Mulheres no pedestal: o caso do povo Mosuo, Khasi e Minangkabau

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Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
Aluna: Júlia Rosa Ferreira
Fundamentos das Relações Internacionais II
Professor: Victor Coutinho Lage

Mulheres no pedestal: o caso do povo Mosuo, Khasi e Minangkabau

"Quando eu vejo um guindaste gigante se movendo num caminhão, eu paro em respeito e admiração, como alguém que estivesse numa procissão religiosa. Que poder de concepção! Que grandiosidade! Este guindaste nos remete ao Egito Antigo, onde a arquitetura monumental foi primeiramente imaginada e executada. Se a civilização tivesse sido deixada em mãos femininas, estaríamos ainda vivendo em cabanas de palha" (PAGLIA, 1990, p.38).
Que citação machista, não é? Também pensei. Quem é esse tal de Paglia? Deve ser mais um pensador machista retrógrado. Se eu falar que o autor dessa citação é nada mais do que uma autora?! Sim, uma acadêmica americana que se considera uma feminista dissidente chamada Camille Paglia. Um exemplo de concepção que nos mostra como está entranhado na sociedade a concepção que a mulher é incapaz de construir uma sociedade e que é um sexo frágil enquanto o homem é o realizador de tudo, o construtor, o forte. Este ensaio busca mostrar o outro lado da sociedade no qual não é muito estudado e tampouco visto. Nessa sociedade a descendência da família é traçado através da mãe e seus ancestrais maternos. Chamada de sociedade matrilineal, esse sistema pode envolver a herança de propriedades e títulos de acordo com a linhagem materna. É bem comum confundir uma sociedade matriarcal e matrilinear, porém são bem diferentes. Não há um consenso em relação do conceito de sociedade matriarcal, no entanto em termos bem gerais podemos definir como sendo o governo e poder nas mãos das mães; mulheres. Podemos ver também como uma forma de organização social na qual o grupo familiar, a descendência e o relacionamento são determinados através da linhagem feminina. A maioria dos pesquisadores afirma que não existe e nunca existiu um exemplo de sociedade matriarcal, apesar de haver crenças que já possam ter existido, como por exemplo, a Civilização Minoica e as Amazonas. No entanto, sociedades matrilineais podem ser vistas em diferentes lugares do mundo, embora em pequena proporção. Nesse trabalho irei analisar um conjunto de comunidades: a Mosuo (Tibete), a Khasi (Índia) e a Minangkabau (Indonésia). Primeiramente gostaria de apresenta-las, depois mostrar como foi que essa forma de organização social alternativa se formou, contrastando-a com o patriarcalismo tradicional. Por fim o ensaio tenta analisar o movimento Syngkhong Rympei Thymmai (SRT) que busca romper com essa tradição matrilinear e entender se o movimento por direitos dos homens se dá devido ao contato com sociedades patriarcais.
Constituindo uma população de cerca de 40 mil pessoas, a Mosuo é um pequeno grupo étnico localizado na fronteira do Tibete, nas províncias de Yunnan e Sichuan e vive primariamente da agricultura. Eventualmente é tida como matriarcal, no entanto, ao analisar melhor a sociedade é notadamente visto que não é o caso. A mulher é a chefe do núcleo familiar, a propriedade é passada através da linhagem materna e as mulheres costumam a fazer as decisões de negócios. No entanto, quem tem poder político são os homens, dessa forma desqualificando a categorização de Mosuo como matriarcal e encaixando-a na categoria de sociedade matrilineal. Segundo Gong e Yang (2011) a comunidade Mosuo apresenta o chamado "walking marriage", no qual a mulher e o homem moram na casa de suas respectivas mães e eventualmente o homem faz visitas noturnas à sua mulher, eles não apresentam nenhuma obrigação econômica um com o outro. As crianças Mosuo são criadas coletivamente na casa da mulher sem a necessária presença do pai e sua linhagem são necessariamente traçadas pela linhagem maternal, às vezes nem sabem quem é o pai sendo assim impossível traçar a linhagem paternal. Uma prática curiosa também ocorre entre os Mosuo, quando uma família não tem descendentes femininos para seguir com a linhagem, em alguns casos se adota uma mulher de outra família que será a chefe da família quando a atual morrer. Os Mosuo vivem normalmente em grandes e extensas famílias, e não é incomum a adoção para balancear os gêneros ou porque uma família ficou muito pequena para manter os seus membros ou pelo simples fato que uma pessoa virou órfã. Uma vez adotada, a pessoa se torna parte da família, em pé de igualdade com todos na casa e compartilhando a herança e historia da família.
