Mulheres e eleições proporcionais: análise da aparição feminina no horário eleitoral de 2012 em Ponta Grossa

June 29, 2017 | Autor: C. Quesada Tavares | Categoria: Election Campaigning, Comunicação e Política, Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral, HGPE
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Mulheres e eleições proporcionais: análise da aparição feminina no horário eleitoral de 2012 em Ponta Grossa Camilla Quesada Tavares1 Karin Del Nóbile Mateus2 Marina Michelis L. Fernandes3 Resumo: Este trabalho de caráter exploratório tem como objetivo identificar como se dá a aparição de candidatas mulheres no Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral (HGPE) nas eleições municipais para vereador da cidade de Ponta Grossa, em 2012. Dada a legislação vigente, todo partido precisa apresentar candidatos de diferentes sexos dentro da proporção mínima de 70%-30%. As mulheres tendem a ocupar a cota menor, como já identificaram outros estudos (Silva, 2014; Massambani e Cervi, 2011). Desta maneira, este paper visa observar como as mulheres que concorrem a vereadora são apresentadas no HGPE. As variáveis empregadas são: quantidade e tempo de aparição; se possui fala ou não; sobre quais temáticas tratam e se fazem algum tipo de apelo ao voto. A hipótese principal é a de que as mulheres ainda não são satisfatoriamente representadas na televisão quando comparadas com os candidatos homens. Palavras-chave: mulheres; horário eleitoral; eleição 2012. 1. Introdução O Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral (HGPE) se caracteriza peça fundamental no sistema eleitoral brasileiro, principalmente no que tange a participação feminina na política atual, pois como demonstra ser um dos principais componentes influenciadores da opinião pública, é utilizado pela elite política como ferramenta para a aproximação dos eleitores com determinados assuntos (Miguel, 2004). Além disso, Cervi, (2010) ressalta, também, que "sua importância está no papel que ocupa como um dos componentes formadores do ambiente informacional dos eleitores, além de estimular o debate público sobre os temas apresentados" (Cervi, 2010, p. 3). No entanto, considerando que "a mídia atua sobre o indivíduo de forma a manipular suas escolhas e comportamentos políticos" (Finamore, 2006, p. 2), este artigo busca compreender como as mulheres que concorrem ao cargo de vereadora são apresentadas durante o horário eleitoral de 2012 em Ponta Grossa.

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Professora colaboradora do curso de Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Doutoranda em Comunicação pela Universidade Federal Fluminense. Email: [email protected] 2 Graduanda do 3º ano do curso de Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Membro do grupo de pesquisa Jornalismo e Política: representações e atores sociais. Email: [email protected] 3 Graduanda do 1º ano do curso de Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Membro do grupo de pesquisa Jornalismo e Política: representações e atores sociais. Email: [email protected]

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Embora não seja critério decisivo atribuir ênfase na cultura tradicionalista patriarcal, que sugere limitações na ocupação do espaço público pela mulher, Araújo (2005) afirma que "o fato de esses lugares serem tradicionalmente ocupados por homens, tende a gerar padrões de eleição e perfis com potenciais eleitorais também associados aos padrões masculinos" (Araújo, 2005, p. 5). Torna-se, portanto, ponderado afirmar certa influência dos valores culturais para com o destaque que é atribuído às candidatas mulheres no HGPE, já que não faz parte da tradição incluir mulheres no campo político-partidário. Devido aos empecilhos citados, as cotas se comportam como uma tentativa de inserção feminina nas iminências políticas, proporcionando condições para que a mulher possa competir. Mas qual será a representação que as candidatas mulheres possuem no horário eleitoral? É a mesma que os homens? Quando aparecem, possuem fala? E se falam, abordam quais assuntos e apelam a que para tentar conquistar o voto do eleitor? Para responder estas questões, foram analisados todos os trechos dos programas do HGPE onde a mulher candidata aparece. Ao todo foram 689 segmentos, destes 609 com presença de fala. A metodologia empregada foi a análise quantitativa de conteúdo. Desta maneira, o artigo está organizado do seguinte modo: no tópico 1 explora-se o desempenho da mulher na política frente a um contexto cultural enraizado na tradição patriarcal, onde ela procura se desvincular da posição limitada que lhe foi atribuída durante o decorrer da história, visando a efetiva participação na política brasileira; no tópico 2, também de cunho teórico, aborda-se a importância que o HGPE possui no que concerne ao nível de informação política que é transmitida para esfera privada do eleitor, causando uma aparente aproximação entre a elite política e a população que vota. Ao capítulo 3 foi atribuído a apresentação da metodologia utilizada no artigo e os dados analisados a partir de todos os programas do primeiro turno das eleições municipais de 2012, em Ponta Grossa, para o cargo de vereador. No final são apresentadas as conclusões.

