NOVA MÍDIA E DEMANDAS SOCIOAMBIENTAIS: O CASO DO MOVIMENTO XINGU VIVO PARA SEMPRE

July 21, 2017 | Autor: Geldes Castro | Categoria: Web 2.0, Mídias Digitais, Meio Ambiente, Belo Monte Dam
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XV ENCONTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS DO NORTE E NORDESTE e PRÉ-ALAS BRASIL

04 a 07 de setembro de 2012, UFPI, Teresina – PI

GT 14 – MÍDIA, CULTURA E SOCIEDADE

NOVA MÍDIA E DEMANDAS SOCIOAMBIENTAIS: O CASO DO MOVIMENTO XINGU VIVO PARA SEMPRE

Geldes de Campos Castro NIED/SEMEC/Belém – PA [email protected]

NOVA MÍDIA E DEMANDAS SOCIOAMBIENTAIS: O CASO DO MOVIMENTO XINGU VIVO PARA SEMPRE Geldes de Campos Castro1 RESUMO A sociedade civil organizada tem utilizado de recursos, para se fazer presente e divulgar suas ações. Sob essa perspectiva o movimento ambiental tem utilizado sobremaneira o potencial da chamada nova mídia para divulgar suas demandas. Tomando como objeto o Movimento Xingu Vivo para Sempre, criado para se contrapor à construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, este trabalho pretende analisar como a World Wide Web tem sido utilizada por esse movimento na divulgação de suas demandas. Para isso analisou-se redes sociais, blogs e microblogs relacionados ao assunto. Como resultados percebeu-se que, por um lado, a Web tem sido usada como amplificadora, na qual o movimento tem o controle da comunicação, uma vez que esta não acontece de forma unilateral como nas mídias tradicionais. A fonte aberta de transmissão favorece a livre divulgação das informações de forma descentralizada que, incorporada à aleatoriedade da interação e à criação compartilhada, conferem legitimidade às demandas e ao movimento.

INTRODUÇÃO O gesto da índia Tuíra, em fevereiro de 1989, por ocasião do I Encontro dos Povos Indígenas do Xingu, ao encostar um facão no rosto de José Antônio Muniz Lopes, então diretor de engenharia da Eletronorte, demonstrando se opor à execução de um projeto de Governo que já é considerado o mais polêmico dos últimos trinta anos, é o símbolo de um momento que representa um marco na trajetória do socioambientalismo no Brasil. As imagens rapidamente ganharam o mundo, repetindo-se nos diversos canais das mídias então disponíveis à época. Parecia um atentado, uma ameaça à vida de um branco, cidadão de bem, cometido pelos “vorazes selvagens” em oposição aos benefícios do progresso.

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Professor da Rede Municipal de Ensino de Belém, Mestre em Ciências Sociais (Sociologia) pela Universidade Federal do Pará – UFPA.

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A cena foi repetida ad infinitum, recebendo as entonações ditadas pelo veículos. A protagonista da cena, caso almejasse explicar o seu ato, teria que aguardar a iniciativa dos veículos de comunicação para se manifestar e, ainda assim, sob pena de ter suas ideias editadas de acordo com os interesses das mídias que a projetassem. Se o gesto de Tuíra tivesse ocorrido anos depois, teria outras possibilidades de divulgação e interpretação e a amplitude destas assumiria outras proporções. A referência aqui se relaciona à chamada nova mídia, cuja utilização tem proporcionado a manifestação da multiplicidade de olhares em torno de questões antes pouco visibilizadas. Tomando como objeto o Movimento Xingu Vivo para Sempre, criado para se contrapor à construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu, estado do Pará, este trabalho pretende analisar como a World Wide Web tem sido utilizada por esse movimento na divulgação de suas demandas. Para isso, tomou como objeto de análise o site da Web mantido por esse movimento, relacionando com os demais recursos os quais utiliza, a saber, perfis nas redes sociais Facebook e Orkut, microblog Twitter, e ainda o canal de vídeo Youtube. O texto compõe-se três seções. A primeira relaciona a ampliação da questão ambiental com a utilização da Internet, o que é referendado por diversos autores, dentre os quais se destaca Manuel Castells (2003 e 2006). A segunda trata particularmente do Movimento Xingu Vivo para Sempre e sua origem como contraposição à instalação da usina hidrelétrica de Belo Monte. A última seção trata do uso que esse movimento tem feito dos diversos recursos da World Wide Web para divulgação de suas demandas

