Moedas: a numismática e o estudo da História.

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A Numismática e o estudo da História

COLEÇÃO HISTÓRIA E ARQUEOLOGIA EM MOVIMENTO Direção: Pedro Paulo A. Funari

Esta coleção visa à publicação de obras originais, com base em uma visão crítica e atualizada, das principais questões historiográficas e arqueológicas. A coleção publica obras organizadas e livros de autoria individual, de autores nacionais ou estrangeiros, em diferentes estágios de suas carreiras, de modo a integrar o que há de mais inovador com as mais reconhecidas contribuições. Sempre marcados pela excelência acadêmica, volumes introdutórios e obras específicas e aprofundadas constituem o cerne da coleção. Conheça os títulos desta coleção no final do livro.

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A Numismática e o estudo da História

Claudio Umpierre Carlan Pedro Paulo A. Funari

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP C278

Carlan, Cláudio Umpierre; Funari, Pedro Paulo A. Moedas: a numismática e o estudo da História. / Cláudio Umpierre Carlan e Pedro Paulo A. Funari. – São Paulo: Annablume, 2012. (Coleção História e Arqueologia em Movimento). 100 p. ; 14x21 cm ISBN 978-85-391-0415-4 1. Economia. 2. História Econômica. 3. História Financeira. 4. Moeda. 5. História das Moedas. 6. Numismática. I. Título. II. A numismática e o estudo da História. III. A moeda, conceitos básicos. IV. Fabricação e estudo das moedas. V. Moeda, economia e sociedade. VI. Moedas, representações e poder. VII. Série. VIII. Carlan, Cláudio Umpierre. IX. Funari, Pedro Paulo A. CDU 336.7 CDD 330 Catalogação elaborada por Ruth Simão Paulino

MOEDAS: A NUMISMÁTICA E O ESTUDO DA HISTÓRIA Projeto, Produção e Capa Coletivo Gráfico Annablume CONSELHO EDITORIAL Eduardo Peñuela Cañizal Norval Baitello Junior Maria Odila Leite da Silva Dias Celia Maria Marinho de Azevedo Gustavo Bernardo Krause Maria de Lourdes Sekeff (in memoriam) Pedro Roberto Jacobi Lucrécia D’Aléssio Ferrara 1ª edição: julho de 2012 © Cláudio Umpierre Carlan e Pedro Paulo A. Funari ANNABLUME editora . comunicação Rua M.M.D.C., 217 . Butantã 05510-021 . São Paulo . SP . Brasil Tel. e Fax. (011) 3539-0226 – Televendas 3539-0225 www.annablume.com.br

Para Tony Hackens (in memoriam) Para Carlos Fabião

Agradecimentos

Agradecemos a André Leonardo Chevitarese, Carlos Fabião, Carlos Magnos Guimarães, José Remesal. Mencionamos o apoio institucional do Laboratório de Arqueologia Pública Paulo Duarte da Unicamp (LAP/Unicamp), Fapesp, CNPq, CEIPAC, da Universidade de Barcelona, Espanha, Universidade Federal de Alfenas e Museu Histórico Nacional. Agradecimentos especiais a FAPEMIG (Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de Minas Gerais), pelo apoio e auxílio sempre a nós dedicado. A responsabilidade pelas ideias restringe-se aos autores.

Sumário

11 Prefácio Gabriele Cornelli 15 Apresentação Renata Senna Garraffoni 17 Introdução

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1. A moeda, conceitos básicos Conceito de moeda Antes da moedinha A moeda e seus significados O que caracteriza uma moeda?

29 2. Fabricação e estudo das moedas 29 A moeda e seu estudo 33 Análises monetárias

37 O metal, fundamento monetário, e as minas 44 A fabricação das moedas 48 As imitações

51 51 58 60

3. Moeda, economia e sociedade O sistema monetário Descoberta e guarda das moedas A economia e a moeda

65 4. Moedas, representações e poder 65 A Iconografia Monetária 69 Política 77 Conclusão 81 Referências 85 Abreviaturas 87 Cronologia 89 Bibliografia 93 Os autores

Prefácio

Aquí está la moneda de hierro. Interroguemos  las dos contrarias caras que serán la respuesta  de la terca demanda que nadie no se ha hecho:  ¿Por qué precisa un hombre que una mujer lo quiera?  (J. L. Borges. La moneda de hierro)

Crianças e historiadores olham para as moedas de forma muito parecida. Lembro meu fascínio, quando criança, pela coleção de moedas que meu pai guardava na cômoda de seu quarto. Por vezes, pedia para olha-las, e, junto com uma breve explicação, vinha uma parte da história do País e da família, de quem havia dado a moeda, de como havia sido guardada e do porquê. Era uma coleção extremamente modesta, mas havia nela um tesouro inestimável de histórias que dava a cada peça uma unicidade preciosíssima. Recordo também de minha filha Cissa, que, com 2 ou 3 anos, ao receber algumas moedas para comprar um sorvete,

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havia ficado extremamente decepcionada com a necessidade de entregar este pequeno tesouro brilhante em troca de uma casquinha: as noções de “equivalente geral” e “valor liberatório” não fazem parte normalmente do léxico das crianças. Fazem parte do léxico dos historiadores, sim, é claro, mas gosto de pensar, junto com o poema do Borges acima, que estes últimos, como as crianças, conseguem vislumbrar muito além da função de troca econômica que pequenos pedaços de metal costumam representar. É certamente este o caso do livro Moedas, que aqui se apresenta, último lançamento da já consolidada Coleção História e Arqueologia em Movimento, do selo Annablume. Os autores dispensam apresentação, por serem lideranças científicas reconhecidas na área de arqueologia e história no País, e, no caso do Prof. Pedro Paulo Funari, certamente bem além de nossas fronteiras. Já a obra, inédita em seu gênero, merece, ao contrário, algumas breves notas de apresentação. A ideia de apresentar para um público relativamente leigo uma introdução à Numismática, ao mesmo tempo técnica e acessível, vem certamente ao encontro dos muitos estudiosos do mundo clássico que frequentemente se deparam com a necessidade de consultarem um catálogo de moedas antigas. Frequentemente, estes mesmos especialistas enfrentam uma dificuldade insuperável para retirarem destes as informações necessárias a sua própria pesquisa, a menos de recorrer a obras de alta complexidade técnica e escrita esotérica para a maioria dos estudiosos. Quiçá, todavia, a vantagem menos evidente da obra, mas certamente mais significativa, é exatamente aquele de ampliar, com a articulação das mais diversas metodologias do trabalho histórico, o sentido e o uso das moedas. De objetos de troca exclusivamente econômicos se tornam ora lembranças, ora amuletos, ora ainda símbolos de poder, identidade, desejos. Em

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todo caso, representações de um quotidiano da vida de nossos antepassados que revela sugestões fascinantes da estruturação da vida e da memória de indivíduos e comunidades. Este livro de Carlan e Funari cumpre assim um papel essencial para aproximar especialistas e leigos a um mundo de informações e sentidos. Pois mexendo nos bolsos da história, por assim dizer, a Numismática pode nos ensinar muito sobre nos mesmos e nossas trocas cotidianas, tanto econômicas como simbólicas.

Brasília, agosto de 2012 Gabriele Cornelli Presidente da Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos Universidade de Brasília

Apresentação

O livro que o leitor tem em mãos é, com certeza, muito instigante e apresenta ao público a potencialidade do estudo das moedas como fonte histórica, aspecto pouco estudado no Brasil se considerarmos a riqueza e diversidade das peças que se encontram sob a guarda do Museu Histórico Nacional do Rio de Janeiro. Escrito por especialistas em história e arqueologia da Roma antiga, Claudio Umpierre Carlan (professor na Universidade Federal de Alfenas) e Pedro Paulo Abreu Funari (professor na Universidade Estadual de Campinas), Moedas: A Numismática e o Estudo da História aborda temas variados, desde a invenção das moedas, passando por estudos acerca d e sistemas financeiros até as representações simbólicas e culturais implícitas nas imagens que carregam. Com uma linguagem de fácil acesso e, ao mesmo tempo, aprofundada, os autores nos guiam por diferentes contextos e discussões que seguramente interessará aos que apreciam a história das moedas. Entre os muitos méritos do livro, a linguagem acessível permite

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aos autores explorar, de maneira didática e apaixonante, as diferentes relações que as pessoas estabeleceram com elas ao longo do tempo. Traçando análises que abordam a faceta econômica e financeira das moedas, essencial para entender como esse tipo de artefato pode se tornar documento histórico, e explorando suas dimensões simbólicas e políticas, os autores apresentam discussões que permitem uma reflexão mais ampla sobre a importância da cultura material para se entender o passado. Os recortes e as abordagens propostas abrem caminhos para o leitor refletir sobre como os especialistas estudam o tema e, também, a perceber a importância dos trabalhos de pesquisa, catalogação, preservação e divulgação. A aposta dos autores, ao formular esse livro, é incentivar as pessoas a conhecerem os princípios básicos da Numismática, suas possibilidades de estudo no país e estimular a percepção na qual as moedas podem ser peças chaves para entendermos o passado e o presente de diferentes sociedades. A postura adotada é fundamental para aproximar leitores com diferentes interesses e fomentar novos estudos incentivando o desenvolvimento da área no país. As páginas que se seguem são, portanto, especiais, um delicioso convite de dois renomados estudiosos da área para que possamos pensar sobre o potencial das moedas como documento histórico, como fonte de reflexão sobre as sociedades, um incentivo para darmos o primeiro passo em direção ao mundo fascinante das moedas. Boa leitura!

Curitiba, 23 de julho de 2012 Renata Senna Garraffoni (DEHIS/UFPR)

Introdução

O interesse pela moeda é tão antigo como ela própria, desde meados do primeiro milênio a.C. A preocupação moderna começou com o estudo dos sistemas monetários antigos, publicado em 1514 pelo humanista francês, Guillaume Budé e consolidou-se apenas no final do século XVIII e no início do século XIX. Nessa época, forjou-se o termo “Numismática”, expressão derivada da palavra latina nummus, “moeda” e que significa o estudo das moedas cunhadas. A primeira impressão, portanto, é que a Numismática seja o estudo da História econômica e financeira, o que não está errado, mas não abrange todo o universo de preocupações do estudo numismático. Como lembra o estudioso francês Jean Babelon: “o campo da Numismática é imenso, pois a moeda reveste-se de aspectos infinitamente variáveis, uma mina de informações sobre a História das religiões, dos costumes, da arte, das relações sociais ou comerciais, sobre a civilização, sobre a política”.

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Neste volume, apresentamos uma introdução a esse universo fascinante e variado e convidamos o leitor a iniciar-se num mundo cheio de atrativos. Em particular, vamos explorar os aspectos históricos das moedas, como fonte nem sempre conhecida, mas inesgotável para o conhecimento da História. A Numismática é uma ciência histórica que pode ser muito técnica, com análises estatísticas, ancorada, até mesmo, na física nuclear. Quantos historiadores ou, menos ainda, quantas pessoas interessadas nas moedas dominam tais técnicas? Muito poucas. Isso, à vezes, contribui para um distanciamento em relação ao tema, mas, como veremos neste livro, há muito para conhecer, mesmo sem sermos estatísticos ou físicos. Outro aspecto do estudo das moedas consiste na constituição de catálogos de peças de museus ou mesmo na publicação de um corpus ou catálogo de moedas de uma cidade, época ou assim por diante. Esse tipo de publicação é fundamental e está na base dos estudos numismáticos. São fundamentais para que conheçamos o acervo monetário de uma instituição, como o Museu Histórico Nacional, no Rio de Janeiro, ou para que possamos entender as cunhagens de uma cidade grega antiga ou todas as moedas que tratam de um terminado tema. Como recorda François Rebuffat, os catálogos são “trabalhos necessários, mas que apenas fornecem aos estudiosos uma matéria prima indispensável a estudos posteriores”. A leitura de um catálogo restringe-se aos especialistas e pode, também, afastar o interessado na moeda como fonte histórica, por sua aridez e caráter técnico. Este livro tem como objetivo introduzir o leitor a esse rico universo da moeda, sem aridez ou tecnicidades, como um aperitivo que o leve a conhecer um pouco da numismática e possa saber como se aprofundar.

1. A moeda, conceitos básicos

Conceito de moeda

O que seria a moeda? Na nossa língua portuguesa, o termo engloba conceitos distintos, mas interrelacionados: um objeto metálico circular, que levamos no porta-moedas, aquilo que, em inglês, se chama de coin. Em seguida, indica um valor monetário de um estado ou união monetária, como o dólar, o euro ou o real. Em inglês, neste caso, o termo é currency. Por fim, em um nível ainda mais amplo, refere-se ao dinheiro, a um sistema de equivalência geral que serve para medir o preço das coisas, chamado, em inglês, money. Os três conceitos não por acaso usam uma mesma palavra em nosso idioma, moeda, pois na origem, como veremos, havia as moedas metálicas circulares, que serviam de padrão monetário e que eram um equivalente geral para o valor de tudo. Tanto em termos históricos, como conceituais, tudo começa com a moedinha que está em nosso bolso: o meio de troca quotidiano.

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Antes da moedinha

Hoje, estamos tão acostumados com a compra e a venda, com o uso do dinheiro no bolso (ou do cartão), que não percebemos como se fazia antes desses meios de troca. Nem sempre existiu a moeda. Nas civilizações antigas, como a egípcia e a mesopotâmica, mas mesmo na romana, usavam-se, para as trocas, objetos de valor, como meio de pagamento e de medida de valor. Segundo o autor romano Varrão (116-27 a.C.), pecúnia, dinheiro, deriva de pecus, gado, usado como meio de troca. As etimologias de Varrão não são, hoje em dia, consideradas corretas, mas, o que importa é que os antigos acreditavam nelas. Assim, considerava-se que a unidade para calcular o valor era a cabeça de gado. Outro termo revelador é salário: pagamento em sal. Em ambos os casos, o que importa é o uso de um bem valorizado socialmente como medida. O jurista romano Paulo, no século I d.C., definiu essas trocas não monetárias de forma precisa: “Antigamente, não havia moeda cunhada e não havia nome para designar a mercadoria, de um lado, e o preço, de outro. Cada qual, segundo as necessidades das circunstâncias, trocava as coisas que não eram úteis para si, por outras que o eram. Isto porque é comum que uma pessoa tenha necessidade de algo que sobra para outra pessoa”.