2. Participação da mulher na política: contexto e desafios A participação da mulher foi efetivada na política brasileira com a sanção da Lei Nº 9100/95, que determinou a política de cotas, onde era destinada a proporção 70%-30% das vagas para a distinção de sexo e, assim, visar o aumento da participação feminina nas

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eleições, que antes era ainda menor em relação ao número ocupado pelos homens. Em uma tradição dada como patriarcal, o envolvimento feminino em cargos políticos no Brasil foi marcado pela sombra de algum familiar ou mentor influente e do sexo masculino (Veigas Faria, 1999). A história da política brasileira traz menções ao envolvimento de senhoras e senhoritas apenas vindas de família de posses e também que não necessitavam, de maneira urgente ou diretamente, da proteção de seus direitos, como aponta Araújo (2003). A maior ação feminista voltada para a política, de acordo com os estudos de Araújo (2003), se deu em 1918 com a Liga para a Emancipação Intelectual da Mulher, que mais tarde passou a chamar Liga pelo Progresso Feminino. Foi a partir dessa influência que a tentativa de desvincular o papel de mãe do papel de profissional começou a ser discutido, uma vez que esse era o motivo pelo qual a sociedade não apoiava a participação feminina. O medo que acontecesse uma desestruturação da família por parte do distanciamento da mãe, dona de casa e portadora da moral para a educação dos filhos, fez com que o processo fosse lento e perdura até os dias de hoje na propaganda feita em cima da imagem da mulher em sua candidatura a cargos políticos, conforme pontuado por Miguel (2000). Isso se correlaciona a capacidade de uma mulher governar, sendo que este seria um cargo que necessita um maior envolvimento por se tratar de um cargo de liderança. As mulheres começaram a ganhar espaço assim que puderam se igualar aos homens na questão do voto. De acordo com o decreto nº 21076, do dia 24 de fevereiro de 1932, a opinião feminina passou a ser considerada na hora de escolher seus representantes no Parlamento, desencadeando uma necessidade de representação de seus direitos e interesses (Araújo, 2003). Esse contexto está envolvido, segundo Araújo (2005), na ideologia e na organização dos partidos, em como as mulheres estão sendo posicionadas em frente a essas representações e como funciona, na prática, essa representação partidária. Para entender melhor essa luta, é preciso entender o contexto cultural do Brasil, levar em consideração que, assim como na política, a desigualdade de gênero aparece também em outros cargos no mercado de trabalho, como aponta Miguel e Biroli (2010). Ainda na linha dos estudos de Miguel e Biroli (2010), a mulher está exposta a uma luta de hierarquização dentro dos próprios partidos e construídos em cima de sua imagem como candidata, levando em conta que a ênfase dada em alguns assuntos que elas pretendem

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realizar como candidatas é um fator que determina o seu papel na política e no cargo disputado, vertente muito criticada pelos movimentos feministas da sociedade moderna. O papel de uma sociedade patriarcal é influência na hora de pensar que, durante toda a tradição política, o Brasil trouxe um papel de chefe de família ao homem e isso o condiciona aos cargos de liderança (Viegas e Faria, 1999). Essa ideia tende a explicar o por quê mulheres que têm apoio ou herança de um homem na política possuem maiores chances de se elegerem do que aquelas que trilham seus caminhos sozinhas. Assim, fica para a busca por votos o apelo, a identificação de personalidades e carisma das candidatas (Figueiredo e Aldé, 2003), por isso os partidos recorrem a uma cartela com diferentes candidatos, vindos de etnias, gêneros ou ideologias distintas (Viegas e Faria, 1999). Além disso, durante toda a luta por igualdade, a mulher conquistou um espaço muito grande na sociedade (Viegas e Faria, 1999) isso faz com que se enxergue um potencial quase que proporcional ao dos homens para a ocupação de cargos de liderança ou de representação.

