Nós, os de Orpheu

Share Embed


Descrição do Produto

NÓS, OS DE «ORPHEU» É UMA CO -EDIÇÃO DA BOCA E DA CASA FERNANDO PESSOA

SUMÁRIO ANTOLOGIA DE TEXTOS DE ORPHEU E PÓS-ORPHEU

ORPHEU 1

ALMADA NEGREIROS Frisos (O Eco, A Sesta e A Taça de Chá )

4

AMANDA BOOTH (voz) [▶ CD2 #1]

ÁLVARO DE CAMPOS Opiário [excerto]

5

JP SIMÕES (música, voz e guitarra acústica) [▶ CD1 #1]

ORPHEU 2

ÂNGELO DE LIMA Cântico Semi-Rami e Edd'Ora Addio... – Mia Soave!...

10

NUNO MOURA (voz) e JOÃO ALEGRIA (guitarra eléctrica) [▶ CD1 #3]

MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO Manicure

12

JONATHAN WEIGHTMAN (voz) [▶ CD2 #2]

RAUL LEAL Ateliêr

21

MIGUEL MANSO (voz) e NUNO TORRES (saxofone alto) [▶ CD1 #5]

ÁLVARO DE CAMPOS Ode Marítima [excerto]

26

BARTHOLOMEW RYAN (música, voz e guitarra acústica) [▶ CD2 #4]

FERNANDO PESSOA Chuva Oblíqua

48

GUILHERME MENDONÇA (voz) e NUNO MORÃO (bateria) [▶ CD1 #2]

ORPHEU 3

MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO Sete Canções do Declínio

52

ANDRÉ E. TEODÓSIO (voz) e NUNO MORÃO (órgão eléctrico) [▶ CD1 #7]

ALMADA NEGREIROS A Cena do Ódio

57

MICHAEL LANGAN (voz) [▶ CD2 #3]

PÓS-ORPHEU

CAMILO PESSANHA Tatuagens, Fonógrafo e Violoncelo

73

ANTÓNIO POPPE (voz) e RICARDO JACINTO (violoncelo) [▶ CD1 #6]

ÂNGELO DE LIMA Pára-me de repente o pensamento

74

JOÃO PAULO ESTEVES DA SILVA (música, voz e piano), NAZARÉ SILVA (voz) e NUNO MOURA (voz) [▶ CD1 #4]

ALMADA NEGREIROS Mima-Fataxa

75

ANA DEUS (voz), GUSTAVO COSTA E HENRIQUE FERNANDES (objectos, guitarras preparadas e laptops acústicos) e ALEXANDRE SOARES (processamento e mistura) [▶ CD1 #8]

81

CATÁLOGO DA EXPOSIÇÃO NÓS, OS DE ORPHEU Nos_os_de_Orpheu.indd 1

13/10/15 19:45

FICHA TÉCNICA E ARTÍSTICA LIVRO COMISSÃO CIENTÍFICA E DESENVOLVIMENTO DE CONTEÚDOS PARA O CATÁLOGO: Antonio Cardiello, Jeronimo Pizarro e Sílvia Laureano Costa SELECÇÃO DE TEXTOS PARA A ANTOLOGIA: Oriana Alves, com Sílvia Laureano Costa TRADUÇÃO: Ana Fletcher, Bernard McGuirk, Jethro Soutar e Richard Zenith COORDENAÇÃO EDITORIAL: Oriana Alves DESIGN: barbara says... REVISÃO: A equipa

CDS ÁUDIO GRAVAÇÃO: Scratch Built, BOCA e Timbuktu EDIÇÃO E SONOPLASTIA: Oriana Alves e Nuno Morão MISTURA E MASTERIZAÇÃO: Nuno Morão

