Moluscos límnicos invasores no Brasil : biologia, prevenção e controle

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Descrição do Produto

Organizadores: Maria Cristina Dreher Mansur Cintia Pinheiro dos Santos Daniel Pereira Isabel Cristina Padula Paz Manuel Luiz Leite Zurita Maria Teresa Raya Rodriguez Marinei Vilar Nehrke Paulo Eduardo Aydos Bergonci

Patrocínio e Apoio:

Organizadores: Maria Cristina Dreher Mansur Cintia Pinheiro dos Santos Daniel Pereira Isabel Cristina Padula Paz Manuel Luiz Leite Zurita Maria Teresa Raya Rodriguez Marinei Vilar Nehrke Paulo Eduardo Aydos Bergonci

Porto Alegre 2012

Organizadores: Maria Cristina Dreher Mansur Cintia Pinheiro dos Santos Daniel Pereira Isabel Cristina Padula Paz Manuel Luiz Leite Zurita Maria Teresa Raya Rodriguez Marinei Vilar Nehrke Paulo Eduardo Aydos Bergonci Projeto editorial: Guacira Gil e Salete Campos de Moraes Redes Editora Projeto gráfico, editoração e capas: Eleandro Moysés Foto capa: Macroaglomerado de mexilhão-dourado, Lago Guaíba, RS. M.C.D. Mansur. Impressão: Gráfica Evangraf Tiragem: 1000 exemplares

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) E24

Moluscos límnicos invasores no Brasil : biologia, prevenção e controle / organizador Maria Cristina Dreher Mansur ... [et al.]. – Porto Alegre : Redes Editora, 2012. 412 p. ; 29,7 cm. ISBN: 978-85-61638-46-7 1. Meio Ambiente – Brasil. 2. Moluscos Límnicos. 3. Moluscos Invasores no Brasil. 4. Mexilhão-Dourado. I. Mansur, Maria Cristina Dreher. CDD 639.42 Bibliotecário Responsável Ginamara Lima Jacques Pinto CRB 10/1204

Redes Editora Ltda. Av. Plínio Brasil Milano, 388, conj. 501 – 90520-000 – Porto Alegre/RS – Brasil http://www.redeseditora.com.br/loja - E-mail: [email protected] F: (51)8109.4238

Sumário PREFÁCIO.................................................................................... 09 APRESENTAÇÃO................................................................. 11 LISTA DE COLABORADORES............................ 13 SEÇÃO 1 Moluscos invasores nos ecossistemas continentais do Brasil CAPÍTULO 1............................................................................. 19 Abordagem conceitual dos moluscos invasores nos ecossistemas límnicos brasileiros CAPÍTULO 2............................................................................. 25 Espécies de moluscos límnicos invasores no Brasil CAPÍTULO 3............................................................................. 51 Genética da bioinvasão do mexilhão-dourado SEÇÃO 2 Biologia de moluscos invasores CAPÍTULO 4............................................................................. 61 Bivalves invasores límnicos: morfologia comparada de Limnoperna fortunei e espécies de Corbicula spp. CAPÍTULO 5............................................................................. 75 Identificação e diferenciação dos bivalves límnicos invasores dos demais bivalves nativos do Brasil CAPÍTULO 6............................................................................. 95 Morfologia e ciclo larval comparados de bivalves límnicos invasores e nativos

CAPÍTULO 7.......................................................................... 111 A gametogênese em Limnoperna fortunei (Dunker, 1857) CAPÍTULO 8.......................................................................... 119 Dinâmica reprodutiva de Corbicula fluminea e Corbicula largillierti CAPÍTULO 9......................................................................... 125 Gastrópodes límnicos invasores: morfologia comparada SEÇÃO 3 Monitoramento de moluscos invasores CAPÍTULO 10.......................................................................139 Como monitorar bivalves invasores no plâncton? Método da microscopia óptica CAPÍTULO 11....................................................................... 143 O método molecular de prospecção do mexilhão-dourado CAPÍTULO 12....................................................................... 149 Método de detecção e quantificação de larvas do mexilhão-dourado Limnoperna fortunei, usando PCR quantitativo em tempo real CAPÍTULO 13.......................................................................155 Como monitorar moluscos límnicos invasores bentônicos e macroinvertebrados associados? SEÇÃO 4 Aspectos populacionais de moluscos invasores e relações com variáveis ambientais

CAPÍTULO 14....................................................................... 187 Limnoperna fortunei na Bacia da Lagoa dos Patos e Lagoa Mirim

CAPÍTULO 23.......................................................................255 Os impactos do mexilhão-dourado sobre a comunidade planctônica

CAPÍTULO 15.......................................................................193 Limnoperna fortunei na bacia hidrográfica do baixo Rio Jacuí e Lago Guaíba, Rio Grande do Sul

SEÇÃO 7 Prevenção

CAPÍTULO 16.......................................................................197 Limnoperna fortunei na bacia do Rio Paraguai, Mato Grosso do Sul CAPÍTULO 17.......................................................................201 Limnoperna fortunei associada a macrófitas aquáticas na bacia do Rio Paraguai, Mato Grosso

CAPÍTULO 24...................................................................... 265 Ações de Eletrobras–FURNAS na divulgação da Campanha de Controle do Mexilhão-Dourado CAPÍTULO 25.......................................................................271 Ações desenvolvidas pelo Ministério do Meio Ambiente – 2001 a 2011 SEÇÃO 8 Delineamento experimental: seleção de métodos de controle populacional

CAPÍTULO 18...................................................................... 207 Experiência da procura e monitoramento no início da invasão de mexilhão-dourado no Rio Paraná e no reservatório de Itaipu

CAPÍTULO 26.......................................................................279 Planejamento experimental para a seleção de métodos de controle populacional de moluscos invasores

SEÇÃO 5 Moluscos invasores e a comunidade bentônica

SEÇÃO 9 Controle populacional de bivalves invasores: métodos químicos

CAPÍTULO 19.......................................................................221 Distribuição espacial do mexilhão-dourado na bacia do médio Rio Tietê/Jacaré, São Paulo, Brasil: relação com moluscos límnicos, fitoplâncton e qualidade da água

CAPÍTULO 27...................................................................... 297 Controle Químico: conceitos básicos

CAPÍTULO 20...................................................................... 235 Efeito do macrofouling sobre a comunidade de invertebrados aquáticos

CAPÍTULO 29.......................................................................303 Formas de Cloro

CAPÍTULO 21.......................................................................243 Limnoperna fortunei na bacia hidrográfica do baixo Rio Jacuí: relações com a comunidade de macroinvertebrados bentônicos

CAPÍTULO 28...................................................................... 299 Microencapsulados

CAPÍTULO 30.......................................................................307 Sulfato de Cobre CAPÍTULO 31....................................................................... 311 Outros compostos

SEÇÃO 6 Efeito da filtração de bivalves invasores sobre a comunidade planctônica

CAPÍTULO 32....................................................................... 317 Seleção de materiais e revestimentos para o controle de incrustações do mexilhão-dourado em hidrelétricas.

