Memorial para progressão a Professor Titular na Universidade Federal de Viçosa - 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA

MEMORIAL THÉA MIRIAN MEDEIROS MACHADO

VIÇOSA MINAS GERAIS - BRASIL 2014

THÉA MIRIAN MEDEIROS MACHADO

MEMORIAL

Memorial, apresentado ao Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Viçosa, como requisito para promoção na carreira docente, de Professor Associado IV, para Professor Titular, nos termos da portaria nº 982 da 03/10/2013 do Ministério da Educação.

VIÇOSA MINAS GERAIS - BRASIL 2014

SUMÁRIO 1 - Como me tornei a pessoa que sou

1

1.1 Minhas raízes

1

1.2 - Curso de Graduação

2

2 - Meus primeiros anos de atividades profissionais

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2.1 - Prestadora de serviços na Associação de Criadores de Caprinos Leiteiros de Minas Gerais - CAPRILEITE 2.2 - Mestranda e Técnica de Nível Superior no Departamento de Medicina Veterinária Preventiva da Escola de Veterinária da UFMG 2.3 - Treinamento em Caprinocultura Leiteira na França 2.4 - Responsável Técnica no Programa de Caprinocultura Comunitária do Projeto Metropolitano do Conselho de Extensão da UFMG

5

6 9 11

2.5 – Outras funções desempenhadas

12

3- Docentes do Ensino Superior

13

3.1 -. Docente na Universidade Federal de Uberlândia - UFU

13

3.2 - Doutoranda na Université de Paris e l’Institut National de La Recherche Agronomique

16

3.3 - Retorno à UFU e reconhecimento pelos meus trabalhos

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3.4 - Lotação Provisória na Universidade Federal de Viçosa – UFV

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3.5 - Docente na UFV

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3.6 - Visiting Scholar na University of Westerm Australia

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3.7 - Retorno à UFV - Ouroboros

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4 - Considerações Finais

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Memorial para Concurso Titular

1. Como me tornei a pessoa que sou.

“A experiência é, para mim, a suprema autoridade.” (Carl Rogers)

1.1 Minhas raízes Nasci em Colatina – ES, filha de um fiscal de carreira da carteira agrícola do Banco do Brasil e de uma professora primária, também filha de professora primária. Mudamos para Conselheiro Lafaiete – MG, quando eu tinha três anos de idade. Sou a segunda de cinco filhos, sendo meninos o primeiro e o último. Meus pais prezavam pela nossa boa educação, o que consistia em serem rigorosos, a exemplo da criação que haviam recebido nos anos 1930-1950 e propiciar educação formal aos filhos. Todos nós começamos pela escola pública, de qualidade inquestionável na época. Em Conselheiro Lafaiete fiz o Primeiro Grau - da primeira a quarta série na Escola Estadual Pacífico Vieira1 e da quinta à oitava série, no Colégio Nossa Senhora de Nazaré2, como convinha, então, às meninas. Por meus pais trabalharem fora de casa havia uma doméstica no lar enquanto éramos crianças, mas tínhamos atribuições em casa. Como primeira filha, me coube zelar pelos meus irmãos mais jovens, desde as brincadeiras até as mamadeiras e fraldas do caçula. Para que brincar do lado de fora se eu tinha duas irmãs e um irmão pequeno para entreter? Voltei-me, então, para os livros, pois através deles eu ‘evadia de casa’. Enciclopédias, livros escolares e literatura infanto-juvenil de qualidade não nos faltaram. Na rua onde morávamos, no centro da cidade, minha família era a única assinante de um Jornal diário. A televisão, ainda em preto e branco, era ligada em horários programados. Cresci ouvindo, em vinis na vitrola aos finais de semana, músicas de filmes, instrumental clássica e popular. Fui alfabetizada em música e iniciada em alguns instrumentos musicais, em trabalhos manuais, desenho e pintura.

1 2

https://www.facebook.com/pages/Escola-Estadual-Pac%C3%ADfico-Vieira/166748040041346 http://colegionazare.com.br/v1/?page_id=273

Professsora Théa M. Machado

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Memorial para Concurso Titular O apreço pelas artes permaneceu e me leva a frequentar salas de espetáculos, exposições e museus. Findo o primeiro grau, meu irmão mais velho e eu prestamos concurso para a Escola Técnica Federal em Belo Horizonte. A seleção no hoje CEFET da Avenida Amazonas3 já era concorrida. Ingressos, ele em Eletrônica e eu em Química, cursávamos dois turnos e, uma vez por semana havia aulas também à noite. Fiz cursinho pré-vestibular junto com o último ano do segundo grau, pois estava ciente que o ensino técnico me privava, especialmente, de conhecimentos em biologia. Em que localidade e em que área prestar vestibular? Meu pai havia instalado todos os filhos em Belo Horizonte e continuava trabalhando no interior. Minha mãe passava conosco a maior parte do tempo. Permanecer em Belo Horizonte era condição necessária. Apesar de amar a Química, a indústria de então era extremamente poluente e, em Minas Gerais, eu iria provavelmente executar análises químicas inorgânicas para a siderurgia. Eu não me via trabalhando em um galpão poluído de um bairro industrial. O meio rural que meu pai freqüentava e suas relações profissionais me motivaram, fiz opção pela Medicina Veterinária. Passei no primeiro e único vestibular que prestei, para a Universidade Federal de Minas Gerais.

1.2. Curso de Graduação Ingressei na Escola de Veterinária4 em 1977 e me formei em 1980, quando ainda era possível fazer isto em quatro anos, mesmo que chegássemos a cursar até nove disciplinas em um semestre. Iniciei estágio no Departamento de Bioquímica e Imunologia do Instituto de Ciências Biológicas5 e, depois, no Laboratório de Nutrição Animal do Departamento de Zootecnia da Escola de Veterinária6. À época, não havia a modalidade ‘Iniciação Científica’ e os Congressos não eram tão usuais nem acessíveis como nos dias atuais. Ao

meu

alcance,

estiveram

especialmente

as

Semanas

Acadêmicas

e,

excepcionalmente, um Congresso sobre Suínos e Aves na Embrapa, em Concórdia – SC. Minha turma de graduação inaugurou o estágio acompanhado de professores no período profissionalizante da Graduação na EV-UFMG, durante o semestre letivo. Fazíamos os contatos para ter apoio no destino, convidávamos os professores, 3

http://www.cefetmg.br/site/instituicao/aux/unidades/belo_horizonte/index.html http://www.vet.ufmg.br/ensino_graduacao/graduacao/2_20110208131915 http://www.pgbiq.icb.ufmg.br/ 6 http://www.vet.ufmg.br/departamentos/laboratorios/5_20110209153358_42/ 4 5

Professsora Théa M. Machado

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Memorial para Concurso Titular arcávamos com nossas próprias despesas, nos distribuíamos entre nossos carros e tínhamos o apoio do Conselho Regional de Medicina Veterinária - CRMV-MG para cobrir as despesas dos professores que nos acompanhavam. As turmas que nos sucederam deram sequência a esta modalidade, que mais tarde se tornou curricular na EV-UFMG. Estagiei, ainda, em Cooperativas Agropecuárias e na Unidade de Felixlândia da Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária (EPAMIG)7. Fiz um único estágio em Clínica Veterinária, especializada em Homeopatia, na cidade de São Paulo. No último semestre da Graduação fui a um Curso de Caprinocultura promovido pela Associação de Criadores de Caprinos Leiteiros – CAPRILEITE8, com sede em Belo Horizonte, e pelo Instituto de Zootecnia - IZ da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRRJ9. Lá no campus do km47 da antiga Estrada Rio-São Paulo, eu e duas outras colegas de turma fizemos contato com o então Presidente da CAPRILEITE, Dr. José Vianna de Assis, e duas de nós obtiveram estágio nos dois meses que antecederam nossa formatura. Fomos as primeiras estagiárias desta Associação, cujo diretor-técnico era o Médico Veterinário Joaquim Machado10. As mulheres eram minoria entre os ingressos e egressos do Curso de Medicina Veterinária. No campo, nós não tínhamos a mesma empregabilidade que os rapazes, e trabalhar com clínica de animais de estimação já não havia sido minha opção no decorrer do curso de graduação. Oito após a minha Graduação, em setembro de 1988, tive a grata satisfação de moderar o Painel “A mulher no contexto da Medicina Veterinária”, durante a IX Semana Científica de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Uberlândia. Quando nos formamos, iniciava-se a chamada ‘década perdida’11 e o desemprego assombrava até mesmo os homens no mercado de trabalho. O Encontro Nacional de Estudantes – ENE, que ocorreria em Belo Horizonte, em junho de 1977, foi impedido pela Polícia Militar12, que bloqueou os acessos aos Campi da UFMG no centro da cidade, e levou em camburões parte dos manifestantes. Aqueles que haviam ocupado, na véspera do ENE, o DCE da Escola de Medicina da UFMG, passaram a noite seguinte no, então, Departamento de Ordem Pública e Social – DOPS13. O Brasil

