O caráter enigmático e o efeito imprevisível: Crônica de Junho de 2013 e seus desdobramentos

June 30, 2017 | Autor: Amaro Fleck | Categoria: Pensamento Social Brasileiro, Pensamento Político Brasileiro
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O caráter enigmático e o efeito imprevisível: Crônica de Junho de 2013 e seus desdobramentos1 Amaro Fleck (Filosofia – UFLA)

Aviso preliminar: Minha fala, hoje, é uma versão de um capítulo recém escrito para um livro que ainda não se encontra publicado, o qual tratará dos protestos de Junho de 2013. Antes de passar a conferência propriamente dita, gostaria apenas de ressaltar três coisas: a primeira é que se trata de um trabalho ainda em andamento, de modo que desde já agradeço e incentivo comentários, objeções e sugestões. A segunda é que minhas observações são uma espécie de ensaio reflexivo, mais do que propriamente o resultado de uma pesquisa acadêmica. No entanto, creio que ela gere mais interesse – assim como um debate mais acalorado – do que minha atual pesquisa, que ademais se encontra em estágio inicial, e isto foi decisivo para decidir falar aqui sobre Junho de 2013, em vez de sobre algum tópico mais específico a respeito da teoria crítica da sociedade, o que teria sido o caso. Devo ressaltar que tenho por formação a filosofia, ainda que eu vá me aventurar hoje mais para o lado da sociologia e da ciência política. Por fim, como estudioso e partidário da teoria crítica, não acredito que uma descrição imparcial sobre algum assunto relativo à sociedade possa ser alcançado; aliás, tampouco acho que isso seria desejável. O que move o debate político é em grande parte a defesa apaixonada de posições, e a filosofia política resulta em grande medida de um refinamento destas defesas ou das críticas às posições contrárias. Ao mesmo tempo, creio que a honestidade intelectual consiste, ao menos em grande parte, em deixar claro de que posição se fala. Por isso de antemão aviso que não pretendo nem doutrinar nem convencer, mas sim oferecer algumas reflexões a partir de uma esquerda que veio à tona justamente com o evento que aqui serve de mote à conferência.

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Texto base da palestra proferida na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), no dia 24 de Setembro de 2015. Uma nova versão deverá ser publicada em breve em livro organizado por Franco Rodriguez, por este motivo críticas, sugestões e comentários são especialmente bem-vindos. E-mail: .

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Pode parecer despautério tentar falar, hoje, de um evento que mal começou. As “Jornadas de Junho” – como tem se chamado a série de protestos que tomou conta do país em meados de Junho de 2013 – parecem estar ainda muito longe de seu término, momento no qual, só então, será possível fazer uma avaliação sóbria acerca de seu significado. Passados dois anos das jornadas juninas, elas ainda não cessaram de reverberar no imaginário político nacional, e seus desdobramentos estão em toda parte, embora seus efeitos se mantenham imprevisíveis. Se parece certo, por um lado, que o país não é o mesmo depois das manifestações, igualmente certo, por outro, é que ninguém sabe o que mudou e que rumos tomarão as transformações. Meu intuito, aqui, é tentar relatar, em linhas muito gerais, os acontecimentos dos dois últimos anos analisando o caráter enigmático do evento que o inicia, passo primeiro para tentar, quiçá por puro exercício de desmedida, vislumbrar alguns dos efeitos, incipientes ou não, que ele vem trazendo ou ainda poderá trazer à cena. O texto que se segue é mera crônica, limitada, talvez arbitrária, e provavelmente pouco ou nada original. As semelhanças com a realidade, aliás, pode ser que não passem de coincidências.

1. Tudo que é sólido se desmancha no ar: O esfacelamento do consenso lulista em duas semanas

Para um fenômeno ser enigmático é preciso, antes de qualquer coisa, explodir sem que ninguém o preveja. Não havia pessoa que, nos primeiros dias de Junho de 2013, pudesse acreditar que protestos massivos de rua eclodissem por todo o país. Ainda que por um curto período de tempo, parecia que o pacto social lulista2 – baseado, grosso modo, em políticas sociais capazes de alavancar o consumo das classes mais desfavorecidas sem, contudo, colocar em risco os ganhos da elite nacional – se consolidaria cada vez mais.

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Refiro-me ao “lulismo”, no presente texto, como termo que serve para designar um processo social iniciado em meados do primeiro mandato presidencial de Lula e continuado em seu segundo mandato, assim como no de sua sucessora (ao menos, salvo engano, no primeiro). Para uma avaliação geral do período, assim como uma explicação do termo e do porquê da expressão, consultar o livro de André Singer, Os Sentidos do lulismo, 2012). De qualquer forma, cito aqui a definição oferecida por Singer: O lulismo é “o encontro de uma liderança, a de Lula, com uma fração de classe, o subproletariado, por meio do programa cujos pontos principais foram delineados entre 2003 e 2005: combater a pobreza, sobretudo onde ela é mais excruciante tanto social quanto regionalmente, por meio da ativação do mercado interno, melhorando o padrão de consumo da metade mais pobre da sociedade, que se concentra no Norte e Nordeste do país, sem confrontar os interesses do capital” (obra citada, p. 15-6).

