Manoel Correia De Freitas e a Imprensa Humorística da I República Brasileira

July 18, 2017 | Autor: Ana Vanali | Categoria: Historia do Parana e do Sul do Brasil
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XVII Congresso Brasileiro de Sociologia

20 a 23 de Julho de 2015, Porto Alegre (RS)

Grupo de Trabalho: GT31 - Sociologia e Imagem

Manoel Correia De Freitas e a Imprensa Humorística da I República Brasileira

IN: O Olho da Rua, 15.11.1907

Ana Crhistina Vanali - UFPR

INTRODUÇÃO

Rir é o melhor remédio? Imagens valem mais do que mil palavras? Essas são frases comuns que estamos acostumados a ouvir. A imprensa teve um papel muito importante na implantação da república no Brasil e nesse artigo iremos tratar da imprensa humorística devido a sua importância como instrumento de crítica política e social, ao seu contributo para a formação de uma opinião mais informada e esclarecida e a sua diversidade ideológica1. A imprensa era o mais importante instrumento de ação e o principal veículo de afirmação dos partidos nesse período da I República. Eram os jornais quem marcavam a agenda política e pressionavam ou defendiam os governos, eram eles os grandes formadores da opinião pública. A caricatura e a charge são formas de linguagem artística, são imagens concebidas para “dizer” o que não é explícito, é um outro olhar, que ao focalizar o essencial extrapola, para mostrar aquilo que permanecia oculto. Elas conseguem, de forma quase sempre cômica e com impacto, resumir toda a essência de uma informação. Transmite a informação com leveza e graça. O riso como sinônimo de contestação. O humor pode ser investigado por diferentes áreas de conhecimento, como por exemplo, a Sociologia pois a imagem se torna fonte de pesquisa para os costumes sociais e políticos da época em que está inserida. Por meio das imagens somos inseridos no cotidiano de uma época. Charge2 é a representação pictórica de caráter cômico que provoca um riso, uma sátira gráfica. Um produto jornalístico, que satiriza um acontecimento real e fato específico, geralmente de caráter político e de conhecimento público. É atrelada a uma notícia e publicada na mesma época desta. Caricatura3 é a representação de um personagem conhecido, político ou artista. Ela dá ênfase ao exagero das características da pessoa acentuando gestos, vícios e hábitos particulares do caráter físico e moral do indivíduo, representado de forma humorística. Pelo exagero dos traços e pela síntese formal, a caricatura alarga os pontos de vistas, desloca

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Um outro aspecto da importância da imprensa humorística desse período da I República seria a análise da renovação da arte da caricatura e do desenho humorístico ou mesmo a introdução de novas correntes estéticas mas esses temas não serão tratados nesse artigo. 2 Charge é palavra de origem francesa e significa carga. 3 Caricatura é palavra de origem italiana “caricare” que significa carregar, exagerar, aumentar algo em proporção.

o leitor mediante a identificação ou o estranhamento para então abrir a possibilidade de outras realidades, alteradas ou reelaboradas. Revela o absurdo no familiar e a familiaridade no que é estranho, mostrando além da imagem, além do alvo que pretende atingir. Torna exposto muitos julgamentos, mas de forma democrática, abrindo espaço para a decisão do leitor. É formadora de opinião, mas depende de uma relação de compromisso do leitor com a realidade, estando o autor/leitor inseridos num mesmo contexto, numa experiência cultural comum. Os caricaturistas são influenciados pelo contexto tanto quanto tentam influenciar o mesmo. Por isso, entender e interpretar caricaturas de outros tempos implica em observar atentamente o contexto em que foram produzidas. A caricatura se destina principalmente ao grande público, porque sua linguagem plástica é muito mais fácil de se apreender do que o verbal. As caricaturas e as charges, o humor gráfico, desafiam a lógica propondo intercâmbios entre imagens e palavras. O permanente alvoroço político da I República fornecia a melhor matéria-prima para a imprensa humorística, para um humor simples e direto, por vezes um pouco grosseiro, que encontrava o melhor dos ecos numa população cansada de tamanha confusão. O humorismo não vive exclusivamente em jornais satíricos e humorísticos, mas aparece também nos diários noticiosos e políticos pois toda a imprensa toma consciência da importância de ter desenhos humorísticos, caricaturas e charges em suas páginas. Os caricaturistas registraram os momentos mais importantes da implantação republicana. As imagens reunidas retratam as articulações partidárias da política local e do país. Resta descobrir o contexto em que foram elaboradas e a indignação diante da abordagem de determinados assuntos. A caricatura política tem por alvo não o achincalhamento do indivíduo, mas o ataque ao sistema, a sátira política. As caricaturas e as charges têm uma carga opinativa, pois ao fazer chacota de algum assunto, estão se posicionando diante dele. Assim como, também ao representar certos personagens locais, como os políticos, muitas vezes o homenageiam.

