O Corpo: Túmulo, Cobaia, Dócil e Sem Órgãos.

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PUCSP - História

O Corpo: túmulo, cobaia, dócil e sem órgãos.

Por Vítor da M. Vívolo. Apresentado à disciplina de Antropologia, ministrada por Mariza Werneck.

O Corpo humano é uma máquina que produz as suas próprias origens. É a imagem viva do movimento perpétuo. - Julien Offray de la Mettrie. L’homme machine, 1748

Refletir sobre as origens antropológicas ou históricas do corpo humano é muito mais do que fazer um mero trabalho de investigação biológica, darwinista, científica ou religiosa. É lidar com uma delicada trama de relações filosóficas, metafóricas e existenciais atreladas à história do homem e da medicina. Desde as raízes da civilização humana, enxergamos os resquícios das reflexões feitas pelos homens que buscavam remontar suas origens. Por quê viviam? Como vivam? Quem planejou que vivessem? Quem determinou que morressem? Trabalhar o corpo humano como objeto de pesquisa é, portanto, lapidar o mito de criação da nossa própria existência e fragilidade. É tocar nos delicados fios da doença e da mortalidade, da transcendência psíquica e da gênese daquilo que chamamos de humanidade. Mesmo assim, vivemos sem possibilidade de refletir sobre as aventuras de nosso próprio corpo. Sua evidência familiar e enganadora determina-lhe uma topografia positiva (diz-se natural) que, por sua vez, nos substitui o pensável. No entanto a primeira pergunta abala essas certezas: que sabemos dizer sobre a doença? Que, como uma morte, ela nos traspassa; percebemos então esse acidente sob as aparências da pura contigência: o mal nos tomou. Ou então é a absoluta necessidade: sábia ou espontânea, sua palavra não é para o doente senão a ocasião, o circunlóquio verbal exigido para que se constitua a narrativa desde sempre escrita na qual sua infelicidade toma sentido e surge como palavra; ela não é, afinal, senão o inverso dizível do destino. Essa oscilação fundamental entre o incidente e a lei é a mesma em torno da qual se organiza o mais velho comércio de imagens dos flagelos. Pólos loquazes e irrisórios, que não dizem outra coisa senão sua impossibilidade de dizer, porém que faz falar um mudo. É o corpo, o ausente de linguagem, o local do desejo e da infelicidade. REVEL e PETER IN: LE GOFF e NORA, 1976, p.143

As origens do pensamento ocidental já tratavam deste corpo mudo, silenciado, atiçado pela doença passivamente. Hesíodo, poeta grego, versava

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sobre uma época passada na qual os homens viviam sob abundância alimentícia e ócio em companhia dos deuses. Prometeu, no entanto, desafia a ordem estabelecida por Zeus e, em uma de suas revoltas, rouba o fogo dos céus e entrega à humanidade. O senhor do Olimpo, furioso, elabora uma vingança junto a seus semelhantes: além de acorrentar Prometeu a uma pedra e fazer com que seu fígado seja devorado por uma águia todos os dias, presenteia o mundo com Pandora, a primeira mulher mortal. De nome agraciado, significando “aquela que recebeu todas as dádivas”, e aguçada curiosidade, Pandora ignora as instruções recebidas de seus criadores e abre o jarro que portava consigo. Assim, liberta todas as pragas no mundo e emudece as doenças. Silenciosas, estas agora caminham livremente entre os homens dia e noite, revelando suas “vozes” somente quando infligem seus males aos frágeis corpos mortais. Através da história da doença, Brooke Holmes traça na própria Grécia Antiga a emergência da consciência corporal. Os sintomas, a mortalidade e a dor são reconhecidos como “estranhos” ao corpo sem revelar sua alteridade, provocando todo tipo de questionamento sobre causas invisíveis1. O corpo é tomado de forças incontroláveis, como dizia Aristóteles, tais como a fome ou calor. Se são demônios ou desequilíbrios orgânicos, fazem parte dos sinais a serem traduzidos da cacofonia de ideias e sensações desencadeadas pela doença. Estes processos colaboram tanto para médicos quanto para pacientes perceberem-se como corpos físicos e sujeitos corporais 2. Surgem vagarosamente os conceitos de σωμα (soma) e ψυχη (psique). Soma, constitui o corpo físico, mortal, até mesmo cadavérico, que é animado pela psique, a alma, força vital, que transcende ao Hades na hora da morte. Se o primeiro é o invólucro do segundo, é discutível então essa relação de forças. Para Platão, são conceitos opostos e inconciliáveis. A alma, imortal, princípio de movimento, é sepultada no próprio corpo3 . Suas capacidades ideais são muitas vezes castradas pela própria “fisicalidade”. Para Aristóteles, o corpo é uma das formas da alma: revela-se que, na maioria dos casos, a alma nada sofre ou faz sem o corpo, como, por exemplo, irritar-se, persistir, ter vontade e perceber em geral; por outro lado, parece ser próprio a ela particularmente o pensar 4.

