça da Matriz, cidade de Boa Vista/RR – que produziram resultados complementares e de acordo com seu método. O objetivo desta ação foi permitir a leitura da cidade, a partir de métodos de percepção e a compreensão dos signos que a compõem, em atividades práticas, mediadas pela fundamentação teórica do campo da Arquitetura e Urbanismo, como procedimento de educação.

Na segunda atividade, a proposta foi promover o exercício da construção de uma cartografia cultural, como elemento capaz de subsidiar a compreensão de uma paisagem de elementos de referências individuais e coletivas.

RESULTADOS E DISCUSSÕES Em ambas as atividades foi perceptível o potencial de questões que surgem a partir do momento em que os alunos-discentes são provocados a ultrapassar seu limiar corriqueiro de apreensão do espaço urbano, quer do curso de Arquitetura e Urbanismo, quer de outros cursos e formações. Um conjunto de questionamentos surgem quando estes passam a compreender a cidade, especialmente um sítio histórico, como no caso foi o espaço que em comum foi trabalhado nas duas atividades. A desconstrução de significados, tais como os valores dos elementos a serem lidos no espaço urbano, ultrapassando os elementos físicos em sua dimensão material, promove outra forma de apreensão e da capacidade de interferir na cidade. O Rio Branco, por exemplo, pode ser entendido como uma linha, sobre o qual há o fluxo material (água), mas também pode ser entendido como um plano, como um quadro de uma paisagem que se relaciona com determinadas perspectivas desta área do Centro; pode ser entendido igualmente como elemento de referencial histórico para a formação da cidade de Boa Vista, como espaço dinâmico de práticas sociais, espaço cultural e lugar de memória (NORA, 1993). A compreensão do espaço também perpassa pelas formas de apropriação e significação do espaço: a segregação é, muitas vezes uma barreira mais sólida que um muro. Isso foi perceptível quando da construção da cartografia e seus elementos referenciais, estabelecendo uma fronteira inequívoca entre o Centro e o chamado Beiral.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Compreendemos de forma bem clara a contribuição dos vários campos da Arquitetura e Urbanismo, visto se tratar de ciência e não simplesmente campo de formação profissional técnica. Assim sendo, como campo epistemológico, pode somar à compreensão do objeto sobre o qual mais comumente se debruça, isto é, os elementos constituintes do espaço urbano. A compreensão do espaço urbano, entretanto, não é uma visão cartesiana, mas de pluralidade, de campo político e social, de consolidação de atos e fatos que se fortalecem historicamente e se manifestam e se materializam física e simbolicamente, estabelecendo formas diferenciadas de leituras e apropriações. Ítalo Calvino diz que “de uma cidade, não aproveitamos as suas sete ou setenta e sete maravilhas, mas a resposta que dá às nossas perguntas”.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS METODOLOGIA Desenvolveremos separadamente os métodos utilizados para que, no item a seguir, possamos discutir os resultados em comum das duas atividades. Na oficina, promovida pelo Programa de Consolidação das Licenciaturas/PRODOCÊNCIA, da Pró-Reitoria de Ensino e Graduação/PROEG, da Universidade Federal de Roraima, a proposta foi oferecer o campo teórico da Arquitetura e Urbanismo como contribuição para a compreensão do espaço urbano. Assim sendo, a oficina constou com um módulo teórico e outro prático. No primeiro, foram tratados elementos do campo da semiologia, a fim de garantir nivelamento conceitual básico sobre a sintaxe espacial da cidade, entendendo-se a cidade/espaços urbanos como Canal de Comunicação, o contexto histórico e social da análise como Referente, as sensações e formas de apreensão da cidade como Mensagem e, como Código, os elementos básicos da produção e leitura da forma, isto é, pontos, linhas, planos e volumes. Reconhecendo-se a cidade como construção coletiva de um discurso social, espacial e complexamente elaborado, tanto a Arquitetura como a Cidade passam a ser entendidas como respostas de uma expressão cultural e construção humana, representativa de um determinado tempo, portanto, um texto (ou “tessitura cultural”, de fluxos e linhas que se entrecortam) definindo elementos e referências, discursos de intencionalidade estética ou política. Os elementos básicos da sintaxe podem ser físicos ou simbólicos. Assim sendo, um plano, numa cidade, pode se apresentar geograficamente quanto simbolicamente, por exemplo, estabelecendo barreiras e fronteiras. Nesse ponto passamos a trabalhar no campo teórico-metodológico da Topologia.

AGUIAR, Douglas Vieira de. Planta e corpo. Elementos de topologia na arquitetura. Vitruvius, mar. 2009. Disponível em: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/09.106/70, acesso nov. 2014. CALVINO, Ítalo. As cidades invisíveis. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. LYNCH, Kevin. A imagem da cidade. São Paulo: Martins Fontes, 1997. MACHADO, Irene. Escola de semiótica. Ateliê Editorial: São Paulo, 2003. NORA, Pierre. Entre Memória e História: a problemática dos lugares. In: Projeto História: Revista do Programa de Estudos Pós-Graduados em História e do Departamento de História da PUC/SP - n° 10. São Paulo: EDUC, 1993, p.7-28 (tradução Yara Aun Khoury). RIEGL, Aloïs. O culto moderno dos monumentos: sua essência e sua gênese. Goiânia: Ed. da Universidade Católica de Goiás,2006. SCHNAIDERMAN, Bóris (org). Semiótica russa. 2. ed. São Paulo: Perspectiva, 2010. SEEMANN, Jörn. “Cartografia cultural” na geografia cultural: entre mapas da cultura e a cultura dos mapas. Boletim Goiano de Geografia v.21, nº. 2. Goiânia: UFG, 2001. Disponível em: http://www.revistas.ufg.br/index.php/bgg/article/view/4214, acesso em abr. 2015. SITTE, Camilo. A construção das cidades segundo seus princípios artísticos. São Paulo: Ática, 1994.

_______________

1 Partiu-se

da Semiologia de Ferdinand Saussure como base teórica. 2 Nesse ponto nos utilizamos de um termo comum ao estudo da Semiótica da Cultura, de Iuri Lótman.

TARANTO, Benito. Análise Perceptiva: proposta para uma dinâmica cultural. Viçosa/MG: Imprensa Universitária da Universidade Federal de Viçosa, 1984.

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.