IMAGENS © Biblioteca Nacional de Portugal © Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada © Biblioteca Pública Municipal do Porto © Casa Fernando Pessoa – Biblioteca © Direção -Geral do Património Cultural – Arquivo de Documentação Fotográfica © Fundação António Quadros © Fundação Calouste Gulbenkian – Centro de Arte Moderna © Herdeiros Alfredo Guisado © Herdeiros Almada Negreiros © Herdeiros José Coelho Pacheco © Jorge Meireles © Modernismo online: Arquivo Virtual da Geração de Orpheu

Desta 1.ª edição imprimiram -se 2.000 exemplares em Outubro de 2015. IMPRESSÃO: Maiadouro, Maia – Portugal (livro) e MPO Portugal (CDs) BOCA – PALAVRAS QUE ALIMENTAM, LDA. =>?@ © TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. WWW.BOCA.PT DEPÓSITO LEGAL: ISBN: 978-989 -8421-20 -3 AGRADECIMENTOS Ana Rita Palmeirim, Anabela Almeida, André E. Teodósio, Bartholomew Ryan, Bernard McGuirk, Catarina Almada Negreiros, Fernando Cabral Martins, Francisco de Barros e Vasconcellos Guisado, Fundação Calouste Gulbenkian – Centro de Arte Moderna, Jorge Meireles, Mafalda Ferro, Manuela Parreira da Silva, Maria José Almada Negreiros, Marta Soares, Paulo Cardoso, Richard Zenith, Rita Almada Negreiros, Rui Lopo, Rui Sousa, Steffen Dix, Timbuktu

COM APOIO DO IELT – INSTITUTO DE ESTUDOS DE LITERATURA E TRADIÇÃO DA FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS DA UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA E DO CAMÕES – INSTITUTO DE COOPERAÇÃO E DA LÍNGUA.

Nos_os_de_Orpheu.indd 2

13/10/15 19:45

APRESENTAÇÃO Orpheu – revista e geração –, foi a solução pela arte de um grupo de jovens unidos pela mesma “não -identidade”, pelo mesmo “escorraçar” que a vida lhes fazia 1. Em 1915, na agitação política da Primeira República e em plena Primeira Grande Guerra, foi também uma bomba no meio literário português que marcou o início do nosso movimento modernista. Nas páginas dos dois números que chegaram às bancas cruzam-se alguns dos grandes vultos das artes e das letras portuguesas, entre os quais Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro, José de Almada Negreiros, Santa-Rita Pintor, mas também Ângelo de Lima, Raul Leal, Alfredo Guisado, Armando Côrtes-Rodrigues, José Pacheco, Luís de Montalvor ou os brasileiros Eduardo Guimaraes e Ronald de Carvalho. Do terceiro número, projectado e anunciado, apenas ficaram provas tipográficas e indícios da colaboração de nomes como Camilo Pessanha e Amadeo de Souza-Cardoso. O “órgão dos malucos”, como ficou rotulada a Orpheu nas ruas de Lisboa, desencadeou várias reacções (umas sectárias, outras satíricas) contra os “poetas-paranóicos”, expressão de Júlio Dantas, o “príncipe” da “tacanha literatura” 2 da época. Uma coisa é certa, depois de Orpheu o nosso panorama artístico não voltou a ser o mesmo. A edição bilingue Nós, os de Orpheu é mais do que um roteiro da exposição homónima comissariada por Antonio Cardiello, Jeronimo Pizarro e Sílvia Laureano Costa e organizada pela Casa Fernando Pessoa no âmbito das comemorações do centenário de Orpheu. Ao catálogo de 65 imagens que contam a história do “Nós” que formou Orpheu junta-se uma antologia de textos escolhidos nas Orpheu 1 e 2 e nas provas e planos editoriais da Orpheu 3. Para fechar esta colectânea escolheu-se o poema Mima Fataxa – sinfonia cosmopolita e apologia do triângulo feminino, de Almada Negreiros, publicado na Portugal Futurista, revista que de algum modo encerra, em 1917, a Vanguarda portuguesa. Nos dois CDs que acompanham o livro, 18 intérpretes – actores, poetas e músicos – recriam as vozes literárias dos autores órficos, abrindo novas perspectivas de leitura neste momento em que continuamos a descobrir Orpheu. Esta é a primeira vez que tantos destes textos são traduzidos e gravados em áudio. Talvez, deste modo, se possa ajudar a cumprir um dos desígnios dos poetas de Orpheu: levar a sua arte além-fronteiras. E, claro, fazer jus à profecia de Fernando Pessoa: “Orpheu acabou. Orpheu continua.”

