MARANHÃO Fº, Eduardo Meinberg de Albuquerque. Desestabilizando e rasurando conceitos (sobr)e identidades. Agenda Social, volume 9, número 2, p. 31-45, 2016.

May 27, 2017 | Autor: Du Meinberg Maranhão | Categoria: Transgender Studies, Identity (Culture), Identidades, Identidade De Gênero
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DESESTABILIZANDO E RASURANDO CONCEITOS (SOBR)E IDENTIDADES 1. Eduardo Meinberg de Albuquerque Maranhão Fo1 [email protected]

RESUMO

ABSTRACT

Apresento neste artigo, notas provisórias e introdutórias sobre conceitos a respeito de identidades e acerca de algumas identidades específicas, especialmente relacionadas às transgeneridades, aqui entendidas como condições sócio-políticas de transgressão a normas e expectativas sociais referentes a gênero.

In this article, I synthetically present provisional and introductory notes on concepts about identity and about some specific identities, especially related to transgenerities, here understood as a transgression of social and political conditions to social norms and expectations regarding gender.

PALAVRAS-CHAVE identidades; gênero e religião; igrejas inclusivas; pessoas transgêneras, transexuais e travestis; identidade religiosa e identidade de gênero.

KEY-WORDS gender and religion; inclusive churches; transvestites and transsexuals; religious identity and gender identity.

Eu tou te explicando prá te confundir, eu tou te confundindo prá te esclarecer Tom Zé

1 Presidente da Associação Brasileira de História das Religiões (ABHR). Pós-Doutorando em Ciências Humanas pelo Programa Interdisciplinar da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Doutor em História Social pela Universidade de São Paulo (USP). Mestre em História do Tempo Presente pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). Autor de (Re/des)Fazendo gênero e religião: entre igrejas inclusivas e ministérios de “cura” de travestis (no prelo), A grande onda vai te pegar: marketing, espetáculo e ciberespaço na Bola de Neve Church (2013), dentre outros livros e publicações. Bolsista CAPES à época da pesquisa. E-mail: [email protected].

Artigo .......................................................................................................... Introdução Antes de prosseguirmos viagem(ns), é bom reforçar que os conceitos e classificações im/expressos neste artigo são destinad@s à provisoriedade. Esta é uma escrita em ebulição, instável, nômade e errante – assim como quem a escreve. Este texto é dividido em duas partes. A primeira procura apresentar a instabilidade do conceito de identidade. Tal instabilidade conduz à seguinte, admitir a necessidade de usar o referido conceito sob rasura, ciente de sua precariedade. Ao final, apresento breves considerações inconclusivas2. Iniciemos a primeira parte com um trecho de entrevista.3

1a. Parte: Desestabilizar Meus pais e o médico decidiram que eu era menino quando eu nasci. Sou intersexo, eu vim com características femininas e com características masculinas. Cresci, e me identifico como mulher. Agora tenho que fazer todo o reverso do que eles fizeram. Sou intersexo e sou transexual. Conheço pessoas intersexo que são cisgêneras, mas eu sou transgênera. Os meus pais, e com toda pessoa intersexo devia ser assim, eles poderiam... não, não... eles deveriam... ter esperado eu crescer e me perguntar que gênero eu preferia. Este corpo é meu, é o meu corpo. Eu deveria ter a decisão. Quem deveria decidir se o meu corpo é corpo feminino ou masculino sou eu. Você não acha?4

2 Uma possível terceira parte, após a desestabilização e a rasura do conceito de identidade, seria a de operar uma subversão no sentido de uma conversão conceitual, que estaria em usar conceitos relacionados a uma coisa para falar de outra. Neste sentido, por exemplo, poderíamos utilizar a categoria gênero para pensar a categoria religião; as categorias identidade e expressão de gênero para refletir sobre identidade e expressão religiosa; a categoria transgeneridades para pensar a categoria trans-religiosidades; e a queerificação do gênero, proposta por autoras como Butler, para pensar uma queerificação da religião, ou ainda a queerificação de uma mescla de gênero/religião. Este exercício poderia apontar para a pergunta: religião e gênero, ou ainda, identidade religiosa e identidade de gênero, enquanto construtos sociais, operam de formas semelhantes? Procurarei, em texto futuro, indicar algumas possibilidades a este respeito. 3 Tal entrevista, bem como as demais aqui utilizadas, fazem parte de minha tese de doutorado em História Social, depositada em 2014 na Universidade de São Paulo (USP), e intitulada (Re/des) conectando gênero e religião. Peregrinações e conversões trans* e ex-trans* em narrativas orais e no Facebook. Parte da tese será publicada em forma de livro, em 2016, sob o nome (Re/des) fazendo gênero e religião: entre igrejas inclusivas e ministérios de “cura” de travestis. Comentei sobre o assunto em ocasiões anteriores (MARANHÃO Fo, 2011a, 2011b, 2014,2015a, 2015b, 2015c, 2015d, 2015e, 2016, no prelo a, dentre outros momentos), e sobre o método de pesquisa utilizado na tese, e que denominei etnografia coborgue, em artigo no prelo (b). 4 ENTREVISTADA 1, entrevista a Maranhão Fo, 2011. A intersexualidade não deve ser confundida com transgeneridade/ transexualidade/travestilidade. Podemos entender intersexualidade, dentre outras definições possíveis, como o conjunto de condições anatômicas e/ou características sexuais primárias ou secundárias que não permitem que a pessoa seja definida claramente como do sistema sexo-corpo-gênero feminino ou masculino. Em geral, e muitas vezes lamentavelmente, após nascer há o reaparelhamento genital compulsório da pessoa intersexual, a obrigando a viver no sistema sexo-gênero definido pela família e/ou corpo médico. Neste reaparelhamento, é decidido qual órgão genital preservar e qual extirpar afim de classificar/rotular a pessoa em dado sistema sexo-corpo-gênero – o que por vezes acarreta em desconfortos emocionais/psicológicos intensos, já que a pessoa vem a se identificar com o sexo-corpo-gênero “extirpado”. Para maiores informações, leia MACHADO, O Sexo dos Anjos: representações e práticas em torno do gerenciamento sociomédico e cotidiano da intersexualidade, 2008.

