Neurobiologia da Personalidade

July 17, 2017 | Autor: Danilo Victor | Categoria: Psicologia
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Neurobiologia da Personalidade   Temas e Prática do Psiquiatra V. 32 N.62-63 P. 1-152 Jan / Dez 2002 São Paulo

Décio Gilberto Natrielli Filho Resumo O estudo da personalidade envolve diferentes campos da psiquiatria e psicologia, recebendo influências da antropologia, sociologia, filosofia e, atualmente, mais do que nunca, da biologia e da genética. Este trabalho tem como objetivo o estudo dos fatores biológicos envolvidos na determinação dos traços de personalidade e de seus distúrbios, citando contribuições dos diversos campos da psiquiatria, com uma ênfase no modelo dimensional de Cloninger e col. do temperamento e caráter e suas aplicações para o estudo do comportamento humano. Unitermos: Personalidade, Neurotransmissores, Psicobiologia Introdução Gordon Alport definiu a personalidade como “uma organização dinâmica, dentro do indivíduo, daqueles sistemas psicofísicos que determinam seus ajustamentos únicos ao ambiente”. O termo “organização dinâmica” enfatiza o fato de que personalidade está constantemente se desenvolvendo e mudando, embora, ao mesmo tempo, exista uma organização ou sistema que une e relaciona os vários componentes da personalidade. O termo “psicofísico” lembra que a personalidade não é nem exclusivamente mental nem exclusivamente neural. A organização envolve a operação do corpo e da mente, inextrincavelmente fundidos em uma unidade pessoal. A palavra “determinam” deixa claro que a personalidade é constituída por tendências determinantes que desempenham um papel ativo no comportamento do indivíduo: “ A personalidade é alguma coisa e faz alguma coisa... Ela é o que está por trás de atos específicos e dentro do indivíduo”. É amplamente aceito que a personalidade se desenvolve através da interação de disposições hereditárias e influências ambientais. Do ponto de vista estrutural, a maioria dos autores concordam que a personalidade consiste de temperamento, caráter e inteligência. Resumidamente, o temperamento reflete as contribuições biológicas e o caráter reflete as contribuições culturais e sociais para a personalidade. A inteligência influencia tanto os traços constitucional e social e modifica as funções da personalidade em uma totalidade. As funções básicas da personalidade são sentir, pensar e incorporar estes em comportamentos intencionais.

É amplamente aceito que a personalidade se desenvolve através da interação de disposições hereditárias e influências ambientais. Do ponto de vista estrutural, a maioria dos autores concordam que a personalidade consiste de temperamento, caráter e inteligência. Resumidamente, o temperamento reflete as contribuições biológicas e o caráter reflete as contribuições culturais e sociais para a personalidade. A inteligência influencia tanto os traços constitucional e social e modifica as funções da personalidade em uma totalidade. As funções básicas da personalidade são sentir, pensar e incorporar estes em comportamentos intencionais. Para Kurt Schneider, “A personalidade compreende os sentidos, as tendências não corpóreas e a vontade. Esses três aspectos com certa razão, isoladamente.”. Com uma grande importância conceitual, separa “no ser psíquico individual, dentre inúmeras características particulares”, três complexos de propriedades: a inteligência, a vida dos sentimentos e impulsos corpóreos (vitais) e a personalidade. Wang e col. complementam afirmando que, “a partir desta visão, o indivíduo é constituído de três partes: personalidade, funções cognitivas e sentimentos e instintos vitais que estão em íntimas relações recíprocas”. Theodore Millon, citado por Gunderson col., declarou que a personalidade consiste de modos de funcionamento psicológico arraigados, difusos, resistentes e habituais que caracterizam o estilo de um indivíduo. Nas palavras de Millon, “dada uma continuidade no equipamento biológico básico, e uma faixa estreita de experiências para aprender alternativas comportamentais, a criança desenvolve um padrão distintivo de características que estão fortemente enraizadas, não podem ser facilmente erradicadas e penetram em cada faceta de seu funcionamento. Em resumo, estas características são e essência e a soma da sua personalidade, sua maneira automática de perceber, sentir, pensar e comportar-se”. Portanto, segundo Millon, quando falamos de um padrão de personalidade, estamos nos referindo a essas maneiras de funcionamento intrínsecas e penetrantes que emergem de toda a matriz de história do desenvolvimento do indivíduo e que agora caracterizam suas percepções e seus modos de lidar com o seu ambiente. Nenhum grupo demográfico está imune aos transtornos de personalidade (TP). Estima-se que a prevalência para estes transtornos na população geral varie de 11 a 23 %, dependendo da severidade do comprometimento requerido para o diagnóstico. Estes indivíduos apresentam prejuízos a longo prazo em sua capacidade para trabalhar e amar e tendem ser menos educados, solteiros, toxicômanos, desempregados e apresentam dificuldades nos relacionamentos conjugais. Ainda mais, vários perpetradores de crimes violentos ou não, assim como a maioria dos internos de penitenciárias, apresentam um transtorno de personalidade. Por definição, um transtorno de personalidade desenvolve-se já na infância ou na adolescência, permanece relativamente imutável ao longo da vida do indivíduo e constitui o seu modo habitual de ser. O transtorno de personalidade leva a algum grau de sofrimento (angústia, solidão, sensação de fracasso pessoal, dificuldades nos relacionamentos); contudo, este sofrimento pode se tornar aparente apenas tardiamente em sua vida. Wang e col. descrevem também que o conceito desenvolveu-se a partir da observação de criminosos, conotando freqüentemente um caráter pejorativo nas suas sinonímias: psicopatia, sociopatia, personalidade dissocial ou anti-social, insanidade moral entre outros. Sonenreich e col. propõem que “o diagnóstico de Personalidades Patológicas pode ter sido justificado pela necessidade de situar condutas anormais, em geral anti-sociais, praticadas por pessoas sem doenças qualificadas, que as tornem incapazes de entender a natureza de seus atos ou de controla-los”. Em psiquiatria, aproximadamente metade de todos os pacientes apresentam um transtorno de personalidade, freqüentemente em comorbidade com

