Machismos, feminismos, racismos e misturas as mais diversas

July 14, 2017 | Autor: Rodrigo Contrera | Categoria: Gender Studies, Gender and Sexuality, Gender, Feminism, Feminist activism, Género, Machismo, Género, Machismo
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Machismos, feminismos, racismos e misturas as mais diversas
Por morarmos numa cidade algo distante da capital, e por Taboão da Serra não ser facilmente reconhecida pelos paulistanos (quem sabe para que lado fica ou o tamanho, por exemplo?), tendemos, nós, taboanenses, a achar que nossa realidade é meio deslocada da realidade do mundo em geral. Mas isso é ilusório.
Não sei se sabem, mas uma recente passeata de professores questionando a política educacional do governo estadual em níveis mais altos (internacionais) teve a inspiração dos professores daqui da cidade. Por outro lado, nada esconde o fato de que a política em níveis municipais da cidade parece ser irrelevante num contexto geral.
Mas há temas que percorrem as estruturas e as ideologias mais conhecidas que eu gostaria de começar a arregimentar para tentar – quem sabe – criar alguma discussão. Um desses temas é o feminismo. Outro é a negritude. Outro – conectado ao primeiro – é o machismo.
Não vou enrolar. Acabei me envolvendo com esses temas a roldão dos problemas de uma amiga. Ela mostrou-me livros e vídeos a respeito e começamos a conversar. Verifiquei que há uma discussão de domina as redes sociais que até certo ponto também me interessa. Por exemplo: machismo existe? Feminismo é algo legal? Até que ponto cada um é tolerável?
Por outro lado, por trabalhar com teatro acabei me deparando com o caso da proibição velada da peça "A mulher do trem", da Cia Os Fofos Encenam, a ser apresentada no Itaú Cultural, por ela apresentar personagens que fazem uso do chamado "blackface" (pintura negra em atores brancos). Segundo ativistas do movimento negro, o blackface é um recurso marcadamente racista na origem e na prática e não deve ser usado no Brasil. Um amigo diretor de teatro disse-me o nome da garota que deu o pontapé inicial na polêmica – Stephanie Ribeiro – e eu fui atrás.
Deparei-me com uma garota muito bonita e articulada de 21 anos que desenvolve posições bastante fortes contra o machismo, a misoginia, o feminismo idiotizante, a homofobia e principalmente contra o racismo. Acompanho a garota há semanas no facebook e no twitter e não consigo deixar de admirá-la pela pegada e pela coragem. Trocamos mensagens inbox e um dia conversaremos pessoalmente.
Não quero aqui desenvolver argumentos contra machismo, misoginia, homofobia, racismo ou qualquer outra coisa. Este artigo é para dizer que foi APENAS conversando claramente com a Stephanie – após um começo meio tumultuado, em que ela chegou a dizer que eu estava ameaçando-a ao dizer que era jornalista (eu estava sendo bloqueado por alguém, não sem quem, durante a conversa pública) – que pude descobrir muito de seu foco argumentativo e por que muitas vezes ela realmente acerta ao desqualificar o outro (parece idiota dizer isso, dado que qualquer desqualificação é idiota), na medida exata em que o outro, até sem querer, também a desqualifica.
Ocorre que desqualificando aqui e acolá não se chega a lugar algum. E foi assim que pude entender que aquela minha amiga que tinha problemas com o feminismo perpassava questões que atingiam a Stephanie, e por outro lado pude compreender como pessoas outras, como jornalistas em lugares tão distantes como a Alemanha, podem contribuir para estabelecer laços de entendimento com essas mulheres que nem conhecem pessoalmente.
No condomínio onde moro, parece que vivemos na década de 50, ideologicamente falando. O padrão é formado por casais homem-mulher com idades na base dos 30 e garotos pequenos. Outro padrão menor é de mulheres na casa dos 30 com filhos pequenos e separadas. Eu, separado e sem filhos, sou quase uma presença soturna no ambiente. Há muitos casais negros no condomínio, e o respeito é predominante. Mas dificilmente consigo imaginar indivíduos homossexuais, ou casais homossexuais no ambiente onde moro. E quando falo em teatro o pessoal normalmente imagina peças como O Rei Leão, não sabendo ou tendo dificuldade em entender que atuo numa companhia (Teatro Cemitério de Automóveis) oriunda de universos de "garotos terríveis" como Plínio Marcos e Jack Kerouac. Discutir assuntos como os de minhas amigas feministas, antimachistas e antirracistas poderia parecer, no meu ambiente, quase um contrassenso.
Mas não é. O mundo está mudando. E rápido. E para quem quer saber o que acontece e não correr o risco de ser preso por alguma palavra mal usada é bom se inteirar. Logo conto mais.
Rodrigo Contrera é jornalista, dramaturgo, bacharel em Filosofia, com estudos em Ciência Política e conselheiro (reeleito) de um condomínio em Taboão da Serra.

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