MAPEAMENTO NACIONAL DA DANÇA: SUBSÍDIOS PARA AS POLÍTICAS SETORIAIS DE DANÇA

May 30, 2017 | Autor: Lúcia Matos | Categoria: Dance, Cultural policies
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MAPEAMENTO NACIONAL DA DANÇA: SUBSÍDIOS PARA AS POLÍTICAS SETORIAIS DE DANÇA Lúcia Helena Alfredi de Matos 1 Gisele Marchiori Nussbaumer 2 Resumo: Este trabalho apresenta o contexto de surgimento, objetivos, etapas, aspectos metodológicos e resultados esperados do projeto “Mapeamento da dança nas capitais e Distrito Federal”, pesquisa de diagnóstico desenvolvida a partir de Termo de Cooperação Técnica entre a FUNARTE/MINC e a UFBA. O Mapeamento visa a identificar agentes da dança (indivíduos, grupos e instituições) que atuam com formação e produção artística em dança. Além de informações cadastrais, serão coletadas dados quali-quantitativos que possibilitarão a construção de um panorama nacional da dança abrangendo aspectos da dimensão social, econômica e artística da área, fornecendo subsídios para as políticas setoriais de dança. Palavras-chave: dança, mapeamento, políticas culturais, políticas setoriais da dança. Com as mudanças ocorridas na gestão brasileira no campo da cultura, a partir de 2003 com o governo Lula, iniciou-se no Brasil um amplo debate nos segmentos culturais e artísticos sobre a necessidade de políticas públicas específicas para cada área e a reivindicação de representatividade de seus pares nas instâncias consultivas do poder público que definem e planificam as políticas culturais. A gestão de Gilberto Gil (2003-2008), continuada por Juca Ferreira (20082010), mudou o panorama das políticas culturais no país ao promover uma política pública baseada no diálogo com a sociedade. Logo no seu discurso de posse, o então ministro deixa claro sua visão e o papel do Estado: Não cabe ao Estado fazer cultura, a não ser num sentido muito específico e inevitável. No sentido de que formular políticas públicas para a cultura é, também, produzir cultura. No sentido de que toda política cultural faz parte da cultura política de uma sociedade e de um povo, num determinado momento de sua existência. No sentido de que toda política cultural não pode deixar nunca de expressar aspectos essenciais da cultura desse mesmo povo. Mas, também, no 1

Doutora em Artes Cênicas e líder do Grupo de Pesquisa PROCEDA / PPGDança - UFBA. Coordenadora Nacional do Mapeamento da dança nas capitais brasileiras e no Distrito Federal. [email protected] 2 Doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas / PPG Pós-Cultura - UFBA. Vice-Coordenadora Nacional do Mapeamento da dança nas capitais brasileiras e no Distrito [email protected]

sentido de que é preciso intervir. Não segundo a cartilha do velho modelo estatizante, mas para clarear caminhos, abrir clareiras, estimular, abrigar. (GIL, 2003). O Estado-produtor dá lugar ao Estado articulador de políticas, programas e projetos com caráter mais estruturante, que estimulam uma maior participação da sociedade civil e consideram não apenas a cadeia produtiva da cultura como toda a sua diversidade. O foco da política cultural do governo federal passa a ter uma perspectiva sistêmica, articulada através do Sistema Nacional de Cultura, o qual propõe a cooperação e atribuição de competências entre os entes federados na elaboração e na execução de políticas culturais. Como explicitado no Plano Nacional da Cultura Cada vez mais a cultura ocupa um papel central no processo de desenvolvimento, exigindo dos governos o planejamento e a implementação de políticas públicas que respondam aos novos desafios do mundo contemporâneo. Políticas que reconheçam, protejam, valorizem e promovam a diversidade das expressões culturais presentes em seus territórios; que democratizem os processos decisórios e o acesso aos bens e serviços culturais; que trabalhem a cultura como um importante vetor do desenvolvimento sustentável; que intensifiquem as trocas, os intercâmbios e os diálogos interculturais; que promovam a paz. (Brasil, 2007, p.6) O Plano Nacional da Cultura parte de uma compreensão e uma abordagem da cultura a partir de três visões: simbólica, cidadã e econômica. O fato de o Ministério trabalhar com um conceito amplo da cultura, destaca Isaura Botelho (2007), tem a vantagem de possibilitar que as instituições a ele vinculadas possam conduzir e se dedicar mais as políticas específicas de suas áreas. Um dos principais meios utilizados para isso são as Câmaras Setoriais correspondentes às diversas expressões artísticas, que articulam uma mobilização de cada setor. Estas câmaras buscam promover um amplo processo de discussão sobre políticas e planos, estabelecer prioridades e possibilitar “um processo de diálogo contínuo para a construção e avaliação de políticas públicas a serem conduzidas pela instituição responsável pelas artes no âmbito do Ministério, que é a Fundação Nacional de Artes” (BOTELHO, 2007, p. 130). Em 2004, com a elaboração da proposta do Sistema Nacional de Cultura foram instauradas as Câmaras Setoriais3, dentre elas a de Dança, como um espaço de participação da sociedade civil, as quais foram formadas por representantes da área 3