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.......................................................................................................... Artigo Outra moça narrou: sempre achei que era menina. Minha mãe me criou que nem menina. Sempre usei roupa de menina, brinquei com coisa de menina. Eu só soube que era menino porque uma tia me falou, que era porque eu tinha pinto, essas coisas. Mas eu não sabia. Prá mim era menina ora, depois veio a confusão, na adolescência, porque o corpo de menino veio né. Nunca tinha ouvido falar que eu era menino até aquela hora, e nem de trans. Aí hoje em dia eu tou aí, na fila da transição, prá tomar hormônio, operar.5

Na primeira história contada uma moça narrou que, sendo intersexo, pai, mãe e médico decidiram que ela deveria ser criada como menino, e para tal, a medicaram com hormônios masculinos durante quase duas décadas, até que a mesma decidisse que queria transicionar para o outro polo binário, o feminino, e para isto, estava se submetendo a tratamento hormonal feminino. Ela reclama que preferia ter tido a opção, na infância ou começo da adolescência, de escolher em que sistema corpo/sexo/gênero viver. A segunda narrativa, de outra moça, conta que ela foi criada num sistema sexo/gênero feminino e que só na adolescência ficou sabendo que tinha “nascido menino”, ou seja, que “era menino”, coisa que ela não reconheceu como corpo/sexo/gênero autêntico. Já adulta, iniciou sua transição para o sistema feminino em que se reconhecia. No primeiro caso, médico, mãe e pai enunciaram/descreveram/prescreveram um determinado sistema sexo/gênero a uma pessoa intersexo, enunciação/descrição/prescrição que falhou, pois a pessoa não concordou com o mesmo. No segundo, a pessoa ficou sabendo que seu sistema sexo/gênero de nascimento era designado masculino posteriormente, ao ser avisada por uma tia e começar a perceber as formas de seu corpo, o comparando aos de outras pessoas. Até então, ela havia sido enunciada/descrita/prescrita como menina, enunciação/descrição/prescrição bem sucedida. No entanto, no momento em que a tia a identificou como “menino”, a nova enunciação/descrição/prescrição falhou em termos de resposta performativa, ou seja, a moça não concordou com o novo sistema/sexo/gênero atribuído. Estes exemplos nos mostram que uma das formas como as identidades se forjam, é através da linguagem, que mais que descritiva é prescritiva.6 As pessoas, desde a infância, aprendem que devem ter identidades fixadas binariamente dentro do sistema sexo/gênero: ou são mulheres ou são homens, ou são femininas ou são masculinas. Além disto, espera-se que as mesmas alinhem-se à heterossexualidade compulsória. Mas afinal, “mulher” e “homem” são conceitos acabados (no sentido de finalizados) ou acabados (no sentido de obsoletos)? Jack Halberstam – homem trans que se identificava até algum tempo atrás pelo seu nome de batismo, Judith – tem pensado sobre os termos “mulher” e “homem” como

5 ENTREVISTADA 2, entrevista a Maranhão Fo, 2012. 6 Michel Foucault já anunciava que “em toda a sociedade a produção do discurso é ao mesmo tempo controlada, selecionada, organizada e redistribuída por um certo número de procedimentos que têm por função conjurar seus poderes e perigos, dominar seu acontecimento aleatório, esquivar sua pesada e temível materialidade” (FOUCAULT, A ordem do discurso, 2004, p. 8-9). Para o autor, proferir um discurso é conceituar, classificar e definir. De modo semelhante, Boaventura de Sousa Santos explica que as identidades são “um modo de dominação assente num modo de produção de poder que designo por diferenciação desigual.” Para o mesmo, quem tem poder para declarar ou invisibilizar a diferença hierarquiza as diferenças entre as identidades (SANTOS, Entre ser e estar, 2001, p. 46). Semelhantemente, Stuart Hall anunciava que “é precisamente porque as identidades são construídas dentro e fora do discurso que nós precisamos compreendê-las como produzidas em locais históricos e institucionais específicos, no interior de formações e práticas discursivas específicas, por estratégias e iniciativas específicas” (HALL, Quem precisa da identidade?, 2000, p. 109).

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Artigo .......................................................................................................... termos globais. A maioria das sociedades usa o sistema binário de gêneros. Mas esse sistema funciona de diferentes maneiras em diferentes lugares. Uma mulher do Equador, ontem, me falou sobre um grupo de homens transgêneros que nasceram em corpos femininos, se identificam como homens, mas também tiveram bebês. Eles são mães.7 Eles são masculinos, mulheres e mães. Qual o nome para isso? Há um nome em espanhol para isso que eles usam, mas não há equivalente em outra língua, porque é uma forma muito particular de identidade.8



Outros conceitos, como gay, lésbica e transgênero, não estão obsoletos, mas hoje são antiquados e não descrevem bem muitas e muitas pessoas. Eles se tornaram categorias tão fixas, e há tantas pessoas que ficam entre um e outro, que são apenas esboços grosseiros de formações identitárias, e nós precisamos atualizar essas classificações. O outro problema é que elas representam um modelo euro-americano de pensamento sobre a sexualidade. Há muitas outras línguas que as pessoas usam para diversidade sexual e de gênero e que trazem diferentes significados. Não há, por exemplo, uma tradução para o inglês para “travesti” ou para “transformista”. Esses termos têm os próprios significados. São descrições de formações sexuais em um tempo e em lugar específicos e não podem ser capturados por gay, lésbica ou transgênero, que não funcionam globalmente.9

Para Halberstam, as contra-identidades de gênero merecem ser convocadas para a guerrilha contra as forças da cis-heterossexualidade reinante. Mais que isto, é importante lembrarmos a multiplicidade de experiências de gênero não englobadas nas contra-identidades sexuais/de gênero representadas pelas letras LGBTTTIGQ11 (com suas diversas variantes): muitas identidades não se encaixam nestas classificações, como muxes de Juchitan (istmo de Tehuantepec, México), berdaches dos Estados Unidos, hijras da Índia, zenanas, pottais, aravanise e outras identidades locais/regionais/nacionais, bem como crossdressers, drag kings, drag queens, butches, etc.12

7 Faço a provocação: se são homens, não seriam pais? De todo modo, é possível que na situação descrita pelo autor tais pessoas, homens, se designassem mães, e o que vale é seguir as autodeclarações. É possível ainda que tais pessoas, como escutei algumas vezes, se designassem ou fossem designadas por filh@s como pães ou mais, misturas de mães e pais (os contextos em que escutei foram diversos, eram mulheres transexuais e homens trans que haviam tido filh@s antes de suas transições). Algumas matérias circularam na internet sobre homens trans. Uma delas, intitulada Primeiro homem grávido vive feliz com os três filhos mesmo enfrentando preconceito, narra: “Thomas Beatie se tornou conhecido como o “primeiro homem grávido” a dar à luz três filhos. Tudo começou quando sua esposa, Nancy, descobriu que não poderia ter filhos. Beatie, que se tornou legalmente homem em 2002, resolveu então gerar as crianças, já que mesmo após a cirurgia de readequação sexual ele manteve os órgãos reprodutivos femininos”. Outra conta a história de um casal trans* formado por um homem trans e uma mulher transexual que geram uma criança: “um casal transgênero do Kentucky, nos Estados Unidos, resolveu conceber dois filhos usando suas identidades sexuais originais. O pai, nascido mulher, ficou “grávido”, enquanto ela, que nasceu homem, é chamado de “mãe” pelas crianças”. Assim, eles não precisaram recorrer à adoção nem barriga de aluguel”. 8 HALBERSTAM, A homofobia faz parte do estado teocrático, 2012. 9 Idem, 2012. 10 As contraidentidades de gênero, para Halberstam, seriam as identidades de gênero trans*. 11 Lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, transgêner@s, interssexos, agêner@s (genderless) e questionador@s (questioning, no inglês). 12 Pretendo, em 2016, publicar um minidicionário (provisório) em que constem algumas destas identidades e expressões de gênero, dentre uma miríade de outras possíveis.