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Nunca antes na história do país, como o ex-presidente Lula não cansava de repetir, um ciclo econômico tinha sido capaz de tamanha inclusão social: milhares de famílias saíram da miséria, outras tantas da pobreza; um imenso contingente de pessoas – até então relegadas a uma vida às margens da sociedade – conseguiram pela primeira vez um trabalho com carteira assinada, acesso à saúde básica ou até mesmo ao ensino superior. Sob a política conciliadora do presidente que fora retirante e operário, não apenas os menos favorecidos haviam galgado os obstáculos que os mantinham excluídos de boa parte dos progressos civilizatórios, mas também os privilegiados de sempre batiam os seus recordes de ostentação, fazendo cada vez mais (e mais caras) viagens ao exterior3, comprando carros de luxo4 etc. Para coroar o bom momento brasileiro, o qual, por sinal, contrastava com o agravamento da crise econômica mundial, o país conseguiu ser escolhido (em 2007 e 2009, respectivamente) como sede de dois megaeventos esportivos: nada menos que uma Copa do Mundo, ocorrida em 2014, e uma Olimpíada, a ocorrer em 2016. Mas foi justamente, por assim dizer, na pré-estreia deste novo Brasil, do país emergente símbolo de sucesso político e econômico, que as coisas desandaram. A Copa das Confederações, evento teste para a Copa do Mundo do ano seguinte, foi transformada em mero pano de fundo para uma mostra de insatisfação massiva com os rumos deste novo país que, no momento, era festejado como história de sucesso. O que motivou os protestos? Pouco antes de começar a Copa, o prefeito de São Paulo (Fernando Haddad, do PT) e o governador do Estado de São Paulo (Geraldo Alckmin, do PSDB), autorizaram um aumento nas passagens municipais (ônibus, metrô e trens urbanos). O transporte público nas cidades brasileiras é notório por sua baixa qualidade. As mesmas empresas operam há décadas, auferindo tantas fortunas para seus proprietários quanto desgostos para os usuários dos serviços oferecidos por elas. Como se fosse pouco, os empresários do transporte em geral figuram na lista dos maiores financiadores das campanhas eleitorais, criando assim um círculo vicioso em que a baixa qualidade é perpetuada por meio da manutenção das licitações, no qual o próprio poder político é colonizado pelo interesse pecuniário daqueles que se tornam os donos 3

Vide a reportagem “Gasto de brasileiros no exterior soma US$ 25 Bilhões em 2014, novo recorde”, de 23 de Janeiro de 2015, disponível em: . Acesso em Agosto de 2015. 4 Conforme a reportagem “Marcas de luxo estão em boa fase no país”, de 03 de Maio de 2014, disponível em: . Acesso em Agosto de 2015.

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das locomoções urbanas. Tal como ocorrera em diversas cidades antes (Salvador em 2003, Florianópolis em 2004 e 2005, Vitória em 2006, Teresina em 2011, Aracajú e Natal em 2012, Porto Alegre e Goiânia no começo de 2013), o aumento da tarifa provocou grandes protestos populares5. A novidade é que em 2013, por alguns motivos, o protesto extrapolou seus objetivos iniciais e se transformou em uma grande mostra de insatisfação. Por que isto ocorreu? Talvez seja esta uma das maiores incógnitas que rondam a interpretação das assim chamadas Jornadas de Junho. À guisa de sugestão, eu diria que uma conjunção de fatores foi responsável por isso. Em primeiro lugar, é preciso se precaver contra o risco de menosprezar a demanda por um transporte público mais barato e de melhor qualidade. O tempo despendido (ou melhor, perdido) em deslocamentos, sobretudo nas grandes cidades, é imenso, e a irracionalidade do sistema viário, o qual privilegia o transporte individual, em especial o carro, em detrimento de todos os demais meios de transporte, patente. No entanto, a própria demanda por um transporte mais barato e eficiente é antes um meio para obter outras coisas do que uma finalidade. Ela mesma tende a se transformar em uma exigência mais ampla pelo assim chamado “direito à cidade”. Em confluência com isso, elas se somaram ao grande descontentamento causado pelas obras relativas aos megaeventos esportivos. Apesar do aparente respaldo da opinião pública em relação à promoção da Copa e das Olimpíadas, a sensação de desperdício de dinheiro e de oportunidade era gritante. Ademais, tais obras, focadas apenas nos eventos, reforçaram processos de gentrificação e exclusão social, acelerando a tomada da cidade pelos especuladores, sobretudo imobiliários. Uniram-se assim duas demandas por maior direito à cidade, mas que até então não tiveram a oportunidade propícia para juntar forças. Ademais, o partido que governava (e, no momento em que estas linhas são redigidas, ainda governa) tanto a cidade de São Paulo quanto o Brasil, o Partido dos Trabalhadores (PT), é ou era historicamente unido não apenas às lutas populares, mas também às reivindicações pelo direito à cidade (para mencionar apenas um exemplo, a própria demanda por transporte gratuito fazia parte do plano de governo da prefeita Luiza Erundina, na primeira gestão petista do mais populoso município do país), de 5

