Mosteiro de Jesus, fundado em Setúbal no ano de 1489 para as clarissas.

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. Setúbal, 1489 mosteiro de Jesus

«O tecto he todo de pedraria, fundado em columnas retrocidas da mesma matéria, para mayor segurança da fábrica, e para mais eternizar o nome do seu grande bem-feytor.» FREI JERONYMO DE BELÉM.1

Num pequeno quadro de Hans Memling (c.1433-1494), a Virgem apresenta o menino à varanda, ambos seguram a mesma maçã, por trás, abre-se um arco de onde se vê uma paisagem com um rio e ao longe o mar, o rio podia ser o Sado. Este pequeno e delicado quadrinho, de apenas 32 por 44 cms, com a Virgem e o menino, pertencia ao mosteiro de Jesus de Setúbal. 2

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O benfeitor a que se refere o cronista poderá ser o primeiro padroeiro, D.João II ou o segundo padroeiro, D.Manuel I, BELÉM, frei Jeronymo de, OFM, Chronica Serafica da Santa Província dos Algarves, da Regular Observância de Nosso Serafico Padre S.Francisco…Parte segunda…, 1753, p.582; p.588. 2 Actualmente está exposto em Lisboa, no MNAA. HENRIQUES, Ana de Castro, Museu Nacional de Arte Antiga: Roteiro, 2003, p. 200.

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COLETINAS E OBSERVANTES Os franciscanos habitavam a cidade de Setúbal, desde o início do século XV, desde 1410, ano em que foi fundado o convento de São Francisco, e o mosteiro de Jesus seria fundado, muito depois, a 17 de Junho de 1489, tendo Alvará do Rei D. João II, para a sua edificação no ano seguinte, a 16 de Março de 1490 e no mesmo ano foi lançada a primeira pedra, no dia 17 de Agosto.3 Aqui viveria a primeira comunidade de clarissas reformadas, de Portugal, seguindo a Reforma Coletina, e obedecendo à Primeira Regra de Santa Clara. O papa Alexandre VII, entregou, em 1497 este mosteiro, à jurisdição dos Observantes, dependendo inicialmente da Província de Portugal e mais tarde, a partir de 1532, da Província dos Algarves.4

MARCAÇÃO DO CLAUSTRO D. João II foi a Setúbal, em 1492, com a sua mulher, Dona Leonor, assistir ao início da construção da igreja, e foi nessa sua visita ao local, que mandou Boitaca fazer a igreja maior do que estava previsto, e foi também nesse dia, que o rei, o arquitecto e a fundadora, os três juntos, marcaram no terreno, a localização e medidas, que deveria ter o claustro.5

ARQUITECTO Segundo o cronista frei Jeronymo de Belém, Boitaca tinha vindo de Itália, chamado para as obras de D. João II, estava em Setúbal e Justa Rodrigues também, coincidiram nesta cidade e assim aconteceu a encomenda do projecto.6 Mais tarde, no Alvará de 26 de Março de 1498, o Rei D. Manuel I manda dar a Mestre Boitaca uma tença a ser iniciada a 1 de Janeiro do ano seguinte, pelos serviços prestados, serviços esses, que 3

O convento de São Francisco de Setúbal foi fundado em 1410 pela filha do Vedor do rei D.Fernando, D.Maria Anes Escolar, a igreja data já de cerca de 1600. BELÉM, Frei Jeronymo de, OFM, Chronica Serafica da Santa Província dos Algarves, da Regular Observância de Nosso Serafico Padre S.Francisco…Parte Segunda…, 1753, p.21; p.23; pp.578-579; VASCONCELOS E SOUSA, Bernardo, (Dir.); PINA, Isabel Castro; ANDRADE, Maria Filomena, SANTOS, Maria Leonor Ferraz de Oliveira Silva, Ordens Religiosas em Portugal, das Origens a Trento – Guia Histórico, 2005, p.327. 4 REMA, Henrique Pinto, OFM, “Implantação do Franciscanismo em Portugal”,in Itinerarium, nº181183, Jan.-Dez., 2005, p. 273; BELÉM, frei Jeronymo de, OFM, Chronica Serafica da Santa Província dos Algarves, da Regular Observância de Nosso Serafico Padre S.Francisco…Parte segunda…, 1753, p. 610. SOUSA, Ivo Carneiro de, “A rainha D. Leonor e a introdução da reforma coletina da Ordem de Santa Clara em Portugal”, in - Las Clarisas en España Y Portugal, Congreso Internacional, Actas II, Vol.II, 1994, p.1033. 5 BELÉM, frei Jeronymo de, OFM, Chronica Serafica da Santa Província dos Algarves, da Regular Observância de Nosso Serafico Padre S.Francisco…Parte segunda…, 1753, pp.580-581. 6 BELÉM, frei Jeronymo de, OFM, Chronica Serafica da Santa Província dos Algarves, da Regular Observância de Nosso Serafico Padre S.Francisco…, Parte Segunda, 1753, p. 576.

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incluem a obra do mosteiro de Jesus: «Dom Manuell etc. A quamtos esta nosa carta virem fazemos saber que avemdo nos respeito ao serviço que mestre Boutaça, mestre de pedraria, nos feitos de seu hoficeo e bem asi na obra do mosteiro de Jhsú de Setuvell, que hy mandou fazer Justa Roiz, minha ama, que nollo por elle pidio, e queremdolhe fazer graça e merce teemos por bem e nos praz que des o primeiro dia de janeiro que vem do anno seguinte de LRix (1499) em dyamte elle dito mestre Boutaça thenha e aja de nos de temça em cada huu anno, em quanto nosa merce for, oyto mill r.s. (...)»7 Boitaca, a quem o Rei D. Manuel I, se referia em 1515, como „mestre de nosas hobras de pedraria‟ 8, trabalhou em várias obras em Portugal, tendo a obra deste mosteiro sido a primeira de que se tem notícia sobre o seu serviço. Boitaca trabalhou no reinado de D. Manuel e ao serviço deste monarca entre os anos de 1498 e 1515 e as obras de pedraria que traçou ou acompanhou incluem:

1ª - Mosteiro de Jesus de Setúbal, 1498. 2ª- Mosteiro de Santa Cruz, Coimbra, 1508. 3ª - Mosteiro da Batalha, Batalha, 1509. 4ª- A correcção da ponte de Coimbra e os açougues desta cidade, 1511. 5ª - Mosteiro dos Jerónimos, Lisboa, 1514. 6ª – Fortalezas em África, 1514.9 Reynaldo dos Santos acrescenta a igreja da Golegã, à lista de obras que considera da autoria de Boitaca.10

TRATADO DA CURIOSA FUNDAÇÃO Soror Leonor de S. João (1565-1648), que fôra abadessa neste mosteiro escreveu em 1644 uma obra que ainda se encontra manuscrita e que se intitula «Tratado da antiga e curiosa fundação do convento de Jesu de Setubal, o primeiro que ouve e se fundou...».11 7