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.......................................................................................................... Artigo Tais vivências, de algum modo e/ou em algum momento nômades13 – errantes14 –, podem ser interpretadas socialmente como erradas, justamente por causa de sua mobilidade, representada por alguma forma de desestabilização das normas generificadas esperadas de quem nasce “mulher” ou “homem”, quer seja pelo vestir-se periódica e parodicamente com roupas do gênero “oposto” como no ato de fazer drag, quer seja pela ingestão de hormônios e realização de cirurgias de transgenitalização, como no caso de pessoas trans* que desejam (de)terminadas modificações corporais.15 Todas estas mobilidades de gênero, dentre muitas outras, são consideradas inconvenientes numa sociedade que procura fixar, essencializar e determinar identidades. Um exemplo de nomadismo é percebido em falas como “minha alma é feminina, como mulher transexual estou adaptando meu corpo que nasceu masculino à minha alma”, ou “fui designado mulher mas sempre me identifiquei como homem, então fiz minha transição estética para adequar minha aparência ao meu gênero de identificação. Sou um homem trans”. Quando a pessoa diz “sou mulher transexual” ou “sou homem trans”, trata-se de automarcação/declaração identitária relativa a um único marcador, o de gênero, e tal autodeclaração demonstra uma jornada do sistema sexo/gênero outorgado ao nascer ao de autopercepção. Estas narrativas apresentam percursos identitários de adequação (ou processos de elaboração identitária) que podem ser considerados nômades (“estou adaptando meu corpo” ou “fiz minha transição estética”), ainda que tais identificações (“minha alma é feminina/sou uma mulher transsexual” ou “sempre me identifiquei como homem/sou um homem trans”), levando em conta as falas “nativas”, sejam possivelmente entendidas como fixas por estas pessoas.16 Tais experiências também podem ser vistas como nômades por serem peregrinações identitárias que desestabilizam/transgridem as normas e comportamentos de gênero esperad@s de quem nasce com uma vagina ou com um pênis, ou seja, de quem é enunciad@/descrit@/prescrit@ como “mulher” ou “homem”. Mas realço que nem toda experiência trans* é caracterizada por um nomadismo constante. Muitas pessoas referem ter transitado, mas depois se fixado no sexo/gênero de reconhecimento próprio.17 Seguindo tais fluxos narrativos, nesta tese identidade pode ser cogitada como processo dinâmico, nômade, peregrino – ao mesmo tempo em que são admitidas como fixas as automarcações/declarações de quem assim se define.

13 Para Braidotti, o nômade “se posiciona pela renúncia e desconstrução de qualquer senso de identidade fixa. O nômade é semelhante ao que Foucault chamou de contra-memória, é uma forma de resistir à assimilação ou homologação dentro de formas dominantes de representar a si próprio (...). O estilo nômade tem a ver com transições e passagens, sem destinos prédeterminados ou terras natais perdidas. Assim, o nomadismo refere-se ao tipo de consciência crítica que resiste a se ajustar aos modos de pensamento e comportamento codificados. É a subversão do conjunto de convenções que define o estado nômade, não o ato literal de viajar” (BRAIDOTTI, Diferença, diversidade e subjetividade, 2002, pp. 9-10). 14 Errantes, aqui utilizado para falar de vivências identitárias, não deve ser tomado como sinônimo de equivocadas, mas, sim, de nômades. 15 Semelhantemente, Berenice Bento notou que o gênero “é o resultado de tecnologias sofisticadas que produzem corpos-sexuais” e que “as experiências de trânsito entre os gêneros demonstram que não somos predestinados a cumprir os desejos de nossas estruturas corpóreas” (BENTO, Na escola se aprende que a diferença faz a diferença, 2011, p. 551). 16 Ainda que a autodeclaração possa ser fixa, tais pessoas podem se entender mulher ou homem de formas diferentes no decorrer da vida. Tais fixidez podem ter também convivido com formas de fluidez: a mesma pessoa que se vê fixada como homem pode ter se visto fluidicamente como tal em outro momento, ou fluidicamente como n-b, ou como mulher, ou como drag king, etc. Há um universo de hipóteses possíveis. 17 A pessoa pode entender sua identidade como fixa durante distintas etapas da jornada: ora já na infância, ora em etapas do processo de adequação, ora na chegada a um ideal que julga o resultado final do mesmo. Para algumas mulheres transexuais, por exemplo, o resultado final do processo é a realização da CRS/CRG (cirurgia de redesignação sexual ou genital). Para outras tantas, tal cirurgia não é necessária para sentir-se plenamente mulher.

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Artigo .......................................................................................................... Se pessoas trans* e ex-trans* podem ser consideradas em algum momento nômades de gênero,18 as pessoas cis podem ser cogitadas como sedentárias no sentido de estarem fixas na cisgeneridade, afinadas com o sistema sexo/gênero outorgado no nascimento. Entretanto, fica a provoca-ação: até que ponto as pessoas cis, ou parte delas, demonstram sempre um alinhamento em relação ao que é esperado ao seu sexo/gênero? A pessoa cis não realiza transgressões generificadas durante a vida, ainda que breves? Neste caso, não é possível pensarmos em situações de trânsito ou em situações trans* e ex-trans*?19 Estas perguntas visam desestabilizar fronteiras que supõem que “pessoas trans* estão em trânsito e pessoas cis não estão”. Entre as fronteiras da fixidez e fluidez, observemos outra narração: “sou uma pessoa trans porque não me sinto conforme o sexo e gênero que me foram designados. Mas não sou binária, não me vejo inteiramente mulher nem inteiramente homem. Tou no meio, tou entre estas coisas.” Neste caso, a pessoa tem uma automarcação/declaração identitária de gênero não-binário: sua jornada é fluida, seu ponto de chegada provavelmente também, se pensarmos nos polos binários como possíveis pontos fixos. Ao mesmo tempo, relativiza-se a questão: ainda que sua percepção sobre si seja dinâmica e fluida em relação ao seu trânsito entre os polos, sua automarcação pode ser (ainda que isto pareça paradoxal) ao mesmo tempo fixa, como na frase “sempre fui fluida”. De algum modo, neste caso, a fluidez traz um quê de fixidez – o que demonstra que as fronteiras entre uma e outra podem ser contingenciais, borradas e sobretudo... fluidas.20 Observemos outra narração: ah, eu já me vi homem cis gay, já me vi trava, hoje sou trans não operada. Por enquanto, claro. Vou colocar boceta logo, logo e aí, meu bem, ninguém mais segura esta mulher! Ai, será que eu também já me vi como CD ou como drag? A lôca!21