Para um breve relato desta série de protestos e da história do Movimento Passe Livre, cf. “Não começou em Salvador, não vai terminar em São Paulo”, texto do Movimento Passe Livre de São Paulo, disponível em: MARICATO, Ermínia et all. Cidades Rebeldes: Passe Livre e as manifestações que tomaram as ruas do Brasil. São Paulo: Boitempo/Carta Maior, 2013, p. 21-31.

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modo que o descaso petista ante tais lutas foi tomado, não sem razão, como afronta e traição. Como desfecho, a truculência policial (em especial da polícia paulista, sob o mando do tucano Geraldo Alckmin) na repressão das primeiras manifestações teve efeito contrário ao previsto. Em vez de dissolvê-las, serviu-lhe de chamariz.

2. Todos juntos por pauta nenhuma: as vantagens da indeterminação

De forma súbita, as manifestações, que num primeiro momento ficaram restritas à cidade de São Paulo e reuniram pouco mais de dez mil pessoas, em torno da pauta específica da revogação do aumento da tarifa das passagens do transporte urbano, disseminaram-se por todo o país, atingindo o ápice de mais de um milhão de pessoas no dia 20 de Junho, quando ocorreram protestos em mais de 300 cidades brasileiras6. Não devem restar dúvidas acerca do caráter progressista do começo dos protestos. Tratava-se de manifestações pela universalização do direito ao transporte por meio de sua gratuidade. Uma demanda, por conseguinte, por maior igualdade social. Ademais, os descontentes com os megaeventos também eram, essencialmente, igualitários; protestavam contra o que viam, e de fato era, um processo excludente. Mas quando os protestos incharam as demandas tornaram-se cada vez mais vagas e mais indeterminadas. Aliás, minha hipótese é que foi precisamente isso o que permitiu tamanho inchaço. Por alguns dias, durante Junho de 2013, o aparentemente impossível acontecia. Lado a lado, em meio à multidão, as demandas mais contraditórias somavam forças. Quem defendia mais democracia e participação popular dividia a rua com quem clamava pelo retorno dos militares ao poder. Uns queriam a radicalização dos processos de inclusão incipientes, outros, pelo contrário, rechaçavam toda política social que caracterizara o lulismo então em curso. Somente a indeterminação fazia com que fosse possível a coexistência do contraditório de forma tão flagrante. O efeito primeiro das manifestações foi o esfacelamento da aprovação governamental, até então recorde. De acordo com o instituto de pesquisas Datafolha, Dilma Rousseff terminou o primeiro ano de seu primeiro mandato com 59% de 6

Conferir: “Em dia de maior mobilização, protestos levam mais de 1 milhão de pessoas às ruas no Brasil”, de 20 de Junho de 2013. Disponível em .

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aprovação (isto é, de pessoas que o consideravam ótimo ou bom). Este número subiria ainda até alcançar 65% em Março de 2013 e então começar a cair, primeiro para 57% em 10 de Junho, e então para 30%, no dia 29 de Junho de 20137. Considerando que não houve nenhum outro acontecimento no mês, exceto as Jornadas aqui retratadas, que pudesse ser o fator determinante desta queda abrupta (a Copa das Confederações ocorreu inteiramente dentro do previsto, exceto pelas Jornadas), pode-se concluir que os protestos massivos de rua causaram enorme mudança na avaliação não apenas do governo, mas do rumo que o país estava tomando: a aprovação recorde do lulismo, averiguada pelo instituto supracitado entre 2008 e 2013 (sempre superando os 55%, embora tenha atingido inolvidáveis 83% no término do segundo mandato de Lula), foi esfacelada em apenas duas semanas, causando grande impacto também na forma na qual os brasileiros viam o momento pelo qual o país passava. Não mais a promessa emergente, mas de novo o país do futuro sempre adiado. E eis aqui o enigma em sua forma mais pura: como puderam manifestações a princípio pontuais, as quais questionavam políticas de âmbito municipal e estadual, decretar o fim da aprovação popular do lulismo? Evidentemente, só o fizeram porque encontraram solo propício. Por mais estranho que possa parecer, a ótima imagem do momento brasileiro, assim como das forças que o governavam, já estava em frangalhos, só que ninguém, ainda, sabia disso8. Precisamente por isso, sugiro, as manifestações decretam o final de um ciclo de grande sucesso da política brasileira: um ciclo marcado, sobretudo, pela inclusão social e pela melhoria de grande parte dos indicadores (saúde, educação etc.). Mas um ciclo que não poderia extrapolar os seus próprios limites, incapaz de transpor o curto espaço de tolerância no qual ele mesmo se erigiu. O pacto social lulista se desfez, não porque partes significativas de quem o ratificara estivesse descontente com seus resultados, mas simplesmente porque, doravante, não era possível ele seguir sendo vantajoso para todos que o compunham. O cenário não é assim tão complexo. Em uma rara combinação de fortuna e virtù, o cataclisma econômico mundial iniciado em 2007 não só poupou o território brasileiro quanto ainda permitiu a manutenção de uma elevada taxa de crescimento, que durou até 2011. A partir daí, o crescimento brasileiro minguou e o Brasil entrou de vez 7