também que o conceito desenvolveu-se a partir da observação de criminosos, conotando freqüentemente um caráter pejorativo nas suas sinonímias: psicopatia, sociopatia, personalidade dissocial ou anti-social, insanidade moral entre outros. Sonenreich e col. propõem que “o diagnóstico de Personalidades Patológicas pode ter sido justificado pela necessidade de situar condutas anormais, em geral anti-sociais, praticadas por pessoas sem doenças qualificadas, que as tornem incapazes de entender a natureza de seus atos ou de controla-los”. Em psiquiatria, aproximadamente metade de todos os pacientes apresentam um transtorno de personalidade, freqüentemente em comorbidade com transtornos do Eixo I. Os fatores de personalidade interferem com a resposta ao tratamento de todas as síndromes do Eixo I e aumentam a incapacitação pessoal, a morbidade e a mortalidade destes pacientes. Transtornos de personalidade são fatores predisponentes para vários transtornos psiquiátricos, incluindo abuso de substâncias, suicídio, transtornos do humor, transtorno do controle dos impulsos, transtornos alimentares e ansiosos. Por estes e vários outros motivos o estudo da personalidade, desde sua descrição histórica até os modelos neurobiológicos e psicológicos atuais, tem importância na prática clínica dos hospitais e ambulatórios. A dificuldade no manejo dos casos que apresentam alterações significativas do funcionamento e convívio diário, dos pacientes em relação ao seu meio (externo e interno), pode ser facilitado pelo conhecimento dos diversos modelos sobre a personalidade ou dos seus transtornos e alterações. Este trabalho tem como objetivo descrever principalmente os modelos neurobiológicos (e psicobiológicos) sobre o temperamento, caráter, motivação, traços e definições sobre a personalidade e contribuições da psicologia e psicanálise para este área da psiquiatria. O Kaplan & Sadock´s Comprehensive Textbook of Psychiatry (seventh edition) descreve um modelo que engloba níveis filogenéticos hierárquicos do aprendizado e os relaciona com o desenvolvimento ontogenético do temperamento, caráter e conseqüentemente da personalidade. Alguns termos que foram traduzidos para a realização deste trabalho merecem ser detalhados. Para as dimensões do temperamento temos harm-avoidance, novelty seeking, reward dependence e persistence, os quais foram traduzidos respectivamente como: esquiva (evitar danos), exploratório (busca de novidades), dependência por recompensa (ou gratificação) ou dependente e pe r s i s tê nc i a . N a s di m e ns õ e s do c a r á te r te m o s s e l f - di r e c te dne s s , cooperativeness e self-transcendent, que foram traduzidos respectivamente como: auto-direcionamento, cooperatividade e auto-transcendência. Também temos que especificar os termos proposicional e procedural, correspondentes às palavras propositional e procedural respectivamente, que serão utilizadas para descrever as formas de memórias e de aprendizado para o modelo neurobiológico do temperamento e caráter. Evolução Histórica do Conceito – Tipologias Humanas ou Tipos de Personalidade