CAPÍTULO 22...................................................................... 249 O impacto de Limnoperna fortunei sobre as cianobactérias

CAPÍTULO 33.......................................................................323 Tintas anti-incrustantes no controle do mexilhão-dourado

SEÇÃO 10 Controle populacional de bivalves invasores: métodos físicos

SEÇÃO 12 Modelos de análise de risco e previsão de cenários de dispersão de moluscos invasores

CAPÍTULO 34........................................................................... 331 Controle Físico: conceitos básicos

CAPÍTULO 40...........................................................................367 Análise de risco de introdução de moluscos aquáticos invasores

CAPÍTULO 35........................................................................... 335 Controle de Limnoperna fortunei com aplicação de radiação ultravioleta CAPÍTULO 36........................................................................... 339 Controle de bivalves com a utilização do ultrassom SEÇÃO 11 Controle populacional de bivalves invasores: métodos biológicos CAPÍTULO 37........................................................................... 345 Controle Biológico: conceitos básicos CAPÍTULO 38........................................................................... 351 Controle Microbiano CAPÍTULO 39........................................................................... 357 Predadores potenciais para o controle do mexilhão-dourado

CAPÍTULO 41........................................................................... 373 Modelos de previsão da distribuição do mexilhão-dourado no Brasil CAPÍTULO 42...........................................................................377 Previsão de cenários de distribuição de Limnoperna fortunei na Laguna dos Patos SEÇÃO 13 Manejo de Espécies Invasoras CAPÍTULO 43........................................................................... 383 Manejo integrado de espécies invasoras de moluscos límnicos REFERÊNCIAS........................................................................ 389

Prefácio Com vistas a incentivar a busca constante por inovações e fazer frente aos desafios tecnológicos do setor elétrico, foi regulamentado o Programa de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D). Neste contexto, as empresas concessionárias, permissionárias ou autorizadas de distribuição, transmissão e geração de energia elétrica devem aplicar anualmente um percentual mínimo de sua receita operacional líquida no Programa de Pesquisa e Desenvolvimento do Setor de Energia Elétrica (ANEEL). Esta publicação é produto final do Projeto “Estudos biológicos e ambientais como base à prevenção e ao controle do mexilhão-dourado, Limnoperna fortunei (Dunker, 1857), em rios e reservatórios brasileiros”, que foi financiado pelo Programa de P&D ANEEL/FURNAS, tendo como sede das pesquisas o Centro de Ecologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e a Fundação Luiz Englert como administradora junto à citada Universidade. Está subdividido em 13 seções, dentro das quais estão distribuídos 43 capítulos, redigidos por diversos especialistas de projeção no Brasil e no exterior além dos pesquisadores envolvidos diretamente no projeto. Sua importância é singular, devido ao somatório de pesquisas direcionadas à compreensão do comportamento e do ciclo de vida do mexilhão-dourado, como base aos diferentes métodos testados para a prevenção e ao controle do mesmo. A chegada do mexilhão-dourado L. fortunei marcou um dos mais alarmantes casos de bioinvasão das águas continentais brasileiras. Através do seu alto poder reprodutivo este invasor tem causado sérios problemas de entupimento nos sistemas coletores de água, canalizações, refrigeradores de indústrias, unidades geradoras de energia e sistemas de cultivo em tanques-rede, bem como impactos ambientais, devido a sua alta densidade populacional. Os impactos no ambiente poderão ser mais expressivos em longo prazo com trocas na estrutura da cadeia trófica, como já relatados na Argentina e no Brasil. As espécies invasoras foram consideradas como a terceira maior ameaça para a biodiversidade pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) e o Governo brasileiro. Já o Ministério do Meio Ambiente – MMA considera espécies introduzidas a segunda maior causa de extinção de espécies. A presente obra recebe importante contribuição com base em análises genéticas das populações invasoras da espécie L. fortunei no Brasil, que podem ser resumidas como: o mexilhão-dourado invadiu as águas

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continentais brasileiras mais de uma vez; as populações que invadiram o Brasil vieram de diferentes locais; a migração natural não é vetor mais importante deste processo de bioinvasão. A capacidade de detecção precoce de espécies aquáticas invasoras durante o processo de sua dispersão é essencial para a definição de medidas de controle ou erradicação. O monitoramento de bivalves invasores pode se dar por vários métodos. O mais óbvio e simples é a observação das conchas dos indivíduos adultos no ambiente. Embora esta seja a maneira mais fácil, a detecção é tardia e prejudica ações de controle ou eliminação dos moluscos. Para contornar este problema, são apresentados, neste Guia, métodos clássicos de detecção morfológica das larvas, e técnicas mais sensíveis e específicas que se referem à detecção via PCR e quantificação de larvas em amostras de plâncton por PCR em tempo real. Na tentativa de controlar as espécies invasoras, são apresentados métodos químicos, físicos e biológicos, com comentários sobre as vantagens e desvantagens de cada um deles. O controle de organismos invasores (bioincrustações) no mundo está sendo impulsionado pela busca por maior eficiência com baixo custo, associado a um baixo impacto ambiental e operacional. Vale ressaltar, que novas informações e desdobramentos dessa pesquisa financiada através do Programa da ANEEL de Pesquisa e Desenvolvimento, possibilitarão a melhoria de procedimentos e a aplicação de ações preventivas e corretivas que aumentem a eficiência no controle do mexilhão-dourado, contribuindo efetivamente para uma performance adequada do setor elétrico, preservando e cuidando do meio ambiente.

Paulo S. Formagio

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Apresentação O ambiente de água doce, já tão disputado pelo homem e que em futuro muito próximo deverá apresentar os problemas mais críticos no nosso planeta devido à escassez de água, nas últimas décadas tem servido de cenário para as invasões causadas por moluscos límnicos, com todas as consequências para o ecossistema e aos sistemas construídos pelo homem. Os impactos destas invasões têm sido complexos e incalculáveis. No meio ambiente, a integridade das comunidades naturais é afetada com reflexos na biodiversidade, na cadeia trófica, na qualidade ambiental, com riscos à saúde humana e problemas sanitários imprevisíveis. Nos sistemas de hidroelétricas, barramentos, refrigeração de indústrias, canalizações, tratamento de água, pesca, turismo etc., os prejuízos econômicos ultrapassam a casa dos bilhões de dólares americanos. As invasões causadas por espécies exóticas são uma consequência da própria evolução do homem moderno. As companhias de comércio operam globalmente (Walker, 2005), contribuindo para a eliminação ou redução das barreiras naturais que sempre separaram e mantiveram a integridade dos ecossistemas (Silva et al., 2004). Os bivalves asiáticos do gênero Corbicula chegaram por primeiro na década de 1970 e o mexilhão-dourado na de 1990. Todas as áreas dos primeiros registros foram nas cercanias de portos, recaindo a suspeita de que tenham sido transportados na água de lastro de navios transoceânicos. Acompanhamos pessoalmente as invasões dos bivalves junto à bacia do Lago Guaíba que banha Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, no extremo sul do Brasil. Como especialista em bivalves nativos, foi muito difícil explicar o que estávamos presenciando. As primeiras dúvidas surgiram com todas aquelas formas diferentes de Corbicula que foram aparecendo em sequência, uma dando lugar à outra. Seriam uma ou mais espécies? Nossa espécie nativa Cyanocyclas limosa, da mesma família, havia praticamente desaparecido. Depois o mexilhão-dourado. Em aproximadamente dois anos após os primeiros registros, a população alcançou densidades de 140.000 indivíduos e recrutas em mais de 1 milhão por m2 . Ficamos pasmos com a rapidez da modificação do ambiente lacustre. Cada mês que íamos a campo havia uma surpresa, uma nova alteração, principalmente em se tratando da fauna e flora ripária e bentônica. Todas as estações de tratamento da água e sistemas de refrigeração de fábricas que utilizam água bruta no entorno do lago, tiveram problemas de entupimentos e partiram para soluções emergenciais – nem