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As pesquisas podem ser todas elas encontradas no site: . Acesso em Agosto de 2015. Na verdade, alguns articulistas já notavam que o lulismo chegara a um impasse. Ver, por exemplo, Vladimir Safatle: “Os Impasses do Lulismo”, em CartaCapital, 07 de Janeiro de 2013. Disponível em: .

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no novo “momento histórico mundial”, a saber, a assim chamada Grande Recessão, a qual segue sem data prevista para acabar. Somou-se a isso um descontentamento crescente com a volta da inflação, sentida, sobretudo, no setor dos serviços (o qual, historicamente, sempre gozou de preços baixos no Brasil, devido ao baixo custo da mão de obra9). O jogo no qual todos ganham do lulismo não poderia mais continuar. Doravante, para uma parte da sociedade ganhar, outra necessariamente teria que perder. Ou talvez até mesmo para uma perder pouco, outra teria que perder ainda mais. Assim, ou bem se manteria uma política de valorização do trabalho e melhoria dos serviços públicos, o que favoreceria os menos afortunados em detrimento dos mais ricos, ou bem se enxugaria os gastos públicos na tentativa de reanimar os mercados, favorecendo os mais afortunados em detrimento das políticas sociais. O que sugiro aqui, embora nada tenha de original, é que Junho de 2013 marca exatamente o instante em que se tornou perceptível o esfacelamento do pacto social lulista por meio de um descontentamento geral diante do impasse por ele criado. Numa situação de baixo crescimento, com a permanente ameaça de retorno da inflação, era preciso tomar um novo rumo. O problema, porém, estava em que todo novo rumo implicaria uma ruptura com partes da sociedade que haviam ratificado o pacto.

3. Quanto de 2013 há em 2014? E em 2015?

Com isso se chega, enfim, ao cerne da questão que realmente importa, a saber: os desdobramentos de Junho de 2013. O primeiro, e talvez mesmo o mais importante, é, a meu ver, eminentemente positivo. Passadas duas décadas de contínua despolitização da sociedade brasileira, a política voltou à tona, e com força. O consenso neoliberal, primeiro, e o pragmatismo conciliador lulista, depois, administraram os antagonismos sociais de maneira a evitar ao máximo que estes entrassem em cena. 2013 tornou isto impossível. O efeito foi, no ano seguinte, nas eleições presidenciais, uma polarização política como só havia sido vista, após a redemocratização, na primeira das eleições diretas (1989)10; ou, para ser mais preciso, nas palavras de Sakamoto em coluna recente: 9

E fator determinante para a persistência de uma desigualdade perversa, em que serviços domésticos e desagradáveis são “terceirizados”. Em 2013, de acordo com relatório da Organização Internacional do Trabalho, o Brasil era o país com o maio número de domésticas do mundo: Conferir: . Acesso em Setembro de 2015. 10 Quanto a isto, conferir Marcos Nobre, “A Polarização voltou”. Revista Piauí, número 98, Novembro de 2014.

