NA GRANDE METRÓPOLE MUNDIAL DESCENTRADA, LOGOS, VERDADE E MATÉRIA EM NUNO RAMOS

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NA GRANDE METRÓPOLE MUNDIAL DESCENTRADA, LOGOS, VERDADE E MATÉRIA EM NUNO RAMOS

1. UM ARRASAMENTO SOBRE A IDEIA DE CLÁSSICO O afresco de Rafaello Sanzio (Rafael) A Escola de Atenas, que se encontra na Stanza della Segnatura, no Vaticano (JANSON, 2001, p. 661-662), semelha ser uma alegoria bastante clara, construída a partir de personagens da História das Ideias, no Ocidente, daquilo que se pode chamar de essência da cultura clássica, no entender deste pesquisador: a junção do racionalismo idealista (e místico, mas não

Copyright by Ernesto de Souza Pachito (author) religioso) representado por Platão e do empirismo sistemático indutivo e catalográfico representado por Aristóteles. No sincretismo cristão-mágico, que parece ter-se dado na Renascença (e aqui, tratase da alta Renascença italiana da pintura), o mundo suprassensível das ideias platônicas está localizado num Céu suprassensível (notemse as maiúsculas), região para a qual Platão aponta, e, por outro lado, vê-se Aristóteles simular um plano geométrico com a palma da mão, paralelo à superfície da terra. O braço erguido de Platão mais a linha de topo do plano da palma de mão de Aristóteles configuram uma cruz, figura estável porque paralela, duplamente, em relação às 37

margens vertical e horizontal de uma suposta moldura para a cena dos dois filósofos, disposta no centro do afresco (WÖLFFLIN, 1989, p. 135-168). Representação alegórica de oposição complementar, tal imagem é talvez a que mais diz sobre os classicismos de até então. Onde estariam, nessa obra, que faz alusão a uma certa metafísica, questões problemáticas para várias abordagens críticas da metafísica, como a dicotomia cartesiana famosa, a que opõe corpo e alma? Resposta: em lugar algum, nem mesmo no próprio Descartes, um autor que passou pelo gnosticismo (DESCARTES, 1950, p. 4) e, aliás, nasceu depois da

Copyright by Ernesto de Souza Pachito (author) execução de tal afresco. Tal separação entre res extensa e res cogitans não é encontrável nem mesmo em Leibniz (LEIBNIZ, 1996, p. 6), nem mesmo em Newton, todos eles gnósticos com acesso a conhecimentos não compartilhados com a totalidade da sociedade da época. Mas, nada mais diferente da alegoria descrita acima que o panorama, social e cultural, que ensejou, ou exigiu, da “filosofia natural” o nascimento de um métier chamado "engenharia", ou, mais amplamente, "tecnologia". Ora, “filosofia natural” foi o nome dado à

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Física na obra de Newton (2002), Princípios matemáticos da filosofia natural. Tal “filosofia” foi renomeada e/ou difundida como “ciência”, ciência positiva, é claro, durante o Iluminismo. Da geometria mágica dos pitagóricos e dos renascentistas, passando pela arte gótica, mantida esotérica, de traçado e construção das grandes catedrais do tardo-medievo, até aquela geometria que balizava o traçado de plantas para a construção das pontes, máquinas a vapor da Revolução Industrial, época da acumulação primitiva, segundo Marx (MARX, 1975, p. 828-882). Utilizando-me do termo de Felix Guattari (1992), eu diria que um

Copyright by Ernesto de Souza Pachito (author) arrasamento semântico de profundas consequências fora operado por

tal cultura que, a partir da acumulação primitiva de Capital, buscou auferir um substancial e decisivo aumento na mais-valia obtida sobre o trabalho (mal)assalariado de então, sobre todo o corpus teórico em circulação no Ocidente desde antes dos pré-socráticos, em suma sobre todo o conhecimento humano. Da astrologia à astronomia, da alquimia à química, em algum momento, como efeito colateral do movimento que, no iluminismo, transforma a moral de questão espiritual em questão natural

