O banheiro em Belo Horizonte: do Art Déco às construções contemporâneas

September 14, 2017 | Autor: Viviane Gomes Marçal | Categoria: Design, Arquitetura, Banheiro
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O banheiro em Belo Horizonte: do Art Déco às construções contemporâneas. Belo Horizonte´s bathroom: from Art Déco to contemporary constructions.

ALVES, Viviane de Jesus Gomes; Estudante; Escola de Design/UEMG [email protected] NASSRALLAH, Marcia de Souza; Estudante; Escola de Design/UEMG [email protected] RIBEIRO, Sônia Marques Antunes; Mestre; Escola de Design/UEMG [email protected]

RESUMO A pesquisa, em conclusão, objetivou estudar o espaço banheiro através do layout e do design de seu aparelhamento, na diversidade estilística da arquitetura de Belo Horizonte, identificando tendências. Ficou estabelecido, como ponto de partida, a chegada do art déco à cidade. Estilo moderno, está associado à sociedade industrial nascente – momento da articulação entre a arquitetura e o design – implícitas aí as conseqüências, sobretudo tecnológicas. Quanto aos conhecimentos advindos da pesquisa, estes poderão subsidiar, divulgados, o trabalho de designers e arquitetos, fabricantes de aparelhamentos sanitários e o mercado imobiliário além de dar suporte teórico para palestras e publicações. Palavras Chave: banheiro, arquitetura, design

ABSTRACT This research intended to study the bathroom’s space through its layout and equipment’s design as well as style’s tendencies. Belo Horizonte is the reference, and the art déco style is the started point. It is a modern style that is associated to the rising industrial society, being implicit its consequences, mainly the technological ones – it’s the moment of articulation between architecture and design. So, the knowledge obtained with this research can subsidy, if published, the work of designers, architects, state market and equipment manufacturers beside give theoretical support in discourses and events publications.

Keywords: bathroom, architecture, design

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1 Introdução Com a pesquisa "O banheiro em Belo Horizonte: do Art Déco às construções contemporâneas" objetivou-se estudar o espaço banheiro, na capital mineira, através do layout e do design de seu aparelhamento, identificando tendências. Partiu-se do pressuposto que o design do banheiro contemporâneo, em Belo Horizonte, ultrapassou o espaço da higiene reinterpretando estilos passados. O ponto de partida é a chegada do Art Déco — nome derivado da Exposição de Artes Decorativas e Industriais de Paris — à cidade. Com reflexos na arquitetura, nas artes aplicadas e no design, o Art Déco surgiu nos anos 20 e ganhou força nos anos 30 na Europa e nas Américas. Estilo moderno, está associado à sociedade industrial nascente ─ momento da articulação entre a arquitetura e o design ─ implícitas aí as conseqüências sobretudo tecnológicas. Baseado na idéia de que as formas "tradicionais" de arte, literatura, organização social e da vida cotidiana haviam se tornado ultrapassadas propunha sua substituição por novas formas que, além da renovação estética, deveriam atender à uma nova sociedade industrializada, transformando-a. Com design moderno, requintado, atingiu praticamente todas as facetas da produção humana desde edifícios, esculturas, jóias, luminárias, móveis, vestuário quase sempre ornados com materiais nobres. Quanto ao termo banheiro, segundo Moutinho (1999, p. 48), este significa “peça de casa destinada à higiene corporal e equipada com os diferentes aparelhos necessários para tal fim”. Ferreira (1999, p. 266), por sua vez, apresenta mais de um sentido para o termo banheiro que, no Brasil, pode referir-se tanto ao “aposento com todo aparelhamento de banho [...]” quanto ao “[...] aposento com vaso sanitário [...]”. Já aparelho sanitário refere-se a “[...] cada uma das peças do equipamento dos banheiros, lavabos, etc., tais como a pia, a banheira, o chuveiro, o bidê, o vaso ou w.c., com os respectivos acessórios; louça sanitária [...]” (FERREIRA, 1999, p. 161). Assim, na pesquisa, os termos banheiro e aparelho ou aparelhamento sanitário são utilizados de acordo com as acepções apresentadas no parágrafo anterior. Por sua vez, levando em conta que não é possível entender o banheiro contemporâneo sem conhecer sua origem, elaborou-se um apanhado geral de sua história, chegando, por fim, aos dias atuais. Metodologia Em relação à metodologia, a coleta de dados foi realizada via documentação indireta – pesquisa bibliográfica e documental – e documentação direta – pesquisa de campo, com levantamento métrico, croquis, fotos e notas. Entrevistas complementaram os dados coletados que estão sendo analisados e compatibilizados segundo os objetivos propostos. 2 Revisão de literatura A higiene e o banheiro no mundo antigo

