Nova História Cultural

July 14, 2017 | Autor: Enio Vieira | Categoria: Historia, Historia Cultural
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Descrição do Produto

"Universidade Nove de Julho – Uninove "
"Curso: História, Relações Sociais e Cultura "
"Professora: Ivânia Valim "
" "
"Enio E. A. Vieira – RA: 614200381 "
" "
"Resenha acadêmica "
"A Nova História Cultural – considerações sobre o seu universo "
"conceitual e seus diálogos com outros campos históricos "
" "
"Resumo "
"Esta resenha tem como objetivo falar do texto homônimo de José "
"D'Assunção Barros, que elabora algumas considerações sobre a Nova "
"História Cultural, examinando conceitos como práticas, "
"representações, ideologia, imaginário e política. Ao longo desta "
"resenha dialogaremos também com alguns outros autores, em especial "
"os que foram utilizando neste módulo do curso de História, Relações"
"Culturais e Cultura da Universidade Nove de Julho. "
" "
"Palavras-chave: História Cultural, práticas, representações "
" "
"Introdução – Sobre o autor "
" "
"José D'Assunção Barros é doutor em história pela Universidade "
"Federal Fluminense, tendo concluído sua tese em 1999. Tem atuado, "
"segundo seu próprio currículo lattes, nas áreas de Historiografia, "
"Teoria da História, Metodologia da História, História Cultural, "
"História da Arte, Cinema-História. Na área de Música, tem "
"desenvolvido pesquisas na área de Musicologia Histórica e História "
"da Música, além de ter lançado quinze livros e ter escrito mais de "
"cem artigos acadêmicos. "
" "
"Sobre a Nova História Cultural "
" "
"O autor inicia seu texto falando sobre o conceito de História "
"Cultural, e como ele se encontra em alta nos dias de hoje, ao "
"ganhar maior destaque após a tendência econômica entre os anos de "
"1950 e 1970. Junto a esta História Cultural encontramos também um "
"retorno da História Política, por tempo abandonada e até mesmo "
"temida pela maioria dos historiadores, após a popularização da "
"historiografia praticada pela Escola dos Annales. No entanto, o "
"autor aponta que a historiografia recente apresenta uma rede de "
"confluências em seus escritos, mesclando a cultura e a política, "
"sendo que uma está atrelada a outra em nossa sociedade. A própria "
"história cultural vai muito além do conceito de cultura – conceito "
"de difícil definição por si só, inclusive – pois se envolve com "
"outros campos do saber, como a Antropologia, a linguística, a "
"psicologia ou a ciência política (BARROS, 2011, p. 39). "
" "
"Nesse ponto o autor não só concorda como ainda cita os estudos de "
"Clifford Geertz, que contribuiu muito para a Antropologia ao "
"desenvolver o conceito de "descrição densa" de hábitos culturais, "
"pois cada hábito pode ter significados totalmente diferentes "
"segundo seu contexto. Geertz dá o exemplo da piscadela, que pode "
"significar desde uma maneira de tentar seduzir alguém ou um simples"
"ato involuntário de uma pessoa que possua algum tipo de tique "
"nervoso. Ao falar sobre o trabalho do etnógrafo, Geertz diz que é "
"como ler "um manuscrito estranho, desbotado, cheio de elipses, "
"incoerências, emendas suspeitas e comentários tendenciosos, escrito"
"não com os sinais convencionais do som, mas com exemplos "
"transitórios de comportamento modelado" (GEERTZ, 2008, p. 07). Tal "
"comparação se aproxima à abordagem de Robert Darnton, que trata os "
"documentos históricos de maneira antropológica, buscando visitá-los"
"com certo distanciamento para que assim possa analisá-los com o "
"máximo de distanciamento possível. Nas palavras de Darnton: "
" "
""Para visitar os mortos, o historiador precisa de algo além da "
"metodologia, algo como um salto de fé ou uma suspensão da dúvida. "
"Não importa quão céticos possamos ser quanto à vida futura, mas só "
"podemos sentir humildade em relação a todas as vidas passadas. "
"[...] Tenho certeza de que precisamos pensar seriamente sobre o que"
"fazemos, ao tentarmos explicar a vida e a morte no passado." "
"(DARNTON, 1990, p. 18) "
" "
"Barros segue em seus escritos falando de vários outros escritores "
"que definiram e melhor trabalharam a questão da história cultural, "
"entre eles destaco aqui o célebre historiador italiano Carlo "
"Gizburg, que desenvolveu bastante seu micro história ao pesquisar "
"sobre pequenas agrupações de pessoas – ou às vezes, como em sua "
"obra O queijo e os vermes, apenas uma pessoa – foram perseguidas "