1. José de Almada Negreiros, Orpheu 1915-1965. Lisboa: Ática, 2015, p. 3. 2. Fernando Pessoa, Sensacionismo e Outros Ismos. Lisboa: INCM, 2009, p. 350.

3

Nos_os_de_Orpheu.indd 3

13/10/15 19:45

1 ORPHEU

“É QUE ORPHEU, MEUS SENHORES, FOI O PRIMEIRO GRITO MODERNO QUE SE

FRISOS DO DESENHADOR

JOSÉ DE ALMADA-NEGREIROS O ECO Tão tarde. Adão não vem? Aonde iria Adão?! Talvez que fosse à caça; quer fazer surpresas com alguma corça branca lá da floresta. Era p’lo entardecer, e Eva já sentia cuidados por tantas demoras. Foi chamar ao cimo dos rochedos, e uma voz de mulher também, também chamou Adão. Teve medo: Mas julgando fantasia chamou de novo: Adão? E uma voz de mulher também, também chamou Adão. Foi-se triste para a tenda. Adão já tinha vindo e trouxera as setas todas, e a caça era nenhuma! E ele a saudá-la ameaçou-lhe um beijo e ela fugiu-lhe. - Outra que não Ela chamara também por Ele. A SESTA Pierrot escondido por entre o amarelo dos girassóis espreita em cautela o sono d’ela dormindo na sombra da tangerineira. E ela não dorme, espreita também de olhos descidos, mentindo o sono, as vestes brancas do Pierrot gatinhando silêncios por entre o amarelo dos girassóis. E porque Ele se vem chegando perto, Ela mente ainda mais o sono a mal-ressonar. Junto d’Ela, não teve mão em si e foi descer-lhe um beijo mudo na negra meia aberta arejando o pé pequenino. Depois os joelhos redondos e lisos, e já se debruçava por sobre os joelhos, a beijar-lhe o ventre descomposto, quando Ela acordou cansada de tanto sono fingir. E Ele ameaça fugida, e Ela furta-lhe a fuga nos braços nus estendidos. E Ela, magoada dos remorsos de Pierrot, acaricia-lhe a fronte num grande perdão. E, feitas as pazes, ficou combinado que Ela dormisse outra vez. A TAÇA DE CHÁ O luar desmaiava mais ainda uma máscara caída nas esteiras bordadas. E os bambus ao vento e os crisântemos nos jardins e as garças no tanque, gemiam com ele a advinharem-lhe o fim. Em roda tombavam-se adormecidos os ídolos coloridos e os dragões alados. E a gueixa, porcelana transparente como a casca de um ovo da Ibis, enrodilhou-se num labirinto que nem os dragões dos deuses em dias de lágrimas. E os seus

4

Nos_os_de_Orpheu.indd 4

13/10/15 19:45

2 ORPHEU

“A REVISTA PORTUGUESA ORPHEU, CUJO PRIMEIRO NÚMERO APARECEU AGORA,

POEMAS INÉDITOS DE



NUNO MOURA [voz] JOÃO ALEGRIA [guitarra eléctrica] CD1 #3 / 7'50"