Quando esta moça refere a si, ironicamente, como “a lôca”, pode sinalizar que as automarcações e os fluxos referentes às identidades e às expressões trans* costumam ser socialmente vistos como, mais que errantes, errados – abjetos e patologizáveis até. Pessoalmente, creio que seria desejável que da sociedade viessem dois movimentos simultâneos, um de despatogologização de identidades móveis, em quaisquer sentidos, e outro, de reconhecimento e respeito às automarcações e autoidentificações alheias, quaisquer que sejam, em quaisquer momentos e inclusive ao mesmo tempo. A narradora acima poderia ter se identificado simultaneamente de todas aquelas formas e de outras ou ainda não se identificar: mas o direito à auto-declaração identitária (bem como o direito à não se declarar de forma alguma), ou indo um pouco além, o direito a se ter os mesmos direitos que as demais pessoas, deveria ser uma das molas mestras do convívio social. Assim, mais que o direito à identidade, seria melhor a preocupação com o direito a se ter direitos.

18 Relembrando que em alguns casos o nomadismo é feito uma única vez para depois se estacionar/fixar no sexo/gênero de autoadmissão. 19 Comento um pouco mais a respeito quando falo sobre identidades, expressões e situações entregêneros. 20 Sentir-se fix@ ou fluid@ não pressupõe que a pessoa se sinta sempre fixa ou fluida, muitos são os movimentos possíveis entre fixidez e fluidez. Em relação a pessoas n-b, é necessário enfatizar que estas não são necessariamente, como algumas pessoas cogitam, “nem homem nem mulher”. Há sim pessoas n-b que se sentem/se sabem desta forma, mas muitas outras estão em um entrelugar identitário representado por concepções como “não sou totalmente nem homem nem mulher”. Em muitos casos a pessoa se sente, por exemplo, parte agênera e parte mulher ou parte homem. 21 ENTREVISTADA 3, entrevista a Maranhão Fo, 2010.

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.......................................................................................................... Artigo “Exemplos” de automarcações identitárias22 Ainda em relação à narradora acima, ao contrário da automarcação anterior, única e de gênero (sou um homem trans),23 a automarcação identitária dela é múltipla e temporalmente não simultânea, também dentro do mesmo marcador, gênero (já me vi homem cis, já me vi trava, hoje sou trans não operada). Um exemplo de automarcação/declaração identitária múltipla e temporalmente simultânea de gênero está na pessoa que diz “sou transsexual, travesti e drag queen ao mesmo tempo”.24 Vimos exemplos de automarcação/declaração identitária de gênero: única, múltipla e temporalmente simultânea, múltipla e temporalmente não-simultânea. O mesmo pode se aplicar à religião. Um exemplo de automarcação/declaração identitária religiosa única seria “sou da quimbanda luciferiana”. Já a pessoa que se refere como “católica e umbandista, frequentando a missa aos domingos e o terreiro às sextas”, demonstra uma automarcação/declaração identitária religiosa múltipla e temporalmente simultânea, enquanto uma automarcação/declaração identitária religiosa múltipla e temporalmente não-simultânea poderia ser vista na frase “nasci em berço umbandista mas atualmente sou budista”. Também podemos observar automarcações/declarações identitárias múltiplas e simultâneas relacionadas a vários marcadores identitários diferentes. Posso, por exemplo, me reconhecer “mulher, brasileira-corinthiana, morena, de olhos verdes, bonita, lésbica, leonina, judia e antropóloga”. Cada um destes atributos representa um determinado marcador identitário: de gênero, nacionalidade/time de futebol, estéticos, de orientação sexual, astrológica, religiosa e acadêmica.25 A conexão entre automarcação/declaração única de religião e automarcação/declaração única de gênero, e simultâneas está quando Jacque Chanel se anuncia travesti gospel: “quando eu me defino como uma travesti gospel estou trazendo estas duas experiências de identidade, a de gênero e a religiosa, afinal sou as duas coisas juntas.”26 Um outro caso de automarcação identitária religiosa única e generificada única e simultâneas pode estar, muito hipoteticamente, na mulher transexual que diz ser mulher pois “sua alma é feminina”. É plausível que para ela alma tenha conotação metafórica para gênero ou identidade de gênero, e conotação literal no sentido espiritual e/ou religioso. Ou ambas as coisas: que alma tenha um conteúdo generificado/religioso; metafórico e literal. Alma feminina poderia apontar neste caso para uma automarcação/declaração identitária dupla ou múltipla, de gênero e religião/espiritualidade.

22 Os exemplos de automarcação/declaração identitária que seguem, certamente, são meras e instáveis tentativas provisórias e rasuráveis, com fins heurísticos e didáticos, de pensar automarcações identitárias. Não intento, de maneira alguma, “categorizar” nenhuma experiência. 23 Lembro que neste caso, ainda que a autodeclaração seja única, esta jornada pode ser fluida ou dinâmica em relação ao trânsito entre o sistema sexo/gênero de outorga e o de auto-identificação. 24 Vimos exemplos de automarcação/declaração identitária de gênero: única, múltipla e temporalmente simultânea, múltipla e temporalmente não-simultânea. O mesmo pode se aplicar à religião. Um exemplo de automarcação/declaração identitária religiosa única seria “sou da quimbanda luciferiana”. Já a pessoa que se refere como “católica e umbandista, frequentando a missa aos domingos e o terreiro às sextas”, demonstra uma automarcação/declaração identitária religiosa múltipla e temporalmente simultânea, enquanto uma automarcação/declaração identitária religiosa múltipla e temporalmente não-simultânea poderia ser vista na frase “nasci em berço umbandista mas atualmente sou budista”. 25 Mas nem sempre as pessoas referem ao mesmo tempo tantos marcadores. No caso da pesquisa que animou a tese supracitada e este artigo, por exemplo, as pessoas com quem conversei se referiam especialmente a dois, gênero e religião, concomitantemente ou não. 26 CHANEL, entrevista a Maranhão Fo, 2014. Publiquei artigo sobre ministério evangélico fundado e liderado por Chanel, e direcionado a travestis, mulheres transexuais e homens trans, em 2015 (MARANHÃO Fo, 2015).