1. QUESTÃO AMBIENTAL E INTERNET A preocupação com os problemas ambientais não é um fenômeno recente (PÁDUA, 2004). Sempre houve preocupação com a natureza, mas foi a partir do século XIX que se começou deliberadamente a protegê-la. Inicialmente, como resultado de avaliações relacionadas aos impactos causados pelas atividades 2

tradicionais e mais tarde, no século XX, com as consequências da Revolução Industrial. Um terceiro conjunto de preocupações dá-se devido à globalização dos problemas ambientais, tomando estes uma dimensão planetária. McCormick (1992) afirma que a preocupação sistemática com os problemas ambientais e a implementação de ações relacionadas a isso, com o que se convencionou chamar de ambientalismo, não teve um começo claro. As questões ambientais eram questões eminentemente locais. Não houve apenas um acontecimento que fizesse a sociedade despertar ao mesmo tempo. O que houve foi a compreensão de diversas situações em diferentes locais, tais como os custos mais imediatos e pessoais da poluição, de caça, da pesca e da perda de florestas. Aos poucos os indivíduos foram formando grupos, que formaram coalizões, as quais foram se tornando movimentos nacionais, até que finalmente se tornaram um movimento multinacional. O movimento ambiental se insere, além desse caráter reflexivo, na perspectiva da sociedade do risco (BECK, 2010), pressupondo uma postura ativa diante de perigos institucionalizados, relacionados ao ambiente natural, o que poderia afetar direta e indiretamente a vida de milhões de pessoas, além das ameaças causadas à biodiversidade e como tal, ao equilíbrio da vida no planeta. A aproximação das agendas ambiental e social impulsionou a criação de uma categoria ainda em construção, o socioambientalismo, o qual compreende uma tentativa de superar a ênfase excessiva sobre as questões voltadas ao ambiente natural em detrimento da habilidade política em conjugar essas duas agendas (VIOLA, 1992). Essa preocupação sistemática ganha corpo e projeção utilizando-se dos recursos tecnológicos para apresentar suas demandas (CASTELLS, 2006). As chamadas novas mídias tem sido o campo principal de divulgação dessas ações, sendo utilizadas de forma privilegiada pelas diversas organizações e movimentos da sociedade civil. Como nova mídia entende-se aqui a referência “aos meios que lidam com a linguagem, a informação, o entretenimento e os serviços disponíveis mediante

artefatos tecnologicamente

avançados em relação 3

aos suportes

conhecidos” (COSTA, 2009, p. 16). Não englobam apenas o uso do computador, mas outros recursos capazes de carregar textos, imagens, sons e vídeos, tais como celulares e outros aparelhos portáteis utilizados hoje em larga escala. Lévy (2003) afirma que as novas mídias apresentam recursos não contemplados pelas mídias tradicionais. Um site pode apresentar textos, imagens fixas e animadas, sons e imagens, diferindo das mídias tradicionais; os conteúdos não são pautados pelas grades de programação, mas sim organizados por temas, alcançando a preferência daqueles que buscam a informação e, por último, o favorecimento da interação, chamando à atenção de grupos de interesses objetivando a informação. Favorece ainda ao internauta examinar argumentos e manifestar seus comentários, favorecendo a abertura à participação e a liberdade de expressão. Ou seja, o internauta navega de acordo com seus interesses, acessando as informações disponíveis e de acordo com o tipo de mídia que mais lhe agrada e, principalmente, pode manifestar suas opiniões e participar dos debates que mais lhe interessam. Os recursos das novas mídias representam novas possibilidades a serem aproveitadas pelos diferentes atores e estas não tem sido negligenciadas pelos movimentos sociais, ao contrário, desde seu aparecimento, a Internet tem sido importante veículo utilizado pelas diferentes manifestações da sociedade civil organizada. A facilidade de inserção, os custos econômicos reduzidos e a disponibilização dos recursos multimídia são fatores que favorecem essa utilização efetiva. A Internet tem se configurado como um recurso apropriado para a divulgação das demandas socioambientais: (...) a Internet é mais que um mero instrumento útil porque está lá. Ela se ajusta às características básicas do tipo de movimento social que está surgindo na era da informação. E como encontraram nela seu meio apropriado de organização, esses movimentos abriram e desenvolveram novas avenidas de troca social, que, por sua vez, aumentaram o papel da Internet como uma mídia privilegiada. (CASTELLS, 2003, p. 115)