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http://www.epamig.br/ http://www.caprileite.com.br/conteudo.php?id_conteudo=6&id_links=1&id_sub_links=4 9 http://r1.ufrrj.br/wp/iz/ 10 Apesar de termos o mesmo sobrenome, não há grau de parentesco. 11 http://pt.wikipedia.org/wiki/D%C3%A9cada_perdida 12 http://www.cartacapital.com.br/politica/a-une-ha-30-anos 13 http://www.cyberpolicia.com.br/index.php/orgaos-operacionais/182-di-departamento-de-investigacoes 8

Professsora Théa M. Machado

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Memorial para Concurso Titular passou entre 1977 e 1979, período de minha graduação, pela questão da sucessão presidencial ao regime militar14 e o fim do Ato Institucional No. 5 – AI 515. O ingresso na Universidade foi, para mim, o início da liberdade de expressão que eu não tivera nas escolas anteriores, seja pela concepção usual de que aluno bom era aluno não participativo, seja pelo autoritarismo com bedéis nos corredores a nos cercear os passos. O processo de abertura política que o país começava a atravessar instigava o movimento estudantil e as pastorais universitárias. A conjuntura propiciava a reflexão política e o engajamento. Prestei serviço voluntário de alfabetização de adultos no Bairro Céu Azul, em Belo Horizonte. Estas experiências de oratória em público foram cruciais para as funções profissionais que eu viria a desempenhar em seguida.

14 15

http://pt.wikipedia.org/wiki/Retorno_do_pluripartidarismo_no_Brasil#Sucess.C3.A3o_presidencial_em_1979 http://pt.wikipedia.org/wiki/Ato_Institucional_N%C3%BAmero_Cinco

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Memorial para Concurso Titular

2. Meus primeiros anos de atividades profissionais

“Ao prosseguir os meus humildes esforços de criação, dependo numa grande medida daquilo que ainda não sei e daquilo que ainda não fiz.” (Max Weber)

2.1. Prestadora de serviços na Associação de Criadores de Caprinos Leiteiros de Minas Gerais - CAPRILEITE A importação de caprinos leiteiros para o Brasil ganhou vulto por iniciativa da CAPRILEITE, a partir de meados da década de 1970, em parte decorrente do ‘milagre econômico’16 e, em parte, consequência de disposições tomadas pelo Governo Federal, em 1975, para reduzir o déficit da balança comercial brasileira, ao proibir a importação de ‘supérfluos’, dentre eles os queijos finos, o que estimulou a produção local17. A CAPRILEITE se tornou referencial em caprinocultura leiteira no Brasil; promoveu parcerias com instituições de ensino e pesquisa, para manejo e controle da produção caprina na unidade de Leopoldina18 da EPAMIG, de processamento de carne caprina no CEDAF de Florestal (hoje Campus da UFV19) e da tecnologia de produção de queijos finos de leite de cabra20 no Instituto de Laticínios Cândido Tostes21, em Juiz de Fora. Em janeiro de 1981, iniciei prestação de serviços para a CAPRILEITE, implantando a execução do Serviço de Registro Genealógico de Caprinos - SRGC22 em Minas Gerais e em outras Unidades da Federação onde ainda não havia associação delegada pelo Ministério da Agricultura. Representei a CAPRILEITE em reuniões técnicas, prestei assistência técnica aos caprinocultores, ministrei cursos e palestras e realizei minhas primeiras publicações. Fui convidada a fazê-lo no Informe Agropecuário da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais - EPAMIG (1982 e 1987), e como capítulos de livro na então Empresa Brasileira de Extensão Rural – EMBRATER (1984) e na Sociedade Paulista de Medicina Veterinária – SPMV (1985). Participei do grupo nomeado em 1983 pelo Secretário de Estado da Agricultura 16

http://pt.wikipedia.org/wiki/Milagre_econ%C3%B4mico_brasileiro Ditta, P. Mercado existente, só precisamos conquistá-lo. Informe Agropecuário, v.7, n.75, p.59-62, 1981. Informe Agropecuário , v.8, n.95, 1982 e Informe Agropecuário, v.13, n.146, 1987. 19 http://www.portal.ufv.br/florestal/ 20 Furtado, M.M. Fabricação de queijo de leite de cabra. São Paulo: Nobel, 1979. 21 http://www.candidotostes.com.br/ 22 Artigo 1. Diário Oficial da União (DOU) de 30 de Dezembro de 1981, Seção 1, p.272. Prorroga prazo de vigência para execução do SRGC delegado pelo Ministério da Agricultura à Caprileite. 17 18

Professsora Théa M. Machado

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Memorial para Concurso Titular de Minas Gerais para elaborar o Programa de Desenvolvimento da Caprinocultura no estado23, que foi objeto de publicação daquela Secretaria, em 1984.

Entre agosto de 1981 e junho de 1986, proferi palestras sobre caprinocultura em dez diferentes eventos, afora aqueles promovidos pela CAPRILEITE; fui moderadora no V e no VI Simpósios Nacionais de Reprodução Animal, organizados pelo Colégio Brasileiro de Reprodução Animal - CBRA24, do qual me tornei associada. Prestei consultoria à Secretaria de Estado de Administração do Paraná, que implantava um projeto de caprinocultura familiar no município de Adrianópolis, Vale do Ribeira. As medições corporais que coletávamos em planilhas por ocasião das inspeções dos animais para o SRGC resultaram nos primeiros trabalhos de biometria em caprinos, publicados nos Anais da IV International Conference on Goat, em Brasília - 1987. Mais tarde, a biometria dos caprinos voltaria a ser objeto de meus estudos, com fins de caracterização e discernimento intra e entre populações.

2.2 - Mestranda e Técnica de Nível Superior no Departamento de Medicina Veterinária Preventiva da Escola de Veterinária da UFMG Em 1982, meu trabalho me abriu as portas para o Mestrado no Departamento de Medicina Veterinária Preventiva – DMVP25 da Escola de Veterinária – EV-UFMG. Neste Programa de Pós-Graduação há duas áreas de concentração, ‘Medicina Veterinária Preventiva’ e ‘Epidemiologia’. Fiz opção pela segunda, devido a sua abordagem quantitativa dos fenômenos saúde-doença em populações animais. Ingressei sob a orientação do Professor José Divino Lima26. Havia, naquela época, a concepção de que o profissional deveria ter experiência de trabalho para ingressar na Pós-Graduação e levar a Universidade à Empresa. Assim procurei fazê-lo. A coleta de material de campo, com a concordância e o interesse dos caprinocultores, nos rendeu os primeiros diagnósticos sobre sanidade caprina no estado de Minas Gerais. Em outubro do mesmo ano, ingressei como Técnica de Nível Superior - TNS no DMVP com um contrato de 30 horas semanais e permaneci prestando serviços à CAPRILEITE.

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Secretaria de Estado de Agricultura de Minas Gerais. Resolução no 43/83, de 8 de novembro de 1983. http://www.cbra.org.br/portal/index.htm 25 http://www.vet.ufmg.br/departamentos/exibir/4_20110208115035/departamento_de_medicina_veterinaria_preventiva 26 http://lattes.cnpq.br/9830262092359503 (Falecido em 2002) 24

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Memorial para Concurso Titular Defendi minha dissertação de Mestrado em 1o de maio de 1984, intitulada “Freqüência de anticorpos anti-Toxoplasma gondii em caprinos criados sob diferentes formas de exploração no estado de Minas Gerais”. Foram membros da banca meu orientador e os professores Romário Cerqueira Leite27 e José Ailton da Silva28. O tema da dissertação com a espécie caprina e a escolha pela Epidemiologia Veterinária já foram mencionados. A novidade, pelo exposto até aqui, é o estudo comparativo entre contextos de produção. Esta abordagem reforçava a idéia da corrente epidemiológica do grupo ao qual eu ingressara e que sustentava que doenças não eram causadas apenas pelos agentes infecciosos nem sua prevalência poderia ser completamente explicada pela interação agente-hospedeiro-meio ambiente. O contexto social, econômico e político da pecuária desempenhariam um papel crucial na saúde animal. No início dos anos 1980, o Brasil passava pela transição do regime militar ao retorno ao pluripartidarismo29 e esta conjuntura propiciava contextualizar o objeto de estudo na dinâmica histórica, cultural e social. Resumidamente, assim abordei a “evolução do conceito saúde-doença”, em minha dissertação: O emprego de ritos e danças na busca de cura das enfermidades data das inscrições rupestres de Cro-Magnon e perduram até hoje. Com as religiões, as doenças foram entendidas como Castigo Divino, mas todo tipo de orações e peregrinações não foram suficientes para abrandar as epidemias que se sucederam na Idade Média. A doutrina miasmática perdurou por séculos, onde os males proviriam da água, do ar, da terra, que emanariam impurezas [miasmas] sob dadas circunstâncias30. A partir da revolução industrial estabeleceu-se o conceito da unicausalidade, onde o microrganismo seria o único responsável pelo aparecimento de doenças. A necessidade de se ter em conta novos fatores para resolver as limitações da própria unicausalidade, levou à decomposição do objeto de estudo31. A relação agente-hospedeiromeio ambiente passaria a explicar o equilíbrio orgânico e a variação em um ou mais destes componentes poderia afetar o equilíbrio em favor do agente causal, resultando em doença32. A multicausalidade veio dar respostas sob o aspecto biológico das doenças, inclusive esclarecendo o ciclo de vida de vários organismos e suas formas de transmissão. Assim como as teorias anteriores, a multicausalidade passaria, contudo, a ser considerada uma forma de pensar 27

http://lattes.cnpq.br/4130849341813324 http://lattes.cnpq.br/8650873795487616 29 http://pt.wikipedia.org/wiki/Retorno_do_pluripartidarismo_no_Brasil 30 Armijo, R. Epidemiologia. Buenos Aires: Intermédica, 1978. v.1. 31 Vasco, A. Salud, medicina y classes sociales. Medellin: La pulga, 1975. p.17-40. 32 Armijo, 1978. Já citado 28