As sociedades indígenas também se estabeleceram e chegaram a possuir redes comerciais, sempre a partir do uso de produtos como meio de troca e sem terem nunca usado a moeda, algo que chamou a atenção dos europeus que chegaram à América, no início da Era Moderna. Garcilaso de la Vega, cronista nascido no Peru em 1539, filho de uma princesa inca

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e de um conquistador ibérico, escreveu um relato sobre esse povo da América do Sul: “Como todos sabem, os incas possuíam uma grande quantidade de ouro, prata e pedras preciosas. Poderia se pensar que tudo isso vinha de tributos compulsórios, mas não era este o caso. Nada podia ser comprado ou vendido no reino inca, pois não havia moeda de ouro ou prata e esses metais não podiam senão ser considerados como supérfluos, pois não podiam ser comidos, nem se podiam comprar nada para comer, com tais metais. Não havia moeda. Eram apenas considerados metais bonitos e brilhantes, para adornar os palácios reais, os templos solares e os conventos”.

Isto significa que a existência de impérios e trocas comerciais não depende do uso da moeda. Grandes impérios, como o inca, o asteca e o maia, no continente americano, não conheceram a moeda – como tampouco usaram a roda. Não sendo imprescindível, tanto mais chama a atenção a invenção, uso e difusão da moeda. Como e porque isso teria ocorrido? A moeda e seus significados

Karl Marx (1818-1883) definiu de maneira muito simples e direta a moeda: “O dinheiro é apenas a expressão independente de uma quantidade definida de tempo de trabalho social”.

Tudo que é produzido resulta de um determinado esforço de trabalho humano e o dinheiro funciona como um equivalente geral que permite relacionar esses dispêndios de força produ-

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tiva. Se dois produtos diferentes custam a mesma coisa, dez reais cada um, isto significa que o trabalho social em ambos é equivalente e para isso serve o valor monetário (os dez reais como medida de valor). Como explica Marx: “Assim, ao considerarmos a existência da mercadoria como dinheiro, não é necessário enfatizar que no dinheiro as mercadorias adquirem uma medida definida do seu valor, mas que todas as mercadorias se tornam manifestações do trabalho social, geral e abstrato. Aparecem como encarnação direta do trabalho social, podem ser diretamente trocadas por todas as outras mercadorias na proporção do seu valor”.

Portanto, a existência de um equivalente geral permite que as trocas se façam de maneira clara e objetiva e esta função básica da moeda explica parte importante dos motivos do surgimento e difusão da moeda. Embora não seja indispensável, como vimos, a existência de um equivalente geral reveste-se de uma utilidade também inegável. Mas não foi apenas por isso que surgiu a moeda: ela teve, desde o início, uma função política e isto não nos deve surpreender. Para que o dinheiro possa ter essa função de equivalente geral acenado por Marx é necessário que haja algum tipo de organização política que estabeleça os parâmetros, emita a moeda e reconheça o seu estatuto de equivalente geral. O Real depende da existência do Estado brasileiro. O Euro depende de uma entidade política, a União Européia, e de um órgão emissor decorrente da União, o Banco Central Europeu. Portanto, em termos conceituais, a moeda, mesmo em sua função mais econômica, como equivalente geral, existe em relação a uma organização política. A própria palavra dinheiro deriva de

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uma moeda concreta emitida pela república romana, o denarius, uma moedinha de prata introduzia em 211 a.C., com o peso de 1/72 de uma libra romana (4,5 gramas). O nome latino indicava o valor de dez asses (daí denarius, “que vale dez”). Em outros idiomas, como o alemão de Marx, a palavra dinheiro tem outras conotações (Geld, relacionado ao ouro), mas no português, como em muitas outras línguas, mantém-se a ligação do nome para dinheiro e uma moeda concreta original. As palavras revelam muito, como é o caso do termo inglês coin (moeda), cuja origem denota a cunhagem, o cunho, a impressão de algo. De fato, a definição de moeda mais aceita é a seguinte: “uma peça de metal de peso e valor definido, com uma impressão oficial estampada”.

A moeda surgiu, portanto, com um pedaço de metal com marca impressa, um selo, com referência à autoridade política que garantia o valor. Esta referência política costuma dar-se tanto pela imagem, como pela escrita, como na famosa passagem do Evangelho de Mateus, quando Jesus é questionado sobre o pagamento de tributos a Roma: “Mostrai-me a moeda do imposto”. Apresentaram-lhe um denário. Disse ele: ‘De quem é esta imagem e a inscrição?’ Responderam: ‘De César’. Então lhes disse: ‘Devolvei, pois, a César o que é de César e a Deus, o que é de Deus” (Mateus, 22, 19-21).

Este caráter político da moeda está no seu próprio nome original, em grego: nomisma, palavra que deriva de nomos, “lei”. Para os gregos, havia determinações que eram determinadas pelos deuses e imutáveis, chamadas de thêmis. Já os homens

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estabeleciam regras que podiam mudar (nomoi). Os gregos usavam a terminação –ma, adicionada a uma palavra mais ou menos abstrata, para designar um objeto concreto. Assim, nomisma significa algo como “objeto legal”, “coisa estabelecida por uma lei” e, se fôssemos usar um uma palavra só para traduzir para nossa língua, talvez a melhor fosse “legal”. Foi assim que a definiu o filósofo grego do quarto século a.C., Aristóteles: “é como resultado de uma convenção voluntária que a moeda se tornou o instrumento e o sinal da necessidade”. Já o valor não precisava estar explicitado na moeda, à diferença do que ocorre hoje. Em nossa época, as moedas necessitam explicitar quanto valem: 1, 5, 25, 50 centavos, por exemplo. Isto ocorre, pois nossas moedas não valem quanto pesam, mas era isso que acontecia com as moedas até recentemente. A quantidade de metal correspondia ao seu valor. Apenas para facilitar, introduziram-se valores nas moedas, para que as pessoas soubessem mais facilmente a quantidade de metal. As moedas mais antigas provêm da Lídia, na atual Turquia, por volta de 600 a.C. Eram esféricas de ouro e prata, em liga conhecida como electrum, com 4,71 gramas, com 13 x 10 x 4 mm, emitidas pelo rei Aliates, de Sárdis, na Lídia. A novidade absoluta era a imagem de um leão, que dava a garantia do emissor. A Lídia estava em uma posição comercial privilegiada, de ligação entre o oriente e o ocidente. Como relata o historiador grego do século V a.C., Heródoto de Halicarnasso: “Os lídios têm quase os mesmos costumes dos gregos. Pelo que podemos saber, eles foram os primeiros a introduzir o uso de moedas de ouro e prata e os primeiros a vender produtos no varejo” (História, 1, 94).

De onde teria vindo a ideia de imprimir algo no metal? O uso de cunhos era muito antigo e já conhecido a milhares de

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anos na antiga Mesopotâmia, cuja escrita, não por acaso, foi chamada de cuneiforme, pelo uso de cunhos. No ocidente, também, selos eram usados em vasos cerâmicos e em outros materiais, de modo que a cunhagem em si era bem conhecida. Portanto, como já havia a troca e o comércio por meio de metais preciosos, a novidade, que daria origem à moeda, foi a chancela ou garantia política de que uma pecinha de metal tinha uma determinada quantidade de metal, sem necessidade de pesagem, a cada transação. Além disso, como a moedinha era sempre um pequeno pedaço de metal, isso permitiu o seu uso expandido no quotidiano, como meio de troca, de forma muito mais expandida, do que as barras de metal. Abria-se, portanto, toda uma série de possibilidades econômicas e políticas. Durantes séculos, desde o quarto milênio a.C., as trocas comerciais em larga escala foram feitas por meio de barras de metal, que serviam como equivalente geral, meio de se calcular o valor relativo das coisas. Essa tradição ficou tão enraizada, que, até hoje, algumas moedas chamam-se apenas “peso”, ou uma medida de peso, como é caso da libra esterlina, da lira turca e do shekel (siclo) israelense. As duas primeiras derivam da palavra latina libra, uma unidade de peso, e o nome da moeda britânica, pound, vem de pondus, peso, em latim. Em algumas moedas, como em Siracusa, na Sicília, a medida de peso vinha explicitada: litra argyrou, “uma libra de prata”. Muitas vezes, quando lemos documentos antigos, anteriores à invenção da moeda, nem notamos que as transações davam-se pelo pagamento em barras de metal. Assim, na passagem bíblica na qual Abraão compra uma tumba, diz-se: “Abraão tornou a prostrar-se diante dos donos daquela terra e assim falou a Efron, para que todos ouvissem: ‘Faze o favor de escutar-me: eu te pagarei o preço do terreno.

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Aceita-o para que possa sepultar ali minha falecida Sara’. Efron respondeu a Abraão: ‘Escuta-me, senhor! O que é para mim e para um terreno no valor de quatrocentos siclos de prata, para sepultar a falecida?’ Abraão concordou com Efron e pesou diante dos heteus a prata que esta havia pedido: quatrocentos siclos de prata em uso no mercado” (Gênesis, 23, 12-16).

Nesta passagem, fica claro o uso de metais para as compras, que deveriam ser pesados publicamente. O siclo, ou shekel, muito depois, se tornaria uma moeda cunhada, como aconteceu com outras medidas de peso, no moderno Estado de Israel. O que caracteriza uma moeda?

Tendo visto a trajetória que levou ao surgimento da moeda, convém esboçar as suas características. A moeda é feita de um metal precioso e constitui um meio prático de conservar e transferir as riquezas. Ela não é única, mas constitui parte de uma série, é um exemplar em tudo semelhante aos outros exemplares da mesma moeda. O peso segue padrões e as imagens são também padronizadas. Toda moeda deve conter um emblema, símbolo ou assinatura de um poder político emissor e garantidor do seu valor. Pode ser uma cidade, uma confederação, um rei. As cidades antigas emitiam moedas, uma confederação, como aquela que usa o Euro, faz o mesmo. Na Idade Média, as emissões ligavam-se, muitas vezes, a um rei. O aspecto principal dessa referência política volta-se para a garantia do valor, não à propriedade, que é daquele que detém a moeda concreta. Para que não seja necessário pesar cada exemplar, está também um sinal que indica o quanto determinado poder político emissor da moeda garante seja

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o peso. Como diz Aristóteles, na Política (1257ª), “a marca foi colocada, também, como indicação da quantidade de metal”. • • • • •

A moeda é metálica; A moeda constitui parte de uma emissão de numerosos exemplares; O peso segue padrões; As imagens seguem modelos; Uma autoridade política garante seu peso e seu valor.

2. Fabricação e estudo das moedas

A moeda e seu estudo

Tanto o estudo, quanto a publicação sobre numismática, são pouco comuns no meio acadêmico e no mercado editorial brasileiro. O uso de material numismático, como documentação básica para uma pesquisa na área de História, é raríssimo, principalmente aqui no Brasil, onde uma parcela de historiadores opta por trabalhar com fontes escritas, de preferência aquelas que estejam já impressas em papel e guardadas em arquivos e bibliotecas. As moedas, entretanto, podem fornecer dados históricos importantes, como documentos, cujas informações são apresentadas, em sua maior parte, na forma de imagens. Pode realizar-se, assim, uma análise dos aspectos políticos e ideológicos iluminados pelas moedas tomadas como documentos, mediante a aplicação de uma série de métodos para identificação e decondificação das imagens contidas nos tesouros numismáticos, brasileiros ou não.

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Em 2001, o antropólogo francês Alain Testart publicou um volume sobre as origens da moeda, quando tratou, de forma detalhada e inovadora, da natureza da moeda. Começou por mostrar que a moeda é, em geral, definida mediante uma enumeração de suas funções: meio de troca, padrão de valor, reserva de valor e - ponto que tendeu a ser deixado de fora da maioria das considerações desde o fim do século XIX - meio de pagamento. É verdade que a moeda tem, também, usos extramonetários: ela pode ser considerada, por exemplo, a partir da simbologia inscrita em sua iconografia e em seus textos ou como elemento de prestígio e ostentação. Mas não é possível defini-la deixando de lado seus aspectos econômicos, portanto, seus usos propriamente monetários. A definição de moeda proposta por Testart é a seguinte: “uma espécie de bem, ou mais de uma, sendo limitado o número dessas espécies, cuja cessão, em quantidade determinada, no seio de uma comunidade de pagamento, é prescrita ou preferida na maioria dos pagamentos e reputada como tendo valor liberatório”.

Testart mostra que tal definição obedece ao princípio racional de economia, pois enuncia somente as propriedades mínimas do objeto a definir. As outras qualidades são deduzidas dela. Assim, de sua definição deduz-se o fato de ser a moeda o bem por excelência ou a forma suprema da riqueza, a aceitação geral da moeda como meio de pagamento e as suas funções - subsequentes logicamente - de meio de troca, de reserva de valor e de estalão (padrão) de valor. Em seguida, Testart aponta que “a moeda é a invenção do anonimato”. Isto é verdadeiro ao se tratar da moeda cunhada, da moeda stricto sensu. Previamente à aparição da moeda cunhada, predominavam na economia as relações

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entre pessoas vistas como seres individualizados, definidos, inseridos em redes personalizadas de trocas ou de dívidas: todo o contrário do anonimato, portanto. Na Antiguidade, assim, um artesão poderia trocar alguns dias de trabalho de uma escrava doméstica por um dado objeto, ambos elementos de troca avaliados em pesos de metal: o modo pelo qual tinha direito ao trabalho dessa escrava. Entretanto, esse processo nada tinha de anônimo ou generalizado. A moeda, no entanto, ao surgir, tendeu a despersonalizar e generalizar as relações econômicas. Em sua definição, o antropólogo francês volta a enfatizar a moeda como meio de pagamento, contrariamente à tendência dominante entre os economistas a partir do marginalismo. Tal tendência ligou-se à consideração preferencial ou exclusiva da moeda como intermediária privilegiada das trocas. E, no entanto, se todas as trocas envolvem pagamento (imediato ou diferido), nem todos os pagamentos vinculam-se a trocas: não envolvem trocas, por exemplo, os pagamentos de impostos. Ainda que, claro, todos os governantes relacionem o pagamento de impostos com a prestação de algum serviço. Mas é uma relação abstrata, nem sempre clara e, muitas vezes, bem obscura. A moeda é, portanto, um meio de pagamento. A razão principal de terem os marginalistas deixado de lado, ou mesmo combatido, a noção da moeda como meio de pagamento na independência das trocas parece ter sido que a Economia, desde o final do século XIX, tratou ao máximo de livrar-se, em suas análises, dos elementos sociais, jurídicos e políticos. Na visão econômica pura, tendeu-se a tudo centrar na troca de mercadorias e na teoria da formação dos preços, o que pode fazer sentido no relativo à economia contemporânea, mas não, ao serem estudadas, em termos históricos, as economias de sociedades não-capitalistas.

