O Dervixe, o Rabino, o Diácono , o Ateu e a Educação - Islã, Judaísmo, Cristianismo, Laicidade e Educação.docx

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O Dervixe,
O Diácono,
O Rabino,
O Ateu,
E a Educação –
As Utopias do Islã, Cristianismo, Judaísmo e Laicidade na Educação.







Índice.
Islã- O Dervixe – O Sufismo..............................................
Judaísmo – O Rabino – A Cabala.........................................
Cristianismo – O Diácono – Ortodoxia, Livro de Kells, Teologia da Libertação.......................................................................
Laicidade – O Ateu – A Utopia...............................................

















Prefácio.



















Apresentação.























































Islã e a Educação.
A Educação Islâmica tem várias vertentes, e o mundo muçulmano conta com diversas versões de escolas corânicas como pude testemunhar em minhas viagens por países islâmicos como Egito, Turquia, Marrocos e países com comunidade islâmica como a Índia.
O próprio Islã se divide em diversas vertentes, e nesta obra vou me centrar em uma parte do Islã (que por muitos nem é considerada Islã, sobretudo os fundamentalistas) que é o Sufismo.
Sufismo e Educação.
- O que é Sufismo. – Fonte www.sufismo.org.br
Uma definição de Sufismo, a partir de seu nome é algo difícil de ser feito, visto haverem várias formas de interpretar a sua raiz arábica: SF. Uma das interpretações mais em voga é a que o Sufi é aquele que faz uso do manto rústico tecido de lã (sûf) enquanto que outra linha de interpretação faz derivar o nome do sopro do conhecimento místico que nasce do coração (Sôf). Uma terceira linha faz nascer o nome não de uma raiz árabe, mas sim grega, Sophos, ou conhecimento.
De qualquer maneira, a forma mais aceita de interpretar o Sufi e o Sufismo é utilizando não a sua origem lingüística, mas sim os seus objetivos: em termos gerais, o Sufi é todo aquele indivíduo que acredita que é possível ter uma experiência direta de Deus e que está preparado para sair de sua vida rotineira para se colocar debaixo das condições e meios que lhe permitam chegar a este objetivo. Neste contexto, o Sufi é considerado como o protótipo de todo místico que busca a União. Um exemplo vívido nos é apresentado por Djalalludin Rumi.
- Poetas Sufis – Ibn Arabi, Al Hallâj, Attar, Mevlana Rumi,
Para entender melhor o Sufismo é necessário que falemos de seus poetas através dos tempos.
Em um primeiro momento escolho quatro grandes poetas do pensamento sufi que são Ibn Arabi, AL Hallâj, Farid Ud din Attar e Mevlana Rumi
Ibn Arabi.
Místico, filósofo, poeta sábio, IMuhyiddin Ibn Arabi é um dos maiores mestres espirituais do mundo. Nasceu em Murcia, no al Andalous em 1165 e seus escritos tiveram um grande impacto tanto no mundo islâmico como for a do mesmo. O universalismo de suas idéias presentes no seu pensamento tem grande relevância até os dias atuais.
Ibn 'Arabi é um dos mais criativos escritores da tradição islâmica com um grande número de obras e tratados atribuídos a ele. Iniciou seus escritos quando ainda vivia na Andaluzia, mas a maior parte dos seus escritos se dá na segunda fase de sua vida quando viveu em Meca, na Turquia e em Damasco.
Tem uma obra de pelo menos 85 produções genuínas atribuídas a ele. Entre ele a enciclopédica Revelações de Meca "(al-Futūḥāt al-Makkiyya) que conta com mais de 2000 páginas em sua versão impressa. O " pedra do Anel da sabedoria também é uma de suas obras . É conhecido pelos célebres versos que declaram a universalidade da filosofia sufi.
Mevlana Rumi.
Mevlana Celaddiin –i Rumi é um santo muçulmano do 13º século e um Místico da Anatólia conhecido em todo mundo por seus inigualáveis poemas e palavras de sabedoria que foram traduzidas para diversas línguas. Rumi como é conhecido no ocidente é um dos poetas mais lidos nos Estados Unidos, e as Nações Unidas declararam que 2007 seria o ano de Rumi.
Mevlana foi um muçulmano, contudo não era ortodoxo. Sua doutrina defendia tolerância ilimitada, razão positiva, bondade, caridade e a prática do amor. Para ele todas as religiões são verdadeiras. Mevlana olhava com os mesmos olhos Muçulmanos, Judeus e Cristãos. Seus ensinamentos pela Paz e tolerância tocaram homens de todos os sectos e credos. Em 1958, o Papa João XXIII escreveu uma mensagem especial que evocava a memória de Rumi.
Sema é uma jornada mística do homem espiritual através da mente e do amor para a perfeição. Girar pela verdade, seu crescimento, através do amor, abandonar o ego, encontrar a verdade e atingir o "Perfeito"
Ele retorna de sua jornada spiritual como um homem que atingiu a maturidade e a grande perfeição , assim como amar e estar ao serviço de toda criação, todas as criaturas sem discriminação de crenças, raças, classes sociais, e origens.
Mevlana Rumi foi um homem santo da Anatólia que inspirou e deu esperança à humanidade. Ele nasceu em 1207 na cidade de Balkh, Horasan, hoje no Afeganistão (ou na cidade de Wakhsh, hoje no Tadjiquistão e morreu em 1273 em Konya. Quando estudava Sufismo encontrou o célebre Poeta Shams Tabrizi e depois deste encontro suas próprias idéias começaram a surgir. É por seus poemas sobre Sufismo que ele é lembrado e admirado até os dias de hoje.
Os ramos do amor vêm dos tempos antigos, e sua raiz da imortalidade,
Esta grandeza é muita para esta mente e vida.
Vá alem, vá além de sua existência, sua existência o mata,
O Amor não é nada além de encontrar a Verdade.
Segundo Mevlana, o Amor é a única coisa necessária para atingir a Deus. Uma planta ou animal pode também amar, mas somente o homem tem a capacidade de amar com seu corpo, mente pensamentos e memória. Mevlana exalta o amor conjugal, pois se alguém ama alguém, ele também se ama , ama a Humanidade, O Universo e Deus. O mais belo amor é o amor pela Verdade.
Os Seguidores de Mevlana (Mevlevi) giram em um ritual conhecido como "sema". Este ritual simboliza o Mundo Unido em Amor girando em seu curso de rotação. Enquanto uma das mãos aponta para o alto, a outra aponta para a terra o que significa "O amor de Deus se espalha pelo Mundo". O Espírito emana de Deus e é imortal. O som da Nau (flauta) fala do homem retornando a sua fonte original.
Isto significa que o Universo é um lugar sem fim dentro da existência de Deus, e como uma pequena parte do todo, o homem guarda esta divina essência em seu interior dizendo, "Você que busca por Deus, é a você mesmo que está procurando"
Venha, não importa quem você seja,
Se você é um ateu ou adorador do Sol
Mesmo que tenha pecado mil vezes,
Venha, não importa quem você é.
Como vemos, toda Humanidade são irmãos, e diferenças entre as religiões não importam para a Presença Divina. Mevlana dava grande importância para as mulheres e sustenta que homens e mulheres são iguais, dizendo "Quanto mais você insiste em que as mulheres tenham que se cobrir, mais você incita que as pessoas desejem vê-las".
Assim como o homem, se o coração de uma mulher é bom, ele irá escolher o caminho da bondade independentemente de suas ações proibitivas. Se o seu coração for ruim nada que você faça poderá influenciá-la. Os seguidores de Mevlana são chamados Kitap el Esrar( Guardiães do Segredo). E são compostas por homem e mulheres das mais diferentes fés, incluindo Muçulmanos, Cristãos, Judeus, Iranianos, Armênios etc. Os seguidores de Mevlana de diferentes culturas e religiões colecionam seus poemas e preservam os como um presente a futures gerações.
Farid Ud din Attar- baseado em informações do site www.thesufi.com
Farid ud Din Attar nasceu em Nischapur na província iraniana de Khorosan e faleceu na mesma cidade. Geralmente se referem a ele como Farid ud Din de Nischapur. A palavra "Attar" deriva do árabe e persa na palavra iter que significa perfume. Attar, portanto refere-se à profissão de perfumista deste autor e se torna assim seu pseudônimo. Attar deixa sua profissão para viajar às mais profundas questões do descobrimento interior. Diz-se que ele estava em sua loja quando encontrou um Sufi. Este evento influenciou tanto sua vida que ele abandonou sua perfumaria e segue como Peregrino para Kufa, Meca, Damasco, Turquestão e Índia encontrando-se com sheiks sufis- e retorna a Nischapur para promover o sufismo. Seus maiores trabalhos são Ilahi Nama e Mantic Uttair
Linguagem dos pássaros.
Mantic Uttair (a Conferência dos Pássaros) é o seu escrito mais famoso, que de forma discreta fala do caminho do homem para a perfeição e unidade com Deus através de um conto místico de pássaros que tentam sobreviver aos infortúnios de sua viagem por sete vales para encontrar o Simorgh, um pássaro mitológico. Cada pássaro representando uma qualidade ou defeito espiritual.
Estes vales são:
O vale da Busca
O Vale do Amor
O Vale do Conhecimento (Entendimento)
O Vale da Independência ou Desapego
O Vale da Unidade
O Vale da Estupefação
O Vale da Pobreza ou Aniquilamento.
As jornadas feitas pelos pássaros representam as peregrinagens do homem, em busca de Deus, o que ocorre em diferentes fases
Todos os pássaros baseados em suas limitações naturais apresentam suas desculpas para não viajarem. Estas desculpas são explanadas através de pequenas estórias ou contos.
Todos os pássaros perecem nesta jornada exceto 30 pássaros. Quando chegam ao palácio do Simorgh, a verdadeira surpresa ocorre quando eles encontram o Simorgh. Eles vêem o Simorgh como seu próprio reflexo em conjunto. A palavra Simorgh em persa significa 30 pássaros. Desta forma esta é a história do homem em uma dura busca para descobrir a Deus através do autoconhecimento, e eventualmente aniquilando a si mesmo (ao próprio Ego – conceito de Fana Fillah do Sufismo). Mevlana Rumi mencionava muitas vezes a Attar, chamando-o de alma pura. Em várias de suas obras rende homenagem a Attar.
Illahi Nama (Livro de Deus)
No livro de Deus (Illahi Nama), Attar adapta seus ensinamentos místicos em várias estórias que um califa conta para seus seis filhos que são reis também e buscam por prazeres mundanos e poder.
Al Hallaj .
Al Hallâj é uma das mais controversas figuras do Sufismo. Mansur Al Hallaj nasceu em torno do ano 244 da Égira (857 DC) na vila de Turs, na Pérsia em um tempo já fortemente arabizada. Quando ainda criança seu pai a julgar pelo sobrenome (Hallaj – Cardador- Tecelão) deveria exercer a profissão de cardador de algodão, e vai para o Iraque. Em seus primeiros anos de estudos corânicos entra em contato com o Sufismo. Depois de encerrar seus estudos começa a ser chamado a julgar pelo seu sobrenome, de Cardador de Segredos, pois consideravam que sua palavra era capaz de suscitar nos ouvinte sentimentos de admiração e estupor assim como incompreensão.
Depois de sua primeira peregrinagem a Meca ele parte para o Oriente difundindo sua palavra no extremo Leste de onde chegou naquela época à fé islâmica. Depois de cinco anos volta ao Iraque, o que é definitivo em sua vida se estabelecendo em Baghdad onde seus ensinamentos tinham uma ressonância bem ampla e profunda.
Contudo, antes de seu martírio ocorre outro grande intervalo e ele segue para outra peregrinagem a Meca e aos países dos "infiéis", Índia, Turquestão e China e novamente pela ultima vez a Meca.
Ao retornar a Baghdad reinicia a difusão de seus ensinamentos, o que muitos viam como uma ameaça a ordem social tradicional do mundo islâmico.
Por isso ele é denunciado por seus opositores poderosos que viam nele um homem que com sua palavra provocou uma profunda mudança de consciência na população muçulmana. Um longo tempo de prisão marca sua ultima fase antes de sua execução e martírio.


