O convento de Nossa Senhora dos Remédios, da Ordem de S. Paulo, em Elvas: diálogos fraguementados

October 13, 2017 | Autor: Nuno Cruz Grancho | Categoria: Arquitectura, São Paulo, Elvas, Ordens Religiosas
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O Convento de Nossa Senhora dos Remédios, da Ordem de 5. Paulo, em Elvas: diálogos fragmentados

Nuno Grancho

1. Introdução A realização de um trabalho no âmbito da antiga igreja do Convento de Nossa Senhora dos Remédios, da Ordem de 5. Paulo, na cidade de Elvas, revelou-se-nos, desde logo, do maior interesse, não só pelo seu percurso histórico, mas também pela possível proximidade às soluções decorativas plurifacetadas, sejam elas alusivas à estatuária, à pintura mural e ao estuque, as quais preenchiam o interior deste espaço de arquitectura religiosa. O desconhecimento generalizado por parte da população local, face a todo o complexo arquitectónico convento e igreja justifica-se pelo pre sente estado de ruína em que se encontra a referida igreja, bem como pela tutela do dito complexo, por parte do Ministério da Defesa, desde a primeira metade do século XIX, após a lei de extinção das Ordens Religiosas em 1834, assim como da posse da igreja em 1887. Acresce, por outro lado, uma notória ausência de estudos referentes ao objecto em análise, contribuindo esse mesmo facto para uma ausência de memória patrimonial por parte dos cidadãos elvenses, facilitando, assim, lacu nas histórico-patrimoniais, as quais impossibilitam a defesa do seu património religioso, assim como o de uma maior consciência entre a identidade do Homem e a Cidade. Acresce ainda o facto de se tratar de uma igreja não paro quial, o que conduz a uma certa marginalização desta, sobretudo se tivermos em consideração casos idênticos, nomeadamente a Igreja de 5. Domingos e a de 5. Tiago, ambas igrejas paroquiais, pertencentes no passado a casas religio sas e que, no presente, continuam a exercer o seu papel no culto religioso’. —



Licenciado em História. Mestrando em Arte, Património e Teoria do Restauro. Circunstancialmente diferente, mas igualmente relevante neste contexto é o caso da igreja do extinto Convento de S. Francisco, a qual, não sendo paroquial e encontrando-se extramuros, conseguiu chegar aos nossos dias, por mérito do aproveitamento feito da antiga cerca conventual, em Cemitério Municipal, permitindo assim a continuidade desta existência patrimonial. ELVÂS caia



Revista Internacional de cultura e ciência. nY 7, 2009, Edições

Elvas, pp. 61-86.

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Estes mesmos factores, anteriormente referidos, levaram inequivoca mente ao estado de ruína avançado que caracteriza a igreja paulista na actua lidade, facto por si só lamentável numa perspectiva patrimonial, onde uma total ausência de sensibilidade, no decorrer da segunda metade do século XIX, ditaria a morte deste espaço e, com ela, parte da memória identitária da História da cidade de Elvas. Todavia, se este mesmo espaço é praticamente irrecuperável no seu conjunto, já o seu percurso histórico-artístico é passível de ser refeito, recorrendo-se para o efeito à Cripto-História e, consequente mente, à retoma do diálogo com o objecto fragmentado, tão necessário à devolução da sua memória2. Por conseguinte, impunha-se-nos, a par da investigação documental e de um levantamento fotográfico, a realização de abordagens comparativas, sem pre que estas, conjuntamente com a metodologia anterior, nos permitissem chegar a conclusões ou, pelo menos, à colocação de hipóteses que julgamos suficientemente fundamentadas para que sejam colocadas, nomeadamente no âmbito do alçado principal e da própria funcionalidade do espaço sagrado. Neste seguimento e posteriormente a uma primeira análise bibliográfi ca, a qual se viria a revelar quase inexistente, levou-nos a debruçar sobre temáticas paralelas, que nos possibilitassem uma aproximação à questão em análise, o que, em certas vertentes, se veio a verificar. Ainda assim, a docu mentação arquivística acabaria por ganhar uma maior relevância para o cumprimento dos objectivos deste estudo, pelo que se tornou imperioso investigar alguns fundos do Arquivo Nacional da Torre do Tombo, do Arquivo Militar, do Arquivo Distrital de Portalegre e do Arquivo Histórico Municipal de Elvas. 2. A Fundação Paulista em Elvas A primeira referência encontrada para a fundação paulista no termo de Elvas remonta ao ano de 1418, no lugar “a que chamavão Provença de Rio torto”, contudo, a existência de eremitas denominados de “Pobres da Pobre Vida” já se conhecia desde o início do século XV3. Porém, outros autores avançam o final do reinado de D. Fernando 1, para a chegada dos primeiros eremitas a Elvas, nomeadamente o elvense cónego Aires Varela, no Cap. XV, da sua obra Theatro das Antiguidades d’Elvas4. 2 3 4