O HUMOR NA IMPRENSA

Os primeiros anos da república foram tempos difíceis e a austeridade que caracteriza a vida político-administrativa não inspirava tiradas crítica jocosa. As limitações impostas à imprensa diária se estenderam e se intensificaram para os periódicos de ilustrações

caricaturais. A normalização política é alcançada no governo de Campos Salles (18981902) e iria constituir um forte incentivo para o ressurgimento da caricatura. O país vivia um período de estabilidade política, financeira e social, graças à austeridade e prudência dos primeiros presidentes republicanos. Surgem no Rio de Janeiro os seguintes periódicos humorísticos: REVISTA DA SEMANA (1900), O MALHO (1902), FON-FON (1907) e CARETA (1908). Esse clima também envolve Curitiba onde aparecem os seguintes periódicos: GUARANY, FANFARRA, CARAS E CARRANCAS (1902) e PIERROT (1904). Todos de curta existência. O grande momento da caricatura paranaense é o ano de 1907 quando são lançados os periódicos O OLHO DA RUA (13.04.1907 a 1911) e A CARGA (01.08.1907). Depois segue-se A Rolha (1908), TROÇAS E TRAÇOS (1908)4, PARANÁ MODERNO (novembro 1910)5, A BOMBA (12.06.1913 - único ano de circulação), REVISTA DO POVO (21.10.1916) e O GAROTO (1916)6. O Olho da Rua, revista de caricaturas, ilustrada por Mário de Barros7, marcou o apogeu do desenho humorístico em Curitiba. Pelo humor e pela sátira, as pessoas se identificam, ao mesmo tempo que pelo estranhamento do cômico, reelaboram seus conceitos e suas posturas na sociedade. A imprensa humorística possibilita a ponte entre o espaço público e o privado, a rua e a política, e a intimidade dos lares, a reflexão individual, convidando à participação da vida lá fora. Durante o levantamento do material sobre Manoel Correia Defreitas no site da Hemeroteca Digital Brasileira8 selecionamos algumas notícias dos periódicos A Bomba, O Malho, Careta, O Olho da Rua e Revista da Semana. Esse material tem que ser entendido dentro do contexto da implantação da república marcado pela decepção e pela falta de envolvimento popular no processo da proclamação – o desgosto da república materializada. 4

Livro com texto de Euclides Bandeira e ilustrações de Mario de Barros que focaliza e satiriza ângulos típicos da vida curitibana e retrata pessoas de projeção na cidade (as ilustrações tem mais sabor que o texto). 5 Com direção de Jayme Reis e Romário Martins. Mario de Barros faz pequenos perfis em silhueta das principais figuras políticas da época. 6 Jornal humorístico cuja quase todas as ilustrações se inspiraram no acontecimento do acordo de limites entre Paraná e Santa Catarina. 7 Herônio e Sá Christão eram os pseudônimos de Mário de Barros, um dos caricaturistas mais importantes do período. Nasceu em 1879, em Jaú, no estado de São Paulo e mudou-se para o Paraná, com o advento da República. Estudou na Escola de Belas Artes, sob a supervisão de Mariano de Lima, estudando desenho e técnicas de gravura. Entre seus colegas estavam João Turim, Zaco Paraná, Aureliano Silveira, que marcaram a arte paranaense. Foi funcionário público nos Correios e Telégrafos e professor de desenho do Ginásio Paranaense. A sagacidade de suas charges políticas e seu sarcasmo anticlerical destaca-se pelo traço aprimorado. Foi colaborador de O Olho da Rua, A Carga, O sapo, Paraná Moderno, A Bomba, entre outras revistas. Muitas vezes usou o pseudônimo de Sá Christão, especialmente quando seus alvos eram os padres. Ver CARNEIRO, Newton. O Paraná e a Caricatura. Curitiba: Grafipar, 1975, p. 43-44. COLOCAR SITE DA HEMEROTECA