As Câmaras Setoriais foram transformadas em Colegiados, em 2008, e passaram a fazer parte do Conselho Nacional de Políticas Culturais do Ministério da Cultura – MINC, o qual também foi reformulado.

cultural eleitos pelos seus pares, especialistas convidados e representantes governamentais. A partir desse ano, a Câmara Setorial de Dança inicia um diagnóstico da área, levantando dados do setor e propondo diretrizes e ações. Esse trabalho culminou com a estruturação da versão preliminar do Plano Setorial da Dança - PSD (2009), o qual foi referendado pelos delegados presentes na Pré-Conferência Setorial de Dança4, em 2010, e cuja versão final foi concluída pelos atuais membros do Colegiado. O PSD apresenta diretrizes e ações para a cadeia produtiva da dança em consonância com os eixos do Plano Nacional de Cultura (2009). No eixo IV (Ampliar a participação da cultura no desenvolvimento econômico sustentável), em sua segunda diretriz, o PSD apresenta a seguinte proposta: “realização de mapeamento da área da dança, de forma a identificar, estatisticamente, os diversos elos da cadeia produtiva, com estabelecimento de mecanismos para obtenção de dados sobre a economia da dança e seus reflexos na economia da cultura” (PND, 2010, p.10). Para essa proposta, faz-se necessário, entretanto, articular experiências anteriores com as necessidades atuais de uma pesquisa de mapeamento. Pioneiras pesquisas de levantamento realizadas na área da dança (Rede Stagium/SESC, 2001; Cartografia Rumos Itaú Cultural Dança, 2000- 2001; Cadastro de Dança FUNARTE, 2009), em sua maioria originada na iniciativa privada, tiveram como foco o cadastramento dos agentes culturais e instituições atuantes na área, como coreógrafos, companhias e escolas. Essas pesquisas trouxeram uma importante contribuição para a identificação dos agentes culturais da área, mas não tiveram como meta a coleta de dados que gerassem o levantamento de aspectos econômicos e sociais da área. Os primeiros indicadores da área cultural no âmbito governamental foram levantados através da Pesquisa de Informações Básicas Municipais - MUNIC (IBGE; MINC, 2006), cuja coleta de dados foi feita a partir de três focos: Fortalecimento Institucional e Gestão Democrática; Infra-Estrutura e Recursos Humanos; e Ações Culturais.

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As Pré-conferências foram realizadas pelo MINC, em 2010, como etapa preliminar da IIª Conferência Nacional de Cultura - CNC. Foram realizadas dezenove pré-conferências setoriais, com duas categorias de delegados: os natos, oriundos dos Colegiados Setoriais já instalados, de representações da área governamental e do Conselho Nacional de Políticas Culturais – CNPC; como segunda categoria os delegados eleitos nas Conferências Estaduais. Na área da dança, a Pré-Conferência Setorial foi composta de mais de 150 pessoas, entre delegados, convidados e observadores. Nessa plenária foram definidas as cinco propostas prioritárias da área e realizada duas eleições - dos delegados participantes da II Conferência Nacional de Cultura e dos membros do Colegiado.

