Livros didáticos e ensino de língua materna: a conexão

October 1, 2017 | Autor: J. Chaves Marinho | Categoria: Applied Linguistics, Language Teaching
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Seção 7a - Linguística Aplicada, ensino e aquisição de língua (L1 e L2) Painel/Comunicações coordenadas: LIVRO DIDÁTICO E ENSINO DE LÍNGUAS

LIVROS DIDÁTICOS E ENSINO DE LÍNGUA MATERNA: A CONEXÃO Janice Helena Chaves Marinho Universidade Federal de Minas gerais (UFMG) [email protected]

RESUMO: Objetivo apresentar uma análise do trabalho proposto em livros didáticos de língua portuguesa, de 6a a 9a ano, aprovados no PNLD 2011, para o estudo da conexão. Para a pesquisa, foram analisadas atividades presentes nos livros didáticos (LDs), para investigar se os LDs, ao apresentarem atividades voltadas para os conhecimentos linguísticos ou a gramática, orientam os alunos para o uso dos mecanismos de conexão, tais como as conjunções, as locuções conjuntivas, os pronomes relativos, os advérbios e as locuções adverbiais, nos diferentes gêneros e tipos textuais que compõem a coletânea presente nessas obras. Ou seja, o interesse da pesquisa é analisar se, por meio de atividades dessa natureza, é possível levar os alunos à compreensão não só dos processos de combinação intra-sentenciais (o que tradicionalmente vem sendo trabalhado), mas também dos processos de articulação discursiva implicados nos diferentes gêneros e tipos textuais. PALAVRAS-CHAVE: conexão, conectores, livro didático, conhecimentos linguísticos, língua portuguesa. 1. Introdução Neste artigo, apresento uma análise do trabalho voltado para o estudo da conexão que é proposto em duas coleções de livros didáticos de língua portuguesa, de 6a a 9a ano, que foram analisadas e aprovadas no PNLD 2011. O PNLD é um programa do governo brasileiro que visa melhorar a qualidade do ensino fundamental oferecido nas escolas públicas brasileiras, por meio do aprimoramento do livro didático, uma vez que este constitui um importante instrumento no trabalho pedagógico desenvolvido pelo professor, dentro e fora da sala de aula. As coleções analisadas são: Português: Linguagens, de William Roberto Cereja e Thereza Cochar Magalhães (Atual Editora) e Linguagem: criação e interação, de Cássia Garcia de Souza e Márcia Paganini Cavéquia (Editora Saraiva). Ambas foram escolhidas por apresentarem muitas e extensas atividades com os conhecimentos linguísticos. Interessa-me neste trabalho investigar se essas duas coleções apresentam atividades que tratam da atuação dos conectores no estabelecimento das relações textuais/discursivas. Conectores são aqui compreendidos como palavras que atuam nos processos de articulação de orações, períodos, parágrafos, sequências textuais ou partes inteiras do texto. Analiso atividades presentes em seções voltadas para o trabalho com a leitura dos textos que compõem a coletânea dos livros, assim como as atividades constantes nas seções voltadas para o trabalho com os conhecimentos linguísticos ou gramaticais. Focalizo as atividades que buscam orientar os alunos para o uso dos mecanismos de conexão, que podem ser as conjunções e as locuções conjuntivas, os pronomes relativos, os advérbios e as locuções adverbiais, as preposições e as locuções prepositivas, em textos, levando-os à compreensão não só dos processos de estruturação de sentenças (o que tradicionalmente vem sendo