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Memorial para Concurso Titular científico relacionado aos interesses das classes dominantes33, a exemplo da interpretação geográfica das ‘doenças tropicais’

34

. A partir do final dos nos

1970, o conceito de ecossistemas em veterinária passaria a estabelecer vinculações entre a doença e seu contexto produtivo35,36, 37, 38, 39,40.

Esta visão dialética do processo saúde-doença se contrapõe a idéia ainda em voga de que “toda doença é resultado de mau manejo dos animais”. Para ilustrar, o protozoário Isospora suis só se tornou um importante patógeno em suínos após o advento da suinocultura industrial, a partir dos anos 197041. Na minha dissertação, encontrei associação entre caprinos soropositivos para toxoplasmose e os sistemas de produção. As frequências foram de 11,4, 36,1 e 62,9% de animais positivos nas criações extrativistas e extensivas de corte, nas criações especializadas na produção de leite/derivados e nas criações de subsistência das periferias urbanas, respectivamente. Observei, ainda, relação direta entre os níveis séricos (títulos) de anticorpos e frequência de animais positivos por rebanho; e não encontrei associação entre tais títulos e presença de sinais clínicos. A maior prevalência de animais e seus altos títulos na periferia urbana confirmaram o risco desta zoonose onde a ‘cabra de corda’ é a fonte de leite das famílias. Nós as instruímos, então, a não consumir leite cru. Esta metodologia permitiu ao nosso grupo registrar, também, diferentes prevalências de soropositivos para leptospirose, febre aftosa e língua azul segundo o sistema de produção caprina. Meu trabalho no DMVP da EV-UFMG concomitante à prestação de serviços na caprinocultura gerou uma série de relatos de casos e notificações inéditas, especialmente na área de parasitologia. Descrevemos, pela primeira vez, a ocorrência de Muellerius capillaris em caprinos de Minas Gerais, as espécies de Eimeria spp em caprinos de Minas Gerais e do Paraná e a prevalência de ectoparasitas em caprinos no estado de Minas Gerais, São Paulo e Paraná. 33

Vasco, 1975. Já citado. Pessoa, S.B. Ensaios Médico-Sociais. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1983. 380p. Rosenberg, J.F. Princípios de Epidemiologia. Rio de Janeiro: Centro Panamericano de Febre Aftosa, 1977. 89p. 36 Obiaga, J.A.; Rosenberg, J.F.; Astudillo, V.; Góic M., R. Las características de la producción pecuaria como determinante de los ecossistemas de fiebre aftosa. Boletim do Centro Panamericano de Febre Aftosa, n.33-34, p.33-42, 1979. 37 Tamayo, H.M. A estrutura de produção como determinante da saúde animal. Belo Horizonte, Escola de Veterinária da UFMG, 1981. 67p. (Dissertação de Mestrado). 38 Ministério da Agricultura. Serviço de Defesa Sanitária Animal. Plano de Controle e Erradicação da Febre Aftosa, Segunda Etapa 1983/1987, Brasília: MA, 1983. 82p. 39 Astudillo, V. Formas de organização da produção como determinantes do risco de febre aftosa. Hora Veterinária, v.3, n.17, p.1120, 1984. 40 Martins, C. Caracterização da febre aftosa no espaço catarinense. Belo Horizonte, Escola de Veterinária da UFMG, 1984. 139p. (Dissertação de Mestrado). 41 Worlicsek H.L.; Joachim, A. Neonatal porcine cocidiosis. In: Melhhorn, H. (Ed.) Progress in parasitology. Berlim: Springer, 2011. p.79. 34 35

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Memorial para Concurso Titular

2.3 - Treinamento em Caprinocultura Leiteira na França Em abril de 1983 tive a felicidade de ser enviada pela CAPRILEITE, com licença da UFMG, para um treinamento em Caprinocultura Leiteira na França. A França era e permanece sendo o referencial mundial de produção e transformação de leite de cabra e possui o mais extenso programa de melhoramento genético de caprinos leiteiros. Eu havia estudado francês no Colégio Nossa Senhora de Nazaré e vinha fazendo aulas particulares, o que me permitiu ter a aprovação no teste de proficiência que confirmou minha vaga neste treinamento, com bolsa do Centre International des Étudiants et Stagiaires – CIES, atualmente l’Association Égide42. Foi o primeiro treinamento do gênero promovido pelo então Institut Technique de l’Élevage Ovin et Caprin – ITOVIC de la Maison National des Éleveurs - MNE, atualmente La Filière Caprine43 de l’Institut de l’Élevage44. Deste treinamento participaram uma dezena de profissionais de diversas nacionalidades. Após reunião no ITOVIC, fomos ao Salon International de l’Agriculture45 (Île-de-France) e seguimos em visitas a instituições de pesquisa, rebanhos, feiras de animais e produtos, central de sêmen e indústrias, públicas e privadas. Fomos primeiramente à região de PoitouCharentes46 onde já predominavam grandes rebanhos confinados, submetidos a programas de melhoramento genético, com poucas queijarias artesanais e grandes indústrias de transformação de leite de cabra47; depois nos dirigimos para a ProvenceAlpes-Côte-d’Azur48 onde havia pequenos rebanhos semi-estabulados com produção essencialmente artesanal de queijos; e finalmente a região de Rhône-Alpes49 onde a criação era predominantemente de confinamento no inverno, aproveitamento de pastagens naturais nas montanhas na primavera-verão e a produção de queijos era majoritariamente artesanal. De volta a Paris fizemos uma avaliação oral e fomos enviados para os locais de estágio previamente escolhidos. Eu os fiz no Institut de l'Élevage et de Médecine Vétérinaire des Pays Tropicaux – IEMVT em MaisonsAlfort50, hoje parte do Centre de Coopération Internationale en Recherche Agronomique pour le Développement – CIRAD51 e, também, no Institut de la 42

http://www.afges.org/fr/12124107041445-sejours-internationaux-sous-une-nouvelle-egide-.html http://idele.fr/filieres/caprin.html http://www.idele.fr/ 45 http://www.salon-agriculture.com/ 46 http://draaf.poitou-charentes.agriculture.gouv.fr/statistique-agricole/IMG/pdf/2012_-_no_12_-Elevage_caprin_cle896c9e.pdf 47 http://www.journees3r.fr/IMG/pdf/2009_11_01_Jenot.pdf 48 http://hal.archives-ouvertes.fr/docs/00/89/59/17/PDF/hal-00895917.pdf 49 file:///H:/Documents%20and%20Settings/Administrador/Meus%20documentos/Downloads/article_ecoru_00130559_1997_num_242_1_4896.pdf 50 http://fr.wikipedia.org/wiki/%C3%89cole_nationale_v%C3%A9t%C3%A9rinaire_d'Alfort 51 file:///H:/Documents%20and%20Settings/Administrador/Meus%20documentos/Downloads/Instituts-origine%20(1).pdf 43 44

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Memorial para Concurso Titular Recherche Agronomique – INRA de Nouzilly. Este último é a sede das pesquisas que resultaram na reprodução assistida de caprinos52 e faz parte do complexo da sanidade animal na França53. Esta viagem foi, evidentemente, enriquecedora em todos os sentidos. Tive a oportunidade de conhecer in loco cabras portando dispositivos individuais para abertura de cocho em experimento de nutrição, no que vem a ser hoje chamado, três décadas depois, ‘zootecnia de precisão’. Rompi com alguns paradigmas, como a supremacia da qualidade industrial sobre a qualidade artesanal dos derivados de leite. Conheci o controle da qualidade sanitária do produto passando pela atestação sanitária do rebanho e não apenas do produto e, também, a certificação de produtos de origem animal passando pelas organizações locais de produtores. Marcaram-me, especialmente, a organização dos agricultores franceses e sua integração com as instituições de extensão, pesquisa e mercado.