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Toda conduta humana, seja individual, seja coletiva, pode ser apresentada como o resultado final de dois processos de seleção. O primeiro é a passagem pelo filtro definido pelo conjunto de limitações estruturais – sobre as quais os agentes não tenham controle – que reduz as possibilidades alternativas de agir, de seu número teórico a um conjunto menor de ações efetivamente possíveis. E o segundo é outro filtro, o do mecanismo que leve a escolher, dentre as ações factíveis remanescentes, a que será de fato realizada. As ciências humanas e sociais estudam essas tendências contrastantes ao considerarem estes dois processos de seleção. O economista limitado, ao aceitar uma teoria da escolha racional, costuma negligenciar (ou minimizar), em muitos casos, o primeiro e a concentrar-se no segundo (aliás, partirá da suposição de que as preferências dos seres humanos sejam, no fundamental, idênticas ou similares, independentemente dos períodos da História e dos tipos de sociedade). Esta caracterização foi chamada de comportamento do homo economicus, do ser humano racional que visa a minimizar os esforços e maximizar os resultados. Mas, a pergunta é: existe o homem que se rege apenas por tais considerações? O historiador, o antropólogo e os estudiosos da sociedade, em geral e pelo contrário, concentrar-se-ão no primeiro filtro ou processo, sublinhando coisas como cultura, ideologia, tradição ou valores. Os indivíduos ou grupos que agem são considerados pelo economista tradicional como se fossem atraídos por distintas recompensas, ao decidirem entre formas alternativas de agir. Outros cientistas sociais enfatizam que as pessoas foram impelidas a dadas escolhas. De certo modo, a atitude dos economistas baseia-se na intencionalidade; a de outros cientistas sociais, com frequência, na causalidade cultural ou estrutural. As duas atitudes contrastantes parecem ter a ver com a dife-

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rença estabelecida, certa vez, por Claude Lévi-Strauss entre o que, naquela ocasião, propôs chamar de ciências humanas (como a Antropologia ou a História: aquelas que se interessam pelas formas variáveis das estruturações sociais, por múltiplas sociedades) e de ciências sociais (as que, como a Economia, se voltam, para efetuar seus trabalhos, para um único tipo de sociedade). O que podemos concluir? Fica claro que a validade dos conceitos dos modernos marginalistas torna-se duvidosa para aplicação a qualquer sociedade pré-moderna. Nem todos os seres humanos, em todas as épocas e sociedades, visaram à minimização de recursos, para a maximização de resultados. Quem faz sua peregrinação a Meca ou Jerusalém, não o faz pensando nisso, nem deixa lá seus recursos e oferendas por motivos tão prosaicos, como desejar ganhar dinheiro. Análises monetárias

O historiador deve estar ciente das dificuldades sobre as análises monetárias. Ele precisa contar com dois aliados fundamentais: a quantidade e a qualidade. O numerário de moedas trabalhadas é importante, pois quanto maior o número, melhor a análise. A qualidade das peças dará a medida, pelo grau de conservação, do quanto podemos enquadrar, tanto a peça, quanto o acervo, no contexto do conjunto das moedas já conhecidas e que servem de parâmetro. Para o estudo da Antiguidade, assim, nos deparamos com uma série de situações que podem dificultar nosso trabalho. Muitas vezes, falta material, escrito e numismático, pois existem apenas cunhos em péssimos estados de conservação. Quando encontrados, muitos tesouros monetários encontramse em coleções particulares de difícil acesso. Há acervos, nas reservas técnicas dos museus, inéditos, com catálogos

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publicados somente de uma parte das moedas custodiadas nos museus e gabinetes numismáticos. Faltam profissionais com conhecimento dos inúmeros acervos monetários armazenados. Hoje em dia, o homem moderno tem uma visão diferente da moeda. Ela é utilizada em uma troca comercial, com valor já préestabelecido. Consideram-na não apenas dinheiro, mas um meio de troca ou, desde 1950 nos Estados Unidos e 1954 na Europa, um simples cartão de crédito. Já o aspecto da letra de câmbio é bem mais antigo. Os babilônicos e assírios utilizavam um sistema similar. O colecionismo e a preservação dos monumentos, que podemos chamar de Patrimônio Histórico, como as moedas são geralmente enquadradas, é tao antigo quanto a própria civilização. Ramsés II (1279-1213 a.C.), faraó da XIX Dinastia, adicionava seu nome aos monumentos por ele construído ou reformado. Augusto (63 a.C – 14 d.C.), segundo Suetônio, tinha a sua própria coleção numismática. O imperador apenas a exibia para o seu círculo pessoal. Era uma coleção privada de moedas, como existe até hoje. Com o desmembramento do Império Romano do Ocidente, em 476, os primeiros reinos germânicos procuravam estabelecer um elo com o passado, declarando-se como legítimos herdeiros de Roma. O rei visigodo Chindasvinto, na primeira metade século VII, conseguiu fazer de seu filho, Recesvinto, seu sucessor. Com esse objetivo, associou-o ao seu governo. Esses dois personagens aparecem reunidos nas moedas do período: o rei no anverso e o herdeiro no reverso. Pelo mesmo motivo, os reis Égica e Wittisa surgem juntos e coroados em algumas peças monetárias do final do século VII. Nos terços de soldo, moeda de ouro, na legenda, escrita em latim, lê-se: Egica rex, wittisa rex, concordia regni, que significa: “Reis Egica e Witsa, sintonizados no governo”. Pai e filho apresentam-se ante seu reino como uma dinastia, embora ainda um não tivesse sucedido ao outro. Nessas moedas, o rei e o

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príncipe estão representados de lado, face a face, com uma cruz entre ambos. Em alguns exemplares cunhados em Toledo, Égica e Wittisa seguram e erguem a cruz. O rei “bárbaro” usou o mesmo método de propaganda adotado pelos imperadores romanos: a moeda. Assim, conseguiu apaziguar o inconstante reino visigodo. Durante o Renascimento Carolíngio, no século VIII, Carlos Magno (747 – 814) estabeleceu leis, pelas quais tudo que lembrasse a cultura romana fosse guardado. Preservar, recolher, recuperar, essa era a ordem do dia. Com isso, através de uma importante atividade cultural, o imperador franco foi reconhecido pela Igreja como legítimo sucessor de Roma. Fato esse de vital importância para atual União Européia. Carlos Magno é o nome de uma coluna na prestigiosa revista semanal, The Economist, de maneira a ligar, de forma explícita, a Europa atual àquela do imperador medieval. O Papa João Paulo II, em seus discursos, fez uma alusão à importância de Carlos Magno, e seu avô Carlos Martel (688 – 741) para a Europa Cristã. As moedas carolíngias serviram, à época, para estabelecer identidades. Há poucos anos, a Bélgica cunhou uma moeda comemorativa de Carlos Magno. Imagem de moeda belga de 1989, precursora do euro (ecu)

Fonte: http://www.pandaamerica.com/upd_images/beg1989charlemagne50ecu.jpg

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No Império Romano do Oriente, conhecido como Império Bizantino (410-1453), também era comum, durante festas religiosas, militares e políticas, a exposição das coleções de moedas imperiais. O imperador Constantino VII Porfirogêneto (905 – 959), no século X, realizava anualmente essas exposições. Era chamado de Porfirogêneto, nascido da púrpura em grego, por ter nascido no salão de cor púrpura do palácio imperial de Constantinopla, sendo assim considerado filho legítimo de um Imperador, não um usurpador ou bastardo. As moedas serviam para legitimar essas pretensões. Francesco Petrarca (1304 – 1374), célebre humanista e poeta italiano, pode ser considerado um dos precursores da coleção monetária na península itálica. Seu principal objetivo era conhecer a História de cada civilização por meio da moeda. Dono de um importante acervo, Petrarca defendia esses objetos arqueológicos como uma verdadeira paixão. Esse interesse e dedicação contribuíram para que iniciasse alguns métodos próprios, mais tarde adaptados pela metodologia científica. Em pleno período do Renascimento, notamos nessas passagens uma forte influência romana. No caso da moeda, percebemos a legenda, as inscrições em latim, a cruz representando a Igreja e a designação da concórdia, comum nas cunhagens romanas dos séculos IV e V (concordia militum, “concórdia militar”). Tanto os visigodos, como os demais reinos bárbaros, e até mesmo os Estados Modernos europeus do século XV e XVI, utilizaram os padrões e tipos monetários romanos como base. Durante a Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918), o sistema bancário diminuiu a emissão de moedas de ouro e prata. Logo após a Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945), irá desaparecer por completo. Os chamados metais nobres, ouro e prata, serão usados apenas em ocasiões especiais,

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como as moedas comemorativas recentes dos cem anos do presidente Juscelino Kubitscheck, cunhadas na Casa da Moeda do Brasil, em 2002, ou as em homenagem aos 500 anos da “Descoberta da América”, cunhadas na Espanha, em 1992. A validade da moeda como objeto arqueológico exige uma complexa análise da emissão e funcionamento, número de peças cunhadas, amplitude de sua circulação econômica e o tempo que ela circulou. Não podemos esquecer a pouca vinculação das moedas antigas com os limites administrativos. As marcas territoriais tinham pouca importância nas peças. O solidus de Constantino irá circular até o século IX, o solidus de Arcádio (377/378 – 408) continuará a ser utilizado mesmo após o fim do Império Romano do Oriente em 476 d.C. Embora Arcádio, desde 395, fosse Imperador do Oriente, muitas de suas moedas de ouro serão cunhadas em Milão, junto com as do seu irmão, Honório (384 – 423), Imperador do Ocidente. O metal, fundamento monetário, e as minas

As moedas, como objeto de valor intrínseco e não fiduciário, define-se por seu caráter metálico. O conhecimento dos metais é muito antigo. O ouro foi conhecido desde o Neolítico, em plena Pré-História. A prata, embora tenha se generalizado apenas mais tarde, já era usada na primeira dinastia egípcia, no final do quarto milênio a.C. O cobre já era usado há onze mil anos. Isto significa que havia metais muitos milênios antes da invenção da moeda e já se conheciam, portanto, as minas e o processo de mineração. Como em tantos outros domínios, os termos que usamos ainda hoje provêm do grego antigo: metalla designava um buraco, destinado a buscar algo, água, sal, mármore ou metal. Até

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hoje, a associação mais imediata, na extração de minerais, leva-nos a um buraco na terra e os mineiros são aqueles que se aventuras nas profundezas da terra. Foi por extensão de sentido, que se passou a usar a mesma palavra, mineração, para a bateia nas águas dos rios. A mineração foi, desde a mais alta antiguidade, uma atividade da maior importância e relevância. Até hoje, as riquezas minerais constituem algo excepcional. Basta lembrar que, em 2008, a exportação dos oito principais minerais produzidos no Brasil alcançou US$ 22,16 bilhões, o que representou 11,2% do total. Se isto é verdade, em pleno século XXI, pode imaginar-se como isso foi muito mais significativo no passado. O caso das minas de prata de Laurion, a sessenta quilômetros a sudeste de Atenas, no ponto mais meridional da Ática, é paradigmático. Essas minas já eram exploradas por volta de 1300 a.C., 800 anos antes do ápice de Atenas, no século V a.C. Foi apenas a partir de 483 a.C. que a exploração da mina permitiu que Atenas construísse a poderosa frota que, em Salamina, conseguiu fazer frente aos persas. A vitória grega contra os persas dependeu, desta forma, da exploração das minas e das cunhagens monetárias decorrentes. Essa mineração era dificílima, mesmo que saibamos que todo o trabalho em minas seja perigoso e sacrificado. A altura dos caminhos era de 60 cm e a largura não passava de um metro, por muitos metros de profundidade. Era uma atividade arriscada e destinada a escravos ou a gente muito pobre, destinada a uma vida curta e cheia de percalços. Isso tudo não nos deve surpreender. Até hoje, mineiros morrem em minas, soterrados. As doenças derivadas do trabalho nas minas continuam a atormentar os mineiros. A situação era muito pior, nos séculos passados. Em todas as épocas, as pessoas fugiam do trabalho

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nas minas. Em 413 a.C, segundo o historiador grego Tucídides (7, 27), 27 mil escravos fugiram, graças às vitórias de Esparta. Os quilombos atenienses prenunciavam os que pulularam nas nossas Minas Gerais do século XVIII. Neste sentido, podemos dizer que moedas e escravos foram termos correlacionados por milênios. Segundo o historiador e arqueólogo mineiro Carlos Magno Guimarães, a mineração não existe sem quilombos. A expressão ad metalla, “aos metais”, “às minas”, significava um castigo severo, quase uma condenação à morte, precedida por muito sofrimento. As moedas não podem ser entendidas sem essa sua dimensão de exploração social. Outro grande eldorado dos minérios foi, desde a Antiguidade, a Península Ibérica. As minas ibéricas foram as mais profundas e mais avançadas, em termos tecnológicos, de todo o mundo antigo e suas técnicas de construção desafiam, até hoje, os estudiosos. Essas minas, com sua complexidade e produção, permitiram que os púnicos e, depois, os romanos, dominassem o mundo antigo. As minas da América espanhola e portuguesa foram responsáveis, nos séculos XVI, XVII e XVIII, pelo auge dos impérios ibéricos e pela acumulação de capital que levou à revolução industrial britânica. A importância da mineração ficou marcada para sempre. O Estado brasileiro de Minas Gerais foi definido por essa atividade e seus habitantes, há séculos, são denominados como “mineiros”. Na América hispânica, uma imensa área foi chamada de Prata, devido às minas e ao escoamento daquele metal e um país, a Argentina, tem seu nome derivado do metal (“o país da prata”). O rio da Prata também mostra essa importância. Como lembrava o historiador John Fisher, as minas de prata e as moedas cunhadas com esse metal precioso fizeram não só os impérios daquela época, mas fundaram o capitalismo dos séculos seguintes, até os dias de hoje.

