LEVANTAMENTO DE ASPECTOS FÍSICOS DO PARQUE ESTADUAL DAS NASCENTES DO RIO TAQUARI (MS - BRASIL)

July 10, 2017 | Autor: Carlos Ide | Categoria: Remote Sensing, IT Management, Land Cover, Geographic Information System
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LEVANTAMENTO DE ASPECTOS FÍSICOS DO PARQUE ESTADUAL DAS NASCENTES DO RIO TAQUARI (MS - BRASIL)

Martha Gilka Gutiérrez Carrijo1; Antonio C. Paranhos F°2; Carlos Nobuyoshi Ide3; Luiz Augusto Araújo do Val4; Giancarlo Lastoria5; Jackeline Maria Zani Pinto da Silva Oliveira6;Camila da Silva Monteiro7 RESUMO - O Parque Estadual das Nascentes do Rio Taquari, foi criado através do decreto Estadual nº 9622 (09/10/1999). Localizado no extremo norte de Mato Grosso do Sul, abriga nascentes e formadores do Rio Taquari. O presente trabalho tem como objetivo a produção de uma carta de uso e cobertura do solo do Parque, utilizando-se a legenda do projeto CORINE, imagens de satélite Landsat 7 e fotografias aéreas panorâmicas de pequeno formato. Após o processamento das imagens e das informações, foi criado um banco de dados SIG, integrando todos os resultados obtidos. Os resultados mostram 10 classes Corine para o uso e cobertura do solo da área do Parque. Cerca de 80 % do parque é constituído por vegetação nativa da região, sendo que 60% desta é composta por matas. Das áreas com pastagens, cerca de 21% da superfície total, uma parte significativa desta está regenerando naturalmente, as demais, ou são pastagens naturais ou tem possibilidades de regeneração natural. Este levantamento fornece subsídios ao diagnóstico da área, ao zoneamento ambiental e para a elaboração do plano de manejo do parque, além de permitir o monitoramento e fiscalização da Unidade de Conservação.

ABSTRACT - The Nascentes do Rio Taquari Park, created in 1999, is located at the northern of Mato Grosso do Sul area and has within the formers of Taquari River. The main objective of this work is make a Land Cover Chart of the park using Corine Land Cover Legend and Remote Sensing techniques, integrating all results in a GIS (Geographic Information System) data base. These results show 10 Corine classes and that 80% of parks surface are represented by the region natural vegetation and 60 % of that composed by forests. The part composed by grazing and agricultural activities is showing regeneration process or has the possibility of natural recuperation. This work also gives subsides for the diagnostics of the area, to its environmental zoning and to its management plan, helping on its monitoring and fiscalization.

PALAVRAS CHAVES : CORINE Land Cover;Unidade de conservação; Sensoriamento remoto. 1

Secretaria de Meio Ambiente Cultura e Turismo (SEMACT); Instituto de Meio Ambiente - Pantanal (IMAP);[email protected].; Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Tecnologias Ambientais da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul; Especialista em Perícia Ambiental 2 Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS); Centro de Ciências Exatas e Tecnologia (CCET); Departamento de Hidráulica e Transportes (DHT); [email protected]; Doutor em Geologia Ambiental 3 Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS); Centro de Ciências Exatas e Tecnologia (CCET); Departamento de Hidráulica e Transportes (DHT); [email protected]; Doutor em Engenharia de Recursos Hídricos e Saneamento 4 Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS); Centro de Ciências Exatas e Tecnologia (CCET); Departamento de Hidráulica e Transportes (DHT); [email protected]; Mestre em Planejamento e Transporte 5 Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS); Centro de Ciências Exatas e Tecnologia (CCET); Departamento de Hidráulica e Transportes (DHT); [email protected]; Doutor em Geociências e Meio Ambiente 6 Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS); Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Tecnologias Ambientais da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul; Especialista em Perícia Ambiental; [email protected] 7 Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS); Graduanda em Ciências Biológicas; [email protected].