"Long jait na ka kynthei!" ideologia Khasi, que significa "Da mulher surgiu o clã!".
O povo Khasi, majoritariamente localizado no estado de Meghalaya na India, também é considerado uma sociedade matrilinear, os membros familiares sempre seguem a linhagem feminina através da filha mais nova. A vida familiar rodeia a avó, que vive com suas filhas não casadas e sua filha mais nova (e se essa tiver filhos consequentemente a sua neta mais nova também). A filha mais nova por ser a responsável por passar a linhagem familiar, nunca sairá da casa da mãe mesmo casada e mais tarde se tornara o centro da família. Já os homens que moram na casa da família da mulher passam a maioria do tempo, senão todo, na casa de sua mãe e irmãs, essa prática é chamada de duolocal marriage no qual os homens vivem nas casas de sua mãe e de sua mulher.
O que é importante levantar é que as mulheres Khasi não assumem totalmente o papel que é comumente ligado ao homem em sociedades patriarcais, como por exemplo, o papel de guerreiros e caçadores. O papel feminino nesta sociedade está ligado a autoridade do núcleo familiar e a sua tomada de decisões rotineiras. Enquanto é esperado que os homens, apesar de não possuírem nenhuma propriedade, trabalhem para produzirem ganhos para a família de sua mulher. Segundo Gneezy (2008) a característica econômica mais importante é que o retorno do investimento que se não se pode verificar do capital humano das meninas é mantido dentro do núcleo familiar. Em outras culturas a verificação daria através do preço da noiva ou do dote, enquanto na cultura Khasi a família cria a filha do jeito que acha apropriado e não para atender outras famílias e para um futuro casamento, como acontece majoritariamente na sociedade indiana.
Outra sociedade também considerada matrilineal é a Minangkabau, um grupo étnico indonésio, nativo do Oeste de Sumatra. Formam a maior comunidade matrilineal do mundo, contando com cerca de 4 milhões de pessoas nos arredores de Minang e aproximadamente outros 3 milhões vivendo em outras partes da Indonésia. A comunidade é muçulmana devota, apesar do Islã ser conhecido por ter uma tendência aos homens e meninos, a riqueza do clã é passada através das mulheres. A lei tribal afirma que toda propriedade (como casas e plantações de arroz) do clã deve ser mantidas e transmitidas de mãe para filha. Como nas sociedades anteriores, a Minangkabau também apresenta a prática do homem viver em duas residências, devem dormir na residência da mulher e retornar a casa da mãe durante os dias. O tio materno chamado mamak tem grande autoridade na linhagem, ele é responsável por ser o guardião dos filhos da irmã, tendo maior autoridade que o próprio pai da criança. Em alguns casos o marido só tem permissão de aparecer a noite. Segundo Kato (1978) o homem na sociedade Minangkabau às vezes é comparado a um búfalo que é emprestado para a fecundação e em muitos casos, não é muito mais do que isso para os parentes da mulher.
Os homens na cultura Minangkabau na faixa de idade dos 6 anos são mandados para viver em uma "prayer house", onde aprenderão o Corão. Só quando casam que são permitidos a retornar para a casa materna em período integral, entre esse período a casa da mãe é considerada apenas a 'casa de origem' onde o homem faz as refeições. Durante o casamento ele é considerado apenas um hóspede na casa da mulher, caso a mulher faleça ou se divorcie, ele volta para a "prayer house".
Porque essas sociedades se formaram nessa configuração?
