O Aeródromo das Lajes – o seu nascimento

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28 10 dezembro Junho 2015 2016

Opinião JORNAL DA PRAIA

06 04

O Aeródromo das Lajes – o seu nascimento - Francisco Miguel Nogueira*

Há exatos 74 anos, a 13 de junho de 1942, nascia a Base das Lajes, denominada por despacho de Oliveira Salazar de Aeródromo das Lagens. Este aeródromo foi essencial não só para a História recente de Portugal, como marcou a vida da população da Terceira. Em 1940, os britânicos pressionaram o Governo português a avançar com as obras nas Lales, pois esta era um boa planície, que aguentava perfeitamente 20 toneladas de aviões e tinha espaço para uma pista de mil metros de comprimento por 50 metros de largura. A construção decorreu sob as ordens do Subsecretário de Estado da Guerra, Santos Costa, que enviou o então Major-Aviador Humberto Delgado para acompanhar o projeto, entregando ao capitão Magro Romão, a execução das obras. Ainda em 1941, abriu-se uma pista de terra batida, ergueram-se os primeiros armazéns e transportaram-se os primeiros aviões. Este Aeródromo passou a chamar-se Aeródromo das Lagens, por determinação do Ministro da Guerra (Salazar acumulava funções) a 13 de junho de 1942. A chegada das várias vagas de militares do Continente para a defesa da Ilha (1941-1942), aconteceu numa altura em que os Nazis se encontravam nos Pirenéus e Salazar tinha medo duma invasão de Portugal. A população cresceu rapidamente, a crise agrícola atingiu um ponto gravíssimo, mas o desemprego depois de uma fase em que aumentou, voltou a diminuir, pois as obras, apesar de tirarem os homens do campo, atraiam-nos para o trabalho no Aeródromo. Na mesma altura em que os primeiros contingentes militares continentais chegaram à Terceira, Pestana da Silva foi nomeado Governador Civil de Angra do Heroísmo. Pestana da Silva chegou a afirmar, em Relatório enviado a Salazar, que “o comércio, a indústria e a agricultura muito beneficiaram com o seu advento [da Base], pouco tempo passado, não havia praticamente desempregados, antes fazia-se sentir a falta de operários para as diversas obras civis”. Além de muitos agricultores terem saído da sua atividade pelas forças das circunstâncias, muitos outros abandonaram a Agricultura, pensando que tinham encontrado uma saída para a sua situação financeira no Campo de Aviação, com isso, o recrutamento militar e as obras de defesa absorveram a atividade de muitos portugueses em busca de melhores condições de vida. Contudo, era preciso cuidar dos campos na mesma. Esse era um problema a resolver. Quando chegou à Terceira, em 1941, o Capitão Magro Romão, começou a expropriar terrenos para a obra do Aeródromo. O Comandante Militar de Angra, cumprindo ordens do Capitão, requisitou, a 3 de junho de 1941, a 51 proprietários da freguesia das Lajes, 236 152 m2 de terras em diversas parcelas para construção de uma pista, isto, depois de já terem começado os trabalhos de terraplanagem dos terrenos. Os proprietários, na sua maioria agricultores, foram postos fora dos seus terrenos, sem nenhuma explicação. A expropriação foi rápida, com o início da terraplanagem dos terrenos. A requisição destes terrenos foi apenas formal, teórica, porque estes já estavam a ser utilizados e nenhum proprietário podia ou tinha sequer o direito de reclamar desta situação. O Presidente da Câmara da Praia da Vitória, Henrique Costa Braz, apoiado pelo Presidente da Câmara de Angra do Heroísmo, Joaquim Corte-Real Amaral, enviou a Salazar, a 27 de novembro de 1941, uma carta na qual informava que ocuparam-se os terrenos e só depois é que foi feita a requisição aos seus donos e que para fazer a terraplanagem dos terrenos, alguns destes tiveram que receber uma camada de pedra. Assim, estes terrenos não tinham, neste momento, o mesmo valor que antes e se fossem apenas arrendados, quando a guerra acabasse, voltavam aos seus donos, mas com menos valor e com pub

menos qualidade agrícola para o seu trabalho. Ambos os Presidentes das Câmaras tentavam pressionar o Governo para a situação social da Ilha. Henrique Costa Braz sugeria que o arrendamento não era a melhor estratégia para a utilização dos terrenos, propondo que quando a guerra findasse, estes fossem transformados em Aeroporto internacional. O Governador Civil enviou, também, uma carta ao Governo, em que reforçou a ideia do autarca. A ideia foi aceite por Salazar. Este acordo de compromisso entre as duas partes permitia aos proprietários receber uma renda que os sustentaria e dotar a Terceira de um bom Aeródromo. Contudo o pagamento das rendas demorou muito tempo, o que levantou outros problemas. No ano de 1942, a falta de mão-de-obra nos campos fez os seus primeiros estragos. Vários produtos começaram a escassear. Portugal não estava em guerra, mas os seus abastecimentos tinham sido abalados pelo conflito que varria a Europa Central. A fome ia crescendo na Ilha, pois apesar de haver mais emprego, havia mais população e menos alimentos. O custo de vida aumentava diariamente. Com a inauguração oficial da Base das Lajes, uma nova fase começava na Ilha. Os terceirenses, obrigados a ceder os seus terrenos, começaram a perceber que podiam tentar jogar as coisas a seu favor, tentando tirar algum proveito da situação. A população trocava os terrenos (que tinha obrigatoriamente de ceder ao Estado) por compensações que diminuíam a situação económica menos favorável. Em 1943, com a chegada dos britânicos, as Lajes sofreu novas obras de aumento da pista. Neste período, muita mão-de-obra foi contratada, principalmente das freguesias vizinhas das Lajes, Vila-Nova e Agualva. A preocupação foi transformar a pista de terra batida numa pista maior, de placa, impedindo, assim, que a lama trouxesse problemas no descolar e no aterrar dos aviões da Royal Air Force (RAF). Também foram construídos alguns postos de serviço na Base, o que acarretava muita mão-de-obra. O nº de trabalhadores portugueses na Base cresceu. Quando os norte-americanos desembarcaram na Terceira, em janeiro de 1944, com o intuito de aumentar a pista das Lajes, Salazar enviou novamente para a Terceira Humberto Delgado. Este encarregou-se da supervisão dos terrenos a comprar e da obra. Delgado procurou delinear um projeto que não obrigasse à demolição de muitas casas, mas sim ao uso de terrenos de pastagem. A missão liderada pelo futuro General Humberto Delgado teve, por isso, uma forte componente social e económica, pois analisou a repercussão dessas requisições na população, e isso valeu-lhe a simpatia local. As obras começaram em força, com a ajuda dos norte-americanos, sob a tutela do Comando Britânico. Meses depois, quando as obras terminaram, a pista das Lajes possuía já três mil e duzentos e oitenta metros de comprimento por noventa e um metros de largura, era a maior pista de aviação do Mundo. É tempo de olharmos para a população que tem sido afetada com a crescente diminuição da presença americana na Terceira. A Ilha precisa que o Plano de Revitalização Económica da Ilha Terceira (PREIT) funcione, ao mesmo tempo que procure animar os locais para a necessidade de terem força e garra para apostarem em novos projetos. O concelho da Praia da Vitória precisa que todos os praienses não se escondam nas dificuldades que a crise apresenta, mas que procuram novos caminhos, pois remar contra a maré não é fácil, mas é preciso e possível! A Praia precisa de todos nós! Francisco Miguel Nogueira

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