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trabalhado, no âmbito dos estudos sobre a conjunção), mas também dos processos de articulação de unidades do discurso implicados nos diferentes gêneros e tipos textuais. Os elementos - chamados na literatura linguística de conectores (Roulet, Rossari, Moeschler) ou de marcadores discursivos (Schiffrin, Fraser, Taboada) - atuam na articulação discursiva em especial na conexão. Nas diversas abordagens de estudo desses elementos, considera-se que eles podem estruturar a linearidade do texto, organizando-o numa sucessão de fragmentos, facilitando assim o seu processamento; encadear atos de fala distintos, introduzindo entre os atos relações discursivo-argumentativas; assinalar etapas de construção do texto (introdução, desenvolvimento e conclusão), evidenciando sua organização estrutural; introduzir comentários sobre o modo de formulação do enunciado ou da própria enunciação; relacionar elementos de conteúdo; ou ainda significar as relações discursivas, isto é, as relações que se tecem entre as diferentes unidades de um discurso (MARINHO, 2009). Considera-se que o seu uso em textos contribui para o estabelecimento de relações textuais/discursivas, existentes entre os segmentos que compõem o texto e informações que pertencem à memória discursiva dos interlocutores, entendida como o conjunto de conhecimentos conscientemente partilhados pelos participantes da interação (BERRENDONNER, 1983). Considera-se também que o uso inadequado dos conectores ou uma interpretação inadequada de seu uso podem constituir um problema tanto na produção e quanto na recepção de textos, interferindo no seu processamento, comprometendo a formulação e a checagem de hipóteses, a produção de inferências, ou o estabelecimento de relações textuais/discursivas. Dessa forma, faz-se importante o ensino desses elementos na escola, o que justifica a análise que aqui se desenvolve, da forma como as duas coleções de LDs exploram o uso dos mecanismos de conexão em textos. 2. O trabalho com os conectores nos LDs Assim como em Marinho (2009), neste trabalho concentro-me nas atividades presentes nas duas coleções escolhidas voltadas para uso de conectores, os quais podem ser empregados visando-se à articulação discursiva nos diferentes gêneros e tipos textuais. Analiso atividades presentes nos quatro volumes (6 a 9) de cada coleção. Apresento, a seguir, minha avaliação das duas coleções quanto ao trabalho com a conexão e a ilustro com algumas das atividades analisadas em minha pesquisa. 2.1. Coleção 1 – Português: linguagens Esta coleção se estrutura em unidades e capítulos, que por sua vez são divididos em seções. Para o trabalho com os conhecimentos linguísticos há uma seção intitulada A língua em foco, a qual é proposta para o ensino da língua buscando alterar o enfoque tradicional, não eliminando-o, mas redimensionando-o com a inclusão de noções como “enunciado, texto e discurso, intencionalidade linguística, o papel da situação de produção na construção dos sentidos dos enunciados, preconceito linguístico, variedades linguísticas, a semântica, as variações de registro (graus de formalidade e pessoalidade), avaliação apreciativa, etc.” (vol. 6, MP, p.7). Dessa forma, a coleção declara contemplar a gramática tradicional normativa, em seus aspectos prescritivos e descritivos, mas também a gramática de uso e a gramática reflexiva, a fim de incluir no ensino os novos conceitos, para levar os alunos a não apenas descrever a língua, mas a efetivamente “operar a língua como um todo” (vol. 6, MP, p.8), apropriando-se dos recursos de linguísticos e utilizando-os de modo consciente em suas produções, orais ou escritas.

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Nessa seção, os conteúdos são efetivamente trabalhados de maneira transmissiva e progressiva, por meio de extensas exposições e exercícios de aplicação. Mas há uma subseção, A categoria gramatical estudada na construção do texto, cujo título varia conforme o conteúdo abordado. Ela traz uma abordagem mais discursiva, de modo que os alunos possam perceber como tal categoria gramatical funciona em um texto de uso social. Há ainda a subseção Semântica e discurso, com exercícios para um aprofundamento no estudo da categoria gramatical trabalhada no capítulo, objetivando ampliar o tratamento gramatical da categoria, levando os alunos à reflexão sobre os recursos linguísticos, de modo a contribuir para o desenvolvimento de sua competência linguística. As conjunções, por exemplo, quando tratadas nessa seção, são apresentadas a partir de seu uso em texto, mas descritas com base na tradição gramatical. Tanto que são definidas como palavras que “estabelecem” relações. Sua classificação tradicional é apresentada em quadros (v.8, p. 198, 210), o que evidencia a preocupação com a transmissão de conceitos, classificações e nomenclaturas. Mas na subseção Semântica e discurso, possibilita-se uma análise do funcionamento e dos valores semânticos das conjunções. São oferecidos exercícios que levam os alunos a refletir sobre os valores das conjunções em uso e os efeitos de sentido gerados pela sua presença no texto. Exemplo (1) (v.8, p.201): 1. A conjunção coordenativa e pode assumir outros valores, dependendo da relação que estabelece entre os termos (orações ou palavras) coordenados. Observe o emprego da conjunção e nesta frase: Ela me olhou intensamente e não disse nada. Note que, nesse caso, a relação que a conjunção e estabelece entre as duas orações é diferente daquela que lhe é comum, com valor aditivo, pois equivale a mas e tem, portanto, valor adversativo. A conjunção e pode ainda assumir outros valores. Indique, entre as frases a seguir, aquela em que a conjunção coordenativa e:  tem valor adversativo;  tem valor conclusivo;  indica finalidade;  introduz uma explicação enfática. a) Disseram estar famintos e não comeram quase nada. b) Luciana saiu de casa bem cedo e já deve estar chegando ao interior. c) Pensou em comprar flores e dá-las de presente para a mãe. d) O garoto disse: “Não vou dar banho no cachorro hoje”.”E eu nunca”, respondeu a irmã. 2.