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A plasticidade da Internet é uma das características que fazem dela um recurso do qual se lança mão com tanta facilidade. Cada utilizador faz dela o uso conforme seus interesses e necessidades e esta ajusta-se àquilo que os diversos atores pretendem. Cada recurso novo que nela são disponibilizados compreende um rol infinito de possibilidades de utilização e, por isso, podem ser modificados e utilizados de acordo com as demandas, interesses, objetivos. As grandes organizações ambientais como o World Wide Fund For Nature (WWF), Amigos da Terra e Greenpeace são exemplos do uso sistemático dos

recursos das mídias para promover suas ações e demandas. Esta última me parece ter caráter suficientemente emblemático para exemplificar a questão. Carneiro (2011) destaca um padrão nas campanhas empreendidas por essa organização. Normalmente há elaboração de um relatório sobre determinada demanda, seguido da realização de alguma ação direta relacionada. O terceiro momento compreende a midiatização da questão e por último a apresentação de uma petição sobre a demanda. As ações diretas são caracterizadas pelo aspecto “chocante” para chamar a atenção. Essa ação é geralmente acompanhada de um grande aparato relacionado às novas tecnologias da informação e comunicação, que dão a tônica e chamam a atenção da sociedade. Replicam-se na Internet fotos, vídeos e depoimentos acerca dessas ações, tanto no site oficial dessa ONG, quanto nas diferentes redes sociais a partir das quais são compartilhados nos mais diversos perfis pessoais. Aqui as redes sociais online tem desempenhado importante papel, o de replicar as informações e promover a interação aleatória, favorecendo o debate entre os internautas e divulgando as ideias. Na Amazônia, por suas características geográficas e localização distante dos centros de decisões política e mesmo pelo imaginário que de certa forma a cerca, os movimentos locais em favor dos problemas socioambientais possuíam pouca ou nenhuma visibilidade. A maioria estava confinada apenas a essa dimensão local. As grandes ONGs transnacionais contribuíram para o processo de desinvisibilização, mas não restam dúvidas de que a utilização da Internet em larga escala foi um fator preponderante nesse contexto (ZHOURI, 2006). Houve um aumento da cooperação entre esses atores locais e agências de cooperação internacionais, em geral 5

americanas e europeias. Com isso ocorreu uma projeção de atores praticamente desconhecidos e alçados em importância internacional. Os atores percebem as possibilidades trazidas pela Internet na visibilização das questões locais, bem como na projeção e divulgação de suas demandas. Na mídia tradicional há uma seleção de pauta para organizar a programação. Nessa pauta o espaço para as manifestações são mínimas e, quando há, os movimentos não controlam a abordagem feita. A Internet difere desse perfil. Nela os movimentos locais ganham maior visibilidade, deixando essa dimensão local para assumir a projeção ao alcance da Web. Nesse sentido, os movimentos utilizam essas ferramentas como promotoras da desinvisibilização social, ao mesmo tempo em que funcionam como amplificadoras do movimento.

2. MOVIMENTO XINGU VIVO PARA SEMPRE E A CONTROVÉRSIA DE BELO MONTE O movimento Xingu Vivo para Sempre ou simplesmente MXVPS surge como uma manifestação coletiva em torno da defesa do rio Xingu, na Amazônia brasileira. O movimento assim se define em sua página da web: O Movimento Xingu Vivo para Sempre (MXVPS) é um coletivo de organizações e movimentos sociais e ambientalistas da região de Altamira e das áreas de influência do projeto da hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, que historicamente se opuseram à sua instalação no rio Xingu. Além de contar com o apoio de organizações locais, estaduais, nacionais e internacionais, o MXVPS agrega entidades representativas de ribeirinhos, pescadores, trabalhadores e trabalhadoras rurais, indígenas, moradores de Altamira, atingidos por barragens, movimentos de mulheres e organizações religiosas e ecumênicas. (http://www.xinguvivo.org.br/quem-somos/)