SOUSA VITERBO, Francisco Marques de, Dicionário Histórico e Documental dos Arquitectos, Engenheiros e Construtores Portugueses, 1988, Vol. I, p.121. 8 SOUSA VITERBO, Francisco Marques de, Dicionário Histórico e Documental dos Arquitectos, Engenheiros e Construtores Portugueses,Vol.I, 1988, p.129. 9 SOUSA VITERBO, Francisco Marques de, Dicionário Histórico e Documental dos Arquitectos, Engenheiros e Construtores Portugueses, Vol. I, 1988, pp.120-131. 10 SANTOS, Reynaldo dos, Oito séculos de Arte Portuguesa: História e Espírito, Vol. II, 1970, pp.127145. 11 Soror de São João era filha de D.Rodrigo de Castro Barreto, que combatera em Alcácer Quibir ao lado

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O tratado desta abadessa serviu mais tarde de fonte para o cronista frei Jerónimo de Belém contar a história deste mosteiro.12 Este tratado é dos raros casos portugueses que apresenta um desenho com uma vista arquitectónica, que neste caso representa o mosteiro, figurando por detrás de uma religiosa, possivelmente um auto-retrato da autora. José Custódio Vieira da Silva, que apresentara o frontispício em 1987, tem outra opinião quanto à religiosa retratada, pois considera que se trata do retrato da fundadora do mosteiro, e não da autora do tratado seiscentista.13

COMUNIDADE LUSO-ESPANHOLA A fundadora, Justa Rodrigues, teve dois filhos de João Manuel (1420-1476), filho bastardo do Rei D.Duarte I14, só depois da morte do pai dos seus filhos, é que Justa, funda um mosteiro. A fundadora, pensara reunir uma pequena comunidade de doze freiras com a sua abadessa15 e a primeira comunidade integrava sete religiosas, trazidas expressamente de Espanha, da cidade de Gandia 16, também de Espanha vieram as primeiras relíquias, oferecidas ao mosteiro pelos reis D. Fernando e Dona Isabel.17 De entre as sete religiosas espanholas, soror Coleta Talhada (+1560) seria a primeira abadessa do mosteiro, mas passaria em 1510, a outro mosteiro de clarissas, o da Madre de Deus de Xabregas, em Lisboa. 18

de D.Sebastião. BNP – Secção de Reservados – Colecção de Manuscritos, SÃO JOÃO, Soror Leonor de, OSC, Tratado da antiga e curiosa fundação do convento de Jesu de Setubal, o primeiro que ouve e se fundou...,1644, 65f; 292f; DIONÍSIO, Santana; PROENÇA, Raul, Guia de Portugal: Generalidades, Lisboa e arredores, 1991, p.661; LOPES, frei Fernando Felix, OFM, Colectânea de Estudos de História e Literatura – Fontes históricas e bibliografia franciscana portuguesa,Vol. I, 1997, p.59. 12 BELÉM, frei Jeronymo de, OFM, Chronica Serafica da Santa Província dos Algarves, da Regular Observância de Nosso Serafico Padre S.Francisco…Parte segunda…, 1753, pp. 575-706. 13 VIEIRA DA SILVA, José Custódio, A igreja de Jesus de Setúbal, 1987, p.87. 14 LANDEIRO, José Manuel, O Mosteiro de Jesus de Setúbal, 1961, p.7. 15 BELÉM, frei Jeronymo de, OFM, Chronica Serafica da Santa Província dos Algarves, da Regular Observância de Nosso Serafico Padre S.Francisco…Parte segunda…, 1753, BELÉM, p. 577. 16 Foi também de Gandía que seguiu para Madrid a comunidade fundadora do mosteiro de clarissas das Descalzas Reales. VEGA, Ramón Guerra de la, Guía para visitar las Iglesias y Conventos del Antiguo Madrid, Madrid: Ramón Guerra de la Vega, 1996, p.77. 17 BELÉM, frei Jeronymo de, OFM, Chronica Serafica da Santa Província dos Algarves, da Regular Observância de Nosso Serafico Padre S.Francisco…Parte segunda…, 1753, p. 597. 18 Soror Coleta viria a ser sepultada no mosteiro da Madre de Deus em 1560 no claustro, ao lado da Rainha Dona Leonor e de Dona Isabel. BELÉM, frei Jeronymo de, OFM, Chronica Serafica da Santa Província dos Algarves, da Regular Observância de Nosso Serafico Padre S.Francisco…, Parte Segunda, p. 624.

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CLAUSTRO E COMUNIDADE Tinha a fundadora o objectivo de inicialmente nele albergar 12 freiras mas mais tarde, pediu a D. Manuel ,que pudessem passar a 33, sendo a nova Bula do papa Alexandre VI que, em 1496, estabelece esse novo limite. 19 No século XVI, em 1541, a comunidade integrava crianças, a mais nova entrou solenemente no mosteiro, aos dez anos e meio, como precisa o cronista, essa menina chamava-se Joana, e tornar-se-ia religiosa e mais tarde abadessa do mosteiro, por três triénios, com o nome de professa soror Joanna da Conceição. 20 Uma filha de Henrique Henriques de Miranda, Estribeiro mor do Duque de Aveiro e de Dona Briolanja Henriques, entrou aos 11 anos, em 1605 no mosteiro, como educanda, professando com o nome de Soror Baptista da Madre de Deos (1594-1618) e morrendo ainda jovem aos 24 anos.21 Em 1616 vivia no mosteiro uma comunidade de 34 religiosas22, mantendo portanto o número muito próximo ao do tempo da sua fundação, que era de 33 religiosas.

DORMITÓRIO O dormitório, foi a primeira parte do mosteiro a ser construída, pois em 1492, quando o rei D. João II e a sua mulher Dona Leonor vão a Setúbal assistir ao início da construção da igreja, este já estava pronto.23 No dormitório havia em 1601, um sistema de comunicação através de uma corda e de um candeeiro que se podia movimentar desde a enfermaria, para fazer sinal: «observáraõ apressados movimentos na corda, y candeeyro do dormitório. Sem formarem mais discurso, que o de ser signal, que as chamava á Enfermarîa, acudiraõ a toda apreça»24

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BELÉM, frei Jeronymo de, OFM, Chronica Serafica da Santa Província dos Algarves, da Regular Observância de Nosso Serafico Padre S.Francisco…Parte segunda…, 1753, p. 579; p.609. 20 Filha de D. João de Lima e de Dona Briolanja Henriques, BELÉM, frei Jeronymo de, OFM, Chronica Serafica da Santa Província dos Algarves, da Regular Observância de Nosso Serafico Padre S.Francisco…Parte segunda…, 1753, pp. 661-662. 21 BELÉM, frei Jeronymo de, OFM, Chronica Serafica da Santa Província dos Algarves, da Regular Observância de Nosso Serafico Padre S.Francisco…, Parte Segunda, pp. 671-672. 22 CAEIRO, Maria Margarida Castro Neves Mascarenhas, Clarissas em Portugal: a Província dos Algarves: da fundação à extinção – em busca de um paradigma religioso feminino, Vol. II, 2006, p. 87. 23 BELÉM, frei Jeronymo de, OFM, Chronica Serafica da Santa Província dos Algarves, da Regular Observância de Nosso Serafico Padre S.Francisco…Parte segunda…, 1753, p. 580. 24 BELÉM, frei Jeronymo de, OFM, Chronica Serafica da Santa Província dos Algarves, da Regular Observância de Nosso Serafico Padre S.Francisco…Parte segunda…, 1753, p. 661.