ÂNGELO DE LIMA CÂNTICO–SEMI-R AMI – Oh! Noute em Teu Amor Silenciosa! – Oh! Estrelas na Noute, Cintilantes, Como Ideais e Virginais Amantes!... – Oh! Memória de Amor Religiosa!... – Já Fui... uma Criança Pubescente Que des’brocha em Amor Inconsciente Como n’um Vago Sonho... Comovente Desabrocha uma Rosa Olorescente – A Adolescente... Casta e Curiosa! – E já Fui... a Galante com Requinte Para dar-me, Esquivando-me em Acinte De P’rigos da Ventura Cispresinte – Sensitiva... Ao Brisar, do Sol Orinte... – A Nubente... Temente e Desejosa! – E já Fui... a Noivada pelo Amante, A Cingida de Abraço Palpitante, Anxe do Sacrifício Inebriante! – A Flor que Quebra o Gineceu... Hiante, – A Desvirgada... Grata e Dolorosa! – Oh! Memória de Amor Religiosa! – Oh! Estrelas, na Noute, Cintilantes Como Ideais e Virginais Amantes... – Oh! Noute em Teu Amor... Silenciosa! Já Fui... como a Senhora, sim, durante Uns Tempos de Ventura Confortante Nos Confortos de um Lar... Hoje Distante... – Como Dista, da Noute, um Paço Encante... Já Fui... uma Matrona Virtuosa!... E já Fui... a Devota pelo Amor, A Adulterin... que Trai o seu Senhor!... E a que sentiu Doer o Coração Ao Fim de Tanta e Cada uma Vez

10

Nos_os_de_Orpheu.indd 10

13/10/15 19:45

TRAZ CONSIGO O EXTRAORDINÁRIO INTERESSE DE FIXAR DEFINITIVAMENTE

Por cada Intento só Colher Revez Nas Esp’ranças da Sua Devoção!... Oh! Noute! em Teu Amor Silenciosa! Oh! Estrelas, na Noute, Cintilantes Como Ideais e Virginais Amantes... Oh! Memória de Amor Religiosa! .................................................................... E se Há de Amor, algum Amor Eleito, Aquela Também Fui, que Ninguém Fosse, Que, n’um Mysterio, como o Inferno, Doce, Amei a Minha Filha, no seu Leito... Sim, se Há de Amor algum Amor Eleito, Minhas Irmãs, Cingi-me ao Vosso Peito E Ouvi-Me esta Memória Dolorosa... Já Fui Aquela que Perdeu a Esp’rança, E Errou Espasma Noutes sem Término, Entre a Treva das Selvas Pavorosa, Anxe em busca de Amantes do Destino... – E A que Lembrou os Tempos de Criança!... – E já Fui como a Sombra da Saudade Amando a Lua, pela Imensidade! – Oh Noute! em Teu Amor, Silenciosa! – Oh Estrelas, na Noute, Cintilantes Como Ideais e Virginais Amantes! – Oh Memória de Amor, Religiosa!...

EDD’OR A ADDIO... — MIA SOAVE!... Aos meus amigos d’ORPPHEU

– Mia Soave... – Ave?!... – Almeia?!... – Maripoza Azual... – Transe!... Que d’Alado Lidar, Canse... – Dorta em Paz... – Transpasse Ideia!... – Do Ocaso pela Epopeia... Dorto... Stringe... o Corpo Elance... Vai À Campa... – Il C’or descanse... – Mia Soave... – Ave!... – Almeia!... 11

Nos_os_de_Orpheu.indd 11

13/10/15 19:45

ORPHEU 2

UMA CORRENTE LITERÁRIA QUE DE HÁ POUCO SE VEM ESBOÇANDO

– Não Dói Por Ti Meu Peito... – Não Choro no Orar Cicio... – Em Profano... – Edd’ora... Eleito!...

EDD’ORA ADDIO... — MIA SOAVE!... Ângelo de Lima

– Balsame – a Campa – o Rocio Que Cai sobre o Último Leito!... – Mi’ Soave!... Edd’ora Addio!... – Estes Versos Antigos Que Eu Dizia Ao Compasso Que Marca o Coração Lembram Ainda?... – Lembrarão um Dia... – Nas Memórias Dispersas Recolhidas Sequer, na Piedosa Devoção D’Algum Livro de Cousas Esquecidas?... – Acaso o Que Ora Canta... Vive... Existe Nunca Mais Lembrará – Eternamente?... – E, Vindo do Não-Ser, Vai, Finalmente, Dormir no Nada... Majestoso e Triste?...

