Metáforas e imagens grotescas no Cristianismo Primitivo. 1º semestre de 2016, quintas-feiras 16h15-18h45,

1 UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE COMUNICAÇÃO, EDUCAÇÃO E HUMANIDADES PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO MESTRADO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO DOCENTE: Prof. Dr. Paulo Augusto de Souza Nogueira HORÁRIO: QUINTAS, das 16h15 às 18h45 DISCIPLINA:

Estudos das linguagens da religião popular Metáforas e imagens grotescas no Cristianismo Primitivo I - EMENTA: Estuda as diversas linguagens da religião popular: seus ritos, crenças, devoções, produção artística, formas orais e escritas, e suas interpretações no contexto da cultura popular.

II - APRESENTAÇÃO: Segundo as abordagens cognitivas e as semióticas culturais a cognição e a linguagem se articulam fundamentalmente por meio de imagens e de metáforas. Elas estruturam nossas percepções sobre o mundo por meio de projeções de esquemas corporais ou esquemas relacionados ao universo das experiências do corpo, criando metáforas conceituais, mesmo nos campos de expressão que consideramos mais abstratos. Há, como consequência, uma verdadeira correlação entre as imagens do corpo e as imagens de mundo. O corpo e as imagens dele derivadas são delimitadores e modeladores de nossos esquemas de mundo e determinam nossas experiências dele. No âmbito dos textos narrativos, poéticos e imaginativos da cultura - e entre eles, em especial, os textos religiosos - esses elementos imagéticos são dotados de um poder ainda maior de estruturação de mundo. Eles projetam nossas experiências e esquemas corporais na sociedade e no mundo, mas também os subvertem, propondo modelos alternativos de sua percepção. As narrativas, imagens e metáforas religiosas aspiram a esse poder de criação (poiesis) no qual as relações quotidianas são subvertidas e recriadas em articulações inusitadas. É aí que se formam conjuntos imagéticos muito presentes nas tradições religiosas, em especial nos estratos populares, pouco estudados até recentemente: o campo do grotesco, do monstruoso e do híbrido. São imagens que recriam os esquemas de projeção metafóricos. Nesse campo imaginário e imagético a religiosidade popular expressa suas formas de apreensão e reinvenção de mundo. A literatura bíblica, em especial, a literatura do cristianismo primitivo (Novo Testamento e a literatura apócrifa cristã) preserva muitos textos de caráter míticoimagético que oferecem dificuldades às abordagens exegéticas tradicionais. Monstros híbridos, seres angelicais reluzentes, animais mortos-vivos, mulheres demoníacas, Programa de ensino disponível em: https://metodista.academia.edu/PauloNogueira

2 espaços do além-mundo, descrições de lugares de tormento, etc. nos oferecem perspectivas das formas de experimentação com a linguagem e de representações fraturadas dos corpos e do mundo em exercício nessa literatura. Nós nos aliaremos nesse seminário a esforços de teóricos e intérpretes da literatura bíblica que resgatam esses textos do ostracismo, mostrando que fazem parte central dos experimentos imagéticos e imaginários do cristianismo primitivo. Também buscaremos conexões com recepções desses textos grotescos na cultura popular medieval, mais especificamente na iconografia, na lendária e na hagiografia.

III - ESTRUTURA DO CURSO: a) Imagens e cognição cotidiana. - Mark Johnson (entre outros): a base corporal da linguagem e da imaginação. b) Metáfora e constituição de redes metafóricas na cultura. - A “lógica poética”: Marcel Danesi. c) Imagens grotescas, monstruosas e híbridas na cultura. A carnavalização. - O corpo grotesco em Mikhail Bakhtin. - Teoria do monstruoso de Jeffrey Cohen. - O abjeto (das Unheimliche): Julia Kristeva d) Projeções metafóricas no Apocalipse de João - Imagens de mulher: Lynn Huber. - Disputas em torno ao ver e ao imaginar: Cristopher Frilingos. e) Imagens grotescas nos apócrifos (esp. nos Atos de Felipe). O corpo grotesco no cristianismo primitivo: István Czachesz. Imagens grotescas e os limites da cultura.

IV - BIBLIOGRAFIA DE REFERÊNCIA: Aischele, George & Pippin, Tina (eds.). The Monstrous and the Unspeakble. The Bible as Fantastic Literature. Sheffield: Sheffield Academic Press, 1997. Bakhtin, Mikhail. A cultura popular na Idade Média e no Renascimento. O contexto de François Rabelais. São Paulo/Brasília: Hucitec/Editora UnB, 1999 (4ª edição). Borges, Jorge Luis. Libro de sueños. Madrid: Alianza Editorial, 2008. Borges, Jorge Luis. O livro dos seres imaginários. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. Cohen, Jeffrey Jerome (ed.). Monster Theory. Reading Culture. Minneapolis/London: University of Minnesota Press, 1996.

Programa de ensino disponível em: https://metodista.academia.edu/PauloNogueira

3 Czachesz, István. The Grotesque Body in Early Christian Discourse. Hell, Scatology, and Metamorphosis. Bristol: Equinox, 2012. Danesi, Marcel. Metáfora, pensamiento y lenguaje (Una perspectiva viquiana de teorización sobre la metáfora como elemento de interconexión). Sevilla: Kronos, 2004. Danesi, Marcel. Poetic Logic. The Role of Metaphor in Thought, Language and Culture. Madison: Atwood Publishing, 2004. Edwards, Justin D. & Graulund, Rune. The Grotesque (The New Critical idiom). London: Routledge, 2013. Frilingos, Christopher, A. Spectacles of Empire. Monsters, Martyrs, and the Book of Revelation. Philadelphia: University of Pennsylvania Press, 2004. Huber, Lynn R. Thinking and Seeing with Women in Revelation. London: Bloomsbury T&T Clark, 2015. Johnson, Mark. The Body in the Mind. The Bodily Basis of Meaning, Imagination, and Reason. Chicago: The University of Chicago Press, 1987. Johnson, Mark. The Meaning in the Body. Aesthetics of Human Understanding. Chicago: University of Chicago Press, 2007. Kristeva, Julia. Powers of Horror. An Essay on Abjection. New York: Columbia University Press, 1982. Nogueira, Paulo A. S. (org.). O imaginário do além-mundo na apocalíptica e na literatura visionária medieval. São Bernardo do Campo: Metodista/FAPESP, 2015. Pippin, Tina. Apocalyptic Bodies. The Biblical End of the World in Text and Image. London/New York: Routledge, 1999. Wulf, Christoph. Homo Pictor. Imaginação, ritual e aprendizado no mundo globalizado. São Paulo: Hedra, 2013.

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