3. O horário eleitoral como lugar de destaque da elite política A campanha televisiva no Brasil possui características próprias, conforme pontua Albuquerque (2004). Uma das principais é a proibição de qualquer tipo de propaganda eleitoral paga, o que, segundo Miguel (2005), diminuiria a influência do dinheiro nas campanhas, pelo menos no que concerne ao acesso aos meios de comunicação 4. Dessa maneira, dada a representatividade no Legislativo, os partidos/coligações agregariam tempo no rádio e na televisão para veicular a campanha mediada pelos meios. A divisão do tempo total fica a cargo do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). No Brasil, trabalha-se com dois tipos de sistemas eleitorais nas eleições: o majoritário e o proporcional. No caso dos vereadores, eles estão inseridos no segundo tipo, ou seja, o eleitor pode votar no candidato ou em sua legenda, e os eleitos serão aqueles mais votados dentro do partido, limitado ao número de vagas conquistado, baseado no coeficiente eleitoral (Albuquerque, Steibel e Carneiro, 2008). No caso dessas disputas, o número total de candidatos tende a ser muito maior ao número total de vagas, o que necessitaria de um melhor

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Estudos sobre financiamento de campanha apontam para uma forte relação entre campanha e dinheiro, mas não é nosso objetivo neste paper entrar nesse debate. O que se pretende mostrar aqui é que, pelo menos no acesso aos meios, o dinheiro não tem influência, pois não é permitido comprar quotas no rádio e na televisão.

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planejamento para distribuir os "recursos de campanha" a todos os concorrentes (Cervi, 2011). Um desses recursos seria a distribuição do tempo no horário eleitoral. O HGPE é importante porque marca o tempo da política (Cervi, 2010), ou seja, é a partir daquele momento que o cidadão percebe que a campanha começou. O principal motivo apontado por Panke e Cervi (2011) para isso é que a partir da veiculação do horário eleitoral, a informação política chega até a esfera privada do eleitor, não necessitando interesse em buscar esse tipo de conteúdo em outras esferas, como nos jornais, por exemplo. Além disso, o espaço é privilegiado, já que permite aos partidos e candidatos total autonomia de conteúdo, sem precisar passar pelos filtros da mídia. Embora muitos eleitores digam que não assistem o horário eleitoral (Gomes, 2001), verifica-se uma mudança nas pesquisas de intenção de voto após o início efetivo da propaganda (Bernardi, 2011). Albuquerque (2004) lembra que um dos fatores para o estranhamento do eleitor com o horário eleitoral é o formato do programa dentro da grade de programação televisiva. Para além disso, é consenso na literatura que o HGPE tem seu papel consolidado na disputa, sendo um importante espaço de aproximação entre elite política e eleitor (Miguel, 2004). Os programas são pensados pela elite política e suas equipes - o que caracteriza o processo de modernização das campanhas eleitorais (Mancini e Swanson, 1996) - para convencer o eleitor. O convencimento pode ser feito sob várias estratégias, como o debate temático e a construção da imagem do candidato - o que seria uma das principais funções do HGPE, segundo Albuquerque (1999). Sobre a construção da imagem pública, Cervi (2011) lembra que é possível criar imagens estereotipadas, principalmente no que diz respeito à propaganda proporcional. Um exemplo seria se apresentar como representante de determinada cultura, ou com vestimentas típicas. Ou ainda adotar um discurso de moralidade, apelando para a história de vida. No caso das mulheres no horário eleitoral, talvez essa seja uma das estratégias adotadas - buscar construir a imagem a partir da identificação feminina. De maneira geral, o partido controla o tempo na televisão e divide esse tempo de acordo com os candidatos. A divisão pode ser mais igualitária ou hierárquica, ou seja, dar mais tempo a quem tem mais capital político ou dar o mesmo tempo para todos os concorrentes (Cervi, 2011). A dinâmica com a qual isso ocorre depende das forças internas

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dos partidos, e das características dos candidatos. No caso das disputas proporcionais, a dependência do candidato ao horário eleitoral é variável. Massambani e Cervi (2011) apontam que candidatos com presença regional não precisariam de tempo na televisão porque possuem outras fontes de visibilidade pública. Albuquerque, Steibel e Carneiro (2008) defendem que a distribuição do recurso tem impacto distinto, dependo do tipo de candidato. Por exemplo, candidato que tem votos pulverizados tendem a precisar mais dos meios de comunicação do que aqueles que possuem base eleitoral em alguma região geográfica. No entanto, no que diz respeito às mulheres, Massambani e Cervi (2011) lembram que as candidatas tendem a ter uma dependência maior da exposição de suas imagens no horário eleitoral do que os homens, haja vista de que não conseguem se inserir em espaços anteriores à campanha. Esta discussão é pertinente para este estudo, pois pretende-se verificar, entre outras coisas, se as mulheres possuem o mesmo espaço que os homens na televisão. Dado o histórico de participação feminina na política, isso interfere na hora da distribuição dos recursos partidários? É o que tentaremos responder a seguir.