Mais de uma centena de organizações juntam-se na composição do movimento em contraposição à instalação do projeto de construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, na chamada Volta Grande do rio Xingu, município de Altamira. O movimento, ao se definir como um coletivo de organizações e movimentos sociais e ambientalistas, traz para si as duas preocupações: a social e a ambiental. Tais preocupações são manifestas nessa composição do movimento,

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agregadas pelas diferentes matrizes representativas que juntam-se para corporificar as ações. Uma das questões iniciais a ser observada é a respeito do nome do movimento: “Xingu Vivo para Sempre”. O movimento autodenomina-se pelo positivo e não faz referência a seu oponente no nome. Não se chama “movimento contra Belo Monte” ou “Não a Belo Monte”, por exemplo. Ao contrário, nega a existência deste ao afirmar-se pela manutenção inalterada do lugar que defende. Faz referencia a uma Utopia: o rio Xingu que deve ser mantido vivo para sempre. Evoca um topós, para o qual defende uma imortalidade, uma existência cuja temporalidade não impõe obstáculo. É a manutenção de uma ordem que não pode ser modificada pela alteração do curso do rio e, consequentemente, a manutenção da vida das comunidades locais. O movimento é relativamente recente e, assim podemos dizer, caracteriza uma resistência ao projeto de desenvolvimento que vem materializando-se na construção da hidrelétrica de Belo Monte, um empreendimento controverso e que tem suas tentativas de implementação desde a década de 1980. À época, o projeto se chamava Kararaô, que na língua Kaiapó, significa “grito de guerra”. Nome sugestivo para a hidrelétrica, cujas consequências trariam em seu bojo o remanejamento de várias etnias atingidas pelas barragens. O nome, talvez, tenha servido de inspiração para as organizações locais que, utilizando das interpretações do nome projetado, ameaçaram emitir grito de guerra contra o empreendimento. Por ocasião do I Encontro dos Povos Indígenas do Xingu, no final da década de 1980, na cidade de Altamira, a questão ganha notoriedade. Os responsáveis pelo empreendimento tomam a decisão de mudança de nome da usina hidrelétrica de Kararaô para Belo Monte. Os estudos de aproveitamento do potencial hidrelétrico da região não param, estendendo-se pelas décadas seguintes. O Encontro Xingu Vivo para Sempre, realizado em 2008, 19 anos após o I Encontro dos Povos Indígenas do Xingu, reuniu representantes de movimentos sociais, populações indígenas, ribeirinhos, experts e organizações da sociedade civil, com a finalidade de implementar debate sobre os impactos de Belo Monte. 7

Apresentou como documento final a Carta Xingu Vivo para Sempre, na qual há, entre outros aspectos, o questionamento do modelo de desenvolvimento atual, sobre o qual se assenta o empreendimento. Essa carta foi referendada por mais de 100 signatários, sendo que mais da metade é composta por representantes de nações indígenas, das quais 26 compreendem grupos da etnia Kaiapó. Linha de frente do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do Governo Federal, a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte teve os questionamentos sobre sua viabilidade intensificados a partir de fevereiro de 2010, quando a licença prévia para a construção foi concedida pelo Ministério do Meio Ambiente. Dentre os questionamentos contrários destaca-se o argumento de que o ser humano ocupa pouco espaço nas discussões. O Estudo de Impactos Ambientais (EIA) apresenta uma série de lacunas o que teria como objetivo obscurecer os impactos para as diversas categorias sociais existentes nas áreas que deverão ser atingidas, com isso, diminuiriam-se os custos com as transações e processos indenizatórios, ocultando impactos sobre os diversos modos de vida das populações residentes na Amazônia. (RAVENA e TEIXEIRA, 2010) Os estudos em relação aos efeitos da execução do projeto têm apresentado resultados divergentes. Os dados provenientes dos estudos oficiais sobre os impactos não são ratificados por estudos realizados em outras instâncias, como Universidades, por exemplo. Um dos mais importantes documentos publicados foi o Painel de Especialistas, elaborado por profissionais de diversas áreas do conhecimento, vinculados a diferentes instituições de ensino e pesquisa, analisando diversos aspectos referentes aos impactos provenientes da efetivação dessa obra. No entanto, não houve nenhuma tentativa de diálogo com esses pesquisadores muitas vezes desqualificados e ridicularizados em audiências públicas (MORAL HERNÁNDEZ e MAGALHÃES, 2011; ZHOURI, 2011). Importante ressaltar que este não foi o primeiro estudo sobre esse empreendimento. Em 2005 foi publicado o livro Tenotã-mõ, organizado por Oswaldo