Cf. Vitor SERRÃO, A Cripro-História de Arte: análise de obras inexistentes, Lisboa, Livros Horizonte, 2001, pp. 12-13. Cf. ARQUIVO DISTRITAL DE PORTALEGRE, Convento de S. Paulo de Elvas, Cx. 07,

009. Cf. Aires VARELA, Theatro das Antiguidades d’Elvas, Elvas, Editor António José Torres de Carvalho, 1915, p. 83.

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Teve esta primeira fundação por base a doação de umas terras por Lou renço Anes Reguendo e sua mulher, Margarida Domingues, moradores na vila de Elvas, como ficaria formalmente assente em escritura assinada na presença do tabelião Estêvão Anes, ao terceiro dia de Junho de l4I8~. A primeira fundação, denominada de Nossa Senhora dos Remédios, haveria de permanecer no lugar do Rio Torto até ao ano de 1593, abandonado poste riormente pelos religiosos pelo distanciamento a que se encontrava do burgo, aliado aos rígidos Invernos que dificultavam o percurso dos eremitas, impos sibilitando o exercício esmolar6. Tais factos serviriam de alegações para, junto de Filipe II, requererem licença para nova fundação em local mais próximo da cidade, a qual haveria de ser concedida pelo mesmo monarca a sete de Maio de 1593, transitando os ditos religiosos de 5. Paulo para a ermida de 5. Sebastião, à qual a Câma ra de Elvas viria a anexar, por contrato datado de 17 de Dezembro de 1598, uma terra junto ao ribeiro de Canção, tendo como contrapartida os monges leccionarem uma aula pública de ensino de latim, de forma totalmente gra tuita7. A sua permanência seria demasiado curta, já que, nesse mesmo ano, os paulistas voltariam a solicitar ao rei nova licença para mudança de residência para um «sitio mais perto da cidade, por inconvenientes que aliegaram do lugar em que estavão junto a sobre dita ermida de S. Sebastião, e fundarão hum magn~co convento no Rocio da Porta da Esquina»8. Esta constituía,

assim, a terceira fundação paulista em Elvas, ainda extramuros, a qual viria a ser arrasada aquando da Batalha das Linhas de Elvas, «por ordem do mesmo Sereníssimo Rey o Senhor D. Affonso expedido pelo seu conselho de guerra, lançando se lhe fogo, foi destruído e todo arruina do o tal convento, por se julgar ser assim precizo pela defensa da quella Praça em o chio, que os castelhanos lhe pozêrão no anno de 1658, ficando os Religiozos delle por este motivo, e por cauza das guerras, em que per derão quantidade de fazenda, não só sem convento, mas tão pobres»9. Aires Varela, na sua obra Theatro das Antiguidades d’Elvas, para além de fazer refe rência a estes doadores, refere uma outra doação feita por Domingos Amado, de uma terra «que lindava com a que Lourenço Anes Reguengo lhe havia dado», embora não tenhamos encontrado qualquer referência, quer na bibliografia consultada, quer mesmo ao nível da investigação arquivística realizada. Veja-se idem. 6 Cf. Fernando Correia PINA, “o Convento de 5. Paulo de Elvas: breve notícia históri ca”, in Callipole, Revista Cultural, n° 2, Vila Viçosa, Câmara Municipal de Vila Viço sa, 2004, p. 51. 7 Idem. 8 Cf. A. D. P., Convento de .5. Paulo de Elvas, Cx. 07, 009. 9 Cf. A. D. P., Convento deS. Paulo de Elvas, CVSPELV/005, Cx. 04, 11.’ 1-2.