"pela Santa Inquisição no século XVI. Além de Ginzburg, Barros cita "
"ainda Michel Foucault, Pierre Bourdieu, Michel de Certeau e Roger "
"Chartier. Todos esses autores trabalham cultura de uma maneira "
"dialética e conversando constantemente com métodos antropológicos e"
"sociológicos de pesquisas, enriquecendo a própria historiografia "
"com seu método original de pesquisa, e elevando o conceito de "
"cultura a definições mais arrojadas e sofisticadas. "
" "
"Ao falar do conceito de cultura utilizado pelos marxistas da Escola"
"Inglesa, escola esta que tem com Thompson e Hobsbawn entre seus "
"maiores representantes, Barros descreve como para estes "
"historiadores "
" "
""o mundo da Cultura passa a ser examinado como parte integrante do "
""modo de produção", e não como um mero reflexo da infraestrutura "
"econômica de uma sociedade. Existiria, de acordo com esta "
"perspectiva, uma interação e uma retro-alimentação contínua entre a"
"Cultura e as estruturas econômico-sociais de uma Sociedade, e a "
"partir deste pressuposto desaparecem aqueles esquemas simplificados"
"que preconizavam um determinismo linear e que, rigorosamente "
"falando" (BARROS, 2011, p. 42). "
" "
"No fim da primeira parte de seu texto, Barros fala ainda sobre a "
""Cultura Política", e como ela não deve ser estudada fora do "
"contexto de produção cultural. Tal abordagem aparece na década de "
"1960, com os Gabriel Almond e Sidney Verba, que entendem a política"
"como um desdobramento das práticas culturais, estando ela também "
"vinculada à cultura, e por isso não podendo ser estudada "
"separadamente. Uma das modalidades historiográficas mais utilizadas"
"nas últimas décadas, chamada de "História dos Conceitos", que se "
"situa entre a construção de ideias e a história social, pensando "
"nas tensões de tais construções, focando seus estudos a partir das "
"mudanças ocorridas na sociedade ocidental no século XIX. Entre seus"
"expoentes, o autor destaca Sandro Chignola e Reinhark Koselleck. "
" "
"Práticas e representações "
" "
"Depois de analisar algumas modalidades historiográficas, Barros "
"passa a refletir sobre as noções de práticas e representações, "
"termos que aponta como complementares. Dialogando com Roger "
"Chartier, José D'Assunção Barros destaca que uma fonte não deve ser"
"analisada por si só, mas também por toda sorte de práticas "
"culturais que a permeiam. Um exemplo disso é como Chartier estuda a"
"cultura do livro, não estudando tão somente o conteúdo escrito de "
"suas páginas, mas tratando o livro como um objeto a ser estudado "
"através de interpretações próprias de um historiador que trabalha "
"com a cultura material. Em outras palavras, perguntando-se à que "
"classe social pertence o escritor, qual era seu público alvo, em "
"quais classes sociais sua obra circulou, qual o material do livro, "
"quantas páginas, de que material está feito, quanto custou quando "
"foi lançado, onde foi lido, se foi lido oralmente em praça pública,"
"como ele foi diferentemente interpretado ao longo da sua trajetória"
"histórica, entre outros tantos questionamentos possíveis. Nas "
"palavras do próprio Chartier, "
" "
""Uma história da leitura não se pode limitar unicamente à "
"genealogia de nossos modos de ler, em silêncio e com os olhos, mas "
"tem a tarefa de redescobrir os gestos esquecidos, os hábitos "
"desaparecidos. A questão é de importância, pois não revela somente "
"a distante estranheza de práticas por longo tempo comuns, mas "
"também os agenciamentos específicos de textos compostos para os "
"usos que não são os de seus leitores de hoje" (CHARTIER, 1991, p. "
"181). "
" "
"Nas próximas páginas Barros segue descrevendo como uma prática "
"cultural pode sofrer mutações ao longo da história, e ganhar novos "
"significados. O exemplo dado é o do mendigo, que durante a Idade "
"Média era visto como uma garantia de salvação para as classes mais "
"abastadas, que o cuidavam, o banhavam e o alimentavam, quando um "
"mendigo novo aparecia nas cidades. No entanto, com o passar dos "
"anos, a figura do mendigo mudou de significado, deixando de ser "
"visto como um instrumento de salvação, mas sendo entendido como um "
"pecador, responsável por sua falta de sorte, que deve sofrer por "
"não buscar meios melhores para sua sobrevivência, sendo até mesmo "
"maltratado pelos moradores da cidade, especialmente quando vem de "
"um lugar estrangeiro, ameaçando a suposta harmonia daquela "
"sociedade. "
" "