A primeira tipologia desenvolvida na história da medicina e da psicologia foi a resultante das concepções da escola hipocrática-galênica. Os escritos do médico Hipócrates de Cós (cerca de 460-377 a.C.) propunham a visão de que o corpo humano contém quatro humores essenciais – fleuma, bile amarela, bile negra e sangue - que eram secretados por diferentes órgãos, possuíam diferentes qualidades e variavam de acordo com as estações do ano. Nesse sentido, todas as questões médicas repousam sobre a teoria dos quatro elementos do filósofo pré-socrático Empédocles (500-430 a.C.), a saber: água, terra, ar e fogo. O cérebro era considerado como sendo a sede da vida e seu funcionamento normal exigia um equilíbrio entre os humores. Colp, cita o exemplo de que um excesso de fleuma levaria a uma forma de demência, a bile amarela causaria a raiva maníaca e a bile negra causaria a melancolia. Os aspectos psicológicos mais característicos dos quatro temperamentos são: Sangüíneo, Fleumático ou Linfático, Colérico ou Bilioso e Melancólico ou Atrabiliário. Esta teria sido a primeira tentativa de explicar as diferenças de temperamentos e personalidades, dando início, portanto, a um incessante estudo de classificações, tipologias e teorias, que se prolonga até a atualidade. Dentre os importantes filósofos da época, Platão (427-347 a.C.) dividia a alma em três partes: racional, apetitiva (desejos e ganância) e espirituralafetiva. A loucura ocorria quando a alma apetitiva perdia a influência sobre a alma reacional ou quando uma perturbação divina da alma produzia um comportamento destrutivo. Aristóteles (384-322 a.C.), discípulo de Platão, foi o primeiro a realmente descrever os afetos de desejo, raiva, medo, coragem, inveja, alegria, ódio e pesar. O conceito de transtorno de personalidade remonta ao século XIX. Pinel (1754-1826) descreveu o quadro de manie sans délire em 1809, cuja característica era o prejuízo das funções afetivas, particularmente instabilidade emocional e tendência dissocial, sem prejuízo da função intelectual e cognitiva. Tal concepção também aparece nos escritos de Esquirol sobre as monomanias afetivas e instintivas, em 1838. Também no final do século XIX e início do século XX, podemos descrever uma teoria de doença mental descrita por dois psiquiatras franceses, BenedictAugustin Morel (1809-1873) e Valentin Magnan (1835-1916), na qual salienta a hereditariedade como um importante fator no desenvolvimento das doenças mentais. Afirmavam que a predisposição poderia ativar-se lentamente e se transformar em uma doença pela transmissão repetitiva de pai para filho ou por ação de estímulos externos. Colp cita o psiquiatra italiano Cesare Lombroso (1836-1909), que em seus escritos O Homem Delinqüente, de 1876, e A Mulher Criminosa, de 1893, postulava que os criminosos representavam um fenômeno de degeneração biológica que podia ser identificado com base na aparência. Em 1835, Prichard, citado por Rutter, apresentou a descrição da “insanidade moral”, generalizando a concepção de Pinel. Maudsley, em 1874, falou da “privação congênita de senso moral”. O termo psicopatia foi introduzido por Koch em 1891, este autor afirmava que “até mesmo nos piores casos as irregularidades não seriam equivalentes a um distúrbio mental”, referindo-se a este último como os casos de insanidade e idiotia. Seu conceito de “inferioridades psicopáticas” envolvia a maioria das doenças mentais “nãopsicóticas” bem como o que atualmente chamamos de transtorno de personalidade ou psicopatia.