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Artigo .......................................................................................................... Um caso que demonstra automarcação/auto-declaração identitária múltipla relativa a gênero e religião mas não temporalmente simultâneas é o de Josi, que se declarou, entre 2010 e 2012, das seguintes formas: “eu sou uma travesti, eu sou um homem gay, eu sou uma mulher trans e vou colocar boceta.” E ainda: “eu sou do candomblé e da umbanda, eu sou evangélica inclusiva”. Não há simultaneidade temporal dentro do mesmo marcador (Josi não era travesti e transexual, nem era umbandista e inclusiva ao mesmo tempo), mas há simultaneidade temporal entre os dois marcadores (Josi era travesti e da umbanda ao mesmo tempo, por exemplo). Mas tal análise é contextual. Em 2014, ela falou: “sou mulher trans, sou cristã inclusiva”.27 E claro, dois anos podem fazer grande diferença nos sonhos realizáveis das pessoas. Se até 2012 Josi era cantora e secretária da Igreja da Comunidade Metropolitana, de São Paulo (ICMSP) e trabalhava como garota de programa nas imediações do Parque do Carmo, zona leste paulistana,28 em 2014 mudanças se avizinharam: “continuo cantando na ICM sempre que posso, e agora estou noiva, vou me casar como sempre sonhei, estou trabalhando em telemarketing e fazendo faculdade de pedagogia prá realizar meu outro grande sonho: ser professora.”29 E no fim de 2015, mais precisamente há duas semanas da data de depósito de minha tese, Josi anunciou: “voltei para o Candomblé e me sinto muito bem com isso”. Narrativas de outras pessoas sinalizaram processos diferentes, por vezes mostrando o mix entre automarcação/declaração identitária múltipla e simultânea de um marcador e automarcação/declaração identitária única de outro, como no exemplo “sou transsexual, travesti e drag queen ao mesmo tempo”30 e “em termos de religião só tenho uma, sou apostólica romana de nascimento até morrer”; ou no caso inverso, “sou agênera em termos de (não)gênero, e em termos religiosos, sou judia, espírita e de almas e angola”. Podemos observar também a mescla entre automarcação/declaração identitária múltipla e simultânea de gênero e automarcação/declaração identitária múltipla e simultânea religiosa, demonstrando autoidentificações múltiplas e simultâneas relacionadas a marcadores identitários diferentes. É o caso da pessoa que se identifica: “sou transsexual, travesti e drag queen ao mesmo tempo” e “sou ortodoxa grega, budista e wiccana ao mesmo tempo”. São múltiplas pertenças que se conectam. Mas, parece ser mais aceitável socialmente a pessoa que se refere em uma múltipla pertença religiosa simultânea que em uma múltipla pertença de gênero simultânea.31

27 Isto demonstra uma automarcação identitária religiosa única e generificada única, e simultâneas, como veremos em dois outros casos logo adiante. 28 Parte das entre-vistas feitas com Josi foram publicadas anteriormente: MARANHÃO Fo, “Falaram que Deus ia me matar, mas eu não acreditei”: intolerância religiosa e de gênero no relato de uma travesti profissional do sexo e cantora evangélica, 2011b e “Jesus me ama no dark room e quando faço programa”: narrativas de um reverendo e três irmãos evangélicos acerca da flexibilização do discurso religioso sobre sexualidade na ICM (Igreja da Comunidade Metropolitana), 2011c. 29 SOUZA, entrevista a Maranhão Fo, 2014. Aqui podemos recordar a frase atribuída a Shakespeare: a vida é o verdadeiro palco. Somos atores/atrizes que representamos papéis de acordo com os cenários que nos são apresentados. Refletindo sobre esta relação com Josi, ela poderia ser considerada atriz de si mesma e eu, plateia. Mas nem atriz nem plateia eram estanques: ela e eu mudávamos/ nos adaptávamos a cada apresentação/performance dela (e talvez minha também). Mudando a perspectiva, é provável que para Josi era eu quem atuava/performatizava enquanto ela assistia, já que em campo, @ observador@ também é observad@. Não penso as relações de (em) campo como fixadas hierarquicamente em pesquisad@ e pesquisador@, daí a importância de se pensar o trabalho da forma mais relacional e simétrica (obviamente nada é simétrico) possível. 30 É bom realçar que a experiência multi-identitária dentro de um mesmo marcador não sinaliza necessariamente para uma fluidez: a pessoa pode se sentir fixa identitariamente referindo os três marcadores. 31 Também parece mais aceitável a múltipla pertença religiosa que, por exemplo, uma múltipla pertença simultânea de orientação sexual, como “sou hetero e pansexual”. Há algo de ambíguo, contraditório ou errado na pessoa que se identifica simultaneamente não somente como quimbandista/kardecista/católica, mas como gay/lésbica/hetero/bi ou trans/travesti/cis? Creio que não: tal experiência só seria contraditória caso a própria pessoa assim a definisse.

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.......................................................................................................... Artigo Além destas possibilidades de conexões entre automarcações/declarações de gênero e religiosas, obviamente há muitas outras. Em relação a estas, não nos esqueçamos da mistura entre fluidez e fixidez relacionada a marcadores diferentes, como para Alexya: “sou uma mulher trans, me vejo fora das caixinhas de gênero, sou gente, mas em termos de religião sou cristã inclusiva e não abro mão”.32 No caso de Alexya, ela se define mulher trans e também fora das caixinhas de gênero, reivindicando ainda a condição de gente independentemente do gênero. Em outra oportunidade, me narrou, “é, em gênero eu me vejo nesta fluidez, como no Movimento Transgente da Letícia Lanz, mas em religião não”.33 Para Alexya, a declaração mulher trans, que poderia ser vista como um marcador fixo, parece assumir um papel móvel e contingencial, aliada à marcação sou gente, ao mesmo tempo em que mostra alguma fixidez em termos religiosos. Narrativas como as de Josi, Alexya e Jacque34, assim como as demais, nos balisam a pensar no íntimo relacionamento entre ela, a religião, e ele, o gênero. Para um melhor esclarecimento das situações descritas (lembrando que existem muitas outras possíveis), segue uma tabela provisória:

Imagem: Tipos de auto-declaração e exemplos

32 SALVADOR, entrevista a Maranhão Fo, 2014. Alexya demonstrou esta concepção em mais de uma das conversas que tivemos. Frase semelhante foi reproduzida no Wallpaper. Destaco a provisoriedade em se “determinar” a fixidez ou fluidez de “determinadas” “categorias”. Quando falo de uma identidade religiosa fixa de Alexya, me refiro à sua autodeterminação: sou cristã e não abro mão. Entretanto, a mesma realizou fluxo religioso da ICAR à ICM, e esta é uma igreja que tem se iniciado, no Brasil, em uma teologia queer, caracterizada pela fluidez conceitual, ao menos em alguns pontos. Assim, falo de uma identidade religiosa fixa neste contexto da automarcação/declaração de Alexya como uma cristã fixa. 33 Idem, entrevista a Maranhão Fo, 2014. 34 Por conta da importância destas três pessoas na (re/des)carpintaria de minha pesquisa de doutorado, me referi a estas como santíssima trindade de inspiração da tese (2014).