"Barros ainda aponta como "práticas" e "representações" ainda são, "
"no caso das ciências humanas, representações, e não conceitos, pois"
"ainda não alcançaram a devida delimitação e estão todavia sendo "
"melhor elaborados pela comunidade científica, o que, no entanto, "
"não impede que existam conceitos com uma enorme variedade de "
"interpretações, como o próprio caso de "cultura" e de "ideologia" "
"(BARROS, 2011, p. 52). "Símbolo", no entanto, já é considerado pelo"
"autor como um conceito, pois já foi devidamente amadurecido no seio"
"das ciências humanas, ainda que possa significar coisas diferentes "
"em diversas culturas. Um exemplo dado é o da serpente, que "pode "
"ser empregada como símbolo do ciclo, da renovação, sentido "
"inspirado pela mudança de peles que ocorre ciclicamente no animal, "
"mas também pode ser empregado como símbolo da astúcia, da maldade, "
"sentidos que remetem ao universo bíblico" (BARROS, 2011, p. 53). "
""Ideologia" é outro conceito também já bem definido, que pode ser "
"compreendida como "uma determinada forma de construir "
"representações ou de organizar representações já existentes para "
"atingir determinados objetivos ou reforçar determinados "
"interesses", apesar de ser um conceito que "tem sido empregado por "
"autores distintos com inúmeros sentidos no campo das Ciências "
"Humanas, e por isto um historiador que pretenda utilizar este "
"conceito deve se apressar a definir com bastante clareza qual o "
"sentido por ele utilizando" (BARROS, 2011, p. 54). Porém, a "
"ideologia está também associada a um sistema de valores, valores "
"estes que são definidos pela cultura. "
" "
"Novas abordagens da História Cultural e seus diversos domínios "
" "
"Terminaremos essa resenha falando sobre a abordagem de Barros sobre"
"as novas possibilidades de entendimentos da História Cultural. O "
"autor entende a cultura como algo dinâmico e diversificado, e que "
"os agentes culturais circulam pela sociedade produzindo e "
"interpretando as distintas formas de cultura nas sociedades, que "
"circulam e se adaptam aos gostos e necessidades de seus agentes. "
"Assim que uma produção que outrora seria interpretada como "cultura"
"erudita" pode ser assimilada e reinterpretada por camadas mais "
"populares de uma sociedade, enquanto que o antigo entendimento de "
"cultura popular acaba por ser também integrado às classes sociais "
"mais abastadas, e que supostamente consumem e se comportam de "
"acordo com os valores estipulados pelo o que deve, idealmente, ser "
"erudito. "
" "
"Quanto aos domínios temáticos, sejam eles História Política, "
"História da Guerra, da Religião, das Sexualidades, etc., todos "
"incidem, habitualmente, para o campo da História Cultural, pois "
"segundo o autor, na historiografia moderna, qualquer contexto de "
"qualquer assunto a ser abordado deve ser primeiramente entendido "
"pelo viés cultural, ainda que sejam temáticas tradicionalmente "
"conhecidas pelo entendimento positivista, como a guerra e a "
"política. Sendo assim, o autor termina seu texto dizendo como a "
"História Cultural não tem apenas nos permitido expandir e elaborar "
"novas temáticas historiográficas, mas compreender de maneira mais "
"ampla até mesmo o que já foi bastante trabalhado, mas sob um novo "
"olhar, proporcionando novas conexões, saberes e modalidades, "
"enriquecendo a ciência historiográfica cada vez mais. "
" "
"Bibliografia "
" "
"Website pesquisado: http://lattes.cnpq.br/7367148951589975 "
" "
"BARROS, José D'Assunção. A Nova História Cultural – considerações "
"sobre o seu universo conceitual e seus diálogos com outros campos "
"históricos. Cadernos de História, Belo Horizonte, v. 12, n. 16, 1º "
"sem. 2011. "
" "
"BURKE, Peter. O que é história cultural? Rio de Janeiro: Jorge "
"Zahar, 2005. "
" "
"CHARTIER, Roger. O mundo como representação. Estudos Avançados "
"11(5), 1991. "
" "
"DARNTON, Robert. O beijo de Lamourette. Mídia, cultura e revolução."
"São Paulo: Companhia das Letras, 1990. "
" "
"ELIAS, Norbert. O processo civilizador I. Uma história dos "
"Costumes. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999. "
" "
"GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: "
"LTC, 2008. "
" "
"MENESES, Ulpiano T. Bezerra. Fontes visuais, cultura visual, "
"História visual. Balanço provisório, propostas cautelares. Revista "
"Brasileira de História. São Paulo, v. 23, n. 45, p. 11 – 36. 2003. "
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