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sempre recomendadas ambientalmente. Foi também dificílimo, inicialmente, convencer e sensibilizar os órgãos ambientais – para obtermos licenças de coleta – e os financiadores de pesquisa, sobre a necessidade de desenvolvermos pesquisas sobre o tema e ter projetos aprovados. Esta obra representa o esforço de uma equipe de biólogos especializados em diferentes áreas, desde a Taxonomia, Ecologia, Biologia Molecular e Controle Biológico, com apoio de engenheiros químicos, ambientais, e barrageiros, no sentido de reunir dados disponíveis e integrar os conhecimentos. O ponto de partida para a organização de todos os estudos e subprojetos foi, inicialmente, a pesquisa básica, que nos permitiu aprofundar os conhecimentos sobre taxonomia e morfologia comparada das espécies de bivalves invasores, em todas as fases de desenvolvimento, dando-nos a certeza da identidade, do número de espécies e das respectivas áreas de invasão. Calcados neste pilar, e no aprendizado de novas técnicas de coleta e monitoramento foi possível, com mais segurança, direcionar as pesquisas para a compreensão das interferências e atuações das espécies invasoras no meio ambiente e realizar experimentos para adequar e adaptar técnicas direcionadas ao controle das diferentes espécies invasivas de moluscos no ambiente límnico brasileiro. E, por último, objetivando um controle com técnicas ambientalmente compatíveis, sugerir um manejo integrado. A ideia do livro surgiu durante a elaboração de um projeto de Pesquisa e Desenvolvimento (P & D) sugerido pelo biol. Rodrigo De Filippo, da empresa FURNAS, por demanda da mesma. Este projeto foi idealizado em 2008/9, iniciado em outubro de 2009, com a finalização prevista para setembro de 2012 e o lançamento do livro em julho deste ano. Reunimos neste livro também o resultado de projetos desenvolvidos anteriormente, com recursos do GLOBALLAST que subsidiou a Força Tarefa Nacional de Combate ao Mexilhão-Dourado no período de 2003 a 2004; com o Auxílio para pesquisa CTHIDRO/CNPq durante o período de 2005 a 2008, sob a coordenação geral do Dr. Flávio da Costa Fernandes do IEAPM – Marinha do Brasil, além de recursos obtidos pelo edital Universal do CNPq e projetos de P & D financiados pela TRACTEBEL, AES Tietê, ENERPEIXE e CEEE. Parte das pesquisas que compõem vários capítulos deste livro, foram desenvolvidas no Centro de Ecologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com recursos FURNAS/ANEEL que permitiram equipar e adaptar oito laboratórios para estudos do mexilhão-dourado. Também foram convidados pesquisadores de outras instituições brasileiras (IEAPM, IFRR, NUPÉLIA/UEM, FURG, UFMT, UERJ, ICMBio, IBAMA, MMA, FURG, FIOCRUZ, UFP) e do exterior (UNRN e UNLP, na Argentina, e ICPIEE, no Japão), que contribuíram com textos de altíssima qualidade para a obra apresentada. Quando este livro estiver publicado é possível que invasoras mais agressivas tenham chegado ao nosso país e novas técnicas mais eficientes tenham sido pesquisadas e testadas. Assim este livro não é definitivo, mas uma ponte para facilitar novos estudos e descobertas.

Maria Cristina Dreher Mansur

Colaboradores ARCHUBY, FERNANDO

Universidad Nacional de Río Negro (UNRN), Instituto de Paleobiología y Geología, Calle Isidro Lobos y Belgrano, 8332, General Roca, Río Negro, Argentina, e-mail: [email protected]

ARENZON, ALEXANDRE

Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Instituto de Biociências, Centro de Ecologia, Av. Bento Gonçalves, 9500, setor 4, prédio 43411, Cx. postal 15007, 91501-970 Porto Alegre, RS, Brasil, e-mail: [email protected]

ARRUDA, JANINE OLIVEIRA

Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Instituto de Biociências, Centro de Ecologia, Av. Bento Gonçalves, 9500, setor 4, prédio 43411, Cx. postal 15007, 91501-970 Porto Alegre, RS, Brasil, e-mail: [email protected]

BARBOSA, FABIANA GONÇALVES

Universidade Federal do Rio Grande (FURG), CENOSYS, Av. Itália km 8, Carreiros, 96203-900 Rio Grande, RS, Brasil, e-mail: [email protected]

BASEGIO, TANIA MARIA

Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Escola de Engenharia, Departamento de Materiais, Av. Osvaldo Aranha, 99, Centro, 90035-190 Porto Alegre, RS, Brasil, e-mail: [email protected]

BERGONCI, PAULO EDUARDO AYDOS

Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Instituto de Biociências, Centro de Ecologia, Av. Bento Gonçalves, 9500, setor 4, prédio 43411, Cx. postal 15007, 91501-970 Porto Alegre, RS, Brasil, e-mail: [email protected]

BERUTTI, FELIPE AMORIM

Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Escola de Engenharia, Departamento de Materiais, Av. Osvaldo Aranha, 99 sala 705C, 90035-190 Porto Alegre, RS, Brasil, e-mail: [email protected]

BOEGER, WALTER ANTONIO

Universidade Federal do Paraná (UFPR), Departamento de Zoologia, Setor de Ciências Biológicas, Grupo Integrado de Aquicultura e Estudos Ambientais, Av. Francisco H. dos Santos, s/n, Jardim das Américas, Cx. postal 19073, 81531-980 Curitiba, PR, Brasil, e-mail: [email protected]

CALAZANS C., SÁVIO HENRIQUE

Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo zoreira (IEAPM), Rua Kioto, 253, Praia dos Anjos, 28930-000 Arraial do Cabo, RJ, Brasil, e-mail: [email protected]

CALHEIROS, DÉBORA FERNANDES Embrapa Pantanal Rua 21 de Setembro, 1880, Corumbá, MS e-mail: [email protected]

BELZ, CARLOS EDUARDO

CALLIL, CLAUDIA TASSO

BEMVENUTI, CARLOS EMÍLIO

COLLING, LEONIR ANDRÉ

Universidade Federal do Paraná (UFPR), Centro de Estudos do Mar, CEM, Av. Beira Mar, s/n, Balneário Pontal do Sul, Pontal do Paraná, 83255-000 Pontal do Paraná, PR, Brasil, e-mail: [email protected] Universidade Federal do Rio Grande (FURG), Instituto de Oceanografia, Laboratório de Ecologia de Invertebrados Bentônicos, Campus Carreiros, Base Oceanográfica, Av. Itália, Km 8, s/n, Cx. postal 474, 96201-900 Rio Grande, RS, Brasil, e-mail: [email protected]

BERGMANN, CARLOS PÉREZ

Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Escola de Engenharia, Departamento de Materiais, Av. Oswaldo Aranha 99 sala 705, 90035-190 Porto Alegre, RS, Brasil, e-mail: [email protected]

Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), Instituto de Biociências, Departamento de Biologia e Zoologia, Av. Fernando Correa da Costa, n° 2367, Bairro Boa Esperança, 78060-900 Cuiabá, MT, Brasil, e-mail: [email protected] Universidade Federal do Rio Grande (FURG), Instituto de Oceanografia, Laboratório de Ecologia de Invertebrados Bentônicos, Av. Itália, Km 08, Cx. postal 474, 96203-000 Rio Grande, RS, Brasil, email: [email protected]

COUTINHO, RICARDO

Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira (IEAPM), Rua Kioto, 253, Praia dos Anjos, 28930-000 Arraial do Cabo, RJ, Brasil, e-mail: [email protected]

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DANELON, OLGA MARIA

Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira (IEAPM), Rua Kioto, 253. Praia dos Anjos, 28930-000 Arraial do Cabo, RJ, Brasil, e-mail: [email protected]

DARRIGRAN, GUSTAVO

Museo de La Plata, División Zoología Invertebrados (UNLP - FCNyM), Grupo de Investigación sobre Moluscos Invasores/Plagas (GIMIP), Paseo del Bosques /n, La Plata 1900, La Plata, Argentina, www.malacologia.com.ar , e-mail: [email protected]

DE FILIPPO, RODRIGO

Rua Pitangueiras 315/73, Mirandópolis, 04052-020 São Paulo, SP, Brasil, e-mail: [email protected]

ENDO, NORIYUKI

Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Instituto de Biociências, Laboratório de Invertebrados Bentônicos I, Av. Bento Gonçalves, 9500, prédio 43435, sala 204, 91501-970 Porto Alegre, RS, Brasil, e-mail: [email protected]

FUJITA, DANIELE SAYURI

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Roraima (IFECTR), Campus Amajari, Av. Tepequém, s/n Centro, 69343-000 Amajari, RR, Brasil, e-mail: [email protected]

GAZULHA, VANESSA

Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Instituto de Biociências, Centro de Ecologia, Av. Bento Gonçalves, 9500, setor 4, prédio 43411, Cx. postal 15007, 91501-970, Porto Alegre, RS, Brasil, e-mail: [email protected]

Instituto Central de Pesquisa da Indústria de Energia Elétrica (ICPIEE), Laboratório de Pesquisa de Ciências Ambientais, 1646 Abiko, Abiko-shi, Chiba-ken 270-1194, Japão, Endereço atual: Himeji Eco tech Co., Ltd., Himeji, 672-8023 Hyogo, Japão, e-mail: [email protected]

GOMES, ANA LÚCIA TEIXEIRA

FACHINI, ALINE

GONÇALVES, ISABELA CRISTINA BRITO

Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Instituto de Biociências, Centro de Ecologia, Av. Bento Gonçalves, 9500, setor 4, prédio 43411, Cx. postal 15007, 91501-970 Porto Alegre, RS, Brasil, e-mail: [email protected]

Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Instituto de Biologia Roberto Alcântara Gomes, Laboratório de Malacologia Límnica e Terrestre, Rua São Francisco Xavier, 524, PHLC 525-2, Maracanã, 20550-900 Rio de Janeiro, RJ, Brasil, e-mail: [email protected]

FERNANDES, FLAVIO DA COSTA

GOULART, MARCILIA BARBOSA

Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira (IEAPM), Rua Kioto, 253. Praia dos Anjos, 28930-000 Arraial do Cabo, RJ, Brasil, e-mail: [email protected]

FERNADES, LIVIA VIANA DE GODOY Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira (IEAPM), Rua Kioto, 253. Praia dos Anjos, 28930-000 Arraial do Cabo, RJ, e-mail: [email protected]

FERNANDEZ, MONICA AMMON

Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Instituto de Biociência, Laboratório de Ecologia Animal CCBS-III, Av. Fernando Corrêa da Costa, n° 2367, Bairro Boa Esperança, 78060-900 Cuiabá, MT, Brasil, e-mail: [email protected]

Estação de Hidrobiologia e Piscicultura de Furnas, Rua Lavras 288, Usina de Furnas, 37945-000 São José da Barra, MG, Brasil

HAGE-MAGALHÃES, LILIAN RIBEIRO e-mail:[email protected]

KAPUSTA, SIMONE CATERINA

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFECTRGS), Campus Porto Alegre, Rua Cel. Vicente, 281, 90.030-040, Porto Alegre, RS, Brasil, e-mail: [email protected]

Laboratório de Malacologia, Instituto Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), Av. Brasil 4365, Manguinhos, 21040-900 Rio de Janeiro, RJ, Brasil, e-mail: [email protected]

LOPES, MICHELLE DAS NEVES

FIGUEIREDO, GABRIELA CRISTINA SANTOS DE

MANSUR, MARIA CRISTINA DREHER

Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Instituto de Biociências, Centro de Ecologia, Av. Bento Gonçalves, 9500, setor 4, prédio 43411, Cx. postal 15007, 91501-970 Porto Alegre, RS, Brasil, e-mail: [email protected]

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FREITAS, SUZANA MARIA FAGONDES DE

FORMAGIO, PAULO SERGIO

Estação de Hidrobiologia e Piscicultura de Furnas (ELETROBRAS/FURNAS). Rua Lavras 288, 37945-000 Furnas, MG, Brasil, e-mail: [email protected]

Centro Universitário (FACVEST, NDE), Ciências Biológicas, Av. Marechal Floriano, 947, Centro, 88501-103 Lages, SC, Brasil, e-mail: [email protected] Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Instituto de Biociências, Centro de Ecologia, Av. Bento Gonçalves, 9500, setor 4, prédio 43411, Cx. postal 15007, 91501-970 Porto Alegre, RS, Brasil, e-mail: [email protected]

MARÇAL, SANDRA FRANCISCA

Universidade Federal de Mato Grosso(UFMT), Programa de Pós Graduação em Ecologia e Conservação da Biodiversidade, Av. Fernando Correa da Costa, 2367, Bairro Boa Esperança, 78060-900 Cuiabá, MT, Brasil, e-mail: [email protected]

MASSOLI, EDSON VIANA JUNIOR

PEDROZO, CATARINA DA SILVA

MELO, ADRIANO SANCHES

PEREIRA, DANIEL

Universidade de Varzea Grande (UNIVAG), Centro Universitário, GPA Ciências Agrárias e Biológicas, Av. Dom Orlando Chaves, 2655, Cristo Rei, 78118-900 Várzea Grande, MT, Brasil, e-mail: [email protected] Universidade Federal de Goiás (UFG), Instituto de Ciências Biológicas, Campus Samambaia, Cx. postal 131, 74001-970 Goiânia, GO, Brasil, e-mail: [email protected]

MIYAHIRA, IGOR CHRISTO

Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Instituto de Biologia Roberto Alcântara Gomes, Laboratório de Malacologia Límnica e Terrestre, Rua São Francisco Xavier 524, PHLC 525-2, Maracanã, 20550-900 Rio de Janeiro, RJ, Brasil, e-mail: [email protected]

NEHRKE, MARINEI VILAR

Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Instituto de Biociências, Centro de Ecologia, Av. Bento Gonçalves, 9500, setor 4, prédio 43411, Cx. postal 15007, 91501-970 Porto Alegre, RS, Brasil, e-mail: [email protected]

NOGATA, YASUYUKI

Instituto Central de Pesquisa da Indústria de Energia Elétrica (ICPIEE), Laboratório de Pesquisa de Ciências Ambientais 1646 Abiko, Abiko-shi, 270-1194 Chiba, Japão, e-mail: [email protected]

OLIVEIRA, ARTHUR SCHRAMM DE

Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Instituto de Biociências, Centro de Ecologia, Av. Bento Gonçalves, 9500, setor 4, prédio 43411, Cx. postal 15007, 91501-970 Porto Alegre, RS, Brasil, e-mail: [email protected]

OLIVEIRA, MARCIA DIVINA DE

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA - Pantanal), Limnologia, Rua 21 de setembro, 1880, 79320-900 Corumbá, MS, Brasil, e-mail: [email protected]

OSTRENSKY, ANTONIO

Universidade Federal do Paraná (UFPR), Departamento de Zootecnia, Grupo Integrado de Aquicultura e Estudos Ambientais, setor de Ciências Agrárias, Rua dos Funcionários, 1540, Juvevê, 80035-050 Curitiba, PR, Brasil, e-mail: [email protected]

PATELLA, RAQUEL

Universidade Federal do Paraná (UFPR), Departamento de Zoologia, Grupo Integrado de Aquicultura e Estudos Ambientais, setor de Ciências Biológicas, Av. Francisco H. dos Santos, s/n, Jardim das Américas, Cx. postal 19073, 81531-980 Curitiba, PR, Brasil, e-mail: [email protected]

PAZ, ISABEL CRISTINA PADULA

Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Instituto de Biociências, Centro de Ecologia, Av. Bento Gonçalves, 9500, setor 4, prédio 43411, Cx. postal 15007, 91501-970 Porto Alegre, RS, Brasil, e-mail: [email protected]

Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Instituto de Biociências, Centro de Ecologia, Av. Bento Gonçalves, 9500, setor 4, prédio 43411, Cx. postal 15007, 91501-970 Porto Alegre, RS, Brasil, e-mail: [email protected]

Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Instituto de Biociências, Centro de Ecologia, Av. Bento Gonçalves, 9500, setor 4, prédio 43411, Cx. postal 15007, 91501-970 Porto Alegre, RS, Brasil, e-mail: [email protected]

PIMPÃO, DANIEL MANSUR

Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), Rua 229, n. 95, Setor Leste Universitário, 74605-090 Goiânia, GO, Brasil, e-mail: [email protected]

PINILLOS, ANA CECILIA MAGARIÑO

Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), Instituto de Biociências, Graduanda em Ciências Biológicas, Av. Fernando Corrêa da Costa, nº 2367, 78060-900 Cuiabá, MT, Brasil, e-mail: [email protected]

PINOTTI, RAPHAEL MATHIAS

Universidade Federal do Rio Grande (FURG), Instituto de Oceanografia, Laboratório de Ecologia de Invertebrados Bentônicos, Av. Itália, km 8, Campus Carreiros, Cx. postal 474, 96201-900 Rio Grande, RS, Brasil, e-mail: [email protected]

POMBO, VIVIAN BECK

Ministério do Meio Ambiente (MMA), Departamento de Conservação da Biodiversidade, Esplanada dos Ministérios, Bloco B, 70068-900 Brasília, DF, Brasil, e-mail:[email protected]

POSTIGLIONE, RAONI ROCHA

Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Instituto de Biociências, Centro de Ecologia, Av. Bento Gonçalves, 9500, setor 4, prédio 43411, Cx. postal 15007, 91501-970 Porto Alegre, RS, Brasil, e-mail: [email protected]

RAYA-RODRIGUEZ, MARIA TERESA

Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Instituto de Biociências, Centro de Ecologia, Av. Bento Gonçalves, 9500, setor 4, prédio 43411, Cx. postal 15007, 91501-970 Porto Alegre, RS, Brasil, e-mail: [email protected]