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Sevá e Glenn Switkes, o qual aponta os impactos danosos ao ambiente natural e aos diversos agrupamentos sociais ali existentes, em particular os povos indígenas.

3. DEMANDAS SOCIOAMBIENTAIS E A REDE MUNDIAL DE COMPUTADORES As demandas do I Encontro dos Povos Indígenas do Xingu ganharam espaço em setores da imprensa internacional, alavancadas, dentre outros motivos, pela presença de pessoas oriundas do meio artístico. Às vésperas do II Encontro a cena da índia Tuíra era veiculada como rememorização das lutas que se travavam na região do Xingu. A diferença que se notava, porém, é que os padrões de comunicação são outros. Se por um lado as mídias tradicionais veiculavam as notícias de acordo com os interesses de determinados grupos, agora as interações proporcionadas

via

internet

permitiam

que

os

grupos

organizados

locais

mantivessem presença constante na rede mundial de computadores e expusessem seus motivos e argumentos da forma que mais lhe fosse favorável. Acompanhando a tendência de utilização da Internet como estratégia de divulgação do movimento e de suas demandas, o Movimento Xingu Vivo mantém quatro canais oficiais de auto divulgação, conforme o quadro a seguir:

Canal Web

Endereço

Site Oficial

http://www.xinguvivo.org.br/

Orkut

http://www.orkut.com.br/Main#Profile?uid=2540907695900017321

Facebook

https://www.facebook.com/groups/130833970297954/

Twitter

https://twitter.com/#!/xinguvivo

A página oficial do movimento (http://www.xinguvivo.org.br/) apresenta layout semelhante aos disponibilizados pelos principais bloggers, com uma coluna principal com maior disponibilização espacial e outra lateral de largura mais reduzida. 9

No cabeçalho do site, em caracteres pequenos, destacam-se as seguintes seções: Ação, Notícias, Documentos, Deu na Imprensa, Compartilhe, Quem somos e Contato, correspondendo ao mapa do site. Esses itens estão “difusos” no site, não sendo de fácil localização. Pouco abaixo do cabeçalho, com bastante destaque, ocupando toda a largura da coluna principal, observa-se uma série de slides de transição alternada, com fotos impactantes chamando a atenção para algumas notícias, os quais possuem hiperligações para as notas ali veiculadas, redirecionando o internauta para aquelas de seu interesse. A coluna principal dá destaque para dois aspectos: notícias e imagens. Em relação às notícias, essas estão divididas em duas seções denominadas “Últimas Novidades” e “Deu na Imprensa”. A primeira refere-se àquelas notícias veiculadas no próprio site, servindo como divulgadora das ações do movimento, bem como a releitura dos acontecimentos relacionados à causa. A princípio não são tão visíveis, pois outros aspectos chamam mais atenção, como as transições de slides, já citados.

Figura 1: Site do Movimento Xingu Vivo para Sempre

Há um segundo destaque para notícias veiculadas na imprensa, as quais são replicações dos principais veículos de comunicação, em geral, como esperado,