Esses primeiros dados irão compor o que o MINC está denominando de Índice de Desenvolvimento das Políticas Culturais, os quais irão desvelar a situação do setor da cultura no país por meio de indicadores sociais, econômicos, demográficos e territoriais. Esses indicadores passarão a fazer parte do Sistema Nacional de Informação e Indicadores Culturais (SNIIC) do MINC, o qual visa identificar estatísticas da área cultural, contribuir para o entendimento da cultura como um segmento dinâmico da economia e fator de desenvolvimento econômico e social. Os dados coletados no MUNIC 2006 foram compilados e organizados pelo Ministério da Cultura, por área artística e cultural, no documento “Cultura em Números: anuário de estatísticas culturais” (MINC, 2009). Os resultados foram reveladores para a área da Dança, como ilustramos a seguir: - 56,1% dos municípios brasileiros possuem grupos artísticos de dança, sendo essa a segunda manifestação artístico-cultural mais disseminada no Brasil, ficando atrás apenas do artesanato. Os estados de Pernambuco (78,92%), Santa Catarina (77,82%) e Rio de Janeiro (76,09%), possuem as maiores concentrações de municípios com grupos artísticos de dança. Nota-se, também, que a maioria dos estados possui um elevado percentual de municípios com grupos artísticos de dança, variando de 78,92% a 40%, em 23 estados; - dos 3.123 grupos de dança existentes no Brasil, o Nordeste possui a maior concentração com 1.026 grupos; - dos municípios que possuem grupos artísticos, 57,2% declararam que os grupos são mantidos pelo poder municipal; - 35,5% dos municípios brasileiros revelaram terem festivais de Dança, sendo que o Estado de Santa Catarina é o que apresenta a maior concentração de municípios que possuem festivais (60,75%), seguido do Acre e Amapá. Do total de municípios que declararam possuírem festivais, 86,3% deles indicaram que essa atividade cultural não é mantida pelo poder público municipal; - 34,8% dos municípios brasileiros possuem concursos de dança e os estados que possuem um maior percentual de municípios com essa atividade são Roraima (66,67%), Acre (63,64%) e Amazonas (58,06%). Do total desses municípios, 84,4% apontam que essas atividades não são mantidas pelo poder público municipal; - 30,80% dos municípios brasileiros declaram possuírem escolas, cursos ou oficinas de dança, com os maiores percentuais na região Sudeste e Sul;

- apenas 21,2% dos municípios brasileiros possuem teatros e salas de espetáculos e 24,8% possuem centros culturais, o que dificulta a circulação de espetáculos. Através desses dados nota-se que a dança se faz fortemente presente no cenário cultural brasileiro, mas essas informações são insuficientes para uma análise mais profunda da área, que desvele as diferentes configurações e modos de organização da dança em cada município. Esse estudo aponta que a área possui uma dependência dos recursos do poder público para viabilizar suas ações, mas não esclarece outras formas encontradas para a sua sustentabilidade. Diante desse cenário, que parte da premissa da complexidade da ocorrência da dança no campo formal e informal e cuja problemática aponta a necessidade de uma compreensão sobre as configurações da dança e seus entrelaçamentos com as políticas públicas para a cultura, fazem-se necessários mais estudos e pesquisas. É nesse contexto então, de profundas mudanças nas políticas culturais brasileiras, de maior participação social e da necessidade de dados e indicadores que balizem e contribuam com essas políticas que surge a proposta de realização de um mapeamento nacional da dança. Mapeamento da dança nas capitais brasileiras e no Distrito Federal O Colegiado Setorial de Dança, como órgão consultivo do Conselho Nacional de Políticas Culturais do MINC, em seu Regimento Interno, prevê no artigo terceiro como uma de suas competências “debater, analisar, acompanhar, solicitar informações e fornecer subsídios ao CNPC para a definição de políticas, diretrizes e estratégias relacionadas ao setor de dança” bem como “propor e acompanhar estudos que permitam identificação e diagnósticos precisos da cadeia produtiva, criativa e mediadora relacionada ao setor”. Em 2010, a partir de sua área de ação, o Colegiado Setorial de Dança definiu como ação prioritária, dentre as diretrizes presentes no Plano Setorial da Dança (2010), a realização de um mapeamento nacional da dança. Nesse mesmo ano, a reivindicação do Colegiado para a realização do mapeamento foi aprovada pelo Comitê de Circo, Dança e Teatro do Fundo Nacional de Cultura (FUNARTE/ MINC). Entretanto, essa ação não pode ser contemplada no orçamento de 2011. Mediante interesse da FUNARTE, no início de 2012 foi encaminhado novamente o projeto de pesquisa “Mapeamento da dança nas capitais brasileiras e no