- Meu Jihad – Caminho entre a cabeça e o Coração, Verdadeiro Caminho entre Meca e Medina.
"O odor de flores que sinto na Mesquita Azul, assim como em Santa Sofia ou na Sinagoga da cidade é o mesmo que sinto em todas as almas. Este perfume vem da morada onde habita meu Senhor"
(Osunfemi Elebuibon – Ivan da Silva Poli em homenagem e tributo a Mevlana Rumi depois de minha ultima visita à Istambul)

Lembrando do Sufismo como uma via Mística que aceita a existência de outras vias e religiões, por seu caráter universalista faço aqui uma homenagem a meus amigos muçulmanos, sobretudo sufis de todo mundo.
O Islã em geral tem a questão da defesa da religião, muitas vezes, como sabemos mal interpretadas por diversos muçulmanos assim como a própria Sura três, Verso sete do Alcorão fala de homens de corações tortuosos que deturpariam a religião.
Contudo é histórico no Islã o seu Jihad, o caminho entre Meca e Medina percorrido por seu profeta, que deu origem a toda era muçulmana.
Tenho como exemplo dos muçulmanos o seu coração compassivo, sua humildade e, sobretudo sua disposição para defender pontos de vista baseados na atitude de seu profeta na defesa de sua religião.
De qualquer forma não acredito nas vias violentas na história de nenhuma religião ou crença (a qual não somente o Islã foi ou ainda é vítima como nos deixa bem claro a história).
Um dia conversando com um muçulmano na Mesquita Azul de Istambul falávamos sobre o que na via mística poderia ser, nos dias atuais, este caminho entre Meca e Medina percorrido pelo profeta e seus seguidores, e chegamos à conclusão que na verdade não pode ser outro senão o caminho entre a cabeça e o coração. O caminho dos pensamentos humanos que devem se aproximar de seus sentimentos. A razão que se aproxima da emoção. A Ciência que se aproxima do serviço a Humanidade. Esta é uma longa peregrinação que o homem leva uma vida inteira para travar e o verdadeiro Jihad da Humanidade não pode ser outro senão este, um Jihad e uma luta que não é apenas dos muçulmanos, mas um exemplo de como estes povos muçulmanos podem interpretar seu livro e trazer um legado a toda Humanidade. O coração compassivo dos muçulmanos que o profeta defende no Corão quando fala dos órfãos. Este é um exemplo do Jihad que para mim é o único e mais verdadeiro que toda Humanidade tem a enfrentar. Combater o pensamento calculista, a impiedade, o Egoísmo. Educar a mente e a razão segundo os atributos mais nobres de nossos sentimentos e emoções, e o caminho do Amor do qual falam os Sufis. Pois não há mérito neste Jihad para que eduquemos nosso coração e façamos em nossos corações o caminho entre nossas Meca e Medina interiores em amarmos somente aqueles que pensam como nós. Pois o verdadeiro Amor se dá na diferença também e no respeito de opiniões contrárias que tem somente nos nossos sonhos que nos tornam a todos nós humanos independente de nossas crenças ou descrenças sua unidade. Fazer este caminho entre Meca e Medina dentro de nós trazendo para nossa razão nossos sentimentos mais nobres, pular as fronteiras da intolerância e buscar entender os sonhos e aspirações de outros que como nós mesmos se unem neste sentido de Humanidade pelo simples fato de serem capazes de sonhar, este sim é o caminho e a Jihad que creio ser a verdadeira, não só para muçulmanos , mas sim para toda Humanidade como um legado do Profeta e seus seguidores para esta mesma Humanidade.