de degeneração biológica que podia ser identificado com base na aparência. Em 1835, Prichard, citado por Rutter, apresentou a descrição da “insanidade moral”, generalizando a concepção de Pinel. Maudsley, em 1874, falou da “privação congênita de senso moral”. O termo psicopatia foi introduzido por Koch em 1891, este autor afirmava que “até mesmo nos piores casos as irregularidades não seriam equivalentes a um distúrbio mental”, referindo-se a este último como os casos de insanidade e idiotia. Seu conceito de “inferioridades psicopáticas” envolvia a maioria das doenças mentais “nãopsicóticas” bem como o que atualmente chamamos de transtorno de personalidade ou psicopatia. Kurt Schneider publicou, em 1923, a monografia Personalidades Psicopáticas, que ainda hoje é citada como guia para a compreensão do tema. Escreveu que “as personalidades anormais são variações de uma faixa média que se tem em mente. Decisivo é o critério do termo médio, não uma norma de valor; Entre as personalidades anormais e os estados a serem classificados como normais há sempre transições sem limite algum”. Das personalidades anormais distingue como personalidades psicopáticas “aquelas que sofrem com sua anormalidade ou que assim fazem sofrer a sociedade. Ambas as espécies que cruzam. Cientificamente, o único conceito essencial é o de personalidade anormal no qual está incluído o conceito de personalidade psicopática”. Procura também, “em princípio”, distinguir rigorosamente as personalidades anormais das psicoses ciclotímicas e esquizofrênicas “que, com boas razões, são hipoteticamente mórbidas”. Schneider descreveu dez tipos de personalidade: hipertímicos, depressivos, inseguros de si (com os subtipos ansioso e obsessivo), fanáticos, necessitados de valorização, lábeis de humor, explosivos, frios de sentimentos, abúlicos e astênicos. Ele acentuou que descreveu os tipos predominantes e não as categorias distintas; a superposição entre os vários tipos é freqüente. Sigmund Freud, citado por Hall e col., foi provavelmente o primeiro teórico a enfatizar os aspectos desenvolvimentais da personalidade e em particular o papel decisivo dos primeiros anos do período de bebê e da infância como formadores da estrutura de caráter básica da pessoa. Complementam que, para Freud, a personalidade já estaria muito bem formada pelo final do quinto ano de vida e que o desenvolvimento subseqüente era praticamente só a elaboração dessa estrutura básica. Observando seus pacientes, chegou à conclusão de que suas explorações mentais os levariam de volta a experiências da infância inicial que pareciam decisivas para o desenvolvimento de uma neurose mais tarde na vida (“A criança é o pai do Homem.”). Freud diz que “as pulsões sexuais atravessam um complicado curso de desenvolvimento e só em seu final `o primado da zona genital´ é atingido. Antes disso há várias `organizações pré-genitais´da libido – pontos em que ela pode ficar fixada e aos quais retornará, na ocorrência de repressão subseqüente (`regressão´)”. Conforme completa Dalgalarrondo, para a psicanálise as “fixações” infantis da libido e a tendência à regressão (a estes `pontos´ de fixação) acabam por determinar tanto os diversos tipos de neuroses, como o perfil de personalidade do adulto. Particularmente importante, na concepção freudiana, é a trama estrutural inconsciente de amor, ódio e temor de represália em relação aos pais, o complexo de Édipo. Assim, a personalidade do adulto forma-se pela introjeção (sobretudo inconsciente) dos relacionamentos que se estabelecem no interior das relações familiares, em particular da criança pequena com os seus pais, e desses com ela. Conforme escrevem Hall e col., para Carl Gustav Jung, a personalidade total, ou a psique, consiste em vários sistemas diferenciados mas interrelacionados.Os principais são o ego, o inconsciente pessoal e seus complexos, e o inconsciente coletivo e seus arquétipos, a anima e o animus, e a sombra. Além desses sistemas interdependentes, existem as atitudes de introversão e extroversão e as funções do pensamento, do sentimento, da sensação e da intuição. Finalmente, existe o self, que é o centro de toda a