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dependente de estudos positivos, médicos e sociais (ROUANET, 1987, 147-192), aquilo que tinha uma dimensão simbólica, veja-se o conceito de símbolo em Goethe (ECO, 2000, p. 72-74) passa a ter um uso meramente pragmático, e, toda a educação, antes “culta”, agora científica, aparta-se do conhecimento artístico e místico e o mundo é lançado na angústia de um novo desterro adâmico ou de uma condenação prometeica. A cultura do Romantismo do século XIX tenta opor-se, ao que tudo indica, a tal Frankenstein pretensamente iluminista, em vão. Nem a relativização do conceito de Iluminismo, encetada por Adorno e Horkheimer em seu Dialética

Copyright by Ernesto de 1985, Souza Pachito (author) do Esclarecimento (ADORNO, 17-46), tornará claro o problema, até porque a clareza sai da moda acadêmica. Mas, como dizem Sergio Paulo Rouanet em seu As Razoes do Iluminismo e Robert M. Pirsig, em seu O Zen e a arte da manutenção de motocicletas, só o Iluminismo salvará o Iluminismo de si mesmo (ROUANET, 1987, 11-36) e só o "sistema" resolverá os problemas do "sistema” (PIRSIG, 1984, p. 11-42). E, desde o século XVI, ainda antes do advento do Cogito cartesiano, o homem branco, europeu e católico, e logo a seguir o protestante, como se sabe, tentou exportar e impor sua metafísica a quase todo o 40

planeta, gradativamente, principalmente às Américas, criando um discurso cultural paradoxal (a seguir explico) mantido oficial, marginalizando, ou reprimindo imensas maiorias étnicas sendo que, no fim, tais maiorias étnicas reprimidas estavam mais afins com o sentido original da cultura clássica do que a ficção de clássico que a cultura ocidental gradativamente criou, de forma mais oficial, a partir de Santo Agostinho (já com status de Doutor da maior instituição religiosa, e ideológica, do planeta) de Tomás de Aquino. Isso está em Nietzsche, um pensador da segunda metade do século XIX, morto em 1900, na sua obra A Origem da tragédia no espírito

Copyright by Ernesto de Souza Pachito (author) da música, como é notório. O elemento pulsional que estava junto do elemento apolíneo, mesmo no classicismo grego, segundo Nietzsche, será, muito provavelmente, ainda mais "arrasado", aplainado, perdendo relevância e sendo associada à desordem social pela Revolução Industrial de fins do século XVIII e o aparato cultural e científico que dela adveio. Tal elemento, dionisíaco, já fora considerado pecaminoso, é claro, pelo próprio cristianismo (NIETZSCHE 2006, p. 13-34). Mesmo a arte, depois do que se chamou paleocristão, já na época bizantina, afastar-se do realismo de

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reprodução, ou seja, da mimese realista (GOMBRICH, 2011, p. 117141). A dicotomia radical entre corpo e alma foi enfatizada ainda mais pela moral cristã durante muito tempo, e creio que até hoje, e pode ter sido reafirmada pela ciência do século XVIII, pela própria dificuldade de se tratar o tema do enlace entre as duas instâncias, o que acabou por perenizar tal dicotomia. Descartes, na sua “Sexta Meditação” (DESCARTES, 1996, p. 317-337) e nos textos referentes à defesa das suas “Meditações”, ou seja, nas “Objeções e respostas” (DESCARTES, 1996, p. 340-427) afirmou a composição de “um

Copyright by Ernesto de Souza Pachito (author) único todo” formado por corpo e substância pensante (DESCARTES, 1996, p. 328-329). Não citarei por economia de espaço, mas as páginas estão aqui precisamente referidas. Resumindo e aplicando ao objeto de estudo o excurso acima, Nuno Ramos (2008), em sua obra Ó, seguindo e resgatando uma ala majoritária

do

modernismo,

critica

um

pressuposto

básico

etnocêntrico que foi a precedência do mundo inextenso da linguagem sobre a matéria do mundo.