4. Apresentação dos dados: sobre o que falam as mulheres? Os dados que compõem o corpus deste paper foram coletados pelos integrantes do grupo de pesquisa Jornalismo e Política: representações e atores sociais, da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Eles dizem respeito a todos os programas do primeiro turno das eleições municipais de 2012, em Ponta Grossa, para o cargo de vereador. A metodologia para coleta de dados é a quantitativa de análise de conteúdo, pois o universo trabalhado é amplo e busca-se identificar padrões entre os resultados (Cervi, 2009). As categorias de análise utilizadas aqui são baseadas no trabalho de Figueiredo et al (2000), com destaque para as variáveis que compõem diretamente o estudo: quantidade de segmentos, tipo de candidato, presença ou ausência de fala, tema, tipo de apelo ao voto. Os programas do horário eleitoral proporcional são divididos de acordo com a coligação. Dentre de cada parte, reparte-se ainda por segmentos. Entende-se por segmento uma única unidade de análise do HGPE; isto é, um trecho do programa televisivo que possui autonomia discursiva (Albuquerque, 1999), onde se mantêm o mesmo cenário, temática e orador. No caso dos programas para cargos proporcionais, essa diferenciação é bem clara,

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pois se reduz, em boa parte dos casos, a uma aparição de fala completa do candidato, quando possui fala; ou então apenas sua imagem e número, nos casos sem falas. No caso das eleições municipais de Ponta Grossa em 2012, o número total de segmentos foi de 2.500, entre candidatos homens e mulheres. Olhando especificamente para as mulheres dentro do horário eleitoral, a variável 'fala' indica como a candidata foi apresentada ao público. Quem possui fala aparece mais, ou seja, tem um tempo maior de exposição. Com isso, pode-se verificar sobre o que essas candidatas falam aos seus eleitores, o que nos leva a variável seguinte: tema. De acordo com Cervi (2011), os candidatos podem usar o horário eleitoral para discutir temas de interesse público, além de fazer apelo direto ao voto, mesmo em disputas proporcionais. Para isso, foram estabelecidas 15 categorias temáticas possíveis5. Por fim, tem-se o apelo ao voto. Cervi (2011) explica que o esse tipo de estratégia ocorre quando há uma solicitação direta e explícita de voto ao eleitor. Um exemplo poderia ser "ajude a vencer mais esta, conto com o seu voto". Quando é identificada essa estratégia, é necessário também registrar qual o tipo de apelo empregado. Para isso, têm-se dez categorias6, mas que para este trabalho nos interessa especificamente um: o voto feminino. Agora que se conhece o que iremos analisar dentro dos programas do horário eleitoral de 2012, passemos aos dados empíricos.

4.1 Resultados gerais Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em 2012, Ponta Grossa contou com um total de 396 pessoas concorrendo aos 23 cargos de vereadores disponíveis. Do total de candidaturas inscritas, 279 eram homens e 117 eram mulheres. Isto quer dizer que do universo total de pessoas concorrendo a uma cadeira na Câmara de Vereadores, 70,5% correspondiam aos homens e apenas 29,5% às mulheres. Do total de eleitos, apenas duas 5

São elas: 0) nenhum, quando o candidato não trata de tema algum em seu espaço no HGPE; 1) saúde; 2) economia; 3) violência ou segurança pública; 4) político-institucional, quando trata de relações entre governo e oposição, fiscalização do executivo etc; 5) meio ambiente; 6) infra-estrutura; 7) ético-moral; 8) esporte e lazer; 9) turismo; 10) cultura; 11) educação básica e creches; 12) educação secundária, técnica e superior; 13) cardápio, quando o candidato fala de mais um tema, sem priorizar um, especificamente e 14) outro, caso o tema tratado no segmento não se enquadre nos anteriores (CERVI, 2011). 6

Os dez tipos de apelo são: 1) não tipificado; 2) jovem; 3) consciente; 4) ideológico/partidário; 5) feminino; 6) portadores de necessidades especiais; 7) identidade cultural; 8) LGBTS/terceiro gênero; 9) religioso; 10) moral/valores (CERVI, 2011).