Distrito Federal”5, para ser realizado via convênio de cooperação técnica com a UFBA, que já havia aprovado a proposta inicial. Por questões internas do MINC e FUNARTE, principalmente por ter sido um período de finalização de mandato, o termo de cooperação novamente não foi efetivado. Em reunião realizada no Dia Internacional da Dança, 29 de abril de 2014, com a então Ministra Marta Suplicy, os representantes do Colegiado Setorial de Dança trouxeram à tona mais uma vez a questão do mapeamento e a Ministra assumiu publicamente compromisso com a destinação de recursos para efetivação da primeira etapa desse mapeamento. Diante desse cenário, o Colegiado Setorial de Dança do Conselho Nacional de Políticas Culturais (CNPC) solicitou à UFBA a retomada do projeto e do termo de cooperação técnica. Através de articulação do Grupo de Pesquisa PROCEDA – Processos Corporeográficos e Educacionais em Dança, vinculado a Escola de Dança da UFBA, foi então reestruturado o projeto, firmado o convênio e iniciado o “Mapeamento da dança nas capitais brasileiras e no Distrito Federal – 1ª Etapa: oito capitais, em cinco regiões do Brasil”, a partir da formação de uma rede nacional de pesquisa em parceria com as seguintes universidades: UNESPAR Campus Curitiba II, UNESP, UFRJ, UFPE, UFC, UFPA, UFG e UPE. Estão envolvidos no Mapeamento 20 pesquisadores, um técnico e 33 alunos de graduação, oriundos de nove universidades públicas. A contribuição das nove universidades envolvidas é fundamental pela configuração, aporte teórico e modus operandis da pesquisa. A esse respeito Jannuzzi (2005) fortifica o papel desempenhado por instituições como as universidades no sentido de refinar os conceitos, metodologias e instrumentos de “quantificação e qualificação” das informações de pesquisas de diferentes áreas, dentre elas a cultura, cujos resultados colaboram para a compreensão de temas sociais específicos, análise e acompanhamento de políticas e das mudanças sociais. Ao se objetivar um diagnóstico preliminar da área da dança, mais especificamente quanto aos campos da formação e da produção artística, através de uma pesquisa de levantamento, seus potenciais resultados são parte significativa do contexto observado e operacionalizam conceitos cujo interesse pode ser tanto teórico, quanto 5

Em 2011, esse projeto foi readequado para ser aplicado como um piloto na pesquisa “Mapeamento dos Campos Artístico e Formação em Dança em dois Municípios da Região Metropolitana de Salvador (RMS): Lauro de Freitas e Camaçari”, financiada pela FAPESB/CNPQ. Foi nessa oportunidade que o questionário quanti-qualilitativo foi elaborado por Lúcia Matos e Teresa Oliveira (2012), tendo sido o mesmo adaptado em2015 para a pesquisa “Mapeamento da Dança nas Capitais Brasileiras e no Distrito Federal – 1ª etapa: oito capitais, em 5 regiões do Brasil” (cooperação FUNARTE/UFBA) pelas pesquisadoras Lúcia Matos, Gisele Nussbaumer, Daniela Amoroso e Cláudia Malbouisson.

programático. Nessa ótica, as informações a serem geradas no “Mapeamento da dança nas capitais brasileiras e no Distrito Federal”, referenciadas empiricamente, são importantes instrumentos metodológicos que informam não só sobre a realidade social como também apontam seus impactos e possibilidades de mudanças. São informações que possibilitarão um importante diagnóstico nacional do campo da dança, que servirá de embasamento para as políticas setoriais da área. A constituição de uma rede nacional de pesquisa, além de assegurar um olhar especializado sobre o conhecimento a ser gerado no Mapeamento, com a atuação de pesquisadores da dança e outros que se encontram em processo de formação na área, assegura também uma ação mais participativa, dada a inserção desses pesquisadores no campo de estudo investigado. Os objetivos da 1ª etapa da pesquisa “Mapeamento da dança nas capitais brasileiras e no Distrito Federal” são amplos, uma vez que se pretende: mapear, via um levantamento de dados secundários e posterior cadastramento on-line, indivíduos, instituições e grupos, companhias e coletivos de dança atuantes nas oito capitais brasileiras selecionadas; levantar, analisar e descrever quali-quantitativamente aspectos das dimensões social, econômica e artística da dança, a partir da análise de três tipologias de questionário (indivíduos, instituições e grupos, companhias e coletivos); publicizar um banco de dados descritivo do perfil de atuação dos agentes da dança atuantes nas oito capitais, que permitirem a divulgação de seus dados básicos; apresentar um relatório analítico dessa primeira etapa, incluindo uma triangulação dos dados encontrados com o Plano Setorial da Dança, com vistas a avaliar a abrangência de suas diretrizes e ações. Vale ressaltar que o “Mapeamento da dança nas capitais brasileiras e no Distrito Federal” não se configura como um censo, já que este tipo de pesquisa prevê que toda a população seja pesquisada. Por não haver uma população pré-definida da dança, a pesquisa será de levantamento, visando atingir uma ampla e diversificada amostra daqueles que se auto-identificam como agentes da dança (incluindo também indivíduos e grupos profissionais e amadores). Ao aderirem à segunda etapa da pesquisa, via o questionário on-line, autorespondente e anônimo, esses agentes possibilitarão o levantamento de aspectos relacionados à formação e produção artística da dança. Para a sua efetivação, a pesquisa será organizada em três etapas, cada uma com uma média de abrangência de oito capitais6. Nesta primeira etapa, em curso, será 6