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aquelas que apontam aspectos negativos relacionados à construção de Belo Monte. As informações veiculadas por atores externos, aqueles sem envolvimento direto com a questão, de certa forma, são aproveitadas para legitimar e confirmar as posições do movimento. Significa que outros atores percebem e ratificam aquilo que o movimento vem denunciando. Destaca-se na parte superior direita um espaço para buscas, tanto internas quanto externas, permitindo aos visitantes do site localizar as informações desejadas de forma mais rápida, ou mesmo buscando em outros locais da Web informações relacionadas àquilo que lhe interessam. Na coluna lateral há o que o site denomina de “Ação”. São depoimentos em pequenos vídeos, convites para ações presenciais, palavras de ordem, janelas com interações recentes do Facebook e Twitter. Pouco mais abaixo se localiza a entrada “Documentos”, na qual constam os seguintes itens: perguntas frequentes, impactos sociais, impactos econômicos, impactos ambientais, o projeto, histórico, cronologia de um desastre anunciado, soluções e alternativas, questões jurídicas, análises jurídicas. Este é um espaço com estudos técnicos, diferindo-se do restante do site. Há ainda um campo para “newsletter”, que é o ambiente disponível àqueles que desejam receber informações veiculadas no site. Após inscrição são encaminhadas informações para o e-mail do interessado sempre que a página sofrer alguma atualização ou sempre que novos eventos forem realizados. Na parte lateral à direita, afixados à barra de rolamentos, percebem-se os ícones das principais redes sociais nas quais o movimento mantém presença: Orkut, Twitter e Facebook. Clicando nesses ícones, o navegador é redirecionado para os perfis

associados

ao

MXVPS.

Destaca-se

(http://www.flickr.com/photos/xinguvivo/),

cuja

também finalidade

a é

rede a

social

Flickr

publicação

de

fotografias na Web. Nela o movimento publica imagens dos eventos realizados em diversas partes do país, cuja organização se dá em álbuns obedecendo a ordem cronológica dos eventos. Há ainda um Canal de Vídeos no YouTube (http://www.youtube.com/user/campanhaxinguvivo) com vinte e um vídeos de curta duração relacionados à questão e enviados pelo movimento. 11

Os diversos canais utilizados não apresentam informações significativas sobre a constituição do movimento. Apenas no perfil do Orkut há uma descrição inicial com nomes de lideranças e telefones para contatos, o que constitui um diferencial, pois nas outras estruturas pesquisadas há pouca informação sobre os atores que compõem a organização. Para perceber quem são os envolvidos é necessário montar uma espécie de mosaico com informações entrecortadas de diversas partes das páginas pesquisadas, como manifestos, cartas e similares. Talvez essa quase ausência de informações deva-se ao fato dos recentes atos proibitivos da justiça em relação ao contato das lideranças com o movimento e do tensionamento gerado em torno desses líderes. Como se nota, a presença do MXVPS na web é bastante intensa, ocupa os principais canais disponíveis e com atualizações recentes. Essa presença na web lança o movimento a uma exposição sem precedentes. Antes, para alcançar algum destaque para expor suas demandas os movimentos locais precisavam aliar-se a organizações de maior projeção, como as ONGs transnacionais (ZHOURI, 2006) já mencionadas anteriormente. Com o uso da Internet essa configuração assume outra posição. Os movimentos deixam de ser coadjuvantes e assumem papel de protagonistas dos processos nos quais estão envolvidos, passando a ter o controle da comunicação, veiculando suas ideias e replicando aquelas divulgadas em outros meios e que vão ao encontro das suas aspirações. Um aspecto importante a ser observado a respeito do MXVPS diz respeito a amplitude que a causa assumiu. A plasticidade da Internet foi utilizada sobremaneira a esse respeito. As ações e manifestações em nome do movimento demonstram isso. Nota-se a proliferação de manifestações em diferentes canais da Web, fazendo defesa do nome/marca MXVPS. Na rede social Facebook consta um número significativo de páginas e perfis associando, de diferentes formas, alguma relação com o movimento. Ações são disparadas em diferentes regiões do país remetendo de alguma maneira ao MXVPS. Essas iniciativas são replicadas na Internet em perfis pessoais das redes, que convocam ao atendimento de momentos presenciais, em geral manifestações, debates e outros eventos, cujos registros são posteriormente, ou ao 12

