Notas sobre a «máquina» e não só
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Nenhuma palavra é exata Estudos sobre a obra de
Valter Hugo Mãe Organização Carlos Nogueira
A literatura de Valter Hugo Mãe solicita tanto o pensamento como a sensibilidade do leitor. É sempre intenso o envolvimento psicológico do enunciador, que apresenta e comenta situações existenciais muito singulares, mas não deixa de haver um convite constante à reflexão,
à revisão de ideias feitas e ao autoquestionamento de quem lê .
• Cada texto de Valter Hugo Mãe é, assim, (e)vidência de uma relação ao mesmo tempo orgânica (epidérmica, sanguínea, carnal...) e espiritual (estética, mental, intelectual. .. ) entre quem escreve e o mundo. Carlos Nogueira, Introdução
Com o opoio de:
I CáLedra lnlernacional José Saramago
U niversidadeYigo
ISBN 978-972-0-04887-5
. , Porto r Editora
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pa lavra é exata
Estudos sob re a obra de Valter Hugo Mãe Carlos
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(o rganização)
Publi ado por: Porto Ed it ora Div isão Editorial Literár ia - Porto Ema il: delporto @portoe ditora .pt Im agem da capa: Nelson d'Aires
1. ' edi ção: o utubro de 20 16
Reservados tod os os direitos . Es ta publicação não pode se r rep rod uzida, ne m tra nsmitida, no tod o ou em part e, po r qualqu er processo eletró ni co, mecâ ni co, fo tocó pia, gravação ou outros, se m prévia au to ri zação esc rit a da Edit o ra .
Porto Ed itora
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ÍNDICE
Introdução ..... ............. . . . .... .. . . . .. . . .... .... . . .
11
Carlos N ogu e ira
I. Poesia
Valter em versos .. .. .. .. . . .... . ... . . . . .... .. ... . . . .. ........ . . .. . . ... . ... . .. ...... . .. ... . . . .
25
Luis Maffei
Do sujeito inviável na poesia de Valter Hugo Mãe ...... . ... . .. . . .. .. .. . .. .. . . ... . .
37
Francisco Sa rai va Fino
Feito de amar entre os homens apenas as coisas mais efémeras: leituras da poesia de Valter Hugo Mãe .. ..
50
José Rui Tei xe ira
Da revisão autoral na poesia de Valter Hugo Mãe: as edições de três minutos antes de a maré encher ..... ...... .. .. . .. ......... . . . .
60
Eisa Pereira
11. Romance o nosso reino
Destrambelhar a hagiografia: o nosso reino Paul o Pereira o nosso reino é deste mundo ... .... .. ..... ..... .. .. .. .. .... ... . .. . . .. ... ..... . .... ... . . . . Antó nio Manuel Ferreira Deus, Pátria e Família num texto da pós-modernidade: o no ss o reino . . Ca rlos Manue l da Sil va Marques Do Portugal profundo: o nosso reino . .. ...... . . ..... . ..... ... ....... .. . . ...... . ....... . Ana Cr istina Corre ia G il
79 92 103 11 3
o remorso de baltazar serapião O Coração da s Trevas: o medievalismo sujo de o remorso de balta za r serapião
127
Paulo Pereira
Dos sentidos do primitivo em o remorso de baltazar serapião ..... ..... . . . ..... .
141
Francisco Saraiva Fino o remorso de baltazar serapião : tratado de educação feminina .. Maria de Lo urdes Pereira
151
7
o apocnlipse rios trabalhadores Aflitos de tristeza. Ál varo Do min g ues Mulheres esperam homens-máquina: ou sobre humanos em o apocalipse dos trabalhadores ........... . . . . Ricardo Posta l
161
171
a máquina de fazer espanhóis N otas sobre a máquina e não só. jerônimo Pi za rro Valter Hugo Mãe: a intransigência na esperança pelo trilho dos afetos Ma ri a Leonor Castro a máquina de fa zer espanhóis: máquina satírica e máquina metaliterária Carlos Nogu e ira
182
191
205
O Filho de Mil Homens O narrador e a "moral da história": aspectos da narrativa oral em O Filho de Mil Homens .... .... ..... ... . .. .. . . ... . . Rafa e lla Teotônio O Filho de Mil Homens: queda e ascensão das personagens.. .. . . . . . . . . . . . . . . . . Ana Isa bel Serpa Homossexualidade, homoerotismo e género em O Filho de Mil Homens.. Carlos Nogue ira Homoafetividade e laços de família em O Filho de Mil Homens Emerson Silvestre
219 228 235 255
A Desumanização A Desumanização: lirismo, sublime e assombro .... . ... ... .. . .. . . . . . .. .. ... .. . .. .. . Migu e l Real A humanização . . .. ....... ... . .. . . . . . .. . . . . .... .. . . . . .. . . . . ... . . .. .. . .. .. . . . ... .. .. .. .. . . . . . Rosa Alice Branco Morte e construção identitária: o luto nas personagens de Valter Hugo Mãe ... .. .. .. .. .... ..... . . . .......... . ..... .. Rafa e la de Lira Na sc imento
273 277
293
Sobre vários romances Valter Hugo Mãe romancista: os anos de formação (2004-2010). Luís Mourão