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Artigo .......................................................................................................... Em todos os casos acima vistos, o que vale, no momento de referenciar uma pessoa, é a autoidentificação atual, e, como o reverendo Cristiano Valério da ICMSP narrou, se a pessoa se identificar como gay e depois como travesti, “a gente atualiza o cadastro”.35 Afinal, “identificar” @ outr@ de modo contrário ao que a pessoa se identifica é, como explica Viviane V., atitude colonizatória que demonstra em alguma medida, reprodução de procedimentos cissexistas que demandam das pessoas trans* as supostas verdades sobre seus corpos e identificações (mediadas, se necessário, por instituições médicas e jurídicas, denotando a disposição em se considerarem pessoas trans*/transgêneras como de menos, ou nenhuma, agência sobre suas vidas).36

Fica a questão: por que não “naturalizar” que as pessoas sejam e/ou se apresentem como elas querem – simplesmente respeitando suas autoidentificações e autodeclarações? De todo modo, se sentir em fluxo identitário (ou não) é muito pessoal. Nem todas as pessoas que se identificam em situações de mobilidade de gênero pretendem permanecer nesta condição ad aeternum. Grande parte destas percebe o trânsito como meio para estacionarem no gênero de desejo e/ou identificação. E há pessoas que se declaram trans*, mas não se entendem em situações de trânsito: “eu não acho que estou em trânsito de gênero. Para mim, sempre fui mulher, desde criança. Nunca me vi menino, então, não me vejo em trânsito de gênero. Será que estou errada?”, indagou Atena C.37 Não, certamente não está errada em se perceber assim. E é por isto que reforço que este trabalho, assim como qualquer outro que apresente “tipos” ou “ exemplos” identitários deve ser lido com suspeição/suspensão, ciente de que concepções e conceitos – principalmente @s que eu apresento aqui – se destinam à provisoriedade, ainda que possam eventualmente ser úteis a discussões e novos questionamentos.

Para que identidade? As identidades – inclusas aqui as generificadas e as religiosas – são relacionais38 e marcadas pela diferença,39 havendo agenciamento/articulação da elaboração/transição identitária de si e d@ outr@, em fluxos e contrafluxos contínuos. Entre fluidez e fixidez, perguntemos: a identidade fixada40 que rege quem a pessoa é e quem ela deve ser de acordo com o sistema sexo/gênero binário enunciado/descrito/prescrito41 no nascimento, é suficiente para as pessoas acima descritas? Esta concepção de identidade fixa, inaugurada no nascimento da pessoa ou através de técnicas como o ultrassom, são suficientes para contemplar suas subjetividades e experiências?

35 VALÉRIO, entrevista a Maranhão Fo, 2010. Comentei sobre as entrevistas que Valério me concedeu em ocasiões diferentes (2012, 2015). 36 V., Tempestade em guarda-chuvas*, 2012. 37 ENTREVISTADA 4, entrevista a Maranhão Fo, 2014. Como já esboçado, a situação de nomadismo ou/e peregrinação não se estende necessariamente ad eternum: pode ser contingencial, trânsito transitório. Est@ viajante trans, cartografando a si mesm@, atravessa/(re)descobre caminhos e lugares, se (re/des)constrói, visando um produto pronto – ou não. Alguns/as derrubam barreiras dicotômicas de sexo/gênero no percurso, outr@s as reconstroem mais adiante. 38 Sobre a relação com o Outro, ver Vida precária de Butler. 39 Para Silva, identidade e diferença são indissociáveis (SILVA, A produção social da identidade e da diferença, 2000, p. 73-102). Diferença e identidade são articuladas a partir das declarações reiterativas, que demarcam fronteiras entre os que pertencem e os que não pertencem, classificando e hierarquizando sujeitos. Hall também entende que a diferença constitui a identidade através de operações como “eu/ele”, nas quais a exclusão constitui a unidade da identidade, resultando em determinações classificatórias e hierarquizantes entre os polos (HALL, Quem precisa da identidade?, 2000). 40 As identidades – inclusas aqui as generificadas e as religiosas – são relacionais (Sobre a relação com o Outro, ver Vida precária de Butler) e marcadas pela diferença. 41 Butler comenta sobre a elaboração subjetiva a partir do assujeitamento, fundamentada em autores como Foucault, Freud, Lacan, Althusser, Hegel e Nietzche, e estabelece uma grade de análise sobre nossa emersão como sujeitos a partir das relações de poder, original e simultaneamente assujeitadoras e marcadas pela vulnerabilidade primária – carregando possibilidades de resistências criadoras em relação à norma serializante da dominação (BUTLER, The Psychic Life of Power, 1997). Para Butler, reiterações produzem diferenças hierarquizantes entre sujeitos, e nomear é convocar, exercendo efeito não só descritivo, mas prescritivo (idem, Vida precária, 2011).

39

.......................................................................................................... Artigo

Imagens: Postagens de Letícia Lanz no Facebook, 201442

Refletindo a partir destas imagens, há simultaneamente uma explosão de rótulos identitários insuficientes para “categorizar” as pessoas, insuficiência conceitual compartilhada com os guardas-chuva que supostamente deveriam acolher as autoidentificações? Seria a identidade uma ilusão ou um cativeiro? Esta serviria para libertar ou aprisionar? Qual a necessidade de rótulos identitários que enunciam/descrevem/ prescrevem semelhança e diferença? Não podemos nos pensar meramente como pessoas ou gente? Ou seriam gente e pessoas também rótulos prescritores?43 Enquanto tais, seriam suficientes para representar a tod@s? Provavelmente não. Ou como perguntaria Hall, quem precisa de identidade?44 Podemos indagar: existe uma identidade, ou esta é “imaginada”, sempre em demanda, mas nunca atingida? Provavelmente, as ideias de Sanchis, de identidade como “o que o sujeito pretende ser, aos olhos dos outros e a seus próprios olhos, eventualmente até o que ele se esforça para se persuadir que ele é”45, e de Agier, de “que toda declaração identitária, tanto individual quanto coletiva, é múltipla, inacabada, instável, sempre experimentada mais como uma busca que como um fato”,46 possam suscitar reflexões a respeito.

