METAMORFOSES DO FORDISMO OU MODELOS PÓS-FORDISTAS?

July 13, 2017 | Autor: L. Alves de Barros | Categoria: Sociology, Social Sciences, Trabalho, Sociologia do Trabalho, Fordismo, Post-Fordismo
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METAMORFOSES DO FORDISMO OU MODELOS PÓS-FORDISTAS? Lúcio Alves de Barros INTRODUÇÃO Nas linhas que se seguem veremos que não são poucos os autores que consideram o final dos anos 70 e, particularmente, o decênio de 80, como o palco privilegiado da transformação, emergência, maturação e desenvolvimento de um novo regime de acumulação: o pós-fordismo.1 Este substituiu o fordismo2 até no que ele tem de mais simples. A ênfase recai sobre uma força de trabalho qualificada seja no nível técnico, seja no nível escolar. Para estes trabalhadores, aumentam as oportunidades de emprego e a estabilidade é garantida para os mais qualificados. Não obstante, a flexibilidade no contrato que regula as relações de trabalho dos operários desqualificados é fato. A emergência de um mercado de trabalho segmentado e dual é inescapável. Quanto aos salários, desaparecem as hierarquias convencionais no piso fabril das fábricas Ford. Em seu lugar, aparecem pequenas diferenciações de escala e modalidades de salários indiretos (abonos, prêmios, bônus etc.). A inexistência de grandes diferenças salariais nivela a maioria do coletivo operário. Daí a facilidade do trabalho em equipe, o ajuste dos trabalhadores descontentes com a empresa, o afastar dos conchavos sindicais e o abandono da clássica divisão taylorista/fordista entre o trabalho conceptivo e de execução.

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Professor da FAE/UEMG/CBH - Este artigo reproduz, com algumas modificações, parte do primeiro capítulo de minha dissertação de mestrado, O "novo" e o "velho": O Trabalho e o Processo Produtivo em discussão: o caso da Companhia Siderúrgica Mendes Júnior / Belgo-Mineira Participação, defendida na UFMG em 1998. Neste trabalho, foi de capital importância a orientação de Vinícius Caldeira Brant (in memorian) a quem devo diversos comentários. Fui bastante beneficiado pelos comentários da professora Maria Lígia Barbosa, da UFRJ, e do Prof. Tom Dwyer (UNICAMP) a quem devo diversos agradecimentos. Não obstante, os defeitos e limitações que sobrevivem nestas linhas devem unicamente à incurável teimosia do autor. Agradeço a CAPES e FAPEMIG pelo auxílio ao projeto, sem o qual não teríamos condições para dar continuidade à pesquisa. Texto publicado na revista Teoria & Sociedade. Revista dos Departamentos de Ciência Política e de Sociologia e Antropologia. Belo Horizonte, MG: Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), junho de 2001. 2 Gramsci (1974) foi o primeiro a chamar atenção para a constituição desse modelo hegemônico de produção que invadiu não só a vida pública do trabalhador mas também sua vida privada. E justiça seja feita, o termo "fordismo" também é dele. Neste texto utilizo o termo fordismo não apenas como um princípio geral de organização da produção e do trabalho. Refiro-me ao uso que faz dele a "escola da regulação francesa", em cujo conceito se insere muito mais que a organização da produção. Para esta escola, fordismo significa um modo de vida social, econômica e política designando um modelo de desenvolvimento de acumulação capitalista. Em outras palavras, significa uma espécie de way of life, que encampa o modelo de produção e da organização do trabalho como um padrão de consumo e de acumulação. Sobre esta temática conferir as obras de AGLIETTA, Michel. Regulacion y crisis del capitalismo: la experencia de los Estados Unidos. Trad. Juan Bueno. Madrid: Ed. Siglo Veintiuno España editores, S.A., 1979; CLARKE, Simon. Crise do fordismo ou da social democracia. Revista Lua Nova, n. 24, 1990; LIPIETZ, Alain. Miragens e milagres: problemas da industrialização no terceiro mundo. Trad. Catherine Marie Mathieu. São Paulo: Nobel, 1988 e BOYER, Robert. A teoria da regulação: uma análise crítica. Trad. Renée Barata Zicman. São Paulo: Nobel, 1990. 1

No que concerne ao processo de trabalho, assiste-se à diminuição ou mesmo ao completo desaparecimento da rigidez dos postos de trabalho. Passa-se a produzir com trabalhadores multifuncionais capazes de operar em diversos setores da empresa. O trabalho não é mais solitário, a cooperação é exacerbada e existe um clima familiar pois o labor é em equipes. Além disso, toda inovação organizacional ou tecnológica que deve ocorrer no piso ou na administração fabril é devidamente discutida com a organização operária (sindicatos ou comissões de empresa), utilizando-se o recurso da negociação coletiva. Fora dos muros fabris, também ocorrem mudanças, e estas vêm por parte do mercado. As economias de escala cedem lugar às economias de escopo, isto é, substitui-se a fabricação em massa de produtos padronizados por fabricação em pequenos e diversificados lotes. Adicione-se a este novo princípio de mercado a utilização acirrada e criteriosa da subcontratação (terceirização). Em outras palavras, empresas maiores tendem a utilizar os recursos de fábricas menores, principalmente no que diz respeito aos serviços considerados não-essenciais. A vantagem – muitas vezes apregoadas pelos paladinos da Qualidade Total – é o enxugamento substancial tanto da máquina administrativa como da estrutura de produção. O objetivo é a empresa focalizar sua vocação produtiva, assentada na maior qualidade do produto e na maior fluidez da produtividade. Com base nestas modificações, os autores têm se inquietado na ânsia de explicar as mudanças que perpassam o que se convencionou denominar mundo do trabalho. O presente texto está estruturado em duas partes: a primeira discutirá as experiências produtivas que suscitaram em alguns autores a defesa da emergência de novos modelos de produção. Destacam-se, neste caso, as experiências ocorridas na Suécia, Itália e Japão. Chamamos atenção, em poucas linhas, para as principais características de cada modelo: o lugar do trabalhador, a importância do público consumidor, o auxílio do Estado, as modificações no chão-de-fábrica e as relações com o sindicato. Na segunda parte, exporemos a discussão teórica concernente ao modelo denominado especialização flexível. Examinamos as idéias dos proponentes deste paradigma e as principais críticas que têm sido levantadas. Além disso, mostramos que não existe consenso em relação às modificações que perpassam o processo de trabalho, o trabalhador, a organização do processo produtivo e o lugar das forças estatais. Finalizamos chamando atenção para a configuração de modelos híbridos de produção e organização do trabalho, deixando claro para o leitor que o debate encontra-se em aberto. Estamos longe de abandonar as concepções delineadas por Taylor (1911) que, na verdade, já 2

se encontravam nos escritos de Marx (1867), e ainda não ultrapassamos os determinantes e a importância da produção em massa (FORD, 1925). E mais, estamos longe de vivenciar o abandono da categoria trabalho que permanece como a principal fonte de acumulação e vida do modelo de produção capitalista.

DOS NOVOS MODELOS DE PRODUÇÃO 1. TOYOTISMO: O EMBLEMA DO MODELO JAPONÊS Os estudiosos do assunto têm utilizado as expressões Sistema Toyota, Produção Enxuta, Modelo Japonês ou Produção Flexível para caracterizar o sistema de produção oriundo da empresa Toyota localizada no Japão. No início dos anos 50, o engenheiro Eiji Toyoda viajou para os Estados Unidos e, durante três meses, ficou em contato com a Ford em Detroit. Ao retornar, implantou no sistema, em conjunto com o engenheiro de produção Taiichi Ohno, inúmeras inovações aprendidas na Ford, concluindo que a produção em massa não poderia funcionar da mesma forma no Japão.3 Após a segunda guerra mundial a Toyota estaria determinada a partir para uma produção em larga escala, com a finalidade de inserir-se no mercado internacional. O governo japonês, apavorado com as altas taxas de desemprego e a destruição parcial do país, apoiou a iniciativa e decretou medidas protecionistas: fechou o mercado para as importações, e limitou e proibiu investimentos diretos de capital estrangeiro. A proteção do governo foi decisiva para o empresariado japonês, que investiu grandes somas de capital em ciência e tecnologia. Além disso, a proteção governamental, ao mesmo tempo que afastou, permitiu que o empresariado nacional somasse forças para enfrentar a posteriori a concorrência no mercado internacional (SOBRINHO, 1990; SCHWARTZ, 1995). O final da década de 40 e início dos anos 50 marcariam o cenário produtivo japonês. A intensa introdução de novas tecnologias de base microeletrônica e tecnologias gerenciais de diversos matizes modificaram o cenário das plantas industriais, notadamente as indústrias do setor automobilístico. Também foi de capital importância o aumento do efetivo dos trabalhadores e o conseqüente avançar do consumo. Não obstante, foi um período tenso com greves e resistência operária que resultaram em inúmeras demissões e o início do paulatino silenciamento do movimento sindical (CORIAT, 1994). 3

Para uma análise do taylorismo e do fordismo em contraposição ao modelo Toyota conferir BARROS, Lúcio Alves de. "O "novo" e o "velho": o trabalho e o processo produtivo em discussão". IMPULSO – Revista de Ciências Sociais e Humanas, Piracicaba, v. 10, n.º 22 - 23, p. 73 - 97, janeiro, 1998. 3