- Conversas com o Alcorão.
Quando estive entre os Sufis tanto no Egito, Marrocos quanto na Turquia aprendi muita coisa sobre a questão da mística desta tradição ligada ao Corão.
Claro que de país para país existem, segundo as tradições pré-islâmicas presentes nestes locais influências diversas nestas interpretações.
Por exemplo , quando estive no Marrocos , uma mulher Gnaoua que estava na Praça Jemaá El Fna de Marrakesh ao me ver disse que parecia um de seus ancestrais ( por ter origens de povos sudaneses como ela talvez ,) e disse que rezaria por um irmão de sangue a Allah.
Ela neste momento acende uma vela e começa a recitar os 99 nomes de Allah olhando e apontando para diferentes elementos naturais ali presentes.
Claro que neste caso vemos uma influência de religiões tradicionais obviamente, sobretudo na questão da ancestralidade que é um valor civilizatório de religiões tradicionais que o Islã assimilou para poder se propagar pela África.
Outra ocasião entre os sufis no Egito, na Núbia, líamos a Sura dos Poetas do Corão e a interpretação que davam é que " Aquele Poeta que não vive a própria Poesia, não é nada mais que um hipócrita, pois toda Poesia tem que se tornar um Profecia " . Bem, o Corão não diz exatamente isso, contudo a tradição dos povos subsaarianos baseada na oralidade determina que a palavra deve ser documental, já que por não se utilizarem da escrita não existe outro documento senão a própria palavra para estas mesmas tradições orais destes núbios subsaarianos.
O Islã dialogou com diversas tradições para poder se estabelecer dentre diversas culturas e o exemplo mais comum disso é a própria África Subsaariana a qual dei exemplos.
As práticas da circuncisão e excisão também são exemplos, e para reforçar a prática da circuncisão e evitar a da excisão nos dias modernos em comunidades muçulmanas subsaarianas a fim de combater doenças e infecções, por exemplo, devemos nos ater ao fato que estas são de fato práticas pré-islâmicas assimiladas pelo Islã em seu processo de ressignificação de culturas.
Contudo de todas as conversas com as tradições muçulmanas e o Corão, há uma no ambiente místico da religião, como estamos falando também de Sufismo que todas as tradições Monistas (Como o Monismo Vedantino Hindú) ou Monoteístas dialogam e que está na Sura 112 deste livro, A Sinceridade.
"Em nome de Deus Clemente e Misericordioso
Dize: "Ele é o Deus Único
Deus, o eterno refúgio.
Não gerou nem foi gerado.
Ninguém é igual a Ele "
E a partir de pontos de concordância como este que gostaria muito que houvesse um diálogo entre o Islã e as demais religiões e tradições filosóficas, sobretudo pela via metafísica que aproxima a todas estas mesmas.
O Corão está repleto de pontos como este que podem abrir diálogos com outras religiões, talvez mais mesmo que o Cristianismo e o Judaísmo (que são aceitos pelo Islã). Nos versos 37 a 51 da Sura três (Tribo de Omran) a incitação ao diálogo com o Judaísmo e Cristianismo é clara como em nenhum livro anterior das tradições monoteístas.
Isto se mostra claramente em poemas de sufis como Al Hallâj ou Ibn Arabi através dos séculos, o que mostra que são diversas as possibilidades do diálogo inter-religioso entre o islã e outras tradições.
- A Linguagem dos Pássaros.
Um dos maiores clássicos da poesia sufi persa é o Livro Mantic Uttair, ou em Português a Linguagem dos Pássaros do Poeta Persa Farid-ud-Din- Attar (O Perfumista de Nischapur).
O livro se inicia com evocações a diversos personagens importantes ao Sufismo Persa. E conta a história de um conjunto de pássaros que busca seu rei em um Monte lendário na Ásia Central chamado Káf. Este rei se chama Simorgh. Os pássaros se põem em diálogo para tal empreitada e fazem discursos para se apresentarem a Poupa, sua guia e narradora da história.
Em dado momento da história, os pássaros se põem a caminho ao Simorgh, e na segunda parte do livro começam as desculpas dos pássaros para não seguirem viagem, falam 21 pássaros na obra expondo suas razões para não seguir viagem.
Na terceira parte a Poupa faz a descrição dos vales a serem atravessados para chegar ao Simorgh, estes vales são 1- Busca; 2- Amor; 3- Conhecimento; 4- Independência; 5- Unidade; seis – Estupefação e sete – Aniquilamento,
Somente 30 pássaros chegam ao ultimo vale, e ao chegarem ao Simorgh este lhes é apresentado como sua própria imagem após toda travessia dos vales (Em persa Si-morg quer dizer também 30 pássaros)
Durante as fases da obra são recitados poemas e contos alegóricos em alusão as partes principais de cada capítulo e no caso dos vales também são contadas histórias que traduzem o espírito de cada um dos passos ali presentes.
- Os Sete Vales e a Educação.
Os Sete Vales da obra de Attar, nesta obra que trata de Educação são utilizados como estágios do aprendizado na relação mestre discípulo e no caminho do domínio do discípulo ao conhecimento.
O Vale da Busca.
A explicação do vale começa com as frases: "Logo que entres no primeiro vale o da busca, cem penosas coisas assaltar-te-ão sem cessar. Nesse lugar terá que experimentar a cada instante cem provações. O papagaio do céu não é ai mais que uma mosca"
Neste vale e neste estágio do desenvolvimento da aprendizagem define que toda busca por conhecimento impõe desafios e o inesperado faz parte destes desafios. Muitas vezes sacrifícios são necessários e o espírito de curiosidade e inquietação são uma constante no aprendiz neste estágio de busca, que é o primeiro passo para na aquisição de qualquer conhecimento.
História sobre Majnun.
Um homem que amava a Deus viu um dia Majnun esquadrinhando a terra do caminho grão a grão e lhe disse, ´O Majnun , o que procuras ai¿- Minha procura por Laila não tem fim , ele respondeu. – "Como esperas encontrar Laila desta maneira ¿¿, perguntou o outro, acaso uma pérola tão pura poderia estar em meio à poeira ¿¿, - Eu busco Laila por todas as partes com a esperança de um dia encontrá-la em alguma parte.

Nesta história alegórica sobre Majnun (dos clássicos da cultura árabe sobre Majnun- o louco de Amor a Deus - que busca Laila – A Noite, sua Amada), temos o espírito claro da busca do aprendiz pelo objeto de conhecimento. Uma busca incessante que por muitas vezes pode parecer ser um fim em si mesmo.

Segundo Vale: Amor (Ischch)
"Depois do primeiro vale, continuou a Poupa, encontra-se o vale do Amor. Para nele entrar deve-se mergulhar inteiramente no fogo; o que digo ¿ deve-se ser o próprio fogo, pois de outra forma não se poderia viver ali."

No caminho do conhecimento o Amor ao saber leva a busca de união com o objeto de conhecimento, ao ponto de se tornar parte deste objeto.
O conto abaixo retirado deste capítulo define bem este sentimento.
"O Hodja enamorado.
O amor levou um hodja pelos caminhos da miséria; ele errava sem lugar e sem família, desgraçado por causa do amor que experimentava por um jovem vendedor de cerveja. O excesso desse amor transformou-se em loucura, e a infâmia que disso resultou teve ressonâncias. Todos os objetos, mobiliário, escravos que possuía, ele vendeu para comprar cerveja daquele moço. Quando mais nada restava a este homem que havia perdido seu coração e caído na indigência, seu amor cresceu ainda cem vezes mais. Mesmo quando lhe davam todo pão que queria, ele continuava faminto, porém contente da vida, porque cada bocado que recebia trocava por cerveja; permanecia faminto, a fim de poder beber em um instante cem copos de cerveja. Um dia alguém lhe perguntou: "Tu cujo estado é desolador, o que é o amor ¿Desvela-me este segredo". O hodja respondeu: "O amor é tal que deves vender mercadorias de cem mundos para comprar cerveja".
Enquanto o homem não agir desta maneira, conhecerá o verdadeiro sentido do amor ¿"
A entrega total ao objeto de conhecimento é este segundo vale ao qual se dedica o aprendiz.
Terceiro Vale: Conhecimento (Ma´rifat)
"Depois do vale que acabo de falar, continuou a poupa, um outro se apresenta aos olhos do peregrino. É o vale do conhecimento, que não tem princípio nem fim; não há ninguém que possa ter outra opinião a respeito da extensão do caminho que se deve percorrer nesse vale. Realmente não há caminho semelhante a este; porém um é o viajante temporal , outro é o viajante espiritual. Neste vale, cada peregrino toma um caminho diferente; espíritos diferentes obedecem regras diferentes".

Este caminho depois da Busca, e do Amor que suscitam enfrentar desafios e se entregar ao conhecimento traz o início dos primeiros frutos deste conhecimento ao qual se entregou, contudo este conhecimento tem desdobramentos infinitos (ou pode ter) e cada um se desenvolve neste caminho de acordo com suas particularidades. Duas pessoas mesmo que busquem a mesma coisa terão caminhos diferentes a traçar na busca deste conhecimento de acordo com critérios subjetivos que delimitam suas personalidades mesmo se criadas em um ambiente cultural em comum existem fatores particulares da formação pessoal de cada um que determinam a forma de encarar este conhecimento.
Contudo este caminho ainda é o começo do processo e o trecho abaixo extraído do Capítulo mostra bem isso.
MAHMUD E O LOUCO DE AMOR A DEUS.
Mahmud encontrava-se por acaso em um lugar deserto quando viu um louco que havia perdido seu coração. Esse homem tinha a cabeça baixa por causa da tristeza que experimentava, e suas costas curvavam-se sob o peso de uma montanha de dor. Quando ele viu o rei aproximar-se, gritou: "Afasta-te se não quere que eu te golpeie cem vezes; afasta-te, pois não é um rei, mas um home de vis sentimentos; tu és infiel à graça de teu deus". O rei disse: "Eu sou Mahmud; dirige-te a mim com mais respeito e não me chames de infiel". – " ´O ignorante" , respondeu o faquir, " se soubesses quão longe estás da Verdade , não te bastariam terra e cinzas, lançaria fogo e brasas vivas sobre a cabeça. "
Aqui se confirma nesta trajetória que o caminho ainda está no começo quando começamos a atingir o conhecimento.

Quarto Vale – Independência. (Istigna)
"Depois vem o vale onde não há pretensão ou desejo, nem sentido espiritual a descobrir. Desta disposição da alma ao desprendimento eleva-se um vento frio, cuja violência devasta num instante um espaço imenso. Os sete oceanos já não são então mais que um charco de água; os sete planetas nãos são mais que uma faísca; os sete céus, um cadáver; os sete infernos, gelo moído. Então sem que se possa adivinhar a razão, a formiga, coisa admirável! Tem a força de cem elefantes e cem caravanas perecem no espaço de tempo que a gralha leva para encher o bico."