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A prata, de fato, foi, na maior parte do tempo, o metal predileto para a emissão monetária. A tal ponto que a palavra tornou-se sinônimo de dinheiro. “Quantas pratas vale isto?” é uma expressão comum em nosso país. Na Argentina, dinheiro é plata. Em grego antigo, também se dizia to argýrion, para se referir à prata em forma de moeda. Isso foi assim desde a Antiguidade. Os romanos exigiam sempre tributos em prata. Ao derrotarem Aníbal, no século III a.C., o general cartaginês, os romanos pediram 16 mil libras de prata, segundo Plínio o antigo (História Natural 15, 51). A Arqueologia fornece informações únicas sobre essas minas antigas, essenciais para as emissões monetárias e para o funcionamento de impérios tão poderosos como o romano. Um documento impressionante provém de Aljustrel, no sul de Portugal, a tábua de bronze com a legislação mineira. A placa foi encontrada, de forma ocasional, em 1876, nos escoriais da antiga mina romana. Constitui uma de várias peças onde se encontrava gravada legislação que regulava a atividade da área mineira, chamada Vipasca. A mina era gerida numa espécie de parceria público-privada. Assim, o documento, afixado para que todos soubessem suas cláusulas, diz, entre outras coisas: “A exploração das minas de prata deve obedecer às normas constantes desta lei. Qualquer colono terá o direito de ocupar um poço vendido pelo fisco, desde que esteja inativo por seis meses seguidos. O ocupador, ao extrair o minério, é obrigado, como manda o uso, a reservar para o fisco a metade”.

Por esta placa, preservada e encontrada de forma fortuita, podemos perceber que todas a minas possuíam um caráter estratégico e eram reguladas por cláusulas jurídicas muito detalhadas e controladas. Os mineiros seguiam por túneis, hoje

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estudados pela Arqueologia, iluminados por lamparinas, com picaretas e cestas de esparto, evidências dos quais encontramos bem preservadas em alguns lugares. Tábua de bronze de Aljustrel, Portugal.

(Carlos Fabião, A Herança Romana em Portugal, Lisboa, CCT Correios, 2006, p. 115).

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Aspectos das galerias mineiras de Tresminas, Portugal.

(Carlos Fabião, A Herança Romana em Portugal, Lisboa, CCT Correios, 2006, p. 117).

Lamparinas mineiras, provenientes de Aljustrel, Portugal.

(Carlos Fabião, A Herança Romana em Portugal, Lisboa, CCT Correios, 2006, p. 119).

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Cesta de esparto, para transporte do metal minas, proveniente de Aljustrel, Portugal.

(Carlos Fabião, A Herança Romana em Portugal, Lisboa, CCT Correios, 2006, p. 121).

Picareta de mineração, hoje no Museu Geológico de Lisboa, Portugal.

(Carlos Fabião, A Herança Romana em Portugal, Lisboa, CCT Correios, 2006, p. 120).

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As minas americanas de ouro e prata constituíram – 1500 depois dessas explorações ibéricas de época romana – o novo eldorado. Os veios de prata de Potosi também se fundavam na escavação de poços. Potosi, no altiplano andino, a 4700 metros de altitude chegou a ter 160 mil habitantes, em pleno século XVI, uma das maiores cidades do mundo. Tudo isso, para extrair metal para as cunhagens ibéricas, que foram essenciais para a acumulação primitiva que irá gerar o capitalismo da nossa época. O século XVIII veria florescerem as minas no interior da colônia portuguesa, com cidades opulentas como Vila Rica (Ouro Preto). A fabricação das moedas

A partir dos metais extraídos de minas espalhadas por regiões distantes, a fabricação das moedas sempre exigiu uma logística, práticas e atividades em torno das oficinas monetárias. Hoje, na época das moedas fiduciárias, esse papel é exercido pelos bancos centrais, mas isso é muito recente, em termos históricos. As moedas foram cunhadas em oficinas monetárias de dois tipos: pequenos ateliês ou oficinas centrais. No primeiro caso, em casas ou edifícios modestos, funcionava a cunhagem com um ferreiro e seus auxiliares. Isso significa que a produção oficial de moedas podia ser muito descentralizada e ocorrer em pequenas instalações. Havia grandes instalações em centros imperiais, como em Atenas no século V a.C., ou em Roma. Em Atenas, chamava-se argyrokopeion, “oficina da prata”, em pleno mercado central (ágora), e, além das moedas, era o garante do controle de pesos e medidas. Antes do mundo moderno e da generalização das medidas métricas, difundidas pela França, a partir do final do século XVIII, os pesos e medidas reportavam-se a padrões que costumavam ficar nos mercados. A oficina

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monetária, que dependia do bom conhecimento desses pesos e medidas para a emissão monetária, era o lugar natural onde se armazenavam os padrões. Em Roma, a officina monetae (oficina da moeda) estava no Capitólio, ao lado do templo de Juno Moneta. O próprio nome, Moneta, está na origem do nosso termo “moeda” e deriva da palavra latina moneo, “eu lembro”. Moneta, portanto, seria algo como “algo que nos lembra, que nos traz à memória”. Mesmo no caso do Império Romano, contudo, a oficina central não era, de modo algum, o único centro emissor, como se fosse o nosso Banco Central. Sua função administrativa consistia em coordenar a emissão monetária nas muitas oficinas locais. Ali estava a coleção completa dos protótipos dos tipos monetários de todas as emissões realizadas em nome da res publica, em qualquer lugar e a qualquer título. Era ai que se formavam, também, os artesãos que gravavam as moedas, chamados de scalptores (esculpidores). A documentação arqueológica permite-nos conhecer o funcionamento de uma oficina monetária. Na Casa dos Vétios, de Pompeia, em pintura parietal anterior a 79 d.C., encontramos uma cena de oficina monetária. No papel dos artesãos, encontram-se pequenos personagens mitológicos, os Eros alados. Aparecem as operações básicas da cunhagem: em um forno, preparam-se os pedaços de metal a serem trabalhados. Do outro lado da imagem, o metal é elaborado por dois artesãos. Um coloca uma matriz com as imagens a serem impressas e o outro, com um martelo, prepara-se para bater. Aparecem, ainda, balanças, com os pesos padronizados a serem seguidos na confecção das moedas e por fim, a pesagem da moeda, diante de um personagem que corresponde ao controlador ou garantidor do peso correto. Este último era responsável perante o chefe do ateliê, ou inspetor (exactor), que garantia a qualidade

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e correção das emissões monetárias. Havia, pois, um batalhão de funcionários, em parte escravos: • • • • • • • • • •

Diretor Vice-diretor Supervisores Trabalhadores da bigorna Marteladores Gravadores Fundidores Trabalhadores da fornalha Trabalhadores auxiliares

Pintura parietal da Casa dos Vétios, Pompeia

(Roger Ling, Roman painting, Cambridge University Press, 1991, p.166)

As técnicas de fabricação variavam. Havia algumas moedas feitas em moldes, em especial em peças de bronze. O

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molde era duplo, com ambas as faces da moeda. As moedas moldadas deviam ser bem limadas para que os resíduos metálicos fossem eliminados. O uso das moedas moldadas sempre foi pequeno, pois eram fáceis de imitar e falsificar, o que nenhum Estado estava interessado. As imagens são menos visíveis e a superfície, porosa, facilita a corrosão metálica. Muito mais comuns foram as moedas cunhadas ou batidas, por suas qualidades e garantias: são duradouras, as imagens são claras, podem ser feitas em série, resistentes, exigem mão de obra especializada e, por isso tudo, dificultam a falsificação. Tudo começava com a preparação de um pedacinho circular de metal que deveria ser batido ou cunhado, para se tornar uma moeda. O objetivo era conseguir que cada pedacinho tivesse o mesmo peso. Em moedinhas de pequeno valor e de uso quotidiano, o sistema adotado era dividir uma dada quantidade de metal em determinado número de moedas. As variações podiam ser relativamente grandes, mas não muito relevantes, em peças de pequeno valor. Para moedas de alto valor, como grandes denominações de ouro, pesava-se peça a peça. Mas, como conseguir que o metal ficasse redondinho? Modernamente, corta-se de uma folha de metal, mas esse processo exige maquinário inexistente na Antiguidade. Usavam-se dois métodos: cilindros de bronze e moldes em calcário. Os instrumentos necessários incluem a bigorna, o martelo e as balanças, além dos alicates e tenazes. Essencial era o cunho, que tinham o tipo monetário gravado em negativo, de modo que, pela batida, marcasse o pedacinho de metal e o transformasse em moeda. Havia dois cunhos, um para cada lado a moeda. Um dos cunhos era fixo e o outro móvel. O artesão que devia esculpir esse cunho, a partir de modelos oficiais, era um personagem importante, chamado de argyrokopos, em grego, e scalptor, em latim. Poucos cunhos antigos chegaram até nós,

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pois, até hoje, esses objetos são destruídos, para evitar seu uso em falsificações. O metal do cunho devia ser o mais duro possível, como ferro ou mesmo aço. Calcula-se que se pudessem produzir dez mil peças a partir de um cunho. Para se ter uma ideia das quantidades, é possível propor que entre 168 e 132 a.C. Atenas tenham sido cunhados 4.730.000 tetradracmas, 128 mil por ano. Nada desprezível. As imitações

Durante os séculos IV e V, as moedas irregulares e oficiais circulavam ao mesmo tempo. Trabalhos realizados na França e Inglaterra destacam o grande número de peças não oficiais na região, enquanto no Oriente, parte mais rica do Império, afastada das crises e invasões, era poucas. Em muitos casos as imitações faziam parte do mesmo ciclo monetário, sendo toleradas, pois davam liquidez ao sistema e serviam como meio de pagamento. Muitos pesquisadores, Depeyrot e Bastien, entre eles, defendem a tese que o governo poderia evitar a moeda não oficial. Porém, elas eram toleradas para suprir a escassez de moeda. Segundo esses autores, o aes era a maior vítima dos imitadores. Neste sentido, nossas pesquisas no acervo do Museu Histórico Nacional, no Rio de Janeiro, revelaram várias peças não oficiais. Muitas são falsificações dos povos germânicos, com toda probabilidade. Letras da legenda trocadas e imagens distorcidas dos imperadores são as suas principais características. No geral, podemos considerar como imitações todas as moedas com imagens menos elaboradas e de menor peso. No Código Teodosiano, existe uma preocupação em punir o infrator, mas não a pena capital. Existia, assim, certa tolerância, em particular nos ambientes local e regional. O desterro e o confisco eram

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penas mais comuns. Contudo, se a falsificação fosse obra de um escravo, a pena capital podia ser aplicada. Até o governo de Constantino I, a legislação romana não se preocupava com as imitações das moedas de bronze, apenas tinha um maior cuidado com as de ouro e prata. Como em toda lei, havia uma brecha. Aqueles que sabiam trabalhar o metal, possuiam uma melhor condição, e equipamento, para falsificação. Muitos tinham uma licença especial, dada pelo próprio Imperador, para fabricar imagens de ferro do soberano. Em caso de serem incriminados, usavam essa lei. Ainda temos pouca informação sobre esses “falsificadores”. Suas oficinas permanecem um mistério para nós. Porém, as conclusões chegam sempre a um denominador comum: tanto nas moedas de necessidade, quanto nas de falsificação, quanto maior a crise, maior o número de imitações.

3. Moeda, economia e sociedade

O sistema monetário

As moedas foram sempre produzidas e usadas em sociedades concretas, em circunstâncias muito variadas. Não há como deixar de tratar de contextos históricos específicos e um dos mais interessantes, por sua variedade de situações consiste na experiência romana. O sistema monetário romano baseou-se no grego, mas teve como característica única a difusão por uma extensa área, sem associar-se a cidades específicas, como foi o caso nas moedas gregas. Essa particularidade era o resultado, em primeiro lugar, de como o próprio mundo romano se constituiu, desde o início, por agregação de pessoas de diferentes origens. Por isso mesmo, o sistema monetário romano adquiriu feições modernas, em certo sentido, ao ter instituído moedas que eram usadas em uma área imensa, emitidas de maneira controlada pela autoridade monetária unificada. Por isso mesmo, alguns chegaram a comparar o dólar e o euro às moedas romanas.

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As moedas de época republicana (509-31 a.C.) referiamse aos oficiais da aristocracia romana que se encarregavam da sua emissão, assim como a divindades e a cerimônias religiosas, entre outros temas. Com os imperadores, a partir de Augusto, o sistema monetário passou ao controle mais direto da casa imperial, em detrimento dos aristocratas da República. O destaque na figura do imperador mostrava a centralização do poder ou, ao menos, a pretensão dos governantes em passar uma imagem de personalização da autoridade na sociedade, em geral, e na emissão monetária, em particular. As guerras civis do século III d.C. viriam a abalar essa ambição e, por isso mesmo, a partir de Diocleciano (245 – 311), inicia-se uma nova fase monetária. O sistema monetário é restabelecido, depois da crise do século III que assolou o Império. As cunhagens em prata e ouro retornam e estabilizam-se as emissões de bronze. Na reforma de 294, Diocleciano baseou-se no modelo criado por Augusto, durante o Principado (ouro, prata e bronze). Instituiu uma nova moeda de prata, o argentus, com o mesmo peso do denarius de Nero (37 – 68), aproximadamente 3,41g. O termo denier, denaro, dinero, dinar, d´argent, são derivações de argentus, essa moeda tão antiga. Nesse período, em 294, Diocleciano cria um novo padrão monetário: o nummus laureado. Na imagem de reverso aparece genio populi romani “o gênio do povo romano”, referência ao Gênio, divindade tutelar romana. Com isso, a tetrarquia consegue a universalização dos tipos em todo o Império.