2.4 - Responsável Técnica no Programa de Caprinocultura Comunitária do Projeto Metropolitano do Conselho de Extensão da UFMG

Entre 1984 e 1986 trabalhei54, também, no Programa de Caprinocultura Comunitária (PCC)55 do Projeto Metropolitano (PM) do Conselho de Extensão (Conex) da UFMG. Os estagiários trabalhavam sob a orientação de alguns servidores, entre eles, eu mesma, responsável pelo Projeto no Conjunto Habitacional Morro Alto e no Morro São José (Favela do Querosene). Mensalmente, íamos aos postos de atendimento que tínhamos nos bairros, tirávamos as dúvidas dos criadores, examinávamos e fazíamos o atendimento veterinário dos animais, e checávamos as fichas de distribuição e devolução de animais. O proprietário deveria retribuir a cabra recebida na forma de outra nascida sob seus cuidados, que repassávamos ao próximo morador da fila de espera. Semanalmente, os discentes bolsistas56 percorriam algumas casas no bairro e, em especial, a

52

file:///H:/Documents%20and%20Settings/Administrador/Meus%20documentos/Downloads/Prod_Anim_1999_12_2_05.pdf http://www.sa.inra.fr/ 54 Ofício Conex 281/84, de 11 de setembro de 1984 55 UFMG Diversa. Revista da Universidade Federal de Minas Gerais, v.5, n.11, 2007. Disponível em: https://www.ufmg.br/diversa/11/sociedade.html 56 Maria Letícia Vieira e Antônio Arnaldo - no Morro Alto; Paula Martins Carvalho, Elias Jorge Facury Filho e Maria Pia Souza Lima Mattos de Paiva Guimarães - no Morro São José. 53

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Memorial para Concurso Titular

sede do posto de monta, onde alocávamos um bode de genética superior à das cabras, com vistas ao melhoramento da produção de leite. O PCC teve por origem uma demanda da Associação de Moradores do Lindéia, um bairro operário com uma associação ativa, onde o PM-ConexUFMG já atuava. A solução de criar cabras, ao invés de distribuir o leite que as crianças do bairro careciam, foi proposta pelos próprios moradores no Lindéia, em reunião participativa, em 1983. A então Coordenadora do PM, Professora Maria Estela Neves Pereira57, procurou a EV-UFMG. O sucesso do programa chamou a atenção dos moradores do Conjunto Habitacional Morro Alto e do Morro São José. Estas duas últimas comunidades tinham características distintas do Lindéia, onde o projeto era facilmente conduzido. O Conjunto Habitacional Morro Alto surgiu para realocar os moradores das margens do ribeirão Arrudas, no centro da cidade, para longe das enchentes anuais e para ‘urbanização’ da área. Quando moravam no centro da cidade eles prestavam serviços diversos, inexistentes nos arredores do Morro Alto, e passaram a depender de transporte público. A natalidade infantil, o desemprego e o consumo de bebidas alcoólicas eram altos no bairro.

A

assistência de religiosos e de ‘benfeitores’ locais nos tomavam por concorrentes ‘na prerrogativa de atendimento à população’. Acostumados a ‘receber’, nos esforçávamos para fazê-los compreender que estávamos ali para distribuir ‘serviço’, ou seja, era preciso criar a cabra para ter o leite. No Morro São José não havia saneamento básico (um problema para a saúde humana e animal) e ocorriam delitos, inclusive contra os animais do Programa. Nestas ocasiões, os criadores nos chamavam e providenciavam, por vontade própria, os Boletins de Ocorrência em Delegacia. Na favela do Acaba Mundo alguns capris chegavam “a ser melhores que os próprios barracos”58. Estas diferentes localidades do PCC-PM-Conex-UFMG propiciam

a

reflexão

sobre

aos

desafios

da

Extensão Universitária,

particularmente da criação animal a ela associada, em realidades distintas. No final dos anos 1980, o PCC foi transferido para a Prefeitura Municipal de Belo Horizonte.

57 58

UFMG empresta cabras para que pobres tenham leite puro. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 19 de novembro de 1984. UFMG empresta cabras... (Já citado)

Professsora Théa M. Machado

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Memorial para Concurso Titular

2.5 – Outras funções desempenhadas No triênio 1984-1987 fui membro da Diretoria do Sindicato dos Médicos Veterinários de Minas Gerais59. De 1985 a 1990 fui membro do Conselho Técnico Deliberativo da Associação Mineira dos Criadores de Caprinos e Ovinos – OVICAPRI, filiada à CAPRILEITE60, inicialmente sob a Presidência do Dr. José Vianna de Assis e, na gestão seguinte, sob presidência do Sr. Sebastião Mozart Gomes Batista. Meu credenciamento para a execução do SRGC não tinha prazo de vigência, mas fui, gradualmente, deixando de exercê-lo, após minha saída de Belo Horizonte para Uberlândia. Nesta época, o Brasil estava sob as severas medidas econômicas estabelecidas com o ‘Plano Cruzado’61.

59

Ata de Posse, 28 de setembro de 1984. Ata da Assembléia Geral de Criação da Associação Mineira dos Criadores de Caprinos e Ovinos – OVICAPRI, de 15 de setembro de 1985, com registro no 64.966 no Cartório Jero-Oliva, em Belo Horizonte, MG, em 03 de junho de 1986. 61 http://pt.wikipedia.org/wiki/Plano_Cruzado 60

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3. Docente do Ensino Superior “Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina.” (Cora Coralina)

3.1. Docente na Universidade Federal de Uberlândia - UFU A Universidade de Uberlândia (UnU) foi autorizada a funcionar em 14 de agosto de 1969 pelo Decreto-lei nº 762, reunindo os cursos de graduação isolados ou de faculdades isoladas. A UnU se tornou Fundação Universidade Federal de Uberlândia (UFU) através da Lei no 6.532, de 24 de maio de 1978. Nos anos de 1980, a UFU passou a ser uma referência regional em excelência educacional. Em abril de 1999, o MEC aprovou o novo estatuto da Universidade Federal de Uberlândia - UFU, que estabeleceu a criação de Unidades Acadêmicas – ‘Faculdades’ e ‘Institutos’ desaparecendo os ‘Centros’ aos quais se vinculavam os ‘Departamentos’, desde a sua Federalização62. A Faculdade de Medicina Veterinária, criada em 1971 na cidade de Tupaciguara, foi incorporada à UnU em janeiro de 197363. No ano seguinte, o Conselho Universitário aprovou a transferência do Curso de Veterinária para Uberlândia. O Curso de Graduação em Agronomia foi aprovado pelo Conselho Universitário em 12 de janeiro de 198464 e o de Zootecnia, em 28 de abril de 200965. Em meados de 1986, a UFU abriu concurso para as disciplinas de Pequenos Ruminantes e de Bubalinocultura no Departamento de Produção Animal. Foram membros da banca examinadora os Professores João Barisson Villares66 (UNESP), o Professor José de Alencar Carneiro Viana67 (UFMG) e o Professor Luiz Eustáquio Barbosa68 (UFU). Assumi a vaga em setembro de 1986. Creio ter sido a primeira cátedra de Bubalinocultura no estado de Minas Gerais e testemunho, desde então, o entusiasmo dos discentes para com esta

62

http://www.ufu.br/pagina/sobre-ufu http://www.portal.famev.ufu.br/node/3 64 http://www.iciag.ufu.br/node/6 63

UFU Resolução nº 05/2009 do Conselho Universitário de 28/04/2009. Disponível em http://www.reitoria.ufu.br/Resolucoes/resolucaoCONSUN-2009-5.pdf 65

(a)

66

http://www.anav.org.ar/index.php?option=com_content&view=article&id=152:barisson-villares-joao-dr-mv&catid=44:correspondientes-fallecidos-&Itemid=71 67 http://www.vet.ufmg.br/institucional/ex_diretores/ 68 http://www.fundap.ufu.br/node/16