RESENDE, FERNANDO ANTONIO BLANCO Departamento de Equipamento Rotativo, Furnas Centrais Elétricas - Escritório Central, Rua Real Grandeza 219, Botafogo, 22281-900 Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

SANTOS, CINTIA PINHEIRO DOS

Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Instituto de Biociências, Centro de Ecologia, Av. Bento Gonçalves, 9500, setor 4, prédio 43411, Cx. postal 15007, 91501-970 Porto Alegre, RS, Brasil, e-mail: [email protected]

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SANTOS, SILVIO CARLOS ALVES DOS

AES Tietê, Departamento de Meio Ambiente, Usina Hidrelétrica de Promissão Rua Olavo Bilac, 620, Cx. Postal 64, 16400-970 Lins, SP, Brasil, e-mail: [email protected]

SANTOS, SONIA BARBOSA

Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Instituto de Biologia Roberto Alcântara Gomes, Laboratório de Malacologia Límnica e Terrestre, Rua São Francisco Xavier 524, PHLC 525-2, Maracanã 20550-900 Rio de Janeiro, RJ, Brasil, e-mail:[email protected]

SEBASTIANY, JULIANA BRASILIENSE

Instituto Biológico do Meio Ambiente (IBIOMA), Rua Conselheiro Araújo, Centro, 80060-230 Curitiba, PR, Brasil, e-mail: [email protected]

SILVA, EDSON PEREIRA DA

Universidade Federal Fluminense (UFF), Instituto de Biologia, Departamento de Biologia Marinha, Laboratório de Genética Marinha e Evolução, Outeiro São João Batista, s/nº, Valonguinho, Cx. postal 100.644, 24001-970 Niterói, RJ, Brasil, e-mail: [email protected]

SOARES, MÍRIAM DE FREITAS

Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luiz Roessler (FEPAM), Departamento de Laboratórios, Divisão de Química, Rua Aurélio Porto, 45, 90620-090 Porto Alegre, RS, Brasil, e-mail: [email protected]

SOARES, VINÍCIUS CORREA DA COSTA

Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), Instituto de Biociências, Departamento de Biologia e Zoologia, Laboratório de Ecologia Animal, Avenida Fernando Corrêa da Costa, n° 2367, Boa Esperança, 78060-900 Cuiabá, MT, Brasil, mail: [email protected]

SOUZA, ANDRESSA MORAES SOFIA DE

Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Instituto de Biociências, Centro de Ecologia, Av. Bento Gonçalves, 9500, setor 4, prédio 43411, Cx. postal 15007, 91501-970 Porto Alegre, RS, Brasil, mail: [email protected]

SOUZA, ESTEVÃO CARINO FERNANDES DE Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Cx. postal 7993, 70670-350 Brasília, DF, Brasil, e-mail: [email protected]

TAKEDA, ALICE MICHIYO

Universidade Estadual de Maringá (UEM), DBI/PEA/NUPELIA, Av. Colombo, 5790, Bloco H-90, 87020-900 Maringá, PR, Brasil, e-mail: [email protected]

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THIENGO, SILVANA CARVALHO

Instituto Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), Laboratório de Malacologia, Av. Brasil 4365 Manguinhos, 21040-900 Rio de Janeiro, RJ, Brasil, e-mail: [email protected]

TSCHÁ, MARCEL KRUCHELSKI

Universidade Federal do Paraná (UFPR), Departamento de Zoologia, Grupo Integrado de Aquicultura e Estudos Ambientais, Setor de Ciências Biológicas, Av. Francisco H. dos Santos, s/n, Jardim das Américas, Cx. postal 19073, 81531-980 Curitiba, PR, Brasil, e-mail: [email protected]

UHDE, VERA

Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Instituto de Biociências, Laboratório de Ecologia Aquática, Av. Fernando Corrêa da Costa, nº 2367, Bairro Boa Esperança, 78060-900 Cuiabá, MT, Brasil, e-mail: [email protected]

VANIN, ALINE SALVADOR

Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Instituto de Biociências, Centro de Ecologia, Av. Bento Gonçalves, 9500, setor 4, prédio 43411, Cx. postal 15007, 91501-970 Porto Alegre, RS, Brasil, e-mail: [email protected]

VICENZI, JULIANE

Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Escola de Engenharia, Departamento de Materiais, Av. Osvaldo Aranha, 99, Centro, 90035-190 Porto Alegre, RS, Brasil, e-mail: [email protected]

VIEIRA, JOÃO PAES

Universidade Federal do Rio Grande (FURG), Instituto de Oceanografia, Av. Itália, km 8, Vila Carreiros, 96201-900 Rio Grande, RS, Brasil. e-mail: [email protected]

VILLANOVA, DANIELA LUPINACCI

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFECTRGS), Campus Farroupilha. Av. São Vicente, 785, Centro, 95180-000 Farroupilha, RS, Brasil, e-mail: [email protected]

XIMENES, RENATA FREITAS

Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Instituto de Biologia Roberto Alcântara Gomes, Laboratório de Malacologia Límnica e Terrestre, Rua São Francisco Xavier 524, PHLC 525-2, Maracanã, 20550-900 Rio de Janeiro, RJ, Brasil e-mail: [email protected]

ZURITA, MANUEL LUIZ LEITE

M & Z Gestão e Processos Ambientais, Rua Prof. Cristiano Fischer 181 /802, 91410-001 Porto Alegre, RS, Brasil, e-mail: [email protected]

Seção Moluscos invasores nos ecossistemas continentais do Brasil

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CAPÍTULO 1 Abordagem conceitual dos moluscos invasores nos ecossistemas límnicos brasileiros Flavio da Costa Fernandes Maria Cristina Dreher Mansur Daniel Pereira Livia Viana de Godoy Fernandes Sávio Calazans Campos Olga Maria Danelon

Quando abordamos o tema espécies invasoras, inúmeros conceitos disponíveis na literatura científica podem ser adotados, assim como uma ampla discussão pode ser estabelecida. No entanto, do ponto de vista prático e considerando o público alvo ao qual ele se destina, dentre os quais cabe citar o setor elétrico e os órgãos ambientais, faz-se necessária a apresentação de alguns conceitos seguidos no exterior e no Brasil. As espécies introduzidas ou exóticas correspondem àquelas presentes em um ecossistema de onde ela não é originária, ou seja, nativa. Várias designações de espécies introduzidas são utilizadas: espécies não indígenas; alienígenas; não nativas; estrangeiras; exóticas; transplantadas e alóctones (Espinola & Ferreira Junior, 2007). Algumas espécies exóticas têm grande capacidade de invasão e de colonização de ambientes devido às características biológicas, genéticas, fisiológicas e ecológicas que confe-

rem tolerância à maioria dos fatores ambientais (Machado & Oliveira, 2009). Ainda segundo os mesmos autores, “ao longo das últimas décadas, o processo de globalização, associado à intensificação e à velocidade do deslocamento humano e de cargas pelos quatro cantos do mundo contribuiu, sobremaneira, para a quebra de barreiras ecológicas, tendo como uma de suas consequências o aumento expressivo da introdução de espécies exóticas nas sociedades”. Segundo Valéry et al. (2008a) a “invasão biológica consiste de espécies que adquirem uma vantagem competitiva, seguida do desaparecimento de obstáculos naturais à sua proliferação, o que permite que ela se disperse rapidamente e conquiste novas áreas, nas quais se torna uma população dominante”. Ainda cabe citar o conceito de espécies engenheiras do ecossistema, estabelecido por Jones et al. (1994). O autor define como engenheiros de ecossistema os organismos que direta ou indiretamente modificam a disponibilida-

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Abordagem conceitual dos moluscos invasores nos ecossistemas límnicos brasileiros Fernandes et al.

de de recursos para outras espécies, causando alterações bióticas e abióticas. Dessa forma, espécies introduzidas com características invasivas, que se enquadram no conceito de espécies engenheiras do ecossistema, causam impacto ainda maior sobre o funcionamento do ecossistema. Espinola & Ferreira Junior (2007) apresentaram uma ampla discussão sobre conceitos, modelos e atributos de espécies invasoras. Os autores ressaltaram a necessidade de elaborar legislações com base em conceitos claros e de aplicação direta, extremamente desejáveis para subsidiar ações estratégicas que previnam invasões biológicas. Também apontam que a Portaria do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) Nº 145-N, de 29 de outubro de 1998, apresenta diversos termos para denominar espécies introduzidas, levando a confusões técnicas e recomendam a utilização do termo espécie não indígena, não importando se a espécie é proveniente de outro país ou não. Considerando as dimensões continentais do Brasil, é muito comum a introdução de espécies nativas com potencial invasivo, de uma bacia hidrográfica em outra na qual não ocorria. No entanto, sem considerar a questão levantada pelos autores acima, Lopes & Villac (2009) uniformizam os conceitos sobre espécie exótica e espécie invasora no livro editado e publicado pelo Ministério do Meio Ambiente intitulado “Informe sobre espécies exóticas invasoras Marinhas no Brasil”. Esta nomenclatura é seguida por este Ministério e seus órgãos no processo de tomadas de decisões quanto a esta problemática ambiental. As categorias que compõem esta nomenclatura seguem abaixo:



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Categorias genéricas

Exótica: espécie registrada fora de sua área de distribuição original. Nativa: espécie que vive em sua região de origem (em contraste à espécie exótica). Criptogênica: espécie de origem biogeográfica desconhecida ou incerta – este termo deve ser empregado quando não existe uma evidência clara de que a espécie seja nativa ou exótica.