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candidatas conseguiram uma cadeira no legislativo: a candidata Adelia Aparecida Souza (PSD) e Ana Marina Branco de Holleben (PT), sendo a primeira não ocupante de cargo eletivo e a última candidata à reeleição. Para verificar se a proporção masculino x feminino manteve-se na distribuição dos recursos partidários no horário eleitoral, tem-se a tabela a seguir: TABELA 1 - Quantidade de segmentos totais Candidato Masculino Feminino Total Fonte: Jornalismo e Política (2015)

Frequência

% Válido 1973 664 2637

74,8 25,2 100

A tabela 1 mostra que do total de candidatos concorrendo a cargos eletivos que apareceram na televisão, 74,8% eram homens e 25,2% mulheres. Esses resultados vão de encontro com os valores encontrados nas inscrições de candidatura. Ou seja, a mesma proporção de inscritos mantém-se na distribuição no horário eleitoral. Mas será que as mulheres aparecem a mesma média de tempo que os homens? Conforme nos mostram os dados da tabela 2, aparentemente, sim. TABELA 2 - Média e mediana de tempo de aparição com fala Candidato Frequência Masculino 1848 Feminino 589 Fonte: Jornalismo e Política (2015)

Média em segundos 11,99 11,77

Mediana em segundos 11 11

A aparição média das mulheres que tinham fala no horário eleitoral está pareada com a aparição média dos homens, dados que ajudam a refutar nossa hipótese inicial de que as mulheres eram subrepresentadas nos programas televisivos. A mediana corrobora com os resultados apresentados pela média, indicando que há uma distribuição praticamente igualitária entre os tempos de aparição. Isso quer dizer que todos que estiveram na televisão apareceram de maneira mais ou menos igual. Não teve nenhum candidato com tempo maior de exposição, pelo menos nesta eleição, e também não há grandes diferenças entre homens e mulheres como se havia pensado. O que se vê na televisão é uma transposição da proporção encontrada fora do meio de comunicação e semelhanças de distribuição de tempo entre os sexos.

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Agora que se tem essa visão geral, os dados que seguem dizem respeito apenas à cota de participação feminina no horário eleitoral. Pretende-se investigar especificamente de que maneira as candidatas se apresentaram ao público na eleição de 2012.

4.2 Como fala a mulher no horário eleitoral? A presença de candidatas com fala no horário eleitoral é bastante expressiva corresponde a 88,7% do total de segmentos femininos. Isso significa que as mulheres tiveram espaço para se apresentar ao eleitor/telespectador durante a campanha televisiva. Como lembra Cervi (2011), o HGPE proporcional também é o espaço para se apresentar propostas temáticas de interesse público. A tabela 3 apresenta as temáticas abordadas pelas mulheres na campanha, durante os segmentos com fala. TABELA 3 - Temas dos segmentos com fala Tema Nenhum Saúde Economia Violência e segurança pública Político-institucional Ambiental Ético-moral Educação básica e ensino médio Cardápio Outro Total de segmentos com fala Fonte: Jornalismo e Política (2015)

Frequência

% Válido 273 40 1 12 1 4 74 34 97 53 589

46,3 6,8 0,2 2,0 0,2 0,7 12,6 5,8 16,5 9,0 100

Conforme se observa, embora haja tempo para apresentar propostas temáticas, quase metade dos segmentos femininos não possui nenhum tema. Isso quer dizer que boa parte da exposição das candidatas no horário eleitoral foi orientada por outra estratégia, que não a discussão temática. Quando o tema aparece, é em forma de cardápio (16,5%), caracterizado pela citação de vários temas de uma única vez, sem se aprofundar em nenhum nem explicar de maneira mais detalhada como serão viabilizadas as ações nesse sentido. O segundo tema mais abordado foi o ético-moral (12,6%), seguido de 'outro' (9%). Esses dados indicam que as mulheres não debateram temas de interesse com seu eleitor, buscando, provavelmente, outras formas de convencimento. Por fim, temos o apelo ao voto. Ele esteve presente em 95,8% das falas das mulheres