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INTRODUÇÃO A caracterização do uso e cobertura do solo dentro de uma unidade de conservação é fundamental para subsidiar as estratégias de fiscalização e manejo. Este trabalho trata objetivamente deste aspecto, trabalhando-se com sensoriamento remoto, em escala compatível e integrando-se todas as informações disponíveis sobre o Parque das Nascentes do Rio Taquari em um Sistema de Informações Geográficas. Rico em água, o Parque abriga em seu interior as Nascentes dos Rios Furnas, Mutum, além de cursos d´água, como o Ribeirão Engano. O Parque está na rota do corredor ecológico do CerradoPantanal, de grande importância para manutenção da biodiversidade.

OBJETIVOS Este trabalho tem como objetivo a caracterização do tipo de uso e cobertura do solo (Land Cover) do Parque Estadual das Nascentes do Taquari com a criação de uma Carta de Cobertura do Solo, segundo uma legenda apropriada para este fim, neste caso a do “Projeto Corine” (HEYMANN et al. 1994) e CORINE (1992) com as modificações propostas por PARANHOS FILHO, (2000). Os termos usos e cobertura do solo são definidos como formas pelas quais os espaços estão sendo ocupados, quer por aspectos naturais quer por atividades antrópicas (TABACZENCKI, et al. 2000), sendo esta definição perfeitamente aplicável com a legenda proposta pelo Projeto Corine (HEYMANN, et al.1994). A justificativa deste trabalho está na grande importância ambiental da área do Parque, pois este abriga as nascentes do Rio Mutum, Furnas e o Rio Engano, os quais são os formadores do Rio Taquari. Este estudo pode vir a subsidiar um futuro Plano de Manejo e a elaboração da estratégia de monitoramento da Unidade de Conservação.

ÁREA DE ESTUDO O Parque Estadual das Nascentes do Rio Taquari está localizado entre as coordenadas 17º 59’ a 18º 15’ S e 53º10’ a 53º 26’ W, com 26.849,62 hectares no município de Alcinópolis e 3.769,34 hectares no município de Costa Rica, totalizando uma área de 30.618,96 hectares, estando inserido no Centro Oeste Brasileiro, em região próxima aos divisores de águas das Bacias dos Rios Paraná, Araguaia e Paraguai (Figura 1). Situa-se ao norte de Mato Grosso do Sul na divisa com Mato Grosso, cujo limite é o Rio Furnas, em uma região conhecida como “Baús”, que recebeu este nome, quando da colonização,

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devido ao formato e a grande quantidade dos morros testemunhos existentes, que se assemelham com os baús que eram utilizados para armazenar roupas e outros utensílios.

Figura 1 : Localização da área de estudo. Delimitado ao norte pelo Ribeirão Furnas, a oeste por vários cursos d’água como Mutum, Furnas do Mutum e outros sem denominação, ao Sul pelo córrego Água Bonita e ao leste pelas Bordas do planalto. O acesso ao Parque, distante 375 km de Campo Grande, se dá pela rodovia MS 306, que liga o município de Costa Rica (MS) ao de Alto Taquari (MT).

MATERIAIS E MÉTODOS Neste trabalho foram utilizadas as técnicas de sensoriamento remoto, as quais se baseiam na aquisição de dados sobre um objeto ou cena por um sensor que está distante deste objeto (COLWEL, 1984 apud. PARANHOS e RONDON, 2001). Realizou-se ainda revisão bibliográfica, além de levantamentos de campo. Os dados obtidos

