No rastro da inclusão digital: uma jornada por metáforas e alegorias

Share Embed


Descrição do Produto

Os termos 'inclusão digital' e 'exclusão digital' vêm tendo, ao menos nos últimos 20 anos, forte destaque nos discursos e ações de governos, ativistas sociais, empresários, dentre outros atores. Nas bocas de pessoas tão diversas, os termos acabam por carrear diferentes significações, embora a mais usual seja a que confere à exclusão digital o status de um tipo de exclusão social decorrente da falta de acesso às novas Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs). Este artigo traz à luz uma revisão de literatura que procura traçar a trajetória de construção desses termos, a partir da análise de artigos acadêmicos e documentos governamentais relativos a essa temática. A análise da literatura foi realizada com especial interesse nas diferenças de concepção quanto ao que vem a ser inclusão/exclusão digital, bem como nos recursos alegóricos e metafóricos utilizados para sustentar cada uma dessas concepções. O objetivo é contribuir para um entendimento acerca dos limites e possibilidades inscritos nos termos utilizados, bem como alertar quanto à política ontológica envolvida no ato de nomeação desses fenômenos. A revisão tem início com a busca pelas origens do termo exclusão digital, que teria sido utilizado pela primeira vez nos Estados Unidos da América, sob a forma digital divide, para nomear uma multiplicidade de fenômenos relativos às tecnologias digitais. Especial destaque é dado à série de relatórios intitulados Falling Through the Net, do Departamento de Comércio dos EUA, que na década de 90 contribuíram decisivamente para criar uma versão mais estável para o termo digital divide, bem como para o termo digital inclusion. Em seguida, a revisão faz uma busca pelas origens de uso do termo no Brasil. Para tanto, é destacado o papel do Livro Verde da Sociedade da Informação no Brasil, publicado em 2000, que procurou estabelecer diretrizes para a inserção do país na chamada 'Sociedade da Informação', caminho que, segundo a publicação, teria que necessariamente passar pela superação da exclusão digital. O argumento baseava-se na ideia de que o impedimento de acesso às TICs, sustentáculos desse novo paradigma de sociedade, representaria em última instância uma exclusão social. A superação dessa exclusão passaria, portanto, pela criação e fomento de ações de inclusão digital (inclusão social através das TICs). Embora não evoquem alegorias e metáforas exatamente iguais, o Livro Verde estabelece uma equivalência entre os termos inclusão digital e digital divide, reconhecendo como fonte inspiradora as ações do governo dos EUA sobre o tema. A análise da literatura confere aos termos o caráter de 'alvos móveis', o que decorre tanto de diferenças descritivas quanto de diferenças alegóricas/metafóricas presentes nas formas através das quais esses termos são colocados em cena. Além disso, a revisão demonstrou que o fenômeno da exclusão digital, normalmente apresentado como um fenômeno global, nasceu de preocupações locais do governo norte-americano.
Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.