A conjunção coordenativa mas também apresenta outros valores, além da ideia básica de oposição, contraste. Na frase “Ela é bonita, inteligente, mas principalmente delicada”, que relação a conjunção estabelece entre as orações: conclusão, explicação, adição ou alternância?

Os exercícios do exemplo (1) mostram o enfoque tradicional dado ao estudo das conjunções, quando faz questão de enfatizar uma nomenclatura (conjunção coordenativa) e quando insiste na ideia de que o estabelecimento das relações já é dado no texto e não construído no processo interacional, sendo as conjunções recursos que contribuirão para essa construção. Mas eles mostram também uma consideração de seu uso efetivo, em que assumem outros valores, exigindo, dessa forma, maior trabalho dos interlocutores para a interpretação das relações.

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Esta coleção possui também, em alguns capítulos, uma seção dedicada à teorização sobre assuntos ligados à textualidade e ao discurso, intitulada de Para escrever com adequação/ coerência/ coesão/ expressividade. O título dessa seção varia de acordo com a natureza do objeto estudado. No volume 6 (p.210-212), por exemplo, há a seção Para escrever com coerência e coesão, voltada para o ensino de palavras e expressões consideradas como recursos de conexão: além de, e, mas. Nessa seção, após a apresentação de um texto, são propostas questões de interpretação da função de palavras e expressões nele presentes, que atuam no texto contribuindo para a construção da coerência e da coesão. O termo conexão aparece no volume 6, para a definição dos conceitos de coesão e coerência. A obra declara que palavras como além de, e, mas e esse fazem a conexão entre palavras, frases e partes maiores do texto, indicando sequência de fatos, opondo ideias, referindo-se ao já expresso ou ainda evitando repetições. A partir daí definem-se: “Coesão textual são as conexões gramaticais existentes entre palavras, frases, parágrafos e partes maiores do texto.” e “Coerência textual são as conexões de ideias que conferem sentido ao texto.” (p.212) Esse termo é usado sem a consideração do processo de conexão que envolve o funcionamento de mecanismos relacionados à explicitação das relações existentes entre os diferentes níveis da organização de um texto (BRONCKART, 1999). No volume 8 (p.136-138), na seção Para escrever com coerência e coesão, a obra trata da conexão, definido-a como “A conectividade”, relacionada à articulação de ideias (coerência) e à articulação gramatical entre palavras, frases e partes maiores (coesão). Apresenta-se uma atividade que traz um texto em que faltam palavras, que devem ser indicadas pelos alunos, os quais devem também dizer qual é o papel dessas palavras no texto. Em seguida oferece-se uma explicação sobre os conectivos e a uma definição bastante vaga: “Conectivos são palavras de ligação que cumprem um papel decisivo na construção da coerência e da coesão textual.” (p.137) Depois são propostos exercícios considerando-se o uso de conectivos em texto ou na ligação de frases. Exemplo (2) (v.8, p.138): 5. As frases de cada item abaixo mantêm entre si uma relação lógica subentendida. Reúna as duas frases em uma única, garantindo a coerência e a coesão das ideias. Para isso, empregue conectivos como mas, porque, portanto, por isso, que, embora, apesar de, pois, e, porém, etc. e faça as adaptações necessárias. a) Gosto muito de torresmo. Não posso comer torresmo. b) Vou embora mais cedo. Tenho um compromisso. c) Cheguei ao colégio no horário. Saí de cada bem tarde. d) Tenho um compromisso. Vou embora mais cedo. e) Saí de cada bem tarde. Cheguei ao colégio no horário. f) Entre rápido. O filme já vai começar. Essa atividade possibilita aos alunos compreender que as relações lógicas se dão entre os conteúdos dos enunciados e que os conectivos servirão para explicitar ou sinalizar essas relações. Atividades como essa são então bem-vindas para a compreensão do fenômeno da conexão. No volume 9, na seção Para escrever com coerência e coesão, quando aborda a “Articulação I”, a obra trata de palavras que atuam na articulação de ideias, que são os articuladores lógicos do texto e os conectivos. Trata também da articulação no nível da frase e no nível do texto. Após uma curta apresentação dessas ideias, são dados exercícios. Exemplo (3) (v.9, p.211-212):