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Descobertas arqueológicas desvendam o mundo antigo e revelam detalhes de sua história, costumes e de sua vida diária. Um bom exemplo é a cidade de Mohenjo Daro, no Vale do Indo, Índia, que possuía sistemas de água e esgotos tão avançados quanto os do Império Romano, que só surgiriam 2500 anos depois (REZENDE, 2004). Além disso possuía banheiros privados em todas as residências. Mas, não se pode falar de banheiros e banhos sem fazer referência à Grécia e Roma antigas, pois, conforme Munford (1982), o desejo grego de sociabilidade, fez com que surgissem os banhos públicos e para Mumford (1982, p. 248), com certeza “[...] a contribuição mais característica de Roma tanto à higiene urbana quanto à forma urbana talvez tenha sido o Banho”. No século II a.C, o hábito de ir aos banhos públicos já estava implantado em Roma. Com o tempo, os banhos públicos transformaram-se em grandiosos recintos fechados  destaque para as Termas de Caracala (c. 212-216 d.C.), em Roma, que incluíam áreas de ginástica, bibliotecas, galerias de arte e jardins  podendo abrigar grande quantidade de pessoas, com banhos quentes (caldarium), tépidos (tepidarium) e frios (frigidarium), salas de massagem, para recreação e alimentação. Aliás, os banhos quentes são uma peculiaridade dos romanos. As termas acolhiam homens e mulheres que costumavam banhar-se juntos até que o imperador Adriano requereu a segregação determinando um horário para cada sexo (SENNET, 2003). Já o banho privado era um luxo apenas para os abastados (MUNFORD, 1982). Ressalte-se, que Roma possuía sanitários públicos coletivos. É importante dizer que a valorização das utilidades públicas e da água não retornaria antes do século XIX, pois, sabe-se que, na Europa, em fins da Idade Média, a água corrente e os esgotos foram deixados de lado. Banhar-se passou a ser considerado errado por ser sensual e, desta forma, algo pecaminoso ─ a força dos preceitos cristãos ─ além de passível de transmitir doenças, assim o banho que caiu em desuso. Em face de toda essa situação na Europa, a higiene pessoal, do fim da Idade Média até o século XIX, foi bastante prejudicada, pois, os banhos públicos desapareceram e não havia banheiros privados (RYBCZYNSKI, 2002). Na Península Ibérica, no entanto, sob o domínio dos mouros, os hábitos de higiene foram mantidos sendo possível desfrutar-se de um bom banho, conhecido como banho turco. O fato é que até a metade do século XIX, a maioria das pessoas não tinha acesso ao fornecimento central de água que necessitava ser transportada de um poço ou utilizando-se de uma bomba na cozinha, desse modo, as casas não podiam ser equipadas com um banheiro. Mas, apesar de todos os problemas descritos, foi no início desse século que surgiram os quartos de banho e as latrinas interiores (MUNFORD, 1982). Mas, mesmo no início do século XX havia aristocratas ingleses que preferiam ter as suas banheiras portáteis trazidas aos seus quartos, pois a prática de compartilhar um banheiro com outras pessoas era, para eles, algo inaceitável. Com relação às latrinas, estas eram consideradas plebéias.

