O CAMPO DE BATALHA É O LUGAR DO TEATRO

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O CAMPO DE BATALHA É O LUGAR DO TEATRO

é desconcertante escrever sobre a montagem de O CAMPO DE BATALHA em meio a
comoção mundial do je suis charlie criada pelo atentado contra a revista
francesa q reiteradas vezes sem q a justiça tomasse conhecimento (ia
escrever partido mas partido a justiça francesa tomou) publicou material
ofensivo ao símbolo maior da religião/cultura de 10% da população daquele
país
n posso deixar de refletir sobre o fato embora talvez qdo este texto chegar
às mãos do espectador da peça já tenham acontecido tantas outras coisas no
mundo q pareça anacrônico o q vou falar tal a velocidade c q o mundo anda a
produzir fatos ideias reviravoltas estratégicas nessa dramaturgia alucinada
da vida real transformada em espetáculo em reality show q faz c q o teatro
pareça também anacrônico
mas devo falar e justificar a fala q teatro é assim a necessidade premente
de falar de levantar questões de propor debates de n deixar por menos de
emocionar e apertar a mente das pessoas por ofício por compromisso c a
mudança operada dia a dia no mundo c a capacidade ainda de transformar q
temos e cada vez mais abrimos mão em troca de comodidades
teatro é sair da zona de conforto e penetrar na aventura do pode ser e se
for como será
nada justifica a violência do atentado como nada justifica a violência da
resposta ao atentado nem a violência c q os ex colonizadores tratam as
populações de ex colonizados residentes cuja alteridade é um valor do qual
n querem se desfazer
nada justifica a violência mas muitas coisas a explicam
é em busca de explicação q aceito montar o texto de aldri
em busca de saber o q o mundo pode fazer de cabeças pensantes
qdo somos reduzidos "reduzidos"? a elas
para q servem cabeças pensantes num mundo manipulado num mundo montado por
sistemas complexos de poder econômico religioso político cultural social
midiático q se complementam e interpenetram de forma mtas vezes perversa e
promíscua?
podemos intuir q servem para conduzir organizar refletir entender este
mundo e seus sistemas mas servem tb p questionar e isso leva a q? a uma
mudança? ou a compreensão do mecanismo permite uma aderência a ele? o q
querem as cabeças pensantes? aperfeiçoar a humanidade em busca de paz
desenvolvimento justiça felicidade para todos ou integrar-se ao sistema e
tirar vantagem dele? manter valores e quais valores? manter a ordem mas q
ordem?
os dois personagens da peça perplexos diante de uma guerra controlada por
uma central de fomento entendem em tempos diferentes o q é e pq é feita uma
guerra
economia economia horácio como diria hamlet
entendem e têm posições sobre isso essas posições equilibram e
desequilibram a base q os sustenta
o debate a tomada de consciência e posição ameaça a base pq leva os
personagens q o fazem ao estado de cabeças pensantes
e o q se faz c elas?
como frear o war business o i-guerra.com? dá pra frear a economia? Então
transveste-se o negócio em ideologia transveste-se em patriotismo em
valores do bem contra valores do mal em super heróis q destroem o inimigo
em justiceiros q executam os culpados . culpados por serem de outras etnias
de outras culturas c outros valores culpados por ocuparem nosso lugar o
lugar construído por nossos ancestrais q destruíram o lugar dos ancestrais
deles deixando-lhes pouco ou quase nada deixando-lhes a alternativa de
viver ao lado na periferia c quase nada menos dignidade menos tolerância
menos compaixão . mas ali ao lado . deixando-lhes quase nada mas sua
cultura e seus valores q n aceitamos e por isso são culpados
enfrentamos tudo isso e mais uma rave alucinada e cotidiana promovida pelo
sistema e seus patrocinadores . uma rave onde brilha quem é eleito pela
mídia e a estes é dado subir ao reino dos céus
a exigência de ser é a exigência do ter e estar em algum lugar equilibrado
no alto por instantes enquanto n se é substituído por outro eleito para o
mesmo lugar por desgaste de peças . um novo produto colocado no mercado e q
tem q ser consumido rapidamente antes q sejam necessários reparos repuxos
antes q seja necessário q a toxina botulínica deforme completamente o rosto
idolatrado enquanto era natural
a sociedade do consumo do espetáculo q nos inunda de informações de tal
forma q é impossível digerir todas e distinguir o q alimenta o q é fast
food q mistura estado e mercado q nos leva a conclusões sem a capacidade e
raciocinar pela sobrecarga de dados injetados como botox paralisante nas
rugas da reflexão do pensamento da memória do tempo de olhar de inferir de
juntar as peças do quebra cabeças
são alternativas dos soldados e da voz . sair ou dominar? escapar ileso ou
bloquear a capacidade de sair?
vivo crio trabalho basicamente e basilarmente no teatro vila velha numa
lógica de teatro de grupo de responsabilidade c a formação continuada de
artistas pensamentos estéticas público
aceitar participar de um projeto q me tire do habitat q construí e me
constrói é raro e qdo o faço é pq o projeto me mobiliza e para entrar em
campo e defender o q ele se propõe a ser
desde a primeira leitura do texto de aldri sinto q nele há o q quero dizer
q é possível sair do espaço plural do vila onde as relações palco e plateia
são fisicamente repensadas todos os dias e partir p um palco de relação
frontal e tentar afinar estilos diferentes de representação de artistas
colaboradores c histórias diferentes e caminhos q só se cruzarão talvez uma
vez – esta – equalizar estéticas e poéticas distintas num único discurso q
dê ao público a possibilidade de questionar a si e ao mundo e às crenças e
aos informes diários e às convicções consolidadas abrindo brechas no
sistema q tvz o possam transformar
acredito ainda na possibilidade q o teatro tem de fazer isto
e acredito q O CAMPO DE BATALHA é o lugar onde o teatro deve estar

marcio meirelles
rio . 14.01.2015
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