mesmo tempo, postados na rede social, correspondendo a um padrão que se repete: convite – replicação – ação – registro – replicação. O virtual corresponde aqui ao elemento fundante que dissolve a dimensão espaço-temporal. Os padrões são novamente repetidos através de replicações em perfis pessoais, que são marcados pelas interações aleatórias e espontâneas, sendo alçadas à categoria de “novas” sempre que alguma ação interativa ali é realizada. Da mesma forma, em outros recursos da Internet, tais como o canal de vídeos do YouTube e microblog Twitter, as ações são repetidas sempre que novos acessos são feitos, relembrados e renovados a cada comentário, postagem, ou interação, voltando sempre ao status de “novo”. Como exemplo disso há o caso da hashtag #PareBeloMonte ter sido mencionada mais de 10 mil vezes, fato este também ter sido alvo de comentário no site do movimento. O importante disso é perceber que não se trata apenas de informações sendo replicadas na grande rede, mas sim a composição de espaços abertos de debates, nos quais se pensa a importância e a participação da sociedade civil nas decisões, principalmente naquelas que provocam modificações nas configurações sociais, como é o caso da polêmica em torno da construção da usina de Belo Monte. Mais ainda, trata-se de espaço de construção e exposição de proposições e alternativas.

3.1. Pensar outro tipo de desenvolvimento A Carta Xingu Vivo para Sempre apresenta uma série de proposições do que denomina de um novo tipo de desenvolvimento, na perspectiva do que Escobar (2010) chama de ampliação das experiências alternativas à modernização e ao desenvolvimento. São experiências que tomam como referentes as vivências das populações e os modos alternativos que estas encontram para fazer frente às imposições dos padrões hoje predominantes. As reivindicações dessa carta, doze no total, são tratadas como componentes de um projeto de desenvolvimento, o qual corresponde aos interesses dos moradores daquela região. Esse projeto leva em consideração aspectos no âmbito da governança, postula a desinvisibilização social das populações tradicionais, volta-se para a proteção das florestas, a agroecologia e

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a implantação de políticas públicas eficazes, principalmente nas áreas de saúde e educação. Em outra carta, desta vez dirigida à Presidente Dilma Rousseff, endossada por mais de oitenta entidades, dentre as quais constam organizações locais, assim como organizações transnacionais, a questão do desenvolvimento ganha tônica novamente. O movimento denuncia os procedimentos referentes ao projeto, enfatizando que propostas inovadoras foram abandonadas face ao projeto desenvolvimentista das obras do PAC. Apresenta em suas proposições, também em número de doze, a criação de debates para o planejamento energético do país, envolvendo a sociedade, movimentos sociais, ONGs e a comunidade acadêmica, segmentos hoje ausentes das decisões, uma vez que esses grupos não dispõem de recursos de poder para imprimir suas demandas e especificidades na agenda que define a matriz energética do país (RAVENA e TEIXEIRA, 2010) Em um trecho particularmente esclarecedor, enfatiza que foram perdidas oportunidades para aquilo que considera promoção de um “outro desenvolvimento possível na Amazônia do século 21, partindo dos anseios das populações locais e pautado em princípios de justiça social, sustentabilidade ambiental e inovação econômica, com valorização da biodiversidade e dos serviços ambientais” (Carta à Presidente Dilma Rousseff). O movimento não considera a construção de Belo Monte uma realidade concretizada. Destaca as ações na justiça solicitando embargo da obra considerando as irregularidades no projeto, dentre as quais a de que os impactos socioambientais não estão suficientemente esclarecidos, o que seria causado por falhas no processo de licenciamento ambiental. A estratégia utilizada, então, a partir do início das obras da hidrelétrica é a de desqualificar o processo, enfatizando as questões trabalhistas, tais como greves, paralizações, prisões de operários, insegurança entre outras. Como exemplo disso, percebem-se os sliders na página inicial do site, cuja tônica é a exposição de imagens chocantes. As notícias veiculadas passaram a ter enfoque predominante nas denúncias sobre as situações envolvendo os trabalhadores ali envolvidos, sem 14

