Nota sobre as artes nos dias correntes.

June 14, 2017 | Autor: I. Costa | Categoria: Arquitetura, Artes, Historia del Arte, Historia Cultural
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NOTA SOBRE AS ARTES NOS DIAS CORRENTES



Iraci del Nero da Costa

São Paulo, janeiro de 2016.



A arquitetura, a meu juízo a única arte que não regrediu ou estagnou
neste início do século XXI, chegou mesmo a incorporar elementos da pintura
cubista; tal evento a tornou, em alguns casos, um tanto exagerada
ultrapassando os limites de uma visão inteiramente equilibrada, este fato,
por vezes, ofendeu sensibilidades mais apegadas a formas consideradas
plenamente harmoniosas.

Não obstante, como avançado, os arquitetos propuseram inovações
formais capazes de ultrapassar a eventual limitação acima apontada e
garantiram o efetivo avanço de sua arte revelando um espírito inventivo e
criativo não observado nas demais expressões artísticas todas elas
prisioneiras de um passado o qual se vê repisado na atualidade chegando
mesmo, em vários casos, a perderem-se numa regressão estética grosseira e
de inegável mau gosto.

Tudo se passa como se as artes tivessem esgotado suas possibilidades
existenciais restando, tão só, a repetição monótona, a falta de imaginação
e a busca sem sentido de uma "grandiosidade" puramente física ou a
perpetração de invencionices rocambolescas as quais visam a conquistar os
malfadados e execráveis "quinze minutos de fama" com base numa
"engenhosidade" calcada no grotesco.

A canção popular canta a superfluidade pura e simples ou uma
historieta anedótica mal costurada sem qualquer consistência pessoal ou
social.

As esculturas querem-se de grande porte ou passageiras buscando, tão
somente, o gigantismo e a efemeridade que possam "comover" o observador
deixando-o boquiaberto. Destarte, a "mensagem artística" não alcança o
intelecto, mas restringe-se à mera aparência.

A música erudita, em grande parte, estagnou e persegue com insistência
a produção de uma sonoridade que mais fere do que envolve e enriquece a
sensibilidade do ouvinte.

Ainda com respeito à música erudita cumpre lembrar os arranjos mal
elaborados que fogem dos autores e se aproximam do vulgar. Não obstante
tais críticas, deve-se ter presente que autores preocupados em colher as
tradições regionais de seus países têm revelado um encantamento inovador e
altamente sedutor. Vale dizer, o novo, ainda muito restrito, é oferecido
pela cultura secular dos mais diversos povos e nações.

Ferir sem maiores preocupações estéticas parece ser o objetivo visado
pelos atuais autores vinculados à pintura e às artes plásticas em geral: o
primordial é a ofensa, a comoção pelo inusitado mesmo se ele apresentar-se
de modo rudimentar e desencantado. A utilização de elementos visuais e
táteis vergam-se, assim, a técnicas mal elaboradas e, em muitíssimos casos,
apenas agressivas. A meu ver, deste vasto conjunto de artistas menores
devem ser excluídos não só os arquitetos em geral, mas também um grande
número de artistas voltados para a fotografia; embora possamos reconhecer o
caráter híbrido da fotografia, não resta dúvida que as pessoas dedicadas a
esta arte visual produzem resultados de grande valia artística e
intelectual enriquecendo, assim, o mundo das ideias.

A cinematografia dos países situados no assim dito mundo periférico, a
qual encontra-se em larga medida em seu nascedouro, não parece estar tão
combalida e atrofiada artisticamente quanto a produção cinematográfica dos
EUA e dos países centrais da Europa com larga tradição na área (sobretudo
França, Itália e Suécia). A indústria cinematográfica parece presa ao
século findo e busca, na falta de novas perspectivas, apegar-se ao mundo
televisivo e/ou reviver os sucessos do passado.

A literatura enxovalhou-se, apequenou-se assustadoramente e tem
produzido figuras grotescas que se pensam autores de alto coturno. As
biografias e autobiografias avolumaram-se demonstrando o quanto se procura
a fama quimérica; a autoajuda tomou as mais variadas formas o mesmo
acontecendo com a construção de mundos surreais habitados por seres
fantasmagóricos. Ademais, muitos e muitos pseudo autores procuram mesclar a
realidade do passado com suas fantasias apoucadas; neste caso, numa
evidente demonstração de falta de imaginação e criatividade, tomaram
personagens reais e as mergulharam no caos de situações imaginárias. Enfim,
não ficamos no século XX, pois avançamos rumo ao nada ao qual já nos havia
condenado a poesia que grassa nestes tempos modernos.

Dada a intensa concorrência proporcionada pelas séries (algumas de
qualidade) e novelas (em regra bem encenadas, mas nem sempre bem
concatenadas) divulgadas pela indústria televisiva parece-me altamente
louvável a quantidade e a qualidade dos espetáculos dirigidos pelos mais
variados grupos teatrais diretamente ao público interessado em
representações refinadas. Não obstante isso, a produção de novos e
superiormente elaborados textos teatrais ainda não atingiu o nível desejado
pelos apreciadores com nível elevado de entendimento dessa arte.

Enfim, afora os poucos casos apontados nestas breves notas, encontramo-
nos num período de estagnação das artes em geral, momento este o qual,
certamente, ver-se-á superado ao longo do tempo, pois, como sabido, não
foram poucas, no desfiar da história, as épocas de transição ou de retomada
de fôlego.
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