Categorias específicas para espécies exóticas:

Contida: quando a presença da espécie exótica foi detectada apenas em ambientes artificiais controlados, isolados total ou parcialmente do ambiente natural (aquário comercial, cultivo para fins científicos, tanque de água de lastro de navios etc.). Detectada: quando a presença da espécie exótica foi detectada no ambiente natural, porém sem aumento posterior de sua abundância e/ou de sua dispersão (considerando o horizonte de tempo das pesquisas ou levantamentos a respeito); ou, alternativamente, sem que tenham sido encontradas informações subsequentes sobre a situação populacional da espécie (registro isolado). Estabelecida: quando a espécie introduzida foi detectada de forma recorrente, com ciclo de vida completo na natureza e indícios de aumento populacional ao longo do tempo em uma região restrita ou ampla, porém sem apresentar impactos ecológicos ou socioeconômicos aparentes. Invasora: quando a espécie estabelecida possui abundância ou dispersão geográfica que interferem na capacidade de sobrevivência de outras espécies em uma ampla região geográfica ou mesmo em uma área específica, ou quando a espécie estabelecida causa impactos mensuráveis em atividades socioeconômicas ou na saúde humana.



Aspectos da bioinvasão

As características biológicas, químicas e físicas do ecossistema determinam a sua vulnerabilidade à invasão. Por exemplo, um ambiente muito degradado estará mais suscetível à invasão do que ambientes ecologicamente equilibrados. Contudo, é importante ressaltar que é baixa a probabilidade de uma espécie exótica sobreviver e, além disso, se estabelecer em um ecossistema diferente do de sua origem. Somente espécies com características invasivas conseguem romper barreiras fisiológicas e ecológicas, estabelecendo-se em áreas distintas da original com sucesso reprodutivo, crescimento populacional e dispersão geográfica acelerada. Também é importante considerar que a inva-

CAPÍTULO 1 Seção 1

são biológica apresenta diferentes fases. Uma espécie inicialmente não considerada como invasora, e sim simplesmente exótica, pode apresentar comportamento invasivo com o passar do tempo. Darrigran & Damborenea (2009a), com base em autores consagrados, sintetizam as fases de uma invasão biológica: repouso ou espera, quando uma espécie chega no ambiente e se encontra dentro da capacidade de carga do mesmo, com crescimento populacional lento; pânico, quando a população se expande de forma acelerada, excedendo a capacidade de carga do ambiente invadido, e freio, quando ocorre a diminuição do crescimento exponencial da fase anterior até uma capacidade de carga menor a inicial, passando para uma etapa de equilíbrio oscilatório. Porém, uma vez estabelecida, dificilmente a invasão será reversível num ecossistema. Naturalmente, há a dispersão de espécies onde anteriormente não eram nativas. O vetor natural pode ser alguma outra espécie, como peixes ou corrente marinha, etc. A capacidade do homem de transportar por longas extensões de terra, mar ou rio trouxe o aumento da possibilidade de introdução de espécies por onde ele circule. Com o advento da navegação e, mais recentemente, com a globalização, a introdução de organismos aquáticos em ambientes não nativos se tornou caso frequente. Os navios transportam, não intencionalmente, organismos incrustados em sua estrutura, como casco e hélice. Mais importante que isso, os navios transportam água de lastro (esta confere estabilidade ao navio), a qual representa o principal vetor de introdução de espécies exóticas. Quando o navio não está transportando mercadoria, ele fica leve e precisa encher seus tanques de lastro com água, para garantir flutuabilidade e navegabilidade. Ao deslastrar para carregar a mercadoria, o navio joga água de outra localidade neste porto. Nesta água deslastrada, estão presentes varias formas de vida que podem encontrar boas condições para sobreviver e se estabelecer neste novo local. Quanto maior a carga de indivíduos introduzidos e a frequência com que isto acontece, maior a probabilidade da introdução e invasão serem bem sucedidas. Portanto, com o aumento do transporte marítimo, devido ao crescente intercâmbio comercial entre os países, torna-se maior o número de casos de espécies invasoras no Brasil e no mundo (Silva et al., 2004).

Os problemas causados por espécies invasoras levam, no mínimo, ao desequilíbrio ecológico, principalmente, quando não encontram predador local. Por exemplo, o mexilhão-zebra (Dreissena polymorpha) tem causado prejuízos imensos por incrustação nos Grandes Lagos, nos EUA; a dispersão global de cólera (Vibrio cholerae) tem causado grave problema sanitário; o ctenóforo Mnemiopsis leidy, invasor no Mar Negro, causou redução drástica na pescaria de enchovas e espadas; na Austrália, a estrela-do-mar Asterias amurensis causou grande prejuízo ao cultivo de marisco; o bivalve Isognomon bicolor invadiu a região intermareal do litoral brasileiro, impedindo a fixação de muitas espécies nativas (Silva et al., 2004; Darrigran & Damborenea, 2009a). Como parar a dispersão de espécies exóticas pelo mundo via água de lastro e bioincrustação dos navios? Com certeza não iremos parar de usar os navios. A engenharia procura alternativas para um navio que não precise de lastro para garantir o equilíbrio, mas o caminho é longo. As indústrias e institutos de pesquisa buscam por material ou tinta anti-incrustante para as estruturas dos navios sujeitas à incrustação. Pesquisam, também, por produtos ou processos que possam tratar a água de lastro, visando à morte do maior número de indivíduos possível, presentes ali. Entretanto, qualquer alternativa de solução deverá prevenir o surgimento de novos problemas que impossibilitem seu uso. Por exemplo, o tratamento não pode causar poluição do meio ambiente, nem danificar as estruturas do navio, tão pouco ser economicamente inviável. As preocupações envolvendo introdução de espécies exóticas por água de lastro vêm crescendo em todo o mundo desde a década de 90. Ainda não há legislação internacional vigente com diretrizes para o controle e gerenciamento da água de lastro, apenas algumas recomendações da Organização Marítima Internacional (IMO). Entretanto, em alguns países, já existe uma legislação nacional para controle da água de lastro. Desde 2005, entrou em vigor no Brasil, a Norma da Autoridade Marítima 20 (NORMAM 20), a qual exige que o navio em viagem internacional, que traga água de lastro, faça troca em alto mar, ou seja, numa profundidade superior a 200 m. O método pre-

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Abordagem conceitual dos moluscos invasores nos ecossistemas límnicos brasileiros Fernandes et al.