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Em 1644, o dormitório não tinha celas, embora cada uma das 33 clarissas, tivesse o seu espaço, mas apenas delimitado, por simples cortina, e nele cabia uma cama e um pequeno banco. Descreve-o soror Leonor25: «O dormitório com trinta e tres barras de pao, mantas de lam grossas, e cabeceiras de palha tudo sem amparo, entre barra e barra campo em que cabe huma pequena cortina, e banquinho sem chave para o pobre movel que uzamos, huma cruz de pao á cabeceira.»

Já no século XVIII, em 1753, havia no dormitório, um altar com uma relíquia do santo Lenho, e era ali que a madre costumava dar a bênção à comunidade. 26

A FILHA DO MESTRE DAS OBRAS REAIS A comunidade integraria uma filha do arquitecto António Rodrigues (+1590), que o cronista refere como „Mestre das Obras Reaes‟ e que era casado com Catharina da Costa Alvim, de Setúbal.

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A filha do arquitecto, entrou para o mosteiro em 1583,

como educanda, pois tinha 12 anos, e mais tarde, professaria, com o nome de soror Maria da Columna (1571-1614), destacando-se por ser habilidosa de mãos.28 O seu pai, o arquitecto António Rodrigues, Mestre das Obras Reais desde 1565, foi autor, precisamente nesse ano de 1583, em que a filha entrou para o mosteiro de Jesus, do projecto da nova sala do capítulo, que tinha sofrido destruições, devido a um

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BNP – Secção de Reservados – Colecção de Manuscritos - SÃO JOÃO, Soror Leonor de, OSC, Tratado da antiga e curiosa fundação do convento de Jesu de Setubal, o primeiro que ouve e se fundou...», 1644, fólio 74 V. 26 BELÉM, frei Jeronymo de, OFM, Chronica Serafica da Santa Província dos Algarves, da Regular Observância de Nosso Serafico Padre S.Francisco…Parte segunda…, 1753, p. 600. 27 O arquitecto António Rodrigues (+1590), antes desta remodelação da sala do capítulo do mosteiro de Jesus em Setúbal, realizara outros projectos de arquitectura religiosa, como a capela das Onze mil virgens, mausoléu dos Mascarenhas, integrado por volta de 1554 no convento de Santo António de Alcácer do Sal, e entre 1577 e 1583 realizou os projectos da Igreja da Anunciada e a Igreja de Santa Maria da Graça, ambas em Setúbal e a igreja de São Pedro em Palmela. O historiador Vitor Serrão e o arquitecto Domingos Tavares colocam a hipótese de António Rodrigues ter sido o autor da Quinta das Torres em Azeitão. SERRÃO, Vitor, SERRÃO, Vítor, História da Arte em Portugal – O Renascimento e o Maneirismo (1500-1620), 2002, pp.191-192; TAVARES, Domingos, António Rodrigues, renascimento em Portugal, 2007, pp.36-38; pp. 121-122; BELÉM, frei Jeronymo de, OFM, Chronica Serafica da Santa Província dos Algarves, da Regular Observância de Nosso Serafico Padre S.Francisco…, Parte Segunda, 1753, pp. 669-671. 28 Soror Maria da Columna era irmã do cónego Lourenço Roîz da Costa. BELÉM, frei Jeronymo de, OFM, Chronica Serafica da Santa Província dos Algarves, da Regular Observância de Nosso Serafico Padre S.Francisco…, Parte Segunda, 1753, p.599; pp. 669-671; BNP – Secção de Reservados – Colecção de Manuscritos, SÃO JOÃO, Soror Leonor de, OSC, Tratado da antiga e curiosa fundação do convento de Jesu de Setúbal…, 1644, fólio 233v.

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incêndio, obra esta mandada executar por D.Filipe II.29 A sala do capítulo30, situa-se na ala nascente do claustro, tem 7,5 por 11,5 mts, o seu tecto é em madeira polícroma, com imagens de quatro santas clarissas, Santa Clara, Santa Isabel, Santa Inês e Santa Coletta. Ao longo das paredes, os habituais bancos corridos contornam todo o perímetro da sala, interrompendo-se num altar de desenho de extrema sobriedade, embora tenha dois pequenos apontamentos que soror Leonor não deixa de sublinhar:

«Os panos do frontal pardos lustrados com rozas, lavrado tudo da mesma pedraria.»31

As paredes da sala do capítulo estavam revestidas totalmente, a azulejaria enxaquetada, que viria a ser igualmente aplicada, na capela-mór da igreja, duas décadas depois.32 Em 2010, após ter sido retirada toda a azulejaria enxaquetada que cobria as paredes da sala do capítulo, foi posta à vista a cantaria do primitivo altar, pois é mais largo que o altar desenhado por Rodrigues. É de desenho manuelino, foi talhado em brecha rosa da Arrábida, e situa-se exactamente a eixo do outro.33 Este recente vislumbre, da camada anterior, mostra que o arco do altar do capítulo, estava em bom estado de conservação, e a construção de novo altar, teria sido motivada, por razões de ordem estética ou devocional. A abadessa soror Leonor de São João ao descrever em 1644 a obra do capítulo, considera que a obra não foi cara porque as religiosas tiveram cuidado em fazê-la pobre: «E podera ser muito mais cuztoso se as freiras o não atalharão com o escrúpulo da pobreza». 34 29

TAVARES, Domingos, António Rodrigues, renascimento em Portugal, 2007, pp.124-125; BNP – Secção de Reservados – Colecção de Manuscritos, SÃO JOÃO, Soror Leonor de, OSC, Tratado da antiga e curiosa fundação do convento de Jesu de Setúbal…, 1644, fólio 74 f.; SOUSA VITERBO, Francisco Marques de, Dicionário Histórico e Documental dos Arquitectos, Engenheiros e Construtores Portugueses, Vol. II, 1988, pp. 385-386. 30 «Está sepultado seu corpo com as mesmas cinzas de sua mãy no Capitulo desta Casa, servindo a ambas de mãy commûa a própria terra, de que forão formadas». De acordo com frei Jerónimo de Belém, na sala do capítulo, foi sepultada além da fundadora, a sua mãe, Iria Gonçalves. BELÉM, frei Jeronymo de, OFM, Chronica Serafica da Santa Província dos Algarves, da Regular Observância de Nosso Serafico Padre S.Francisco…, Parte Segunda, 1753, p. 621; p. 623. A mãe da fundadora tornara-se dominicana e tinha sido inicialmente sepultada no Mosteiro de Abrantes. 31 BNP – Secção de Reservados – Colecção de Manuscritos, SÃO JOÃO, Soror Leonor de, OSC, Tratado da antiga e curiosa fundação do convento de Jesu de Setúbal…, 1644, fólios 74f-74v. 32 TAVARES, Domingos, António Rodrigues, renascimento em Portugal, 2007, p.131. 33 Conforme nova visita ao local em Junho de 2010. 34 BNP – Secção de Reservados – Colecção de Manuscritos, SÃO JOÃO, Soror Leonor de, OSC, Tratado