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cultura zootécnica. Passei a frequentar eventos sobre ovinocultura e bubalinocultura e, para estas espécies, elaborei apostilas de textos compilados como material didático para os alunos, enquanto para o conteúdo de caprinocultura redigi um texto inédito. A UFU já tinha um pequeno capril e possuía ovinos e bubalinos para os quais montei a infra-estrutura de manejo e assumi a responsabilidade técnica. Caprinos e bubalinos ficavam na Fazenda Capim Branco69 e os ovinos na Fazenda do Glória, hoje elevada ao status de Campus70 e para onde os caprinos foram, posteriormente, levados. As Fazendas estavam sob a tutela da Fundação de Desenvolvimento Agropecuário - FUNDAP71. A mão-de-obra das fazendas não era treinada a seguir protocolos de experimentação, o número de animais era reduzido por faixa etária e gênero, e a UFU ainda não tinha um Programa de Pós-Graduação em Veterinária, Agronomia ou Zootecnia. A pesquisa ficava vinculada aos estagiários e bolsistas de Iniciação Científica e, a partir de 1996, também aos Trabalhos de Conclusão de Curso de Graduação – TCC. Neste contexto, direcionei meus esforços para obtenção dos primeiros índices

reprodutivos

e

produtivos

de

caprinos,

ovinos

e

bubalinos,

principalmente no Triângulo Mineiro, bem como para a caracterização dos sistemas de produção de caprinos e bubalinos no Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba72. Associávamos o abate anual de bubalinos da UFU, em um frigorífico municipal, à prática da disciplina de Tecnologia e Inspeção de Produtos de Origem Animal, quando realizávamos a coleta de dados de rendimento de carcaça, avaliação de cortes primários, cortes comerciais e de não componentes da carcaça bubalina, que também nos renderam algumas publicações. Obtive bolsas de Iniciação Científica – IC em meus projetos, primeiramente como bolsa-balcão73 (onde o pesquisador submetia suas propostas individualmente) e, em seguida, das cotas74 que a Instituição obteve. Em 1988, participei da Comissão de Andrologia e Defesa Sanitária Animal, do CBRA, para elaborar subsídios ao Ministério da Agricultura sobre critérios para 69

http://www.fundap.ufu.br/node/8 http://www.campusgloria.ufu.br/node/106 71 http://www.fundap.ufu.br/node/1 72 FAPEMIG processo CAG2683/97 73 CNPq processo no. 802348-88-2 74 UFU – Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação, Diretoria de Pesquisa - Processos 37/90, 125/96, 126/96, 147/97, 149/97, 030/98, 057/99 70

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doadores de sêmen e embriões e padrões de sêmen de caprinos e ovinos. Em 1990, coordenei a Segunda Sessão Técnica do I Seminário de Iniciação Científica da UFU – SEMIC 90. Dois anos após minha admissão, fui eleita chefe de Departamento para o

exercício

1988-199075.

Reitero

agradecimentos

aos

meus

colegas

professores e técnico-administrativos pelo enorme apoio recebido durante minha gestão. Eu não desejei renovar minha permanência na chefia, pois tinha por meta o Doutoramento. Com meu ingresso em um Departamento de ‘Produção Animal’ eu havia deixado as subáreas de Medicina Veterinária por aquelas da Zootecnia. Decidi fazer meu doutorado em Genética e Melhoramento Animal, na França. Em 1987, por ocasião da IV International Conference on Goat, contatei alguns pesquisadores do INRA para iniciar meu projeto de doutoramento. Eu deveria esperar o término de meu período probatório na UFU e organizar minha saída do ponto de vista operacional. Enquanto isto, pelo então chamado ‘sistema balcão’ do CNPq, obtive76 a vinda Dr. Jean Jacques Lauvergne77 à UFU e minha ida ao INRA de Jouy-en-Josas78, Laboratoire de Génétique Factorielle, como pesquisadores visitantes. Entre outubro de 1989 e março de 1990, fiz 880 horas de treinamento supervisionado, em “recursos genéticos animais”, mais voltado à manutenção da diversidade genética com vistas à conservação do que ao melhoramento genético aplicado. Visitei, sob a assistência do Centre d’Écopathologie Animale79, um rebanho caprino Saanen, nas proximidades de Lyon. Conheci o rebanho de ovinos da raça Mérinos de Rambouillet80 na Bergerie Nationale de Rambouillet81. Assisti à Confrontation Internationalles de Races Ovines Mediterranéénes (exposição e Colóquio) da Semaine International de l’Agriculture por ocasião do Concours Générale Agricole de Paris, março de 1990. E encontrei o Brasil sob as reformas econômicas do ‘Plano Collor’ 82.

75

UFU Portaria R no 566/88, de 16 de dezembro de 1988 CNPq Processo no 40.4897/87.8 77 http://www.worldcat.org/identities/lccn-n90653271/ 78 http://www.jouy.inra.fr/ 79 Existiu de 1984 a 1996 em Villeurbanne, Departamento do Rhône, França 80 http://www.agroparistech.fr/svs/genere/especes/ovins/merramb.htm 81 http://www.bergerie-nationale.educagri.fr/ 82 http://pt.wikipedia.org/wiki/Plano_Collor 76

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No período 1988-1991 fiz parte da Comissão de Ensino, Pesquisa e Extensão do Conselho de Medicina Veterinária de Minas Gerais, então sob a Presidência do Professor Francisco Cecílio Viana83. Entre minha chegada à UFU e minha saída para doutoramento, eu havia proferido palestras em 16 diferentes eventos no país.

3.2 Doutoranda na Université de Paris e l’Institut National e la Recherche Agronomique – INRA Retornei à França para o doutoramento em outubro de 1991, com uma bolsa ‘balcão’ do CNPq84. Matriculei-me na Université de Paris-Sud85 no Programa de Génétique Quantitative et des Populations, em parceria com o INRA de Jouy-en-Josas, Laboratoire de Génétique Factorielle, hoje parte da Unité Mixte de Recherche – UMR 1313 GABI - Génétique Animale et Biologie Integrative86, sob a orientação do Dr. Jean Jacques Lauvergne. Durante meu doutoramento participei do II Workshop in Genetic Nomenclature of Farm Ruminant87, da Journée d’Études sur le logement des animaux88 organizada pela Sociéte d'Ethnozootechnie89, do Forum AgroIndustriel Europe/Amerique Latine – EUROPALIA’9490, do Colloque Realités Economiques des Filières Caprines Européennes91. Realizei visitas técnicas a l’Association d’Ovicaprinae de Provence92 e

l’Association de Défense des

Caprins du Rove (ADCR)93, na companhia de meu orientador. Participei

de

viagem

de

estudos

organizada

pela

Societé

de

Ethnozootechnie ao Departamento do Cantal, região conhecida por HauteAuvergne, no Maciço Central francês. Visitamos três queijarias, uma industrial e duas artesanais; três rebanhos bovinos, dois da raça Aubrac94 e um da raça

83

http://lattes.cnpq.br/8430479614642020 CNPq Processo 200085/91-3 85 http://www.u-psud.fr/fr/index.html 86 http://www6.jouy.inra.fr/gabi 87 http://hal.archives-ouvertes.fr/docs/00/89/39/57/PDF/hal-00893957.pdf 88 Ethnozootechnie, n.51, 1993. Disponível em http://www.ethnozootechnie.org/publications/revue-ethnozootechnie/article/no51-lelogement-des-animaux 89 http://www.ethnozootechnie.org/spip.php?page=sommaire&lang=fr 90 http://www.uia.be/meetings/670937/19941020__forum-agro-industriel-europe-am%C3%A9rique-latine 91 http://www.worldcat.org/title/realites-economiques-et-techniques-des-filieres-caprines-europeennes-actes-du-colloque-paris-2mars-1995/oclc/635816575 92 Animal Genetic Resources Information, n.29, p.62, 2001. Disponível em ftp://ftp.fao.org/docrep/fao/012/y0741t/y0741t02.pdf 93 Animal Genetic Resources Information, n.29, p.61-69, 2001. Disponível em ftp://ftp.fao.org/docrep/fao/012/y0741t/y0741t02.pdf 94 http://www.race-aubrac.com/fr/race/caracteristiques.php 84

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Salers95; um rebanho da raça ovina Bizet96; uma suinocultura com produção artesanal de embutidos; e dois museus: a Maison du Buronnier97 e o Ecomusée de la Margueride98. Participei, também, de visitas técnicas organizada pela ONG Formation pour l’Épanouissement et le Renouveau de la Terre (FERT)99. Nela, refizemos aproximadamente o percurso em caprinocultura leiteira organizado pelo ITOVIC havia 12 anos. Constatei o aumento de número de cabras/rebanho, o progresso genético e tecnológico nos rebanhos e o aprimoramento das organizações representativas do setor em todas as regiões visitadas. Estive na V International Conference on Goats, em Delhi, Índia, como co-autora de uma apresentação oral e apresentadora de pôsteres; e participei de visita post-conference à província de Uttar Pradesh (por ocasião da National Goat Fair com exposição de trabalhos do Central Institute for Research on Goats100); e às províncias do Rajastão e do Maharashtra. Em todas as localidades tivemos contato com raças locais de bubalinos, caprinos, ovinos e zebuínos, de pecuaristas nômades e sedentários, e com alguma fauna silvestre. Meu projeto de doutorado consistiu na caracterização genética das populações caprinas no Brasil, suas origens, relações filogenéticas, diversidade genética intra e entre raças/tipos e distribuição geográfica no Brasil. Como boa parte das raças ‘naturalizadas’ tem distribuição no Nordeste, submeti meu projeto à Embrapa Caprinos, que me orientou enviá-lo à Embrapa Recursos Genéticos. A parte de laboratório não foi financiada, mas consegui, com o apoio das duas unidades e de recursos próprios, deslocar-me para a coleta de material no estado do Ceará. Aprofundei-me no estudo do povoamento de animais de produção no Brasil desde o período colonial, frequentando, particularmente, a Bibliotèque Pierre Monbeig101, de l’Institut de Hautes Études de l’Amérique Latine –