ventivo de troca de água em alto mar baseia-se no fato que o meio ambiente oceânico é inóspito a organismos de água doce, estuarinos e a maioria dos organismos de águas costeiras e vice-versa. Ou seja, uma vez que os portos ficam em regiões costeiras ou de rios, a troca em alto mar levará águas dos portos para o oceano e do oceano para os portos, o que minimiza muito a transferência de espécies indesejáveis. A NORMAM 20 também exige que navios em cabotagem, oriundos de portos de água doce, façam também a troca no mar antes de deslastrarem em outro porto de água doce (Silva et al., 2004; Fernandes et al., 2009). A introdução de espécies com potencial invasivo pode ocorrer por diferentes formas. Os moluscos bivalves invasores apresentam um desenvolvimento inicial em forma de larva que passa por várias fases até chegar ao juvenil que será recrutado no ambiente bentônico, onde se desenvolverá até a fase adulta (ver Capítulo 6). Em algumas espécies, as larvas se desenvolvem no plâncton; em outras, se desenvolvem dentro do corpo da mãe, sendo liberadas, na fase final

de larva ou como juvenil, no bentos. Na fase larval, os organismos podem ser sugados por bombas para o interior de tanques destinados a conter a água de lastro (Fig. 1). Também podem ser sugados para o interior de cisternas, de estações de tratamento de água, canais de irrigação e sistemas de refrigeração de indústrias e usinas geradoras de energia elétrica. Outra forma de transporte seria através da dispersão de indivíduos adultos de espécies incrustantes, por meio de cascos de embarcações que circulam pelas hidrovias. A seguir estão alguns potenciais vetores que causam a introdução e a dispersão de moluscos límnicos invasores: a) Além da água de lastro, outra via de introdução é a prática de aquariofilia. b) Embarcações de pequeno a grande porte em trânsito pelas hidrovias ou mesmo via terrestre, pois alguns bivalves incrustados podem sobreviver por dias expostos ao ar. c) Águas contidas em tanques e cisternas das embarcações, contaminadas com larvas e juvenis de moluscos invasores, transportadas para outra bacia hidrográfica.

22 Figura 1. Navio deslastrando água contaminada, enquanto é carregado com mercadorias; ciclo de vida do mexilhão-dourado: fases planctônica e bentônica (M.C.D. Mansur).

CAPÍTULO 1 Seção 1

d) A areia retirada de rios, contaminada com moluscos invasores, transportada para outros mananciais. e) Desvio de cursos naturais de corpos hídricos (transposição de bacias) contaminados com espécies invasoras. f) A aquicultura torna-se um potencial vetor, uma vez que a água contendo os alevinos ou os peixes pode conter larvas ou até mesmo organismos adultos de moluscos invasores. g) Peixes malacófagos são potenciais vetores de introdução, pois há disseminação do molusco pela área de abrangência do peixe, já

que alguns mexilhões podem passar através do tubo digestório dos peixes e saírem vivos nas fezes (ver Capítulo 39). h) A água dos recipientes que transportam as iscas vivas para pesca pode conter larvas dos bivalves invasores. i) A utilização de moluscos invasores como isca constitui risco de dispersão em festivais de pesca. j) A transposição, por via terrestre, de barcos utilizados para pesca, lazer ou inspeção do reservatório de bacias contaminadas para bacias não contaminadas.

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CAPÍTULO 2 Espécies de moluscos límnicos invasores no Brasil Sonia Barbosa dos Santos Silvana Carvalho Thiengo Monica Ammon Fernandez Igor Christo Miyahira Isabela Cristina Brito Gonçalves Renata de Freitas Ximenes Maria Cristina Dreher Mansur Daniel Pereira



1. Introdução

Os moluscos são animais invertebrados que apresentam o corpo coberto pelo manto, geralmente protegido por uma concha (à exceção: lesmas e polvos). Os moluscos estão divididos em sete subgrupos ou Classes, de acordo com certas características como a forma da concha e do pé. No ambiente de água doce temos moluscos de dois grupos apenas, os bivalves e os gastrópodes. Os bivalves, geralmente chamados de mariscos, como o nome diz, apresentam a concha dividida em duas valvas articuladas. Os gastrópodes ou caracóis apresentam uma concha geralmente helicoidal. Nos ambiente de água doce do Brasil temos espécies invasoras tanto de bivalves como de gastrópodes. É senso comum que as espécies exóticas trazem prejuízos ao meio ambiente e à economia. Todavia, outras questões relativas ao processo evolutivo (Mooney & Cleland, 2001), à biologia da conservação (Coblentz, 1990; Olden et al., 2004) e à introdução de

novos parasitos que afetam a saúde humana e animal, incluindo as relações ecológicas das comunidades invadidas (Font, 2003; Torchin et al., 2003) são ainda pouco exploradas no Brasil.



Bivalves límnicos invasores



2.1. Características da espécie

2. O mexilhão-dourado Limnoperna fortunei (Dunker, 1857)

O mexilhão-dourado, L. fortunei (Fig. 1), é um bivalve pequeno (entre 2 e 3 cm) com características típicas da família dos mexilhões marinhos (Mytilidae), como: formato da concha mitiloide, modo de vida gregário, formando incrustações sobre substratos duros (Fig. 1B), onde se fixa com auxílio de fios de bisso. No entanto, é o único que vive na água doce (ver morfologia no Capítulo 4).

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Espécies de moluscos límnicos invasores no Brasil Santos et al.

As incrustações formadas pelo mexilhão-dourado são volumosas. Vários indivíduos que se sobrepõem fixando-se ao substrato e entre si, pelos fios de bisso. Os menores preenchem os espaços entre os maiores, formando assim verdadeiros macroaglomerados compactos e resistentes à força da correnteza. Desenvolve-se preferencialmente em ambientes lóticos e bem oxigenados; apresenta um comportamento invasivo (Morton, 1973, 1977; Darrigran & Damborenea, 2006a), e é transformador do meio ambiente, pois altera a composição do bentos e a paisagem ribeirinha (Mansur et al., 2004a, b).

2.2. Etimologia

O nome comum “dourado” deriva de sua cor predominantemente amarelada. O nome científico do gênero Limnoperna é compos-

des populacionais e a capacidade de causarem impactos ambientais consideráveis. Karatayev et al. (1997) observaram que D. polymorpha, após invadir um ambiente, torna-se o único invertebrado bentônico dominante, superando a biomassa dos outros componentes da comunidade. Martin & Darrigran (1994), Darrigran et al. (1998a), Darrigran (2002) e Darrigran & Damborenea (2005) descrevem exemplos do impacto ambiental negativo observado no ecossistema após o assentamento do L. fortunei nas margens da bacia do Rio de La Plata. Destacam a alteração da composição da malacofauna nativa, com o deslocamento das três espécies de gastrópodes mais comuns no litoral, que passam a ter uma ocorrência esporádica ou acidental com a presença do mexilhão-dourado, enquanto outra nativa passa a aumentar sua população proporcionalmente à do invasor. Desde os primeiros registros da pre-

Figura 1. Limnoperna fortunei (Dunker, 1857): 1A, vista externa do mexilhão-dourado (valvas esquerdas); 1B, macroaglomerados do mexilhão-dourado sobre tronco de madeira retirados do fundo do Lago Guaíba, Porto Alegre, RS, Brasil (Fotos: M.C.D. Mansur).

to pelas palavras gregas que significam água doce para “Limno” e mexilhão para “perna”. O nome específico fortunei provavelmente refere-se à cor dourada da concha ou sua elevada abundância.

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2.3. Impactos ambientais

O mexilhão-dourado (L. fortunei) e o mexilhão-zebra Dreissena polymorpha (Pallas, 1771) compartilham uma série de características próprias das espécies invasivas e semelhanças quanto: ao tamanho; dispersão através de larva planctônica; serem dioicos, com capacidade de adesão ao substrato duro através da formação de fios de bisso bastante fortes e resistentes; comportamento gregário com crescimento rápido alcançando altas densida-

sença do mexilhão-dourado no Lago Guaíba (Mansur et al., 1999), coletas quantitativas revelaram que L. fortunei alterou a vegetação marginal (Mansur et al., 2003). No lago predominam grandes sacos (baías) vegetadas por juncos da espécie Scirpus californicus (C.A. Mey.) Steud. Os substratos rochosos limitam-se aos pontais e algumas ilhas, portanto, são relativamente escassos. O mexilhão fixou-se inicialmente na base dos juncos mais afastados da margem, cujos rizomas e raízes de cabeleiras (Fig. 2A) ficam expostos devido à remoção do sedimento pelas ondas. A seguir, o mexilhão se aglomerou ocupando grandes superfícies sobre os rizomas dos juncos (Fig. 2B), formando verdadeiros colchões (“mussel beds”) sobre o sedimento. Depois de um tempo, observou-se que os juncos apodreceram, restando apenas os