MANICURE DE

MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO a Santa Rita Pintor Na sensação de estar polindo as minhas unhas, Súbita sensação inexplicável de ternura, Todo me incluo em Mim – piedosamente. Entanto eis-me sozinho no Café: De manhã, como sempre, em bocejos amarelos. De volta, as mesas apenas – ingratas E duras, esquinadas na sua desgraciosidade Boçal, quadrangular e livre-pensadora... Fora: dia de Maio em luz E sol – dia brutal, provinciano e democrático Que os meus olhos delicados, refinados, esguios e citadinos Nem podem tolerar – e apenas forçados Suportam em náuseas. Toda a minha sensibilidade Se ofende com este dia que há-de ter cantores Entre os amigos com quem ando às vezes – Trigueiros, naturais, de bigodes fartos – Que escrevem, mas têm partido político E assistem a congressos republicanos, 12

Nos_os_de_Orpheu.indd 12

13/10/15 19:45

Tatuagens complicadas do meu peito: Troféus, emblemas, dois leões alados... Mais, entre corações engrinaldados, Um enorme, soberbo, amor-perfeito...

U

[TATUAGENS COMPLICADAS DO MEU PEITO]

HE

três dos poemas pedidos por Fernando Pessoa para a Orpheu 3

P OR

CAMILO PESSANHA

SPÓ

DE



ANTÓNIO POPPE [voz] RICARDO JACINTO [violoncelo] CD1 #6 / 5'47"

E o meu brasão... Tem de oiro n’um quartel Vermelho, um lis; tem no outro uma donzela, Em campo azul, de prata o corpo, aquela Que é no meu braço como que um broquel. Timbre: rompante, a megalomania... Divisa: um ai, – que insiste noite e dia Lembrando ruínas, sepulturas rasas... Entre castelos serpes batalhantes, E águias de negro, desfraldando as asas, Que realça de oiro um colar de besantes! FONÓGRAFO Vai declamando um cómico defunto. Uma plateia ri, perdidamente, Do bom jarreta... E há um odor no ambiente A cripta e a pó, – do anacrónico assunto. Muda o registo, eis uma barcarola: Lírios, lírios, águas do rio, a lua... Ante o Seu corpo o sonho meu flutua Sobre um paúl, – extática corola. Muda outra vez: gorjeios, estribilhos D’um clarim de oiro – o cheiro de junquilhos, Vívido e agro! – tocando a alvorada... Cessou. E, amorosa, a alma das cornetas Quebrou-se agora orvalhada e velada. Primavera. Manhã. Que eflúvio de violetas! 73

Nos_os_de_Orpheu.indd 73

13/10/15 19:46

CATÁLOGO DA EXPOSIÇÃO

NÓS, OS DE «ORPHEU» ABREVIATURAS ANSA – Espólio de Almada Negreiros e Sarah Affonso BNP – Biblioteca Nacional de Portugal BPARPD – Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada BPMP – Biblioteca Pública Municipal do Porto

Nos_os_de_Orpheu.indd 81

CFP – Casa Fernando Pessoa – Biblioteca DGPC/ADF – Direção -Geral do Património Cultural / Arquivo de Documentação Fotográfica FCG/CAM – Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna

13/10/15 19:46

82 CFP – MC/RES 0082.1

Em Março de 1915, surge nas bancas a Orpheu 1. Fernando Pessoa e Mário de Sá -Carneiro vinham a idealizar, há algum tempo, uma revista literária, primeiro com o nome Lusitânia, depois Europa, mas acabam por fi car rendidos ao título Orpheu, sugerido por Luís de Montalvor, recém -chegado do Rio de Janeiro. Pessoa terá também contemplado o título Prometeu, mas já tarde. O primeiro volume sai com a co-direcção de Montalvor e do brasileiro Ronald de Carvalho, uma partilha transatlântica favorável ao intercâmbio literário e artístico entre os países irmãos. Orpheu – revista e grupo – é, em plena Grande Guerra, “o primeiro grito moderno que se deu em Portugal”, na expressão de Almada Negreiros. CFP – MC/RES 0082.1 CAM – P_159 / PHOTOGRAPHY BY PAULO COSTA

Even Uneven Nos_os_de_Orpheu.indd 82

13/10/15 19:46

Nos_os_de_Orpheu.indd 136

13/10/15 19:47

EHXIBITION CATALOGUE

WE, THE «ORPHEU» LOT ABBREVIATIONS ANSA – The Almada Negreiros and Sarah Affonso Estate (Espólio de Almada Negreiros e Sarah Affonso in Portuguese) BNP – Portugal National Library (Biblioteca Nacional de Portugal in Portuguese) BPARPD – Ponta Delgada Public Library and Regional Archive (Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada in Portuguese) BPMP – Porto Municipal Public Library (Biblioteca Pública Municipal do Porto in Portuguese)

CFP – Fernando Pessoa House – Library (Casa Fernando Pessoa – Biblioteca in Portuguese) DGPC/ADF – General Directorate for Portuguese Cultural Heritage / Photographic Documentation Archive (Direção-Geral do Património Cultural / Arquivo de Documentação Fotográfica in Portuguese) FCG/CAM – Calouste Gulbenkian Foundation / Modern Art Centre (Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna in Portuguese)

Nos_os_de_Orpheu.indd 135

13/10/15 19:47

82 CFP – MC/RES 0082.1

Orpheu 1 hit news stands in March 1915. Fernando Pessoa and Mário de Sá-Carneiro had been plotting the launch of a literary magazine for quite some time, first under the name of Lusitânia and later Europa. They finally settled on Orpheu, as suggested by Luís de Montalvor, who had recently returned from Rio de Janeiro. Pessoa also came up with Prometeu, but a little too late. The first edition of Orpheu came out with Montalvor and Ronaldo de Carvalho credited as editorial directors; Montalvor for Portugal, Carvalho for Brazil. Orpheu was thus billed as a transatlantic enterprise, encouraging literary and artistic exchange between two brotherly countries. Orpheu – the magazine and what became known as the Orpheu Group or Orpheu Generation – burst onto the Portuguese scene in the midst of the First World War, providing what was, in the words of Almada Negreiros,“the first modern cry delivered in Portugal”. CAM – 68P17 / FOTOGRIA DE PAULO COSTA CAM – P_159 / FOTOGRIA DE PAULO COSTA

Par Ímpar

1 Orpheu

“É QUE ORPHEU, MEUS SENHORES, FOI O PRIMEIRO GRITO MODERNO QUE SE

FRIEZES designed by



AMANDA BOOTH [voice] CD2 #1 / 4'54"