95

http://www.salers.org/ http://www.races-ovines-des-massifs.com/fr/description-races/bizet/organisation-selection.php http://maisonduburonnier.wordpress.com/ 98 http://www.pays-saint-flour.fr/fr/il4-preparez,activite_p106-ecomusee-de-margeride-haute-auvergne.aspx?Cle=ILIVE-CANTALACTCULT-81 99 http://www.coordinationsud.org/membre/fert-formation-pour-lepanouissement-et-le-renouveau-de-la-terre/ 100 http://www.cirg.res.in/ 101 http://www.iheal.univ-paris3.fr/fr/biblioth%C3%A8que/biblioth%C3%A8que-pierre-monbeig 96 97

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IHEAL102, uma unidade de l’Université Sorbonne Nouvelle, que se resultou na primeira parte de minha tese. Meu trabalho passou a ganhar, cada vez mais, uma vertente etnozootécnica, que era do gosto do meu orientador e cujo valor eu reconhecia. Tornei-me, por sua recomendação, membro da Société d’Ethnozootchnie - SEZ103. Realizei, na segunda parte da tese, entrevistas estruturadas com brasileiros que trabalhavam com caprinocultura; cartografia com dados de diversas fontes sobre a geografia física e humana e dos efetivos animais, para compreender a distribuição histórica dos caprinos no Nordeste; análises de agrupamento das frequências alélicas de caracteres morfológicos dos caprinos do Ceará e de populações européias e marroquinas, que resultaram nos primeiros dendrogramas com populações caprinas brasileiras na literatura. Minha tese foi intitulada “Le peuplement des animaux de ferme et l’élevage de la chèvre au Brésil avec une étude du polymorphisme visible de la chèvre du Ceará”104 e defendida em 04 de outubro de 1995. Foram membros da banca meu orientador (a norma de l’Université de Paris é de apenas um representante do Departamento onde a tese foi realizada), Professeur Jean Génermont105 (então responsável por autorizar por escrito nossas matrículas semestrais no Doctorat en Génetique de l’Université de Paris-Sud e, para isto, eu lhe relatava verbalmente o andamento dos trabalhos e levava cartas de avaliação

de

meu

orientador),

Professor

Jacques

Bougler106

(de

l’Institut National Agronomique – INA, Paris), Professor Frédéric Mauro107 (de l’Université de Paris Ouest - Nanterre, a quem eu vi esta única vez) e Professor Carlo Renieri108 (então na Università degli Studi de Perugia109 e hoje diretor110 da Scuola di Scienze Ambientali, Università di Camerino, Itália). Na França, a banca realiza um parecer no relatório de defesa, que me foi o seguinte:

102

http://www.iheal.univ-paris3.fr/fr/apropos/liheal-historique-et-missions http://www.ethnozootechnie.org/spip.php?page=sommaire&lang=fr 104 Résumé disponível em https://www.academia.edu/7985056/Resume_Le_peuplement_des_animaux_de_ferme_et_lelevage_de_la_chevre_au_Bresil_avec_ une_etude_du_polymorphisme_visible_de_la_chevre_du_Ceara 105 http://www.universalis.fr/auteurs/jean-genermont/ 106 http://www.zootechnie.fr/in-memoriam/jacques-bougler.html 107 Marin, R. Mauro, Frédéric (1921-2001). Encyclopædia Universalis [en ligne], consulté le15 août 2014. Disponível em http://www.universalis.fr/encyclopedie/frederic-mauro/ 108 http://www.sibillini.net/attivita/progetti/agricoltura/il_gruppo/CVCarloRenieri.htm 109 http://www.unipg.it/en/ 110 http://www.unicam.it/ateneo/strutture/Scuole/scienze_ambientali.asp 103

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“Mademoiselle Machado a fait une présentation très vivante, claire et bien documenté de son travail, qui a donnée lieu à une discussion de haut niveau avec le jury”.

3.3 - Retorno à UFU e reconhecimento pelos meus trabalhos De volta à UFU, montei o processo111 de reconhecimento do Doutoramento do exterior, que foi aprovado pela Comissão constituída pelos Professores Sílvia de Castro Martins112 (Presidente), Betina Ribeiro Rodrigues da Cunha113 e David George Francis114, bem como pelo relator Professor Luiz Carlos Travaglia115. Depois de quatro anos sem vir ao Brasil, estava ávida por me interar pessoalmente do que se passava nos congressos científicos nacionais, dos quais participei ativamente. Tornei-me membro da Sociedade Brasileira de Genética116, por recomendação do Professor Warwick Estevam Kerr117. Em 1998, fui debatedora no V Encontro Nacional para a Espécie Caprina, na UNESP Botucatu, e tive a honra de ser Professora Homenageada pelos Formandos da XXXVIII Turma de Médicos Veterinários da UFU. Em 1999 fui convidada como palestrante no I Congresso Latinoamericano de Especialistas em Pequeños Rumiantes y Camélidos Sudamericanos, em Montevidéu,

Uruguai,

quando

fundamos

a

respectiva

Associação

-

ALEPRYCS118. Também em 1998, recebi um convite para exercer a função de Chairperson na VII Internacional Conference on Goats - ICG, realizada na França em maio de 2000. Coube a mim, organizar e presidir a Mesa Redonda: Genetic resources: present use and prospects. Como Membro do Comitê Científico da VII ICG, relatei diversos papers e abstracts. Também fiz apresentação oral no Simpósio Técnico Programmes de Sélection des Caprins Laiters, que ocorreu na sequência da VII ICG, e cujo texto foi publicado na

111

Processo 18/96, de acordo com a Resolução no 6/93 de 30/04/1993 do Conselho Universitário da UFU. http://www.feq.ufu.br/index.php?type=ler&menu=10&n=49 http://lattes.cnpq.br/0504371515180190 114 http://lattes.cnpq.br/5027181842518181 115 http://lattes.cnpq.br/0436911150907624 116 http://sbg.org.br/ 117 http://lattes.cnpq.br/4131301582982867 118 http://www.aleprycs.net/documents/21709/80c8ce25-24ab-4492-ae69-bb05dcd7aa1a 112 113

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Revista Reussir La Chèvre119, sob o título ‘Élevage caprin et sélection au Brésil’. Minhas despesas foram custeadas em parte pelo CNPq120 e, em parte, pela organização do evento. Em 1999 ministrei a disciplina ‘Tópicos Especiais em Recursos Genéticos de Animais Domésticos’ para o Curso de Pós-Graduação em Zootecnia,

área

de

concentração

em

Produção

Animal,

da

UNESP

Jaboticabal121. Durante minha permanecia na UFU realizei visitas técnicas semestrais com os alunos nos setores de caprinocultura, ovinocultura e bubalinocultura, tanto das fazendas da UFU como em outras fazendas; em laticínios e frigoríficos, instituições de pesquisa e exposições agropecuárias, de modo a aproximá-los do universo de estudo. Em fins de 1999, completei quatro anos de retorno do Doutoramento à UFU e solicitei lotação provisória na Universidade Federal de Viçosa (UFV), por motivo de acompanhamento do cônjuge, o que me foi concedido. Eu havia chegado a Uberlândia havia 13 anos, sem nenhum conhecimento da cidade ou da UFU, e deixei-a com amizades que perduram até hoje.

3.4 - Lotação provisória na Universidade Federal de Viçosa - UFV Em 2000, coordenei a publicação do número 15 da Revista ‘Ação Ambiental’, da Pró-Reitoria de Extensão da UFV, intitulada: “Raças naturalizadas brasileiras. Recursos genéticos animais no Brasil”. Tornei-se membro da Sociedade Brasileira de Zootecnia – SBZ e participei da XXXVII Reunião Anual da Zootecnia, em Viçosa. No mesmo ano, participei da 5th Global Conference on Conservation of Domestic Animal Genetic Resources122, em Brasília e, em 2001, do III Simpósio de Recursos Genéticos para a América Latina e Caribe - SIRGEALC123, em Londrina; em ambos os casos com o apoio da FAPEMIG. Seção 1.01 No Departamento de Zootecnia (DZO) assumi as novas disciplinas de ‘Culturas Zootécnicas não Tradicionais’ em 2000 e a disciplina de

119

Paris, n.239, p. 24-25, 2000. CNPq Processo no 450354/00-8 UNESP Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Atestado no 319/99-PA 122 FAPEMIG processo CAG 736/2000 123 FAPEMIG processo CAG 1479/2001 120 121

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‘Bubalinocultura’ tanto na Graduação como na Pós-Graduação (‘Problemas Especiais III’) a partir de 2001. Em maio de 2002, ministrei um curso de extensão intitulado ‘Fauna e Biodiversidade’, pelo Centro de Ensino e Extensão da UFV, com 45 horas/aula. Minha lotação provisória na UFV havia sido acordada com meu consentimento em continuar ministrando as disciplinas de graduação na UFU, de forma concentrada, e eu o fiz de 2000 a 2002. Por meio do Edital Público 19/2002, a UFV abriu concurso docente para o Departamento de Zootecnia124 nas áreas de ‘Animais Silvestres, Ovinocultura e Bubalinocultura’. A banca examinadora foi constituída pelos Professores Aloizio Soares Ferreira (Presidente, DZO/UFV)125, Antônio Bento Mâncio126 (DZO/UFV) e Juan Ramon Olalquiaga Perez127 (Universidade Federal de Lavras - UFLA). Fui nomeada em 1º de julho do mesmo ano128, quando solicitei vacância do cargo na UFU.