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2. NUNO RAMOS: JUSTAPOSIÇÕES DO MERAMENTE DIVERSO Em termos estéticos, o século XX, que empreendeu a tarefa de desconstruir a lógica racionalista e, também, desconstruir o gesto iluminista de tentativa de desvelamento do mundo através, inclusive, de uma linguagem inequívoca, de referência e designação pretensamente precisas. Tal século termina, de certa forma, num total ecletismo artístico, como delineia Italo Moricone, em seu texto (2004), “A Problemática do pós-modernismo na literatura brasileira: uma introdução ao debate”.

Copyright by Ernesto de Souza Pachito (author) Infere-se, em relação a este período, a ausência de um nomos, uma regra, escola, estilo, ou mesmo uma orientação clara para a ação artística, coisa que aparentava existir no modernismo das primeiras vanguardas do século XX, apesar da diversidade dessas. A ideia central de ruptura com as academias de Belas Artes, com as formas miméticas (figurativismo em pintura e escultura) e ainda conciliadas numa espécie de empatia com o observador (já problemática no século XIX, da invenção da fotografia e industrialização

nascente,

veja-se

o

caso

da

empatia

do

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impressionismo), ou, a ideia de ruptura com uma espécie de consonância, de harmonia, que será reestruturada de acordo com outras regras, com outra racionalidade, inclusive, em certos movimentos, com caráter místico esotérico ou gnóstico, como foi a obra de Piet Mondrian e boa parte da arte russa de vanguarda, anterior ao Realismo Socialista de Stalin (ARGAN, 1992, p. 263506), todo esse movimento de ruptura e atualização de uma ideia de poética (de certa forma usada pela cultura burguesa do século XIX e transformada na Segunda Revolução industrial e no alvorecer da Primeira Grande Guerra) pareceu ver-se frente a sério impasse.

Copyright by Ernesto de Souza Pachito (author) Um possível mal-estar causado, na modernidade, por uma

impossibilidade de se lidar na condição humana com as coisas elas mesmas e os fatos eles mesmos, e, mesmo, de só se poder lidar com algo de que só se conhece a aparência, pode ter sido resolvido pela solução conciliadora de Martin Heidegger (HEIDEGGER, s/d., p. 44), segundo a qual tudo está no fenômeno, embora nem tudo do fenômeno tenha se dado a ver ainda, sendo a Coisa coincidente com sua manifestação.

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2.1 NUNO RAMOS: DESCONSTRUINDO A METAFÍSICA DA LINGUAGEM. Nuno Ramos, em Ó, parece tentar realizar a convergência de Coisa e linguagem que a nomeia ou percepção que constrói representações sobre ela (A Coisa-em-si sendo vista, a partir de Kant (KANT, 1996, p. 23-98), como de acesso negado à inteligência humana). Nuno tenta forçar até à ruptura a “membrana de representações” (termo meu) que há entre nós mesmos e qualquer objeto que se nos possa apresentar, principalmente, objeto matérico, dotado de substância física, oriundo da physis, da natureza.

Copyright by Ernesto de Souza Pachito (author) Como eu disse, isso desconstrói um etnocentrismo explícito na ideia de que a linguagem, em sua metafísica de representação, é preponderante sobre o mundo das coisas, a serem catalogadas pela razão, dos corpos humanos, a serem “domesticados” e contidos, ao mundo como oposição a um corpus teórico que sempre se coloca como o explorador e o conquistador sobre o mundo material, mundo este que nos escapa enquanto “Coisa-em-si” de Kant (KANT, 1996, p. 23-98), estando todos nós confinados no universo das representações. É contra o extremismo de um distanciamento das

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instâncias cultural, religiosa e científica, em relação à “vida”, o que quer que este último termo venha a significar, que se levanta o pensador-filólogo Nietzsche (2006), não só no seu O Crepúsculo dos ídolos (NIETZSCHE, 2006, p. 7-29), mas, em toda a sua obra. Talvez aqui caiba uma reflexão sobre a natureza mesma, a física das coisas, e a interface de Ramos com as ciências e engenharias pode revelar o que há de modernista nesse autor. Basta que se veja a valorização que o início do século XX faz da engenharia e sua funcionalidade, em detrimento das chamadas “Belas Artes”, acadêmicas, remanescentes das práticas artísticas do século XIX,