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Imagem moeda

Dupondius de Diocleciano, cunhado no ano de 303, na cidade de Trier ou Tréves. No reverso, imagem do Genius, divindade tutelar romana. Museu Histórico Nacional, foto Cláudio Umpierre Carlan, maio de 2006.

Entre novembro e dezembro de 301, Diocleciano e os demais tetrarcas (Galério, Maximiano e Constâncio Cloro) tentaram, por meio de um edito, o Edictum Diocletiani et Collegarum de pretiis rerum venalium, ou “Edito de Diocleciano e colegas, para o controle dos preços”, restabelecer a economia do Império. Era uma tentativa de estabelecer o preço máximo e mínimo, entre os diversos bens básicos e salários (inclusive na prostituição). Em outras palavras, uma espécie de congelamento de preços e salários, ainda muito em voga na nossa época. O Plano Cruzado, do Governo José Sarney, em 1986 foi um caso famoso, mas, ainda hoje, países adotam congelamentos. Como hoje, no Império Romano os resultados não foram os esperados, estimulando o contrabando e a corrupção. A partir de 310 as representações dos reversos marcam as lutas políiticas. Desde o final de 307 havia quatro augustos – Constantino, Maximiano, Galério, Maxêncio – e um César, Maximino Daia. Os augustos eram os principais e o césar um

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subalterno. Iniciava-se uma verdadeira guerra civil. A imagem do gênio é substituída pelo sol invicto de Constantino. Constan�������� tino era devoto de uma espécie de religião solar, com culto ao deu sol, de tendência monoteísta, o sol invictus (identificado, também, com Apolo). O sol radiado, como era conhecido, ficou registrado em suas cunhagens monetárias. O monoteísmo cristão de Constantino teve, portanto, antecedentes em cultos pagãos, como registram as moedas. A história do monoteísmo está também nas moedas. Logo após as primeiras cunhagens do solidus, Constantino conseguiu derrotar os outros pretendentes ao trono (Maxêncio em 312, como está retratado no Arco do Triunfo de Constantino, em Roma). Estabeleceu uma aliança com seu cunhado, Licínio (250 – 325), senhor do Oriente. Em 313, assinaram o Edito de Milão, dando liberdade de culto aos habitantes do Império e devolvendo aos cristãos, e às suas igrejas, os bens confiscados nos séculos anteriores. Em 317 o sólido (solidus) substitui o aureus, antiga moeda de ouro, cunhada desde o século I a.C. equivalente a 25 denários de prata. Um ano mais tarde teve início a reforma monetária visando valorizar as peças de bronze. Em 320 foi criado o miliarense de prata e em 324 o argentus é cunhado de novo. Na tentativa de consolidar a totalidade do Império Romano sob o seu domínio, Licínio em breve armou seu exército contra Constantino. Os cristãos foram expulsos das legiões, tendo seus bens confiscados no Oriente. Depois de novos enfrentamentos, com a vitória final de Constantino, o Império foi unificado. Licínio e seu filho, Licínio II, foram condenados à morte. Segundo seu biógrafo oficial e amigo pessoal de Constantino, Eusébio de Cesaréia (275 – 339) em sua obra Vida de Constantino, Licínio estava à frente de uma série de intrigas, sendo “removido em prol do Estado”.

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Com a vitória, Constantino impôs suas moedas em todo o mundo romano. No ocidente foram cunhadas peças que exaltavam a imagem do Imperador, “à vitória feliz do príncipe perpétuo”. No oriente, exaltou-se a “providência dos imperadores e Júpiter protetor dos augustos”, tendo como modelo a tetrarquia, da qual Constantino se declarava legítimo herdeiro. Em 330 entraram em circulação uma série de peças que homenageavam as legiões, “em glória do exército” (gloria exercitus). No mesmo ano, durante os festejos da nova capital, Constantinopla, forma emitidas moedas com a efígie em homenagem à cidade de Roma, tendo a loba amamentando os gêmeos no reverso, com a deusa Vitória à proa de uma embarcação. Mesmo com as mudanças religiosas, as imagens pagãs continuaram sendo representadas nas moedas. Com o tempo, foram assimiladas às cristãs. Imagem moeda

Epígrafe em homenagem ao Genius, Tarragona, Espanha. Foto: Cláudio Umpierre Carlan, maio de 2007.

Com a morte de Constantino, em 337, as emissões monetárias não se modificaram até 348. Moedas chamadas de

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“póstumas”, cunhadas após a morte do Imperador, continuaram a circular. Porém, existe uma controvérsia entre os pesquisadores. Os defensores da escola inglesa defendem a ideia de uma redução nas cunhagens, enquanto outros identificam essa redução apenas na Bretanha e não em todo o Império. Durante os festejos do aniversário de Roma, em 348, Constantino II (316 -340) e seu irmão Constante (320 – 350), cunharam uma nova moeda com a legenda relativa ao “regresso aos tempos felizes” (fel temp reparatio). Cunharam-se o aes grande, contendo 3 % de prata, com a representação do cavaleiro sendo derrubado; o aes, com 1 % de prata, onde a imagem de dois prisioneiros está presente; e um aes, sem prata, com a fênix, no reverso, como se o Império estivesse ressurgindo das cinzas. Em 350, Magnêncio (303 – 353), comandante das unidades da guarda imperial, mandou assassinar Constante e assumiu o controle. Até 353, ocupou os centros emissores da Gália: Treveri (Trèves), Lugdnum (Lyon) e Arelato (Arles). Em cada um dos seus reversos, são representadas fases distintas do seu curto governo como as peças votivas ou laudatórias VOT /V / MVLT / X, acompanhadas da coroa de louros, assim como o cristograma, que consiste nas letras gregas sobrepostas X (khi) P (rho), abreviatura da palavra Cristo. Em 353, Constâncio II (317 – 361), irmão de Constantino II e Constante, derrotou o usurpador Magnêncio, restabelecendo a unidade imperial. Manteve, em suas cunhagens, a legenda fel temp reparatio, “restauração dos tempos felizes”, e, segundo o Código Teodosiano, proibiu a circulação das numárias de Magnêncio. Outra medida importante foi a substituição do argentus pela siliqua, uma moeda de prata mais leve e manteve o sólidus como elemento central do sistema monetário. Inovações surgem durante o governo de Juliano II, o apóstata (332 – 363). O novo imperador segue o padrão da reforma

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de 348. Cunha moedas com a legenda securitas reipub, “segurança da república”, tendo o touro, símbolo do sacrifício ao deus Mitra. Esta religião de mistérios, em honra a Mitra, havia sido favorecida por Juliano, o que se reflete na representação das moedas. Suas peças votivas, em bronze e sem prata, serão imitadas pelo seu sucessor Joviano (332 – 364). Seguindo essa política de mudanças, Valentiniano I (321 – 375) e seu filho Graciano (359 – 383), estabelecem novas legendas restitutor reipublicae (365 d.C.) e reparatio reipublicae (365 d.C.), “restaurador” e “reparação da república”, de forma a demonstrar o empenho desses governantes na restauração da antiga glória romana. A divisão definitiva do Império Romano realizada por Teodósio I (347 – 395) em 393, repercute na amoedações. Até hoje, por falta de documentos, é difícil dizer o nome correto ou a moeda a que se refere. Assim, o follis, até o século XIX chamado de grande bronze, se encontra praticamente abandonado. As moedas que são citadas pelo Código Teodosiano, como maiorina e centenionalis, durante o governo de Constâncio II (317 – 361), filho de Constantino I, o grande (272 – 337) e o nummus, são identificadas com mais precisão. Arcádio (377/378 – 408), Imperador do Oriente, realiza uma amoedagem própria, diferente da ocidental. Mantém os centros de cunhagem criados pelo pai, Teodósio I, em Alexandria, no Egito. A legenda introduzida por Teodósio, uirtus exercitus, “virtude do exército”, é mantida em suas cunhagens. Reforça ainda mais o controle sobre as casas de cunhagens de Tessalônica e Siscia. Seu irmão, Honório (384 – 423), Imperador do Ocidente, lança uma série de moedas, após a morte do pai, urbs Roma Felix, “Roma, cidade agraciada pela sorte” e gloria romanorum, “glória dos romanos”, com a representação de Teodósio,

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a cavalo, elevando a mão. O estudioso brasileiro André Chevitarese acrescenta que representações de cavalos, cavaleiros e carros de combates, são atributos de autoridade e poder. Havia, portanto, um fascínio pela figura do cavaleiro no imaginário das culturas mediterrâneas antigas. Em suas palavras: “O cavalo armado, submetendo o inimigo caído, caracterizava um símbolo natural de vitória. Constituía um esquema iconográfico bem conhecido nas culturas helênicas, ou que estavam em contato com ela. Podem ser estabelecidos alguns exemplos, nos relevos funerários e, principalmente nas moedas, perpassando tempo e espaços distintos.” Descoberta e guarda das moedas

As moedas possuem características particulares que podem favorecer ou dificultar sua preservação. Sendo feitas de metal, com valor intrínseco, portanto, sempre houve a possibilidade de sua fundição, para venda pelo valor de mercado, depois de fundidas em grande quantidade. Como as moedas têm sua circulação determinada por uma autoridade política, quando essa autoridade desaparece, elas deixam de circular e, para terem valor, precisam ser tomadas apenas como metal bruto. Este foi o caso das moedas da Confederação de Estados Americanos, durante a Guerra de Secessão (1861-1865), de cinquenta centavos e um dólar, cunhados na casa da moeda de Nova Orleans. Na medida em que os estados do sul perderam a guerra, essas moedas deixaram de ter valor monetário e só poderiam valer alguma coisa se derretidas. Como peças de metal, valiam o seu peso. Como resultado, moedas fora de circulação costumam desaparecer com relativa rapidez. As que sobram acabam valendo bastante, como peças de colecionadores. Outro fator que contribui para o desaparecimento das moedas, além do seu derretimento, está na corrosão, ainda que

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aquelas feitas com ouro não sejam afetadas (mas são as que mais correm o risco de serem fundidas, pelo seu alto valor intrínseco). Em muitos momentos da História, a mais segura maneira de guardar dinheiro consistiu em entesourar, guardar as moedas em um esconderijo, se possível enterrado em lugar conhecido apenas pelo dono da soma: “Não ajunteis tesouros aqui na terra, onde a traça e a ferrugem destroem e os ladrões assaltam e roubam” (Mateus 6, 19).

Para evitar os assaltos e roubos, muitos enterravam suas moedas, mas nem todos as recuperavam a tempo. O teatrólogo latino Plauto (254-184 a.C.) escreveu uma comédia muito engraçada sobre um tesouro escondido (Aulularia), o causa uma série de confusões e peripécias. Logo no início, conta-se que: “Agora, o avô deste homem, suplicante, confiou-me, um tesouro de ouro, às escondidas de todos. Enterrou-o no centro da lareira, pendindo que eu o guardasse para ele”.

O costume de guardar tesouros e, em particular, moedas – aquilo que chamamos de tesouros monetários – foi muito comum até a generalização do sistema bancário, já no século XIX. Portanto, a descoberta de tais depósitos escondidos faz parte da pesquisa arqueológica. Particularmente recorrentes são os tesouros datados do século IV e V d.C. em áreas do antigo Império Romano, pois, com as invasões, muitas pessoas foram pegas de surpresa e suas moedas ficaram por muito séculos desaparecidas. Situações de guerras também favoreceram o esconderijo de moedas, muitas delas nunca retomadas por seus donos. Numa escavação recente, arqueólogos israelenses e alemães descobriram, ao sul de Jerusalém, 15 moedas de prata,

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dentro de um pote, datadas da época da revolta judaica contra os romanos, entre 66 e 70 d.C. Perto dali, encontraram também outro tesouro, com 380 moedas, do século IV ou V d.C. Os arqueólogos não encontram apenas moedas em tesouros escondidos. Embora não sejam comuns, encontram-se moedas perdidas pelas pessoas, o que não é raro, em se tratando de peças de valor muito baixo. Elas podem ser importantes elementos de datação, como no caso, bastante frequente, de moedas caídas durante a construção de um edifício, o que permite datar com precisão a construção. Isso acontece, pois as moedas costumam ser bem datadas, pela referência a um rei, a um magistrado, ou a um calendário, como é caso das nossas, que se referem ao ano, de acordo com o calendário cristão. Verifique em uma moeda de Real: há sempre o ano de cunhagem registrado. Os museus, como resultado, possuem imensas coleções de moedas, a maioria delas armazenadas na reserva técnica. O Museu Britânico, em Londres, possui cerca de um milhão de peças, apenas uma fração exposta para o público, assim como os principais museus do mundo. No Brasil também existem muitas coleções de moedas, com destaque para o Museu Histórico Nacional, com seu acervo de mais de cem mil peças, com exemplares de todas as épocas e partes. As moedas exigem, para sua conservação adequada, alguns cuidados especiais, por serem de metal, inclusive no que se refere à umidade ambiente. A economia e a moeda

Desde o início da adoção da moeda como equivalente geral, as emissões monetárias foram importantes elementos da vida econômica. Para o estudo de períodos mais recuados na História, o estudo das emissões fornece indicações únicas. Na

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medida em que a emissão consiste em uma decisão de caráter político, sob controle de autoridades públicas, o primeiro aspecto a ser levado em conta consiste na obtenção e controle das fontes de metais. A cidade de Atenas – com seu grande império, no século V a.C. – possuía nas minas de prata de Laurion sua fonte principal para as emissões. As cidades menores e menos poderosas tinham mais dificuldade em obter metal e essa foi uma limitação adicional às economias de centros menores. Já os grandes impérios tiveram problemas diversos, com no caso do maior e mais duradouro, o romano. As minas eram controladas pelo imperador, administradas por funcionários imperiais (procuratores metallorum). Havia minas em todo o império, com maior número em áreas ricas em metais, como na Península Ibérica. Alguns dos trabalhadores nas minas eram criminosos condenados (damnati ad metalla, “condenados aos metais”). Havia escravos, mas, em sua maioria, eram assalariados, conforme se pode inferir de regulamentos e normas que chegaram até nós. Um desses documentos, proveniente de Portugal, mostra que um sistema comum era o do arrendamento ou concessão à iniciativa privada, sendo os poços explorados por privados (era uma espécie de parceria público/privada!). Assim, podemos ler: “A exploração das minas de prata deve obedecer às normas constantes desta lei. O preço de cada mina será fixado segundo a liberalidade do sacratíssimo imperador Adriano Augusto, de sorte que o usufruto da parte que caberia ao fisco fique sendo pertença do primeiro que tenha oferecido um preço pelo poço e haja pago ao fisco, em moeda, quatro mil sestércios. Será permitido ao ocupador dum poço ter quantos sócios quiser, desde que cada sócio suporte os encargos que proporcionalmente lhe cabem dentro da sociedade” (Tábua de Vipasca, 2;6).