No campo da produção, nos anos 50 as empresas automobilísticas abriram-se para a entrada do kanban e do just-in-time. O kanban é o indicador visual em forma de placas, utilizadas para transmitir a informação da necessidade de reposição de peças de uma etapa a outra. O objetivo era produzir em pequenos lotes, propiciando a identificação de problemas que antes eram observados apenas nos estoques. Já o just-in-time, controlado pelo sistema de informações do kanban, consiste em um instrumento de controle da produção como um todo. O seu objetivo é atender a demanda de produtos com a maior rapidez e flexibilidade possíveis. Ademais, busca diminuir ao máximo estoques intermediários ou finais, passando a operar com pequenos estoques. Para isso, o sistema é baseado num mecanismo de informações preciso, no intuito de estabelecer o momento certo, o material correto, a qualidade e a quantidade exata de produção. Tudo isso sem desperdícios ou maiores demoras de entrega.4 A produção, neste contexto, é sempre mais variada e diversificada e a empresa está sempre em condições de atender ao mercado. Com estes dispositivos, a Toyota aumentou sensivelmente a produção de veículos e tornou possível a redução dos custos e a observação dos problemas de qualidade antes que os automóveis chegassem ao mercado. É preciso ressaltar que não demorou muito para que as empresas contratadas (terceirizadas) incorporassem a lógica de produção das empresas-mães. Assim, no final dos anos 70, assistiu-se à disseminação dessas técnicas por todas as empresas subcontratadas. Os autores dedicados aos estudos concernentes a este modelo de produção são enfáticos em destacar a necessidade do trabalhador qualificado e motivado para o trabalho. Coriat (1994) aponta para a constituição do trabalhador multifuncional, detectando um movimento de desespecialização dos operários profissionais e qualificados os quais, com o passar do tempo, tornavam-se necessariamente, trabalhadores multifuncionais. A relação homem-máquina também se modificou. Se nas fábricas Ford os trabalhadores estavam diante da linha de montagem, ou seja, numa relação um homem uma máquina, no toyotismo, dependendo do setor de produção, a relação é de um operário para cada cinco máquinas. A produção se desenvolve em células o que facilita o processo de manufatura. Dois tipos são muito comuns: a toca de coelho onde as máquinas são organizadas em círculo, com o lado do operador voltado para o centro e a célula em U onde as máquinas são colocadas em ambos os lados do

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Para maiores detalhes, conferir o trabalho de SCHONBERGER, Richard J.. Tecnologias industriais japonesas. Nove lições ocultas sobre a simplicidade. Trad. Oswaldo Chiquetto. 4ª ed.. São Paulo: Ed. Pioneira, 1992 e 4

corredor formando a letra U. Tudo para que as máquinas fiquem o mais próximo possível uma das outras, facilitando a movimentação dos trabalhadores, que podem andar de uma em uma máquina, realizando de uma só vez diversas operações. Trabalhando com mão-de-obra multifuncional e a organização produtiva em células o toyotismo também inovou quanto ao trabalho em equipe. A introdução dos CCQ (Círculos de Controle de Qualidade) tratou de envolver os trabalhadores, distribuindo não apenas tarefas mas também responsabilidades na produção e nos caminhos percorridos pela empresa. Conforme asseveram Womack, Jones et. al. (1992), "os membros da equipe sabem que o sucesso de suas carreiras depende da ascensão na especialidade funcional – por exemplo, ser promovido de chefe da engenharia de pistões para subchefe da engenharia de motores – e se esforçam, dentro da equipe, em defender seus departamentos".5 Nesse sentido, o trabalho não é individualizado, e a cobrança no piso fabril é direcionada às equipes de trabalho (HIRATA, 1983; FARIA, 1984). Não obstante, é preciso chamar atenção para a existência do controle do processo de trabalho que se dá entre os próprios trabalhadores e através da supervisão daqueles que os japoneses chamam de shusa.6 O impacto das novas técnicas de gestão no corpo funcional das empresa japonesas deu-se tanto sobre os operários individualizados como os sindicalizados. Foi criado o emprego vitalício, o ganho de produtividade (incentivos e promoções), o operário-padrão, a participação da empresa na vida pessoal do trabalhador e a disseminação da cultura do trabalho dentro das empresas. No que se refere ao movimento sindical, o Japão incorporou da experiência dos Estados Unidos a liberdade e a autonomia sindicais. Sem embargo, recorre à repressão sobre as lideranças sindicais. Muitas delas são cooptadas e recebem a promessa de um emprego vitalício. Outras não são liberadas ou, quando demitidas, praticamente não conseguem retornar ao mercado de trabalho. A cultura sindical japonesa foi marcada por forte repressão. Durante a década de 40 e 50 os sindicatos japoneses foram alvo de constantes ataques, justificados pelo poderio capitalista em função de uma suposta onda de comunismo no país. WOMACK, Jones P.; JONES, Daniel T.; ROOS, Daniel. A máquina que mudou o mundo. Trad. Ivo Korytowsk. Rio de Janeiro: Ed. Campus, 1992. 5 WOMACK, Jones P.; JONES, Daniel T.; ROOS, Daniel. A máquina que mudou o mundo ... op. cit., p. 107. 6 Interessante notar neste contexto que, ao contrário do que se pensa, persiste a divisão entre o trabalho de concepção e o trabalho de execução tão cara a Taylor (1911). O shusa é o líder da equipe. Cabe a ele a execução ou mesmo criação de projetos e engenharia de novos produtos: "nas melhores companhias japonesas, a posição de shusa traz consigo grande poder, sendo talvez a mais cobiçada (...). Não existe melhor posição, no mundo moderno, para orquestrar as habilidades necessárias para fazer existir um produto manufaturado extraordinariamente complexo – o automóvel". Conf. WOMACK, Jones et al.. A máquina que ... op. cit., p. 105. 5

Com o desmoronamento do sindicalismo combativo, a reestruturação produtiva encontrou terreno fértil no país. Muitos trabalhadores foram demitidos e a incorporação de novas tecnologias colaborou para a desqualificação de boa parte dos operários.7 Em relação aos aspectos organizacionais, ao contrário da verticalização da Ford e da General Motors, que tentaram integrar todas as etapas de organização e de produção num único sistema de comando burocrático, mantendo uma política de vários fornecedores por peça, a Toyota organizou o setor de autopeças distinguindo os fornecedores em vários níveis: o primeiro nível é aquele que fornece as peças complexas, o segundo, aquele que monta as peças menos complexas e que vão abastecer partes das peças do primeiro nível, e assim sucessivamente, compondo uma estrutura piramidal. As relações com os fornecedores é de parceria, e visa à convivência a longo prazo. Também chamadas de terceiras, as fornecedoras formam companhias independentes e muitas vezes produzem o seu próprio lucro. No entanto, estão intimamente comprometidas com o desenvolvimento da empresa. O sistema flexível da Toyota levou mais de 20 anos para se apresentar como método eficaz de produção. Porém, o impacto de sua introdução vem suscitando inúmeras transformações. Se, por um lado, existe o aumento da produtividade, da qualidade e da rapidez quanto ao produto final, por outro, essas modificações atingem intensamente o universo do trabalhador: sua consciência, sua subjetividade, suas formas de representação, de identidade e de organização, que são obrigadas a se adaptar a esse novo modelo. O sistema Toyota tem conseguido êxito em capitalizar as necessidades do mercado consumidor, bem como na adaptação das mudanças tecnológicas. No final dos anos 60, a Toyota já trabalhava totalmente dentro do modelo de produção flexível, disseminando suas práticas para todo o mundo. Nos anos 80 e início dos 90, a difusão do modelo de produção flexível fez com que suas características assumissem uma nova roupagem, adequada à realidade industrial dos países que abriram às portas para a incorporação das técnicas japonesas de produção.

2. O MODELO SUECO Na construção das análises concernentes ao modelo de produção e organização do trabalho nascido em solo sueco, os autores têm chamado atenção para os acontecimentos ocorridos 7

Para uma abordagem mais atenta sobre o impacto no movimento sindical consultar o interessante artigo do líder sindical japonês Ben Watanabe, "Toyotismo: um novo padrão de produção?". In Revista dos Metalúrgicos: Dossiê Toyotismo. dezembro de 1993, n. 01, ano 01. Confederação Nacional dos Metalúrgicos. 6

nas plantas industriais da Volvo durante as décadas de 70 e 80. As inovações técnico-gerenciais tiveram seu germe no piso fabril das plantas de Kalmar, 1974; Torslanda, 1980/1981 e Uddevalla em 1989. Nestas fábricas, buscavam-se melhores condições para enfrentar o competitivo mercado internacional. A característica central deste estilo de produção assentava-se na adequação das técnicas às necessidades humanas e não o contrário. Neste sentido, o esforço direcionou-se para a constante melhora do ambiente fabril: a idéia era torná-lo o mais agradável possível. Acreditava-se que, desta forma, o aumento da produtividade com qualidade seria mera conseqüência das boas condições de trabalho. Assim, a iluminação passou a ser natural, instalaram-se grandes e sofisticados telhados envidraçados, o ar passou a ser inteiramente respirável e políticas anti-poluição criaram novos hábitos entre os trabalhadores. Adicionava-se a estas modificações a nova estrutura dos locais de trabalho: a limpeza tornou-se hábito, e a semelhança com o ambiente doméstico selou a cultura fabril com a familiar. Para isso, foram construídos vestiários, salas de espera para visitantes e de telefone, além de local para repouso e lazer. O cuidado com a acústica também foi levado em consideração, o nível sonoro foi significativamente reduzido, atendendo a dois requisitos principais que agora mesclavam-se aos princípios de produção: o primeiro atendia a saúde do trabalhador, não mais se admitindo problemas de audição em qualquer membro do pessoal da empresa. O segundo objetivo, talvez o mais ligado à produção, concernia à possibilidade de os trabalhadores passarem a conversar no chão-de-fábrica. Afinal, como o trabalho era em equipe, uma melhor comunicação tornou-se indispensável. No entanto, as inovações do volvismo não se reduziam ao ambiente fabril. Estas não passavam de conseqüências ocorridas em todo processo produtivo. Sem dúvida, as modificações foram um tanto revolucionárias: a organização do processo de trabalho passou a

ser

responsabilidade

de

comissões

ou

grupos

semi-autônomos.