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É importante lembrar que, embora a invenção da privada por Sir John Harington tenha ocorrido em 1596, o uso da mesma não se propagou rapidamente. Os franceses eminentes durante o século XVII, por exemplo, não iam à privada  esta é que ia até eles (RYBCZYNSKI, 2002). Segundo Galvão (2002), durante muito tempo, no Ocidente, não existiu nas moradias, um espaço reservado para a higiene pessoal e as necessidades fisiológicas. Normalmente, havia uma tina na cozinha e, no quarto, o urinol. Quanto aos aparelhos sanitários, as banheiras portáteis só se tornaram populares na virada do século XIX. Antes disso, a maioria das pessoas lavava-se em bacias de cobre ou de porcelana. A primeira latrina a ser comercializada, foi a produzida e patenteada em 1778 por Joseph Bramah, que por quarenta anos ainda seria considerada novidade. É importante destacar que a idéia de se ter um cômodo com a privada e a banheira para o uso comum da família foi americana. (RYBCZYNSKI, 2002). Pode-se afirmar que o layout americano deste ambiente viria a influenciar a organização interna do banheiro brasileiro. No fim do século XIX e início do XX, o banheiro com três peças – pia e privada lado a lado e a banheira no final do cômodo – era comum. Porém, isto não ocorria na Europa, onde as pessoas de modo geral, continuavam a usar banheiras portáteis nos quartos de vestir. Em síntese, Rybczynski (2002) diz que o início do século XX foi marcado pela padronização sendo que o único cômodo a receber os benefícios daí decorrentes foi o banheiro. A casa tornou-se “moderna”. Há, também, que se lançar um olhar sobre os primórdios do design dos aparelhamentos sanitários e materiais utilizados. O bidê, uma peça móvel, seria uma invenção francesa do século XVII. Como se sabe, com a Revolução Industrial, iniciou-se a produção em série dos aparelhos sanitários aos quais estavam associados aspectos inerentes ao design, à funcionalidade e à estética. O bidê por exemplo, tornar-se-ia um "símbolo de status" da nova burguesia. Já vasos sanitários de porcelana pintada e design inusitado – período vitoriano (1837-1901) – eram consideradas decorativas e vinham equipados com prateleiras e suportes para revistas, pratos e copos; aqueles feitos de louça, com assentos de madeira tinham função utilitária. Exemplares do design, voltados para o aparelhamento do banheiro, criados a partir do início do século XX, são apresentados por Tambini (1997). Entre outros, o autor cita a “Banheira Chariot” de 1900-05, francesa – em ferro fundido – estilo império francês e que, provavelmente, era cheia com água por meio de torneiras centrais fixas na parede. Há, também, o vaso sanitário com descarga alta, de 1902, fabricado pela Shanks e o vaso sanitário da Oneas – provenientes do Reino-Unido e usados somente em banheiros públicos, possuíam gravura floral em decalque, pintada à mão, no padrão estatal britânico. Os materiais utilizados na fabricação eram a porcelana, o ferro fundido, o níquel e o mogno. Nesta mesma década surgiram modelos de pias que podiam ser usadas mesmo nas casas sem