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Essas minas eram grandes empreendimentos, pois se calcula que era comum que 2000 mineiros trabalhassem simultaneamente em cada mina. Só no atual território português, são conhecidos 35 lugares de mineração e fundição. Portanto, só o setor de mineração constituía uma área que empregava muitas pessoas. Todo esse metal era levado para oficinas monetárias, as casas que iriam emitir as moedas. Todas as casas emissoras estavam sob controle direto imperial, mesmo quando estivessem nas províncias ou emitissem moedas com alguma particularidade. Como lembra D. W. Rathbone, “o imperador era, em teoria, capaz de regular, em termos gerais, a quantidade e o tipo de moedas em circulação”. Os romanos generalizaram, pela primeira vez na História, o uso de moedas fiduciárias, cujo valor metálico era menor, portanto, do que seu valor de face. Este foi o caso do aes de bronze, assim como, em menor medida, o caso do denário de prata. Isto desencorajava que as pessoas derretessem as moedas, pois elas não valiam mais como moedas, do que como metal. A emissão de moedas fiduciárias só foi possível pela solidez das finanças imperiais. Essas moedinhas de uso quotidiano generalizaram-se no império, a demonstrar a vitalidade da monetarização das relações. Uma das motivações das decisões políticas imperiais de emitir tais moedas consistia em fornecer o que os economistas modernos chamam de “liquidez”, meios para que as pessoas pudessem comprar e vender seus produtos. A deriva dessa liquidez, que ocorrerá, com vigor a partir do terceiro século d.C, será a inflação. Cada província tinha o seu cesto (fiscus, fisco, em latim) para guardar as moedas, como se fosse uma filial do tesouro central, chamado aerarium (erário, “local de guarda do cobre”, e daí das moedas). Esses órgãos recebiam as moedas, calculavam os impostos, efetuavam pagamentos de funcio-

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nários e de obras públicas. Havia, ainda, o erário militar, para as contas do exército, e o patrimônio (patrimonium), também conhecido como fisco (fiscus), sob direto controle imperial, que, ao final, era o destino principal das moedas. O senado tinha o controle apenas formal do Erário de Saturno. No entanto, nem todas as transações eram feitas com o envio de numerário. Transportar moedas era caro, tanto pelo peso, como pelas necessidades de segurança no transporte. Por isso, os fiscos provinciais eram essenciais, gerindo a economia em suas regiões. O exército, cujas legiões congregavam até 300 mil soldados, aquartelados em uma área imensa, que ia da Palestina à Mauritânia, da Bretanha à Romênia, tinha que gerir o pagamento de soldos para toda essa tropa. Para diminuir a movimentação de moedas, o soldado tinha já descontado de seu soldo a alimentação, roupa, armamento, recebendo, portanto, apenas uma pequena fração em moeda, para consumo no local em que estava aquartelado. Esse mesmo sistema era usado, sempre que possível, mas, mesmo assim, a movimentação de moedas caracterizou a economia romana. Já a partir do século IV d.C., a moeda passou a sofrer mudanças profundas. No período final do Império Romano, as moedas passaram a contar com menos metal e a inflação cresceu de forma exponencial. Com a Idade Média, a partir do século V, as cunhagens escassearam, ainda que as moedas mais valiosas, de ouro, continuassem como meio de entesouramento. Na época de Carlos Magno, no séculoVIII, cunhagens de prata floresceram, mas foi apenas com o renascimento econômico, que se retomou a prática do uso quotidiano das moedas, a partir do século XII. As moedinhas quotidianas contavam pouco valor metálico, o que levou à depreciação contínua. As moedas nunca deixaram de ser cunhadas, mas por muitos séculos, a sua circulação restringia-se a reinos pequenos, no contexto do feu-

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dalismo. Os diversos reinos saxões, por exemplo, produziram moedas como as sceattas, de prata, ou as stycas, de bronze, em Nortumberland, no século IX. Apenas com o reino de Edgar (959-975) surgiu uma moeda para toda a Inglaterra, um tipo de penny. O mesmo processo ocorreu em toda a Europa, com particularidades locais. As coisas mudaram, a partir do Renascimento comercial, no século XII. Entre 1150 e 1325, na Inglaterra, os preços quadruplicaram. O crédito foi o verdadeiro lubrificante dessa revolução comercial, a partir da península itálica. Parte da pequena nobreza itálica pôs em circulação metais preciosos, artesãos transformaram-nos em moedas e entrou material como botim. Em outras partes da Europa, contudo, a situação era bem diversa e as cunhagens passaram por uma situação oposta. O caso mais bem conhecido é o da Inglaterra, pois temos dados bem precisos sobre suas cunhagens medievais. A grande maioria das cunhagens era o resultado do derretimento de moedas obtidas do continente europeu. As produções de prata entre 1273 e 1350 foram numerosas, decaindo muito, daí até 1470, o que indica que a balança de pagamentos foi desfavorável no último período. Padrão semelhante ocorreu nas cunhagens de moedas de ouro. Padrão semelhante ocorreu na França e em Flandres. Portanto, as cunhagens diminuíram e isto apesar dos esforços dos governantes. Mas a preocupação dos mais altos níveis políticos com isso mostra que as cunhagens são meios precisos para se medir as balanças de pagamento internacionais.

4.Moedas, representações e poder

A Iconografia Monetária

Desde o século XIX, a moeda tem sido estudada pelos historiadores sob a categoria de mercadoria, objeto de uma simples troca econômica. Procurou-se ligá-la com a História das sociedades, acompanhando o processo da evolução social, ou seja, com os reflexos que a mutação monetária produzia nas civilizações em termos prosaicos de salários, custo de vida e os consequentes comportamentos coletivos a respeito de tais preocupações humanas. O numismata, o colecionador ou o estudioso da moeda se tem preocupado mais com o corpo econômico e social que ela servia do que com o metal que a produzia e a informava. A moeda ultrapassava os limites geográficos do poder que a emitia e definia, em termos ideológicos, não só um povo, mas também a civilização a que este pertencia. Essas pequenas peças de metal eram os únicos objetos que chegavam de uma maneira uniforme ao público. Por meio da

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imagem, a mensagem política de um governo era transmitida aos seus governados, analfabetos em sua maioria. Não podemos subestimar o fato que, até o século XX, a maioria das pessoas era analfabeta e que as imagens, em geral, e nas moedas, em particular, constituam um elemento central de identificação. Já nas sociedades letradas ocidentais da nossa época, nem sempre se pode ligar a moeda a um meio de comunicação entre povos distantes. Ao possuidor de uma determinada espécie monetária estranha, ela parecia importante pelo metal nobre - ouro, prata ou bronze – em que era cunhada, pelo tipo e pela legenda. O primeiro elemento, o metal usado, informava-o sobre a riqueza de um povo. Os outros dois elementos – tipo e legenda – diziam-lhes algo sobre a arte, ou seja, o maior ou menor aperfeiçoamento técnico usado no fabrico do numerário circulante, sobre o poder emissor e, sobretudo, sobre a ideologia político-religiosa que lhe dava o corpo. Atuavam como um meio de propaganda, onde as representações, em seus anversos e reversos, legitimavam seu poder. É dentro deste último aspecto que pretendemos explorar a fonte numismática. Podemos começar pela analise dos modelos abaixo, retirado do Arco de Constantino, erigido para comemorar a vitória de Constantino I, o grande (272 – 337), sobre o rival Maxêncio (278 – 312), em 28 de Outubro de 312. Figura 1

Figura 2

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Arco de Constantino, em Roma, erigido próximo ao Coliseu. A batalha contra Maxêncio está representada no lado direito do arco. Na figura à esquerda, identificamos duas cenas da batalha. Uma delas, ampliada ao lado (figura 2), o cavaleiro, o próprio imperador Constantino, símbolo da vitória, avança triunfante sobre um combalido inimigo. Acima das imagens, a inscrição sic x sic xx (“10 anos que valem por 20”), referente ao aniversário de dez anos de governo de Constantino. Moeda de Bronze do Imperador Constâncio II, filho e herdeiro político de Constantino. Figura 3 Foto da moeda (reverso e anverso)

Denominação: AE centenionalis Ano / Local: cunhada no ano de 350 em Roma. Acervo do Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro. Foto: Cláudio Umpierre Carlan

Anverso título imperial DN CONSTANTIVS PF AVG. Busto de Constâncio II (317 – 361), filho e herdeiro político de Constantino, à esquerda, seu nome (Constâncio) e título (Augusto). Um pouco gasta, ocorre a presença da letra N ao lado direito do retrato. O globo está ao lado do ombro direito.

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No reverso, a legenda gloria romanorum, um pouco danificada, à esquerda do observador. Constâncio é representado a cavalo, de armadura e lança, derrotando um suplicante inimigo ajoelhado e com os braços levantados. Atrás da representação imperial, nota-se um dos símbolos das cunhagens de Constâncio, a letra N. Existe uma estrela sobre a cabeça do cavalo. Na parte de baixo, um escudo, caído a um solo inexistente. Local de cunhagem exposto no exergo ou linha de terra (RT), referente à casa monetária de Roma. Segundo o corpo técnico do Museu Histórico Nacional, está é uma das moedas mais raras da coleção. Peça de bronze, estado de conservação muito bom, de diâmetro de 2.45mm, peso de 4.53g. As representações de cavalos, cavaleiros, carros de combates, são atributos de autoridade e poder. A figura do cavaleiro exercia fascínio no imaginário das culturas mediterrâneas. O cavaleiro armado, submetendo o inimigo caído, caracterizava um símbolo natural de vitória e constitui um esquema iconográfico, bem conhecido nas culturas helênicas, ou que estavam em contato com essa. Podem ser estabelecidos alguns exemplos, nos relevos funerários e, em particular, nas moedas, perpassando tempo e espaços distintos. Esse esquema imagético nos faz recordar a imagem de São Jorge e o dragão, santo até hoje muito questionado, patrono da Catalunha, personagem principal dos Juegos Florais. Pela tradição, além de leituras de poemas, os homens oferecem uma rosa para as mulheres, recebendo em troca um livro. Esta importante festa catalã tem seu primeiro registro datado século XIII, durante o reinado de Jaime I de Aragão (1213 – 1276). Os dois exemplos citados explicam a função da moeda como elemento de propaganda política, composta por uma série de características simbólicas. Enquanto o Arco de Triunfo é fixo em um determinado local, a moeda vai circular por todo vasto

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mundo romano, levando consigo toda uma carga imagética identificada pelo usuário. Ou seja, uma mensagem, emissor / receptor que podia alcançar, com a moeda, uma abrangência muito maior do que qualquer monumento, por mais imponente que fosse. Com isso, poderemos responder uma série de questões sobre o papel da numismática e sua função, tanto na Antiguidade, quanto na nossa sociedade: • • • • •

Como era produzida e que grupos tinham direito de cunhar as peças monetária? Qual a importância política, econômica, social e religiosa de tal objeto? Que metodologia podemos utilizar para análise da iconografia dos anversos e reversos monetários? Qual a nomenclatura científica adequada para descrição da peça monetária? Qual seria o contexto arqueológico da moeda, onde costumam ser encontradas e em que condições?

Política

O campo político não é apenas definido de uma vez por todas, ele é mutável, está em constante transformação. Desde o princípio, aquele que exercia a chamada autoridade ou poder, adotava uma série de símbolos externos para destacá-la perante seus súditos. Para isso, aplicariam essa simbologia em uma série de materiais disponíveis, para realçar e legitimar sua autoridade. Para distinguir-se dos outros, a pessoa que detinha o poder, teria de adotar algum elemento diferencial que, com o tempo, se converteria em símbolo daquela ocasião.