Cada

grupo

responsabilizava-se por um conjunto de operações que antes eram confiadas a todo o pessoal da fábrica, e aos trabalhadores cabia toda a montagem do veículo, bem como os requisitos básicos de sua qualidade. Ao contrário do modelo inaugurado por Ford, o ritmo e as eventuais porosidades passaram a ser controladas pelos próprios trabalhadores e, para auxiliá-los nesta tarefa, foram criados sofisticados grupos de apoio e armazéns de materiais no centro da fábrica. Esta modificação foi muito importante para a nova organização do processo produtivo pois, com os grupos e os armazéns localizados em pontos estratégicos da fábrica, tornou-se possível e mais flexível o 7

abastecimento diário das equipes. O não-desperdício e o aproveitamento de todas as peças foi conseqüência deste novo arranjo gerencial. No que diz respeito aos operários, todos eram necessariamente especializados. Aos novos recrutados cabia, antes do início do ofício, um sólido preparo profissional, alternando-se estudos práticos e teóricos referentes à realidade do piso fabril. Em poucas palavras, cabe destacar que, neste modelo, toda e qualquer inovação que se referia diretamente ao processo produtivo – como é o caso da automação ou da flexibilidade de postos e produtos – foi discutida em seus mínimos detalhes com o sindicato e com o governo sueco. A ação desenvolvida pelo primeiro, em grupos de estudo e negociações com o patronato, foi significativa na criação de certos limites produtivos e de condições de trabalho. Já ao governo, coube o desenvolvimento e a implementação de projetos macroeconômicos e de auxilio financeiro via subsídios. Dois objetivos orientavam a ação governamental: o primeiro referia-se ao preparo de uma política coerente e eficaz para possibilitar que as empresas nacionais pudessem competir no mercado internacional – uma carga de protecionismo neste caso era indispensável. A segunda ação dizia respeito à promoção de uma nova feição das relações de trabalho, objetivando o que se convencionou chamar de democracia industrial.8 3. O MODELO ITALIANO Outra experiência que tem demonstrado ser diferente das tradicionais formas de produção alicerça-se no que se rotulou chamar de La Terza Itália (A terceira Itália). Trata-se de uma nova forma de produzir. Nesta experiência abandonou-se a produção em massa, característica essencial da Primeira Itália, e dinamizou-se a produção em pequena escala. Desta forma, sofisticados e diferenciados produtos em termos de estilo, design e qualidade apurados passaram a ter lugar nas prateleiras de lojas e supermercados. Além disso, grandes complexos industriais cederam espaço a diversificados e flexíveis distritos industriais formados, preponderantemente, por pequenas e médias empresas que empregavam em geral não mais do que 15 trabalhadores. A concorrência não era acirrada, as pequenas e médias empresas, de qualquer maneira, atingiam o mercado consumidor. Isto se dava, provavelmente, devido à própria magnitude e estrutura do sistema, pois a fabricação de determinados produtos era dividida por regiões, 8

Conferir: PALLOIX, Christian (1981), ORTSMAN, Oscar (1984), PIORE, M. & SABEL, C. (1984), LEITE, Márcia Paula (1991), WOOD, Thomaz Jr. (1992) e MARX, Roberto (1992). 8

facilitando tanto a diversidade quanto a qualidade dos produtos. Ademais, este sistema de produção tratou de aliviar as empresas da tensão competitiva: Cada região especializava-se em uma série de produtos pouco relacionados entre si. A Toscana concentrava-se em têxteis e cerâmica; a Emília-Romagna produzia malhas, pisos de cerâmica, máquinas automáticas e equipamentos agrícolas; no Marche, os sapatos constituíam o principal produto, Vêneto também produzia sapatos, bem como cerâmica e móveis de plástico.9 As inovações italianas chegaram também aos antigos fornecedores, que no modelo fordista eram integrados à fábrica-mãe. Estes, com o predomínio da descentralização produtiva e administrativa, deram lugar à integração social da produção. Cada empresa atuava por si só, independentemente, passando a inexistir a integração vertical. Mesmo as empresas maiores passaram a utilizar este recurso, lançando mão de subcontratações. As conseqüências foram interessantes pois, ao invés de desenvolver a concorrência, germinaram a cooperação e o espírito coletivo entre as empresas. E cumpre ressaltar que esta cooperação não se reduzia às questões econômicas, ela chegou também ao terreno das relações sociais, o que levou as empresas a buscar maior integração com a comunidade nos locais em que estavam inseridas. Em pesquisa empírica, Maciel (1996) percebeu esta especificidade e destacou que: Multiplicando pequenas empresas de tecnologia e gestão avançadas e comercializando seus produtos diretamente em escala internacional, o desenvolvimento das regiões da Terceira Itália constitui 'o Milagre dentro do Milagre'. As inovações aparecem em produtos e processos, organização e gerenciamento nas relações capital/trabalho tanto quanto nas relações que englobam as empresas, assim como nos novos centros e modalidades de formação geral e específica, administrações municipais e regionais e organização comunitária. É como se cada distrito industrial, abrangendo a área rural que o compõem e completa, reunisse todas as atividades de produção, administração e criação cultural e científica, educação, lazer e saúde num empreendimento coletivo. Aí está a expressão concreta do conteúdo substantivamente ampliado de inovação e modernidade que estou propondo.10 Porém, os princípios cooperativos não param por aí. Envolvem também as empresas maiores (a Fiat por exemplo), autoridades regionais das Províncias e dos Municípios, Câmaras de Comércio e Indústria, núcleos de serviços e promoções, além de consórcios e convênios criados pelas próprias empresas. Adicionem-se ainda o auxílio do Estado Italiano às pequenas e grandes empresas. Às primeiras (todas que tivessem menos de 15 empregados), o Estado ofereceu assistência fiscal, subsídios financeiros e a possibilidade de flexibilizar a legislação

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KUMAR, Krishan. Da sociedade pós-industrial à pós-moderna: novas teorias sobre o mundo contemporâneo. Trad. Ruy Jungmann. Rio de janeiro: Ed. Jorge Zahar, 1997. p. 50. 10 MACIEL, Maria Lúcia. O Milagre Italiano; caos, crise e criatividade. Rio de Janeiro: Ed. Relume Dumará; Brasília: Ed. Paralelo 15 Editores, 1996. p. 91 e 92. Os grifos são da autora. 9

trabalhista. Quanto às grandes empresas, o Estado protegeu mercados e tratou de oferecer vultosos subsídios. Cumpre enfatizar, neste contexto, que a maior parte das pequenas e médias empresas italianas assentam-se em organizações familiares. A estrutura produtiva está alicerçada em relações pessoais e todos os membros da família, estendendo estas relações aos agregados, oferecem sua contribuição no dia-a-dia da produção. Muitas vezes isto significa longas horas de trabalho e baixa remuneração salarial. E mais, como a cultura produtiva é artesanal e centrada na criatividade, o orgulho e a dedicação ao trabalho são exacerbados. No que se refere aos trabalhadores, a maioria passou a ser altamente especializada. Este fato possibilitou a diminuição e mudança da supervisão e do controle do trabalho: a divisão do processo de trabalho entre execução e concepção – clássica do taylorismo e fordismo – foi superada, transferindo-se o controle deste processo para os próprios trabalhadores. Finalmente, cumpre notar o aspecto cultural na constituição dos distritos industriais. Apesar da existência de grandes empresas no solo italiano, a magnitude das empresas distritais foi mantida. Não existia o interesse de pulverizar a pequena estrutura produtiva. Pelo contrário, sua manutenção aparece como uma eficaz estratégia de enfrentamento a eventuais depressões econômicas. Se porventura isto acontecesse, bastava unificar ou enxugar a empresa. Por trás de tudo isso, é preciso mencionar a força das instituições financeiras e políticas de cada região que promovem consórcios ou associações no intuito de não só manter, mas também, de apoiar, promover, criar e desenvolver a economia de pequena escala.

A TEORIA DA ESPECIALIZAÇÃO FLEXÍVEL É com base nestas modificações que estão ocorrendo no mundo do trabalho que Piore e Sabel (1984) defenderam a configuração de um novo padrão, um novo paradigma de organização produtiva. Suas bases, entretanto, não estão apenas na Itália e no Japão, podendo ser encontradas na Alemanha Ocidental e nos Estados Unidos. Segundo os autores citados, o modelo, denominado especialização flexível, apóia-se na intrincada articulação de três fatores que são complementares: as novas tecnologias, novas formas de organização social do trabalho e novos padrões de demanda. No que concerne ao primeiro fator, as novas tecnologias estariam associadas à rápida difusão, processamento e informação ancoradas em tecnologias com base microeletrônica. O argumento é que as máquinas-ferramentas de controle numérico garantem a produtividade flexível em pequenos lotes e com alto grau de qualidade. A flexibilidade, além disso, 10

