LIBELO CONTRA A ESQUERDA NO BRASIL NA ERA CONTEMPORÂNEA

July 27, 2017 | Autor: Fernando Alcoforado | Categoria: Political Science, Politics, Left and Right Political Culture Model
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LIBELO CONTRA A ESQUERDA NO BRASIL NA ERA CONTEMPORÂNEA Fernando Alcoforado* Esquerda e Direita são uma forma comum de classificar posições políticas, ideológicas, ou partidos políticos. Esses termos surgiram com o advento da Revolução Francesa. Durante o reinado de Luis XVI, os membros do Terceiro Estado, que indicava as pessoas que não faziam parte do clero (Primeiro Estado) nem da nobreza (Segundo Estado), se sentavam à esquerda do rei enquanto os do clero e da nobreza se sentavam à direita. Os mais radicais que normalmente eram contra as decisões do rei ficaram conhecidos como a esquerda enquanto os favoráveis às decisões eram os de direita. A Revolução Francesa abriu a caixa de Pandora e fez surgir as aspirações, expectativas e esperanças populares que todas as autoridades constituídas- tanto conservadoras quanto liberais- tiveram dificuldade de conter. Neste estágio, a direita era representada pelos conservadores e o centro pelos liberais. A esquerda, que ainda não havia assumido identidade própria, estava inserida entre os liberais como seu setor mais radical. Essa luta entre conservadores e liberais das minorias governantes ocorreu em todos os países do mundo entre 1815 e 1848. As Revoluções de 1848 constituiram, portanto, o momento de emergência de uma terceira ideologia, uma ideologia de esquerda que rompeu os laços que era então considerado um liberalismo centrista e se estabeleceu em oposição tanto a esse liberalismo como ao conservadorismo de direita. No período pós-1848, surgiram dois modelos bem claros. Por um lado, havia uma triade de ideologias- conservadores, liberais, socialistas- competindo politicamente em quase todas as partes. A partir de 1848, agudizou-se em todo o mundo o confronto entre a direita, representada pelos conservadores, e a esquerda, representada pelos socialistas, enquanto os liberais centristas se posicionavam entre as duas correntes ideológicas tendendo mais para as posições dos conservadores. A diferença fundamental entre esquerda e direita é a de que a primeira é defensora intransigente da igualdade e a direita não. A esquerda acredita que a maior parte das desigualdades é social e, enquanto tal, eliminável e a direita acha que a maior parte delas é natural e portanto ineliminável. Mudar o mundo através do Estado foi o paradigma que predominou no âmbito dos partidos políticos de esquerda do século XVIII até a década de 1990 do século XX. A tese dos partidos políticos de esquerda que fundamentava essas concepções é simples: conquista-se o Estado que até então era um instrumento da burguesia e o transforma em um instrumento da classe trabalhadora através da Reforma ou da Revolução Social. A tese de considerar o Estado como centro irradiador da mudança foi um rotundo fracasso em todas as partes do mundo, tanto nos países que tentaram construir o socialismo, quanto nos países periféricos que adotaram uma postura nacionalista na promoção de seu desenvolvimento. Ambos os enfoques, o reformista e o revolucionário fracassaram no seu projeto de mudar pacificamente ou radicalmente a sociedade. Com o fim do socialismo real na década de 1990, os grandes partidos de esquerda em todos os países do mundo abandonaram não apenas as teses revolucionárias, mas também as reformistas visando as mudanças sociais. Muitos partidos de esquerda no mundo se tornaram partidos da ordem dominante. A partir da década de 1990, a esquerda que nasceu em 1848 e conquistou o poder em vários países perdeu o rumo devido sobretudo à falta de um projeto alternativo ao que foi implantado na União Soviética e em outros países. 1

A ação política da velha esquerda no Brasil e no mundo ficou reduzida fundamentalmente à sua participação nas eleições parlamentares defendendo teses liberais centristas ou neoliberais e abdicando das teses nacionalistas e da revolução social que sempre foram os principais móveis de sua atuação política no passado. Em vários países do mundo, partidos de esquerda que conquistaram o poder, adotam teses liberais ou neoliberais com a concessão de amplas benesses às classes dominantes, sobretudo as do setor financeiro, e de “esmolas” aos “de baixo” na escala social, para neutralizar convulsões sociais como ocorre atualmente no Brasil com o “Bolsa Familia” ou cooptá-los eleitoralmente. A atual crise mundial evidenciou um vazio teórico das esquerdas. Frente à crise das teses neoliberais, a velha esquerda nada apresentou como alternativa. Alguns partidos da velha esquerda no Brasil liderados pelo PT abdicaram inteiramente da revolução social como caminho para realizar as mudanças sociais abandonando este objetivo substituindo-o por um projeto de poder para usufruir de suas vantagens como ficou evidenciado no processo do mensalão e do petrolão. O PT e seus aliados da velha esquerda passaram a constituir a nova direita no Brasil porque, no poder, colaboram com as classes dominantes e contribuem para desmobilizar os movimentos sociais na luta pelos seus interesses. Um governo verdadeiramente de esquerda não se dobraria aos ditames do capital financeiro internacional como tem feito os governos Lula e Dilma Roussef. Nunca na história do Brasil, os bancos ganharam tanto dinheiro quanto nos governos do PT. Um governo verdadeiramente de esquerda não aderiria às teses neoliberais como os governos do PT que abdicaram de intervir na economia com a elaboração de um plano nacional desenvolvimentista capaz de promover o progresso econômico e social do País em que fosse assegurada a soberania nacional. Um governo verdadeiramente de esquerda não permitiria a desnacionalização da economia brasileira, o desmantelamento da indústria nacional, a privatização do petróleo do campo de libra do Pré-sal, como ocorreu durante os governos do PT. Um governo verdadeiramente de esquerda não combateria a desigualdade social com um programa de transferência de renda como o “Bolsa Família” que é utilizado como um instrumento de cooptação política do lumpenproletariado para se manter no poder, mas, sim promoveria o crescimento econômico em taxas elevadas para gerar emprego e renda para a população. Um governo verdadeiramente de esquerda não faria as alianças espúrias como as realizadas pelo PT com José Sarney, Renan Calheiros, Fernando Collor, Paulo Maluf, entre outros, para se manter no poder, nem permitiria a existência do mar de lama da corrupção em que se transformou os governos do PT conforme ficou comprovado com o mensalão e a corrupção na Petrobras. Durante as últimas eleições presidenciais, muita gente afirmava ingenuamente que iria sufragar o nome de Dilma Rousseff porque Aécio Neves e o PSDB eram de direita quando, na realidade o PT e o PSDB são ambos partidos de direita porque estão a serviço do capital nacional e internacional. Na recente manifestação popular contra o descalabro dos governos do PT, foram colocados os mesmos argumentos de que a massa que se mobilizou era de direita reforçados pela tese de que era composta pela elite branca de olhos azuis que se opõe ao atual governo que é defensor intransigente dos pobres. O lamentável é que existem pessoas supostamente inteligentes que acreditam nisso e reforçam esta visão. Quem faz esta afirmativa está comprometido política e ideologicamente com o PT ou desconhece 2

o que se passou ou se passa nas entranhas dos governos do PT de Lula e Dilma Roussef. O PT e seus aliados da velha esquerda perderam o rumo da história e a autoridade moral para se colocar como autênticos representantes da esquerda no Brasil na era contemporânea. Uma nova esquerda tem que ser reinventada no Brasil. * Fernando Alcoforado, 75, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona, http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011) e Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), entre outros.

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