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“a campanha presidencial mais polarizada e tosca do recente ciclo democrático brasileiro”11. Se a eleição foi particularmente acirrada, isto se deveu, e muito, a volta da campanha de rua, com militantes voluntários, sobretudo no segundo turno. Junho de 2013 marcou a volta da direita às ruas (das quais estava ausente desde a Marcha da família com Deus pela Liberdade, de 1964). É verdade que marcou um retorno não só de uma direita saudosista dos militares (que talvez seja, estatisticamente, irrelevante) quanto de uma direita democrática (bem mais significativa). Apesar do entusiasmo destas direitas com a campanha de Aécio Neves, seria ingênuo não notar o abismo que separa aqueles que se autodeclaram ou “novos liberais” ou “novos conservadores”, a ala mais enérgica e radical da direita democrática, diante daqueles que eles, por completa falta de opção, tentaram eleger como representantes (no caso, os políticos do PSDB). Como será visto adiante, boa parte deles mostrou mais simpatia pelo Pastor Everaldo, sobretudo por sua proposta de privatizar a Petrobrás. Mas o mesmo se deu também à esquerda do espectro político. Por mais aguerrida que tenha sido a defesa do governo de Dilma Rousseff por seus apoiadores, já então havia uma distância igualmente abissal entre a representante e aqueles que a defendiam (distância esta que se acentuou, e muito, após o começo do segundo mandato). Duas observações devem aqui ser feitas. A primeira é que isto aponta para uma tendência geral: por um lado, uma grave crise de representação política e a necessidade de repensar e reformar o aparato deliberativo, por outro, um aumento da polarização social que não se refletiu no campo político, o qual tende ao centro ou mesmo, ao menos atualmente, à centro-direita (seja pelo PT, seja pelo PSDB). Isto é, se as diferenças de fato entre as políticas do PT e do PSDB podem parecer ínfimas (e ressalto o “parecer”), a distância entre o que pensam as suas bases sociais não poderia ser maior. A segunda observação é sem dúvida uma evolução (ainda que por vezes patética, como se verá a seguir) frente a 2013. Nas mobilizações em torno das eleições já não se tratava mais da marcha da indeterminação, mas de dois projetos distintos que se enfrentam na arena pública, sem contradições tão flagrantes quanto as presentes no ano anterior. No entanto, o bloco não estava realmente unido nem de um lado, nem do outro. Os sinais de esgarçamento das relações no interior tanto dos grupos de defensores 11

Sakamoto, “2013: o ano que ainda não terminou”, 14 de Setembro de 2015. Em: .

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quanto no de críticos do governo da presidenta Dilma Rousseff são bastante nítidos. E aqui há um movimento ideológico no mínimo interessante e que merece ser analisado. Disse antes que a polarização social não se refletiu no posicionamento dos dois partidos que dominaram o debate nas duas últimas décadas, o PT e o PSDB. Tal como vem ocorrendo em boa parte do restante do mundo desde o começo da Grande Recessão, no Brasil as opiniões políticas estão se distanciando do centro do espectro direita/esquerda em direção a um dos polos. Isto faz com que apareçam grupos com novas ideias, e que estes grupos venham ganhando espaço e adeptos. É difícil estimar a força real deles. Por enquanto, tanto a nova esquerda quanto a nova direita que passarei a analisar têm mostrado grande capacidade de mobilização, mas um desempenho eleitoral pífio. Por um lado, Junho de 2013 marcou a emergência de algo que se pode caracterizar, embora de forma demasiado vaga, como uma “nova esquerda” (ou uma “nova nova esquerda”, pois é bem verdade que há cada par de anos ressurgem ideias que assim se denominam). A novidade, no caso, é que aparece no Brasil uma esquerda, nas palavras de Singer, “em sintonia com aquela do Occupy Wall Street norte americana e dos Indignados espanhóis”12. O Movimento Passe Livre (MPL) é exemplar quanto a isto, tanto em sua forma de organização quanto em seus objetivos (creio que outro movimento significativo que pode ser paradigmático aqui é o Ocupe Estelita, de Recife). Na forma de organização pela adoção da organização horizontal, sem lideranças fixas e com representação delegada (e apenas, salvo engano, quando a representação se torna realmente necessária). Inova também pelo uso intensivo da internet, a qual permite tanto uma maior articulação interna quanto a divulgação e o debate de ideias e estratégias. Por fim, inova ainda por manter uma distância relativamente grande pela política partidária: o objetivo do movimento (tanto do PasseLivre quanto, salvo engano, dos Indignados e do Occupy Wall Street) é fortalecer os movimentos sociais de forma que estes possam pressionar os políticos pelas mudanças desejadas. Em termos de objetivos o MPL representa também uma ruptura com a esquerda mais tradicional por se tratar de um movimento que busca a gratuidade e universalidade do transporte público, uma demanda bastante específica, mas que sem dúvida transcende a si mesma. Escolhe-se assim uma pauta pragmática, capaz tanto de mobilizar quanto de conseguir melhorias pontuais e imediatas, ao mesmo tempo em que se questiona a própria natureza e objetivos da vida social submetida à lógica capitalista. 12

André Singer, “Brasil, Junho de 2013: Classes e ideologias cruzadas”, p. 33, Novos Estudos CEBRAP, número 97.