possibilita mudanças em sua configuração no que respeita à fabricação de produtos que atendem a diferentes demandas. Quanto a este argumento, Kumar afirma que: As novas máquinas tornam possíveis mudanças rápidas de produção em resposta a novas oportunidades e necessidades. Novos produtos não exigem novas ferramentas nem reajustes caros e demorados ou a reformas das velhas máquinas. As ferramentas numericamente controláveis são máquinas universais não especializadas. Novos desenhos e novos produtos são resultado de mudanças relativamente simples nos programas controlados por computador que comandam tais máquinas.11 Isto sem falar na constante e rápida circulação das informações. No entanto, as inovações tecnológicas não param por aí, as novas tecnologias flexíveis trazem em seu cerne a especialização flexível, ou seja, busca-se especializar-se na fabricação de um produto específico e diversificado. A produção não é padronizada e nem em grandes quantidades, o objetivo é o atendimento de um público determinado que compartilha gostos e estilos diferenciados do resto da população. E, interessante: com as mudanças nos gostos, modifica-se a estrutura do maquinário para atendê-los. Em outras palavras, novas idéias podem constantemente ser implantadas pois, o interesse é atingir grupos específicos de clientes adeptos de produtos diferenciados, resultantes da criatividade e do trabalho artesanal. Aqui se encontra a mudança dos padrões de demanda, o determinante passa a ser o mercado e não a homogeneização de produtos fabricados em grande escala. Pois bem, este novo perfil do mercado consumidor, segundo Piore e Sabel nasceu devido a crise de subconsumo dos anos 70, e inaugurou os limites e a derrocada da produtividade em massa. Uma vez que o mercado de bens de larga escala começou a se estagnar e a concorrência aumentar, um círculo contrastante de casualidade surgiu. Empresas tentando atrair clientes pela diversidade de seus produtos e reeducação do público para que se familiarizassem com os produtos; quanto mais sucesso obtivessem, mais poderiam investir em tecnologias flexíveis para aumentar a eficiência e mais rápido o mercado de larga escala se contrairia – limitando as possibilidades de crescimento sobre a velha base.12 A produção feita de acordo com as iniciativas e a vontade dos clientes não denota o predomínio de grandes e complexas estruturas fabris. Além disso, dispensa a concentração de trabalhadores em torno de uma linha de produção. Se nas fábricas Ford os operários desqualificados desempenhavam um importante papel, nas recentes plantas flexíveis estes trabalhadores estão sendo paulatinamente eliminados. Como os contingentes de operários são

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Id., Ibid., p. 56. 11

reduzidos, o controle sobre suas atividades é maior, e como a produção é em pequenos lotes, o controle sobre a qualidade é intensificado, reduzindo os defeitos durante o processo de fabricação. Este modelo de produção, segundo Sabel (1982), está alicerçado em trabalho artesanal e especializado onde não existe a bifurcação taylorista-fordista de execução e concepção. Muito pelo contrário, os trabalhadores exercitam a criatividade e estão sempre renovando o processo. Não existem postos e tarefas determinadas, os operários são polivalentes e desempenham tarefas variadas e multiqualificadas. Nessa direção, o controle do processo de trabalho é de inteira responsabilidade do trabalhador, o que inviabiliza as rígidas hierarquias e corta os custos burocráticos. Ao analisar as experiências da produção artesanal na Terceira Itália, o autor é enfático: Se você pensou por tanto tempo nos relojoeiros-artesãos de Rousseau, em Neuchâtel, ou na idéia de Marx de trabalho como uma associação alegre, autocrítica, que começou a duvidar dessas possibilidades, então poderia, observando esses artesãos no trabalho, perdoar-se pela súbita convicção de que alguma coisa mais utópica que o atual sistema fabril é praticável, afinal de contas.13 Já nos escritos de 1984, Sabel e Piore exageram ao afirmar o total controle do operário sobre o processo de trabalho14. Este controle tornou-se possível, segundo os autores, com o advento do computador, pois sua tecnologia conseguiu dar fim ao "domínio das máquinas especializadas sobre os trabalhadores desqualificados e semi qualificados e redirecionou o progresso em direção à produção artesanal. O advento do computador restaurou o controle humano sobre o processo de produção; a máquina novamente é subordinada ao produtor".15 Exageros à parte, eles não percebem que o controle do processo de trabalho foi transferido e encontra-se embutido no maquinário (isto não ocorre apenas com o computador mas também

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PIORE, Michael J. & SABEL, Charles F.. The Second Industrial Divide: possibilities for Prosperity. Nova York: Basic Books, 1984. p. 191. 13 SABEL, Charles. Work and Politcs. The Division of Labor in Industry. Cambridge; Cambridge University Press, 1989. p. 220. O original data de 1982. 14 Sabel e Piore referem-se aqui ao caso da Terceira Itália. Interessante, os autores tendem a sustentar que o livro escrito a quatro mãos por Piore e Sabel em 1984 foi o primeiro a evidenciar a confecção de um "novo paradigma" produtivo. Sem querer polemizar, afinal este debate é irrelevante, Sabel em obra solitária de 1982 já havia identificado essas mudanças. Para isso conferir o capítulo 5 "The end of fordism?" pp. 194 - 231. In Work and Politcs. The Division of Labor in Industry. Cambridge: Cambridge University Press, 1989. 15 PIORE, Michael J.; SABEL, Charles F.. The Second Industrial Divide: Possibilities for Prosperity... op. cit., p. 261. 12

com as máquinas de controle numérico). Talvez seja isto que trouxe os tempos modernos: novas e complexas formas de controle do processo produtivo e do trabalho.16 Quanto à estrutura produtiva, já mencionamos como se dá a descentralização, mas vale lembrar que esta é marcada pela proliferação de pequenas e médias empresas em detrimento das grandes corporações verticalmente integradas. Isto não quer dizer que estas últimas desapareceram – haja vista permanência do império Fiat com matriz situada na Itália – mas o que vale reter neste contexto é a boa e eficaz convivência destas empresas com as pequenas e médias estruturas produtivas. CRÍTICAS AO NOVO MODELO O exaustivo trabalho de Piore e Sabel (1984) foi motivo de críticas. A do regulacionista Coriat (1992) assenta-se na impossibilidade empírica de generalização do modelo de produção surgido na Itália, no Japão ou na Alemanha. 17 Segundo o economista francês, o modelo de especialização flexível elaborado por esses autores parte do pressuposto de que a produção baseada em economias de escala não se sustentaria devido à própria demanda que ela suscita: mercados estáveis e produtos homogêneos em grande quantidade.18 Coriat mostra que, ao contrário, a existência ou mesmo generalização dos padrões de mercado propostos por Piore e Sabel dependeriam de uma demanda segmentada e instável.19 Na realidade, é isto mesmo que acontece segundo os teóricos da especialização flexível: eles criaram um modelo dependente de demandas crescentes para produtos diferenciados. Entretanto, para Coriat, na prática o que acontece é a emergência de empresas em setores de demanda crescente e cuja produção necessariamente baseia-se em produtos homogêneos, fabricados em larga escala. Como exemplo, ele cita o mercado de discos compactos e de computadores para afirmar que, ao contrário do que se pensa, não ocorreu uma implosão do

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A concepção de que o controle do processo de trabalho está embutido no maquinário não é nossa, nem nova. Devemos ao professor Vinícius Caldeira Brant a lembrança de que isto está bem explicitado em Marx ([1867], 1994), - "O Capital, seção Quarta, capítulo XIII – A Maquinaria e a Indústria Moderna" -, ao demonstrar como a divisão do trabalho na grande indústria se torna "objetiva" com a transformação do operário em "acessório consciente" da máquina. 17 Segundo o economista existe pois "uma generalização abusiva das propriedades da especialização flexível". Conferir CORIAT, Benjamim. El Taller y el Robot: ensayos sobre el fordismo y a produccion en masa en la era de la electrónica. Madrid/España: Siglo Veintiuno Editores, S.A, 1992. p. 151. 18 "No fundo a hipótese implícita porém central é que não existiram produtos de demandas crescentes e estável para que uma estratégia de economia de escala permitisse a supremacia da produção em massa baseada neste tipo de demanda". Id., Ibid., p. 151. 19 "É possível formular de outra maneira a mesma hipótese implícita nos argumentos de nossos autores, se observarmos que a condição permitida de existência do modelo de especialização flexível é que a demanda deva ser essencialmente segmentada e instável". Id., Ibid., p. 152 e 153. Os grifos são do autor. 13

modelo fordista e, sim, um ajustamento dos padrões de consumo e a abertura de novos mercados para novos produtos. Críticas ferozes também vieram de Simon Clarke (1991). Para ele, apesar de os arautos da especialização flexível afirmarem que sua validade, coerência e desenvolvimento baseia-se na introdução de novas tecnologias, novas demandas e organização produtiva, a verdade é que partem do pressuposto da conivência social. Em suas críticas, Clarke resume o que seria o equívoco desses autores, afirmando que a especialização flexível é o resultado de condições políticas e econômicas localizadas e muito específicas de cada região e sua pretensa universalidade é questionável. Afinal, os privilégios dos pequenos artesãos, aglomerados em pequenas ou médias empresas na Itália são o resultado de uma complexa combinação de escassez de mão-de-obra qualificada e disponibilidade de operários não-qualificados, o que permitiu a intensificação do trabalho e o pagamento de baixos salários. Isto sem falar das condições favoráveis para o mercado de produtos diversificados, o que levou, em certa medida, os paladinos da especialização flexível a festejar o fim do fordismo e a emergência de novos tempos. Simon Clarke coloca-se contra este pressuposto: além de não existir o famigerado fim do fordismo, a teoria da especialização flexível não explica satisfatoriamente a permanência e a sobrevivência de grandes corporações fordistas. O que existe na realidade é uma flexibilização dos princípios fordianos, de modo a promover, através do desenvolvimento da automação e da organização do trabalho flexíveis, a harmonia social e os meios necessários para desqualificar a força de trabalho, intensificar as atividades de chão-de-fábrica e desorganizar os trabalhadores, tanto fora quanto dentro dos sindicatos. Em sua crítica a Hirst e Zeitlin, por exemplo, o autor não deixa dúvidas quanto aos seus argumentos: Se a especialização flexível é a chave para se restaurar a produtividade e a lucratividade, na esteira da crise dos ultrapassados métodos fordistas de produção, é difícil perceber por que ela não seria capaz de suportar a competição vinda das empresas fordistas. Do mesmo modo, se as relações cooperativas são mais lucrativas do que as competitivas, é difícil compreender por que é necessário que essas relações sejam impostas aos capitalistas, em vês de deixar que o próprio interesse dos capitalistas as desenvolva, seja através da integração horizontal e vertical, do controle acionário mútuo, da participação na gestão da empresa, ou de contratos de longo prazo. Mas talvez sejam os capitalistas que estão certos ao se apegarem ao fordismo, e Hirst e Zeitlin que estejam errados ao acreditar que o amor, a confiança e a harmonia são a chave para a lucratividade.20