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AZULEJARIA ENXAQUETADA O arquitecto António Rodrigues, chamado a desenhar a nova sala do capítulo, revestiu as paredes, do chão ao tecto em azulejaria enxaquetada, tipo que o século XVI veria multiplicar em Portugal, nos revestimentos de capelas-móres, naves de igrejas, coruchéus de torres de igrejas, ao longo de escadas, em refeitórios monásticos e salas do capítulo. Usaram-se enxaquetados por exemplo na nave da igreja de Nossa Senhora de Rocamador, em Casais de Soianda, Tomar, aplicados por volta de 1560; na capela de Santo António de Alqueidão por volta de 1584; na capela-mór da igreja de São João Baptista, em Abrantes, por volta de 1589; na capela-mór da igreja de Nossa Senhora do Pranto em Dornes em 1592; um coruchéu da catedral de Évora foi revestido a enxaquetado, assim como uma escada do mosteiro de Santa Clara, na mesma cidade, ambos no séc.XVI.35 O coro-baixo do mosteiro de Santa Clara, em Xabregas, tem enxaquetados.36 ZEP37 QUINHENTISTA No início do século XVI, no ano de 1500, o rei D. Manuel I, decretou em Alvará, que não se permitisse a construção de casas, em frente ou adjacentes ao mosteiro e em 1520, impediu que se pregassem pregos nas paredes do mosteiro e estacas no chão do terreno envolvente, para se estender roupa.38 Mais tarde, em 1537, o rei D.João III impediria a construção de casas e abertura de janelas e terraços, em frente ao mosteiro.39 Chegando a vez ao primeiro rei espanhol, D. Filipe I, também este monarca se preocupou com a „ZEP‟, e passou um Alvará, que impedia que pessoas “de mau viver” morassem em frente ao mosteiro.40

da antiga e curiosa fundação do convento de Jesu de Setúbal…, 1644, fólios 74f, 74v. 35 SIMÕES, J.M. dos Santos, Azulejaria em Portugal nos séculos XV e XVI – introdução geral, 1969, pp.135-141. 36 Conforme visita ao local. 37 ZEP- Zona Especial de Protecção, é a sigla pela qual se designa a área de protecção em redor de um monumento, delimitada legalmente com o intuito de o proteger. 38 BELÉM, frei Jeronymo de, OFM, Chronica Serafica da Santa Província dos Algarves, da Regular Observância de Nosso Serafico Padre S.Francisco…, Parte Segunda, 1753, p. 611. 39 BELÉM, frei Jeronymo de, OFM, Chronica Serafica da Santa Província dos Algarves, da Regular Observância de Nosso Serafico Padre S.Francisco…, Parte Segunda, 1753, p. 612. 40 BELÉM, frei Jeronymo de, OFM, Chronica Serafica da Santa Província dos Algarves, da Regular Observância de Nosso Serafico Padre S.Francisco…, Parte Segunda, 1753, p. 615.

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IGREJA No âmbito de melhoramentos feitos na década de 30 do século XX ao mosteiro, a sua igreja41, foi alvo de obras, por parte da Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, que alteraram profundamente a capela-mór, a dependência que ficava por baixo do coro-alto e o acesso ao coro-alto. Estas alterações, forma realizadas de acordo com o que se julgava, ter sido a anterior morfologia da igreja, numa intervenção, então classificada como, obra de „recomposição, consolidação e depuração‟.42 Da capela-mór, retirou-se o altar seiscentista, que era em talha dourada, tendo então sido enviado, para o reformatório de São Fiel, em Castelo Branco.43 Por baixo do coro-alto, abriu-se uma sala para nela funcionar o baptistério, onde se colocou uma pia baptismal, desenhada no século XX44, para uma igreja, onde não parece terem sido feitos baptismos, pois nunca são referidos pelo cronista, nem pela abadessa.

Actualmente, o pavimento da igreja, integra 37 lápides sepulcrais, e sabe-se que no século XVII, para além dos enterramentos no interior da igreja foi sepultada gente no seu adro.45 Hoje intensamente usado, o adro do mosteiro de Jesus, é uma das mais famosas pistas de skate do país.

COBERTURA DA NAVE EM PEDRA E NÃO EM MADEIRA Contra a vontade da fundadora, D. João II mandaria fazer o tecto da igreja em pedra, em vez de madeira como ela pretendia, tal como nos conta o cronista frei Jeronymo de Belém que comenta que talvez Dona Justa tivesse pressa em ver a igreja acabada ou seria porque em madeira ficaria mais barata a obra.46 Esquecendo-se o cronista que uma igreja franciscana observante não deveria ser coberta por tecto abobadado, como se 41

A análise morfológica desta igreja foi realizada recentemente por João Miguel Simões, que avança com a hipótese de a igreja ter tido transepto saliente. Casa Perfeitíssima – 500 anos da fundação do mosteiro da Madre de Deus, 2009, pp.67-69. 42 Boletim nº 47 da DGEMN, Igreja do mosteiro de Jesus de Setúbal, 1947, p.25. 43 A talha dourada do altar-mór do mosteiro de Jesus foi enviada em 1936 para o Reformatório de São Fiel, situado em Louriçal do Campo, Castelo Branco. PINTO, Machado, O mosteiro de Jesus de Setúbal, crónicas, 1985, p.27. 44 Boletim nº 47 da DGEMN, Igreja do mosteiro de Jesus de Setúbal, 1947, p.27. 45 LANDEIRO, José Manuel, O Mosteiro de Jesus de Setúbal, 1961; BNP – Secção de Reservados – Colecção de Manuscritos, SÃO JOÃO, Soror Leonor de, OSC, Tratado da antiga e curiosa fundação do convento de Jesu de Setubal, o primeiro que ouve e se fundou...», 1644, fólio 115f. 46 BELÉM, frei Jeronymo de, OFM, Chronica Serafica da Santa Província dos Algarves, da Regular Observância de Nosso Serafico Padre S.Francisco…, Parte Segunda, 1753, p. 582.

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determinara em 1260 nas Constituições de Narbonne:

«As igrejas de maneira alguma sejam abobadadas, à excepção da capela-maior (abside), sem licença do ministro geral.»47

Mas longe e esquecidas, estariam já, essas Constituições, para o cronista frei Jeronymo de Belém, ao justificar, em 1753, o propósito da fundadora:

«e querendo a Fundadora que o tecto da Igreja fosse de madeira, ou por abreviar a obra, ou por lhe facilitar os meyos, o poderoso Rey o naõ consentio; e mandando chamar o Mestre Boutaça, lhe ordenou o fizesse de abobeda de pedraria de três naves»48

PEQUENA TORRE SINEIRA E PORTAL SEM IMAGENS A igreja tem torre sineira de pequena dimensão, que parece obedecer, essa sim, às Constituições de Narbonne, de 1260: «O campanário da igreja não se faça, futuramente, em forma de torre.»49

Quanto ao portal da igreja, este tem várias mísulas, destinadas a estatuária, mas nelas não há uma única imagem, o que retira à igreja a riqueza e significados que para ali se pensara, essa ausência de imagens na fachada principal é uma das razões pela qual a linguagem arquitectónica do mosteiro é despojada. A linguagem despojada da fachada é adequada à observância da comunidade que habitava o mosteiro, mas não foi intencional, tratando-se antes de uma obra que ficou incompleta ou eventualmente vandalizada. Faltando-lhe a riqueza prevista, estando portanto incompleta, não é o que deveria ser. Quando, no século XVII, soror de São João escreveu a história deste mosteiro enumerou as imagens que nele havia, tanto dentro como fora50, mas para ela as imagens de fora eram as que estavam na cerca, em capelas do jardim e da horta, quanto ao portal da 47