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foram integrados em um SIG (Sistema de Informações Geográficas). As informações sobre o tipo de vegetação e geologia foram extraídas dos trabalhos do Projeto RadamBrasil (RADAMBRASIL, 1983) e do Plano de Conservação da Bacia do Alto Paraguai (PCBAP, 1997). Também foi utilizado o mapa de levantamento fundiário elaborado pelo IDATERRA (TERRA et al., 2001) para Regularização Fundiária das propriedades inseridas no Parque, de onde foi extraído o limite da Unidade. Este estava em arquivo digital do Autocad®14 (AUTODESK Inc, 1997) e teve que ser convertido em formato mais apropriado, para posterior projeção em ambiente SIG. Normalmente, os sensores das plataformas de sensoriamento remoto gravam a radiação eletromagnética, que é a energia transmitida através do espaço na forma de ondas elétricas e magnéticas (STAR E ESTES, 1990 apud. PARANHOS e RONDON, 2001). Todos os tipos de cobertura do solo, como corpos d´água ou vegetação, absorvem uma porção específica do espectro eletromagnético, resultando numa “assinatura” espectral distinta (PARANHOS e RONDON, 2001). Assim, diferentes tipos de cobertura do solo, com distintas densidades do dossel das árvores, implicam em diferentes respostas espectrais. No sensoriamento remoto existem dois aspectos: a aquisição dos dados e a elaboração e análise dos dados para interpretação (PARANHOS e RONDON, 2001). Para tanto, neste trabalho, foram utilizadas imagens de satélite Landsat 7, elaboradas e tratadas em Erdas® Imagine® (ERDAS, 1997) e fotografias aéreas panorâmicas de pequeno formato, cuja relevância já foi comprovada em trabalhos como de DISPERATI (2000) e RAMOS, et al. (2001). Toda a dinâmica das tarefas realizadas está ilustrada na figura 2. A imagem Landsat utilizada foi a de órbita-ponto 224-073, de 07 de agosto de 2000, bandas 1, 2 , 3, 4, 5, 7, mais a banda pan. A fim de se eliminar possíveis distorções nas imagens, foi utilizado o software Erdas® Imagine® (ERDAS, 1997). A imagem foi primeiramente corrigida radiométrica e geometricamente, atribuindo-se ainda um sistema de coordenadas de terreno à imagem. A imagem foi realçada para tornar mais fácil a extração das informações sobre a área em estudo. A carta de uso e as imagens foram trabalhadas tendo como base cartográfica as cartas Taquari (IBGE, 1983b) e Baús (IBGE, 1983a), ambas na escala 1:100.000. A projeção utilizada foi UTM, fuso 22 e o Datum Córrego Alegre. Após pré-elaboração, em ambiente SIG (Arc® Info®, ESRI, 1997 e Arc® View®, ESRI, 1998), a imagem de 2000 foi, então, fotointerpretada manualmente, para a obtenção de uma carta preliminar de cobertura dos solos. Nos trabalhos de campo, utilizaram-se os mapas preliminares, aparelho GPS Garmim III plus (Sistema de Posicionamento Global, com uma precisão de até 6m) e uma bússola de geólogo (tipo Brunton).

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As fotografias aéreas panorâmicas foram obtidas no dia 7 de agosto de 2001, no período da manhã, com céu limpo do interior de um avião Piper Cherakee Arrow, voando à 3.000 pés, numa velocidade média de 220 km/h, totalizando 2 horas de vôo, utilizando-se uma câmera fotográfica profissional de 35 mm, operada em modo manual. Foram fotografados os diferentes tipos de cobertura do solo e anotadas as suas características relevantes, que possibilitassem a interpretação das imagens, validando ou não, a interpretação preliminar. Mesmo havendo um espaço de tempo entre a imagem e as fotos, este não foi muito significativo, pois as fotos foram feitas em época do ano, clima e condição de água semelhantes a imagem de satélite.