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Passaram a habitar os religiosos umas casas alugadas no interior da ci dade, vivendo de esmolas. Dado o prejuízo causado e não tendo meios para o pagamento regular dos referidos alugueres, estes foram pagos por ordem do monarca, D. Afonso ~ para além de lhes ter sido concedida a Igreja da Madalena, para celebração dos ofícios da sua religião, para junto da qual acabariam por ir viver até ao ano de 1699, como nos diz Aires Varela no Cap. XXVIII, da sua obra Theatro das Antiguidades d’Elvas, informação essa que conseguimos comprovar através dos recibos dos alugueres pagos pelos religiosos a Margarida Lopes, viúva de Gonçalo Rodrigo Reis, entre os anos de 1671 e 1699”. Seria D. Pedro II, quando ainda príncipe regente, que mandaria erigir novo convento, intramuros, junto à Porta da Esquina, «no citio, em que se cosi umavão recolher as barcas, que servião de ponte aos exércitos no tempo da guerra»’2. Iniciou-se a sua construção no ano de 1679, quando os religio sos passaram a receber a quantia de mil cruzados em cada ano, totalizando a quantia de dez mil cruzados, ao fim dos dez anos contemplados no alvará régio de 24 de Maio de 1675’~. Parece-nos, ainda assim, relevante uma cha mada de atenção para o estudo realizado por Fernando Correia Pina, onde nos diz ter sido, a 28 de Outubro de 1679, lançada a primeira pedra, pelo en tão bispo de Elvas, D. Alexandre da Silva’4. Mais tarde, o mesmo monarca, D. Pedro IJ, somava à dita verba, ante riorniente referida, a importância de oito mil cruzados, em resultado da peti ção apresentada pelos religiosos em 1682, sendo certo que, à data de 1687, com os ditos dezoito mil cruzados, estava erecto «hum grande Dormitorio, e arranques de outro mais pequeno, Refeitorio, cozinha, Portaria, algumas officinas, e a Igreja sem choro quasi the os arranques das abobadas»’ assim como «dois lanços do claustro e uma nova parede da cerca»’6. E esse mesmo alvará, de 1675, que nos relata o facto de el-rei D. Pe dro JI ter nomeado Francisco Torres, como administrador das obras do dito convento, e João Furtado de Mendonça, como superintendente das mesmas, idem. Cf. A. D. P., Convento de S. Paulo de Elvas, CVSPELV/019, Cx. 09. 12 Cf. A. D. 1’., Convento de S. Paulo de Elvas, CVSPEL/005, Cx. 04, fi.’ 1-2. 3 Idem. 4 Diz-nos Jorge Henrique Pais da Silva, na obra História Comparada da Arte (Cronolo gia), que nesse mesmo ano de 1679, data em que se lança a primeira pedra do Conven to de S. Paulo em Elvas, se iniciava a construção da Igreja de 5. Salvador, pertença dos Jesuítas. Cf. Jorge Henrique Pais da SILVA, História Comparada da Arte (Crono logia), Lisboa, Colibri, 2004, p. 132. ‘5 Cf. A. D. P., Convento de S. Paulo de Elvas, CVSPELV/005, Cx. 04, fI.’ 1-2. ~ ibidem. W ~1