No caso do povo Mosuo, o sistema matrilineal não foi a configuração de sempre. Nos tempos feudais havia uma pequena nobreza que controlava os camponeses. Essa nobreza apresentava a tradicional configuração patriarcal, tendo o homem como centro da família, da política e da sociedade. Teorias afirmam que o sistema matrilineal adotado pelas baixas classes foi imposto ou encorajado por essa elite, em uma tentativa de prevenir ameaças ao seu próprio poder. Essa ideologia propagada (ou até mesmo imposta) pela elite pode ser comparada ao saber-poder de Michel Foucault (2004), no qual ele vê o conhecimento e o poder como algo intimamente relacionado. Através dessa teoria que propõe que o discurso ordenador da sociedade é sempre o discurso daquele que detém o saber, o individuo é visto como aquele que sempre está determinado por ideias vindas por seus superiores. No caso do povo Mosuo, eles eram determinados por uma classe que domina de forma ideológica, a nobreza. Já que a liderança era passada hereditariamente, ter a classe de camponeses sendo definida através da linhagem materna eliminaria potenciais ameaças. O site Mosuo Project que busca disseminar informação sobre o povo Mosuo e desenvolver projetos culturais e socioeconômicos na região, afirma que a verdade sobre a sociedade matrilineal dos Mosuo é muito mais complicada e interessante do que se parece. Há tentativas de idealização de uma cultura dada como matriarcal, onde as mulheres têm todos seus direitos e liberdade, porém isso se baseia na falta de conhecimento de sua historia real. A classe de camponeses foi subjugada e tratada em uma posição bem semelhante à de escravidão.
Já o sistema matrilineal dos Khasi, de acordo com a antropóloga Valentina Pakyntein, vem dos tempos que as mulheres tinham muitos parceiros e era difícil saber a paternidade dos filhos. Outra vertente é bem popular entre os homens Khasi no qual esse sistema foi formado, pois antigamente quando os ancestrais saiam para as guerras, eles ficavam muito tempo longe de casa e dessa forma impedia que cuidassem de suas famílias. Alguns afirmam que a origem vem dos reis Khasi que ao saírem para as batalhas confiavam em suas mulheres o cuidado do reino. Enquanto na sociedade Minangkabau, a origem da matrilinealidade é contada através da lenda dos ancestrais Datuak Katuamanggungan e Datuak Perpatih nan Sabatang, tidos como os fundadores da tribo. A lenda, de forma bem resumida, conta que após terem recebido ajuda quando velejavam no mar, os dois estabeleceram por recompensa que toda a propriedade deveria ser passadas pelos "kemanakans" (sobrinhos por parte da irmã).
É importante ressaltar que após analisar a origem da matrinealidade nas três sociedades abordadas é possível ver que essa configuração se dá devido a condições históricas e que nenhuma delas teve origem do desejo de dominação das mulheres. As sociedades se formaram porque a nobreza queria subordinar as classes camponesas, organizar a sociedade em tempos de guerra, questão da dificuldade em definir a paternidade. São diferentes motivos, mas todos eles têm algo em comum: a mulher em nenhum momento quis a subordinação do homem. Alguns autores que discorrem sobre o matriarcalismo (a mulher tendo poder), afirmam que o poder feminino é qualitativamente diferente do poder masculino. Muitas feministas buscaram uma diferente definição de matriarcal como sendo "a realm where female things are valued and where ower is exerted in non-possessive, noncontrolling, and organic ways that are armonious with nature". (ADLER, 1979, p.187). Será que isso se aplica também no caso da matrilinealidade? No caso das sociedades estudadas, a herança não é passada para o homem porque ele é tido como biologicamente inferior e tampouco porque ele é considerado frágil, irracional e movido por emoções como a maioria das mulheres são vistas nas sociedades patriarcais.
O que leva a um questionamento mais complexo: o que define o ser mulher e o ser homem? Simone de Beauvoir em "Second Sex" afirma que "one is not born, but, rather, becomes woman", trazendo a ideia que o que nos tornamos não é o que já somos, nosso gênero está separado do sexo. Judith Butler (1987), teórica feminista e grande contribuidora para essa área de estudo, analisa a frase e diz que o verbo "become" de Beavouir é um conjunto de atos intencionais e apropriados, uma aquisição gradual de características. Butler contrasta a ideia do gênero sendo de certa forma escolhido e a definição de gênero como sendo a interpretação cultural do sexo, e questiona como o gênero pode ser ambas as coisas. Tendo tudo isso em vista, não se pode definir um individuo apenas por seu sexo feminino e masculino, pois apesar da interpretação cultural há uma agencia própria do individuo em sua constituição. Através dessa visão as mulheres Mosuo, Khasi e Minangkabau não necessariamente nascem mulheres, mas se tornam mulheres devido ao fato de assumir culturalmente um estilo corporal e de significância, é um ato que elas performam: o ato de se tornar mulher.
O que os homens estão pensando?