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encanamento. A pia francesa art nouveau, de 1903 – 15, projetada para deslocar-se, não possuía torneiras e nem cano de saída para a água, o suporte era de ferro batido em arabescos e o bojo circular era de níquel ou porcelana. No Reino Unido, em 1905, produziu-se a pia Edwardiana – um lavatório que podia ser executado em mogno, mármore e porcelana e possuía torneiras com capa de proteção. Ainda no Reino Unido, em 1910, fabricou-se a luxuosa Ducha Agulha, feita em bronze e que possuía seis barras perfuradas horizontais por onde a água jorrava com força. Foi projetada especialmente para os homens e, semelhante a uma jaula, ficou conhecida como “estimulante matinal”. Nos anos 20 surgiu na França a pia Art Déco – pia octogonal em porcelana. Algo incomum para a época eram as torneiras pintadas em cores diferentes para indicar quente e frio. Na década de 30 tem-se o vaso sanitário Art Déco com cisterna baixa e totalmente fechada, em porcelana branca e com assento de madeira. Quanto aos metais sanitários, no que se refere às torneiras do início do século XX, estas eram feitas, em geral, de bronze ou níquel. Os bicos variavam em tamanho, forma e função. Torneiras com cabeças de quatro pontas eram comuns, até o surgimento do tipo alavanca (c. 1910). A higiene e o banheiro no Brasil Os hábitos higiênicos dos portugueses, como dos demais europeus, era bastante precário no fim da Idade Média, conforme já foi dito. No Brasil, a falta de higiene corporal dos portugueses permaneceu inalterada por longo período. Conforme Freyre (2001), persistia entre eles o horror pela água, o desleixo pela higiene do corpo e do vestuário. Assim, quando chegaram à terra recém descoberta, no início do século XVI, admiraram os nativos, um povo sem mancha de sífilis, que se lavava no rio da cabeça aos pés e usava as folhas de árvores para se secar. Apenas entre 1850-1900 teve início a inserção de redes de água e esgoto nas cidades. Reis Filho (2000) diz que estas permitiam a instalação de serviços domiciliares libertando as moradias da dependência de mão-deobra escrava. É nesse período que os banheiros tornam-se peças definidas nas construções. Começam a ser aperfeiçoados diante do modelo colonial sendo implantados nas residências nobres urbanas. Aos poucos os banheiros atingem as classes mais pobres. Inicialmente localizados no fundo dos quintais começaram a aproximar-se da residência, acoplando-se às cozinhas. Quanto ao design do aparelhamento sanitário utilizado no Brasil, o modelo inglês do século XIX foi abandonado no princípio do século seguinte quando foi introduzido o design francês, que incluía ferragens rebuscadas, verdadeiras obras de arte. 3 Resultados e discussões O Art Déco em Belo Horizonte

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O estilo chegou à capital mineira na década de 30, marcada pelo início da verticalização da cidade, e afirmou-se com rapidez, tornado-se conhecido como “pó de pedra1”ou caixa de fósforo. Só mais tarde as edificações deste período passariam a ser identificadas como Art Déco. Coexiste com os últimos exemplares do ecletismo e os primeiros do modernismo vanguardista que teriam lugar na década de 40. Entre os elementos característicos desse período, além da influência da arte marajoara, estão as formas geométricas simples evidentes através de frisos e nervuras. O banheiro em Belo Horizonte A capital mineira ao ser inaugurada já contava, pelo menos na área situada dentro do planejado anel de contorno, com redes de água e esgoto. Tal fato permitiu que os banheiros já fossem projetados para serem instalados no corpo principal das edificações. Levantamento histórico durante a pesquisa confirmou que o banheiro, na fundação da capital mineira, deixou o fundo do quintal e apareceu dentro da residência, junto à cozinha e permaneceu assim por longo período. Quanto ao layout, os aparelhos sanitários eram colocados aleatoriamente. Já em relação ao design, é impossível uma definição estilística porque a pesquisa partiu dos anos 30. Até a década de 30 o banheiro praticamente manteve a mesma posição em relação aos demais ambientes da construção residencial. A ampliação de seu número também não se alterou, seguindo o mesmo ritmo. Em 1931, por exemplo, numa residência de arquitetura Art Déco, o banheiro continua próximo à cozinha. Em 1932, em duas opções de projetos para um mesmo cliente, nota-se na opção de um pavimento, um banheiro dividido em dois compartimentos (WC e banho); já na opção de dois pavimentos o banheiro localiza-se junto aos quartos no segundo pavimento. Ainda em 1932, em outra residência, um único banheiro localiza-se entre a copa e os quatro quartos. No mesmo ano, numa residência composta de oito quartos foi planejado um banheiro no primeiro pavimento junto aos quarto, um banheiro no porão e um para a empregada. Conclui-se, como observado nos exemplos acima, que de modo geral o banheiro se localizava próximo a cozinha, não havendo rigidez quanto a localização do mesmo em relação aos demais cômodos. O que havia em comum nas edificações era o reduzido número de banheiros. Quanto ao layout, os aparelhamentos sanitários continuam sendo colocados aleatoriamente, como nas décadas anteriores. Quanto ao design dos referidos aparelhos sanitários, nos espaços pesquisados, este é padronizado e não sofre influência do design Art Déco. Na década de 40, observou-se que os banheiros possuíam dimensões amplas, sendo que nas residências localizavam-se ora junto à cozinha, ora junto aos quartos, delineando uma nova setorização para a moradia. Nas edificações públicas, os banheiros ficavam no corredor. Em termos de layout a disposição era aleatória – não havia ainda preocupação com a parede hidráulica. Quanto às louças, de modo geral, eram brancas com 1

Revestimento em argamassa de cimento, pó de pedra e mica.