3.5 - Docente na UFV A disciplina de ‘Ovinocultura’ na Graduação passou a ser oferecida a partir do segundo semestre de 2002, acrescida às demais que eu já ministrava. Fui credenciada orientadora no Curso de Pós-Graduação em Zootecnia e passei a orientar, também, na modalidade ‘Vivência Empresarial’, uma antiga versão do atual TCC no Projeto Pedagógico do Curso (PPC) de Graduação em Zootecnia da UFV. Na disciplina ‘ZOO493 - Culturas Zootécnicas não Tradicionais’, a demanda dos alunos concentrava-se na criação de fauna silvestre. Este tema, do ponto de vista zootécnico apresenta inúmeros desafios. A Lei brasileira no5.197, de 1967, conhecida como de ‘Lei Proteção à Fauna, prevê o manejo da fauna com fins industriais. A regulamentação da atividade e a possibilidade de comercialização só ocorreram, conjuntamente, com as Portarias nos 117 e 118129, em 1997, pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente – IBAMA. Esta defasagem de 30 anos, entre a Lei e sua regulamentação com vistas ao comércio, não propiciou as pesquisas zootécnicas para com a fauna silvestre 124

UFV processo 004720/2002 http://lattes.cnpq.br/9378664604087334 126 http://lattes.cnpq.br/2049973151671395 127 http://lattes.cnpq.br/3683841585212260 128 UFV Campus Oficial, Ano 34, no. 66, 31 de julho de 2002. 129 Substituída pela Portaria no169 do IBAMA, em 2008 125

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brasileira; seu conhecimento, até o início do século XXI, era do âmbito da Biologia e da Medicina Veterinária. Muito da aplicação à criação da fauna silvestre com fins comerciais adveio de adaptações de manejo em cativeiro com finalidade conservacionista e há carência de índices zootécnicos confiáveis. Esta disciplina foi, para mim, um enorme desafio desde que cheguei, em lotação provisória, à UFV. Entre a ‘aprendizagem mecânica’ ou ‘decoreba’ e a ‘aprendizagem significativa’130, meu próprio método de apreensão do conhecimento é o segundo. No que diz respeito à fauna silvestre, aprofundei-me na literatura e em visitas a campo, assim como eu fizera para todas as disciplinas que eu trabalhara anteriormente, de modo autodidata. Este amadurecimento me levou a oferecer, a partir de 2005, o conteúdo almejado pelos alunos sob as designações de ‘ZOO 494 – Criação Comercial da Fauna Silvestre’ e ‘ZOO 495 - Conservação da Fauna Silvestre’. Se o manejo zootécnico das espécies silvestres com fins comerciais ainda carece de dados, a teoria da conservação da fauna dispõe de um enorme arsenal à disposição dos estudiosos. Lanço mão, também, dos conhecimentos que eu havia adquirido em genética da conservação para transmitir as noções de biodiversidade, status populacional, risco de extinção, dinâmica populacional, fluxo gênico, entre outras. Discorrer sobre o papel do gestor da fauna se assemelha a discorrer sobre o papel do extensionista na pecuária, na medida em que cabe ao ator discernir os juízos de valor (para o qual não há certo nem errado) dos juízos técnicos. No manejo da fauna silvestre existe, contudo, um maior peso dos juízos de valor e das disposições legais e suas regulamentações pelos órgãos competentes, que na fauna doméstica. Além disto, a fauna silvestre está no âmbito do Ministério do Meio Ambiente (exceto para questões de Defesa Sanitária Animal) e a fauna doméstica se encontra no âmbito do Ministério da Agricultura. Estas particularidades conferem a estas disciplinas uma visão particular no contexto dos PPCs de Graduação em Zootecnia. O Departamento de Zootecnia da UFV não dispunha de um setor de ovinocultura, bubalinocultura ou fauna silvestre. A demanda de meus primeiros orientados na Pós-Graduação em Zootecnia foi em realizar pesquisa com 130

Braathen, P.C. Aprendizagem mecânica e aprendizagem significativa. Revista Eixo, v.1, n.1, p.74-86, 2012.

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fauna silvestre, razão da introdução de emas (Rhea americana) em cativeiro na Fazenda Cachoeirinha da UFV, no início de 2004. Os primeiros experimentos nos levaram a desenvolver uma sacola-fralda impermeável para coleta total de excretas das emas, que foi objeto de depósito131 no Instituto Nacional de Propriedade Intelectual – INPI, em junho de 2005. Ainda em 2005, organizei e presidi, com o auxílio dos estudantes, o ‘Simpósio de Conservação e Produção de Animais Silvestres – SIMAS’, no Campus da UFV, em Viçosa. Em 2006 coordenei o número 35 da Revista ‘Ação Ambiental’, da Pró-Reitoria de Extensão da UFV, intitulada: “Fauna silvestre brasileira: um recurso natural?”, publicado em janeiro-fevereiro de 2007. O setor de rheacultura propiciou pesquisas e estágios até 2009, quando o Colegiado do Departamento decidiu pela doação das emas e priorizou a implantação do setor de Ovinocultura132. Assim como eu fizera para as disciplinas na UFU, elaborei material didático para as disciplinas que ministrei na UFV, onde dispomos de um pavilhão virtual de aulas - PVANet133. Para cada disciplina da graduação disponibilizo conteúdo de sala de aula na forma de slides, e conteúdo não presencial constituído de artigos técnicos, científicos e de atualidades. Para as disciplinas de Pós-Graduação disponibilizo, principalmente, artigos científicos classificados por subáreas do conhecimento. A cada semestre, assim como ocorria na UFU, realizo visita técnica a campo

(sítios,

zoológicos,

fazendas,

instituições

de

laticínios, pesquisa,

abatedouros, fábricas

parques

ecológicos,

ração,

exposições

de

agropecuárias), com meus discentes da Graduação, e interessados da PósGraduação. Em 2003, apresentei no V Congresso Pernambucano de Medicina Veterinária e IV Seminário Nordestino de Caprino-Ovinocultura, palestra intitulada ‘Marcadores genéticos na conservação e melhoramento de caprinos’. Nela relatei os resultados de trabalhos que conduzia há 16 anos, particularmente com as colaborações de meu orientador de doutorado no INRA e do grupo da Professora Eucléia Primo Betioli Contel134, do Departamento de

131

INPI Processo no PI0502780-2 DZO/UFV Ata 448 de 03/04/2009. 133 https://www2.cead.ufv.br/sistemas/pvanet/geral/login.php 134 http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?metodo=apresentar&id=K4783116P9 132

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Genética135 da Escola de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo – USP. A partir de então, estabeleci também uma parceria com a Dra. Adriana Mello de Araújo136, Pesquisadora da Embrapa, na área de recursos genéticos de pequenos ruminantes. Em 2004, criei e passei a liderar, no ‘Diretório de Grupos de Pesquisa no Brasil’ – Lattes, do CNPq, aquele intitulado ‘Produção Animal Sustentável’137, reconhecido pela UFV. Entre 2004 e 2007, a maior parte de minhas publicações versou sobre fauna silvestre, produto das orientações de alunos e das respectivas pesquisas. Era hora de reciclar, depois de sete anos lotada na UFV, tendo assumido novas disciplinas. Eu era membro da Comissão de Extensão do DZO desde 2003 e solicitei, então, afastamento desta função, bem como de responsável técnica no setor de Animais Silvestres/Rheacultura.