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Cf. HOLMES, 2010, p. 12

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ibidem, p. 16-17

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Cf. Cardim, 2009, p. 23

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Aristóteles apud ibidem, p. 26

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Adiante na história, na Idade Média, o corpo passa a ser a impura morada da tentação e do pecado. A salvação se dava pelo espírito, pela oração, enquanto a punição se dava na própria carne, pelo suplício. Rituais como o jejum, castidade e sofrimento faziam parte da missão humana a fim de transcender sua condição física e atingir o reino de Deus. O padre operava o primeiro sacrifício, denominado castração, e todos os homens e mulheres do norte vinham enfileirar-se atrás dele, gritando em cadência: “falta, falta, é a lei comum”5. Foucault já nos ilustrou muito bem o corpo como ferramenta política em Vigiar e Punir, ilustrando inclusive como o poder se manifestava através dos gritos e punições medievais dentro da lógica real. A crosta de poeira pecadora sob a pele das pobres Venus bucólicas de outrora foi vagarosamente lavada em seus banhos no mar do Renascimento. A intelectualidade desejava explorar as novas águas, revolucionando o campo científico. E o século XVII traria Descartes em cena, mecanizando os corpos a fim de vê-los como relógios. (…) julguemos que o corpo de um homem vivo difere do de um morto como um relógio, ou outro autômato (isto é, outra máquina que se move por si mesma), quando está montado e tem em si o princípio corporal dos movimentos para os quais foi instituído, com tudo o que se requer para a sua ação, difere do mesmo relógio, ou outra máquina, quando está quebrado e o princípio de seu movimento pára de agir. DESCARTES, As Paixões da Alma, 1662, I, 06.

A alma é a “coisa pensante”, o elemento intelectual, cuja extensão é o corpo, a máquina. Mas o corpo não é instrumento para a alma. Se a alma não se serve do corpo como instrumento, é porque, agora, ela se relaciona com o corpo assim como um artesão opera suas ferramentas 6. Aí reside a harmonia dicotômica entre os dois elementos. A revolução científica que toma forma através dos métodos cartesianos, desemboca em relações ainda mais delicadas nos dois séculos posteriores. Um advento dos estudos anatômicos no campo medicinal faz com que pontos

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Deleuze, 2007, p. 15

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Cardim, 2009, p. 36

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nevrálgicos sejam estimulados socialmente. Inicia-se a fantasmagórica questão de estudos: os corpos cadavéricos. Isso porque os restos mortais humanos importam. Toda sociedade possui convenções ao lidar com eles, de forma a regular quem tem acesso aos corpos e se responsabiliza por seu descarte. E quando homens da medicina trabalham com os mortos, o fazem com esse conhecimento. O corpo humano, completo ou em partes, nunca é apenas um objeto como qualquer outro, mesmo em uma sala na qual será desmembrado. Escorrega entre sujeito e objeto. Temos dificuldade em definir o momento em que devemos começar a nos referir a tal material como “aquilo”, ao invés de “ela” ou “ele”. Essa incerteza é especialmente aparente quando um corpo morreu recentemente, quando ainda é alguém 7. MACDONALD, 2006, p. 3. A tradução é minha.

O objetivo maior da medicina se dava na cura das silenciosas doenças que Hesíodo versava cinco séculos antes de Cristo. Infelizmente, como o Sir Astley Cooper, um dos melhores cirurgiões de Londres no século XIX, afirmou: através do “mal necessário” de se dissecar os mortos, tornamo-nos familiares com as mudanças produzidas pela Doença, com sua natureza curável ou incurável; se for o primeiro caso, podemos elaborar uma opinião envolvendo o melhor modo de tratamento, e, no segundo caso, evitamos causar tortura desnecessária a futuros pacientes com a mesma doença.8 O mito de Frankenstein surge nestes contextos. Médico, anatomista e praticamente alquimista moderno, Dr. Frankenstein reúne pedaços de cadáveres a fim de infundir vida a uma criatura feita pelas mãos dos próprios homens. Além disso, conquistaria a imortalidade dos corpos. Uma medicina universal, capaz de vencer a barreira final corpórea, a vida finita, fazendo-os não mais túmulos da alma. Luc Ferry, estudioso da mitologia, traça as raízes da ousadia frankensteiniana na história de Asclépio, deus grego da medicina 9. Filho de Apolo com uma mortal, Asclépio nasce sob o emblema da vida derrotando a morte: sua mãe, grávida de Apolo, se casa com um mortal. O deus, enfurecido, 7

A palavra no original inglês é “somebody” (itálico da autora), trocadilho entre “somebody” (alguém) e “some body” (algum corpo). 8

COOPER apud MACDONALD, p. 12.