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design apenas funcional: lavatórios suspensos tinham formato retangular e os acessórios como cabideiros, saboneteira, papeleira, eram todos de embutir. É preciso mencionar a descarga e o encanamento aparentes ligados ao vaso sanitário, algo muito comum na época. Quanto aos metais possuíam design funcional sendo identificado, em alguns casos, o design Art Déco. É preciso mencionar que entre 1940 e 1944 Oscar Niemeyer projetou o conjunto arquitetônico da Pampulha — Igreja de São Francisco de Assis, o Museu de Arte, a Casa do Baile e o Iate Tênis Clube — marco na arquitetura modernista brasileira. O banheiro, no entanto, continuava como um espaço secundário no projeto arquitetônico. O mesmo é possível afirmar quanto ao design de seu aparelhamento. O status a que teriam lugar só chegaria anos mais tarde. Nos anos 50 o banheiro residencial é isolado da cozinha aproximando-se da área social e íntima cumprindo dupla finalidade. Nas edificações ligadas ao comércio e serviços esse deixa o corredor e passa para dentro das salas, conformando "suites". Quanto ao layout já se observa a preocupação com a parede hidráulica com peças distribuídas ao longo desta. Predomina a cor branca no aparelhamento sanitário com design funcional. Os lavatórios em sua maioria são suspensos com formato retangular. Já a descarga e o encanamento do vaso sanitário que eram aparentes, foram embutidos na parede. O bidê é parte integrante do banheiro e aparece, algumas vezes, com misturador para água quente e fria. A banheira também é peça integrante do ambiente. Quanto aos metais continuam com design funcional. Um fato significativo, na década de 60, é que se completou o quadro de setorização das áreas íntima, social e de serviço, nas residências. Surge a possibilidade de utilização de mais de um banheiro com a inclusão da suíte, e o lavabo próximo à sala de visitas faz-se presente nas casas mais luxuosas. Porém, o mais comum ainda é a planta residencial com um único banheiro. A novidade é o lavatório de embutir. Nas edificações modernistas as soluções são práticas e funcionais com cores fortes nos aparelhos sanitários. Na década de 70, na capital mineira, os banheiros localizam-se no corredor e a ênfase é a funcionalidade. Em planta, o layout apresenta uma certa racionalização na distribuição das peças reduzindo a extensão da tubulação hidráulica. Nas residências surge, a febre das “suítes” que, segundo o livro 500 anos da casa no Brasil[...], está relacionada à expansão da rede hoteleira e dos motéis, com seus banheiros individualizados. É o auge dos boxes de acrílico, que disputam espaço com a banheira. Metais com design moderno e novas cores aparecem em linhas completas. Durante a década de 80, o banheiro continua localizado no corredor, junto aos quartos, mas generalizam-se as suítes. Embora a parede hidráulica seja uma preocupação, em alguns casos é desconsiderada. Nesse período os banheiros permanecem coloridos, tanto nas louças, como no piso e nas paredes. Quanto aos metais, os cromados são maioria, mas o colorido faz parte do mercado que busca um produto com design diferenciado.