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vedor-geral e capitão-geral da Artilharia da Província do Alentejo, respecti vamente. Sendo «a obra da fundação do convento pela repartição da Artelha ria, pela qual se pagava a consignação dos Mil cruzados cada anno a Pedro Vai, e a João Ortiz»’7, ambos empreiteiros e moradores na cidade de Elvas. A permanência de ambos ficaria, contudo, comprometida, com o negó cio por eles feito com os materiais da obra, que vendiam «recolhendo o di nheyro a si, como justificarão sendo necessario», como consta da petição apresentada no ano de 1684, pelo «Reytor, e mais Religiozos da Ordem e convento de S. Paulo da cidade de Elvas»’8. Sabemos, igualmente, pela documentação arquivística analisada, que a obra permaneceria interrompida «por muitos annos com grande discomodo dos Religiozos (..) por incuria dos Prelados, que não cuidarão mais em requerer, e pedir humildemente não só Serenissimo Rey D. Pedro 2.0, mas tambem, e principalmente, ao nosso Serenissimo Monarcha o Sr.° Rey D. João 5. 0»19 De resto, seria por vontade do Magnânimo que se receberia a verba de dez mil cruzados, totalizando, assim, todas as referidas doações o montante de 28 mil cruzados, preço pelo qual se havia de concluir toda a obra do convento de Nossa Senhora dos Remédios, na cidade de Elvas. Os religiosos entram definitivamente, a 31 de Agosto de 1698, «depois da hora de vésperas em solemne Procissão acompanhada de todas as comu nidades desta cidade, com Grande concurso da nobreza, e povo», embora ainda incompleta a obra do convento, já que a igreja não estava concluída, de onde o aproveitamento da portaria para a realização dos ofícios religiosos. No período das Guerras Peninsulares, serviu este convento de hospital militar, como acontecera com as restantes casas religiosas existentes na cida de de Elvas e, em 1831, através de um pedido feito pelo reitor e religiosos do Convento de 5. Paulo desta mesma cidade, sabemos encontrar-se ali instala do o Regimento de Artilharia 3, por portaria do Governo Constitucional, desde 1827, pelo que pediam que o mesmo fosse retirado20. Este novo convento constituiu a última residência paulista, após mais de quatro séculos de permanência religiosa em Elvas. Com o fim das Ordens Religiosas em Portugal, promulgado pelo decreto de 30 de Maio de 1834, iniciou-se um novo ciclo, nomeadamente na existência deste complexo ar quitectónico, o qual passava a assumir uma nova identidade, de acordo com as novas directrizes político-culturais vigentes no país. Neste sentido, vamos encontrar os mais diversos percursos empreendidos pelas extintas casas con ventuais, as quais, no caso particular da cidade de Elvas, mantêm uma rela 11/Tombo n°23, fi.’ 47-48.

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Cf. A. D. P., Convento de .9. Paulo de Elvas, Cx. n°

‘~

ibidem. Cf. A. D. P., Convento deS. Paulo de Elvas, CVSPELV/005, Cx. 04, fi.’ 1-2. Cf. ARQUIVO HISTÓRICO MILITAR. 3 Divisão/20’ Secção/Numero 31/Caixa 18.

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ção, ainda que não necessariamente directa, com a própria geografia. É este o caso de dois dos seus antigos conventos 5. Domingos e S. Paulo os quais assumem uma nova identidade, de acordo com as prioridades estratégico-militares, específicas de uma das mais importantes praças-fortes do reino. Neste contexto, o edifício conventual de 5. Paulo2’ passaria para a tutela do Ministério da Guerra por Portaria do Ministério da Fazenda, de 19 de Dezembro de 1847, tomando essa mesma entidade posse oficial a 7 de Janei ro do ano seguinte. Porém, aquando da posse do convento por militares, seriam incrementadas naturais obras de adaptação, algumas descritas no periódico O Jornal de Elvas22. No decorrer do tempo intermédio entre 1834 e 1847, várias foram as iniciativas pensadas para o edifício conventual, algu mas delas concretizadas23. Relativamente à igreja anexa ao extinto convento, esta passaria para posse do Ministério da Guerra no ano de 1887, com o seu auto de entrega lavrado a 31 de Agosto desse mesmo ano24, tendo, ainda assim, continuado a cumprir, até esta data e em permanência, as suas funções litúrgicas. —