IRIARTE, Lázaro, OFM, História Franciscana, 1979, p. 203. BELÉM, frei Jeronymo de, OFM, Chronica Serafica da Santa Província dos Algarves, da Regular Observância de Nosso Serafico Padre S.Francisco…, Parte Segunda, 1753, p. 582. 49 IRIARTE, Lázaro, OFM, História Franciscana, 1979, p. 203. 50 “Cap.X que faz menção das Capellas e Imagens que há dentro e fora do convento”, in, BNP – Secção de Reservados – Colecção de Manuscritos, SÃO JOÃO, Soror Leonor de, OSC, Tratado da antiga e curiosa fundação do convento de Jesu de Setubal, o primeiro que ouve e se fundou...», 1644, fólios 176v179f. 48

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igreja e às imagens que nele deveriam estar ou não, nada diz. A igreja é de três naves, embora não se note, já que as naves laterais são muito estreitas. Desenvolve-se em quatro tramos, tem apenas duas janelas, uma situada na proximidade do capela-mór e outra na própria capela-mór, trazendo luz natural ao altar. A cobertura abobadada, apoia em contrafortes, e em originais colunas cordadas, que embora raras, encontram par noutros lugares do Reino. Há colunas cordadas na Sé da Guarda, na igreja de Santa Maria da Alcáçova em Montemor-o-velho, na igreja matriz de São Bartolomeu de Messines51 e em Olivenza, na Igreja de Santa Maria Madalena.

MÃO MOURA E RELIGIOSA MOURISCA No início da obra deste mosteiro trabalhou um escravo da fundadora, que era mouro, e na obra fez trabalhos de servente52, podendo eventualmente ter contribuído, com a sua mão moura, na linguagem mourisca do claustro. De facto encontramos um certo espírito mourisco, no recorte trabalhado dos pequenos arcos centrais do claustro, designados de arcos em cortina53, que são muito mais pequenos que os restantes e que possuem um recorte oriental, que contrasta com o despojamento dos restantes arcos ogivais. E neste mosteiro viveu a Madre Soror Catherina de São Miguel, que veio para Portugal na tomada de Granada, diz soror Leonor de São João que soror Catherina, era nobre, mas „mourisca‟.54

CLAUSTRO O mosteiro deve ter tido apenas um claustro, embora o cronista se refira ao „ claustro grande‟55, pois a comunidade de religiosas que o habitava não era numerosa que justificasse mais um claustro. Sabemos sim, que em 1644, integrava mais dois espaços abertos, mas eram pátios, o designado „Pátio das veleiras‟ e o „Pátio dos padres‟ - este

51

GIL, Júlio, As mais belas igrejas de Portugal, Vol. II, 2006, pp.204-207; pp. 232-233.Vol. IV, pp. 218219. 52 BELÉM, frei Jeronymo de, OFM, Chronica Serafica da Santa Província dos Algarves, da Regular Observância de Nosso Serafico Padre S.Francisco…, Parte Segunda, 1753, pp.582-583. 53 TEIXEIRA, Luís Manuel, Dicionário Ilustrado de Belas-Artes, 1985, p. 27. 54 BNP – Secção de Reservados – Colecção de Manuscritos, SÃO JOÃO, Soror Leonor de, OSC, Tratado da antiga e curiosa fundação do convento de Jesu de Setubal, o primeiro que ouve e se fundou...», 1644, fólio 187v. 55 BELÉM, frei Jeronymo de, OFM, Chronica Serafica da Santa Província dos Algarves, da Regular Observância de Nosso Serafico Padre S.Francisco…, Parte Segunda, 1753, p. 683.

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último, situado fora da clausura.56 Portanto, julgamos que o mosteiro teria tido um claustro, e um pátio. O único claustro que existe, é de planta praticamente quadrada, tem 29,5 por 28,5mts, sendo encerrado a Poente, Norte e Este por corpos com dois pisos, e a Sul pela alta parede exterior da igreja. A galeria que o circunda, no piso térreo, é larga, pois tem 3,5mts, nela se abriam três capelas, cada uma, num dos lados do claustro.57 Na galeria térrea, houve os habituais enterramentos de freiras da comunidade, e no adro e interior da igreja, também houve gente sepultada, como já referiu.58

A galeria do primeiro piso do claustro, era utilizada em 1644, pelas clarissas, para fazerem a sua Procissão de Ramos, que dava a volta ao claustro, e terminava no coro e nesta galeria havia também três capelas, tal como na galeria do piso térreo. Uma dos Reis Magos, outra de São Jerónimo e outra de Nossa Senhora, esta última foi edificada cerca de vinte anos depois da fundação do mosteiro.59

No século XVII, entre 1617 e 1619, fizeram-se 11 janelas nas galerias do primeiro piso.60 Em 1753, o cronista, ao tratar deste mosteiro considera que as galerias que rodeiam o claustro, no primeiro piso, a que chama „varandas‟, são agradáveis para as clarissas, pois: «…lhes suavizaõ os apertos da clausura.»61

56

BNP – Secção de Reservados – Colecção de Manuscritos, SÃO JOÃO, Soror Leonor de, OSC, Tratado da antiga e curiosa fundação do convento de Jesu de Setubal, o primeiro que ouve e se fundou...», 1644, fólio 138v. 57 BNP – Secção de Reservados – Colecção de Manuscritos, SÃO JOÃO, Soror Leonor de, OSC, Tratado da antiga e curiosa fundação do convento de Jesu de Setubal, o primeiro que ouve e se fundou...», 1644, fólio 178v. 58 BNP – Secção de Reservados – Colecção de Manuscritos, SÃO JOÃO, Soror Leonor de, OSC, Tratado da antiga e curiosa fundação do convento de Jesu de Setubal, o primeiro que ouve e se fundou...», 1644, fólio 115f. 59 BNP – Secção de Reservados – Colecção de Manuscritos, SÃO JOÃO, Soror Leonor de, OSC, Tratado da antiga e curiosa fundação do convento de Jesu de Setubal, o primeiro que ouve e se fundou...», 1644, fólio 112 v; fólio 178f; BELÉM, frei Jeronymo de, OFM, Chronica Serafica da Santa Província dos Algarves, da Regular Observância de Nosso Serafico Padre S.Francisco…, Parte Segunda, 1753, p. 608. 60 BNP – Secção de Reservados – Colecção de Manuscritos, SÃO JOÃO, Soror Leonor de, OSC, Tratado da antiga e curiosa fundação do convento de Jesu de Setúbal…, 1644, fólio 267 f. 61 BELÉM, frei Jeronymo de, OFM, Chronica Serafica da Santa Província dos Algarves, da Regular Observância de Nosso Serafico Padre S.Francisco…, Parte Segunda, 1753, p. 588.

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Conclui-se que, entre 1619 e 1753, parte das galerias eram abertas, funcionando como varandas. E que, só depois de 1753, se fizeram as vinte grandes janelas, que agora se vêem, a encerrar totalmente o piso de cima.