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Tentou-se criar um imaginário republicano, mas esse perdeu-se com a ausência do envolvimento popular abrindo espaço para a crítica e a denúncia. Nepotismo, gastos excessivos, corrupção, filiações partidárias – questões que hoje fazem parte do meio político do Brasil já eram temas de debates e discussões na imprensa humorística do início do século XX. As caricaturas e charges são marcadas por assuntos relacionados ao cotidiano e a política, mostrando fragmentos das redes de relações de Manoel Correia Defreitas e sua tumultuada convivência com o poder assumindo-se como deputado da oposição. Ressaltamos que as caricaturas estão abertas a inúmeras leituras e esse artigo pretende apontar algumas possíveis interpretações dos elementos levantados.

AS REPRESENTAÇÕES DE MCF NA IMPRENSA HUMORÍSTICA DO INÍCIO DO SÉCULO XX

DEPUTADOS EM VERSOS

IN: O Olho da Rua, 15.02.1908, pg.9

Manoel Correia Defreitas9 foi um dos republicanos paranaenses mais exaltados de sua época, e ao mesmo tempo caracterizado como um homem que "viveu em voluntário ostracismo, pobre e sem posições políticas"10. Cabe problematizar essa imagem construída 9

Nasceu em Paranaguá em 29 de maio de 1851 e faleceu em Curitiba em 23 de junho de 1932. Foi deputado estadual no Paraná na legislatura 1908-1909 e deputado federal pelo Paraná nas legislaturas 1909-1911 e 1912-1914. 10 NEGRÃO, Francisco. Genealogia Paranaense. Curitiba: Impressora Paranaense, 1928. v.3, p.392.

da sua trajetória, afinal esteve inserido nas redes de interdependência de figuras políticas do alto escalão da propaganda republicana, ocupando, mais tarde, posições nas estruturas de poder nacional. A ideia de um desterro voluntário vivido por Correia Defreitas está vinculada a certas tomadas de posição ideológicas resultantes de um relativo conforto material proveniente de sua situação familiar, o que possibilitou que a sua cooptação pelas elites tenha se dado tardiamente. Até então, seu discurso e sua prática política batiam de frente com as elites políticas que comandavam o Paraná, o que o manteve afastado de posições formais nas estruturas de poder. As principais temáticas que se desenvolvem em torno da figura de Manoel Correia Defreitas foi durante a sua atuação como deputado federal pelo Paraná entre os anos de 1909 e 1914 e se referem aos seus projetos de lei apresentados na Câmara dos Deputados, os seus discursos longos, o seu ataque ao ministro das relações exteriores Lauro Muller, a sua fama de esquecido e desorientado, a questão dos limites entre Paraná e Santa Catarina, a sua posição como deputado da oposição e sua verticalidade e retidão perante os assuntos políticos da época.

DISCURSOS LONGOS Uma das características da personalidade de Manuel Correia Defreitas era sua eloquência. Realizava longos discursos, fazendo referências longas sobre os mais variados assuntos.

IN: CARETA, edição 84, 08.01.1910, pg.31

IN: O Olho da Rua, 27.05.1911, pg.12

IN: O Olho da Rua, 16.05.1908, pg.11

IN: O Olho da Rua, 24.06.1911, pg.29

IN: O Malho, 12.06.1909, pg.15

REVISTA DA SEMANA, edição 664, 01.02.1913, pg. 7

ATAQUE A LAURO MULLER Na sessão da Câmara dos Deputados de 6 de junho de 1913, Defreitas declarou-se franco atirador (sem partido político), atacando a ideia de se apresentar a candidatura do dr. Lauro Muller à vice-presidência. Passa a historiar a vida do Ministro da Relação Exteriores – Lauro Muller – chamando-o de raposa de espada à cinta e alemãozinho. Diz que ele fugiu do Cerco da Lapa e atira-lhe a pecha de covarde. Diz que Lauro Muller se considerava alemão e como tal é fundador do Club Germânia no Rio de Janeiro, em cujas reuniões toma parte. Acrescenta que quando Lauro Muller foi nomeado ministro do Exterior os jornais alemães disseram que o Brasil tinha um alemão como ministro. Defreitas disse que só atacou Lauro Muller como candidato à vice-presidência por julgá-lo uma calamidade em virtude da sua