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O verdadeiro ponto, parece-me, está em lutar por uma cidade que não seja apenas o palco da especulação imobiliária e do consumo onipresente, por uma vida que não seja (plenamente) mercantilizada. Trata-se de objetivos que vão além das demandas redistributivas típicas dos movimentos organizados dos trabalhadores (e que sempre dão a tônica na esquerda tradicional)13. Exigências que se fazem mais prementes em ambientes altamente urbanizados, e nas quais o lulismo não representou avanço algum, ou, quando o fez, fez pouco. Na verdade, a ascensão social promovida ao longo da década lulista contribuiu, e muito, para o agravamento das questões citadinas, na medida em que uma imensa nova massa de veículos entupiu as ruas e o preço dos imóveis disparou. Por tudo isso, esta “nova esquerda” é bastante crítica do governo petista, ainda que, suponho, possa ter preferido quem aí está do que sua oposição, em especial no segundo turno, ainda que boa parte tenha pregado o voto nulo ou escolhido, no primeiro turno, pelos políticos do PSOL ou de outros pequenos partidos de esquerda. Embora lide com um tipo de pauta que tende a se tornar cada vez mais central, uma vez que as cidades se converteram em uma subespécie de inferno neoliberal, inteiramente cindidas entre ricos e pobres, mas insuportáveis para ambos (embora, evidentemente, muito mais para os pobres), há de se questionar se esta “nova esquerda” será capaz de enfrentar os desafios que lhe aguardam. O preço pela horizontalidade na organização é alto: por um lado, o risco iminente de processos deliberativos morosos e que, mal terminados, recomeçam; por outro, a dificuldade de reproduzi-la em contextos nos quais a própria capacidade de articulação discursiva é tolhida pelo trabalho precoce ou pela má formação educacional. Ademais, por mais massiva que a internet tenha se tornado, alguma forma de democracia direta por meio de redes sociais, a semelhança do Podemos espanhol, enfrenta no território brasileiro obstáculos bem maiores: a começar pela persistência de um exército de excluídos até mesmo do trabalho explorado, aquém mesmo do proletariado ou do precariado14. Acrescente-se ainda que a falta de lideranças (ocasionada em grande medida pela horizontalidade de tais movimentos) impede uma maior ocupação dos parcos espaços midiáticos que poderiam se encontrar disponíveis, e assim mostra-se incapaz de formar quadros politicamente viáveis. Por fim, esta própria “nova esquerda” corre o risco das velhas: fragmentação e sectarismo. Dissipar-se em 13

Não é fácil indicar as principais referências teóricas que influenciam tal movimento, mas talvez o nome do geógrafo estadunidense David Harvey seja sugestivo. 14 Tanto por motivos técnicos (o fato de a internet não estar tão disseminada quanto em países mais avançados) quanto, sobretudo, por motivos políticos (a imensa desigualdade brasileira, somada a persistência da pobreza extrema e da miséria, fazem com que toda pauta “pós-materialista”, como em parte são todas aquelas do direito à cidade, soe como secundária ou pouco urgente).

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um sem-número de pequenos movimentos sem capacidade de articulação; aferrar-se a doutrinas de purismo (sobretudo em relação a não participar dos jogos eleitorais, ainda que estes estejam se tornando insossos espetáculos). A seu favor, o longo espaço vazio deixado pela guinada ao centro do PT, a desaparição das pautas progressistas em termos de costumes (em geral pelo temor do conservadorismo neopentecostal) do programa de todos os demais grupos políticos, e, provoco, o seu quase monopólio da inteligência. Olhar para o outro lado do espectro é igualmente necessário. De Junho de 2013 para cá se assistiu àquilo que se tem chamado de ascensão conservadora, ainda que seja bastante questionável o termo, pois não é certo que se trate mesmo de uma ascensão, e ainda mais que ela seja conservadora15. Ao contrário do que ocorrera nas três eleições anteriores em que o PT obteve êxito, os derrotados na urna não se conformaram com a nova derrota. 2015 tem sido, assim, um novo ano de imensas mobilizações (as estimativas giram em torno de 2,4 milhões de pessoas em 15 de Março, 700 mil pessoas em 12 de Abril e 880 mil em 16 de Agosto16), as quais defendem a saída da presidenta (recém) eleita. Assim como o Movimento Passe Livre é uma espécie de modelo exemplar da nova esquerda surgida em 2013, os movimentos que convocaram tais manifestações são bons indícios do que é a “nova direita”, declare-se ela liberal ou conservadora (ou ambas, pois por incrível que pareça há quem assim se denomine), que vem aparecendo aos poucos. Trata-se do Movimento Brasil Livre (MBL), do Revoltados Online e do Vem Pra Rua, mas também de uma série de think tanks (dentre os quais se pode elencar o Instituto Liberal, o Instituto Millenium, o Instituto Ludwig von Mises Brasil, dentre outros). Aqui também há novidades tanto formais quanto de objetivos. Dos três, aquele que mais se destaca é o ultraliberal Movimento Brasil Livre, uma espécie curiosa de messianismo a pregar a panaceia do mercado livre como solução para todos os males. Vou me ater apenas a ele. Composto por uma cúpula de poucos rapazes (na verdade três: Kim Kataguiri, de 19 anos; Renan Santos, de 31, e Fernando Holiday, de 18), o movimento se sobressai pela eficiência na comunicação virtual, centrada, sobretudo, nas redes sociais (embora catapultada pelo amplo espaço que eles veem encontrando seja na mídia impressa, em especial na Revista Veja, seja em 15

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Conferir Rodrigo Nunes, “A ‘Onda conservadora’ é menos fácil de entender do que se imagina”, em Folha de São Paulo, 28/08/2015. Disponível em: . Acesso em Setembro de 2015. Cito as estimativas feitas pela Polícia, de acordo com o portal G1. Os dados estão disponíveis em: . Acesso em Setembro de 2015.