LUGARES RETIRADOS Sabe-se que a madre soror Ignez de São João, escolhia o claustro para fazer as suas penitências, por vezes durante a noite: «Procurava Soror Ignez lugares retirados, e occultos para o exercício de suas disciplinas; (…)Huma noite tenebrosa fazendo a Veneravel Religiosa caminho pelos Claustros, para os seus costumados exercícios, o escuro lhe prendeo por detraz o habito, para naõ passar adiante; mas ella com o signal da cruz cortou animosa prisaõ(…)» 62

No claustro começava a Via Crucis, pois nele havia alguns passos da Paixão, que madre soror Margarida da Cruz (+1614) percorria: «Corria os Passos da Paixaõ de Cristo pelos claustros, e horta, com os pés inteiramente descalços, por mais rigoroso que fosse o tempo».63 O exercício da Via Crucis, dentro da clausura, foi introduzido neste mosteiro pela vigária Soror Antonia das Chagas (1555-1644).64

JARDIM NO CLAUSTRO O claustro foi renovado, em 1602, passando a ter jardim e fonte, sendo abadessa, a madre Soror Justa do Sacramento (1543-1623), obra que se fez, com esmolas do rei D. Filipe II: «Renovou o Claustro grande de lagedo, e no meyo delle dispôs hum aceado jardim, ornado de finos jaspes, com sua fonte toda de pedraria, para ornato do mesmo Claustro, e decente recreyo das Religiosas.» 65 Esta madre, que fez o jardim do claustro, gostava de plantar árvores e arbustos, e de tratar do cultivo da horta. O jardim era regado pelas freiras, como a jovem Soror Francisca de Monte Alverne que morreu muito jovem neste mosteiro, com apenas dezoito anos.66 62

BELÉM, frei Jeronymo de, OFM, Chronica Serafica da Santa Província dos Algarves, Observância de Nosso Serafico Padre S.Francisco…, Parte Segunda, 1753, p. 644. 63 BELÉM, frei Jeronymo de, OFM, Chronica Serafica da Santa Província dos Algarves, Observância de Nosso Serafico Padre S.Francisco…, Parte Segunda, 1753, pp. 668-669. 64 BELÉM, frei Jeronymo de, OFM, Chronica Serafica da Santa Província dos Algarves, Observância de Nosso Serafico Padre S.Francisco…, Parte Segunda, 1753, p. 666. 65 BELÉM, frei Jeronymo de, OFM, Chronica Serafica da Santa Província dos Algarves, Observância de Nosso Serafico Padre S.Francisco…, Parte Segunda, 1753, p. 683. 66 BELÉM, frei Jeronymo de, OFM, Chronica Serafica da Santa Província dos Algarves,

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da Regular da Regular da Regular da Regular da Regular

CHORAR OS PRÍNCIPES MORTOS Situado num ângulo do claustro, há um lavatório, ou fonte, que ocupa cerca de um terço do pátio claustral, pois tem 6 x 6mts e o pequeno pátio claustral, só tem 22,50x21,50mts. De linguagem mudéjar, a fonte, foi edificada no ângulo noroeste do claustro, em seu redor, delgadas colunas pontuam e semi-encerram este espaço de água e sombra. As delgadas colunas possuem capitéis de boa feitura, de que se destaca um, por reunir o que parecem ser quatro retratos reais. José Custódio Vieira da Silva, fizera notar, em 1987, que eram „cabeças que se assemelham a retratos‟.67 Concordamos com o historiador, pois também ali vemos retratos, que a nós nos parecem ser, de três jovens príncipes e uma princesa. Todos com semblante triste, os rapazes estão coroados e a rapariga tem um toucado de rede, comum no século XV. Poderiam estas quatro cabeças, retratar os quatro filhos do Rei D.Manuel I, que morreram ainda crianças, Miguel, Maria, António e Carlos. Miguel, morreu em 1500, com 2 anos, Maria, em 1513, com 2 anos, António, em 1516, antes de ter 1 ano, e Carlos, que morreu em 1521, com 1 ano. Serão talvez Miguel68, António, Carlos e Maria, as crianças retratadas no mosteiro de Jesus, para ali serem lembradas e choradas. Pois talvez as tivessem conhecido, as quatro damas da casa de D.Leonor, que para este mosteiro vieram morar.69

Em Coimbra, foi recentemente escavado e posto à vista, o claustro principal, do mosteiro de Santa Clara-a-velha, trecentista, que nos mostra agora a ruína de uma fonte coberta - lavatório -, um pouco maior que a de Setúbal, situada a meio da galeria claustral, tendo 6 x 8 mts, e pontuada por colunas, com capitéis com motivos vegetalistas.

Observância de Nosso Serafico Padre S.Francisco…, Parte Segunda, 1753, p. 645; pp. 682-683. 67 VIEIRA DA SILVA, José Custódio, A igreja de Jesus de Setúbal, 1987, p.41. 68 Miguel, está sepultado na cripta da catedral de Granada. 69 SOUSA, Ivo Carneiro de, “A rainha D. Leonor e a introdução da reforma coletina da Ordem de Santa Clara em Portugal”, in - Las Clarisas en España Y Portugal, Congreso Internacional, Actas II, Vol.II, 1994, p.1042.

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LÂMINA DIAGONAL O lavatório das clarissas de Setúbal, cuja cobertura foi aproveitada como varanda, apoia-se num elemento arquitectónico muito original, e que é um plano vertical que ultrapassa em altura a pequena construção. Este plano está implantado na diagonal, ganhando com essa colocação tão dinâmica, um ar poderoso, que nos remete para a arquitectura militar. O contraforte diagonal era habitual na época e encontra-se tanto no Reino como fora dele, como é o caso dos contrafortes diagonais da igreja de Nossa Senhora do Pópulo, Caldas da Rainha, da igreja do convento dos Lóios, Évora, e da igreja franciscana de Santo António de Cochim, obras do final do século XV, início do século XVI, sendo o caso de Cochim, posterior a 1520.

Em Setúbal neste lavatório monástico o contraforte diagonal é um plano de escala muito maior que a necessária para a função, pois ultrapassa em altura, a laje que nele apoia, pelo que é uma excepção estrutural e arquitectónica. Sólido e poderoso, o plano diagonal, parece obra militar, damos pois razão a Kubler, que viu, em Boitaca, transferência morfológica, da arquitectura militar para a arquitectura religiosa.

BIBLIOTECA Desconhecendo-se onde seria a biblioteca deste mosteiro, sabe-se de várias habitadoras que liam, e julga-se que tendo a comunidade integrado logo de início religiosas vindas de Gandía, sul de Valência, onde cumpriam a Reforma de Santa Coletta, aprovada em 1458 por Pio II, então é lógico que no mosteiro se cumprisse o determinado por esta reformadora, de que deveria haver nos mosteiros de clarissas biblioteca com bons livros, pois a leitura deveria ser uma das ocupações das religiosas. 70 Sabe-se por exemplo que uma das primeiras religiosas a habitar este mosteiro, soror Antónia da Trindade, filha de D. Sancho de Noronha, conde de Odemira, lia no tempo que lhe sobrava: «A sua ordinária occupação nas horas, que lhe restavaõ das obrigações da Casa, era a liçaõ dos livros espirituais, donde sempre tirou que imitar.»71

70

FONTOURA, Otília Rodrigues, OSC, As Clarissas na Madeira - Uma presença de 500 anos, 2000, pp.27-28. 71 BELÉM, frei Jeronymo de, OFM, Chronica Serafica da Santa Província dos Algarves, da Regular