"We are sick of playing the roles of breeding bulls and baby-sitters"
Homem Khasi
Essa frase já mostra o grande descontentamento de uma parte da população Khasi em relação a sociedade matrilineal. Dessa insatisfação surge a Campanha Syngkhong Rympei Thymai (SRT) que quer promover reformas nas estruturas familiares. A proposta não para por ai, a campanha quer alcançar mais do que mera igualdade como mostra Kaith Pariat, líder e porta-voz do SRT: "Homens são dotados de liderança natural. Eles devem proteger as mulheres, que em troca deve apoia-los". Pariat inclusive usa o sobrenome paterno ignorando seus costumes e afirma que a matrilinearidade está criando homens aquém de seu potencial, afirmando que entre seus efeitos negativos está o alcoolismo e o abuso de drogas entre os homens. A campanha formou sua plataforma em 1990, em busca de lidar com as questões da comunidade masculina e ouvir seus "desconfortos". O SRT conta com cerca de 3000 membros porem a maioria são silenciosos, pois temem desafiar suas tradições. A Campanha é composta majoritariamente por homens porem também apresenta alguns membros femininos, maioria são mães dos estados fronteiriços que temem que seus filhos sejam submetidos a uma mulher Khasi.
Surge o primeiro questionamento: Os movimentos de direitos dos homens Khasi faz sentido? Para isso é necessário analisar o papel do homem na sociedade Khasi. O sistema matrilineal Khasi não é matriarcal, as mulheres não tem poder politico. O Parlamento local é composto apenas por quatro mulheres em um total de 60 membros. Analisando os discursos locais pode-se ver a contradição. Enquanto Iwbih Tariang, uma mulher Khasi, afirma que mesmo vivendo em uma sociedade matrilineal se trata os pais como sendo o chefe da família e afirma que são eles que tomam as decisões familiares importantes, o líder do SRT afirma que os homens não apresentam papeis de pais e tios, no qual ele entende como sendo do protetor e o ganhador do pão. Dai surge uma nova indagação: Essa ideia sobre o que o papel do homem na sociedade veio de onde? É complicado afirmar que os homens Khasi não são marginalizados, porém considerando que eles possuem poder político e como já foi mostrada, a origem da matrinealidade não se decorreu devido à ideologia da dominância feminina, e sim de um contexto histórico próprio, é imperativo afirmar que esses homens não são subordinados, mas são frutos de uma diferente construção social. Um conceito que acho fundamental incorporar em nossas vidas e concepções é o de "múltiplas modernidades" de Shmuel Eisenstadt que afirma não haver apenas uma modernidade. Uma implicação desse termo é que a modernidade e a ocidentalização não são iguais, os padrões ocidentais da modernidade não são as únicas "verdadeiras" modernidades. Nesse caso, reitero que não só o padrão ocidental, mas o patriarcal, porque achar que o moderno ou o certo é o homem subjugando a mulher? Para Einsenstadt, "múltiplas modernidades" implicam também em um modo distinto de construção de fronteiras de coletividades e de identidades coletivas. De total encontro com isso, Patricia Mukhim, editora do Shillong Times, discorre: "I tend to think Khasi men feel diminished in their manhood compared with outsiders. It's a pitty, because that's what distinguishes us from the others". O encontro do homem Khasi com o resto do mundo traz a reflexão que a quase regra geral é a sociedade patriarcal e dessa forma surge seu incomodo de ser a pequena exceção. Muito mais do que subordinação, esses homens sentem o peso da ideia do ser moderno e não moderno, do ser normal e anormal. O fato que seus filhos recebem o nome da sua mulher e não o seu. Esse sentimento faz com que esse homem se sinta diminuído em uma sociedade extremamente patriarcal que é a indiana.
Dessa forma pude analisar nesse ensaio que o ato de se tornar um homem necessita necessariamente a dominação feminina, a patrilinearidade e o controle de tudo que transpassa a sociedade em que vive. As sociedades Mosuo, Khasi e Minangkabau apresentam características peculiares comparadas à maioria das sociedades do mundo, porém o papel do homem também é tido como fundamental. Principalmente no âmbito político, a participação dos homens é muito relevante nessas sociedades. Apesar de movimentos como o SRT, os homens não são subjugados pelas mulheres como em outras sociedades tribais patriarcais. O principal ponto que leva a revolta é que "to become a man" não se baseia apenas na performance escolhida por parte do individuo, mas de uma interpretação cultural sob a percepção do gênero presente em nossa sociedade moderna.

















Referências Bibliográficas
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