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CLARKE, Simon. "Crise do fordismo ou da social-democracia)". Revista Lua Nova, n. 24, 1990. p. 127. 14

Desprende-se desta longa e provocativa citação um outro argumento e uma séria crítica aos proponentes da especialização flexível: o equívoco e o mal-entendido quanto às reais dimensões do fordismo. Segundo Clarke os pós-fordistas não entenderam a crise que assolou o padrão de desenvolvimento fordista.21 Este sistema é muito mais que produção em massa ou linhas de montagem recheadas de trabalhadores desqualificados. Sua crise é uma grande transformação e ajustamento das condições que impulsionam o modelo de produção capitalista para frente.22 Desse modo, o fordismo não é inflexível, e formas pós-fordistas de produção são, na realidade, indícios de uma evolução constante de um modelo hegemônico que de certa maneira ainda sobrevive. E, tal como enfatiza Clarke, o projeto fordista "não é estático, mas deve se desenvolver à medida que confronta obstáculos para resolução. Isso significa que não pode haver apenas um projeto fordista, mas toda uma série deles; alguns podem demonstrar que são temporariamente mais bem sucedidos do que outros, mas nenhum deles poderá jamais realizar-se plenamente".23 Na realidade, Clarke recupera o pensamento de Gramsci e, em certa medida, o da Escola da Regulação, entendendo ser o fordismo um projeto de grande magnitude e cuja envergadura atinge não só o espaço público do trabalho, do consumo e da produção, mas atinge também o espaço privado das relações pessoais ancoradas em valores humanos, como é o caso do casamento ou do sexo. Henry Ford (1925) tinha como objetivo criar uma nova sociedade construída sobre fortalecidas instituições responsáveis pela mediação dos conflitos de interesses. Mas nova sociedade supõe novos homens, e, neste caso, fez-se necessário não apenas a retidão moral, mas também qualidades intelectuais requisitos indispensáveis para a constituição desta nova sociedade. Quanto à crise pela qual passa o fordismo, Clarke é enfático e conclui que "a crise do fordismo não é nada de novo; é apenas a mais recente manifestação da crise permanente do capitalismo".24 Mas, se partirmos dos argumentos de Clarke, pouco ou nada sobra da teoria dos pós-fordistas, e em última análise nada se modificou após a emergência do fordismo nos anos 40. Todavia, mudanças significativas aconteceram nos últimos tempos, e é esta concepção que aparece nas instigantes análises de Kumar (1997). Segundo o professor inglês da Universidade de Kent, 21

"O pós-fordismo não é uma realidade, mas uma promessa. Nenhum dos vários proponentes do pós-fordismo oferece um argumento coerente para justificar a relação harmoniosa entre as instituições econômicas, sociais e políticas que eles propõe". Id., Ibid., p. 128. 22 "Um exame cuidadoso da revolução tecnológica fordista mostra que ela marcou o ápice da penetração do capital na produção, o que significa que fordismo é sinônimo da produção capitalista como tal". Id., Ibid., p. 128. 23 Id., Ibid., p. 129 e 130. 24 Id., Ibid., p. 150. 15

as teorias desenvolvidas pelos pós-fordistas são um grande esforço para entender o destino da reestruturação do capitalismo, intensificada desde o último terço deste século. Entretanto, merecem a devida relativização. Para Kumar, partir do modelo da Terceira Itália para configurar um novo paradigma de produção, além de perigoso, é errôneo. Sustenta que este modelo é localizado e dependente de especificidades culturais, assentadas em fatores históricos de ordem secular. Por tanto, é necessário cautela quando se pretende generalizar estas experiências ou mesmo compará-las com as de outras localidades. Um outro argumento desenvolvido condena a teoria pós-fordista por se apoiar em uma história do industrialismo alicerçada em perigosa oposição: fordismo, produção em massa versus especialização flexível e produção em pequenos lotes. Em suas palavras, o argumento crítico emerge da seguinte forma: "pelo menos no último século do capitalismo, os diferentes modos de 'controle' e acumulação não se substituíram uns aos outros, mas coincidiram em parte. O fordismo tradicional coexiste com o fordismo pós – ou neo – e a produção em massa, concomitantemente com a produção flexível".25 Neste contexto, o autor chama atenção para os acontecimentos no Japão onde subsiste um padrão de produção flexível assentado em um próspero e poderoso sistema de fabricação em larga escala; somando-se a isso um alto grau de desintegração vertical, em geral associado à cultura da especialização flexível. Kumar, atento aos exageros, alerta contra o uso indiscriminado do termo flexibilidade, pois além de ser ambíguo anda flexível demais. Neste sentido, o termo flexibilidade pode assumir diversos significados, e muitas vezes não quer dizer nada quando confrontado com as experiências empíricas de organização industrial e produtiva. E mais, assevera que inúmeras formas de flexibilidade, apontadas por diversos autores, não são incompatíveis com a produção em massa, muito pelo contrário, chegam mesmo a reforçá-la, como é o caso da imposição de horas de trabalho (muitas vezes em excesso) ou da perda da segurança no emprego (fim da estabilidade ou diminuição de direitos). Ainda sobre a plausividade da emergência de um novo modelo centrado na especialização flexível, Kumar ressalta que muitas modificações ocorridas no fordismo surgiram "não de problemas internos do sistema fordista de organização, mas de causas externas do aumento da concorrência em bens produzidos em massa, originários do Japão, e dos 'novos países industriais' (Formosa, Coréia do Sul, Cingapura, Hong Kong, México etc.)".26

25 26

KUMAR, Krishan. Da sociedade pós industrial à pós moderna ... op., cit., p. 176. Grifo do autor. Id., Ibid., p. 177. Grifo do autor. 16

Finalmente, surge o alerta quanto à natureza das mudanças que estão ocorrendo. Indubitavelmente "podemos observar grandes mudanças no caráter da organização industrial e na natureza do trabalho", entretanto, segundo Kumar, estamos imersos demais nos acontecimentos e diante do calor que eles nos oferecem é arriscado "julgar com confiança se uma ordem econômica autenticamente nova está emergindo". A nós restaria a opção de melhor observar o que realmente ocorreu e o que está ocorrendo neste fin de siècle, pois mesmo que existam novos modelos organizacionais e produtivos, estes podem ser "simplesmente manifestações da disposição bem conhecida do capitalismo de mudar e modificar a prática, de acordo com as necessidades de sobrevivência e crescimento".27

MAS UMA NOVA PROPOSTA PERSISTE Uma outra interpretação sobre esta temática nos é fornecida por David Harvey (1993). Este autor sustenta que os acontecimentos ocorridos no final dos anos 70 deixaram a década seguinte sombria e recheada de incertezas. A primeira tentativa para se livrar do atoleiro recessivo foi a de restaurar os níveis de produtividade e lucratividade via intensificação do trabalho (para isso contribuíram tanto as novas tecnologias como os imperativos organizacionais) e drástica redução dos salários. A essas iniciativas adicionava-se a repressão sindical e a famigerada flexibilidade nas relações de trabalho (via negociação de horas de trabalho maleáveis, salários condicionados a produtividade e o fim da estabilidade do emprego). Fora dos muros da fábrica, novas experiências tomaram forma. No âmbito do mercado de trabalho assiste-se uma perigosa bifurcação: de um lado subsiste uma força de trabalho qualificada e com forte poder de barganha para negociar direitos. De outro, sobrevive uma massa operária qualificada, geralmente atuando na periferia do mercado de trabalho: seriam os trabalhadores temporários ou de tempo parcial. Já no domínio da política social, Harvey aponta para a reconfiguração das funções do Estado keynesiano e, associado a isso, emerge a aposta na livre iniciativa por parte da sociedade civil. Este tempo de incertezas e reordenações leva o autor a sugerir a constituição de um novo sistema de regulamentação econômica, política e social, bem diferente e mais flexível que o fordismo. Em suas palavras encontramos a seguinte argumentação: A acumulação flexível como vou chamá-la, é marcada por um confronto direto com a rigidez do fordismo. Ela se apoia na flexibilidade dos processos de trabalho, dos 27