origem alemã. A Bomba de 1913 coloca os seguintes anúncios referente aos ataques de Defreitas ao Lauro Muller.

IN: A BOMBA, 20.09.1913, pg.31

IN: A Bomba, 21.06.1913, pg.25

* Pereira Braga = deputado federal por Santa Catarina que defendia Lauro Muller.

IN: CARETA, edição 263, 14.06.1913, pg13

PROJETOS DE LEI Manoel Correia Defreitas era conhecido por suas ideias ditas “socialistas”. Enfrentou séria oposição na Câmara dos Deputados quando da apresentação de seus projetos de lei.

Referente projeto de lei para mandato de 9 anos para os deputados federais

IN: O Malho, 06.01.1912, pg.14

Referente ao exame de sanidade que os candidatos a deputado federal deveriam se submeter

IN: CARETA, edição 341, 02.01.1912, pg18

IN: CARETA, edição 228, 12.10.1912, pg22

Referente ao projeto de lei de combate ao alcoolismo

IN: CARETA, edição 186, 23.12.1911, pg25

Referente ao projeto de lei de proteção às aves e aos animais

IN: O Olho da Rua, 16.05.1908, pg.5

Para Queluz (2011:88) a charge acima representa a animalização do povo. Temos o político (Manoel Correia Defreitas) agradecendo ao público. O público é representando por vários animais: o cachorro (domesticado e fiel), o pato (vítima de engodos e que paga pelo erro dos outros), o porco (que devora e engole tudo o que se apresenta), o carneiro (passivo e obediente), os burros (símbolo da ignorância), o jacaré (símbolo ocidental da duplicidade e hipocrisia), o papagaio (que traz ao bico a “mensagem”, aquela que se repete e se repete automaticamente, sem reflexão, como o próprio discurso dos políticos) e o gato (em posição de recuo e que dirige seu olhar não para o deputado mas para o leitor, que talvez seja também escaldado. O gato é o símbolo da sagacidade, de reflexão, de engenhosidade). Mas a referência principal dessa charge é sobre o projeto de lei apresentado por Manoel Correia Defreitas na Câmara dos Deputados que defende as aves. A imprensa começa a considerar Manoel o defensor dos animais – conforme notícia abaixo publicada no mesmo número da charge acima.

IN: O Olho da Rua, 16.05.1908, pg.15

Defreitas praticava nepotismo?

IN: O Malho, 31.12.1910, pg.46

ESQUECIDO E DESORIENTADO Manoel Correia Defreitas sempre teve a fama de ser esquecido, desorientado, maluco devido a sua personalidade excêntrica.

IN: O Olho da Rua, 24.06.1911, pg.05 O Zé do Povo filosofando depois que soube da conferência do deputado Defreitas com o dr. Xavier da Silva: - É curioso! O Generoso e o Alencar, na despedida só foram perguntar ao Monge quem seria o futuro presidente do Estado; este deputado que dissem maluco, foi orientar o velho na questão de limites. É curioso! Os malucos são os que tem juízo.

IN: O Olho da Rua, 17.04.1909, pg.16 O cartão de aniversário de Correia Defreitas para o Olho da Rua diz o seguinte: “Rapazes, já nem sei onde trago a cabeça! Perdi a caneta, tinta, o diabo! Não posso assim, felicitá-los pela risonha data de hoje!”