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É dado um texto produzido por uma aluna do 1º ano do Ensino Médio, “A cidadania brasileira é inacessível”, e são propostas questões como: 1. Observe o 3º parágrafo do texto e o emprego de articuladores no nível da frase. a) A que termo anterior se refere a palavra lhe? b) No 2º período, é feita referência a “outro exemplo”. Por que se emprega a palavra outro? c) A que termo anteriormente expresso se refere a palavra los? d) Identifique dois exemplos de conjunções que estabelecem articulação entre frases. 2. Observe que o 3º parágrafo é introduzido pela conjunção no entanto, que, no contexto, tem o papel de articulador no nível do texto. Essa conjunção é adversativa e seu papel é estabelecer uma relação de oposição. Entre quais ideias é estabelecida essa oposição. 3. O 4º e o 5º parágrafos do texto apresentam articuladores lógicos no nível do discurso. Quais são eles? 4. No 5º parágrafo, a conjunção pois introduz a ideia de conclusão. a) Que outras ideias teriam o mesmo sentido que pois, no contexto? b) A ideia de conclusão se dá apenas no interior do parágrafo em que é empregada a palavra pois ou em relação a todo o texto? Justifique. Nessas atividades, trabalha-se a articulação de idéias que, no nível da frase ou do texto, “normalmente se dá por meio do emprego de articuladores lógicos do texto e de conectivos, embora a presença destes não seja obrigatória” (p.211). O exercício 1 contempla o uso dos pronomes com função anafórica e de conjunções na articulação entre frases. O exercício 2 mostra a preocupação da coleção com a transmissão e a fixação de conceitos (“Essa conjunção é adversativa e seu papel é estabelecer uma relação de oposição.”), mas também propõe a análise do emprego de no entanto na articulação no nível do texto. Os exercícios 4 e 5 possibilitam aos alunos perceber a atuação dos conectivos na articulação de sequências maiores do texto. Nesta coleção, pode-se dizer que o trabalho proposto com a conexão se faz a partir de descrições e classificações nos moldes tradicionais, sem economia de conceitos, visto a extensa exposição de conteúdos relativos a advérbios e adjuntos adverbiais, a conjunções (subordinadas e coordenadas) e a pronomes relativos, e com a proposição de exercícios de identificação, análise e classificação, sobretudo nos livros do 9a ano. Mas na subseção Semântica e Discurso, oferece-se oportunidade aos alunos de uma análise numa perspectiva discursiva. Ainda, na seção Para escrever com coerência e coesão, a obra conduz os alunos à reflexão sobre esses elementos na interpretação do texto. 2.2. Coleção 2 – Linguagem: criação e interação Esta coleção se estrutura em unidades, capítulos, seções e subseções. Nas seções Ampliação de vocabulário, Questões Textuais e Estudo da Língua são abordados os recursos linguísticos. A seção Ampliação de vocabulário trata do uso do dicionário, das relações semânticas entre palavras, da variação linguística, etc., visando trabalhar com o funcionamento das palavras em textos. A seção Questões textuais trata de aspectos estruturais, linguísticos, discursivos e estilísticos de textos. A seção Estudo da Língua apresenta os conteúdos gramaticais tradicionais, com propostas de identificação e/ou a classificação de classes de palavras ou de funções sintáticas. Ela apresenta as definições dos