Neste ponto após a busca, a entrega ao objeto de conhecimento, o início do contato com o conhecimento em si se inicia a autonomia pedagógica e o sentido de independência do Mestre. O conhecimento é reconstruído a partir da experiência própria e isto faz com que esta independência confira força e forma a este conhecimento de forma que resiste a argumentações contrárias que não forem suficientemente fundadas.
Esta independência gera autoconfiança e produz uma maior intimidade com o objeto de conhecimento e estudo para que assim se inicie a consolidação deste saber que o discípulo busca a partir do exemplo do Mestre (e não somente das palavras)
O trecho abaixo extraído deste capítulo mostra bem isso:
RESPOSTA DE UM SHEIK A SEU DISCÍPULO:
"Um discípulo pediu um conselho a seu mestre, "Deixa-me", respondeu o sheik," nada te direis se não lavares o rosto agora mesmo. Pode-se cheirar o almíscar em meio á podridão¿ O perfume não te pode guiar para fora da imundície. As palavras não tem utilidade para os que estão embriagados " .
Ou seja, as palavras só têm utilidade para os que atingiram a autonomia e trilham com os próprios passos o caminho a seguir na busca deste conhecimento.
Quinto Vale – Unidade (Tauhid)
"Depois terás que atravessar, continuou a poupa, o vale da pura unidade, lugar de renúncia a todas as coisas e de sua unificação. Todos os que levantam a cabeça neste deserto levantam-na de um mesmo pescoço, como ramos de um único tronco. Ainda que vejas muitos, não há senão um pequeno número, o que digo ¿ na realidade há somente Um "
Neste estágio se busca a unidade com o conhecimento do mestre e de todos os mestres e aprendizes. Encontra-se a unificação dos objetivos ligados ao saber. A motivação que une a todos os que buscam aprender algo e os torna mesmo um único corpo social em busca de uma grande Utopia proveniente dos resultados de seu conhecimento que o iguala na condição humana como sendo parte de uma única Humanidade que busca através de todas suas linhas políticas, religiosas, científicas e filosóficas evoluir.
O trecho abaixo retirado deste capítulo mostra bem este espírito de unidade novamente.
RESPOSTA DE UM LOUCO DE AMOR A DEUS
Um homem eminente perguntou a um Majnun: "O que é o mundo ¿, explica-o para mim "-" Este mundo, disse o louco, é semelhante a uma palmeira feita de cera e pintada de cem cores. Se alguém espreme essa árvore com suas mãos, ela torna-se novamente uma massa informe de cera. Já que a cera é a única coisa que existe, convence-te de que as cores que admiras não valem um óbolo. Uma vez que há unidade não pode haver dualidade; aí não pode existir nem tu nem eu".
Esta Unidade Humana e de suas Utopias que se unificam a partir da capacidade humana de ter seus sonhos, o que iguala todos os homens em uma só condição, a Humana também se traduz nestes versos e tem reflexos na busca de conhecimento que está sujeita esta condição.
Sexto Vale- A Estupefação
Depois do vale da unidade vem o vale da estupefação, onde cada um torna-se presa da tristeza e dos gemidos. Aí os suspiros são como espadas, e cada respiração é um amargo lamento. Neste lugar não há mais que lamentações, dores e ardente ardor; é dia e noite ao mesmo tempo, e não é nem o dia, nem a noite... Se lhe perguntam : " Tu és ou não és m, tens o não o sentido da existência; está no centro ou na margem ; estás visível ou escondido; és transitório ou imortal¿ És um e outro , ou não és nem um nem outro ¿ Enfim , Existes ou não existes ¿ Ele confessará :" Nada sei sobre isso , sou ignorante a esse respeito, e ignorante de mim mesmo, estou enamorado , porém não sei de quem, não sou fiel nem infiel, mesmo a dúvida me é incerta. Que sou, pois ¿ Ignoro até mesmo meu amor; tenho ao mesmo tempo o coração cheio e vazio de amor"
Da Unidade nasce a dualidade, e neste momento no caminho do conhecimento vem o questionamento da utilidade real deste conhecimento. A dor do Mundo de tantas civilizações, nascidas da dualidade que origina a desigualdade raiz de todos os demais males sociais. Ao perder o sentido de unidade surge o sofrimento, no momento que os homens não se vêem mais dentro de uma mesma Humanidade Una surgem conflitos e se inicia o processo de destruição, e os processos e dinâmicas sociais que se alternam em ordem- desordem- ordem para que da desordem surja uma ordem mais perfeita que a anterior e o moto social ocorra nas sociedades em questão. Da mesma forma na questão do conhecimento vem a antítese e as discussões provenientes desta mesma antítese que conflitam com a tese inicialmente apresentada. Surgem os questionamentos e auto-questionamentos ao que parecia imutável.
O trecho abaixo, apesar de tratar de um tema metafísico, também trata da questão da dúvida lançada sobre a unidade que estas mesmas questões metafísicas trazem normalmente à tona:
UM DISCÍPULO VÊ EM SONHOS SEU SHEIK
Um noviço em cujo coração a Ge brilhava como o sol viu um dia em sonhos seu mestre e lhe disse: "Meu coração está mergulhado em sangue por causa do espanto. Faz me conhecer a situação em que te encontras. Desde tua ausência acendi a vela de meu coração; desde que me deixaste tenho queimado de pesar. Venho buscar aqui o segredo de meu espanto; diz-me, pois qual é no presente sua posição".
"Mais que tu, respondeu-lhe o pir, estou no desalento e no espanto, e mordo com meus dentes o dorso de minha mão. Estou aqui no fundo da prisão e do poço, muito mais perplexo que tu. Sim experimento aqui cem vezes mais surpresa a respeito de meu fim ultimo do que experimentava no mundo".

Sétimo Vale – O Aniquilmento. (O Discernimento)
Depois do sexto vale vem o vale da pobreza e da morte (aniquilamento), vale impossível de se descrever com exatidão. O que se pode considerar como a essência desse vale é o esquecimento, o mutismo, a surdez e o desvanecimento. Ali verás desaparecer, pelo efeito de um só raio de sol espiritual, milhares de eternas sombras que te rodeavam.
Quando o oceano da imensidão agita suas ondas, como podem subsistir as figuras desenhadas na superfície¿ Pois bem as figuras que são vistas sobre esse oceano não são mais que o mundo presente e o mundo futuro e quem quer que declare que eles não existem adquire por isso um grande mérito. Aquele cujo coração perdeu-se no oceano, perdeu-se nele para sempre e nele permanece em paz."
Este vale em relação ao conhecimento é aquele" no qual ali verás desaparecer, pelo efeito de um só raio de sol as milhares de eternas sombras que te rodeavam " e depois da Busca , da entrega, do contato com o conhecimento , da autonomia , da unidade , da dualidade , se reencontra uma unidade mais perfeita e final que pode ser mutável como as ondas que o trecho descreve na parábola das ondas ou imutável para aquele que se ( seu coração ) perdeu no oceano e permanece em paz. Oceano este que é a morada e origem de nosso conhecimento.
Quanto à forma de obter este conhecimento e consolidá-lo a fábula abaixo retirada deste capítulo mostra bem como se dá este processo.
HISTÓRIA DAS MARIPOSAS.
Uma noite as mariposas reuniram-se atormentadas pelo desejo de unir-se à vela. Disseram todas: "Temos de encontrar alguém que possa dar-nos notícias do objeto de nossa busca amorosa". Uma mariposa foi então até um distante castelo e avistou no interior a luz de uma vela. Ela retornou e contou o que havia visto; pôs se a fazer a descrição da vela de acordo com sua inteligência. Porém a sábia mariposa que presidia a reunião advertiu que a mariposa exploradora nada sabia sobre a vela. Outra mariposa aproximou-se da luz e tocou com suas asas a chama: a vela foi vitoriosa, e a mariposa vencida. Esta última também retornou e revelou qualquer coisa a respeito do mistério; explicou segundo sua própria experiência, em que consistia a união com a vela. Porém a sábia mariposa lhe disse: "Tua explicação não é melhor que aquela que foi dada por tua companheira"
Uma terceira mariposa voou ébria de amor, e atirou-se violentamente contra a chama da vela; impulsionada por suas patas traseiras, ela estendeu ao mesmo tempo duas patas dianteiras em direção à chama. Perdeu a si mesma e identificou-se alegremente com a chama; abraçou-a por completo e seus membros tornaram-se vermelhos como o fogo. "Quando a sábia mariposa, chefe da reunião, viu ao longe que a vela havia identificado o inseto consigo mesma e lhe havia dado sua aparência, disse: A Mariposa conheceu o que queria saber; porém somente ela o compreende, e eis tudo".
Neste caso temos que só a vivência da experiência de forma profunda traz o conhecimento. Para discernir é preciso viver por dentro a situação e mergulhar em nosso objeto de conhecimento assim se dá todo procedimento de pesquisa bem sucedido, sobretudo no que se refere ao conhecimento do Humano e da Humanidade.
- Aos invasores de Meca da Profecia do Profeta.
Canto neste final de capítulo aos futuros invasores de Meca e reformadores do Futuro do Islã como diz a profecia do Profeta. Canto para estes futuros invasores para que o senso de Humanidade que unifica todos nós em uma mesma condição esteja em seus corações e que no seu caminho entre Meca e Medina no Futuro seu Jihad único e maior na reforma de costumes simbolize o caminho do Coração a Razão Humana na qual todos os homens se vejam como irmãos independente de suas crenças ou inclinações filosóficas. E declaro meu amor mais profundo a todos meus irmãos muçulmanos, que são antes de tudo como todos os homens, meus irmãos de Humanidade, assim como a seu Profeta, sobretudo no que sua mensagem de Humildade e Amor tem para a Humanidade de Muçulmanos e não Muçulmanos.
Resumo – Mundo islâmico e a Educação.
Muito se fala do mundo islâmico como sendo um mundo fechado onde há grande espaço para o radicalismo e outras ações como o terrorismo, contudo em verdade o Islã é uma das religiões em essência mais abertas para a diversidade do pensamento que por muito tempo abrigou nos territórios onde dominavam como religião, escolas de pensamento cientifico como a Escola de Bagdá e enquanto grande parte do mundo ocidental sofria com epidemias por falta de higiene, o mundo islâmico já contava tecnologia de saneamento básico, por exemplo.
Grandes pensadores e matemáticos são de escolas do mundo islâmico, e umas das místicas que mais falam de aproximação de religiões e povos é o sufismo, a mística do islã.