JOSÉ DE ALMADA-NEGREIROS translated by Jethro Soutar

THE ECHO It was getting late. Was Adam not coming back? Where could he be? Maybe he went hunting, wanted to catch a white doe by surprise in the forest. Dusk was setting in and all this waiting was starting to concern Eve. She climbed up the rocky crag and called out, as did another voice, also a woman’s, also calling for Adam. She was afraid. But she decided she must have imagined it and called out again: Adam? Again another voice, also a woman’s, also calling for Adam. Downcast, she made her way back to the tent. Adam had returned, with a full set of arrows and no sign of game! And when he went over to greet her with a kiss, she evaded him. – Someone not Her had been calling for Him. THE NAP Hidden amidst the yellow of the sunflowers, Pierrot cautiously wa‑ tches her sleep in the shade of a tangerine tree. But she’s not asleep, she’s also watching, through half-closed eyes that pretend to be asleep, as Pierrot dressed in white silently creeps through the yellow of the sunflowers. And because He’s getting closer, She pretends to sleep all the more, half-snoring. With her right there, he can’t control himself and he bends down to place a silent kiss on the black stocking of her tiny little foot. Then on to her smooth round knees, and by know He’s on his knees, leaning in to kiss her exposed tummy, when She wakes tired from so much pretend sleeping. And He makes to flee, but She prevents him from fleeing by stret‑ ching out a bare arm. And She, tormented by Pierrot’s remorse, caresses his forehead in a show of forgiveness. And with peace restored, they agree She’ll go back to sleep. THE TEA CUP The moonlight made the mask lying on the straw mat seem paler still. And the bamboo in the wind and the chrysanthemums in the garden and the herons in the pond wailed with him, sensing that this was the end. Colourful effigies and winged dragons came down to sleep beside him. And the geisha, translucent porcelain like an Ibis egg shell, curled 4

Nos_os_de_Orpheu_EN.indd 4

13/10/15 19:53

2 Orpheu

“A REVISTA PORTUGUESA ORPHEU, CUJO PRIMEIRO NÚMERO APARECEU AGORA,

UNPUBLISHED POEMS by

ÂNGELO DE LIMA translated by Jethro Soutar

SEMI-R AMI CANTICLE – Oh! Niht in Your Loving Hush! – Oh! Stars in the Niht, Sparkling, Like Ideas and Virginal Parting!… – Oh! Memory of a Love Religious!… – I’ve ere Been… the Child Pubescent Who blossomed into Love Ignorant As in a Dream Vague… Poignant The Blossom of a Rose Olorescent – Adolescent… Chaste and Curious! – And I’ve ere Been… a Maiden Elegant Equipped to Avoid the Malignant Dangers of a Fate Cypressent – Sensitive… Breeze of Sunny Orient… – Betrothed… Fearful and Desirous! – And I’ve ere Been… the Fiancé of a Deviant, Clasped in an Embrace Palpitant, Anxious of a Sacrifice Exhilarant! – The Flower that Breaks the Pistil… Expectant, – Devirgined… Grateful and Grievous! – Oh! Memory of a Love Religious!… – Oh! Stars in the Niht, Sparkling, Like Ideas and Virginal Parting!… – Oh! Niht in Your Loving Hush! I’ve ere Been… like a Lady, constant Upon Whom Fate Shone Luxuriant The Luxury of a Home… Today Distant… – As Distant as the Niht, Place of Enchantment… I’ve ere Been… a Matron Virtuous!… I’ve ere Been… for Love Devout, An Adulterist… a Marriage Flout!… So too she Whose Spirit Ached As Every Last Effort 10

Nos_os_de_Orpheu_EN.indd 10

13/10/15 19:53

TRAZ CONSIGO O EXTRAORDINÁRIO INTERESSE DE FIXAR DEFINITIVAMENTE

Drew the Opposite Effect Hoped Devotion Gone Forsaked!… – Oh! Niht in Your Loving Hush! – Oh! Stars in the Niht, Sparkling, Like Ideas and Virginal Parting!… – Oh! Memory of a Love Religious!… .................................................................... And if in Love, There’s a Love Behest, Then I’ve Also Been, as is Our Destiny She who, Sweet as Hell, as Mystery, Loved My Daughter, in her Nest… Yes, if in Love, There’s a Love Behest, My Sisters, Clasp me in Your Breast And Hear My Memory Grievous I’ve ere Been she who Lost Expectancy, And Wandered Numbed for Nights on End, Through Darkness of Jungles Monstrous Anxiously Searching for Love Destined… – And She who Recalls Times of Infancy!… – And I’ve ere Been like a Shadow Wistfully Loving the Moon, in its Immensity! – Oh! Niht in Your Loving Hush! – Oh! Stars in the Niht, Sparkling, Like Ideas and Virginal Parting!… – Oh! Memory of a Love Religious!…