descuidar, entretanto, que as preocupações com o aspecto ambiental se mantenham ainda evidentes. Enfatiza ainda as consequências negativas já perceptíveis a partir do início das obras, como a notícia não assinada “casos de prostituição aumentam em Altamira”, publicada em 29/04/2012. Nessa reportagem cita a Agência Brasil para legitimar/referendar a veracidade da informação, o que é feito também em outras notícias veiculadas no site. A estratégia pauta-se no argumento de que quanto mais publicidade for dada às questões negativas, mais possibilidades há de influenciar a opinião pública e reverter as questões, nesse ponto, aquelas relacionadas aos direitos humanos e à situação dos trabalhadores ali alocados. Nessa perspectiva ganha destaque o Comitê Metropolitano do Movimento Xingu Vivo para Sempre que se propõe trazer o debate sobre a situação no Xingu para a região metropolitana. Criado em 2009, o comitê passou a ter intensa presença na Web. O blog criado pelo comitê aponta dois objetivos para sua atuação: informar sobre os reais interesses subjacentes à construção da hidrelétrica e mostrar o posicionamento dos povos indígenas, alertando para as consequências da construção. Torna-se assim mais um canal de divulgação disponível para a contestação sobre a materialização da hidrelétrica de Belo Monte, procurando dar visibilidade para as populações ali residentes, privilegiando a presença dos povos indígenas. Apresenta possibilidades de interação após cada postagem, com ícones para compartilhamento nas principais redes sociais, assim como disponibiliza espaço aberto para comentários sobre os materiais postados. O blog do Comitê Metropolitano atua como um importante recurso para divulgação de ações realizadas, tanto aquelas ocorridas na capital, como outros eventos realizados em outros níveis. Chama para momentos presenciais, abre espaço para o debate das questões postas, procurando cumprir, dessa forma, os objetivos a que se propõe.

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CONCLUSÃO A Internet se configura como um campo no qual o movimento socioambiental expõe suas demandas, convoca para momentos presenciais e procura legitimidade para suas ações. A Internet não é um ser autônomo, mas sim objeto ao mesmo tempo disforme e multiforme a ser moldado de acordo com as necessidades dos diferentes atores que dela utilizam, por isso mesmo, plástica. Os movimentos organizados da sociedade civil têm utilizado de forma sistemática esse recurso. Na Amazônia ele tem servido para desinvisibilizar os movimentos locais que visam a manutenção das formas tradicionais de vida e que de certa forma são opositores ao processo de desenvolvimento proposto para o país. Como exemplo disso, destaca-se o movimento Xingu Vivo para Sempre, cuja criação remete a uma oposição à construção da hidrelétrica de Belo Monte no rio Xingu. A exemplo de outros atores, esse movimento tem utilizado os recursos da World Wide Web para mostrar suas demandas e ser canal constante de debate em torno da questão a que se propõe. Tem se utilizado dos principais recursos hoje disponíveis para ampliar esse debate, tais como redes sociais, blogs e canais de vídeos, conjugando as diversas mídias: textos, vídeos, sons e imagens. Esses recursos têm funcionado como amplificadores do movimento uma vez que este tem o controle da comunicação, o que é impensável nas mídias tradicionais, onde a comunicação ocorre de forma unilateral e onde quase não há espaço para interação e debate. O movimento não considera a materialização da hidrelétrica uma realidade, sendo ainda possível reverter a situação. Para isso, utiliza-se da estratégia de destacar os aspectos negativos provenientes da construção de Belo Monte, enfatizando-os nos diversos canais em que mantém sua presença, acreditando que isso será capaz de mobilizar a opinião pública, podendo frear a execução do projeto. A questão do desenvolvimento ganha particular importância nas notícias veiculadas e nos documentos expedidos pelo MXVPS. Reivindica um novo modelo

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de desenvolvimento que considere os padrões de vida tradicionais, em particular os modos de vida dos povos indígenas presentes na região e das populações ribeirinhas que assentam seu modo de existência na interação com o rio. REFERÊNCIAS

BECK, Ulrich. Sociedade de risco: rumo a uma outra modernidade. São Paulo: Ed. 34, 2010. CARNEIRO, Marcelo Sampaio. Da certificação para as concessões florestais: organizações não governamentais, empresas e a construção de um novo quadro institucional para o desenvolvimento da exploração florestal na Amazônia brasileira. Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi. Cienc. Hum., Belém, v. 6, n. 3, p. 525-541, set.-dez. 2011. CARTA XINGU VIVO PARA SEMPRE. http://www.socioambiental.org/nsa/detalhe?id=2687.

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