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FERRY, 2012, p. 244

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a flecha impiedosamente e crema seu corpo de acordo com os costumes gregos. Enquanto o cadáver é lambido pelas chamas, se lembra do filho no ventre materno e o arranca rapidamente, fazendo seu “parto forçado” durante o próprio rito funerário. [Esta relação miraculosa entre vida e morte] é o que vai marcar a arte de Asclépio como médico. Não só ele se torna um cirurgião sem igual, mas, à imagem de um deus, torna-se um verdadeiro salvador. Dizem que de Atena teria recebido o presente que realiza o sonho secreto de todo médico: o dom de ressuscitar os mortos. Atena é a deusa que (…) ajuda Perseu a combater Medusa (…), no momento em que exala seu último suspiro, escapa do pescoço de Medusa (…) dois líquidos (…) das veias abertas. De uma delas, da esquerda, sai um veneno violento que pode matar qualquer ser humano em poucos segundos; da veia da direita, porém, brota um remédio miraculoso que simplesmente possui a faculdade de ressuscitar os mortos. FERRY, 2012, p. 247

Hades, deus dos mortos, logo fica enfurecido com a diminuição de seus “clientes” e dirige reclamações a Zeus. Temeroso, Zeus cogita a possível imortalidade adquirida pelos homens, característica essa que deveria apenas ser inerente aos deuses. Logo, Asclépio é fulminado pelo senhor do Olimpo a fim de estabelecer mais uma lição aos mortais. Outra figura capaz de configurar uma vertente científica, de acordo com Hermínio Martins, é Fausto. Personagem da mitologia alemã, é o arquétipo do estudioso da ciência que faz um pacto com forças ardilosas que não pode compreender (no caso, o próprio Demônio, chamado Mefistófeles) e perde o controle dos resultados advindos deste impensado contrato. A tradição prometéica e a tradição fáustica constituem duas linhas de pensamento sobre a técnica que podem ser detectadas nos textos do epistemólogos dos séculos XIX e XX10. Podemos perceber, então, o quão possível é traçar as veias primitivas dos atuais pensamentos que nos envolvem no campo das plasticidades e mutações corporais. Recentemente vivenciamos uma febre midiática e social de fenômenos corporais mais diversos: a geração saúde, o body-building, aceitação dos padrões plus-size, a Ioga, a eterna juventude oferecida por cremes, a modificação corporal estética, etc…

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SIBILIA, 2003, p. 43 5

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Acima de tudo, o foco de tamanha repercussão é justamente a fantástica capacidade corporal humana de ser ramificada de recortes meramente físicos a locus de identidade. A questão corporal é motivo de identificações iconoclastas em um mundo tão massificado por uma conexão globalizada presente vinte e quatro horas por dia. Pudemos arriscar de onde vieram estes ícones agora fragmentados e que fatores, agora já simbióticos ao nosso subconsciente histórico-coletivo, trazem indícios da revolução do corpo do século XXI. Será que vivemos, então, nada mais do que uma retomada das questões sempre colocadas em relação ao nosso elemento sensível impossível de ser desvinculado? Mas o corpo, sempre presente, agora busca liquefazer suas delimitações através da contemporaneidade. Por isso, nos saberes hegemônicos contemporâneos é possível detectar certas tendências “neognósticas”, que rejeitam a organicidade e a materialidade do corpo humano para procurar - na sua superação - um ideal ascético, artificial, virtual, imortal11 . Os acalorados debates só piorarão com o advento dos anos. Os avanços da tecnologia desvendaram o DNA, e a antiga busca pelo segredo da vida, da imortalidade e da plasticidade colide com os valores sociais do aceitável, da beleza e do ético. A sequência do DNA não é a transparência revelada de uma existência humana: o que ela é importa tanto quanto o que o indivíduo fará consigo mesmo com seu modo de vida. No entanto, relacionam-se normalmente a determinação de doenças genéticas e a determinação de comportamentos. F. Gros, por exemplo, manifestando seu entusiasmo pelo Projeto Genoma, resume seu objetivo: ‘reconduzir o comportamento humano e os mecanismos vitais a um algoritmo gigantesco do qual o programa seria o cromossoma e sobre o qual teríamos tanto mais facilmente domínio quanto ele se prestasse a um tratamento informático’ (1990, p. 220). LE BRETON, 2008, p. 106.

