O conceito de educação em Émile Durkheim a partir da noção de anomia.

September 24, 2017 | Autor: Rafa Fróes | Categoria: Emile Durkheim, Ciências Sociais, Ciencias Sociales, Educação
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Com o objetivo de definir Educação, Durkheim parte da crítica às concepções
consideradas sacrossantas no campo da Educação na época. Durkheim se opõe
às definições de Stuart Mill, Kant, James Mill e Spencer, por entender que,
embora cada uma delas apresente características individuais, todas partem
do postulado de que há uma Educação ideal, perfeita, apropriada a todos os
homens indistintamente e que esta pode ser modificada individualmente,
independente das forças sociais que envolvem os sistemas educacionais. Para
Durkheim, estas teorias desconsideram a realidade histórico-social na qual
a Educação está inserida, desconsideram o tempo histórico e o contexto
social.
Para Durkheim, falando sobre a Educação de dentro da Sociologia, a natureza
da Educação é um fenômeno eminentemente social: cada sociedade possui
tantos sistemas de educação especiais quantos sejam os meios diferentes que
ela comporte. Além disso, a educação deve necessariamente variar conforme
as profissões, embora todas as suas formas especiais possuam uma base
comum. Desta forma, cada sociedade forma o tipo de homem ideal e faz deste
homem ideal o eixo educativo da sua educação.

Para Durkheim, "a educação é a ação exercida pelas gerações adultas sobre
aquelas não amadurecidas para a vida social. Tem por objeto suscitar e
desenvolver, na criança, certo número de estados físicos, intelectuais e
morais, reclamados pela sociedade política no seu conjunto e pelo meio
especial a que a criança particularmente se destine." Assim, a educação é
definida como a socialização da criança.

Durkheim, ao explicar as razões deste processo, define dois conceitos: o
"ser individual"- estados mentais que se destinam a nós mesmos e aos fatos
da nossa vida pessoal e "ser social" – conjunto de ideias, sentimentos e
hábitos que se referem ao grupo ou grupos aos quais pertencemos; crenças
religiosas, crenças e práticas morais, tradições nacionais ou
profissionais, opiniões coletivas em geral. Estes dois conceitos coexistem
em todos os indivíduos e o objetivo da educação é organizar o ser social em
cada um de nós.

A criança, ao nascer, apresenta-se com a constituição primitiva do homem e
é a civilização que, ao inseri-la nos sistemas de moral, de línguas,
religiões e ciências, a humanizará, transformando um ser egoísta e associal
em outro capaz de submeter-se à vida moral e social.

Para haver educação é preciso haver uma geração de jovens, crianças e
adolescentes exposta á uma geração de adultos que exercerá sobre ela uma
ação de socialização.

A educação é um elemento mediador que prepara as gerações mais jovens para
a vida social, garantindo a continuidade da vida coletiva, sendo uma ação
intencional e direcionada. Para Durkheim, a educação é um sistema ao mesmo
tempo uno e múltiplo, pois existem várias espécies de educação, visto que
ela não pode ser a mesma para todos os indivíduos. A tendência é que a
educação seja mais diversificada e especializada.

A educação é um fato social que deve ser estudado como tal, como fenômeno
produzido por uma realidade social organizada ao longo dos séculos,
caracterizada por um conjunto de práticas e instituições. Desta forma, este
fenômeno se apresenta como dito acima, uno e múltiplo, pois, apesar dos
sistemas educacionais variarem no tempo e no espaço, eles pressupõem um
diálogo contínuo entre passado e presente.

Entendendo o conceito de educação para Durkheim, entendemos também a
importância da instituição social, este conjunto de regras e procedimentos
padronizados socialmente, reconhecidos, aceitos e sancionados pela
sociedade, cuja importância é manter a organização do grupo e satisfazer as
necessidades dos indivíduos que dele participam. Estas instituições podem
 ser definidas como conservadoras, já que agem contra as mudanças, para a
manutenção da ordem. Entendendo a obra de Durkheim, entendemos como ele se
posiciona em defesa das instituições sociais, já que acredita que o ser
humano precisa se sentir seguro e protegido pela ordem social, imposta
pelas instituições.

Para o autor, uma sociedade sem regras claras, sem valores e sem limites
levaria o homem ao desespero. O termo anomia, cunhado por Durkheim em seu
livro O Suicídio, foi usado para definir o enfraquecimento das normas em
dada sociedade, uma desorganização tal da sociedade que enfraqueceria a
integração dos indivíduos que não sabem que normas devem seguir.

Numa sociedade ou grupo social em anomia "faltará uma regulamentação
durante certo tempo. Não se sabe o que é possível e o que não é, o que é
justo e o que é injusto, quais as reivindicações e esperanças legítimas,
quais as que ultrapassam a medida" (Durkheim, 1974).

O conceito de anomia desempenha um papel importante na sociologia,
principalmente no estudo das mudanças sociais e de suas consequências.
Quando as regras sociais e os valores que guiam as condutas e legitimam as
aspirações dos indivíduos se tornam incertos, perdem o seu poder ou, ainda,
tornam-se incoerentes ou contraditórios devido às rápidas transformações da
sociedade; resulta daí um quadro de desarranjo social denominado anomia.


.Durkheim introduz o conceito de anomia, no contexto histórico do século
XIX, num momento em que as instituições sociais se encontravam
enfraquecidas, quando havia muito questionamento, quando valores
tradicionais eram rompidos e novos surgiam. Havia muita gente vivendo em
condições miseráveis, desempregados, doentes e marginalizados. Durkheim
classificou como estes problemas observados como patologia social e
introduziu a noção de sociedade "anomana". Segundo ele, a anomia era a
grande inimiga da sociedade, devia ser vencida através da sociologia. O
papel do sociólogo seria, portanto, estudar, entender e ajudar a sociedade.

Para tentar "curar" a sociedade da anomia, Durkheim escreve Da divisão do
trabalho social, onde expõe a necessidade de que uma solidariedade orgânica
seja estabelecida entre seus membros, seguindo o exemplo de um organismo
biológico, no qual cada órgão tem uma função e depende dos outros para
sobreviver. Se cada membro exercer uma função específica na divisão do
trabalho da sociedade, ele estará vinculado a ela através de um sistema
de direitos e deveres, e também sentirá a necessidade de se manter coeso e
solidário aos outros. O importante para Durkheim é que o indivíduo
realmente se sinta parte de um todo que realmente precise da sociedade de
forma orgânica, interiorizada e não meramente mecânica.

Referências:

Durkheim, E - A educacao como processo socializador funcao homogeneizadora
e funcao diferenciadora

Quinteiro, T -Um toque de clássicos - Durkheim Marx Weber


Durkheim, E - Educação e Sociologia

Durkheim, E - As Regras do Método Sociológico
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