CAPÍTULO 2 Seção 1

aglomerados do mexilhão. A diminuição dos juncais foi acompanhada e documentada por fotos (Figs. 2C e 2D). Além dos substratos duros, como troncos e pedras, L. fortunei também se fixa sobre vários animais bentônicos como bivalves, gastrópodes e crustáceos, prejudicando-os ou levando-os à morte precoce, interferindo deste modo na biodiversidade bentônica. No caso dos bivalves, o mexilhão prefere fixar-se à região posterior, que fica exposta (Figs. 2E e 2F). O aglomerado impede o movimento das valvas e também dificulta os processos de inalação, filtração, excreção e locomoção, levando o molusco à morte. Aglomerados em gastrópodes podem impedir o fechamento do opérculo (Fig. 2G), tornando o molusco vulnerável à predação. Houve um registro da fixação do L. fortunei nas partes moles do bivalve nativo Leila blainvilliana Lea, 1834, no interior da área do sifão exalante (Mansur et al., 2003). No verão, o nível da água diminuiu, ex-

pondo os aglomerados, que apodrecem, exalando cheiro repugnante. Após a rarefação dos juncais, o mexilhão fixou-se em outras plantas marginais como o “sarandi” Cephalanthus glabratus (Spreng.) K. Schum que, devido ao peso dos aglomerados, acaba tombando e quebrando (Fig. 2H). Conchas do mexilhão-dourado roladas e partidas, em grandes quantidades, modificam a paisagem (Fig. 2I).

2.4. Impactos econômicos

As aglomerações formadas pelo mexilhão-dourado causam a obstrução de encanamentos, redução do diâmetro de tubulações, entupimentos de filtros, bombas, grades e trocadores de calor, principalmente em usinas geradoras de energia (Figs. 3A, 3B, 3C), em indústrias que utilizam água bruta para refrigeração e em estações de tratamento da água bruta para abastecimento (Figs. 3D, 3E, 3F). A parada destas unidades para a retirada dos

Figura 2. Danos ambientais causados pelo Limnoperna fortunei no Lago Guaíba, RS, Brasil: 2A, assentamento sobre o rizoma do “junco” Scirpus californicus; 2B, “mussel beds” sobre Scirpus californicus no segundo ano da invasão; 2C, juncais em 2001, antes da invasão; 2D, modificação da paisagem, após 2 anos de assentamento nos rizomas; 2E, aglomerado sufocando o bivalve nativo Diplodon sp.; 2F, aglomerado sufocando o bivalve nativo Leila blainvilliana; 2G, no umbílico do gastrópode Pomacea canaliculata (Lamarck, 1822); 2H, aglomerados sobre ramos do “sarandi” Cephalanthus glabratus; 2I, conchas roladas, modificando a paisagem das praias na orla (Fotos: M.C.D. Mansur).

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Espécies de moluscos límnicos invasores no Brasil Santos et al.

Figura 3. Danos econômicos causados pelo Limnoperna fortunei: 3A, filtro autolimpante obstruído; 3B, detalhe da tampa; 3C, cilindros do interior do mesmo filtro; 3D, início do processo de limpeza de uma bomba captadora de água incrustada; 3E, bomba içada com guindaste pelo teto; 3F, grade protetora da bomba; 3G, trapiche de marina; 3H, casco de embarcação utilizada para pesca no Lago Guaíba e Lagoa dos Patos, sendo transportada por rodovia para outro manancial, oferecendo risco de contaminação. Fontes: A, B, C Gustavo Darrigran, www.malacologia.com.ar; D, E, F José Imada, CORSAN; G, Augusto Chagas: Biociências, 2004, 13(1); H, M.C.D. Mansur: Revista Brasileira de Zoologia 2003, 20(1).

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aglomerados e consequente desentupimento gera despesas consideráveis. Em apenas um dia de limpeza são computadas perdas econômicas na ordem de milhões de reais. No caso do entupimento de uma estação de tratamento de água pelo mexilhão-dourado, são necessárias várias etapas de limpeza, considerando que cada estrutura ou subsistema exige um procedimento diferente. Exemplificamos como segue: a) parada do sistema, b) abertura da casa de captação para a retirada de uma bomba e a grade protetora, com um guindaste (Figs. 3E, 3F); c) raspagem de cada

estrutura para a retirada dos mexilhões e dos fios do bisso (Fig. 3D); d) lixa das superfícies para receber uma nova pintura; e) pintura; f) desobstrução dos encanamentos com maior diâmetro com ajuda de mergulhadores; g) raspagem das paredes internas dos encanamentos (em algumas estações foi construída uma rede secundária para revezamento nas limpezas); h) retirada dos mexilhões das paredes e da superfície nos tanques de floculação, decantação e filtragem; i) montagem da unidade do sistema; j) tratamento especial da água para recuperar a potabilidade e o sabor da água, após este tratamento em função da presença do mexilhão-dourado. Tubulações menores devem ter caixas de inspeção. No caso de filtros e trocadores de calor, estes devem ser desmontados e raspados. Antes de qualquer medida, as estruturas devem ser limpas. Colocar somente substâncias moluscicidas não resolve, pois os aglomerados continuam fixos pelos fios de bisso, por muito tempo. Prejuízos também foram sentidos em marinas e na navegação interna (Figs. 3G, 3H). Em embarcações o mexilhão se incrusta não somente no casco, mas também no interior dos motores, dos encanamentos, das bombas, dos sistemas de refrigeração com água bruta, nos lemes e nas hélices (Mansur et al., 2003), o que danifica as peças e diminui o desempenho e a velocidade da nave. Em tanques-rede, muito utilizados atualmente na piscicultura, o mexilhão adere às telas e demais estruturas de suporte e flutuação dos mesmos. A obstrução dessas estruturas altera a oxigenação do tanque e o peso dos aglomerados pode afundá-lo, facilitando a fuga dos alevinos (Fig. 4). Quando o mexilhão se incrusta sobre madeira, ferro ou concreto, pode fechar toda a superfície criando um ambiente anóxico sob a camada incrustante. Este ambiente é propício às bactérias anaeróbicas que produzem ácido sulfúrico durante seu metabolismo. Este ácido, muitíssimo corrosivo, acelera o apodrecimento e a corrosão do material da base. O mau cheiro e as conchas quebradas roladas nas margens durante o período de estiagem, afastam os turistas que normalmente frequentam os balneários e marinas nas orlas de veraneio.

CAPÍTULO 2 Seção 1



Figura 4. Rede de um tanque para a criação de esturjão no Rio Uruguai. Fonte: Gustavo Darrigran, www.malacologia.com.ar



2.5. Danos à saúde

Por serem ativos filtradores, os moluscos bivalves em geral, costumam atuar como bioacumuladores de uma série de substâncias tóxicas, inclusive metais pesados, em seus tecidos e na concha. Como os bivalves são muito apreciados pelos peixes, existe risco sanitário de bioacumulação de metais nos humanos que consomem peixes e em sua alimentação. Grande parte dos moluscos bivalves dulcícolas hospeda trematódeos que completam seu ciclo em peixes, aves e mamíferos e, muito raramente, no homem. Estes parasitos são geralmente danosos aos moluscos. Instalam-se nas gônadas provocando a castração do animal. Hiroko et al. (2004) estudaram o efeito de um trematódeo sobre o crescimento e a reprodução do mexilhão-dourado no Japão e constataram que a produção de gametas foi inibida pelo parasita. No entanto, até o momento, não foram registrados trematódeos parasitos do mexilhão-dourado, que completem seu ciclo no ser humano. Em moluscos estuarinos como Mytella guyanensis (Lamarck, 1819) (Bivalvia: Mytilidae) e nos cultivos de mexilhões marinhos foram encontrados sítios de infecção por protozoários do gênero Nematopsis Schneider, 1892 (Apicomplexa: Eugregarinida: Porosporidae) em várias áreas da costa brasileira do norte, nordeste e do sul, até Santa Catarina (Matos et al., 2001; Pinto & Boehs, 2008). No entanto, nada ainda foi registrado para o mexilhão-dourado.

2.6. Origem e dispersão.

L. fortunei é nativa do sudeste asiático, vivendo nos ambientes de água doce como, lagos, rios e regiões estuarinas, com baixa salinidade (
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