Ibn Arabi, um grande poeta sufi proferiu os seguintes versos referentes a isto.
Meu coração está aberto a todas as formas:
É uma pastagem para as gazelas,
E um claustro para os monges cristãos,
Um templo para os ídolos,
A Caaba do peregrino,
As Tábuas da Torá,
É o livro do Corão.
Professo a religião do amor,
E qualquer direção que avancem Seus camelos;
A religião do Amor
Será minha religião e minha fé.
Que é complementado pelos versos de Al Hallaj, outro poeta sufi contemporâneo da Escola de Bagdá.
Pensei muito nas religiões para compreendê-las e descobri que são os muitos ramos de uma única Fonte.
Não pretenda, pois o homem pretender dizer que professa uma, porque assim se afastaria da verdadeira Fonte.
È ao contrário a Fonte, excelente e impregnada de significados que deve vir a buscá-lo, e o homem compreenderá.

Como podemos ver não há nada que impeça que o diálogo entre religiões e filosofias possa se dar através do Islã e do sufismo, segundo o que defendem estes poetas sufis . O que vem contra todos os clichês que o mundo ocidental tem em relação a esta parte do mundo que tem muito a contribuir com o ocidente.
É exatamente baseado no sufismo que proporemos aqui um plano de busca pelo conhecimento baseada em uma obra de um grande escritor sufi da Pérsia do século XII, Farid ud-Din Attar que é a Linguagem dos Pássaros.
Esta obra é uma metáfora da busca do místico pelo conhecimento supremo e que pode ser relacionada com a busca de qualquer tipo de conhecimento.
Na obra os pássaros do mundo decidem ir atrás de seu líder, o Simorgh que morava no monte Káf, e são liderados pela poupa, que é o pássaro de estimação do rei Salomão guia os pássaros neste caminho, muitos desistem, e a líder dos pássaros é inquirida a dizer qual o caminho para o conhecimento supremo.
A poupa descreve sete vales para chegar ao conhecimento supremo, que podem servir de base não somente para o estudo do Al Corão ou outros livros islâmicos , mas como guia para qualquer estudo .
Os sete vales são busca amor, conhecimento, independência, unidade, estupefação e aniquilamento. Após terem passado pelos sete vales chegam somente ao Simorgh trinta pássaros que são recusados de serem recebidos pelo Simorgh inicialmente, mas que insistindo entram nos aposentos dele e se deparam com um espelho onde se enxergam a si mesmos (Simorgh em persa quer dizer trinta pássaros), o que torna a historia uma busca pelo autoconhecimento, o que se aproxima do Oráculo de Delfos dos gregos que falava gnoti seautom, ou seja, conhece-te assim mesmo.
Mesmo que nosso objetivo não seja em ultima instância o autoconhecimento, estes sete vales descrevem uma alternativa pedagógica de caminho para qualquer conhecimento.
O primeiro vale sendo a busca nos fala da etapa do conhecimento onde o discípulo procura o objeto a ser conhecido, aqui se define o objeto de conhecimento. E os primeiros contatos com o conhecimento.
O segundo vale sendo o amor mostra a identificação do discípulo com o objeto de conhecimento sendo esse o segundo passo em nossa jornada é aqui onde o discípulo faz contato pela primeira vez com o mestre, que deve ajudar o discípulo neste processo.
O terceiro vale sendo o do conhecimento é onde o discípulo após ter travado contato com o conhecimento, o interioriza, tendo o mestre aqui um papel extremamente importante.
O quarto vale é o vale da independência onde o discípulo adquire finalmente a autonomia pedagógica em relação ao mestre, começa a tomar suas próprias conclusões e caminha com os próprios pés nesta jornada pelo conhecimento.
O quinto vale é o da unidade, onde o discípulo adquire a noção que todos os conhecimentos têm uma origem única e estão imersos em um plano maior, o que se aproxima da teoria do Inconsciente Coletivo de Jung. É aqui onde o discípulo torna se um com o seu objeto de conhecimento e torna se um com todos os que buscaram pelo mesmo.
O sexto vale, tendo percebido que todos os conhecimentos têm uma única raiz é o vale da estupefação que aqui podemos traduzir como sendo o vale da admiração, onde o discípulo se maravilha com a grandeza do conhecimento e enxerga a riqueza do mundo do conhecimento, que muitas vezes se torna coletivo e no qual ele praticamente se fundiu.
O sétimo e ultimo vale é o vale do aniquilamento que nomeio aqui como do discernimento, onde todas as ilusões que o fato de se maravilhar com o conhecimento em que se fundiu se dissipam e o discípulo pode ver e finalmente discernir claramente e reiniciar o processo de mergulhar em outra busca.
Ao final chega se ao conhecimento puro, sem mácula e que se enriquece de geração em geração.
JOGO DIDÁTICO PEDAGÓGICO "OS SETE VALES"

Este jogo didático pedagógico de leitura basicamente, se desenvolve a partir de textos do livro sufi "Linguagem dos Pássaros" e um tabuleiro representando os sete vales do conhecimento.
Regras.
São distribuídos entre os integrantes contos pertencentes aos temas dos sete vales, assim como poemas sufis e outros contos turcos, árabes ou persas de outras obras, pré definidos anteriormente como pertencentes à natureza de um dos sete vales, e é pedido para que os integrantes leiam para um outro integrante (que está a seu lado) o conto ou poema que tem em mãos .
É pedido para que o integrante adivinhe a qual vale pertence o conto e caso acerte ele sai do primeiro vale para o segundo e assim sucessivamente até chegar ao último vale.
O primeiro a chegar ao último vale ganha o jogo.
O jogo pode ser por grupo de integrantes se a sala contar com muitos alunos.
O objetivo principal do jogo é treinar a leitura e compreensão de textos, assim como a assimilação da cultura universalista do sufismo,como pudemos ver pelos poemas de Ibn Arabi e Al Hallaj.

Judaísmo e Educação.
O judaísmo tem assim como o islã, várias vertentes, e entre elas dentro da Educação trabalharei a Cabala e a Árvore da Vida
- Cabala. ( Fonte site www.significados.com.br)
O que é Cabala:
Cabala é o nome de uma ciência oculta ligada ao Judaísmo, mas é também um termo usado com o significado de trama, intriga secreta, conspiração.
Para evitar confusões com o sentido figurado, alguns estudiosos defendem que a pronúncia correta da doutrina filosófica em Português seja "cabalá", e não "cabála" (tal como pronunciada no original "qabbalah").
Cabala é um método esotérico que engloba um conjunto de ensinamentos relacionados com Deus, o universo, o homem, a criação do mundo, a vida e a morte. É uma mística esotérica judia que se fundamenta na revelação de Deus a Adão e a Moisés.
É uma escola de pensamento espiritual que tenta decifrar o conteúdo da Torá (os primeiros cinco livros do Antigo Testamento da Bíblia, denominado Pentateuco pelos cristãos), acreditando que os segredos do Universo foram revelados por Deus, de forma codificada, naqueles livros.
A cabala também é vista como uma filosofia de vida que ensina aos cabalistas formas de superar obstáculos para evoluir e atingir a paz espiritual.
As suas primeiras manifestações remontam aos primeiros tempos da era cristã, mas a cabala se desenvolveu particularmente entre os séculos XI a XVI e se transcreveu como doutrina em livros secretos como o Zohar (Livro do Esplendor), redigido em Espanha no século XIII e que contém os ensinamentos da cabala e orienta os seus seguidores.
A Árvore da Vida é um dos mais importantes símbolos cabalísticos. É representada por 10 esferas (sefirot), sendo que cada uma reflete os aspectos de Deus dentro de cada pessoa: a Coroa, a Sabedoria, a Compreensão, a Compaixão, a Justiça, a Beleza, a Vitória, a Renovação, o Fundamento, o Reino.
Ao longo dos séculos a cabala foi transmitida oralmente a um número reduzido de discípulos. Ainda hoje, o seu estudo não é plenamente aceito em algumas vertentes do Judaísmo.
A cabala se tornou popular quando começou a ser seguida por celebridades como Madonna, Mick Jagger, Angélica, Luciano Huck, entre outros.
Outras grafias encontradas para designar a cabala são: kabbalah, kabbala, kabala, qabbala, cabbala, cabbalah.