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no horário eleitoral. Se não houve discussão temática, por um lado, houve o pedido explícito de voto por outro. A tabela 4 mostra quais os tipos de apelo identificados durante as aparições femininas. TABELA 4 - Tipos de apelo dos segmentos com fala Tema Não tipificado Jovem Consciente Ideológico/partidário Feminino Portadores de necessidades Identidade cultural LGBTS/Terceiro gênero Religioso Moral/valores Total Fonte: Jornalismo e Política (2015)

Frequência

% Válido 335 9 16 3 6 23 6 6 4 181 589

56,9 1,5 2,7 0,5 1,0 3,9 1,0 1,0 0,7 30,7 100

A mulher apela pelo voto, mas não evoca nenhum tipo de prerrogativa de identificação para tal. Isso pode ser observado graças à quantidade de apelos não tipificados (56,9%), ou seja, é a pedida pelo voto em si, sem nenhum outro fator decisório. É o simples "vote em mim"; "me ajude a conquistar mais essa vitória". O tipo de apelo que esperávamos encontrar o feminino - foi subempregado pelas candidatas. O destaque dessa estratégia vai para o tipo de apelo moral/valores, que esteve presente em 30,7% do total. A grande presença pode ser explicada, talvez, pelo papel que a mulher ainda representa em âmbito social, condicionada pela dinâmica da vida familiar (Araújo, 2005). Os dados apresentados até aqui dão um panorama geral sobre a presença das candidatas mulheres nos programas do HGPE televisivo de 2012. A partir deles, podemos chegar a algumas conclusões, que serão apresentadas em seguida.

5. Conclusão Este paper teve por objetivo investigar como se deu a representação de candidatas mulheres ao cargo de vereadora no horário eleitoral de 2012, em Ponta Grossa. Os dados mostraram que a representação feminina no horário eleitoral se deu em 24,6% dos programas, ou seja, as candidatas apareceram em menos de 1/3 do espaço total, embora a média de tempo em aparição tenha se equiparado aos homens - cerca de 11 segundos. Quando verifica-se a

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proporção entre segmentos com fala, o percentual é ainda menor - representa apenas 23,2% do universo total. Aqui vemos a diferença entre a distribuição de estratégias discursivas entre homens e mulheres. Embora elas representem 30% do total de candidatos concorrentes ao pleito, no horário eleitoral a aparição fica bem abaixo desse percentual. Ou seja, as mulheres ainda são subrepresentadas no HGPE. Se pensarmos que elas têm menos chances de serem eleitas do que os homens e o horário eleitoral se configuraria como um aliado nessa tentativa de se apresentar ao público e se tornar mais próximo dele, a distribuição do tempo poderia ser mais favorável a elas. No entanto, existem diversas lógicas que perpassam essa distribuição, e na maior parte dos casos configura-se como espaço de trocas e barganha política, como lembrou Cervi (2011). Quando se olha para o conteúdo das falas das candidatas se verifica que as estratégias temáticas ficam de fora de boa parte dos discursos. Em quase 50% dos casos, as candidatas não tratam sobre tema algum. No que se refere a temas, o que mais aparece é o cardápio, ou seja, quando se fala de vários temas, mas sem aprofundar nenhum (por exemplo: "eu vou melhorar a saúde, educação, as ruas e a trabalhar para diminuir a violência"); e em seguida aparecem mensagens ligadas a questões ético-morais. Já no que se refere ao apelo ao voto, há forte presença, mas ela não é qualificada. Isso significa que a candidata não pede o voto baseada em uma causa ou identificação, como era esperado. Na maior parte dos segmentos há apelo ao voto, mas ele não é tipificado. O apelo ao voto feminino, que era o que se imaginava concentrar um percentual expressivo, apareceu em apenas 1% dos casos. Desta maneira, conclui-se que a mulher poderia ter tido um espaço maior no eleitoral de 2012 em Ponta Grossa - embora isso pudesse ser melhor constatado com um estudo comparativo - e necessita qualificar o discurso, pois ele ainda é vago no que tange a apresentação de propostas. Contudo, como dito anteriormente, seria necessário um estudo comparativo para poder se ter um parâmetro entre esses resultados. Assim, seria possível chegar a conclusões mais contundentes sobre a representação feminina no horário eleitoral.

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