O termo de Cooperação Técnica FUNARTE/MINC e UFBA abrange apenas a primeira etapa.

efetivado o mapeamento em oito capitais de cinco distintas regiões, a saber: SUL (Curitiba), SUDESTE (São Paulo e Rio de Janeiro), CENTRO-OESTE (Goiânia), NORDESTE (Salvador, Recife e Fortaleza) e NORTE (Belém). O Mapeamento caracteriza-se como uma pesquisa de levantamento quantiqualitativa (CRESWELL, 2007), na vertente da investigação de diagnóstico. A adoção desse desenho metodológico se justifica pela sua característica de abarcar um número grande unidades de investigação na coleta de dados. Nesta primeira etapa está sendo realizado o levantamento de campo, identificando indivíduos, grupos e instituições que desenvolvem atividades de dança, visando a criação de um banco de dados e de um diagnóstico com informações que abranjam a dimensão social, econômica e artística da área. Estão sendo considerados como unidades de investigação os agentes culturais da dança (indivíduos, grupos e instituições) que atuam há pelo menos dois anos na área e residam em uma das oito capitais brasileiras a serem investigadas. Esse recorte temporal segue a mesma metodologia adotada pela Pesquisa de Informações Básicas Municipais MUNIC (IBGE; MINC, 2006). Por se tratar de uma pesquisa desenvolvida a partir da constituição de uma rede de pesquisadores de Dança das Universidades públicas, priorizando aqueles locados nos cursos de Dança, almeja-se a seguinte configuração, em termos de abrangência do Mapeamento, com a efetivação das três etapas da pesquisa:

Figura 1 – Imagem da rede de pesquisa

Ainda no que se refere aos aspectos metodológicos, esta é uma pesquisa de método misto (Creswell, 2007) que prevê procedimentos concomitantes, com a convergência de dados quantitativos e qualitativos, que apresentarão diferentes níveis de unidades com o intuito de ampliar a análise estatística e qualitativa. A convergência ou

triangulação prevê uma integração ou cruzamento metodológico que, como explica Flick (2004), rompe com a visão monológica das ciências que ao longo do tempo tem dominado os discursos sobre a pesquisa científica. Neste caso, a pesquisa qualitativa, triangulada pela via documental e a empírica, visa aprofundar o levantamento do campo da dança, ampliar a confiabilidade das interpretações e responder a questões particulares, em nível de realidade que não podem ser quantificadas. Para tanto, a execução de cada etapa do mapeamento proposto está organizada em quatro fases. A primeira fase do “Mapeamento da dança nas capitais brasileiras e no Distrito Federal: 1ª Etapa”, já concluída, refere-se: ao levantamento de dados secundários (cadastros) de diversas fontes e bases, que possibilitarão visualizar potenciais sujeitos da amostra; a reuniões virtuais para definição de conceitos, adequação de categorias dos questionários e criação do sistema de coleta de informações; ao treinamento presencial dos coordenadores dos Núcleos para normatização do uso do site do cadastro e dos instrumentos de pesquisa. A segunda fase, em andamento, prevê o levantamento de dados primários, via envio de e-mails aos potenciais participantes visando o preenchimento de dados cadastrais e envio de um segundo e-mail da pesquisa com link para que respondam o(s) questionário(s) on-line. O