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programas de rádio e televisão), e pelo personalismo extremo, a ponto de transformar Kim Kataguiri, seu militante mais performático, em uma espécie de ícone. (Aqui, curiosamente, há certa semelhança com a figura de Pablo Iglesias do Podemos espanhol, embora, obviamente, a semelhança fique apenas no âmbito da personalidade performática capaz de criar um impacto na opinião pública). A opção pela polêmica e pela caricatura contribui muito para o sucesso do grupo em sua cruzada pela liberdade negativa frente àquilo que eles veem como uma espécie de totalitarismo bolivariano e seu superEstado a se imiscuir nos meandros da vida particular. Também a nova direita pretende antes organizar a sociedade civil do que militar em partidos políticos. O objetivo é influenciar a opinião pública por meio da divulgação do ideal libertariano (ou libertário, como eles mesmos se autodenominam, embora nada tenham a ver com os anarquistas), e para tanto é mais válido ter colunistas estrategicamente situados do que uma pequena quantia de deputados. Em termos de objetivos, o MBL se destaca justamente por ser o mais inflamado dos defensores do Impeachment da presidenta, e por vincular tal defesa a um projeto articulado de sociedade (a saber: as versões mais radicais de neoliberalismo, como aquelas de Milton Friedman e Ludwig von Mises, mas sobretudo na forma em que se encontram popularizadas nos romances de Ayn Rand). Também aqui fortuna e virtù parecem haver se encontrado. O MBL – em especial, mas também os think tanks que disseminam a palavra por ele pregada – se mostrou capaz de encontrar o momento propício para surgir em cena. O momento foi gerado pela crise política e econômica que ainda se desenvolve e cujo resultado permanece uma incógnita. Assim, o cartaz do impeachment presidencial consegue atrair a simpatia de grande parte da população, mas para um projeto de longo prazo que não é apenas reativo, mas também propositivo: a ideia de enxugar o Estado ao seu mínimo. A Estadofobia, no entanto, é restrita ao âmbito econômico (ao contrário do que ocorre no mais refinado dos pensadores neoliberais, o austríaco Friedrich von Hayek). Na opinião deles, é um absurdo a presença estatal no planejamento econômico, na tentativa de mitigar a desigualdade social ou no oferecimento de serviços básicos (embora, creio que por motivos pragmáticos, eles não costumem levantar a bandeira do fim da educação e da saúde pública, mas provavelmente as defenderiam se questionados sobre isso). No entanto, pouca ou nenhuma atenção é dedicada à presença do Estado em temas relativos aos costumes. Seria de se esperar, no mínimo, a defesa radical do aborto ou da legalização das drogas (com argumentos como o de que o indivíduo é dono de seu corpo e o Estado não pode interferir no que ele faz com este). Mas estes temas são tabus e

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devem ser combatidos. É preciso lembrar que de acordo com as opiniões de alguns de seus articulistas o PT não apenas pretende implantar no Brasil uma ditadura comunista bolivariana e totalitária, mas também semear o gayzismo. O liberalismo radical na economia não se coaduna, portanto, com um liberalismo radical nos costumes, mas, ao contrário, em um conservadorismo exaltado, tal como na mescla neoliberal e neoconservadora do Tea Party estadunidense17. Não é a toa que não parecem se sentir incomodados com Eduardo Cunha como presidente da Câmara dos deputados. O virtuosismo pragmático, contudo, também apresenta sua conta. Em primeiro lugar, há um abismo entre o que as lideranças do MBL pensam e as opiniões da multidão que compõe suas manifestações18. Com ares de comédia, enquanto uns falam estado mínimo os outros entendem serviços públicos de melhor qualidade. De acordo com boa parte das pesquisas que foram realizadas para captar o perfil dos manifestantes, as opiniões políticas entre eles não são nada unânimes, salvo pela rejeição absoluta à presidenta Dilma Rousseff e ao Partido dos Trabalhadores, mas que se revela no fundo uma recusa a toda classe política. Ademais, as pesquisas indicam também que os manifestantes não são um grupo social muito heterogêneo, concentrando-se, sobretudo, em uma parcela bem mais rica, com mais anos de estudos e mais velha do que a média dos participantes das Jornadas de Junho de 201319.

