Múltiplas lesões num esqueleto masculino proveniente da necrópole (medieval/moderna) de Santa Maria dos Olivais, Tomar

November 22, 2017 | Autor: Ana Curto | Categoria: Paleopathology
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Múltiplas lesões num esqueleto masculino proveniente da necrópole (medieval/moderna) de Santa Maria dos Olivais, Tomar *[email protected]

Ana Curto1*, Cláudia Relvado1, Teresa Fernandes1,2 1 Universidade

de Évora 2 CIAS

Resumo O esqueleto SMOL-362, diagnosticado como um indivíduo adulto maduro do sexo masculino, foi exumado da necrópole medieval/moderna de Santa Maria dos Olivais, Tomar. Este indivíduo apresenta diversas lesões no esqueleto pós-craniano incluindo lesões traumáticas, infeciosas e degenerativas articulares e não articulares. Estas lesões indicam que o indivíduo em estudo teria uma atividade física muito intensa e que sobreviveu a várias lesões traumáticas

Palavras chave Introdução A atividade física tem grandes implicações na história demográfica de uma população e pode ser inferida através do estudo patológico e não patológico das alterações articulares e alterações de entese, as quais apresentam um elevado grau de variabilidade, dependendo da amostra em estudo.

Materiais e Métodos O esqueleto em estudo (SMOL-362) foi recuperado de uma necrópole utilizada entre o século XIII e XVIII associada à igreja de Santa Maria dos Olivais em Tomar. Todas as lesões observadas neste indivíduo foram registadas macroscopicamente e quando relevante recorreu-se a radiografias. Registaram-se também as patologias degenerativas, tanto articular como não articular, em todos os ossos disponíveis.

Resultados e discussão O indivíduo SMOL-362 foi diagnosticado como pertencendo ao sexo masculino (Buikstra e Ubelaker, 1994) com uma estatura de aproximadamente 1,65 m (Olivier, 1978). Porém, o seu estado de conservação não permitiu determinar um intervalo etário, pelo que apenas sabemos tratar-se de um adulto maduro. Este esqueleto apresenta lesões traumáticas em 2 ossos dos pés: • Uma fratura consolidada na diáfise do segundo metatársico esquerdo (Figura 1), que não foi bem alinhada sendo possível observar uma sobreposição entre os dois fragmentos, resultando num encurtamento e deformação do osso. Esta lesão pode tratar-se de uma fratura de stresse uma vez que as lesões nos metatársicos podem estar relacionadas com atividades como a marcha, a dança ou estar muito tempo em pé (Waldron, 2009). Os ossos adjacentes ao metatársico lesionado apresentam deposição de osso novo. • Na 1ª falange proximal direita observa-se um sulco na sua superfície articular proximal (Figura 2) e porosidade na sua extremidade distal. Este sulco pode dever-se a uma fratura de compressão, uma vez que corresponde com a margem lateral do côndilo na extremidade anterior do 1º metatársico e que se encontra mais desenvolvido que o seu simétrico.

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Patologia degenerativa, patologia traumática, patologia infeciosa, Tomar. Observaram-se também alterações de entese em todos os ossos longos e ossos dos pés, principalmente: • nas inserções do grande dorsal, peitoral maior e cabeça lateral do tríceps (grau 3: Crubézy, 1988), sendo estas especialmente exuberantes no úmero direito, o qual também é mais robusto e com maior largura biepicondilar; • nas inserções dos ligamentos obturador interno, adutor magno e cabeça medial do gastrocnémio do fémur direito (grau 3: Crubézy, 1988); • na inserção do tendão calcâneo em ambos os calcâneos (grau 3: Crubézy, 1988); • osteofitose nos corpos das vértebras lombares no local de inserção dos ligamentos amarelos (grau 3: Crubézy, 1988) em pelo menos 2 vértebras torácicas Em relação à patologia degenerativa articular, este indivíduo apresenta também: • artrose de grau 3 (Global History of Health Project) na extremidade proximal das clavículas; • artrose de grau 3 (Global History of Health Project) nas facetas articulares das vértebras torácicas (Figura 3) e lombares. Observou-se também wooven bone nas tíbias, ossos dos pés e em 3 fragmentos de costelas (Figura 4), nas quais também se observaram lesões líticas.

Conclusão Após a analise das lesões patológicas presentes no individuo podemos concluir que este teve uma atividade física intensa durante a sua vida, tendo passado por inventos traumáticos, infeciosos e degenerativos. Observou-se uma maior alteração da entese e artrose nos membros direitos que indica que o individuo seria destro e as lesões em ambos os pés sugerem que o mesmo passava muito tempo em pé ou em marcha. Este indivíduo é interessante pela sua quantidade, diversidade e dispersão de lesões e dada a cronologia em estudo, pode estar associado a profissões como ferreiro, trabalhador rural, soldado, etc.

Referências bibliográficas • Buikstra, J. E.; Ubelaker, D. H. (Ed.). 1994. Standards for data collection from human skeletal remains. Arkansas Archaeology Survey Research Series, 44. • Crubézy, E. 1988. Interactions entre facteurs bio-culturels, pathologie et caractéres discrets: example d’une population medieval. Thèse de Doctorat. Montpellier, Université de Montpellier. [Monografia não publicada]. • Waldron, T. 2009. Paleopathology. Cambridge University Press, Cambridge. • Global History of Health Project - http://global.sbs.ohiostate.edu/european_module.htm. [Acedido em 15.08.2010].

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Figura 1 – Segundo metatársico esquerdo. A) Fotografia. B) Radiografia

Figura 2 – Articulação proximal da primeira falange proximal direita.

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B Figura 3 – Vértebras torácicas. A) Vista posterior, B) Vista anterior.

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Figura 4 – Lesões em fragmentos de costelas esquerdas. A) vista superior, B) e C) face exterior.

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