personalidade do adulto forma-se pela introjeção (sobretudo inconsciente) dos relacionamentos que se estabelecem no interior das relações familiares, em particular da criança pequena com os seus pais, e desses com ela. Conforme escrevem Hall e col., para Carl Gustav Jung, a personalidade total, ou a psique, consiste em vários sistemas diferenciados mas interrelacionados.Os principais são o ego, o inconsciente pessoal e seus complexos, e o inconsciente coletivo e seus arquétipos, a anima e o animus, e a sombra. Além desses sistemas interdependentes, existem as atitudes de introversão e extroversão e as funções do pensamento, do sentimento, da sensação e da intuição. Finalmente, existe o self, que é o centro de toda a personalidade. Weiner e col. falam da fase de 1906 a 1914, em que Jung esteve fortemente envolvido com Freud e com o movimento psicanalítico, poster i or mente r enunci ou à pr esi dênci a da Associ ação Psi canal í ti ca Internacional. Sonenreich refere-se à presença de Jung “na frente da sociedade psiquiátrica e da revista de psiquiatria nazista em 1938” como um fator negativo “ não somente pelo que o nazismo significou para o mundo inteiro, mas também especificamente pelas posições psiquiátricas nazistas, pelo tratamento criminoso dado aos doentes mentais”. Segundo Dalgalarrondo, uma das biotipologias mais marcantes na história da psicopatologia foi a do psiquiatra alemão Ernest Kretschmer. Servindo-se principalmente da ectoscopia, ou seja, da inspeção morfológica externa, da antropometria e de outros recursos complementares, Kretschmer começa por distinguir, no que concerne à arquitetura corporal, três tipos fundamentais: o leptossômico (astênico, em suas formas extremas), o pícnico e o atlético. Melo escreve que ao lado destes, Kretschmer veio a descrever ainda um quarto grupo algo heterogêneo e a que denominou tipos displásicos especiais. Neste grupo estariam incluídos indivíduos que, por algumas características comuns, lembrassem determinadas síndromes endócrinas. Segundo Melo, seriam os chamados “eunucóides de grande crescimento”, “ os acromegalóides”, com ou sem gigantismo e turricefalia (crânio em torre), os obesos, virilóides, hipoplásticos, etc.. Investigando um “ vasto material de enfermos mentais internados”, Kretschmer pôde concluir: 1º) que há uma forte prevalência dos tipos leptossômico e atlético entre os doentes diagnosticados de esquizofrenia; 2º) que há forte prevalência do tipo pícnico entre os doentes diagnosticados de psicose maníaco-depressiva; 3º) que são freqüentes os displásicos entre os esquizofrênicos e 4º) que são raros os displásicos entre os maníacosdepressivos. Melo completa que a partir daí passou a descrever, no domínio dos caracteres anormais, fronteiriços, as duas maneiras de ser antagônicas, a que denominou respectivamente – esquizóide e ciclóide. A primeira seria observada nos indivíduos de hábito astênico, atlético e displásico, ao passo que a segunda pertenceria especificamente aos pícnicos. Acaba, portanto, por isolar os temperamentos esquizotímico e ciclotímico, de cujos traços psicológicos específicos defluiriam, a seu ver, os sintomas clínicos da esquizofrenia e psicose maníaco-depressiva. Interesse citar para este trabalho que, em relação à inteligência, Kretschmer encontra-se entre os que preferem abster-se de incluí-la no grupo dos componentes disposicionais da personalidade. Na atualidade, encontramos diversos problemas com o sistema categórico dos transtornos da personalidade codificados no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM), desde a primeira edição publicada em 1952 até a quarta (DSM-IV) e atual edição de 1994. Gunderson e col. comentam que, embora o DSM tente ser ateórico, os transtornos da personalidade do DSM-IV na verdade derivam de quatro estruturas teóricas bastante diferentes: dinâmica, de traço, biológica e sociológica. Os autores completam afirmando que “o desenvolvimento de um sistema de classificação que sintetize as forças destes modelos continua um grande desafio empírico e conceitual”. Em seu artigo de revisão, Trull propõe que uma alternativa para estes problemas categóricos seria através do estudo dos modelos dimensionais de