3.6 Visiting Scholar na University of Western Australia Em meu pós-doutoramento, fiz opção por um país de língua inglesa e de uma instituição onde eu pudesse associar a pesquisa com ovinos e fauna silvestre. Isto se tornou possível sob a supervisão do Professor Graeme Bruce Martin138, então chefe da School of Animal Biology139, Faculty of Natural and Agriculture Science140, University of Western Austrália - UWA141. Uma vez mais, obtive a modalidade ‘bolsa-balcão’

142

, desta feita on-line. Quando recebi

o resultado da Capes eu já estava comprometida com o oferecimento de disciplinas no primeiro semestre de 2007 da UFV, de modo que pude usufruir apenas sete dos doze meses inicialmente previstos. Meu projeto consistiu em testar a eficácia da introdução de fêmeas na presença

de

machos,

antes

solitários

(dito

‘efeito

fêmea’),

no

desencadeamento da atividade reprodutiva. Quatro carneiros foram alojados individualmente e suas baias foram intercaladas por baias com uma ovelha. Quatro outros carneiros (testemunhas) não tiveram contato com as ovelhas. Os 135

http://rge.fmrp.usp.br/ http://lattes.cnpq.br/4024762174671629 137 dgp.cnpq.br/dgp/espelhogrupo/3783633722737380 138 https://www.socrates.uwa.edu.au/Staff/StaffProfile.aspx?Person=GraemeMartin 139 http://www.animals.uwa.edu.au/ 140 Atualmente, Faculty of Science. Disponível em: http://www.science.uwa.edu.au/ (b) 141 http://www.uwa.edu.au/ 142 CAPES Processo BEX 5207/06-1 136

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carneiros foram eutanasiados com overdose de barbitúricos e tiveram seus cérebros prontamente removidos. Seus hipotálamos congelados foram seccionados em criostato. As lâminas de tecidos foram submetidas à imunocitoquímica para análise de células c-fos, como marcadoras de neurogênese resultante do ‘efeito fêmea’. Os resultados da contagem de células c-fos positivas (núcleo verde) entre tratamentos foram analisados por testes de médias (Tukey, 5%). Despendi a maior parte de meu tempo no Campus de Crawley, para execução do trabalho laboratorial em neurogênese e, também, com vistas a elaborar um artigo sobre ratitas. Realizei treinamento em crioscópio e os resultados da neurogênese foram imediatamente submetidos ao International Congress on Animal Reproduction - ICAR, realizado em 2008, em Budapeste143. Meus esforços para reunir dados sobre ratitas resultaram em palestra na 48ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia, em Belém, com a respectiva publicação, em 2011. Além disto, participei de pesquisa de comportamento maternal de ovinos Merinos na Allandale Farm, localizada nas proximidades de Wundowie e presenciei coletas de sêmen de emus (Dromaius novaehollandiae) com vagina artificial para estudos de sazonalidade reprodutiva, na estação experimental (Field Station) em Shenton Park. Ambas as unidades experimentais pertencem a UWA e vêm sofrendo modificações144. Assisti, no campus de Crawley da UWA, a dez aulas (públicas ou livres), sete seminários, o Fórum Industrial ‘Innovations in Animal Production to Meet Consumer Expectations’, e os mini-Simpósios ‘Environmental Economic’ e ‘Frontiers in Agriculture’. No Perth Zoo, assisti ao ‘Western Australia Endocrine and Reproductive Sciences Symposium’, promovido pela Endocrine and Reproductive Society of Western Australia - ERBSWA. No Parque de Exposições de Claremont, assisti ao ‘Perth Royal Show’

145

promovido pela Royal Agriculture Society of WA, com diversas

competições, inclusive de tosquia de ovinos; exposição de animais e dos mais diversos produtos da agropecuária da Austrália Ocidental, de modo artisticamente apresentados.

143

doi.: 10.1111/j.1439-0531.2008.01234.x http://www.animals.uwa.edu.au/facilities 145 http://www.perthroyalshow.com.au/ 144

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3.7 Retorno à UFV - Ouroboros De volta a UFV, em parceria com o Professor Ciro Alexandre Alves Torres146, coordenei o projeto intitulado “Efeito de flushing nutricional em protocolo de superovulação em vacas da raça Gir Leiteiro sobre o desenvolvimento in vivo de hemiembriões”147. Nele, supervisionei um Pós-Doutorando148 e uma Iniciação Científica149, Além destes três financiamentos, obtive auxílio individual para apresentação de parte deste trabalho (e de outro do meu pós-doutoramento) no III International Symposium on Animal Biology of Reproduction - ISABR, em Águas de São Pedro, em 2010150. Em 2009, tive a oportunidade de abordar o tema do grupo que lidero no Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq, ‘Produção Animal Sustentável’, por ocasião do I Simpósio Brasileiro de Agropecuária Sustentável, em Viçosa; sob o título “Animais domésticos de raças locais e fauna silvestre como recursos na pecuária sustentável”. Desde 2006, temos trabalhado na possibilidade de consorciação da cafeicultura da Zona da Mata Mineira, com a ovinocultura. Um destes trabalhos propiciou uma dissertação151 na Universidad de Valladolid152, Espanha, para um de nossos ex-alunos, e uma bolsa de PIBEX/UFV153. O desenvolvimento da ovinocultura na Zona da Mata Mineira só agora começa dar os primeiros passos. Houve demanda desta disciplina pelos pós-graduandos, oferecida como ‘Problemas Especiais’ - ZOO 795 em 2010 e ZOO 796 em 2014. Em parceria com a Professora Margarida Maria Nascimento Figueiredo de Oliveira154, da Universidade Federal dos Vales do Jequinhonha e Mucuri - UFVJM155, e financiamento do Banco do Nordeste do Brasil BNB156, estamos realizando pesquisas com pequenos ruminantes, também naquela região.

146

http://lattes.cnpq.br/9933875438761784 FAPEMIG Processo APQ 1669/08 148 FAPEMIG Processo CVZ 00334-09 149 PIBIC/CNPq/UFV 109425/2009-0 150 FAPEMIG Processo PEP 00756 151 Intitulada ‘Propuesta de un modelo asociativo para la introducción de un sistema de producción conjunta ovino-café en áreas de montaña en Brasil. Una aplicación a la región de Araponga’. Por Nilo Batista de Lima Júnior, com beca do Banco Santander. Defendida em 2010 152 http://www.uva.es 147

153

Beneficiário: Marco Aurélio Schiavo Novaes, em 2010 http://lattes.cnpq.br/2747153611320123 155 http://www.ufvjm.edu.br/ 156 ETENE/FUNDECI 154

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Memorial para Concurso Titular Em 2010, obtive financiamento para apresentação de trabalho no International Symposium on Sustanaible Animal Production in the Tropics - SAPT, na Guadalupe, França157.

Nesta ocasião, uma doutorada158 nossa coletava material de tese na

República do Cabo Verde, em parceria com a Embrapa, que nos rendeu, em 2011, a “Ordem do Mérito Científico em Agropecuária Sustentável” durante o III Simpósio Brasileiro de Agropecuária Sustentável, em Viçosa. Como persisti, após meu doutoramento, com os estudos etnozootécnicos e sobre os recursos genéticos caprinos, eles têm sido motivo de palestras. Abordei-os sob diferentes perspectivas no I Simpósio Brasileiro de Cartografia Histórica, em Paraty - 2011; no VIII e no X Workshop de Produção de Caprinos na Região da Mata Atlântica, em Coronel Pacheco – 2011 e 2013, respectivamente; no VIII Congresso Nordestino de Produção Animal, em Fortaleza - 2013; no XVIII Seminário Nordestino de Pecuária, em Fortaleza – 2014; e na VII Semana acadêmica de Zootecnia da Universidade Federal do Paraná, em Curitiba – 2014. Entre 2010 e 2013, voltei a fazer parte do Comitê de Extensão do DZO. Em 2012 comecei a receber orientados da nova Pós-Graduação em ‘Agroecologia’, na UFV. Em 2013, ministrei ‘Etnozootecnia’ como conteúdo da disciplina ‘ZOO 795 – Problemas Especiais’, na Pós-Graduação. Novas aulas me foram atribuídas, também na Graduação em Zootecnia, nas disciplinas básicas e coletivas de ‘ZOO 110 – Introdução à Zootecnia’, em 2013 e ‘ZOO 212 – Criação e Exploração dos Animais Domésticos’, em 2014. Estes

últimos

acontecimentos

me

fazem

lembrar

o

Ouroboros,

um símbolo representado por uma serpente, ou um dragão, que morde a própria cauda. Ele simboliza o ciclo da evolução voltando-se sobre si mesmo.

157 158

CAPES Processo AEX 4517-10-5 Luanna Chácara Pires

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4. Considerações finais

“Sábio é aquele que conhece os limites da própria ignorância.” (Sócrates)

Ao longo destes anos, foram 38 orientações e oito co-orientações, 133 participações em eventos e 234 publicações, nas diversas categorias. Há relação entre as modalidades e as séries temporais desta produção com a diversidade de formação, instituições, áreas de atuação/disciplinas e funções que fazem parte de minha história profissional. Nos dois últimos anos venho disponibilizando, gradualmente, minhas publicações nos sites www.academia.edu e www.researchgate.net. Além de torná-las acessíveis de maneira democrática, a contabilização fornecida de acessos e downloads me permite discernir as publicações que julgo importantes, daquelas que têm, efetivamente, demanda. Sinto-me pessoal e intelectualmente realizada, e com alguns trabalhos por concluir antes de deixar a Academia.

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Memorial defendido em 02 de outubro de 2014, diante da Banca Examinadora constituída pelos Professores Luiz Fernando Teixeira Albino (Presidente) Humberto Tonhati (UNESP) Ricardo Andrade Reis (UNESP) Raul Franzolin Neto (FZEA/USP)

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