Id., Ibid., Esta citação e as anteriores estão na página 177. 17

mercados de trabalho, dos produtos e padrões de consumo. Caracteriza-se pelo surgimento de setores de produção inteiramente novos, novas maneiras de fornecimento de serviços financeiros, novos mercados e sobretudo, taxas altamente intensificadas de inovação comercial, tecnológica e organizacional. A acumulação flexível envolve rápidas mudanças dos padrões do desenvolvimento desigual, tanto entre setores como entre regiões geográficas, criando, por exemplo, um vasto movimento no emprego no chamado 'setor de serviços', bem como conjuntos industriais completamente novos em regiões até então subdesenvolvidas (tais como a 'Terceira Itália', Flandres, os vários vales e gargantas do silício, para não falar da vasta profusão de atividades dos países recém-industrializados. Ela também envolve um novo movimento que chamarei de 'compressão do espaço-tempo' no mundo capitalista – os horizontes temporais da tomada de decisões privada e pública se estreitaram, enquanto a comunicação via satélite e a queda dos custos de transporte possibilitaram cada vez mais a difusão imediata dessas decisões num espaço cada vez mais amplo e variegado.28 Embora o autor aceite a emergência e o desenvolvimento de um novo padrão no interior do processo de regulação capitalista, diferente e mais flexível que o fordismo, assegura que as corporações assentadas em princípios fordistas podem sobreviver adotando princípios flexíveis. Este é o caso das corporações que introduziram novas tecnologias e novos mecanismos de organização do trabalho, chamados por muitos estudiosos como experiências neofordistas. Mas, para a sistemática de nosso raciocínio, vale reter duas possibilidades desencadeadas por esta combinação. De um lado, estaria a necessidade de mudanças endógenas e exógenas do sistema, quando este se depara com a concorrência em nível de mercado e com a resistência operária nos processos produtivos. Segundo Harvey, no calor da crise, as empresas fordistas viram-se forçadas a incorporar princípios flexíveis, desencadeando o "surgimento de formas industriais totalmente novas ou à integração do fordismo a toda uma rede de subcontratação e de 'deslocamento' para dar maior flexibilidade diante do aumento da competição e dos riscos".29 Essa combinação, entretanto, superou os esquemas rígidos da produção fordista – a produção em pequenos lotes e o recurso à subcontratação revelam a mudança do fordismo mas não o seu fim. Do outro lado, está a possibilidade da combinação de princípios fordistas com mecanismos flexíveis, cujo objetivo é oferecer uma nova roupagem às relações de trabalho. Neste caso, Harvey chama atenção para regiões ou mesmo países onde este fato aconteceu em larga medida, e com esta nova roupagem as corporações industriais alcançaram um relativo sucesso. Nessa direção, "a conjuntura se caracteriza por uma combinação de produção 28

HARVEY, David. A Condição Pós Moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural. Trad. Adail Ubirajara Sobral e Maria Stela Gonçalves. São Paulo: Ed. Loyola, 1993. p. 140. 18

fordista altamente eficiente (com freqüência nuançada pela tecnologia e pelo produto flexível) em alguns setores e regiões (como o de carros nos Estados Unidos, no Japão ou na Coréia do Sul, e de sistemas de produção mais tradicionais como os de Singapura, Taiwan ou Hong Kong) que se apóiam em relações de trabalho 'artesanais', paternalistas ou patriarcais (familiares) que implicam mecanismo bem distinto de controle do trabalho. Estes últimos sistemas sem dúvida cresceram (mesmo nos países capitalistas avançados) a partir de 1970, muitas vezes às custas da linha de produção da fábrica fordista".30 Finalmente, o autor relativiza o peso das mudanças: o que seria o novo? O que seria o velho? Sua conclusão é relativizar este debate pois ambas as coisas podem ocorrer concomitantemente. Nesse sentido, Harvey conclui que: (...) a insistência de que não há nada essencialmente novo no impulso para a flexibilidade e de que o capitalismo segue periodicamente esses caminhos é por certo correta (uma leitura cuidadosa de O Capital de Marx sustenta esta afirmação). O argumento de que há um agudo perigo de se exagerar a significação das tendências e aumento da flexibilidade e da modalidade geográfica, deixando-nos cegos para a força que os sistemas fordistas de produção implantados ainda têm, merece cuidadosa consideração. E as conseqüências ideológicas e políticas da superacentuação da flexibilidade no sentido estrito de técnica de produção e de relações de trabalho são sérias o bastante para nos levar a fazer sóbrias e cautelosas avaliações do grau do imperativo da flexibilidade. (...) mas considero igualmente perigoso fingir que nada mudou, quando os fatos da desindustrialização e da transferencia geográfica da fábricas, das práticas mais flexíveis de emprego do trabalho e da flexibilidade dos mercados de trabalho, da automação e da inovação de produtos olham a maioria dor trabalhadores de frente.31 Na mesma direção parece caminhar Stephen Wood (1991, 1993). Apoiado em pesquisas empíricas realizadas no Japão, afirma que neste país estaríamos assistindo à construção de uma nova forma de produção. Cauteloso, assevera contra os excessos de empolgação que levaram alguns estudiosos a denominá-lo de pós-fordista; todavia, não acredita que nada mudou, atacando aqueles que defendem a permanência do fordismo. Para ele, porém, o chamado modelo japonês não se ajusta nem a um nem a outro. Os japoneses, de acordo com Stephen Wood inovaram no campo do funcionamento do processo produtivo. Dentre as inovações, vale destacar a capacidade da administração japonesa de quebrar alguns princípios da estrutura produtiva alicerçada na fabricação em massa de produtos homogêneos. Os japoneses teriam invertido os imperativos criados por 29 30 31

Id., ibid., p. 148. Grifo do autor. Id., Ibid., p. 179. Id., Ibid., p. 178 e 179. 19

Ford, realçando que "é possível produzir eficientemente com lotes menores de produção; a minimização de estoques intermediários e o suprimento just-in-time de partes 'perfeitas' aumentam o rendimento do processo; a qualidade pode ser aperfeiçoada sem custos adicionais".32 Quanto à organização do processo de trabalho, os japoneses também inovaram ao responder com criatividade aos problemas associados a organização taylorista/fordista do trabalho. Para isso, foram introduzidos no chão-de-fábrica os mecanismos dos Círculos de Controle de Qualidade (CCQ) que, além de propiciarem um ambiente familiar na fábrica, trouxeram à tona relações de trabalho paternalistas direcionadas tanto aos trabalhadores quanto aos fornecedores. Nas palavras de Wood, "um aspecto primordial do modelo japonês de gestão, no entanto, é o de ter ressaltado a importância dos problemas cotidianos do taylorismo, enfrentando de modo inovador pela criatividade das gerências e o maior envolvimento dos trabalhadores, em relação ao que ocorre no fordismo convencional".33 Esta observação nos dá margem para delinear uma outra inovação surgida nas fábricas japonesas. Segundo Wood, os japoneses também inverteram o princípio taylorista baseado na clara divisão entre trabalho executivo e conceptivo. Nesse caso, bastou intensificar o envolvimento dos operários na fabricação. E como o modelo se assenta em habilidades artesanais, é aumentado substancialmente o sentimento de satisfação e colaboração entre os níveis hierárquicos da empresa. O mesmo ocorre entre os trabalhadores que compartilham o dia-a-dia no espaço de produção. Não obstante, o autor nos lembra que as atividades continuam fragmentadas e são desenroladas em processos curtos e medidos. Isto porque o modelo de administração japonesa desenvolveu-se a partir de princípios provenientes da administração ocidental, haja vista, "o fundamento taylorista no pensamento japonês inicial sobre gestão da produção".34 Na realidade, Wood nos adverte sobre a possibilidade e, porque não dizer, sobre as evidências empíricas de existirem diferentes formas de organização do trabalho imbricadas umas nas outras. Neste sentido, podem coexistir elementos tayloristas/fordistas na configuração de novos processos de organização do trabalho, como é o caso do modelo japonês. Com base nesta possibilidade, o autor salienta a constituição de formas híbridas que 32

WOOD, Stephen. "Toyotismo e/ou Japonização". In Helena Sumiko HIRATA (org.) Sobre o "Modelo" Japonês: automatização, novas formas de organização e de relações de trabalho. São Paulo: Ed. Universidade de São Paulo, 1993. p. 54. 33 WOOD, Stephen. "O Modelo Japonês em debate; pós-fordismo ou japonização do fordismo". Revista Brasileira de Ciências Sociais, Número 17, Ano 06, outubro de 1991. p. 36. 20

agregam o velho e o novo. Assim, "é melhor tratar o modelo de administração japonês como algo híbrido, mistura de teorias existentes, aliado a novas descobertas importantes, particularmente aos métodos de produção just-in-time, as novas formas de controle de qualidade e ao valor atribuído a relações mais próximas entre fornecedores e usuários finais".35

FORDISMO: UM MODELO DE MUITAS FACES Este também é o caminho percorrido por Lipietz e Leborgne que, em última análise, estariam preocupados com a seguinte asserção: se os anos 80 marcaram o esgotamento do modelo fordista de desenvolvimento, uma questão também é certa: trata-se de uma década marcada por profundas inovações e mudanças no que respeita ao cenário produtivo que ainda não foram totalmente concluídas. Quais seriam as novas configurações? Qual o modelo ou os modelos de desenvolvimento que emergiram no período pós-crise? As respostas são difíceis, mas segundo os autores "para ser um sério candidato à 'saída da crise' todo novo modelo de desenvolvimento deverá ser no mínimo coerente". Desse modo, deve trazer, ou desenvolver em seu cerne três condições entendidas conjuntamente: - uma forma de organização do trabalho – ou seja, um paradigma industrial; - uma estrutura macroeconômica – um regime de acumulação; - um conjunto de normas implícitas e de regras institucionais – um modo de regulação. A essas três condições associam-se, como pano de fundo, as novas tecnologias baseadas em conteúdos eletrônicos. Para os autores, estas, apesar de trazerem consigo a capacidade de configurar o novo modelo, não são determinantes nos processos de mudanças produtivas. Simplesmente porque "são compatíveis com toda uma 'gama de novos modelos de desenvolvimento`" 36 . Em outras palavras, trata-se de um truísmo partir das inovações tecnológicas para explicar as transformações que estão ocorrendo no modelo de produção fordista. Afinal, em todo processo produtivo encontra-se tecnologia. Neste caso, se partirmos do imperativo tecnologia estaremos correndo o risco de nada explicar ou de cometer graves erros.