Copyright by Ernesto de Souza Pachito (author) estando entre elas a arquitetura eclética. A necessidade da arquitetura moderna em romper a continuidade da tradição acadêmica, que em todas as artes visuais estava plena de metafísica – plena do modo renascentista de representação do mundo através de uma janela, trompe l’oeil, tridimensional –, deu-se no sentido de uma valorização da materialidade do objeto artístico já em Picasso e Bracque, nas colagens de fragmentos do mundo material sobre o espaço de representação da tela cubista (antecipada em Courbet de outra forma, na presença material de um empasto – as massas de tinta que representavam rochedos, terra e até o corpo humano por meio de 46

forte evocação sinestésica – porque também tátil – da materialidade de tais entes). Tal valoração sobre a materialidade do mundo e da obra de arte revela-se também no sentido de uma valorização do funcionalismo

e

do

maquinismo

(nos

construtivismos

e

racionalismos da arte do início do século XX) e, ao mesmo tempo, de uma crítica e problematização de ambos os aspectos. Vejam-se as obras dadaístas de Marcel Duchamp e Picabia (ARGAN, 1992, p. 263-506). No entanto, Nuno Ramos, em sua obra de artes plásticas, não faz arte puramente conceitual, faz obras de arte que trazem em si, de forma

Copyright by Ernesto de Souza Pachito (author) inseparável do material e do tratamento do mesmo, e imanente a eles,

uma crítica a todo o panorama das obras da História da Arte, ou desde, pelo menos, o Renascimento. Nuno parece superar, ou atravessar, aquilo que a Arte Conceitual imprimiu a tal História: num momento

de

suposto

esgotamento

das

pesquisas

sobre

a

representação, a aposta dos artistas no conceitualismo parece esvaziar o cenário, nas últimas três décadas do século XX, de artistas que apostem na tekhné, na confecção elaborada e minuciosa do “texto”, tecido do corpo da obra de arte. Tal competência ou habilidade, leia-se tékhné, novamente, é habilidade formalista, no ato 47

da composição e disposicao do material poetico, mas não só: existe uma habiliddae relacionada: aquela constituída por uma habilidade em relação ao material em si e um gerenciamento “estésico” de tal material: são texturas, combinações, ocorrências, eventos físicoestéticos muito mais que "arquiteturas" do material. Falando de literatura, a pesquisadora Vilma Arêas, expõe em “As metamorfoses de Nuno Ramos” (ARÊAS, 2011, p. 3) um fator inibidor operado por “modelos paralisantes” e a “exigência da obra prima”. Nuno Ramos, segundo Arêas, ressalta tal intenção de liberdade em Mira Schendel, que teria evitado a “tentação de

Copyright by Ernesto de Souza Pachito (author) virtuose” (RAMOS apud ARÊAS, 2011, p. 3).

Porém, apesar de tal liberdade, cumpre dizer que ela se estabelece como mudança, ou ajuste significativo, de paradigma formal, ou como abertura de novas possibilidades, de novas estruturações construtivas no texto literário, cujas peculiaridades, caso se estendam a outras obras do mesmo escritor ou a obras de outros escritores, poderão encaminhar-se no sentido de configurar um "estilo" ou uma “escola” que poderá rumar para uma fase “alta”, posteriormente, um "alto neo-modernismo", mas isso em tese. Um sinal importante disso,

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na obra de Nuno Ramos, é seu vislumbre de possibilidade de desenvolvimento

formal,

que

poderia

ser

num

viés

desconstrucionista (mas não é bem assim), após aquilo que supomos ter sido um desencanto dito “pós-modernista” com a pesquisa formal, porque já levada, tal pesquisa, a extremos desdobramentos pelo movimento mais tipicamente modernista. Se a relação significante-significado é, pelo menos desde Saussure, problemática (visto o significante ser imagem acústica de uma ideia geral, sendo esta última o significado, em Saussure), Nuno Ramos parece trabalhar com a desconstrução da ideia de Fenollosa de

Copyright by Ernesto de Souza Pachito (author) ideograma: a de que duas coisas postas lado a lado produzem uma terceira que não

é

propriamente coisa,

mas é

“relação”

(FENOLLOSA, [s/d.], p. 124), como uma espécie de campo significante relacional, ou um campo-representâmen, na terminologia peirceana. As coisas, na literatura de Nuno Ramos, continuam superpostas, diversas e continuam “coisas” com toda a irregularidade de seus contornos e do coletivo final que é resultado (disjunto) de tal justaposição sequencial.