Mas o mesmo Agier, falando sobre sua assertiva acerca de identidade, relativiza a questão:

42 LANZ, Transgente, 26 jul. 2014. 43 Identidade como opressora pode encontrar respaldo em Hall: “as identidades podem funcionar, ao longo de toda sua história, como pontos de identificação e apego apenas por causa de sua capacidade de excluir, para deixar de fora, para transformar o diferente em “exterior”, em abjeto” (HALL, 2000, p. 110). 44 Idem, 2000. 45 SANCHIS, Inculturação? Da cultura à identidade, um itinerário político no campo religioso: o caso dos agentes de pastoral negros, 1999, p. 62. 46 AGIER, Distúrbios identitários em tempos de globalização, 2001, p. 10.

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Artigo .......................................................................................................... essas constatações e esses comentários são hoje em dia insuficientes. Com efeito, ao mesmo tempo em que as ciências sociais desconstruíam um objeto que havia sido por muito tempo tratado sob um bias essencialista, ou “primordialista”, como se diz atualmente, as sociedades o reconstruíam em seus próprios mundos e geralmente segundo essa modalidade mesma, ou seja, afirmando o caráter absoluto, autêntico e atemporal de sua identidade afirmada.47

Como vemos, ao passo em que se procura desessencializar a identidade, outras pessoas e grupos a reivindicam fixa, como na frase “sempre fui mulher”, discutida anteriormente, quando expliquei que a concepção de identidade que adoto é a do processo dinâmico, nômade, peregrino, levando em conta as autoidentificações de quem se percebe tendo identidades fixas – o que também vale para quem se vê com identidades fluidas. O que procurei adotar foi admitir como autêntica qualquer (re/des)elaboração e automarcação/declaração identitária, ainda que em alguns casos eu entenda a urgência de problematizações, como no caso de extravestis que destransicionam por conta de discursos (em muitos casos religiosos/generificados/sexuais) que as relacionam a contextos patológicos/pecadológicos/demonizadores. Me pareceu respeitoso entender como verdadeiras as identidades de quem se define fluid@, fix@ ou entre as duas categorias, ainda que – esperando não ser contraditórie – eu continue entendendo os processos identitários como... processos, e como tais, dotados de pelo menos algum dinamismo. Ao mesmo tempo, esta concepção de identidade como processo e produção se choca com uma concepção que vê a identidade como fixa e naturalizada. Imaginando que esta não dê suporte para entendermos a complexidade de deslocamentos subjetivos das pessoas, uma alternativa é justamente a de rasurarmos tal conceito mais fixo de identidade.48 2a. Parte: Rasurar e suturar Se identidade pode ser vista por algumas pessoas como fixa, por outro lado, outras concepções podem vê-la como líquidas, móveis, processuais. Podemos ainda entender sujeitos, comunidades e instituições como caldeirões identitários: expressões, impressões, identificações e declarações – próprias e alheias – sofrem processo de (des/re) aquecimento a partir de contexto relacional, em que identidades e identificações são derretidas, resfriadas, solidificadas, fragmentadas – derretidas de novo –, em constante processo de adaptação e amoldamento.49

47 Idem, 2001, p. 10. É bom realçar que o processo de elaboração identitária se dá a partir da diferença – da exclusão, inclusive. Como Kathryn Woodward lembra, “as identidades são fabricadas por meio da marcação da diferença. Essa marcação da diferença ocorre tanto por meio de sistemas simbólicos de representação quanto por meio de formas de exclusão social. A identidade, pois, não é o oposto da diferença: a identidade depende da diferença. Nas relações sociais, essas formas de diferença - a simbólica e a social - são estabelecidas, ao menos em parte, por meio de sistemas classificatórios. Um sistema classificatório aplica um princípio de diferença a uma população\ de uma forma tal que seja capaz de dividi-la (e a todas suas características) em ao menos dois grupos opostos - nós/eles; eu/outro” (WOODWARD, 2000, p. 39-40). Assim, tanto a exclusão quanto o pertencimento mostram-se fundantes na constituição identitária. É importante atentar para os discursos que marcam a diferença, e que se dão num contexto relacional. A marcação da diferença é sempre relacional. A distinção entre ‘eu’/’nós’ e o outro (‘ele’/’eles) revela distinções e pode promover integração e/ou discriminação. 48 Uma questão é: se as pessoas com quem convivemos – e no caso de uma pesquisa, as pessoas que pesquisamos (e que nos pesquisam) – utilizam conceitos como o de identidade, ainda que relativizemos o mesmo, como pensá-lo? 49 MARANHÃO Fº, 2012 e 2013.

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.......................................................................................................... Artigo Pensar em derretimento identitário implica na provisoriedade/efemeridade/transitoriedade da identidade – num processo de (des/re)confecção, sem um sentido fixo e caracterizada por maior ou menor instabilidade,50 necessitando de olhar igualmente nômade.51 Propor uma identidade – e desdobramentos como identidade religiosa e identidade de gênero – como derretida(s) é um modo de pensar a identidade sob rasura. Sendo assim, o que proponho é pensar nos conceitos a contrapelo52 – a partir de sua precariedade e transitoriedade. Mas, o que seria rasurar identidade? Hall, retomando Derrida,53 lembra que: a perspectiva desconstrutiva coloca certos conceitos “sob rasura”. O sinal de “rasura” (X) indica que eles não servem mais – não são mais “bons para pensar” – em sua forma original, não- reconstruída. Mas uma vez que eles não foram dialeticamente superados e que não existem outros conceitos, inteiramente diferentes, que possam substituí-los, não existe nada a fazer senão continuar a se pensar com eles – embora agora em suas formas destotalizadas e desconstruídas, não se trabalhando mais no paradigma no qual eles foram originalmente gerados (Hall, 1995). As duas linhas cruzadas (X) que sinalizam que eles foram cancelados permitem, de forma paradoxal, que eles continuem a ser lidos.54

Para Hall, “identidade é um desses conceitos que operam “sob rasura”, no intervalo entre a inversão e a emergência: uma ideia que não pode ser pensada da forma antiga, mas sem a qual certas questões-chave não podem ser sequer pensadas”.55 Assim, rasura-se o conceito de identidade fixa, propondo-se concepção que, como explica Hall, “não tem como referência aquele segmento do eu que permanece sempre e já ‘o mesmo’, idêntico a si mesmo ao longo do tempo,” e “não assinala aquele núcleo estável do eu que passa do início ao fim sem qualquer mudança, por todas as vicissitudes da história”.56 A identidade fixa, por sua insuficiência para contemplar grande parte das pessoas – ainda que contemple muitas outras – é colocada sob rasura: na falta de termo mais conveniente, utiliza-se identidade em um outro sentido, com finalidade heurística, didática e como esforço de autocompreensão e compreensão das outras pessoas. Rasurar não inviabiliza o uso: entendo que as “identidades” possam ser (re)pensadas como rótulos que servem para (re/des)classificar as pessoas e (ao menos muitas vezes) (re)produzir opressões – ainda que eu defenda calorosamente o direito de quem quer que seja se identificar e/ou se expressar das maneiras que julgar convenientes – obviamente dentro de um Estado de direito democrático e tolerante em relação às diferenças e ... “identidades”.57