Figura 2 : Esquema com as etapas envolvidas na elaboração de uma carta de cobertura dos solos a partir de imagens de satélite (modificado de Paranhos F°, 2000). As fotografias foram escanerizadas, e tratadas no software Photoshop® (ADOBE, 1996), a

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fim de se render imperfeições, como a asa do avião, entre outras. Na interpretação feita inicialmente foram evidenciadas apenas 7 classes CORINE. Com a checagem de campo pôde-se diferenciar e detalhar mais classes de ocupação de solo, chegando-se a 10 classes. As feições encontradas no terreno correspondem a determinadas respostas espectrais na imagem de satélite, representando diferentes “chaves de classificação”. Para identificar a diferença entre estas chaves, foram utilizadas diversas combinações falsa-cor (do inglês FCC – False Color Composite). Estas chaves são definidas a partir dos parâmetros obtidos na imagem, e denominadas AOI – “area of interest” ou ROI – “region of interest” ou seja, área ou região de interesse (PARANHOS F°, 2.000). As chaves de classificação, que levaram em consideração os dados levantados em campo, foram baseadas naquelas propostas por PARANHOS F° (2000), o qual trabalhou em uma região análoga e também utilizou a legenda do Projeto Corine (HEYMANN et al., 1994), adaptando-a para a região. Neste trabalho a classificação da imagem foi manual, fotointerpretando-se com base nas classes espectrais, utilizando-se principalmente FCC bandas 453, 457, 752 e 321. Após a verificação da precisão da classificação, a qual foi executada com o auxílio do controle de campo, foram criados os bancos de dados associados, em ambiente SIG (Arc® Info®, ESRI, 1997 e Arc® View®, ESRI, 1997), os quais permitiram a quantificação dos diferentes tipos de cobertura do solo presentes na área de estudo. A escala de interpretação de imagens foi 1:100.000 para as bandas 1, 2, 3, 4, 5 e 7 e 1:50.000 para a banda pan. Assim, utilizou-se a resolução espacial fornecida pela Banda Pan (15 m) e a informação espectral fornecida pelas outras bandas. A menor superfície mapeável nesta monografia foi considerada 5 ha, pois representa aproximadamente um círculo com 0,5 cm de diâmetro em um mapa escala na 1:50.000. Foram levados em consideração apenas aquelas feições lineares com espessura acima de 1 mm. Estes limites estão associados à escala adotada, garantindo a legibilidade dos mapas e ao mesmo tempo a representatividade das feições essenciais presentes no terreno a ser representado (PARANHOS Fº et al., no prelo).

Legenda de Uso e Cobertura dos Solos do Corine A legenda utilizada foi a do projeto CORINE, a qual foi desenvolvida como parte do Projeto CORINE “Coordination of infomation on the Environment” (HEYMANN et al., 1994), firmado pela Comunidade Européia em 27 de junho de 1985. E tem como estrutura lógica de nomenclatura

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englobar todos os tipos possíveis de uso e cobertura dos solos, por exemplo, o planeta é coberto por “’água” ou “superfície seca”. A água pode ser marinha ou continental, a superfície seca pode ser vegetada, ou não, e assim por diante. Esta legenda foi adaptada à nossa realidade por (PARANHOS Fº et al., no prelo).

Figura 3 - Estrutura lógica teórica da Legenda de Land Cover do Projeto Corine (Heymann et al., 1994).

RESULTADOS E DISCUSSÃO O principal resultado obtido foi a caracterização da cobertura do solo, através de um banco de dados SIG, portanto, referenciado geograficamente, com a distribuição espacial das classes expressas através de uma carta de cobertura do solo, segundo a legenda Corine. Dentro da Unidade de Conservação foram encontradas, neste trabalho, 10 classes Corine, (Tabela 1), detalhadas a seguir, neste capítulo. Além disto, apresenta-se um método de trabalho para a criação de cartas de Land Cover, a partir de imagens Landsat e fotografias aéreas panorâmicas de pequeno formato.