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Nuno Ramos parece negar tal avidez da poética ideogrâmica em construir sínteses de sentido a partir da justaposição de parcelas ideogrâmicas. O que prevalece na literatura de Nuno Ramos é a evocação da irregularidade de materiais diversos, cujos “nomes”, na impossibilidade de se fazer literatura diretamente com “coisas”, são justapostos. Vejamos uma passagem do capítulo 22 “Epifanias, provas, erotismo, corpo-sim, corpo-não”: Pedregulhos, tênis antigos, programas de televisão, velhos conhecidos, estão todos sujeitos a um estranho fenômeno; podem despertar para nós. Frutas, velhas palavras, um simples aperto de mão – a epifania ronda a morte em vida e a melodia azul, a bofetada de quem gargalha, o marulho rouco de nossa voz, catapultados pela mola que já havia neles, mas dormida, saltam desde a penugem que roça o que em nós é mais profundo e leve. [...]. (RAMOS, 2008, p. 245).

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Em tal passagem pode-se perceber a diversidade de objetos, substâncias e estatutos ontológicos (veja-se a diferença entre “frutas” e “velhas palavras”, uma delas signo de coisa e outra, signo de signo) postos lado a lado. Em tese, na teoria de Ernest Fenollosa (FENOLLOSA apud CAMPOS, [s/d]), o contato, ou proximidade sensível entre dois de tais termos configuraria uma relação que, ela

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mesma, teria sentido diferente daquele que se pode auferir de cada termo individualmente considerado. O que eu pergunto é: até que ponto podem-se unir, ou melhor, subsumir (numa “relação”) tais “coisas” (em Fenollosa, as “coisas” são os elementos de linguagem, os signos num nível mais concreto)? Ou seja, podem-se estabelecer categorias, ou relações categoriais, que são (em termos peirceanos) Intepretantes, ou seja, configuram sentidos nos quais as diferenças individuais entre os termos se homogeneízam, no texto de Nuno Ramos? Esperamos by ter levantado questões que iluminem a obra de(author) Nuno Copyright Ernesto de Souza Pachito Ramos e balizem não só a crítica contemporânea de literatura, mas a própria produção técnica e poética na área, sem pretensão nem afetação de genialidade crítica nossa. Por “técnica”, eu gostaria de me referir à estruturação, como disse, do “material” literário que se liga na modernidade, no mínimo a partir de Baudelaire, a questões da existência humana que não podem ser relativizadas por qualquer niilismo. Mas persiste a necessidade de ultrapassamento de modelos mais “utilitários” da obra de arte, onde, muitas vezes a vontade de transformação social domina o valor existencial, como disse, da obra,

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isso num sentido encontrável em Heidegger e sua caracterização do Dasein, como ente que problematiza seu próprio ser. O que vimos, nos últimos 10 anos de política cultural no Brasil, foi justamente a pragmática de uma arte voltada a certo populismo. Mas todo este excurso revela uma única preocupação: a desconstrução da metafísica da linguagem, inclusive nas Artes Visuais, ou plásticas. A janela

italiana

renascentista,

simulada

sobre

a

superfície

bidimensional da tela, a partir do estudo da Geometria Projetiva e pelos artistas-pesquisadores do Renascimento, é eliminada nos objetos-colagens plásticos de Nuno Ramos, trazendo à toda tal autor,

Copyright Ernesto de Souza Pachito o cheiro dosby óleos, graxas e secreções da sociedade industrial (author) que se construiu sobre as ruínas da ciência mística, logo simbólica, do Renascimento. Esta obra naturalista transformou-se em ciência positiva e veja-se o que se abate sobre o mundo diversificado em culturas e pontos de vista à mercê dos imperialimos, que se formam desde o século XVI, e que, nos séculos subsequentes tornam-se, inclusive, responsáveis pelo flagelo da escravidão negra.

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