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2. Igreja de S. Paulo

—,

Ver FOTOGRAFIA 1. No periódico, O Jornal de Elvas, n° 1082, podemos ler, referente às obras empreendi das que foram demolidas «paredes que, pela sua espessura e valente construção, demandavam de muito trabalho, tempo e despeza, vimos que as ruínas que o edificio tinha, antes de começarem as obras e a falta de grandes reparações só poderiam ser vencidas por meio de muitos braços, de muitos materiaes e por consequência de mui tos meios pecuniários, consignados a uma obra desta natureza». No mesmo artigo, mais à frente, podemos ainda ler que «as casernas destinadas para as 8 companhias estão bem porporcionadas e simetricamente distribuídas», segundo o que se «poude apropriar às comodidades do edificio, notando-se todavia o belo gosto» e, mais à fren te o autor refere ainda terem sido «distribuídas as casas destinadas para gabinete e secretaria, casa da ordem, conselho administrativo, estado maior e aula do corpo», para além de aludir à cozinha, calabouço e arrecadação geral. Termina este artigo com uma referência ao terraço do claustro «todo de tijolo, tendo sido arrancada a laje, em vista do muito que pesava sobre as abobadas». Cf. O Jornal de Elvas, ano 24, n° 1082, de 2 de Junho de 1949. Porém, outras obras seriam realizadas na década de cinquenta do mesmo século, nomeadamente ao nível dos telhados, como nos diz o orçamento para reparação dos telhados do extinto Convento de 5. Paulo, em Elvas. Cf. A. H. M.,

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3’ Divisão/20’ Secção/Número 51/Caixa 22. Podemos referir a tentativa em se instalar no extinto Convento de 5. Paulo o Hospital da Misericórdia, ou o aproveitamento do edificio para instalação da sede de uma asso ciação recreativa, da Sociedade Elvense e, ainda, da Estação Telegráfica, como nos refere o periódico O Elvense. A estes aproveitamentos, acrescentamos os mencionados por José Saraiva, nomeadamente do seu aproveitamento para Alfândega da cidade de Elvas, para um teatro, para além de diversos requerimentos por parte do Ministério da Guerra: Idem. Conferir ainda José SARAIVA (Dir.), Livro de Índices: Situação dos Ed(ficios ao Serviço do Estado e das Corporações, Lisboa, Arquivo Histórico do Ministério das Finanças/Arquivo Nacional da Torre do Tombo, 1941, pp. 199-201. Cf. OJornal de Elvas, ano 24, n°1083, de 9 de Junho de 1949.

2.1. Contextualização A Igreja de 5. Paulo, anexa ao Convento de Nossa Senhora dos Remé dios, pertença da dita ordem, situa-se junto da Porta da Esquina, intramuros da cidade de Elvas. Datada do último quartel de seiscentos e do segundo de setecentos, a igreja paulista tinha por objectivo ser o lugar de oração da comunidade, mas também um significativo espaço de celebração religiosa na referida cidade, numa época em que a actividade da igreja surgia revigorada e revestida de toda a pompa que caracterizava o reinado joanino, bastante mais dinâmico, pela conjuntura económica da época. Os interesses conjunturais de ambos os reinados, de D. Pedro II e de D. João V, não constituem, por certo, a justificação do total apoio financeiro régio para a construção do dito convento, já que, no reinado de D. Afonso VI, «responsável» pela destruição do antigo convento extramuros, por ques tões de ordem estratégico-militar, aquando do cerco castelhano em 1658, se dera a importância, no compromisso real, para o voltar a erigir. Tal facto parece-nos mais aceitável, do nosso ponto de vista, ainda que as conjunturas dos ditos reinados detenham naturalmente a sua importância, tanto quanto permitem a sua execução. Acresce, por outro lado, o facto de Elvas, no decorrer do século XVI e até ao fim da regência filipina, se ter caracterizado por um forte desenvolvi mento económico, social e cultural, reflexos que se continuavam a perpetuar, em nossa perspectiva, no quotidiano desta cidade, até finais de seiscentos, continuando, por isso, a justificar a construção de casas religiosas, as quais levariam, como nos diz Rui Rosado Vieira, à (
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