Lições dos ventos que não sopram da Bahia

July 23, 2017 | Autor: Francisco Caruso | Categoria: N/A
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Lições dos ventos que não sopram na Bahia

Nos últimos dias, temos ouvido e lido muitas notícias sobre a inauguração do Parque Eólico de Caetité, no interior da Bahia, que é o maior empreendimento deste tipo na América Latina. Tal notícia deveria ser comemorada por todos que sonham e trabalham para construir um país mais sustentável, com fontes de energia renováveis e de baixos impactos ambientais, não fosse por um único detalhe: a obra está pronta, o Governo paga mais de 33 milhões de reais por mês por ela e nenhum quilowatt foi ainda produzido, pois a rede de transmissão não foi construída, por falta de licença ambiental, segundo tem sido divulgado. Isso mesmo: falta a licença ambiental! Note que, segundo estimativas, este parque poderia estar gerando quase 300 megawatts, o que seria suficiente para abastecer uma cidade do porte de Brasília. Ora, perguntaria o leitor, mas quem é responsável por essa licença? Não seria óbvio que ela fosse concedida antes da obra ser executada? Será que o impacto ambiental de uma rede de transmissão pode ser tão negativo na região como a produção da mesma quantidade de energia por termoelétricas? Não acredito! Os ventos que estão sendo impedidos de soprar para dar concretude a este importante projeto levantam a questão do descaso com o bem público, são um duro golpe contra a própria economia do país e evidenciam a falta de articulação política entre Governos Federal e Estadual e os órgãos de defesa ambientais. O que está acontecendo na Bahia é uma vergonha, que reflete a grande dificuldade que o Brasil continua tendo de planejamento. Sim, pois no planejamento da construção de um simples prédio necessariamente se prevê que a obra seja ligada à rede elétrica e de água e esgoto. Não ouvimos notícias, por exemplo, que edifícios residenciais ficaram prontos, mas não podem funcionar por não estarem ligados a essas redes Entretanto, somos obrigados a nos indignar com tamanha falta de planejamento e articulação, para dizer o mínimo. A situação ainda é mais kafkiana pela justificativa final de que falta a licença ambiental para o funcionamento de um projeto de geração sustentável de energia, que foi executado, e que visa, no fundo, a própria preservação ambiental do interior da Bahia, dando àquela região, enorme potencial de desenvolvimento econômico e social. Além da revolta, vergonha e do sentimento de impotência, resta-nos esperar que novos ventos iluministas soprem sobre nossos governantes para que os ventos que a natureza nos dá de graça façam o que podem fazer pelo desenvolvimento da Bahia e do Brasil.

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