- A Árvore da Vida. – Origem – Enciclopédia Livre
A Árvore da Vida é um sistema cabalístico hierárquico em forma de árvore, que é dividida em dez partes, ou dez frutos. Esses frutos têm sentido ambíguo, podendo eles ser interpretados tanto como estado do todo, do universo, como podem ser lidos como estados de consciência. Ou seja, podem ser lidos tanto microcosmicamente, do ponto de vista do homem, como macrocosmicamente, ou seja, do ponto de vista do universo em geral. Macrocosmicamente, a Árvore deve ser lida de cima para baixo, e microcosmicamente, deve ser lida de baixo para cima. Macrocosmicamente, a Árvore começa em Kether, que é a centelha divina, a causa primeira de todas as coisas, e desce na árvore tornando-se coisa cada vez mais densa. Esse é o método cabalista de explicar a criação do mundo, e contrasta com o método científico do mesmo. A última sephirah é Malkuth, a matéria densa, o último estado das coisas. Microcosmicamente, subindo na Árvore, partindo de Malkuth, o homem aproxima seu estado de consciência elevando-se cada vez mais próximo de Kether. Então, a Árvore da Vida tanto pode ser usada para explicar a criação do Universo, como para hierarquizar o processo evolutivo do homem. Por isso, a Árvore da Vida é usada como referência em várias ordens de magia, para classificar seus graus.
A Árvore é dividida em quatro diferentes planos:
Atziluth, o Mundo das Emanações: Nessa esfera, Deus age diretamente, e não através de seus ministros, que são os anjos. Essas sephiroth são: Kether, Chokmah e Binah
Beriah, ou Briah, o Mundo das Criações: Esse mundo já é tão denso que Deus não age mais diretamente sobre ele, suas vontades são cumpridas por poderosos Arcanjos. Essas sephiroth são: Chesed, Geburah e Tiphareth.
Yetzirah, o Mundo das Formações: Nesse mundo, assim como em Briah, Deus não age diretamente, mas age através de diversos coros angélicos, que realizam sua vontade. Essas sephiroth são: Netzach, Hod e Yesod.
Asiyah, ou Assiah, o Mundo das Ações. Nesse mundo, só há uma sephirah: Malkuth.
A Árvore da Vida também é dividida em três colunas. A da esquerda é conhecida como pilar da severidade, é o pilar feminino; a da direita é o pilar da misericórdia, é o pilar masculino; e o pilar central é o pilar do equilíbrio, contrastando as emanações dos pilares direito e esquerdo. É de se estranhar, de início, que o pilar da severidade seja o feminino, e o pilar da misericórdia seja o masculino. Isso é porque a força feminina é repressora, como o útero reprime a criança na barriga da mãe, e a força masculina é explosiva, logo, tende a ser uma força menos repressora e mais liberal. A árvore também pode ser dividida em duas partes horizontais pela sephirah Tiphareth. As quatro sephiroth abaixo de Tiphareth são o microcosmo, o mundo inferior, o Eu Inferior. E as quatro sephiroth acima de Tiphareth são o macrocosmo, o mundo superior, o Eu Superior, sendo Kether a centelha divina. A Árvore também pode ser dividida em duas partes horizontais pela falsa sephirah Daath. As sephiroth abaixo de Daath são conhecidas como Microprosopos, ou seja, são o Universo Manifesto. E as sephiroth acima de Daath são o Macroprosopos, ou Universo Imanifesto.
Sephiroth
A sequência das sephiroth na Árvore se dá pelo movimento do Relâmpago Brilhante. Sua sequência é a seguinte:
Kether - Coroa
Kether se situa na posição central superior da árvore. É a coroa. É o potencial puro das manifestações que acontecem nas outras dimensões. Representa a própria essência, atemporal e livre. É a gênese de todas as emanações canalizadas pelas outras Sephiroth.
Chokmah - Sabedoria
Chokmah se situa no topo da coluna direita, o pilar da misericórida, é conhecido como Abba, o grande Pai. É a sabedoria. Chokmah é a energia pura ainda não materializada. Tem carater masculino e infinitamente expansivo. É o salto quântico da intuição, que deriva as manifestações artísticas. Analogamente, é o lado direito do cérebro, onde flui a criatividade e o mundo das idéias.
Binah - Entendimento
Binah se situa no topo da coluna esquerda, o pilar da severidade, é conhecida também como Amma, a grande Mãe. É o entendimento. Binah foi a primeira manifestação da forma sobre a força (Chokmah). Ela fez com que a força infinita de Chokmah se tornasse limitada, e com isso, equilibrando-se reciprocamente com ele. É a lógica que dá definição à inspiração e energia ao movimento. Analogamente, é o lado esquerdo do cérebro, onde funciona a razão, organizando o pensamento em algo concreto.
Chesed - Misericórdia
hesed se situa abaixo de Chokmah. É a misericórdia. Representa o desejo de compartilhar incondicionalmente. Representa a vontade de doar tudo de si mesmo e a generosidade sem preconceitos, a extrema compaixão.
Geburah - Julgamento
Geburah se situa abaixo de Binah. É o julgamento. Representa o desejo de contenção e de questionador de impulsos. Canaliza sua energia por meio de objetivos, com o intuito de superar obstáculos e transformar a própria natureza.
Tipareth - Beleza
Tipareth se situa abaixo e entre Chesed e Geburah. É a beleza. Transforma em beleza Chokmah, Binah e Kether. A sabedoria e o entendimento, com a luz do conhecimento. Representa a divisão da árvore em macroposopos e microposopos.
Netzach - Vitória
Netzach se situa abaixo de Chesed. É a vitória. Netzach é a energia dos sentimentos. Existe a vontade de reciprocidade, a busca pelo próximo e a superação dos próprios limites, propagando o pensamento eterno. Funciona como o princípio fertilizador do espermatozóide masculino.
Hod – Esplendor
Hod se situa abaixo de Geburah. É o esplendor. Hod representa o pensamento concreto. É um canal de aprimoramento interno, de identificação com próximo, sendo uma forma de aceitação do pensamento, de reconhecimento. Funciona como o princípio receptivo do ovócito feminino.

Yesod - Fundamento
Yesod se situa abaixo e entre Netzach e Hod. É o fundamento. Yesod representa o Plano Astral. Funciona como um reservatório onde todas as inteligências emanam seus atributos que são misturados, equilibrados e preparados para a revelação material. É compilação das oito emanações.

Malkuth - Reino
Malkuth se situa na posição central inferior da árvore. É o reino. Representa o mundo físico, onde é revelado o material compilado das oito emanações. É o canal da manifestação, desejando a recepção das sephiroth. É a distância de Kether que provoca esse desejo, criando a sensação de falta.

Daath - Conhecimento
Daath se situa abaixo e entre Chokmah e Binah. É o conhecimento. Representa uma falsa sephirah porque não é uma emanação independente como as outras dez. Ela depende de Chokmah e Binah. Também é considerada como a imagem de Tipareth. É o abismo, o caos aleatório do pensamento.
Características da Árvore
Sendo as sephiroth do pilar da severidade muito femininas e as sephiroth do pilar da misericórdia muito masculinas, não existiria estabilidade no universo sem o pilar central, que age como o mediador entre eles. Dessa forma, a junção entre Geburah e Chesed gerou Tiphareth. E a junção entre Hod e Netzach gerou Yesod. Logo, Binah é o oposto deChokmah, assim como Geburah é o oposto de Chesed, e Hod, o oposto de Netzach. Em verdade, cada linha horizontal da Árvore é emanada pela linha horizontal que lhe é superior, e emana a linha horizontal que lhe inferior. Logo, Kether emana tudo, mas não recebeu emanação de nada, e Malkuth não emana nada, mas recebeu emanação de tudo, sendo essas emanações sempre de cima para baixo. Cada sephirah tem suas correspondências astrológicas, com deuses pagãos, com pedras, plantas e etc. Por exemplo, Geburah é a sephirah da severidade, da justiça, logo, tem correspondência com Marte, planeta relacionado pela a astrologia com a guerra. Sua divindades correspondentes são todos os deuses pagãos relacionados à justiça e à guerra. Já Netzach é da esfera de Vênus, por sua natureza emocional.






















Árvore da Vida e suas Sefirotes




- A Árvore da Vida e a Educação

Filosofia da Educação – O mundo Judaico e a Cabala


Os conceitos da árvore da Vida da Cabala Judaica na Educação.


A Cabala vem das civilizações do Nilo no antigo Egito e quer dizer entre outras coisas "a tradição" que por si só se sustenta pela sua autoridade.
No período que os judeus estiveram no Egito eles assimilaram para o judaísmo os conceitos da Cabala Egípcia e adaptando para seu culto monoteísta construindo se assim a cabala Judaica.
Contudo, podemos ver alguns aspectos da Cabala Egípcia até mesmo em religiões afro brasileiras, que na sua origem tiveram influência das civilizações do Nilo (dos sudaneses animistas) que mantinham e mantém até hoje estas tradições.
Tanto a Cabala egípcia quanto a Cabala judaica atribui aos sons e as letras um poder sobrenatural que tem influencia nos planos sutis da criação, segundo a mística destas religiões.
Contudo o objetivo aqui não é se ater ao sentido místico destes sons e desta cultura, mas sim no sistema de transmissão de conhecimento que ocorria nestas culturas a partir destas crenças.
Dentro da Cabala Judaica, há na representação da ligação entre o Céu e Terra uma árvore chamada árvore da vida, que é a representação da evolução humana.
A árvore da Vida é formada por dez sefirotes, ou rodas que representam em um plano mais específico e que nos interessa mais, os passos da evolução humana e que se aplicam a diversos fatores inclusive o da educação que é o nosso tema.
Nosso objetivo é explicar estes passos de evolução do homem em seu processo de educação, segundo a Arvore da Vida criando assim uma alegoria onde haja o espaço para o lúdico em processos de aprendizado seja de alfabetização, ou seja, dessa filosofia milenar responsável, além do desenvolvimento místico deste povo, por processos educativos .
Apresentaremos, para sustentar o espaço do lúdico, as dez rodas da Árvore da vida, primeiramente no seu âmbito místico para então explicar o seu âmbito de desenvolvimento humano na Educação simulando em cada roda a relação do homem com o mestre e com a educação.