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Também soror Luiza da Assumpção se dedicava à leitura: «Era prendada, sobre virtuosa, pela boa intelligencia, que alcançava do que lîa, boa Escrivãa, e singular musica.»72 O mesmo fazendo soror Francisca da Cruz: «Era bem instruîda de livros, excellente musica, e mais que tudo devota da Paixão do Senhor.»73 E ainda o mesmo fazia soror Catharina de Jesus (+1587): «Era dotada de estimáveis prendas, com boa intelligencia da língua Latina, e igual applicaçaõ á frequência dos livros, singular Escrivaã, e de muito préstimo para o Coro».74 E Madre Soror Brites da Ressureiçaõ (1561-1593), também ocupava o tempo livre lendo: «livros devotos, e vidas de Santos, acompanhando a liçaõ com o interior recolhimento»75

CAPELINHAS DA HORTA A horta do mosteiro também tinha capelinhas e era para elas que Madre Soror Baptista costumava retirar-se:

«Foi muito inclinada ao retiro, e em solidaõ passou os mais dos annos de sua vida nas Capellinhas da horta, ao abrigo das arvores, compondo suas acções ao movimento das mesmas folhas, e entoando Divinos louvores com as vozes das aves, que desafiando a sua devoçaõ, faziaõ ainda mais armonioso o seu concerto.»76

Observância de Nosso Serafico Padre S.Francisco…, Parte Segunda, 1753, p. 625. 72 BELÉM, frei Jeronymo de, OFM, Chronica Serafica da Santa Província dos Algarves, Observância de Nosso Serafico Padre S.Francisco…, Parte Segunda, 1753, pp. 637-638. 73 BELÉM, frei Jeronymo de, OFM, Chronica Serafica da Santa Província dos Algarves, Observância de Nosso Serafico Padre S.Francisco…, Parte Segunda, 1753, p. 639. 74 BELÉM, frei Jeronymo de, OFM, Chronica Serafica da Santa Província dos Algarves, Observância de Nosso Serafico Padre S.Francisco…, Parte Segunda, 1753, p. 642. 75 BELÉM, frei Jeronymo de, OFM, Chronica Serafica da Santa Província dos Algarves, Observância de Nosso Serafico Padre S.Francisco…, Parte Segunda, 1753, pp. 649-650. 76 BELÉM, frei Jeronymo de, OFM, Chronica Serafica da Santa Província dos Algarves, Observância de Nosso Serafico Padre S.Francisco…, Parte Segunda, 1753, p. 646.

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da Regular da Regular da Regular da Regular da Regular

CORO-ALTO O coro era também lugar escolhido para recolhimento nocturno, nele ficavam algumas religiosas durante toda a noite, como era o caso de Madre Soror Bernardina de Jesus: «Depois de Matinas naõ tinha mais descanço, que no Coro.»77 Havia uma capela no coro, onde soror Maria de Jesus (+1593), desde que entrou, em 1571, para o mosteiro, por ordem da Rainha D.Catarina, costumava orar.78 O coro-alto, é uma sala de pé direito muito elevado, de que se destaca uma grande estante relicário em talha dourada, situada na parede da grade do coro. Para além desta estante, existe ainda o cadeiral, mas que, ao contrário da referida estante, é desprovido de ornamentação. Pela igreja sobe-se também ao coro-alto, por uma pequena escada helicoidal, metida na parede celular do portal, e que leva a uma estreita varanda fronteira à grade do coro. Esta escadinha podia ser muita antiga mas não é, foi ali colocada no século XX, no lugar onde se julga ter existido uma escada semelhante.79

ABADESSAS A espanhola Soror Coleta Talhada (+1560) foi a primeira abadessa do mosteiro, e seria sepultada em Lisboa, no mosteiro em Madre de Deus. Desde 1508 e por cinco triénios, ocuparia o mesmo cargo madre Soror Catharina de Jesus (+ 1523). Em 1569 teria esse lugar, madre Madalena da Cruz e mais tarde, em 1582 a madre Maria de São Miguel. 80 Em 1593 foi abadessa, a madre Antónia da Trindade, filha dos condes de Odemira, D. Sancho de Noronha e D. Margarida da Silva. 81 E entre 1601 e em 1611 seria abadessa, a madre Soror Eufrázia de Santa Catharina (1549-1619), filha do Conde da Atalaya, foi esta abadessa, que instituiu dentro do mosteiro, a Procissão dos Passos.82

77

BELÉM, frei Jeronymo de, OFM, Chronica Serafica da Santa Província dos Algarves, da Regular Observância de Nosso Serafico Padre S.Francisco…, Parte Segunda, 1753, pp. 652-653. 78 BELÉM, frei Jeronymo de, OFM, Chronica Serafica da Santa Província dos Algarves, da Regular Observância de Nosso Serafico Padre S.Francisco…, Parte Segunda, BELÉM, 1753, p. 654. 79 Boletim da DGEMN, nº 47, Igreja do mosteiro de Jesus de Setúbal, 1947, p.21; pp.26-27. 80 BNP – Secção de Reservados, Colecção em Organização, Caixa 12, Convento de Jesus, Setúbal, manuscrito nº 16, fólio 3-verso; BELÉM, frei Jeronymo de, OFM, Chronica Serafica da Santa Província dos Algarves, da Regular Observância de Nosso Serafico Padre S.Francisco…, Parte Segunda, 1753, p. 601; p. 617; p.624; p.628. 81 BNP – Secção de Reservados, Colecção em Organização, Caixa 12, Convento de Jesus, Setúbal, manuscrito nº 16, fólio 2-frente. 82 BELÉM, frei Jeronymo de, OFM, Chronica Serafica da Santa Província dos Algarves, da Regular

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CONFESSORES Uma das pessoas que mais falta fez a esta comunidade, foi frei Henrique Coimbra (+1532), primeiro confessor83 das 33 clarissas, quando deixou o Reino, partindo para a Índia. E embora as clarissas de Setúbal, tentassem impedir a sua viagem, com o pretexto de que não sabiam o que fazer sem a sua assistência espiritual, ele partiu. É conhecida, a carta que o frei escreveu, antes de partir para a Índia, em Março de 1500, mandado pelo rei D.Manuel por superior dos missionários 84, e na qual lhes explica ponto por ponto, como resolver cada problema que pudessem vir e ter, rematando que se precisassem de auxílio pedissem ao Senhor, que Ele sempre as ouviria: «(…)E ainda que vá não me espera logo a morte; poderá ser q me vereis, e mais cedo do q pensais, e sempre serei em vossa ajuda nem pondais toda a vossa esperança em mim q não sou tal qual cuidaes esperai em o Sr q elle vos proverá sempre.(…)»85

Não o esperava a morte em Calecute, em 1500, quando ali chegou, mas semelhante sorte não tiveram os seus companheiros, por isso, ao serem mal recebidos na Índia, os franciscanos, só lá voltam em 1519, como veremos mais adiante, e dessa vez, frei Henrique não partiu do Reino.