cadastro

está

sendo

efetivado

pelo

site

do

projeto:

www.mapeamentonacionaldadança.com.br . É um cadastro simples que inclui dados de identificação e descritivo da área de atuação do respondente. Por meio de um Termo de Consentimento, o respondente permite ou não que dados básicos sejam disponibilizados em um banco de dados aberto à consulta pública. Visando atingir uma ampla amostra da dança, além dos dados secundários coletados na primeira etapa da pesquisa, estamos realizando uma ampla divulgação pelas redes sociais e sites especializados, bem como visitas presenciais a Instituições que possuam agentes da dança e tenham uma maior dificuldade de acesso à Internet e/ou de serem identificados num primeiro momento. Com o envio do cadastro, o sistema do site encaminha um e-mail ao respondente, com cópia do cadastro realizado e uma mensagem indicando um link do questionário e solicitando a adesão à segunda etapa da pesquisa. Esses questionários foram organizados em três tipologias (indivíduos; grupos, companhias ou coletivos; Instituições) e inseridos no sistema Lime Survey, um software livre que possibilita a construção de questionários on-line, escrito na linguagem PHP e com um banco de

dados MySQL. A organização dos questionários inclui sete grandes blocos: 1. Adesão à pesquisa, no qual é verificada a pertinência do respondente ao perfil da pesquisa; 2. Perfil do respondente; 3. Perfil e vinculação Profissional/ Institucional; 4. Formação; 5. Produção Artística; 6. Políticas públicas e participação social; 7. Gestão da Comunicação e Informação. Na terceira fase serão categorizados os dados qualitativos e realizada a análise dos dados quantitativos a partir do uso de um programa tabular (SPSS) e a geração de gráficos e mapas. Com a análise, será possível levantar o perfil dos indivíduos, grupos e instituições envolvidas nos campos de formação e de produção artística em dança, gerando características desses agentes, além de permitir conhecer a dinâmica de trabalho, formas de organização, demandas e dificuldades enfrentadas, dentre outros aspectos, os quais serão confrontados, analítica e qualitativamente, com os conceitos subjacentes à pesquisa e pela via documental, com as diretrizes e ações previstas no Plano Setorial da Dança- PND. A quarta fase refere-se à elaboração dos textos analíticos e da formatação da publicação com os dados da pesquisa Concluindo: para um diagnóstico da área de dança O “Mapeamento da dança nas capitais brasileiras e no Distrito Federal” segue os mesmos procedimentos metodológicos e aporte teórico de pesquisa semelhante realizada em 2012 e 2014 em Camaçari e Lauro de Freitas, na Região Metropolitana de Salvador - RMS. A escolha desses municípios se baseou em dois critérios: primeiramente, o recorte espacial da RMS; segundo, por esses municípios apresentarem produção na área da dança, com a existência de grupos, artistas, espaços de formação (academias, projetos, etc) e iniciativas governamentais na área. Além disso, apesar da desigualdade social, os dois municípios têm apresentado crescimento em seus índices econômicos e sociais, dentre estes no campo educacional, e têm investido na estruturação da gestão pública da cultura. As escolhas teórico-metodológicas feitas nos impulsionaram a analisar aspectos da micro e macropolíticas presentes na área da dança nesses municípios, por meio da identificação do perfil de atuação de seus agentes sociais (Bourdieu, 2007). Para tanto, foi realizada uma cartografia desses municípios, compreendendo as múltiplas entradas e cruzamentos que configuram uma cartografia, o que potencializa a construção de um mapeamento e um mapa móvel (Deleuze e Guatarri, 1995), a partir da identificação dos