Para ilustrar as dez rodas da árvore da vida são:
1 – Malkhut – O reino
2- Yesod – A fundação
3- Hod – A Reverberação
4- Nezah – A eternidade
5-Tiferet – A beleza
6- Gevurah- O julgamento
7- Hesed- A misericórdia
8- Binah- A compreensão
9- Chokhmah- A sabedoria
10- Keter – A coroa
Há também uma roda imaginária que não se numera e que estaria no caminho entre a 5ª e a 10ª que é Daat – O conhecimento. (o que traz em si um significado de que o conhecimento não é concreto, mas sim abstrato).
Na evolução humana, em resumo, a árvore da Vida pode representar o caminho que o homem faz entre a primeira roda que também é representada pela soberba e orgulho como integrantes da auto-afirmação pessoal, até a décima roda que é representada pela virtude da humildade necessária para o verdadeiro sábio no convívio humano.
Contudo, dando prosseguimento à nossa alegoria podemos afirmar que:

1 –Malkhut – O reino , é a figura da soberba e representa as riquezas terrenas e materiais aos quais os homens almejam, sendo assim a representação da própria Terra.
Neste estágio o homem busca se auto afirmar dentre os demais. Nos processos educativos representa a auto-afirmação do indivíduo e na relação entre mestre e discípulo o propósito do aprendizado em si.

2- Yesod- A fundação, é a figura da firmeza necessária para progredir em seus propósitos seja no plano místico ou nos processos educativos. Além da auto-afirmação pessoal deve haver uma firmeza de propósitos para que não se desista no meio do caminho e este, segundo a Cabala já é o segundo passo, sem o qual não é possível prosseguir.

3- Hod – A reverberação e alegria, tanto no plano místico quanto no processo de educação é o terceiro passo que é o entusiasmo necessário para se chegar ao objetivo do conhecimento, da evolução ou do caminho místico. Aqui cabe ao mestre avaliar e incentivar o discípulo para que desenvolva esse entusiasmo sem o qual todo caminho se torna enfadonho.

4- Nezah, - A Eternidade, representa que uma vez chegada a esse ponto não se pode mais voltar para trás tanto no caminho místico quanto no pedagógico, pois uma vez firmada a personalidade, o propósito e atingido o entusiasmo o caminho a seguir, seja qual for leva a algo duradouro e permanente que é o conhecimento. Aqui inicia a autonomia pedagógica do discípulo, pois o caminho do aprendizado ganha uma matiz de autônomo e o mestre torna se um facilitador apenas, que deve estimular o discípulo ao espírito investigativo.

5- Tiferet – A beleza, representa que todo o caminho do investigador seja espiritual ou não, uma vez adquirida a autonomia pedagógica é permeado pela beleza das descobertas novas, ou seja, ao ganhar uma nova visão com a educação ou o novo aprendizado de qualquer natureza que for faz com que o mundo ganhe outras formas, e se torna mais belo, devido à nova autonomia e nova forma de ver.

6- Gevurah- O julgamento, no plano místico representa o discernimento necessário antes do despojamento da personalidade que só é ganho depois de que se adquire uma nova visão. Na pedagogia representa também o discernimento depois igualmente de uma nova visão adquirida de forma autônoma e independente. Aqui inicia a superação do mestre pelo discípulo, ou pelo menos a consolidação de um discernimento autônomo.

7- Hesed- Misericórdia- Nesta fase do desenvolvimento é que deve se, nos planos místico ou pedagógico, lutar contra a impiedade intelectual em relação aos que não tem o mesmo conhecimento e o papel do mestre aqui não é mais ensinar mas mostrar que o conhecimento deve ser compartilhado e todo o que o detém deve começar a ter uma atitude solidária e indulgente para com os que ainda o ignoram. Como diria Paulo Freire: É necessário libertar o opressor da opressão e muitas vezes os oprimidos tornam se ainda opressores quando munidos de conhecimento e poder . O que é trabalhado nesta fase do aprendizado.

8 – Binah – Compreensão – Uma vez combatida a crueldade intelectual adquire-se o verdadeiro senso de Compreensão e o homem começa a ver tanto no plano místico quanto no pedagógico que toda ação solidária não é nada mais que um dever , que nos torna Humanos , consolidando se aqui o processo de despojamento e a busca pelo desenvolvimento das virtudes. È um novo progresso na visão do educando, é quando vê a utilidade do que aprendeu.

9- Chokhmah – Sabedoria – Somente depois de chegar à compreensão da utilidade do conhecimento e totalmente vencida a crueldade intelectual é que o homem atinge, seja nos processos místicos ou educativos , a sabedoria , que nada mais é do que o valor da experiência e a elevação das virtudes. Isto faz com que o conhecimento não o leve à autodestruição pela exaltação do ego necessária no primeiro passo de todo processo. Finalmente subjugando este ego a serviço das virtudes o que serve tanto no plano místico quanto no plano material para que o conhecimento, permeado de virtudes não seja jamais destrutivo e dê início ao despojamento do Eu da soberba. O papel do mestre aqui é incentivar estas virtudes do sábio que levam à simplicidade verdadeira.

10 – Keter – A coroa, A Humildade - Momento final onde se deve despojar totalmente da soberba, que é sinal de início de processo de aprendizado, e elevar a virtude da humildade que somente a verdadeira sabedoria traz. Este é o maior mérito do sábio para que assim possa se tornar e superar seu mestre, chegando ao ciclo final do aprendizado seja místico ou pedagógico. Somente a humildade e a simplicidade advindas da sabedoria podem consagrar o aprendiz como mestre.


Daat – O conhecimento – Ele é o objeto da evolução e pode ser visualizado e inicia a ser vislumbrado a partir de Tiferet (A beleza), contudo após alcançar o estágio de compreensão, depois de ultrapassar a crueldade intelectual, o que se adquire é mais do conhecimento, e sim sabedoria. Contudo somente na busca pelo conhecimento é que se adquire a Sabedoria. Dessa forma o Conhecimento torna se mais um objeto de busca seja mística ou pedagógica do que uma fase em si.


Em resumo, no caminho do desenvolvimento pedagógico podemos criar nesta alegoria uma nova epistemologia lúdica que inicia se pela 1- auto-afirmação da personalidade, 2- Firmeza de propósitos, 3- Desenvolvimento do entusiasmo, 4 – Estabelecimento do caminho a seguir e autonomia pedagógica, 5 – Nova visão autônoma do mundo, 6- Discernimento, 7- Indulgência Intelectual, 8 - Compreensão, 9 – Sabedoria e 10 – Humildade, simplicidade e despojamento. Sendo que a partir do 5º passo já se começa a vislumbrar o conhecimento e esse se torna o objeto de busca até que se adquira a Compreensão.

A função do mestre é desenvolver os discípulos dentro destas rodas, pois eles se encontram sempre em uma delas.