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WOOD, Stephen. Toyotismo e/ou Japonização ... op., cit., p. 56. Id., Ibid., p. 55. Grifos nosso. 36 LIPIETZ, Alain; LEBORGNE, Danièle. "O pós-fordismo e seu espaço". Trad. Regina Sílvia Pacheco. São Paulo: Espaço & Debates. Revista de Estudos Regionais e Urbanos. Ano VIII, nº 25, 1988. p.12. As citações anteriores foram retiradas desta mesma página. 35

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Partindo de economistas, esta afirmação soa bem aos ouvidos de um sociólogo. Mas o fato é que Lipietz e Leborgne não estão interessados em esgotar o tema. Afinal, isto é impossível. O caminho percorrido é a constituição de tipos ideais numa clara tentativa de construir alternativas (ou modelos) que se configuraram após a crise do fordismo nos anos 70. Partindo da organização do trabalho, das relações salariais e de contratação e da organização da estrutura produtiva os autores construíram três classes modelares (vias) pós-fordistas. A primeira alternativa recebe o nome de neotaylorista. Segundo os autores, suas bases estão firmadas, no que diz respeito à organização do trabalho, na total expropriação do saber operário e no triunfo da engenharia e do setor administrativo. Neste sentido, recuperam-se os princípios de Taylor (1911) exagerando-os quanto à bifurcação concepção e execução, estando concentrados na administração todo o conhecimento e iniciativas que são desenvolvidas no piso fabril. E como afirmam os autores: "a fábrica poderia se tornar uma espécie de módulo automático intergaláctico, talvez com alguns operários para tarefas de provisão ou de limpeza e alguns técnicos regulando o processo". 37 Esse sonho, acalentado pelos empresários, surgiu no momento (mais precisamente nos anos 70) em que os trabalhadores reagiam às constantes e intensificadas rotinas de trabalho. Para os donos dos meios de produção tratava-se de vencer as insubordinações operárias, mesmo que isso pudesse acarretar o fim do trabalho vivo nas fábricas. Esta escolha, eminentemente política, foi logo abandonada, tendo em vista os altos custos que suscitava. Esta via teria ocorrido na Fiat italiana e sua implosão, além de revelar o caráter reversível da mecanização, evidenciou sua arbitrariedade através dos conflitos entre o capital e o trabalho que se dão no interior do paradigma fordista. Desse modo, não pareceu ser uma alternativa tão plausível do ponto de vista do capital. Quanto à questão da contratação, esta via se assenta na confirmação de contratos rígidos para a força de trabalho mais qualificada e contratos flexíveis para a massa de operários desqualificados. O futuro, no entanto, não é promissor, pois terá por base "estruturas sociais muito insatisfatórias, com uma polarização das qualificações, um dualismo no mercado de trabalho e na sociedade".38 Já no que concerne à estrutura da organização produtiva, a via neotaylorista se apoiaria em uma integração verticalizada territorialmente desintegrada, ou seja, as divisões de empresas contratantes e firmas fornecedoras são mais acentuadas espacialmente. O resultado é a 37 38

Id., Ibid., p. 17. Id., Ibid., p. 20. 22

constituição de dois espaços regionais diferenciados, distantes e polarizados. De um lado, predominariam grandes áreas urbanas consideradas desqualificadas, de outro lado estariam as grandes corporações industriais, verdadeiros pólos de conhecimento. Esta cisão, sempre segundo os autores citados, fere e divide o tecido social, uma vez que "as tarefas de nível superior (P&D, concepção, finanças, empregos terciários de alto nível) concentram-se nos 'centros modais' de algumas metrópoles, mais precisamente em seus centros, com toda uma hierarquia de subúrbios, de centros urbanos secundários, (...) como em tais metrópoles, a riqueza seria concentrada, a proliferação de pobres em busca das sobras do gasto dos ricos faria aumentar um segmento secundário de empregos em serviços pessoais com um dualismo no interior das cidades, segundo o sexo, etnia etc.".39 Este quadro estaria ocorrendo atualmente nos Estados Unidos, e certamente não corresponde ao melhor dos mundos possíveis no modo de produção capitalista. De qualquer maneira, este modelo de organização produtiva é a mais pobre das Quase Integração Vertical (QIV) 40, pois "a qualidade medíocre dos elos na hierarquia entre as firmas reflete a fraca qualidade das relações de trabalho no interior delas".41 A segunda alternativa é denominada californiana e, ao contrário da primeira, o trabalho recebe atenção especial, pois nesta via é imprescindível o engajamento dos trabalhadores na garantia de maior produtividade. Esse engajamento dá-se individualmente, seja através de métodos cooptativos (prêmios, promoções, participação nos lucros, bônus), seja por meio de mecanismos coercitivos (ameaças de demissões, perda de direitos, intensificação do ritmo de trabalho); ambos assentados num complexo processo de reintegração do trabalho mental (concepção) e manual (execução). Daí os autores afirmarem que este engajamento significa "mais profissionalismo e mais interações de ambos os lados (não-hierárquicas e não-mercantis). Mas a relação mercantil sempre prevalece nos modelos californianos, seja nas relações profissionais, seja na circulação de produtos".42 Esta via pode ser observada em algumas plantas japonesas e, em certa medida, em solo americano (como é o caso da Silicon Valley de Santa Clara).43 39

Id., Ibid., p. 24. Grifo dos autores. Segundo os autores citados a QIV "pode ser caracterizada por: relações estáveis entre fornecedores e clientes; uma importante participação do cliente no volume de negócios do fornecedor; um campo de subcontratação extenso, indo da concepção à comercialização; formas não mercantis de relações interfirmas, indo da subordinação à parceria". Id., Ibid., p. 23. 41 Id., Ibid., p. 24. 42 Id., Ibid., p.25. 43 Vale do Silício, localizado na Califórnia (EUA) onde estão implantadas as mais poderosas e ricas indústrias de informática do mundo, como a IBM, a Microsoft e a Intel. 40

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No que se refere à contratação de coletivos operários, os autores identificaram no modelo californiano a constituição de um sistema de mercado segmentado em três níveis: no primeiro, estariam aqueles trabalhadores autônomos cuja relação salarial alicerça-se na mobilidade e na negociação individuais. No segundo segmento figurariam os operários que desempenham funções subordinadas. Sua relação salarial é rígida, mas não lhes é dispensado o pagamento de salários indiretos, como é o caso de bônus. O terceiro e último nível inclui todos os trabalhadores desqualificados que exercem atividades taylorizadas. O contrato de trabalho não é rígido e a relação salarial é precária. Finalmente, quanto ao sistema produtivo, este se assenta em determinantes locais e monossetoriais. No primeiro caso, a estrutura empresarial é caracterizada pela especialização intra-setorial de firmas, numa clara tendência à Quase Integração Vertical (QIV) entre as empresas participantes do processo. Quanto ao segundo caso, este é caracterizado por firmas que não precisam necessariamente estar próximas para efetuarem a integração, "as origens das firmas podem ser externa à região ou interna". Ao contrário das primeiras, estas firmas em geral atendem a demanda exterior, e como o próprio nome diz, atuam basicamente em um só setor. O último modelo delineado por Lipietz e Leborgne é denominado saturniano e, ao contrário da segunda alternativa, apóia-se em relações de trabalho cooperativas, e a relação contratual com os donos do capital dá-se através de negociações coletivas. Nesse sentido, até o sindicato coopera ou mesmo participa: "o sindicato oferece o engajamento de seus membros na luta pela produtividade e alto padrão de qualidade em troca de um direito de controle sobre as condições de trabalho, as demissões e a distribuição dos ganhos de produtividade". 44 Esta alternativa talvez seja a mais promissora para o conjunto da classe trabalhadora pois, ao abrir as possibilidades de negociação, os empresários abrem as possibilidades para que os operários se organizem efetivamente para tirar proveito das condições que pode suscitar este modelo. No que diz respeito à contratação, parte dos acordos de trabalho tornam-se rígidos, mas esta possibilidade é condicionada às devidas negociações entre empregados, sindicato e empresa. Todavia, Lipietz e Leborgne asseveram que esta alternativa aparece como "uma utopia para o trabalho", isto porque "uma classe de modelos como esta é capaz de apresentar as propriedades de estabilidade do fordismo, o patronato tirando proveito das vantagens de uma

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Id., Ibid., p. 18. 24

revolução tecnológica menos intensiva em capital e mais produtiva, os trabalhadores vendo garantidos uma maior segurança de emprego e salários mais altos e/ou menos tempo de trabalho".45 Características deste modelo podem ser observadas em diferentes regiões, como é o caso do Japão, Suécia, Itália, França e norte da Alemanha. Para finalizar, passamos a discutir a organização industrial que se assenta na integração territorial. Neste caso, as empresas estão inseridas em uma rede integrada, diversificada e com tendências a focalizarem sua atividade na fabricação de apenas um produto. Abaixo da empresa-mãe, no topo da estrutura piramidal, concentrar-se-iam as firmas subcontratadas. O modelo supõe ainda a constituição do que os autores chamam de áreas sistemas destinadas à "difusão organizada, e até planejada, do saber social, com elos estreitos entre o sistema bancário regional e o sistema industrial, elos estreitos com todo o resto da sociedade civil (incluindo a agricultura, a família, a escola), com importantes possibilidades de promoção social ascendente através da educação e do engajamento etc.". 46 Nesse sentido, o modelo baseia-se principalmente no consenso social, evitando que qualquer processo venha a desintegrá-lo futuramente. O que se depreende das análises de Lipietz e Leborgne é a possibilidade de diversas bifurcações modelares oriundas da crise do modelo de desenvolvimento fordista. Todavia, os autores não as entendem como modelos já dados, também não suscitam a idéia de que nada mudou. A proposta dos autores, é bem verdade, aproxima-se das concepções de Stephen Wood (1991, 1993) que sugere a possibilidade da configuração de modelos híbridos. Não obstante, Lipietz e Leborgne tentam vislumbrar quais seriam estes modelos que carregam suas próprias especificidades. Essa a razão pela qual o neotaylorismo, os modelos californiano e saturniano aparecem como modelos de produção nascidos pós-crise do fordismo, com diferenças significativas no que respeita ao engajamento do trabalhador, divisão do trabalho, contratação e organização produtiva. Porém, cabe ressaltar o lugar que os autores reservam para a tecnologia. Esta entra como pano de fundo mas não como fator determinante e vitalizador de análise. A aposta dos autores se baseia nas forças sociais e econômicas, estas sim capazes de moldar, modificar ou desenvolver novos modelos. Desse modo, existem "forças poderosas que empurram os proprietários de capital" em certa direção, bem como forças contrárias que vitalizam os trabalhadores. É com base nesta luta ou neste