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Os signos externos foram usados para diferenciar e reconhecer o monarca diante do cerimonial. Uma simples faixa na cabeça, por exemplo, diferenciava os diádocos, generais de Alexandre, o grande, que dividiram seu império, depois de uma série de guerras. Portanto, um pequeno detalhe na imagem podia ter grande significado. Como quaisquer objetos que contenham textos e imagens, símbolos portadores de ideologia podem ser detectados e estudados nas moedas. O que não tem qualquer legitimidade, mas deriva do viés já mencionado e restritivo da moderna Economia, é considerar, por exemplo, que a moeda tenha surgido, na Antiguidade mediterrânea, seja devido a razões econômicas, seja em função de razões éticas, políticas, ideológicas, em suma, extra-econômicas. É assim que, nos estudos das origens da moeda na antiga Grécia, declarar ser sua invenção explicável por considerações éticas, políticas, militares, religiosas; mas, não, econômicas. A própria visão de moeda entre os antigos era totalmente diferente da nossa. Na Grécia Antiga, por exemplo, nas cunhagens até século IV a. C., apenas deuses e seres mitológicos eram representados. Isto caracterizava o papel divino da moeda. Caronte, o barqueiro de Hades (deus do mundo subterrâneo) era considerado responsável pelo transporte das almas pelo rio Aqueronte. Como pagamento, recebia um óbulo, uma moeda de prata grega, que valia a sexta parte de uma dracma (aproximadamente 0,5 gramas de prata). Por essa razão, os mortos eram enterrados com uma moeda debaixo da língua, para pagar o barqueiro. Navios e sereias representavam as cidades marítimas, sementes as cidades agrícolas, assim por diante. Alexandre III, o grande, rei da Macedônia (353 a.C – 323 a.C.), foi um dos primeiros a cunhar moedas com o seu busto. Porém, suas imagens representam o deus Apolo. Para muitos dos seus contemporâneos, o próprio Alexandre era filho de Zeus, sendo um

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semi-deus. Esse caráter mágico e divino da moeda manteve-se pelos séculos da História. Na Idade Média, os mortos recebiam duas moedas, geralmente de ouro, para cobrir seus olhos. Costume que chegou ao Brasil através da colonização portuguesa. Ainda hoje, em algumas regiões do nordeste brasileiro, mantém-se esse costume. Também encontramos vários tesouros monetários em pedras fundamentais de edifícios, templos destinados ao culto dos deuses, fontes de águas, entre outros lugares. O estudo dessas moedas, encontradas nos lugares mais inusitados, recupera o papel analítico de grande parte da História humana. O historiador francês Roger Chartier destaca a importância da interpretação dessa simbologia, chamada por ele de “signos do poder”. Segundo Chartier, há uma necessidade de constituir séries homogêneas desses signos do poder: sejam as insígnias que distinguem o soberano dos outros homens (coroas, cetros, vestes, selos), os monumentos que, ao identificarem o rei, marcam também o Estado, até mesmo a nação (as moedas, as armas, as cores), ou os programas que têm por objetivo representar simbolicamente o poder do Estado, como os emblemas, as medalhas, os programas arquitetônicos, os grandes ciclos de pintura. Chartier também utiliza como exemplo os fatos ocorridos na Inglaterra do século XII, onde, apesar de alguns progressos quanto ao domínio da leitura e da escrita, a palavra ouvida e o gesto visto, permaneciam a expressão essencial do poder, de comando e de justiça. Tudo isso aparecia para as pessoas na forma das moedas que circulavam. Compreender o significado histórico dessas séries de signos, numerosas, variadas, densas, exige, por fim, que se interroguem as diferenciações da sua decifração. Cada uma delas é susceptível de leituras plurais, que variam de acordo com a circulação desigual dos códigos e das chaves próprios

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de cada fórmula de representação, e também consoante os distanciamentos dos saberes e das competências dos diferentes públicos colocados em posição de ver o poder por meio dos seus signos. A moeda, com suas imagens e símbolos, atingem, de forma desigual, analfabetos e pessoas letradas, pessoas que dominam as sutilezas de algumas imagens e outras que as ignoram. O caso das moedas de real em uso no Brasil serve para que possamos avaliar essas diferenças. Na moeda de um centavo, no anverso aparece Cabral e uma nau portuguesa; na de 5 centavos, Tiradentes, o triângulo dos inconfidentes mineiros e um pássaro que representa a liberdade; na de 10 centavos, D. Pedro I a cavalo, às margens do Ipiranga; na de 25 centavos, Deodoro da Fonseca, proclamador da República, e o brasão; na de 50, o Barão de Rio Branco, e um mapa do Brasil, resultado da ação diplomática de garantia das fronteiras do país; na de um real, uma mulher, que simboliza a República, e decoração indígena marajoara. As pessoas comuns nem sempre reparam nesses detalhes. Mas há quem note que há uma ordem cronológica que corresponde ao valor de cada peça. Os temas representados apresentam uma leitura do passado do Brasil e sua relação com o presente. Algumas imagens são mais diretas, como a nau portuguesa. Outras figuras, como o triângulo dos inconfidentes mineiros, são menos conhecidas ou interpretadas. Quem saberia que o triângulo poderia ser a Santíssima Trindade (Pai, Filho e Espírito Santo) ou Liberdade, Igualdade e Fraternidade? Há, pois, diversos níveis de leitura. Tratar-se-ia, portanto, de construir uma problemática da variação histórica e sociocultural da percepção e da compreensão dos signos do Estado a partir do modelo proposto para a leitura dos textos ou para decifração dos frescos e quadros. Os signos do poder não têm as mesmas áreas sociais de circulação

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e não implicam as mesmas regras de interpretação. Reconstituir essas diferenças (no acesso ao signo como nas possibilidades da sua leitura, mais ou menos conforme à intenção que o produziu) é uma tarefa difícil, mas indispensável, para apreender, no campo da prática, a eficácia da simbólica do Estado. Outro bom exemplo constitui uma moeda comemorativa dos vinte anos de governo de Constantino. Figura 4 e 5 Moeda comemorativa 20

anos de governo de Constantino

Acervo do Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro. Foto: Cláudio Umpierre Carlan

Anverso ou cara, busto só (nu), de Constantino I, à direita. Na legenda a alusão ao Imperador como Augustus (constantinus aug). No reverso, os votos de 20 anos de governo, circundados por uma coroa de louros. As moedas laudatórias tinham por função passar uma mensagem de louvor e compromisso entre governante e governados. Constantino pretendia comemorar os seus 20 anos de governo, cunhando peças semelhantes às da tetrarquia (da qual se achava o legítimo sucessor). A estrela existente depois da inscrição VOT XX remete aos tempos de Otávio Augusto (segundo ele, legítimo sucessor de Júlio César, assassinado no

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Senado), no século I a.C.. Otávio teria visto uma estrela cadente ou cometa cruzando os céus. Ele interpretou como uma mensagem de Júlio César, reconhecendo Augusto como seu sucessor. Legitimava, dessa forma, o poder imperial. Essa amoedação data de 324 – 325, em Heracléia (Macedônia). Trata-se de um aes, pequena moeda de bronze, uma das mais antigas de Roma. Foi utilizada, em primeiro lugar, para o pagamento das tropas e pequenas operações econômicas. Outro caso notável consiste na moeda de mil réis da República brasileira. Figura 6 e 7 Moeda de 1000 reias da república brasileira

Acervo do Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro. Foto: Cláudio Umpierre Carlan

No anverso, na legenda, acima, a inscrição Brasil, cercada pela coroa de louros. Essa coroa de louros era uma representação comum nos escudos dos legionários romanos a partir do século II. Ao centro, abaixo da legenda, a estrela (herança do Imperador Augusto (63 a. C – 14 d.C), como vimos no exemplo anterior. Na linha de terra, o ano de circulação, 1924, durante o governo de Arthur Bernardes (1875 – 1055). Também notamos a valor simbólico da peça, 1000 reis.

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No reverso está a imagem do Cruzeiro do Sul, acompanhado de uma representação feminina (deusa da Fortuna ou a própria República) e a cornucópia, símbolo da abundância. Essas moedas saíram de circulação em 1929, ano da crise da Bolsa de Nova York. Seria muita ironia do governo brasileiro realizar uma propaganda política sobre os privilégios econômicos da República, durante uma período de crise mundial. De onde viriam as inspirações para as moedas da nossa época? Um exemplo permite notar como houve, sempre, reaproveitamento de imagens e simbologias. Figura 8 escudo legionário

Descrição No escudo da VI Legião Germania, durante uma representação histórica, no festival Tarraco Viva, em maio de

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2007, na cidade de Tarragona, Espanha. A semelhança com a moeda brasileira é muito grande, demonstrando a influência dos padrões clássicos em nossa sociedade. Apesar de ser uma reconstituição, trata-se de uma cópia fiel do original (Foto de Cláudio Umpierre Carlan).

Conclusão

É visível, ao longo dos últimos anos, o crescente número de livros e de artigos acadêmicos publicados no Brasil, feitos por pesquisadores brasileiros, cujos temas estão relacionados às mais diferentes área de pesquisa das moedas. Podem ser apontados vários aspectos para explicar este crescimento, entre os quais destacamos: o expressivo aumento de professores com doutorado nas mais diferentes áreas do conhecimento histórico; a atuação destes especialistas nos programas de pós-graduação dos cursos de História; um maior número de Bolsas de Mestrado, Doutoramento e Pós-Doutoramento destinadas aos pesquisadores que querem trabalhar com temas relacionados à História Política; a ênfase dada, por meio das Bancas de Seleção para a contratação de professores, na escolha de docentes com titulação específica para lecionar disciplinas ligadas aos mais variados períodos históricos; o número cada vez maior de encontros científicos, de âmbito regional e nacional. Estas reuniões têm proporcionado a troca de ideias entre especialis-

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tas, bem como o desenvolvimento da crítica, sem a qual não haveria a possibilidade do aumento da qualidade das pesquisas desenvolvidas aqui no Brasil; e a criação de laboratórios e de centros de pesquisas destinados exclusivamente ao estudo de questões relacionadas às mais diferentes áreas dos labirintos da História. A documentação numismática utilizada como fonte é algo relativamente novo aqui no Brasil. Quantos brasileiros sabem que o nosso país, em particular, o Museu Histórico Nacional, no Rio de Janeiro, possui um acervo de dezenas de milhares de moedas das mais variadas procedências? Ousaríamos dizer: um número irrisório de brasileiros, incluindo aí os próprios cariocas e fluminenses, tem esta informação. Este livro busca tornar público parte de um importante acervo até então desconhecido da imensa maioria dos brasileiros. Segundo o historiador francês Furet, o habitat rural, a disposição dos terrenos, a iconografia religiosa ou profana, a organização do espaço urbano, entre outras, formam uma lista interminável de todos os elementos da civilização, que auxiliariam o historiador e permitiriam a constituição de uma nova série cronológica, colocando à disposição do pesquisador um material inédito. A moeda se encaixa dentro dessa perspectiva. Na Antiguidade, assim, a moeda unificava um território, que estava submetido a um mesmo poder político. Mais do que a língua e religião, era o único instrumento ligado ao poder, que permanecia estável. Transmitia uma forte carga propagandista do governo central, segundo a medievalista portuguesa Maria José Pimenta Ferro Tavares, em um artigo sobre as moedas medievais e seu uso como fonte para o estudo das mentalidades. Muitos dos símbolos encontrados na iconografia monetária identificam o poder do cristianismo a partir de Constantino, outro grande marco histórico.

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Figura 9 e 10 Moeda

Denominação: AE ½ centenionalis Ano / Local: cunhada entre os anos de 348-350 em Roma.

Anverso: dn constantius pf aug. Busto do imperador voltada a direita, com o diadema de duas pontas, envergando a púrpura. A esquerda aparece a letra H (também comum nas cunhagens de Constâncio II), circundada pela inscrição DN CONSTAN (a esquerda) TIVS PF AVG (direita). Reverso: FEL TEMP REPARATIO. Representação de Constâncio, com o uniforme militar, o lábaro com o cristograma a sua esquerda. À direita (esquerda do observador), notamos a fênix e um globo em sua mão, com a letra H logo abaixo. Assistido por uma imagem da Vitória, remando a embarcação na qual se encontra o soberano. A Fênix, símbolo da ressurreição de Cristo, na Idade Média. Desde o teólogo cristão Orígines (185 – 253), trata-se um pássaro sagrado e símbolo de uma vontade sobreviver, do triunfo da vida sobre a morte. Era comum entre as cidades litorâneas, cunharem moedas tendo um barco como modelo, principalmente nas regiões próximas ao mar de Mármara ou do Bósforo. Essa peça foi cunhada em Roma (exergo RS). Mas existem variantes de Constantinopla, Heracléia, Antioquia, Óstia entre outras.

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Peça de bronze, estado de conservação muito bem conservada(MBC), de diâmetro de 2.3 mm, peso de 4.95g, alto reverso 6 horas, Existem 7 variantes desta peça na coleção. Cunhadas em casas monetárias diferentes. O estudo das moedas, como foi visto neste livro, apresenta facetas fascinantes. Desde sua invenção, as relações entre os seres humanos passaram a ser mediadas por essas peças de metal. As trocas econômicas só se generalizaram com as transações monetárias. O uso de um meio de avaliar o valor de todas as coisas foi fundamental para as transformações econômicas dos últimos 2.500 anos, desembocando na globalização dos nossos dias. Para além dessa dimensão financeira essencial, as moedas têm exercido funções simbólicas e políticas importantes, como definidora de reinos, impérios e estados nacionais. O estudo das moedas nem sempre é bem conhecido. Poucos sabem o que significa a própria palavra “numismática”. Procuramos mostrar, nestas páginas, como essa ciência não precisa ser obscura ou abstrata, mas, ao contrário, pode contribuir para um melhor conhecimento da sociedade, no presente e no passado. Teremos atingido nossos objetivos, se os leitores saírem mais instruídos e interessados em explorar, a partir das indicações e sugestões, o imenso manancial das moedas, fonte perene de reflexão.