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objetos trabalhados e, em seguida, propõe exercícios que privilegiam uma abordagem estrutural desses objetos. São exercícios estruturais, de transformações e reelaborações, de lacunas para serem preenchidas, e de localizações ou identificações do objeto ensinado, especialmente em tirinhas e fragmentos de textos. A conexão é tratada no volume 7, na seção Questões textuais, quando são abordadas “As ligações entre as partes do texto”. Chama-se a atenção dos alunos para o fato de que o texto não é um amontoado de frases e orações e de que, para as relações lógicas de sentido entre suas partes, existem “elos”, que são palavras como porque, pois, e, mas. A atividade aí presente solicita que sejam identificados “alguns termos que funcionam como ‘elos’” (v.7, p.181), e anotadas quais relações de sentido, entre as listadas no exercício, são estabelecidas em cada um deles. Depois é dada uma atividade que traz um texto com palavras e expressões destacadas e pede-se aos alunos que identifiquem a relação de sentido que elas estabelecem, tomando um exemplo como referência. Também esta coleção descreve essas palavras e expressões com base na tradição gramatical, que considera que são elas que estabelecem as relações de sentido entre palavras ou orações. Ao final da página, em destaque, afirma-se: “O uso adequado desses ‘elos’ em um texto contribui, consideravelmente, para sua compreensão. A escolha adequada do termo utilizado como ‘elo’ é de extrema importância, pois, além de determinar a direção que se pretende dar ao texto, manifesta as diferentes relações entre as partes que o constituem.” (v.7, p.182) Na seção seguinte, trabalha-se a “Elaboração de texto de opinião”, mas, curiosamente, não há no LD qualquer menção a que os alunos empreguem os termos trabalhos anteriormente em seus textos. No volume 8, na seção Estudo da Língua, quando se ensina o que é o período, propõe-se uma atividade de transformação de períodos simples em um período composto, com o emprego de termos de ligação como e, mas, por isso, pois, em função da relação de sentido entre os períodos simples (v.8, p.34). A atividade, apresentada sem referência ao conteúdo trabalhado no ano anterior, não é depois retomada na unidade. Esses termos de ligação serão trabalhados em outra unidade, quando se abordam os conectivos e a conjunção, também na seção Estudo da Língua. Nesse momento são propostas questões que levam os alunos a refletir sobre esses termos e as relações de sentido que estabelecem, segundo o LD. Exemplo (4) (v.8, p.167): Identifique quais termos – de, e, quando, como, por isso e pois – estabeleceram, no texto B, as relações de sentido apresentadas nos itens abaixo: a) indicação de um assunto; b) indicação de tempo; c) adição de uma ideia; d) explicação de uma ideia; e) exemplificação de um fato; f) conclusão de um assunto. Logo abaixo, o termo conectivos é apresentado e definido. São propostas mais duas atividades, relacionadas à identificação das circunstâncias que os conectivos expressam. Em seguida, é apresentada a conjunção, como “uma das classes de palavras que pode exercer a função de conectivo”. (p.169) A descrição da conjunção é a tradicional. Após as explicações sobre conjunção, coordenação e subordinação, são propostos exercícios de observação, análise e classificação, embora haja também uma atividade que possibilita alguma reflexão pelos alunos.

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Exemplo (5) (v.8, p.171-172): Releia a última fala da tirinha B. “Ele descobriu que vocês são almas gêmeas...”  Que conjunção une as duas orações que formam esse período?  Se eliminarmos a conjunção, temos as seguintes orações: “Ele descobriu. Vocês são almas gêmeas...” Essas orações são dependentes sintaticamente?  Com base na questão anterior, responda se a conjunção que é coordenativa ou subordinativa. No volume 9, na seção Estudo da Língua, são trabalhadas as orações subordinadas. O enfoque é também o tradicional. Define-se o que são orações subordinadas e depois se trabalham as orações subordinadas substantivas, adjetivas e adverbiais, em capítulos distintos. Ganham destaque nas explicações dadas as conjunções integrantes e o pronome relativo, estudado antes das orações adjetivas. Na abordagem das orações adverbiais, ganham destaque as circunstâncias indicadas por elas e as conjunções. As atividades propostas neste LD são diversificadas. Pede-se que os alunos completem frases, identifiquem e classifiquem as orações subordinadas ou apontem as relações, reescrevam as orações, etc. Mas são propostas atividades que possibilitam a reflexão pelos alunos sobre os valores semânticos das conjunções como e que. Exemplo (6) (v.9, p.157): Dependendo do contexto, em que é empregada, a conjunção como pode apresentar diferentes sentidos: causa, comparação ou conformidade. Indique e anote no caderno o sentido expresso por essa conjunção em cada uma das frases a seguir: a) Realizei o trabalho como havia prometido. b) Como foi insultado, resolveu ir embora. c) Agia como se fosse um bicho assustado. Exemplo (7) (v.9, p.158): Do mesmo modo, a conjunção que também apresenta sentidos diferentes, como, por exemplo, causa, consequência, finalidade e comparação. Indique no caderno o sentido expresso em cada uma das situações abaixo. a) Ela tinha tanto carisma que agradava a todos. b) Você nada melhor que eu. c) Fez-lhe o pedido que erguesse um monumento em homenagem a uma grande mulher. d) Estou feliz que você realizou seu sonho. Outra atividade neste volume interessante de ser comentada é a que leva os alunos a refletirem sobre o uso do conector que em textos. Pede-se que eles reescrevam o texto visando eliminar seu uso excessivo, substituindo as orações desenvolvidas por orações reduzidas (v.9, p.162). É pena que atividades como essa, que de alguma maneira abordam o uso dos conectores numa perspectiva textual, não sejam mais propostas nessa coleção.