Classes Corine utilizadas neste trabalho Classe 2.1.1: Área arável não irrigada Na região do parque, esta classe refere-se a plantações de soja, algodão e milho. Na composição 453 e 457 estas classes, na região, aparecem com tons de azul, pois refletem um solo de coloração avermelhada no visível (Figura 4). São terrenos agrícolas descobertos nos meses de maio a outubro devido ao período da entre-safra e entre setembro a outubro, em áreas que plantam safrinha de sorgo entre outras.

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Tabela 1 - Classes de cobertura dos solos do Projeto CORINE usadas neste trabalho (adaptadas de HEYMANN et al., 1994). Nível 1 2. Áreas agropecuárias

3. Áreas com vegetações naturais e seminaturais

Nível 2 2.1. Terra Agricultável 2.3. Pastos

Nível 3 2.1.1. Área arável não irrigada 2.3.1.Pastagens

3.1. Fisionomia Florestal

3.1.1. Classe constituída por Floresta Estacional e Savana arbórea densa (cerradão) 3.2.1. Campos naturais 3.2.1.1. Campo de Cambaúva

3.2. Arbustos e/ou vegetação herbácea associada.

4. Zonas úmidas 5. Corpos aquosos

3.3. Espaços abertos com pouca ou nenhuma vegetação 4.1. Zonas úmidas continentais 5.1. Águas continentais

3.2.2. Cerrado 3.3.2. Rocha nua

Nível 4 2.3.1.1. Pasto limpo 2.3.1.2. Pasto sujo 2.3.1.3 Pasto queimado

3.3.2.1. Voçorocamento

4.1.1. Áreas úmidas 5.1.2. Corpos de água

Estas classes e o método empregado podem ser úteis para as outras unidades de conservação.

Classe 2.3.1.1: Pasto limpo Esta classe é constituída por superfície coberta com pastagem, que na área do Parque englobam pastagens exóticas e nativas (Figura 5).

Classe 2.3.1.2: Pasto sujo Classe cuja superfície é coberta por pastagem e plantas invasoras como ervas daninhas, graminóides raquíticas, além de vegetais de porte arbustivo e arbóreo esparsamente distribuído nas áreas, aumentando a refletância no infravermelho em relação à pastagem com pasto limpo. Em composição RGB 453 a imagem desta classe possui uma coloração mais para o vermelho (rosado), nesta composição quanto mais biomassa, mais a coloração da imagem tende para o vermelho, como pode-se observar na Figura 6, onde as matas refletem o vermelho vivo.

Classe 2.3.1.3: Pasto queimado Considerou-se também uma classe com pastagem queimada, visto que é uma prática de manejo ainda utilizada. A utilização da composição RGB 752, com o auxílio da 453, tem sido eficaz para distinguir entre pasto queimado e campo de cambaúva, pois podem ser confundidos, conforme pode-se observar na figura 7.

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Figura 4: Foto panorâmica e imagem de satélite(abaixo), composição RGB 453, mostrando uma mesma área de solo trabalhado. Os solos avermelhados da região aparecem em azul nesta composição.

Classe 3.2.1.1: Campo de Cambaúva Fisionomia paisagística das escarpas e conhecidos regionalmente por cambaúva (Apoclada arenicola, GUALA,1990). Trata-se de um bambu, espécie da família Poaceae subfamília Bambusoideae, normalmente indicador de umidade (IBDF, 1981; GUALA,2001). Delimitado na Figura 8, sendo clara sua presença na borda do planalto.

Classe 3.2.2: Cerrado Classe formada por árvores baixas, espaçadas com ramos tortuosos e cascas grossas, rimosas ou gretadas. Por entre a parte arbórea, formando o fundo, há um povoamento mais ou menos denso de gramíneas e plantas campestres. A densidade e o porte variam muito, na imagem composição RGB 453, aparecem com tons de marrom e rosa (Figura 9), nesta classe podem estar incluídas algumas áreas que localmente são consideradas pastos sujos, devido o grau da regeneração intenso, sendo, portanto classificado como cerrado.