Já no fim do século XVI, em 1582, seria confessor deste mosteiro, o padre Manoel de Serpa, que viria a tomar o nome de frei Manuel de São Bento. Entre 1580 e 1598, seria aqui confessor frei João de Oliveira, e em 1603 seria frei Francisco Varela, e entre 1617 e 1619, frei Balthezar de Beja.86

Observância de Nosso Serafico Padre S.Francisco…, Parte Segunda, 1753, p. 599; p. 618-619; p. 676. 83 Frei Henrique de Coimbra viria a ser também confessor do Rei D.Manuel I.,BELÉM, frei Jeronymo de, OFM, Chronica Serafica da Santa Província dos Algarves, da Regular Observância de Nosso Serafico Padre S.Francisco…, Parte Segunda, 1753, p. 586; WILLEKE, frei Venâncio, OFM, Franciscanos na História do Brasil, 1977, p.14. 84 WILLEKE, frei Venâncio, OFM, Franciscanos na História do Brasil, 1977, p.14. 85 BNP – Secção de Reservados, Colecção em Organização, Caixa 12, Convento de Jesus, Setúbal, manuscrito nº 16, fólios 4v-7f. 86 BELÉM, frei Jeronymo de, OFM, Chronica Serafica da Santa Província dos Algarves, da Regular Observância de Nosso Serafico Padre S.Francisco…, Parte Segunda, 1753, p. 601; p. 615.p. 617; BNP – Secção de Reservados – Colecção de Manuscritos, SÃO JOÃO, Soror Leonor de, OSC, Tratado da antiga e curiosa fundação do convento de Jesu de Setúbal…, 1644, fólio 268 f. Colecção em Organização, Caixa 12, Convento de Jesus, Setúbal, manuscrito nº 16, fólio 2-frente.

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REFEITÓRIO E DESPENSA O refeitório teve uma Última ceia mandada pintar na parede central por volta de 1590 pela Abadessa Soror Joanna da Concepção, que para o tecto do mesmo espaço mandou pintar santos franciscanos.87 O mosteiro, em 1735, tinha despensa, sobre a qual o cronista frei Jerónimo, gasta uma só linha, para ficarmos a saber, que nela existia uma talha de azeite de 30 alqueires, portanto com pelo menos, 390 litros de azeite.88

RIGOROSAS PENITÊNCIAS A irmã da Condessa da Vidigueira, Madre soror Margarida Magdalena viveu neste mosteiro e: «Do mundo, e de suas estimações só conservava a memoria para o seu desprezo, castigando com rigorosas penitencias na clausura os regalos da vida passada.»89

E as rigorosas penitências, incluíam, atirar-se no Inverno, para dentro dos tanques da horta, cuja água estaria gelada, tal como Madre soror Maria da Encarnação (+1596) que o mesmo fazia nas frias manhãs de Janeiro.90 Ambas à semelhança de São Francisco, que também mergulhava na água gelada para dominar o corpo.91

HAUPT EM SETÚBAL, SÉC. XIX Quando no século XIX o arquitecto alemão Karl Albrecht Haupt (1852-1932) escreveu sobre o mosteiro de Jesus, fez notar que só analisava a igreja porque esse era o único espaço acessível do mosteiro.92 O texto de Haupt, publicado inicialmente na Alemanha, em dois volumes, em 1890 e 1895, é acompanhado por ilustrações, entre as quais podemos ver que o portal da igreja

87

BNP - Secção de Reservados, Colecção de manuscritos, Tratado da antiga e curiosa fundação do convento de Jesu de Setubal…, SÃO JOÃO, Soror Leonor de, OSC, 1644, fólio 256 v-257f. 88

BELÉM, frei Jeronymo de, OFM, Chronica Serafica da Santa Província dos Algarves, da Regular Observância de Nosso Serafico Padre S.Francisco…, Parte Segunda, 1753, p. 686. Sabendo que 1 alqueire tem de 13 a até 22 litros, 30 alqueires x 13 litros = 390 litros. 89 BELÉM, frei Jeronymo de, OFM, Chronica Serafica da Santa Província dos Algarves, da Regular Observância de Nosso Serafico Padre S.Francisco…, Parte Segunda, 1753, p. 629. 90 BELÉM, frei Jeronymo de, OFM, Chronica Serafica da Santa Província dos Algarves, da Regular Observância de Nosso Serafico Padre S.Francisco…, Parte Segunda, 1753, p. 629; p. 656. 91 “São Boaventura, Lenda Menor” in San Francisco de Asís, escritos & biografias, documentos de la época, 2000, p.509. 92 HAUPT, Albrecht, Arquitectura do Renascimento em Portugal, 1986, p.100.

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do mosteiro de Jesus já não tinha nessa altura nenhuma imagem nas várias mísulas93, e podemos também ver o oposto, que o altar-mór tinha pelo menos uma peça escultórica sobre uma pilastra do lado direito, que era um anjo.94

ESTILO BOITAQUIANO Reynaldo dos Santos (1880-1970), ao escrever sobre Boitaca, na sua obra „Oito séculos de Arte Portuguesa, História e Espírito‟, dedica-lhe um capítulo inteiro, que abre precisamente com uma fotografia do interior da igreja do mosteiro de Jesus de Setúbal, por ter sido essa a primeira obra de Boitaca em Portugal. Neste seu texto sobre Boitaca, encontra um Estilo de Boitaca, ou Boitaquiano95, cujas principais características são o uso de colunas torsas, ou cordadas e a utilização de torres octogonais, encontrando a sua intervenção em vários locais do país, embora considere que em alguns casos não haja documentação que o prove. „Mestre das obras de nossas pedrarias‟, entre 1502 e 1516, com passagem pela Guarda, Coimbra, Lisboa, Setúbal, Montemor-o-velho e Marrocos, Boitaca deixaria torres octogonais e colunas torsas na Sé da Guarda de grande qualidade plástica, pois acompanham um pilar de vários colunelos em que metade se transforma em colunas torsas. Em Setúbal, na torre octogonal, e nas colunas torsas, da igreja do mosteiro de Jesus. Em Coimbra, nas torres octogonais de Santa Cruz, e na igreja de São João, nas colunas torsas dos arranques das abóbadas da nave. Em Lisboa, no mosteiro dos Jerónimos, traçando o mosteiro e dirigindo o início das obras, continuadas a partir de 1517, por João de Castilho. Em Montemor-o-velho, nas colunas torsas da igreja da Senhora do Castelo. Mas em Marrocos, onde esteve entre 1509 e 1510, envolvido em construções de fortalezas, entre as quais a torre de menagem de Arzila 96, não aplicou o „estilo boitaquiano‟, pois a referida torre é de planta rectangular.

93

HAUPT, Albrecht, Arquitectura do Renascimento em Portugal, 1986, p.1; p. 107. HAUPT, Albrecht, Arquitectura do Renascimento em Portugal, 1986, p. 106. 95 SANTOS, Reynaldo dos, Oito séculos de Arte Portuguesa, História e Espírito, Vol. II, 1970, p.127; 130. 96 Arzila, torre de menagem, 1995, p. 47. 94

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MUNDO INTERIOR Se as clarissas do mosteiro de Jesus apenas dispunham de cortinas para dividir cama a cama o dormitório, não lhes proporcionando totalmente o mundo interior que necessitariam, no claustro, onde houve seis capelas, podiam orar mais recolhidas. E o claustro, para além das capelas, tinha também uma fonte coberta, que ainda existe. Nesta fonte um dos capitéis figurados, parece reunir retratos de crianças, coroadas, de semblante triste. Pequenos príncipes, que teriam morrido jovens. Ali, no claustro, o mundo interior, da tristeza, podia ser vivido, ao olharem e recordarem aquelas crianças, beirando a fonte, onde a água, talvez chorasse, em vez de cantar.

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