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Na última década do século XX, permanece o lavabo na área social dos mais abastados ou o banheiro social no corredor das residências da classe média. As suítes são motivo de valorização dos imóveis e símbolo de conforto. Nesse período aparecem novas formas e cores – tons pastéis – nos aparelhos do banheiro, com design harmônico, geométrico e arredondado. A novidade fica por conta do esmalte nas louças — em geral brancas — que dispensou o brilho pelo acetinado. Quanto aos metais, os cromados permanecem os mais utilizados, mas neste período o dourado, cromado com detalhes dourados, ouro velho, ônix e branco ou bege com detalhes dourados ganham espaço. O banheiro, passa a ser palco de encontros. Aqui, é possível lembrar as termas romanas ou mesmo as casas de banho da Idade Média. Até equipamentos para ginástica ganham espaço nos banheiros. A banheira volta mais sofisticada como a de hidromassagem. As residências luxuosas contam com verdadeiras salas de banho, algumas até com sauna. No início do século XXI, há uma diminuição significativa nas dimensões do banheiro em prol da multiplicação do seu número nas residências. É comum ver anúncios de apartamentos com 3 ou 4 suítes. Seguindo tendências contemporâneas nacionais e internacionais, o banheiro, em Belo Horizonte, apresenta espaço racionalizado, com layout funcional e de fácil manutenção. Observa-se o uso de shaft`s hidráulicos e a incorporação de sauna no box do banheiro. As louças na sua grande maioria permaneçam na cor branca e com design variado que aborda a funcionalidade e a estética. O bidê, por exemplo, um dos primeiros objetos de design, voltados para o banheiro, indispensável para a higiene, foi desconstruído e, praticamente inexistente, resta dele apenas a ducha higiênica. Os metais cromados estão no auge e em geral possuem design moderno, arrojado e multifuncionalidade: há chuveiros, por exemplo, nos quais pode-se agregar o xampu ou o sabonete desejado. Nas habitações de alto padrão, o banheiro tem tomado caráter de salas de relaxamento, com aparelhos de ginástica, sauna ou ofurô, som, tv e em alguns casos até computador e espaço para leitura. Além disso, nessas habitações é comum acontecer encontros sociais – onde além de banhar-se coletivamente, anfitriões e convidados, comem, bebem e se divertem. Podese dizer, nesse caso, que o banheiro ultrapassou o espaço da higiene e faz uma releitura dos antigos banhos gregos e romanos, situação que começa apresentar-se gradativamente desde a década de 70. Há que se mencionar, no entanto, que esta não é uma característica inerente a Belo Horizonte. Observa-se também, a tendência de colocação de banheiros separados para homem e mulher. Em síntese, convivem diversas tendências na ambientação do banheiro, destacando a comodidade, a racionalização, a sofisticação e a valorização do design dos aparelhos sanitários. Conclusão Os estudos realizados permitiram verificar que o banheiro é indispensável a qualquer edificação destinada ao uso humano. Constatou-se que o espaço

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físico identificado, hoje, como banheiro, no passado recente, não integrava, no mesmo ambiente, o lavatório ou cuba, a banheira, o chuveiro, a latrina ou vaso sanitário e o bidê. No decorrer do tempo, o aparelhamento foi agregado a um só espaço. Em relação ao banheiro, em Belo Horizonte, observaram-se alterações quanto à localização deste na edificação, layout, dimensões do espaço físico e ampliação do número desses ambientes, características do design. Deve-se mencionar que embora no passado as famílias fossem numerosas, não havia muita preocupação em se planejar e projetar mais de um banheiro para as moradias. O mesmo pode ser dito em relação aos espaços públicos. É o caso, por exemplo, da Prefeitura de Belo Horizonte, onde a quantidade de banheiros é pequena em relação às dimensões do edifício. Ao longo dos anos o banheiro foi transformado em local privilegiado tendo os aparelhos destinados a este espaço evoluído em design e funcionalidade. O lavatório, por exemplo, foi um dos itens que mais evoluiu em design. No início do século XX podia-se encontrá-lo no quarto compondo uma mesa com uma jarra e bacia; foi peça suspensa na parede; ganhou coluna, e hoje, embora ainda existam modelos suspensos e com coluna, o que mais se observa são as cubas, que podem ser de embutir, sobrepor e de apoio – feitas de materiais diversos. Com relação aos vasos sanitários, hoje existem aqueles com as funções higiênicas do bidê – a ducha higiênica está acoplada ao vaso e funciona por controle remoto. Além disso, após o uso, pode-se fazer a secagem por ar quente. É preciso ressaltar que, de modo geral, na maioria das residências, o banheiro é apenas um espaço funcional, atendendo simplesmente à higiene. Em relação ao banheiro situado em edificações destinadas ao uso comercial ocorreram, também, novas formas de abordagem no projeto arquitetônico. Multiplicados e muitas vezes sofisticados deixaram o corredor situação encontrada em construções Art Déco e foram associados às salas. Percebeu-se, ainda, que nos banheiros públicos há maior preocupação com a funcionalidade do que com o luxo e, em geral, os metais utilizados são antivandalismo. Enfim, é digno de nota que, tanto no âmbito privado como no público, o banheiro é o primeiro ambiente a sofrer interferências, recebendo peças com design contemporâneo. Tem-se notado que não há preocupação com a restauração desse ambiente, mesmo em edificações tombadas pelo patrimônio histórico. Há ainda preocupação com adequação do espaço para atender as necessidades de deficientes físicos e idosos e a preocupação com o meio ambiente que ocorre no âmbito mundial a partir dos anos 90. Surgem então, os vasos sanitários com descarga econômica. Com o advento da globalização é difícil dizer que existam características regionais. Em geral, as pessoas compram o que há no mercado levando em conta os custos e seus desejos. Mesmo nas construções com um estilo arquitetônico específico como o Art Déco, os banheiros