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Figura 5 - Imagem Landsat, composição RGB 453, e foto aérea panorâmica da mesma área mostrando a resposta espectral da pastagem pode ser variada. Isto ocorre, por exemplo, em função da altura e tipo do pasto, umidade ou pastoreio. Aparecem ainda cerrado e mata ciliar.

Classe 3.1.1: Classe constituída por floresta Estacional Semidecidual e Savana arbórea densa. Maciço de vegetação com porte arbóreo e denso, ou seja, fisionomias florestais. Nesta classe foram agrupadas (Floresta estacional semidecidual, Floresta Tropical subcaducifólia, Mata seca) e Cerradão (Savana florestada, Savana arbórea densa, floresta xeromorfa), pois a altura do cerradão pode alcançar 18 m, porém raramente e em pontos determinados. Via de regra, está em 8-12m, descendo mesmo a 6 metros. Assim, ele é bem mais baixo do que as matas secas, as quais usualmente vão de 18-29m, mas às vezes, não passam os 12 metros. A estratificação é peculiarmente simples. Em muitos casos, é razoável considerar 3 andares: andar arbóreo de 10-12 m, com algumas árvores emergentes de uns 15m; andares arbustivos mais ou menos densos, formados por arbustos esclerofilos em boa parte, atingindo 1-3m; e um andar herbáceo, sempre muito reduzido, constituído predominantemente por gramíneas. O solo do cerradão, cuja estrutura é de genuína mata (Figura 10), é rico em água e apresenta teor razoável de sais minerais. As copas das árvores se tocam (SOUZA, 1973).

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Figura 6 - Foto aérea Panorâmica e imagem, composição RGB 453, onde pode-se observar as classes referentes a "pasto sujo", cerrado e mata. Nesta composição a intensidade de vermelho é diretamente proporcional à biomassa.

Figura 7 - Imagens Landsat de uma mesma área, em duas diferentes composições, um recurso muito utilizado a fim, de se distinguir área de queimada de campos de cambaúva.

Classe 3.3.2.1: Voçorocamento Forma de erosão, ocasionada por grandes concentrações de enxurrada que passam, ano após ano, no mesmo sulco, que se vai ampliando, pelo deslocamento de grandes massas de solo e formando cavidades em extensão e em profundidade (BERTHONI, 1990). Conforme mostrado na

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Figura 11, ou seja, canais incisos que resultam de desequilíbrio naturais ou induzidos pelo homem com largura e profundidade superior a 50 centímetros (GUERRA, 1999).

Figura 8 - O campo de cambaúva na borda do chapadão é delimitado na imagem composição RGB 453.

Classe 4.1.1: Áreas úmidas Áreas planas, geralmente inundadas, parcial ou totalmente, na estação úmida e menos saturada o resto do ano (Figura 12). Esta classe inclui as várzeas e banhados (HEYMANN, et al., 1994).

Classe 5.1.2: Corpo d’água Corpo d’água natural ou artificial, nesta classe estão incluídas lagoas, represas e açudes (HEYMANN et al.,1994), como na Figura 12.

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Figura 9 - Imagem Landsat e foto aérea de um mesmo local. O cerrado nesta composição RGB 453, aparece com coloração avermelhada, porém bem distinto da mata na intensidade do vermelho.

Figura 10 - Na imagem, composição 453, o vermelho é intenso, pois o vale está coberto pela exuberante mata.

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Figura 11 -: A banda pan à esquerda foi utilizada, neste caso, para delimitar espacialmente esta feição e à direita na composição 453.

Figura 12 - Além das classes 5.1.2(Lagoa), 4.1.1(Área úmida), 2.1.1(agrícola), pode-se visualizar a área do parque conhecida como águas emendadas, situada sobre o divisor de águas, assim as águas da represa correm para a bacia do Paraguai, enquanto as do banhado, que correspondem a nascente do córrego Cachoeirinha, para a bacia do Paraná.