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Como procurei mostrar, esta coleção traz, além das muitas atividades de observação, identificação, análise e classificação dos conectores, atividades que possibilitam uma reflexão sobre o uso desses elementos, em frases (majoritariamente) e em textos. 3. Considerações finais Neste trabalho, apresentei uma análise de atividades extraídas de duas coleções de livros didáticos de língua portuguesa, de 6a a 9a ano, que foram analisadas e aprovadas no PNLD 2011. Meu interesse foi verificar se, por meio de atividades elaboradas para o ensino da conexão e do uso dos conectores, tradicionalmente chamados de conectivos, essas coleções possibilitam que os alunos compreendam não só os processos de estruturação de sentenças, por coordenação ou subordinação, em que esses elementos estão envolvidos, nem os tipos de orações coordenadas e subordinadas, que eles podem introduzir, mas ainda os processos de articulação que se dão por meio de seu emprego nos diferentes gêneros e tipos textuais. A análise aqui exposta evidenciou que as duas coleções propõem uma abordagem tradicional desses conteúdos gramaticais. Ambas tratam da conexão e dos conectores a partir de descrições, explicações e classificações nos moldes tradicionais. Ambas apresentam muitas atividades de identificação e classificação desses elementos, numa perspectiva mais estrutural. Apesar disso, elas apresentam algumas atividades que possibilitam uma reflexão sobre os valores semânticos dos conectores e seu funcionamento na construção da coesão do texto. A presença nessas coleções de seções com enfoques diferenciados para o tratamento dos conteúdos gramaticais é bastante positiva, visto que elas favorecem a ampliação desses estudos com a presença de atividades reflexivas e numa perspectiva textual/discursiva. Referências das coleções: CEREJA, William Roberto & MAGALHÃES, Thereza Colchar. Português: linguagens. 5a ed. reformulada. São Paulo: Atual, 2009. SOUZA, Cássia Garcia de & CAVÉQUIA, Márcia Paganini. Linguagem: criação e interação. 6a ed. São Paulo: Saraiva, 2009. Referências bibliográficas BERRENDONNER, Alain. 1983. Connecteurs pragmatiques et anaphore. Cahiers de Linguistique Française. n.5. p.215-246. BRONCKART, Jean Paul. 1999. Atividade de linguagem, textos e discursos: por um interacionismo sociodiscursivo. São Paulo: EDUC. FRASER, Bruce. 1999. What are discourse markers? Journal of Pragmatics 31: 931-952. KOCH, Ingedrore V. 2004. Introdução à Lingüística Textual: trajetória e grandes temas. São Paulo: Martins Fontes: 81-144. MARINHO, Janice Helena Chaves. 2009. O trabalho com a conexão no livro didático de língua portuguesa. In: COSTA VAL, Maria da Graça. (org.) Alfabetização e Língua Portuguesa: Livros didáticos e práticas pedagógicas. Belo Horizonte: Autêntica Editora, Ceale/FaE/UFMG: 111-125. MARINHO, Janice Helena Chaves. 2009a. A abordagem dos conhecimentos linguísticos em livros didáticos aprovados no PNLD 2010. In: DIONÍSIO, M.L et al. Discovering Worlds of Literacy.Proceedings of the 16th European Conference on Reading and 1st Ibero-American Forum on Literacies. © Littera - Associação Portuguesa para a Literacia/CIEd, Universidade do Minho, Braga.

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REBOUL, Anne & MOESCHLER, Jacques. 1998. Pragmatique du Discours: de l’interprétation de l’énoncé à l’interprétation du discours. Paris: Armand Colin: chap.4. ROSSARI, Corinne. 2000. Connecteurs et relations de discours: des liens entre cognition et signification, Presses Universitaires de Nancy. ROULET, Eddy. 2003. Une approche mudulaire de la problematique des relations de discours. In: MARI, H. et al. Análise do Discurso em Perspectivas. Belo Horizonte: FALE/UFMG : 149-178. ROULET, Eddy. 2006. The description of text relation markers in the Geneva model of discourse organization. In: FISCHER, K (ed.). Approaches to Discourse Particles. Amsterdam: Elsevier: 115-131. SCHIFFRIN, Deborah. 1987. Discourse Markers. Cambridge: Cambridge University Press. TABOADA, Maite. 2006. Discourse markers as signal (or not) of rhetorical relations. Journal of Pragmatics 38 (4): 567-592.

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