IN: A BOMBA, 30.09.1913, pg.23

IN: O Olho da Rua, 20.02.1909, pg.26

IN: O Olho da Rua, 14.03.1908, pg.10

IN: O Olho da Rua, 19.08.1911, pg.13

IN: O Olho da Rua, 01.12.1908, pg.06

IN: O Olho da Rua, 31.10.1908, pg.17

LIMITES ENTRE O PARANÁ E SANTA CATARINA Havia muitas queixas dos eleitores diante da falta de empenho dos políticos em defender os interesses do Paraná. Durante a disputa de terras entre o Paraná e Santa Catarina, que se desenrolou desde o final do século XIX e culminou na campanha do Contestado, na década de 1910, diversas charges defendiam o território paranaense e se transformaram em instrumentos de contestação frente aos governos federal e estadual. Questionava-se a passividade dos políticos paranaenses frente a movimentação catarinense em requerer parte do território paranaense.

IN: O Malho, 07.10.1916, pg.21

IN: CARETA, edição 179, 04.11.1911, pg37

IN: O Malho, 18.08.1917, pg.08

IN: O Olho da Rua, 14.10.1911, pg.18

IN: O Olho da Rua, 10.06.1911, pg.26

IN: O Malho, 25.08.1917, pg.15

VERTICALIDADE E RETIDÃO Manoel Correia Defreitas sempre foi reconhecido por sua retidão e posição de oposição perante a oligarquia da política paranaense.

IN: A BOMBA, 30.08.1913, pg21

IN: A BOMBA, 10.08.1913, pg.32

IN: O Olho da Rua, 19.06.1909, pg11

IN: A BOMBA, 10.08.1913, pg.22

IN: O Olho da Rua, 19.06.1909, pg. 05 Abaixo vemos a frase dita por Correia Defreitas: “Assim é que eu entendo saber exercer alta função de representante do Paraná.” Ele está com um cacetete na mão e o Zé Povinho olhando assustado para os elementos que Correia Defreitas derrubou com esse cacetete: arranjos, mamata, bendego, oligarquia, politicagem, 3º escrutínio, etc.

IN: A BOMBA, 10.08.1913, pg.19

IN: A BOMBA, 10.08.1913, pg.14

IN: A BOMBA, 10.09.1913, pg.23

IN: O Olho da Rua, 05.06.1909, pg. 18

IN: O Olho da Rua, 23.01.1909, pg.01 Referente a candidatura de Correia Defreitas como deputado federal pelo Paraná. Entre a “ninhada eleitoral” seu nome aparece entre os de Carvalho Chaves, Carlos Cavalcanti e Serzedello (falta identificar o que está choco ??????)

IN: O Olho da Rua, 31.08.1908, pg.12

CONCLUSÃO

A imprensa humorística teve um papel importante na criação de uma opinião pública, sobretudo no período da I República. Além da relevância política, a imprensa humorística deste período teve também uma importância social. Num país com uma das mais elevadas taxas de analfabetismo (cerca de 80% da população em 189011), os jornais e as revistas humorísticas eram, por vezes, o único meio dos cidadãos se inteirarem da república. “A caricatura é uma arma poderosa de combate e de alcance incalculável. É o meio de propaganda mais rápido e de mais profundos efeitos. E isto pela simples razão de que, para entender um artigo e para ele fazer emergir uma convicção num cérebro qualquer, é necessário que esse cérebro saiba ler,e para um caricatura convencer alguém, basta que esse alguém veja e seja sensível” (MATTOS, 2010:62). Palavras de duplo sentido era uma característica dos diálogos que ilustram as charges. Malícia e sátira em torno dos assuntos tratados pela imprensa humorística com relação a Manoel Correia Defreitas. Às vezes, observa-se uma desvinculação da imagem 11

Na virada do século XIX para o XX menos de 20% da população curitibana era alfabetizada (Pereira, 2002:59)

com o texto embora tenhamos buscado a elucidação dos códigos da época em que as charges se inserem, como os termos gramaticais utilizados e que hoje soam estranhos porque caíram em desuso, a questão da ausência da interação imagem/texto permanece sem explicação óbvia. Caricatura e humor protagonizam uma importante crítica política e social à república, e à sociedade que a legitimou, ganhando, com o passar dos anos uma dimensão histórica que merece ser estudada e divulgada.

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INTERNET: http://www.revistascuritibanas.ufpr.br

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