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USO E COBERTURA DO SOLO A Tabela 2, abaixo, apresenta os valores em hectares e em percentual das áreas, por classes Corine, identificadas dentro do Parque. Tabela 2 - Tabela de tipo de cobertura, com valores em hectares e em percentual das classes Corine, identificadas dentro do Parque.

2.1.1 2.3.1.1 2.3.1.2 2.3.1.3 3.1.1 3.2.1.1 3.2.2 3.3.2.1 4.1.1 5.1.2

CLASSE Área arável não irrigada Pasto limpo Pasto sujo Pasto queimado Floresta e cerradão Campo de Cambaúva Cerrado Voçorocamento Áreas úmidas Corpos d’água

Área ha 210,33 3.526,15 2.998,52 7,90 16.099,08 3.607,52 3.735,60 15,79 378,98 39,10

% 0,69 11,52 9,79 0,03 52,58 11,78 12,20 0,05 1,24 0,13

Mais de 50% da área é composta pela classe 3.1.1, ou seja, floresta e cerradão, devido ao dossel das árvores. Neste momento não se considerara relevante separar estas duas classes. Em ambos os casos, se tratam de uma vegetação arbórea densa, uma fisionomia típica de mata, com porte florestal, no parque, sempre se alternando entre floresta e cerradão. O cerrado ocupa pouco mais de 12% do parque, sendo encontrado principalmente em encostas. A distribuição da densidade desta vegetação varia em relação ao relevo, ao substrato, e à disponibilidade de água. Porém, existem indícios que em muitas das áreas em que se têm hoje o cerrado, tenham existido matas que foram substituídas por pastagem, tratando-se de um cerrado secundário ou ainda aldeias ou roças de culturas primitivas, que evoluíram para cerrado mais ou menos denso. É perceptível em 9% das pastagens, nas capoeiras, a regeneração constante e insistente de algumas espécies de nativas, revelando o potencial natural regenerativo dessas áreas, pois atendem as condições básicas que influenciam no sucesso como: • Disponibilidade de sementes, produção, floração, polinização, maturação e dispersão de sementes; • Umidade e temperatura, condições para a germinação. • Água, nutrientes e luz, condições que interferem no desenvolvimento das plântulas e propágulos. Segundo SEITZ, 1994, todos os fatores devem estar em um nível apropriado para garantir o surgimento de uma nova planta e o desenvolvimento, a fim de se garantir o ciclo das espécies. A seleção natural ocorre sempre que espécies mais resistentes e menos palatáveis sobrevivem ao gado, pois estas furnas são conhecidas regionalmente pelos moradores mais antigos, como áreas propícias para criação extensiva de gado, por se manter verde na maior parte do ano. Este fato está relacionado à diminuição do stress hídrico, a insolação sobre a pastagem e, também, por se tratar de

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uma região de alta umidade, devido a precipitação anual ser elevada. E, em períodos de seca, representam muitas vezes a única chance de sobrevivência para o gado (LAMPRECHT, 1990). Contudo, hoje muitas áreas de pastagens estão sofrendo problemas de pastejo mal conduzido, como de superlotação, superando a capacidade de carga, compactando o solo e conseqüentemente levando a erosão. Nas bordas do planalto, o desbarrancamento e desmoronamento de terra são constantes, devido a processos naturais de erosão, relacionados ao tipo de solo, relevo e outros como a intervenção humana, pois quando a vegetação natural é totalmente retirada, se está acelerando este processo. Nestas bordas a vegetação típica é o campo de cambaúva, uma espécie de gramínea, que segundo Arnildo Potti (informação verbal, Embrapa Campo Grande) no futuro pode ser uma espécie indicada para recuperação de áreas degradadas, e que representa 11% da área total do parque. Foi diagnosticado que cerca de 77% do Parque Estadual das Nascentes do rio Taquari encontra-se com vegetação nativa, valor em evolução relacionado à regeneração. Sendo importante para a manutenção daquele patrimônio, para conservação das paisagens e da vegetação, comportando diversidades de plantas e processos ecológicos, este quadro é fácil de se visualizar na carta de uso e cobertura do solo do Parque Estadual das Nascentes do Rio Taquari (Figura 13).

CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES Trata-se de um trabalho envolvendo técnicas de sensoriamento remoto integrado a SIG, disponibilizando os dados georreferenciados sobre a ocupação do Parque em 2.000. As classes CORINE citadas e o método de trabalho podem ser aplicados em outras Unidades de Conservação. Após o controle de campo e com os dados processados, observou-se que, na maior parte do Parque, a vegetação nativa tem possibilidade de regeneração natural, pois a área possui as condições básicas que estas se reestabeleçam. Este potencial de regeneração se confirma quando, observamos a realidade do Parque, uma região de vales, rica em vegetação em nativa, com um micro-clima bastante particular, de precipitação pluviométrica alta, onde áreas de pastagens sujas são colonizadas por espécies herbáceas e arbustivas, iniciando a sucessão natural, servindo de abrigo para a fauna, que por sua vez disseminam as sementes, tornando-se capoeiras, podendo evoluir para cerrado ou mata. A integração de todos estes dados em SIG subsidiam um zoneamento ambiental preliminar, levando em consideração a cobertura e uso do solo. O Parque Taquari foi o segundo parque criado no estado de Mato Grosso do Sul, e na sua delimitação foram encontrados problemas, como de projeção cartográfica, entre outros. Para evitar

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que estes se repitam sugere-se o estabelecimento de procedimentos para delimitação dos Parques no Estado de Mato Grosso do Sul.

Figura 13 - Carta de uso do solo referente ao ano de 2000, para o Parque Estadual das Nascentes do Rio Taquari (obtida da classificação de imagem de satélite Landsat TM 7 de 7 de agosto de 2000 – Bandas 1, 2, 3, 4, 5, 7 e Pan (redução da carta original em escala 1:50.000)). O ato de criação de um Parque é um passo muito importante para a preservação ambiental dos ecossistemas naturais, o marco inicial de sua existência, e deve ser firmado de forma incisiva, o seu perímetro deve ser tão importante quanto o que motivou sua criação, não podendo desprezar a forma da terra nem a superfície do terreno na sua delimitação, devendo no ato de sua criação ter seus marcos materializados para que se tenha sempre a certeza de seus limites.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ADOBE SYSTEMS Inc. Photoshop version 4.0. Adobe Systems Inc. 1996. USA. 1 CD ROM AUTODESK Inc. AutoCad version 14. AutoDesk Inc. San Francisco – California. 1997. 1 CD ROM. CORINE. CORINE Land Cover. CORINE - Coordination of Information on the environment. 1992. Comm of European Communities, Bruxelas. 106 pp DISPERATI, A.A.;BERNARDI, D.; KNAPP, A.K. Comparação visual entre fotografias aéreas digitais 35mm colorido normal e infravermelho colorido da estação experimental do Canguiri: um estudo de Caso, Revista digital Cerne, v.6, n.2, pág. 067-078, 2000. Disponível em http://www.dcf.ufla.br/cerne/Revistav6n2-2000/8-ARTIGO .PDF, último acesso 03/11/01. ERDAS Inc. Erdas Imagine version 8.3.1. Erdas Inc. Atlanta – Georgia. 1997. 1 CD ROM. ESRI Inc. ARC VIEW version 3.1. Environmental Systems Research Institute Inc. New York. 1998. 1 CD ROM. ESRI Inc. ARC/INFO version 7.11. Environmental Systems Research Institute Inc. New York. 1997. 1 CD ROM. GUALA, G.F. Stinger's bamboo links and infomation: Apoclada arenicola Branch Complement Near

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