EDD’OR A ADDIO… — MIA SOAVE!…

To my friends at ORPPHEU

– Mia Soave… – Have I?!… Miser old? – Bluesome Butterfly… – Daze Tried from tumult laze – Dest in Peace… – Beyond behold!… – To Demise from Retold… Dested… Bind… Body squeeze Go to Grave… Il C’or at ease – Mia Soave… – Have I?!… Miser old? 11

Nos_os_de_Orpheu_EN.indd 11

13/10/15 19:53

Orpheu 2

UMA CORRENTE LITERÁRIA QUE DE HÁ POUCO SE VEM ESBOÇANDO

– For You No Tears I Shed – Whispered Prayers I do – Secular… Edd’ora… elect instead!

EDD’ORA ADDIO… — MIA SOAVE!… Ângelo de Lima

– Balm – Grave – Dew Falls upon the final bed – Mi’ Soave!… Edd’ora Addio!.. – The Ancient Verses That I’d Relay To the Rhythm of a Beating Heart Are they Remembered?… – Will They Be One Day… – In the Collected Disparate Recordings Perhaps, or the Gracious Dedication at the Start Of a Book of Long Forgotten Things?… – Pray Will Those Who Now Sing… Live… Exist… Not Be Remembered – Eternally?… – Come From Nothing, and Go, Terminally, To Sleep In the Nether… Majestic and Wist?…

MANICURE



JONATHAN WEIGHTMAN [voice] CD2 #2 / 15'05"

by

MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO translated by Jethro Soutar

to Santa Rita Pintor The feeling I get polishing my nails, A sudden feeling of inexplicable tenderness, Has me welcome everything into Me – with compassion. Here I am alone in a Café: The usual forced yawns of morning. Nothing but tables around me – ingrate And hard, angular in their inelegance Coarse, quadrangular, free-thinking… Outside: a bright May day Sunny – a brutal, provincial, democratic Day that my delicate, refined, slender, citified Eyes find intolerable – and will endure, In their repulsion, only if forced. My whole sensibility Takes offence at a day that is sure to feature bards Amongst the friends I’ll occasionally cross paths with – Naturally dusky, sporting bushy moustaches – They write, have political parties Attend republican congresses, 12

Nos_os_de_Orpheu_EN.indd 12

13/10/15 19:53

spó

s- u póphe r -O

p Or

by

Camilo Pessanha

he

CAMILO PESSANHA

u

translated by Jethro Soutar

três dos poemas pedidos por Fernando Pessoa para a Orpheu 3

[INTRICATE TATTOOS ON MY BREAST] Intricate tattoos on my breast: Ensigns, emblems, two lions with wings… Between hearts, crowned like kings, A pansy, magnificent, manifest…



antónio poppe [voz] ricardo jacinto [violoncelo] #6 / x'xx"

My insignia… one quarter, in gold On a red background, a fleur de lis, Upon blue, a damsel with a silver body, Adorning my arm like a shield. Crest: megalomaniac, haughty… Motto: a woe – persistent daily and nightly Recalling ruins, a shallow grave… Battling snakes between castles Black eagles, soaring tall and brave, Enhancing the gold in the roundels! PHONOGRAPH A dead comedian is performing. The audience laughs, to script, At the old bugger… There’s a whiff of crypt And dust – an anachronistic something. Change of register, here comes a barcarola: Lilies, lilies, rivers flowing, moonlit… Before His body my dream adrift Through a swamp – ecstatic corolla. Change once more: refrain, the warbles Of a golden bugle – the smell of jonquils, Vivid and bitter! – played at dawn… Stops. And, lovingly, the soul of the cornets Now disperses, dewy and reborn. Spring. Morning. An effusion of violets! 74

Nos_os_de_Orpheu_EN.indd 74

13/10/15 19:53

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.