agentes sociais da dança e as diversas perspectivas apresentadas por esses sujeitos sobre a abrangência de sua área de atuação e suas implicações com a dimensão política. Nesse sentido, analisamos as tensividades existentes entre as políticas públicas culturais propostas e a heterogeneidade das micro-realidades da dança, geradas pelo perfil dos sujeitos atuantes na área da Dança nos municípios de Lauro de Freitas e Camaçari, que possuíssem pelo menos dois anos de atuação na área no momento da coleta dos dados. Os resultados apresentaram dados preocupantes. Apesar de fazerem parte da Região Metropolitana de Salvador, há pouca troca de informações na área e tornou-se evidente a precariedade de políticas municipais para as Artes/Dança, praticamente inexistentes nesses dois municípios. Atrelado a isso, os dados apontam que as políticas culturais propostas pelo Governo do Estado da Bahia, ainda são incipientes para o perfil da produção em dança nesses municípios, sendo fundamentalmente de dança amadora. Os sujeitos que responderam a pesquisa, em sua esmagadora maioria, desconhecem as políticas estaduais, não sabem como ter acesso a essa informação e consideram os editais como algo inacessível. Com a análise dos dados percebe-se que a informalidade do setor, a baixa remuneração e a falta de formação específica, contribuem para que a dança não seja uma área sustentável e fique numa invisibilidade social nesses dois municípios que, ao terem alargados sua faixa territorial como Região Metropolitana de Salvador, permanecem na invisibilidade das linhas abissais (Santos, 2013) que, resguardando as especificidades de cada município e dos sujeitos de pesquisa investigados, não contribuem para o desenvolvimento da formação e produção em dança em Lauro de Freitas e Camaçari. Os resultados obtidos relativos a essas duas cidades nos geram inquietações, como pesquisadores, quanto aos resultados esperados da situação da dança nas capitais brasileiras. Como resultados do “Mapeamento da dança nas capitais brasileiras e no Distrito Federal” serão gerados uma publicação digital e um banco de dados aberto à consulta pública (com dados básicos dos informantes que permitirem a divulgação); que contribuirão para apresentar o perfil dos agentes culturais da dança (indivíduos, grupos e instituições), serão realizados um diagnóstico e levantamento de perfis relacionados a formação e a produção em Dança nas capitais brasileiras, bem como um cruzamento desses resultados com as diretrizes e ações propostas no Plano Nacional da Dança. A perspectiva é que os resultados da pesquisa sejam utilizados como parâmetro orientador para a construção de políticas culturais para a dança no âmbito nacional e nos

locais pesquisados. Espera-se ainda que o Mapeamento, que está em curso em oito capitais brasileiras (Belém, Curitiba, Fortaleza, Goiânia, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo) de cinco regiões possa chegar a sua terceira etapa abrangendo todas as capitais do país. Referências bibliográficas: BOURDIEU, Pierre. A Distinção: crítica social do julgamento. Porto Alegre: Editora Zouk, 2007. BOTELHO, Isaura. A política cultural & o plano das idéias. In: BARBALHO, Alexandre; RUBIM, Albino (Org.). Políticas culturais no Brasil. Salvador: EDUFBA, 2007. BRASIL. Caderno Diretrizes Gerais para o Plano Nacional de Cultura. Brasília: MINC; CNPC, 2007. ______. Pesquisa de informações Básicas Municipais: MUNIC. Perfil dos Municípios Brasileiros: Cultura. Rio de Janeiro: IBGE/MINC, 2007. CAMPOS, Luis F. de Lara. Métodos e técnicas de pesquisa em Psicologia. Campinas, SP: Alínea, 2008. CRESWELL, John. Projeto de pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e misto. Porto Alegre: Armed/Bookman, 2007. DELEUZE, Gilles e GUATARRI, Félix. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. Vol. 2. Rio de Janeiro: Ed. 34., 1995. GIL, Gilberto. Discurso de posse do Ministro. Brasília, 02 de janeiro de 2003. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u44344.shtml. Acesso em: 11 dez. 2011. GÜNTHER, Hartmut. Pesquisa Qualitativa Versus Pesquisa Quantitativa: Esta é a Questão?. In: Psicologia: Teoria e pesquisa. Mai-Ago 2006, Vol. 22 n. 2. , p. 201-210. Disponível em: htpp//:www.scielo.br/pdf/ptp/v22n2/a10v22n2>. Acesso em 5.10.2010. FLICK, Uwel. Uma introdução à Pesquisa Qualitativa. Tradução de Sandra Netz. 2ª edição.Porto Alegre: Bookman, 2004. JANNUZZI, P.M. Dados sociais no Brasil: conceitos, fonte de dados e aplicações. Campinas: Alínea, 2001. MATOS, Lúcia. Mapeamento dos campos produção artística e formação em dança em dois municípios da Região Metropolitana de Salvador (RMS): Lauro de Freitas e Camaçari. Projeto de pesquisa em andamento, aprovado no edital PPP/ 2010 da FAPESB/CNPQ. Salvador: UFBA, 2012.

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