54 HALL, 2000, p. 104. Maluf pensa, a partir das identidades sob rasura, na transitoriedade de sujeitos sob rasura: não há mais sujeitos, mas posições de sujeito, bem como não há mais identidades, mas pontos de apego temporário. A autora lembra ainda de outros conceitos usados sob rasura como grupo social, sociedade e Estado (MALUF, Por uma antropologia do sujeito: da Pessoa aos modos de subjetivação. Parte I – Pessoa, Individualismo e crise do sujeito, 2011). 55 HALL, 2000, p. 104. Após demonstrar a identidade sendo usada sob rasura, ele apresenta outra resposta às perguntas “onde está a necessidade de mais uma discussão sobre a “identidade”? e “quem precisa dela?” A resposta se situa na “centralidade para a questão da agência e da política. Por ‘política’ entendo tanto a importância – no contexto dos movimentos políticos em suas formas modernas – do significante ‘identidade’ e de sua relação primordial com uma política da localização, quanto as evidentes dificuldades e instabilidades que têm afetado todas as formas contemporâneas da chamada ‘política de identidade’” (idem, 2000, p. 104-150). 56 Reforça: “o conceito de identidade aqui desenvolvido não é, portanto, um conceito essencialista, mas um conceito estratégico e posicional” (ibidem, 2000, p. 108). 57 Vemos as seguintes definições sobre identidade e diferença na versão on-line do Dicionário Aurélio: Significado de Identidade: s.f. O que faz que uma coisa seja da mesma natureza que outra. / Conjunto de caracteres próprios e exclusivos de uma pessoa (nome, idade, sexo, estado civil, filiação etc.): verificar a identidade de alguém. // Identidade pessoal, consciência que alguém tem de si mesmo. / Matemática Igualdade (que se indica =) cujos dois membros tomam valores numéricos iguais para todo sistema de valores atribuídos às letras. (A identidade difere da equação, que só se verifica para certos valores atribuídos às letras.) // Bras. Carteira de identidade, cartão oficial com fotografia, nome, impressões digitais etc., do portador, o qual serve para sua identificação; em Port., bilhete de identidade. // Princípio de identidade, princípio fundamental da lógica tradicional, segundo o qual “uma coisa é idêntica a si mesma” (“a é a”). Significado de Diferença: s.f. Caráter que distingue um ser de outro ser, uma coisa de outra coisa. / Falta de igualdade ou de semelhança. / Matemática O resto, o que fica de um número ou quantidade da qual se subtrai ou número ou quantidade: a diferença entre 7 e 5 é dois. / Divergência. / &151; S.m. pl. Desavenças, contendas (FERREIRA, 2014). Como se vê a partir de definições com sentidos opostos, uma se dá em relação à outra, daí o contexto relacional da identidade, costumeiramente vista como sinônimo de igualdade e/ou semelhança e em contraposição à diferença. Um sinal de que a identidade é relacional: só se é negr@ ao ser contrapost@ @o branc@, só se é lésbica se contraposta à hetero, só se é trans se contrapost@ @o cis.

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Artigo .......................................................................................................... Mais uma consideração, e isto pode parecer paradoxal: a pessoa pode rasurar ou criticar identidades e ao mesmo tempo, defender identidades específicas – ou usá-las – como estratégia política. De algum modo, criticar identidade pode afirmá-las – e não aboli-las, ainda que este seja também um efeito possível. Fundamental é problematizar as identidades, interrogar acerca das formas como elas historicamente se formam, seus processos de (re/des)elaboração, como elas se afirmam e são (re/in)utilizadas e como podem servir politicamente, inclusive na conformação de políticas públicas de promoção de direitos – afinal, por mais que qualquer identidade seja criticável tod@s têm o direito de tê-las e performatizá-las, e o Estado deve suprir os mesmos direitos a tod@s. Dentro duma espectometria política abrangente todas as identidades devem ser constituintes – de modo desierarquizado. Um exemplo: todas as pessoas trans* (incluídas identidades específicas como transexual, travesti e não-binárie) devem ter os mesmos direitos que qualquer pessoa cis, inclusive ao acesso à mudança de nome e alterações corporais, independentemente de laudos administrativoburocráticos, médicos ou das áreas psi – o Estado deve assim prover reconhecimento e assistência igualitária – inclusive para a transição de pessoas trans* que desejarem – fora do âmbito da patologização.

Pensar identidade sob rasura significa para Hall pensá-la também sob sutura: utilizo o termo “identidade” para significar o ponto de encontro, o ponto de sutura, entre, por um lado, os discursos e as práticas que tentam nos “interpelar”, nos falar ou nos convocar para que assumamos nosso lugares como os sujeitos sociais de discursos particulares e, por outro lado, os processos que produzem subjetividades, que nos constroem como sujeitos aos quais se pode “falar”. As identidades são, pois, pontos de apego temporário às posições-de-sujeito que as práticas discursivas constroem para nós (Hall, 1995). Elas são o resultado de uma bem-sucedida articulação ou “fixação” do sujeito ao fluxo do discurso.58

Além de utilizarmos identidade com seu sentido (ou um de seus sentidos, o de identidade fixa) rasurado, podemos pensar em outras formas de subverter o termo identidade? Uma estratégia como a de tornar o termo conversível - pegar um conceito comumente utilizado para uma coisa e aplicar ele para se referir a outra? Em momento posterior, procurarei sinalizar essa possibilidade, procurando converter gênero em religião, ou seja, utilizar a categoria gênero (o termo e seu conceito) para pensarmos a categoria religião, e vice-versa. Mas isso fica para outra ocasião. Sigamos agora, por “fim”, para considerações de caráter inconclusivo.

Considerações inconclusivas Como vimos, as identidades, em sua pluralidade, podem ser percebidas através de concepções relacionadas a desestabilização / instabilidade / problematização e rasura / sutura do próprio conceito de identidade. Retornando a uma das provoca-ações deste artigo, deixo a pergunta: ainda que devamos sempre respeitar quaisquer autodeclarações identitárias, (não) seria potencialmente mais inclusivo que pensássemos a nós mesm@s como simplesmente gente?

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