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raramente seguem o estilo da fachada. Constatou-se, ainda, através da pesquisa que o layout segue o modelo americano enquanto que o design do aparelhamento dos banheiros brasileiros segue a tendência italiana. É importante dizer que, de um modo geral, chegaram até os dias atuais mais informações sobre soluções adotadas para a satisfação das necessidades fisiológicas e da higiene pessoal no que concerne aos espaços públicos e aos espaços reservados à aristocracia – ritual e aparelhamentos – que aos espaços reservados ao plebeu. Em relação à esses, os dados são constatados a partir do século XIX. Percebe-se, ainda, no que diz respeito aos espaços destinados ao banho e às instalações sanitárias, um movimento de avanço e retrocesso, sendo marcante a influência religiosa, muitas vezes determinante no que diz respeito à higiene pessoal e à forma como se usa ou não determinada instalação destinada ao banho ou às necessidades fisiológicas. 4 Referências bibliográficas FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio Século XXI: o dicionário da língua portuguesa. 3ª ed. totalmente revista e ampliada. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999. FREYRE, Gilberto. Casa Grande e Senzala. São Paulo: Editora Record, 2001. GALVÂO, Regina. Banho expressão de bem-estar. Planeta Casa - Edição Especial Casa Cláudia. São Paulo: Editora Abril, ed. 488, ano 26, n. 2, p. 44-5, mai. 2002. MOUTINHO, Stella Rodrigo Octávio; PRADO, Rúbia Braz Bueno do; MUMFORD, Lewis. A cidade na história: suas origens, desenvolvimento e perspectivas. São Paulo: Martins Fontes,1982. REIS FILHO, Nestor Goulart. Quadro da arquitetura no Brasil. 9ª ed. São Paulo: Editora Perspectiva S.A., 2000. REZENDE, Rodrigo. Ayurveda. Super Interessante. São Paulo: [s.v.], n. 203, p.53-59, ago 2004. RYBCZYNSKI, Witold. Casa: pequena história de uma idéia. Trad. Betina Von Sta. Rio de Janeiro: Ed.Record, 2002. SENNETT, Richard. Carne e pedra: o corpo e a cidade na civilização ocidental. Trad. Marcos Aarão Reis. Rio de Janeiro: Record, 2003. TAMBINI, Michael. O Design do Século. Trad. Cláudia Sant´Anna Martins. São Paulo: Ed. Ática, 1997. VASCONCELLOS, Sylvio de. Noções sobre arquitetura. Belo Horizonte: Escola de Arquitetura. 1962. VERÍSSIMO, Francisco Salvador, BITTAR, William Seba Mallmann. 500 anos da casa no Brasil: as transformações da arquitetura e da utilização do espaço da moradia. Rio de Janeiro: Ediouro, 1999.

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