8
309
Valter Hugo Mãe: do neonaturalismo ao lirismo ..... ...... . . . ..... .. .... . . . Miguel Real Valter Hugo Mãe: a máquina da criação grotesca . Isabel Cristina Mateus Ser o que não se pode e poder o que não se é: aprendizagens em o nosso reino e O Filho de Mi l Homens .... .... .. . .. . ..... . . . . . Rui La ge Os romances de Valter Hugo Mãe: literatura e alteridade ....... . . . . .. ... ........ . Rafaella Teotônio A Europa das periferias nos romances de Valter Hugo Mãe ...... . .......... . . . . . Martín López-Vega
319
324
343 350 365
111. Literatura para a infância e a juventude "Todas as pessoas são a felicidade de alguém": o sentido do outro na literatura infantojuvenil de Valter Hugo Mãe . Raquel Patriarca Os pequenos mundos de Valter Hugo Mãe: . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . os Contos de Cães e Maus Lobos . . . Gabrie la Fragoso Contos de Cães e Maus Lobos: entre a biblioterapia e a arte de andar pela floresta ....... ..... . . .. .. .. . . .. ... .. . . Maria Luísa Malato
383
405
413
IV. Crónica As crónicas de Valter Hugo Mãe: cadernos de um caçador .... ..... . .. ...... . ... . . Luís Ricardo Duarte "Casa de papel": a arte de ser gente na crónica de Valter Hugo Mãe Paulo Jo rge Augusto Matos "Ver com o desejo": do processo de criação ekphrástica nas crónicas de Valter Hugo Mãe. Luís Tarujo
427
444
461
V Teatro As fábulas teatrais de Valter Hugo Mãe ... .. ... . ........ . .. ... . . . ..... . .... . .... .. . . . . Christine Zurbach Um Teatro para fertilizar o Homem ... .. ... . ... .. ..... .. . .. . . . ..... . . .. . .. . .... .. . . . . . . Raquel Crisós tomo
9
477 492
Notas sobre a máquina e não só ]erónimo Pizarro Universidade dos Andes
O título a máquina de faz er espanhóis (2010) gerou-me durante vários meses, ar de ler o romance, uma série de equívocos: pensei que se tratasse de uma obra de fie científica , talvez sobre seres autómatos (tinha lido uma antologia designada "Vid a ~ Autómatos Ilustres" da editora Impedimenta, e estava a reler o texto clássico de Fr- _ sobre a psicologia do sinistro ou do inquietante); pensei que se tratasse de uma r rativa que desse mais relevo a Espanha do que a Portugal, e com um título desti a ser um best-seller no lado espanhol da Península Ibérica, onde existe uma assoc iadedicada à promoção da Fantasia, da Ficção Científica e do Terror; e pensei que f ::uma obra de imaginação raciocinada, como La lrz vención de Morel (1940), de AdL Bioy Casares, em que Morei inventa uma máquina capaz de duplicar a realidad e _ personagem deseja que a invenção lhe permita eternizar o seu amor por uma m urOs títulos geram expectativas. Mas que tipo de obra é a máquina de faz er espm: e até que ponto é possível categorizá-la como literatura fantástica, ficção científic.; terror, atendendo à pretensa existência de uma "tremenda máquina de transfor portugueses em espanhóis" (Mãe, 2010: 269), que aterroriza vários residentes d _ lar de idosos, tal como um forno oculto no gabinete do pai aterroriza Natanae" conto "O Homem de Areia" (1817), de E.T.A . Hoffmann? Em 2008, Valter Hu go _ publicou o apocalipse dos trabalhadores, um romance que conta a história de uma lhe r a dias e de uma carpideira, onde evoca os universos literários de José Sara n := _ Clarice Lispector e Luiz Ruffato, entre outros; e que, em princípio, seria pouco e. ::tável que enveredasse, de seguida, pelo género fantástico propriamente dito. _ então, não haverá um elemento de fantasia nessa máquina de fazer espanhóis desconhece autonomias e separatismos; que não faz alemães, nem suecos)? E : absurdo pensar que o romance de 2010 tenha um pendor realista, ainda que, m ~ assim, se aproxime da ficção científica, atendendo à existência de passagens qu e _bram Frankenstein; or, The Modern Prometheus (1818)? Creio que não. Afinal, a má_de faz er espanhóis é uma obra híbrida em termos genéricos, porque ao mesmo t :que oferece uma visão disfórica da história portuguesa, como um romance rea" fá-lo evocando a idade de ouro de determinadas anatomias viventes e recriand o ~ ginações fantásticas .
"somos bons homens". Este começo, curtíssimo, sem maiúscula inicial, é reçado pouco depois: "somos genuinamente bons homens e ainda conservamos ingénua vontade de como tal sermos vistos" (Mãe, 2010: 15). Este começo qua deria ser extraído de um tratado de sociologia sobre o povo português, um d os
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