Referências

O livro de G. Budé chamava-se De asse et partibus ejus (“Sobre o Asse e suas partes”). A citação de Jean Babelon vem de La Numismatique Antique, Paris, Presses Universitaires de France, 1948. �������������������������������������������������� A referência clássica sobre a estatística numismática está em Méthodes statistiques en numismatique, Louvain, 1987, de C. Carcassone. A citação de François Rebuffat vem de La monnaie dans l’Antiquité, Paris, Picard, 1996, p. 9. Um catálogo de um grupo de moedas do Museu Histórico Nacional poder ser consultado em Arqueologia Clássica e Numismática, Campinas, IFCH/Unicamp, 2006, de Pedro Paulo A Funari e Cláudio Umpierre Carlan. Considerações sobre pecúnia, derivado de pecus, podem ser encontradas no livro de Michael Crawford, Roman Republican Coinage, p. 718. A citação do jurista Paulo está no Digesto, 18, 1,1. A passagem de Garcilaso de la Vega está em The Incas (Nova Iorque, Avon, 1961, p. 162, livro V). A definição de Marx está em Theories of Surplus-Value (Moscou,

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Progress Publishers, 1978, vol. 1, p. 87) e a passagem seguinte no volume 3, p. 136. A definição de moeda (coin) está no The Oxford Universal Dictionary (Oxford, Clarendon, 1955, p. 338, s.v.). A referência à moeda de Siracusa está em The Value of Numismatics in the Study of Ancient History (Oxford, Shrimpton, 1865, p. 18), de Charles S. Medd. A passagem bíblica, adaptada, provém de Bíblia Sagrada (São Paulo, Paulus, 2001) e a de Aristóteles está em sua Ética a Nicômaco, 5,5,9. A explicação da diferença entre thêmis e nomos está em Grécia e Roma, São Paulo, Contexto, 2005, de P.P.A. Funari. A citação de Alain Testart provém do capítulo «  Moyen d’échange/moyen de paiement: des monnais em général et plus particulièrement des primitives”, Aux origines de la monnaie, org. A. Testard (Paris: Éditions Errance, 2001), pp. 11-60 (a passagem traduzida está na p. 35 e a referência seguinte na p. 48). As informações sobre as exportações brasileiras de metais provêm de http://opiniaoenoticia.com.br/interna. php?id=21788. As doenças associadas ao trabalho nas minas estão em The Social History of Occupational Health, Londres, Croom Helm, 1985, organizado por Paul Weindling. Sobre os quilombos mineiros, consulte-se o clássico de Carlos Magno Guimarães, Uma negação da Ordem Escravista: quilombos em Minas gerais no século XVIII, São Paulo: Editora Ícone, 1988. O livro clássico de John Fisher sobre as minas chama-se Silver Mines and Silver Miners in Colonial Peru, 1776-1824, Duke University, 1977. A Lei de Vipasca está publicada em português no livro Portugal Romano, a Exploração dos recursos naturais, Lisboa, Ministério da Cultura, 1997, em tradução de José d’Encarnação, pp.124-135, mas o trecho reportado foi por nós traduzido diretamente do original latino. As referências às minas ibero-americanas provêm de América Latina, La época colonial, Madri, Siglo XXI, 1993, pp. 279-286. Os métodos

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de fabricação monetária estão bem explicados em La monnaie dans l’Antiquité, Paris, Picard, 1996, pp. 63-76. As referências às moedas no Código Teodosiano estão em 23,1 (354 d.C) e 23,2 (395 d.C.). As citações de André Chevitarese provém de Salomão e Cultura Helenística. In: Fragmentos de Cultura n. 13. Revista da Pontifícia Universidade Católica de Goiânia. Goiás, 2003, p.p. 117-135, em particular na p. 128. A citação de Plauto, Aulularia, é dos versos 6-9. As descobertas em Israel estão em http://www.monstersandcritics. com/news/middleeast/news/article_1423106.php/Archaeologists_find_2000_year-old_coins_at_Jerusalem_site. Sobre a pesquisa arqueológica, consulte-se Arqueologia (São Paulo, Contexto, 2003), de Pedro Paulo A Funari. Sobre as fontes de metal para as emissões atenienses, consulte-se T E Rihll ‘Making money in Classical Athens’ in D Mattingly & J Salmon (edd) Economies beyond Agriculture, Routledge 2000, pp. 115-142. A Tábua de Vipasca e outras informações sobre as minas estão em Portugal Romano, A exploração dos recursos naturais (Lisboa, Museu de Arqueologia Nacional, 1997), p. 127; a tradução do trecho citado é de José d’Encarnação. A citação de D.W. Rathbone vem de “The imperial finances”, Cambridge Ancient History (Cambridge, Cambridge University Press, 1996), p. 318. As cunhagens inglesas medievais estão em The Beginnings of English Society (Hardmondsworth, Pelican, 1976, pp. 120-135. O aumento dos preços na Inglaterra medieval estão em La Revolución Comercial en La Europa Medieval (Barcelona, Albir, 1981, p. 114). As cunhagens da Baixa Idade Média são tratadas em The Economy of Early Renaissance Europe, 1300-1460 (Cambridge, Cambridge University Press, 1975, PP. 138-144), de Harry A. Miskimin. As considerações sobre a racionalidade econômica derivam de J. Elster, Ulises y las sirenas: Estudios sobre racio-

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nalidad e irracionalidad. Trad. de J. J. Utrilla. México: Fondo de Cultura Económica, 1989, especialmente pp. 190-235 e de Claude Lévi-Strauss, “Critères scientifiques dans les disciplines sociales et humaines”, Aletheia (Paris). 4. As moedas aqui citadas pertencem à coleção do Museu Histórico Nacional (MHN), Rio de Janeiro, que possuiu o maior acervo numismático da América Latina. A análise do Arco de Constantino provém de Patrizio Pensabene e Clementina Panella, (org). Arco de Costantino tra Archeologia e Archometria. Roma: L’Erma di Bretschneider, 1999. A tese sobre os cavaleiros representados na arte antiga provém de André Leonardo Chevitarese em seu artigo Salomão e Cultura Helenística. In: Fragmentos de Cultura n. 13. Revista da Pontifícia Universidade Católica de Goiânia. Goiás, 2003, p.p. 117-135. O caráter mutável da política está em Agnes Chaveau, Questões para História do Presente. Tradução de Ilka Stern Cohen. Bauru: Edusc, 1999, p. 59. As considerações sobre moeda e seu valor simbólico, retomamos Domenico Musti, L’economia in Grecia. RomaBari: Laterza, 1981, pp. 70-88. As considerações de Chartier estão em A História Cultural: entre práticas e representações. Rio de Janeiro: Bertrand, 1990. As imagens e explicações das moedas de real estão no site do Banco Central do Brasil: http:// www.bcb.gov.br/?MOEDAFAM2. A citação de F. Furet está em L´historie quantitativa et la construction du fait historique. Annales E.S.C., XXVI. N. 1, 1971, pp. 63 -75. As moedas analisadas na conclusão estão em Pedro Paulo Funari e Cláudio Umpierre Carlan. Arqueologia Clássica e Numismática. Coleção Textos Didáticos, n. 62. Campinas: IFCH / UNICAMP, 2007; Jean Chevalier e Alain Gheerbrant. Dicionário de Símbolos. Mitos, sonhos, costumes, gestos, formas, figuras, cores e números. Tradução Vera Costa e Silva. Rio de Janeiro: José Olympio, 1997.

Abreviaturas

Abreviaturas usadas no estudo das moedas e observações gerais RIC – Roman Imperial Coinage MHN – Museu Histórico Nacional BN – Biblioteca Nacional g – Grama mm – Milímetros S – Soberbo – moedas que não sofreram corrosões evidentes. B – Belo – moedas com poucos vestígios de circulação. MBC – Muito Bem Conservada – alguns detalhes começam a desaparecer. BC – Bem Conservada – moedas perderam alguns detalhes do desenho. R – Regular – vários elementos tipológicos estão deteriorados.

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MC – Mal Conservada – desenhos sofreram grandes alterações, identificação só é possível com a comparação com outras moedas homólogas. A direção das inscrições, geralmente, é indicada por três flechas no anverso e reverso. O eixo ou linha de terra, reverso da peça, é indicado por uma flecha

Cronologia

600 a.C. primeiras moedas lídias 550 a.C. moedas na Grécia continental, como Atenas e Corinto 289 a.C. primeiras moedas romanas 309 d.C primeiras cunhagens dos Solidus Constantinus, essa moeda irá circular até o século IX. Conhecida como “Dólar da Idade Média” 645 terços de ouros, moeda visigoda, cunhada pelo rei Egica, associando seu filho Wittisa ao trono, cunhada em Toledo 1172 Alfonso VI manda cunhar os primeiros Maravedís medievais de Castela, Espanha 1360 criação do franco pelo rei Joao II, o bom, da Dinastia de Valois, França 1560 a libra esterlina entra em circulação, durante o governo de Isabel I da Inglaterra 1568 autorização real de circular moedas portuguesas no Brasil Colônia

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1575 surgem os “réis”, deformação do real (pertence ao rei), em Portugal 1600 Primeiras moedas de “réis” chegam ao Brasil, então colônia portuguesa. Os réis circularam no Brasil durante o período monárquico e a república Velha 1641 Luís XIII, rei da França, abole o franco como moeda 1695/1698 primeira Casa da Moeda na Bahia, para o uso exclusivo da colônia. As primeiras cunhagens foram em prata (20 réis, 40 réis, 80 réis, 160 réis, 320 réis e 640 réis) 1785 inicia-se a circulação do dólar nos Estados Unidos 1795 revolucionários franceses instituem o franco de prata 1803 Napoleão institui o franco de ouro e a onça troy 1942 o presidente brasileiro Getúlio Vargas realiza uma reforma monetária, instituindo o cruzeiro no lugar dos “réis” 1967/1970 o governo militar substitui o cruzeiro pelo cruzeiro novo; 1986 reforma monetária, durante o governo Sarney, troca o cruzeiro pelo cruzado; 1989 nova reforma, entra o cruzado novo 1990/1993 circula o cruzeiro real 1994 governo Itamar Franco institui o real, atual moeda brasileira 2002 o euro entra em circulação em diversos países da União Européia, com o fim de moedas como o franco francês, a peseta espanhola, o escudo português, o marco alemão e a lira italiana.

Bibliografia

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Os autores

Cláudio Umpierre Carlan

Nasci em Cruz Alta, Rio Grande do Sul. Graduei-me em História pela Universidade Veiga de Almeida (1995), com especialização em Arqueologia pela Universidade Estácio de Sá (1997), mestrado em História Social (Antiga e Medieval) pela Universidade Federal Fluminense (2000) e doutorado em História Cultural pela Universidade Estadual de Campinas (2007), tendo realizado estágio no estrangeiro, na Universidade de Barcelona, Espanha, como bolsista da CAPES. Membro do conselho consultivo da www.historiaehistoria.com.br e professor bolsista da Universidade Estadual de Campinas. Tenho experiência na área de História, com ênfase em História Antiga e Medieval. Ministrou aulas em cursos de graduação e pós-graduação. Professor substituto de História da Ciência e Tecnologia na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), ministrando aulas no Departamento de História

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(Antiguidade Oriental) e no Departamento de Biblioteconomia (História da Ciência e Tecnologia) em 2008. Atualmente, sou professor-adjunto de História Antiga da Universidade Federal de Alfenas / MG e pesquisador colaborador do Grupo de Pesquisa Arqueologia Histórica da Unicamp e do Laboratório de Arqueologia Pública da Unicamp. Pedro Paulo A. Funari

Nasci em São Paulo, graduei-me em História (USP 1981), segui para o mestrado em Antropologia Social (USP 1985), doutorado em Arqueologia (USP 1990), Livre-Docência em História (UNICAMP 1996), fui professor da Universidade Estadual Paulista (UNESP/Assis) (1986-1992), sendo hoje Professor Titular da Universidade Estadual de Campinas (1992 em diante), pesquisador associado da Illinois State University (Estados Unidos) e Universitat de Barcelona (Espanha), professor, também, do Programa de Pós-Graduação em Arqueologia da Universidade de São Paulo. Atuo, ainda, como pesquisador do Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (Nepam/Unicamp) e no doutorado em Ambiente e Sociedade. Lidero Grupo de Pesquisa do CNPq, sediado na UNICAMP e sou coordenador do Centro de Estudos Avançados da Unicamp. Estudei Numismática com o Prof. Tony Hackens e publiquei sobre o uso da cultura material como fonte histórica.

COLEÇÃO HISTÓRIA E ARQUEOLOGIA EM MOVIMENTO Direção: Pedro Paulo A. Funari Títulos publicados: Amor e sexualidade - masculino e feminino em grafites de Pompéia

Lourdes Conde Feitosa

Gladiadores na Roma antiga: combates e paixões Renata Senna Garraffoni Identidades, discurso e poder - arqueologia contemporânea

Pedro Paulo A. Funari, Charles E. Orser Jr. e Solange Nunes de Oliveira Schiavetto (Orgs.) Jesus de Nazaré: uma outra história

André Leonardo Chevitarese, Gabriele Cornelli e Monica Selvatici (Orgs.) Alexandre Magno - aspectos de um mito de longa duração

Pedro Prado Custódio

Os xerente: um enfoque etnoarqueológico

Flávia Prado Moi

Judaísmo, cristianismo e helenismo

André Leonardo Chevitarese e Gabrielle Cornelli (Orgs.) História antiga e usos do passado

Glaydson José da Silva

História antiga: contribuições brasileiras

Pedro Paulo A. Funari, Glaydson José da Silva, Adilton Luís Martins (Orgs.) A arte dos regimes totalitários do século XX

Vanessa Beatriz Botulucce

Brasil Central: 12.000 anos de ocupação humana no rio Tocantins

Walter Fagundes Morales

Cultura militar e de violência no mundo antigo

Luiz Alexandre Solano Rossi

Arqueologia da repressão e da resistência: América Latina e ditaduras

Pedro Paulo Funari, Andrés Zarankin e José Alberioni dos Reis (Orgs.)

Subjetividades antigas e modernas

Margareth Rago e Pedro Paulo Funari (Orgs.) Política e identidades no mundo antigo

Pedro Paulo A. Funari e Maria Aparecida de Oliveira Silva (Orgs.) Identidades fluídas no judaísmo antigo e no cristianismo primitivo

Paulo Augusto de Souza Nogueira, Pedro Paulo A. Funari, John J. Collins (Orgs.) Arestas do Poder

Adilton Luís Martins Geoarqueologia de um sambaqui monumental

Ximena S. Villagran

Entre ilhas e correntes

Aline Vieira de Carvalho Sexo e violência - realidades antigas e questões contemporâneas

José Geraldo Costa Grillo, Renata Senna Garraffoni, Pedro Paulo A. Funari (Orgs.) A construção da pirataria: o processo de formação do conceito de “pirata” no período moderno

Leandro Domingues Duran

“O Príncipe do Egito”: um filme e suas leituras na sala de aula

Raquel dos Santos Funari

Moedas: a Numismática e o estudo da História

Cláudio Umpierre Carlan e Pedro Paulo A. Funari

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