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Tal associação é feita por Cláudia Antunes em “Tea Party à brasileira”. Revista Piauí, edição 103, Abril de 2015. Disponível em: . 18 Conferir a reportagem “Manifestantes do dia 12 confiam mais em Bolsonaro que em Marina Silva”, de Marina Rossi, 14 de Abril de 2015, disponível em: e Rodrigo Nunes, “A ‘Onda conservadora’ é menos fácil de entender do que se imagina”, em Folha de São Paulo, 28/08/2015. Disponível em: . Acesso em Setembro de 2015. 19 Nas precisas palavras de José Roberto de Toledo: “Quem protestou contra Dilma Rousseff domingo [15 de Março de 2015 (A.F.)] não foi quem ocupou as ruas há 18 meses. Foi a vez dos pais, não dos filhos, saírem de casa. Na onda original, mais da metade dos manifestantes não chegava a 25 anos. Agora, a maioria absoluta tem mais de 36 anos. Na média, 13 anos separam um grupo do outro. Mas as diferenças não são apenas geracionais. O típico manifestante anti-Dilma é homem, tem cerca de 40 anos, fez faculdade, é assalariado com carteira assinada ou empresário, define-se como de centrodireita, tem mais chance de ser simpático ao PSDB do que a qualquer outro partido. É branco, mora nas áreas mais ricas da cidade e tem renda superior a dez salários mínimos. É a primeira vez que sai à rua para protestar”. Em: “O eleitor São Tomé”, Estado de São Paulo, 23 de Março de 2015. Disponível em: .

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4. O Ocaso de um governo e de sua oposição. Palpites inconclusivos

Difícil dizer se o caldo entorna, ainda mais para que lado. O retrato do momento, a meu ver, é este. Um governo tentando o impossível: manter o pacto lulista sem crescimento econômico, habitar o impasse sem tomar partido. Após radicalizar o discurso à esquerda para logo depois abraçar sem peias o programa político do recém derrotado adversário (em essência: ajuste fiscal), o governo insiste em buscar uma fórmula mágica capaz de voltar aos bons tempos de quase unanimidade que se foram: assim, busca à todo custo agradar aos descontentes, mas só conseguindo perder, cada vez mais, aqueles que, apesar de todos os percalços, ainda o defendiam. Compõe o quadro uma oposição que age feito cego em tiroteio. Incapaz de ditar uma agenda, ela fica a reboque de tentar, o tempo todo, sair bem na foto. Parecer simpática aos defensores do impeachment, mas também aos críticos do governo que respeitam o resultado das urnas, assim como angariar os votos do adversário, isto é, de quem votou, nas últimas eleições, nos candidatos do PT e poderia mudar de lado. Em outras palavras, trata-se de manter a clientela fiel, antilulista, e conquistar o eleitorado do opositor, sobretudo lulista, sem que estes conflitem entre si; mirando, sobretudo, em 2018, mas atenta à possibilidade de ascender antes ao poder, ou, ao menos, de alijar seus adversários de lá. Administrar isto é tarefa não só ingrata, como fadada ao fracasso. Ante o governo petista em destroços, o PSDB vem conseguindo memorável façanha: ficou refém de um aventureiro implicado até o pescoço em estelionatos de toda ordem. Por isso é impossível não se lembrar da frase do sociólogo Francisco Oliveira em programa televisivo, “é a oposição que qualquer governo sonharia em ter”. Quem se sai bem, por ora, é justamente a quem não deveria caber o protagonismo da situação. Se a diferença programática entre o partido da situação e o da oposição tende a nulidade, é incrível o fato de serem justamente os intermediários entre eles que ganhem terreno, o bloco responsável justamente por garantir a governabilidade. Por enquanto, parece cada vez mais que o poder político vai se concentrando nas mãos de um conglomerado composto, grosso modo, pelos assim chamados interesses fisiológicos, pelos distintos lobbies capazes de mobilizar com sucesso as bancadas dos congressistas. Assim se desenha verdadeira tragédia: em vez de renovar o panorama político brasileiro, o que teve início em 2013 parece reforçar precisamente aquilo que ele tem de mais arcaico, perenizando um sistema alheio à vontade popular e quase totalmente dominado pelos maiores interesses financeiros.

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Conseguirá a nova esquerda, ou a nova direita, que passaram a ocupar as ruas (2014 em diante, felizmente, em dias distintos), transformar o cenário? Terão elas força eleitoral? Ou antes apenas capacidade de mobilização pontual? Grandes desafios os esperam: um país de tamanho continental, com lideranças, interesses e perfis regionais em grande parte distintos, padecendo de males que há muito podiam estar obsoletos, e com um sistema político que, apesar de sua quase universal reprovação, está assentado sobre alicerces rígidos. Que novo Brasil surgirá das Jornadas de Junho? Terá ele como protagonista um partido a la Podemos? A la Tea Party? Ou estaremos condenados a novas versões do PMDB de sempre?

Muito Obrigado!

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