Estatístico de Transtornos Mentais (DSM), desde a primeira edição publicada em 1952 até a quarta (DSM-IV) e atual edição de 1994. Gunderson e col. comentam que, embora o DSM tente ser ateórico, os transtornos da personalidade do DSM-IV na verdade derivam de quatro estruturas teóricas bastante diferentes: dinâmica, de traço, biológica e sociológica. Os autores completam afirmando que “o desenvolvimento de um sistema de classificação que sintetize as forças destes modelos continua um grande desafio empírico e conceitual”. Em seu artigo de revisão, Trull propõe que uma alternativa para estes problemas categóricos seria através do estudo dos modelos dimensionais de classificação (descreve o modelo de Livesley das 18 dimensões, o modelo dos sete fatores de Cloninger e o modelo de traços de personalidade dos cinco fatores). Segundo o autor, os modelos dimensionais fornecem resultados mais confiáveis, ajudam-nos a compreender a heterogeneidade da sintomatologia, a falta de limites bem definidos entre os diagnósticos categóricos (do DSM-IV por exemplo), e refletem de forma mais acurada as achados científicos concernentes à distribuição dos traços de personalidade e ao comportamento mal adaptativo. Em uma das primeiras e mais importantes tentativas de encontrar correlação entre os transtornos de personalidade maiores e alterações neurofisiológicos, Cloninger esboçou três dimensões de personalidade independentes e hereditárias, cada uma associada com a atividade de um neurotransmissor. Comportamento exploratório (busca de novidade) estava associado com baixa atividade dopaminérgica basal; comportamento de esquiva (evitar danos) com alta atividade serotoninérgica e comportamento de de pe ndê nc i a po r r e c o m pe ns a ( de pe nde nte ) , c o m ba i x a a ti v i da de noradrenérgica basal. Essas tendências foram usadas para discriminar muitos (embora não todos) transtornos de personalidade. A persistência tem emergido como uma quarta dimensão herdada, com distintas correlações psicobiológicas, e três dimensões do caráter foram distinguidas daquelas do temperamento, conforme estudaremos no decorrer do trabalho. Portanto, dentro da estrutura teórica biológica para o estudo da personalidade, o autor descreve didaticamente o modelo dimensional dos setes fatores proposto por Cloninger e col. Em nosso meio, Fuentes e col. traduziram o Inventário de Temperamento e Caráter – ITC (Temperament and Character Inventory) para a pesquisa dos setes fatores da personalidade. Realizaram um estudo visando um processo de adaptação do ITC para a língua portuguesa, considerando que o inventário foi desenvolvido em uma cultura diversa da brasileira. Os autores concluíram que os resultados apresentam uma boa qualidade e confiabilidade da versão em português. Entretanto, colocaram em dúvida a consistência de alguns dos subfatores do caráter, provavelmente devido às diferenças culturais que “impõem dificuldades na doação de conceitos universais, pois são traços cuja determinação depende grandemente do ambiente”. Consideram a possibilidade dos determinantes biológicos terem menor variabilidade que os culturais, justificando a concordância dos estudos do temperamento realizados em diversos países. Temperamento O trabalho pioneiro de Alexander Thomas e Stella Chess deu início ao estudo moderno do temperamento nas crianças com o New York Longitudinal Study. Conceituaram o temperamento como componente estilístico (“como”) do comportamento. Entretanto, os conceitos modernos de temperamento enf ati zam seus aspectos em oci onai s, m oti v aci onai s e adaptati v os. Especificamente quatro traços principais foram identificados: esquiva (evitar danos), exploratórios (busca de novidades), dependência por recompensa (ou gratificação) e persistência. Estes quatro temperamentos são considerados atualmente como dimensões independentes, geneticamente determinadas, que ocorrem em todas as combinações fatoriais possíveis, ao invés de se excluírem mutuamente.

O trabalho pioneiro de Alexander Thomas e Stella Chess deu início ao estudo moderno do temperamento nas crianças com o New York Longitudinal Study. Conceituaram o temperamento como componente estilístico (“como”) do comportamento. Entretanto, os conceitos modernos de temperamento enf ati zam seus aspectos em oci onai s, m oti v aci onai s e adaptati v os. Especificamente quatro traços principais foram identificados: esquiva (evitar danos), exploratórios (busca de novidades), dependência por recompensa (ou gratificação) e persistência. Estes quatro temperamentos são considerados atualmente como dimensões independentes, geneticamente determinadas, que ocorrem em todas as combinações fatoriais possíveis, ao invés de se excluírem mutuamente. Distinção entre Temperamento e Caráter As quatro dimensões do temperamento humano correspondem intimamente àquelas observadas em outros mamíferos, como roedores ou cachorros. Os múltiplos níveis observados na filogênese das habilidades de aprendizado dos animais, desde os invertebrados até o Homem, indicam que o aprendizado apresenta múltiplos componentes e processos que estão hierarquicamente organizados e interagem extensivamente através do desenvolvimento. O Quadro 1, elaborado por Cloninger e col., apresenta um modelo hierárquico do aprendizado, relacionando os níveis filogenético e cognitivo. Quadro 1. Modelo Hierárquico do Aprendizado. Nível cognitivo

Nível filogenético

Idade humana (modal) em anos

Inventivo Homo sapiens > 34 Imaginação Interpretação VI Hominídeos 20 a 34 simbólcia Construção V Grandes primatas 13 a 19 formal Concreto IV Mamíferos 6 a 12 Lógico Emoção III Répteis 2a5 integrada Associações Anfíbios e Peixes II 1a2 sensitivo-motoras vertebrados Reflexos I Invertebrados
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