Nietzsche na formação dos heterónimos pessoanos

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Universidade de Aveiro Departamento de Línguas e Culturas Ano 2014

RUI MIGUEL DE AZEVEDO RODRIGUES

NIETZSCHE NA FORMAÇÃO DOS HETERÓNIMOS PESSOANOS

Universidade de Aveiro Departamento de Línguas e Culturas Ano 2014

RUI MIGUEL DE AZEVEDO RODRIGUES

NIETZSCHE NA FORMAÇÃO DOS HETERÓNIMOS PESSOANOS

Dissertação apresentada à Universidade de Aveiro para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Línguas, Literaturas e Culturas – Estudos Portugueses, realizada sob a orientação científica do Doutor António Manuel dos Santos Ferreira, Professor Associado com Agregação do Departamento de Línguas e Culturas da Universidade de Aveiro

Dedico este pequeno trabalho a todos os que o permitiram, a todos os que para ele contribuíram, e a todos os que dele venham a beneficiar.

o júri presidente

Prof. Doutora Maria Fernanda Amaro de Matos Brasete Professora Auxiliar da Universidade de Aveiro

vogais

Prof. Doutor José Cândido de Oliveira Martins Professor Associado da Universidade Católica Portuguesa (arguente)

Prof. Doutor António Manuel dos Santos Ferreira Professor Associado com Agregação da Universidade de Aveiro (orientador).

palavras-chave

Nietzsche, Pessoa, Heteronímia, Apolo, Dioniso, Super-Homem, Ricardo Reis, Álvaro de Campos, Alberto Caeiro.

resumo

O presente trabalho propõe-se aprofundar, numa vertente mais literária, a possível influência de Nietzsche na obra de Fernando Pessoa. Tomando como objecto de estudo o forte paralelismo existente entre a caracterização de Ricardo Reis, Álvaro de Campos, Alberto Caeiro e, respectivamente, os conceitos nietzschianos de Apolo, Dioniso, Super-Homem, procura-se demonstrar que o “drama em gente” de Pessoa herdou a tragicidade presente e resultante desses mesmos conceitos.

keywords

Nietzsche, Pessoa, Heteronimy, Apolo, Dionysos, Super-Man, Ricardo Reis, Álvaro de Campos, Alberto Caeiro.

abstract

It is the aim of the present work to deepen, in a literary way, the possible influence Nietzsche had on Fernando Pessoa’s oeuvre. The object of this study being the strong correspondence between the characterization of Ricardo Reis, Álvaro de Campos, Alberto Caeiro, and the nietzschean concepts of Apollo, Dionysos, Super-Man, respectively, it is sought to demonstrate how Pessoa’s “drama em gente” (theatre in flesh) owes so much to the tragedy yielded from those concepts.

ÍNDICE

I Parte. Introdução: Pessoa e Nietzsche ........................................................... 1

II Parte. Ricardo Reis: a luz plácida do sol ...................................................... 21

III Parte. Álvaro de Campos: a noite da desmesura ........................................ 37

IV Parte. Alberto Caeiro: um novo paradigma ................................................. 49

V Parte. Conclusão ......................................................................................... 63

Bibliografia ...................................................................................................... 67

Conclusão

Poucos foram os escritores e pensadores que Fernando Pessoa assumidamente elogiou. Friedrich Nietzsche não consta nesse reduzido número. No Ortónimo pouco mais vai além das listas de leituras; Mora, como Reis, situa-o na loucura com que exaltou a megalomania alemã; Campos, ao querer ser tudo de todas as maneiras, “foi” Nietzsche no seu Ultimatum. Nietzsche, porém, se não na sua figura, pelo menos nas suas ideias, aparece ao longo de todo o processo de criação da heteronímia pessoana. Apesar da escassa difusão da obra de Nietzsche em Portugal na sua época, Fernando Pessoa teve acesso às suas ideias sobretudo através de fontes secundárias, e a partir daí resulta, no drama heteronímico, o mesmo sentido trágico que Nietzsche, a partir da caracterização de Apolo e Dioniso, foi revelando, ao longo da sua obra, em todos os aspectos da vida humana. Reis, firme e assustado como Apolo; Campos, múltiplo e subversivo como Dioniso. A centelha resultante do embate entre estes dois opostos resultou, em Nietzsche, no Übermensch que Zaratustra veio revelar aos homens, mas que Caeiro, síntese constante desse choque, personifica em si mesmo. Temos a clara percepção de que a presença de Nietzsche na obra de Pessoa vai além do jogo heteronímico; mas é aí que melhor se pode notar o processo de assimilação, por parte de Pessoa, das ideias do filósofo alemão, dando vida, no seu “drama em gente”, ao que Nietzsche tanto se esforçou por nos explicar acerca de nós mesmos.

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