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Id., Ibid., p. 21. Id., Ibid., p. 25. 25

jogo de interesses recheados por tradições culturais, políticas e sociais que se dá a emergência de novos modelos de produção, ou como afirmam os autores já citados: (...) assim como o presente, o futuro pode vir a se apresentar como uma mistura imprevisível dessas três categorias de modelos. Mas, em todo caso, ele não será simplesmente determinado 'pela lógica do capital' nem pela lógica das novas tecnologias. Como nas grandes crises precedentes, a força e a orientação do movimento operário terão importância decisiva quanto à orientação do capitalismo do pós-crise.47 À GUISA DE CONCLUSÃO Estamos assistindo à configuração de um novo modelo de regulação capitalista? Estariam aflorando novos processos de trabalho e novas estruturas de organização da produção? Teriam estes invadido o espaço privado do cidadão ao ponto de configurar novos valores que estariam interferindo substancialmente em sua forma de consumir? Trouxeram eles novos ventos que desarrumaram o mercado de trabalho, criando uma perigosa bifurcação? Estas questões, colocadas desta forma, após uma revisão dos rumos dos acontecimentos no chamado mundo do trabalho, nos levam a pensar em um momento de incertezas. Não obstante, estudiosos têm mostrado que algo mudou, que a crise do modelo de desenvolvimento fordista desencadeou uma série de modificações que atingiram não apenas o que ocorre dentro das fábricas, mas também, e principalmente, fora delas. É neste contexto que emergem as experiências conhecidas como a Terceira Itália, o Modelo Japonês (o exemplo mais estudado é o da Toyota) e o Modelo Sueco (a experiência da Volvo é exemplar). Todos os exemplos são utilizados, em larga medida, para evidenciar a emergência de um novo padrão de desenvolvimento produtivo que busca substituir os mecanismos e os determinantes que sedimentaram o fordismo: (a) o fim da produção em massa alicerçado na fabricação de peças e produtos padronizados; (b) o drástico afastamento de grandes contingentes de operários desqualificados; (c) o desaparecimento de postos de trabalho demarcados por pessoa e por tarefa; (d) o fim das tarefas monótonas e fatigantes; (e) a diminuição de complexas e inflexíveis hierarquias administrativas; (f) a decrescente inserção do Estado na Economia (g) o final do consumo em massa e (h) a decrescente resistência nos locais de trabalho devido ao engajamento operário em programas de aumento de produtividade. No entanto, essas mudanças trazem em seu cerne novas configurações: (a) emergência da produção diversificada e em pequenos lotes; (b) o predomínio do trabalho qualificado; (c) a

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constituição de postos de trabalho enriquecidos que suscitam operações criativas e especializadas; (d) aparece o trabalho em equipe, em detrimento das atividades individuais e solitárias e (e) as cartas são jogadas a favor do mercado, enquanto o Estado assume o lugar de mediador de interesses e o papel de anfitrião de capitais internacionais. Muito bem, mas as modificações delineadas estão longe de suscitarem consenso. Como vimos, os autores divergem em algumas questões: de um lado figuram aqueles que acreditam em um novo divisor de águas. Assim, estaríamos vivenciando a configuração de um padrão inédito de regulação do modelo de produção capitalista: a especialização flexível (PIORE & SABEL, 1984). Uma das virtudes destes autores é a de terem chamado atenção para a emergência de novos processos que estão rapidamente modificando o cenário da produção e, com base nesta percepção, ter vislumbrado as organizações sociais que transformaram o modo de produzir (por lotes e em pequenas quantidades), o trabalho (que passou a ser qualificado, polivalente e multifuncional) e a estrutura produtiva (descentralização da produção e desaparecimento da integração verticalizada). Talvez sejam otimistas demais, pois apostam na criatividade e no substancial aumento da liberdade dos agentes econômicos (trabalhadores e capitalistas). Contudo, não deixaram de verificar as mazelas sociais, como a segmentação dos mercados de trabalho e o aumento de formas precárias de atividades laborais. Por outro lado, encontramos autores que relativizam o debate sobre o que aconteceu no pós-crise do fordismo (CLARKE, 1991). Como vimos, não a negam: acreditam em sua flexibilidade. A permanência e o desenvolvimento de grandes corporações, a continuidade da produção em grande escala e a necessidade da aproximação do espaço privado e fábrica são argumentos que garantem sua legitimidade. Além disso, estes autores apostam no desenvolvimento e fortalecimento do fordismo, já que este sistema é mais do que linha de montagem ou trabalho desqualificado. Ele é, acima de tudo, um projeto hegemônico que objetiva criar um novo homem e uma nova sociedade. Não obstante, argumentos contundentes partiram daqueles autores que, ao mesmo tempo que perceberam mudanças (LIPIETZ & LEBORGNE, 1988) destacaram continuidades. Eles defendem a existência de um casamento perfeito entre o novo e o velho que demonstra quão profunda é a vida social humana. Os indivíduos não são atores atomizados e têm a capacidade de produzir novas configurações de trabalho. Os autores dessa abordagem não

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Id., Ibid., p. 26. 27

acreditam em determinismos tecnológicos, jogam suas cartas nas forças sociais e/ou econômicas, e esperam os resultados do jogo de interesses. E é isso que vem acontecendo após a crise que assolou o fordismo no final da década de 60, e os autores entendem que existe, sim, a constituição de novos modelos, mas estes não estão divorciados dos princípios apregoados pelo taylorismo/fordismo. Muito pelo contrário, em todo casamento há divergências, reconciliações e modificações. Nesse sentido, o taylorismo/fordismo constituem modelos híbridos de produção e de organização do trabalho, e como aconteceu no passado, os atores sociais, além de contribuir na produção de novos modelos, se ajustam a seus determinantes, independentemente da configuração que venham a ter. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGLIETTA, Michel. Regulacion y crisis del capitalismo: la experiencia de los Estados Unidos. Trad. Juan Bueno. Espanha – Madrid: Siglo Veintiuno España Editores, 1979. BARROS, Lúcio Alves de. O "novo" e o "velho": o trabalho e o processo produtivo em discussão: o caso da Companhia Siderúrgica Mendes Júnior/Belgo-Mineira Participação. Belo Horizonte: Departamento de Sociologia e Antropologia, FAFICH, UFMG. Dissertação de Mestrado em Sociologia, 1998. BARROS, Lúcio Alves de . "O 'novo' e o 'velho': o trabalho e o processo produtivo em discussão". Impulso – Revista de Ciências Sociais e Humanas, Piracicaba, v. 10, n. 22-23, jan. 1998. BOYER, Robert. A teoria da regulação: uma análise crítica. Trad. Renée Barata Zicman. São Paulo: Nobel, 1990. BRANT, Vinícius Caldeira. Trabalho e conflito: Repensando atores, sujeitos e configurações. In: SANTOS, José V. T. dos & GUGLIANO, Alfredo Alejandro (org.). Pelotas: Ed. Universidade Católica de Pelotas, 1999. CASTELLS, Manuel. A Sociedade em Rede: a era da informação. São Paulo: Ed. Paz e Terra, 1999. Volume I. CLARKE, Simon. Crise do fordismo ou crise da social-democracia? Trad. Isa Maralendo. Lua Nova, Revista de Cultura e Política. set. 1991, n.24. CORIAT, Benjamin. Automação programável: novas formas e conceitos de organização da produção. In: Automação, competitividade e trabalho: a experiência internacional (org.) Hubert SCHMITZ & Ruy de Q. CARVALHO. São Paulo: Hucitec, 1988. CORIAT, Benjamin. & OLIVER Weinstein. Les nouvelles théories de l'entreprise. Paris: Le Livre de Poche. CORIAT, Benjamin. El Taller y el Robot: ensayos sobre el fordismo y a produccion en masa en la era de la electrónica. Madrid: Siglo Veintiuno, 1992. CORIAT, Benjamin. Pensar pelo avesso: o modelo japonês de trabalho e organização. Rio de Janeiro: Revan /UFRJ, 1994. FARIA, José Henrique de. Círculo de controle de qualidade, a estratégia recente da gestão capitalista de controle e modificação do processo técnico do trabalho. Revista Brasileira de Administração, São Paulo: EAESP, FGV, n.19 (3), set. 1984. FORD, Henry; CROWTHES, Samuel (colaboração). Minha vida e minha obra. Trad. Silveira Bueno. São Paulo: Companhia Gráphico Editora Monteiro Lobato, 1925.

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Lúcio Alves de Barros é bacharel e licenciado em Ciências Sociais pela UFJF, mestre em Sociologia e doutorando em Ciências Humanas: Sociologia e Política pela UFMG.

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