A sociedade repressora moderna fez eclodir subculturas de características corporais: tatuagens, plásticas, próteses, engenhocas robóticas… Digno de Asclépio, citemos Stelarc, um dos principais representantes da body art de inspiração tecnológica dizendo que a morte teria se tornado “uma estratégia evolutiva ultrapassada” visto que o corpo humano “deve tornar-se imortal para

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SIBILIA, 2003, p. 42 6

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se adaptar” 12. Vivemos na utopia na qual qualquer barreira seria “curada” pelo progresso, mesmo que virtualmente. Aliás, literalmente de forma virtual a partir do momento em que o corpo físico não importa mais e a psique reina livremente na internet: Jamais os homens desse mundo estão isolados - estão em contato com uma multidão de amigos ou colegas, levam uma vida familiar que os satisfaz, sua sociabilidade é intensa, mas puramente telemática. (…) A emergência do corpo é mortal. O corpo não é somente um acessório a ser retificado; percebido como um anacronismo indigno, um vestígio arqueológico ainda ligado ao homem, é levado a desaparecer para satisfazer àqueles que buscam a perfeição tecnológica. Converte-se em membro supranumerário. LE BRETON, 2008, p. 211

Somos homens robóticos agora, híbridos, senhores da natureza, destruidores das limitações divinas. Se Paula Sibilia nos categoriza como recriadores dos mitos de Prometeu ou Fausto, de Goethe, por que não irmos além e nos enxergarmos como o Novo Homem de Salvador Dali?

A Criança Geopolítica observando o nascimento do Novo Homem, 1943. 12

ibidem, p. 50 7

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Somos os Corpos sem Órgãos, de Gilles Deleuze, como o ovo pleno anterior à extensão do organismo e à organização dos órgãos, antes da formação dos estratos, o ovo intenso que se define por eixos e vetores, gradientes e limiares, tendências dinâmicas com mutação de energia13 . Tentamos esvaziar nossos corpos da organicidade, através de artifícios tecnológicos e até mesmo medicinais. Quantos são os casos daqueles que agora vivem sem rins, pulmões, corações e partes do próprio cérebro? Quantos aqueles que utilizam drogas (legais ou ilegais) a fim de “curar” males do corpo ou simplesmente abrir seus olhos para “outra dimensão” da realidade? Por que não viver sem corpo? Por que não ser nada mais do que a casca repleta de intensidades extra-corporais ao invés do relógio suíço funcionando perfeitamente bem? Criogenia, plástica, tatuagem, piercing, musculação, mudança de sexo, clonagem, bebês de proveta, identidades virtuais… Se, ao descobrirem o câncer, sabemos que as próprias células do corpo se revoltam a ponto de tentarem se matar, por que não admirar essas modernas tentativas do homem de atear o fogo prometéico sobre as próprias roupas? Questões morais e éticas são obviamente inerentes e merecem ser discutidas, mas a riqueza antropológica e histórica da contemporaneidade corporal e científica não pode ser negada.

Vítor da Matta Vívolo.

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DELEUZE, 2007, p. 14 8

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Referências Bibliográficas CARDIM, Neves Leandro. Corpo. São Paulo: Globo, 2009 DELEUZE, Gilles e GUATTARI, Félix. Mil Platôs: capitalismo e esquizofrenia. Volume 3. São Paulo: Ed. 34, 1996 FERRY, Luc. A Sabedoria dos Mitos Gregos. Volume II de Aprender A Viver. São Paulo: Editora Objetiva, 2012 HOLMES, Brooke. The Sympton And The Subject. New Jersey: Princeton University Press, 2010 LE BRETON, David. Adeus Ao Corpo: Antropologia e Sociedade. Campinas: Papirus, 2008 LE GOFF, Jacques e NORA, Pierre. História: Novos Objetos. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1976 MACDONALD, Helen. Human Remains: Dissection and its Histories. Londres: Yale University Press, 2006 SHELLEY, Mary; Frankenstein; The Original 1818 Text, 1a Edição: Nova Iorque, Norton Critical Edition, 1996. SIBILIA, Paula. O Homem Pós-Orgânico. Corpo, subjetividade e tecnologias digitais. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2003 Imagem de “capa”: Vênus Anatômica, figura em cera com cabelos humanos e pérolas. Museu de História Natural: Florença, Itália. Disponível em: http:// morbidanatomy.blogspot.com.br/2013/01/ode-to-anatomical-venus-womensstudies.html, acesso em 15/04/13.

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