JOGO DIDÁTICO PEDAGÓGICO ÁRVORE DA VIDA


Como descrevemos as características no texto anterior, a idéia é estruturar um jogo didático pedagógico a partir das rodas da árvore da vida.
Monta se um tabuleiro com as dez rodas com os nomes em português e criam se fichas com elementos que se encaixem nas dez rodas e pede se aos grupos para que adivinhem a qual roda pertence.
Ao acertar ganha se um ponto, contudo ao errar transforma se a palavra correspondente à roda que a ficha deveria se encaixar em uma palavra chave segundo o método de Paulo Freire de alfabetização e tenta se formar palavras para se recuperar os pontos perdidos.
Ao final do jogo (das fichas) quem tiver mais pontos ganha o jogo.
Cristianismo e Educação.
- Tradição da Educação Cristã.
Desde os seus primórdios como Instituição o Cristianismo tem uma relação muito estreita com a Educação, e de certa forma dentro de nosso contexto de tratar de Utopia, este conceito tem relações com o Cristianismo de alguma forma em suas origens.
De qualquer forma não podemos generalizar o Cristianismo como influenciador de uma só corrente educacional através dos tempos. Há várias correntes mais conservadoras ou mais liberais influenciadas pelas várias vertentes do Cristianismo.
Trataremos aqui do Cristianismo primitivo da Irlanda do século VII que constituiu o Livro de Kells e que tem um padrão educativo bem definido na transposição de valores tradicionais druidas em valores cristãos que trabalharam na cristianização da Irlanda.
Trataremos também de Histórias de três Santos Ortodoxos que tem em seu enredo no imaginário dos povos cristãos ortodoxos questões doutrinárias fortes que tem reflexos no processo educativo de origem ortodoxa, São eles, São Jorge da Capadócia, Santa Catarina de Alexandria e São Cipriano de Antióquia.
Por fim já no século XX trataremos brevemente de um exemplo de cristianismo católico progressista que influenciou a educação que é a Teologia da Libertação. Pensamento que ainda enfrenta resistência em diversos setores cristãos, mas que fora uma grande revolução no momento em que surge na segunda metade do século XX, sobretudo na América Latina.
Opto por fazer este recorte dentro do catolicismo romano e ortodoxo somente por estar tratando nesta obra de utopias e devido a isso linhas mais conservadoras que são uma constante dominante dentro do Protestantismo não dialogarem tão diretamente com a Obra de Thomas Morus e por conseqüência o Conceito Central de Utopia.
Não que não seja possível relacionar a Utopia a determinadas Escolas Protestantes, contudo meu objetivo neste breve ensaio é fomentar e iniciar discussões estando longe de querer esgotar conteúdos, e desta forma sugiro que outros autores que queiram se deter sobre este assunto com maior propriedade que o façam.
- Irlanda Livra de Kells, Columba
(fonte- Enciclopédia Livre)
O Livro de Kells (em inglês: Book of Kells; em irlandês: Leabhar Cheanannais), também conhecido como Grande Evangeliário de São Columba, é um manuscrito ilustrado com motivos ornamentais, feito por monges celtas por volta do ano 800 AD no estilo conhecido por arte insular.
Peça principal do cristianismo irlandês e da arte hiberno-saxônica,[1] constitui, apesar de não concluído, um dos mais suntuosos manuscritos iluminados que restaram da Idade Média. Em razão da sua grande beleza e da excelente técnica do seu acabamento, este manuscrito é considerado por muitos especialistas como um dos mais importantes[1] vestígios da arte religiosa medieval. Escrito em latim, o Livro de Kells contém os quatro Evangelhos do Novo Testamento, além de notas preliminares e explicativas, e numerosas ilustrações e iluminuras coloridas. O manuscrito encontra-se exposto permanentemente na biblioteca do Trinity College de Dublin, República da Irlanda, sob a referência MS A. I. (58).
O Livro de Kells é o mais ilustre representante de um grupo de manuscritos conhecido por estilo insular produzidos entre o final do século VI e o início do IX, nos monastérios da Irlanda, Escócia e do norte da Inglaterra. [2] Estão entre eles o Cathach de São Columba, o Ambrosiana Orosius, um fragmento de evangelho na biblioteca da catedral de Durham (todos do início do século VII), e o Livro de Durrow (da segunda metade do século VII). No começo do século VIII foram produzidos os Evangelhos de Durham, os Evangelhos de Echternach, os Evangelhos de Lindisfarne e os Evangelhos de Lichfield. Entre outros, o Evangeliário de St. Gall pertence ao final do século VIII e do Livro de Armagh(datado de 807-809) ao início do século IX.[3] Todos estes manuscritos apresentam semelhanças do ponto de vista do estilo artístico, da escrita e das tradições escritas, as quais têm possibilitado reagrupá-los na mesma família. O estilo plenamente conseguido das colorações coloca o Livro de Kells entre as obras mais tardias desta série, por volta do final do século VIII ou início do IX, ou seja, na mesma época do Livro. A obra respeita a maioria das normas iconográficas e estilísticas presentes nestes escritos mais antigos: por exemplo, a forma das letras decoradas que iniciam cada um dos quatro Evangelhos é muito semelhante entre todos os manuscritos das Britânicas compostos nesta época. Compare a página introdutória do Evangelho segundo Mateus nos Evangelhos de Lindisfarne com a do Livro de Kells. Ambas possuem intrincados desenhos decorativos no interior dos contornos das letras iniciais do texto. [4]
O Livro de Kells deve seu nome à abadia de Kells, situada em Kells, no condado de Meath, Irlanda. A abadia, onde se conservou o manuscrito por um grande período da Idade Média, foi fundada no início do século IX, na época das invasões vikings, que começou em 794 e, eventualmente, dispersou os monges e as suas santas relíquias na Irlanda e na Escócia.[5] Os monges eram originários domonastério de Iona, localizado numa das ilhas Hébridas situada em frente à costa oeste da Escócia. Iona possuía uma das comunidades monásticas mais importantes da região desde que São Columba, o grande evangelizador da Escócia, que a havia tornado seu principal centro de irradiação no século VI. Quando a multiplicação das incursões vikings acabou tornando a ilha de Iona demasiado perigosa, a maioria dos monges partiram para Kells, que se converteu assim no novo centro das comunidades fundadas por Columba.
A determinação exata do lugar e da data da produção do manuscrito tem sido fonte de inúmeros debates. Segundo a tradição, o livro data da época de São Columba[6] (também conhecido por São Columcille), talvez escrito por ele mesmo em pessoa. Contudo, estudos paleográficos têm demonstrado que esta hipótese não é verdadeira, uma vez que o estilo caligráfico usado no Livro de Kells desenvolveu-se posteriormente à morte de Columba. [7] Evidências mostram que o Livro de Kells foi escrito por volta do ano 800.[8] [9] Há uma outra tradição, com maior aceitação pelos estudiosos irlandeses, que sugere ele ter sido criado por ocasião do aniversário de 200 anos da morte do santo.[10]

O manuscrito nunca foi terminado. Produziram-se, pelo menos, cinco teorias diferentes sobre a origem geográfica do manuscrito. Na primeira, o livro poderia ter sido escrito em Iona e trazido às pressas para Kells, o que explicaria a razão dele nunca ter sido concluído. Na segunda, sua redação poderia ter-se iniciado em Iona antes de ser continuada em Kells, [11] onde teria sido interrompida por algum motivo ignorado. Outros pesquisadores aventuram que o manuscrito poderia ter sido totalmente escrito nascriptoria de Kells. Uma quarta hipótese situa a criação original da obra no norte da Inglaterra, possivelmente em Lindisfarne, antes de ser levada até Iona e depois para Kells. O Livro de Kells, finalmente, poderia ter sido produzido em um monastério desconhecido na Escócia. Embora a questão da exata localização da produção do livro provavelmente nunca seja respondida de maneira conclusiva, a segunda teoria baseada na dupla origem de Kells e Iona é atualmente a mais amplamente aceita. [2] Por outro lado, sem querer determinar qual a hipótese correta, o certo é que o Livro de Kells foi produzido por monges pertencentes a uma das comunidades de São Columba, que mantinham estreitas relações com o monastério de Iona.
Período medieval
A abadia de Kells foi pilhada e saqueada pelos vikings muitas vezes no século X, e como o livro sobreviveu lá não é conhecido. [12] Seja qual for o lugar em que foi criado, os historiadores estão totalmente convencidos da presença do Livro de Kells na abadia de mesmo nome no mínimo a partir do século XII, ou ainda no início do XI. Uma passagem dos Anais de Ulster, sobre o ano de 1006, registra que o grande Evangelho de Columcille [i.e Columba], [13] principal relíquia do mundo ocidental, foi subtraído sub-repticiamente em plena noite de uma sacristia da grande igreja de pedra de Cenannas [i.e Kells] devido ao seu precioso estojo.[2] [14] O manuscrito foi encontrado meses mais tarde sob um monte de terra,[15] sem a sua capa decorada com ouro e pedras preciosas. Caso se concorde com esta muito provável hipótese, então o manuscrito em questão é mesmo o Livro de Kells, tratando-se então da primeira data em que se pode atribuir com bastante certeza a existência da obra em Kells. Geralmente assume-se que a "grande Evangelho de Columkille" é o Livro de Kells.[16]
A retirada violenta da capa explicaria, ainda, a perda de algumas folhas do início e fim da obra.
No século XII, foram copiados certos documentos referentes às terras de propriedade da abadia de Kells sobre algumas folhas em branco do Livro de Kells, o que proporciona uma nova confirmação da presença da obra neste estabelecimento monástico. Devido à escassez de papel na Idade Média, a cópia de documentos no meio de obras tão importantes como o Livro de Kells era uma prática habitual.

Livro de Kildare
Um escritor do século XII, Giraldus Cambrensis (Geraldo de Gales), descreve em uma famosa passagem de sua Topographia Hibernica um grande livro evangélico que havia admirado em Kildare, nas proximidades de Kells, e que se supõe seria o Livro de Kells.[17] A descrição, em todo caso, parece concordar:

Este livro contém a harmonia dos Quatro Evangelistas buscada por São Jerônimo, com diferentes ilustrações em quase todas as páginas e que se distinguem por cores variadas. Aqui podeis ver o rosto de majestade, divinamente desenhado, aqui os símbolos místicos dos evangelistas, cada um com suas asas, às vezes seis, às vezes quatro, às vezes duas; aqui a águia, ali o touro, lá o homem e acolá o leão, e outras formas quase que infinitas. Se observadas superficialmente, com um olhar rápido, pensareis que não são mais do que esboços, e não um trabalho cuidadoso. A mais refinada habilidade está toda ela ao seu redor, mas poderíeis não percebê-la. Olhai com mais atenção e penetrareis sem dúvida no coração da arte. Discernireis complexidades tão delicadas e sutis, tão cheias de contornos e de ligações, com cores tão frescas e vivas, que poderíeis deduzir que tudo isto é obra de um anjo, e não de um homem.



Uma vez que Geraldo informa ter visto este livro em Kildare, podia ser que se trata de outra obra igual em qualidade, mas atualmente perdida. Mais provavelmente, Geraldo poderia simplesmente ter confundido Kells e Kildare.
A Abadia de Kells foi fechada devido às reformas eclesiásticas do século XII. A igreja da abadia foi transformada em uma igreja paroquial, na qual o Livro de Kells permaneceu.
Período moderno
O Livro de Kells permaneceu em Kells até 1654. Nesse ano, a cavalaria de Oliver Cromwell estabeleceu uma guarnição na igreja local, e o governador da aldeia enviou o manuscrito a Dublin para uma maior segurança. O livro foi apresentado aos universitários do Trinity College em 1661 por Henry Jones, que se converteria em bispo de Meathdurante o reinado de Carlos II. Salvo em poucas ocasiões, como exposições temporárias, o Livro de Kells nunca mais deixou o Trinity College. Desde o século XIX é objeto de uma exposição permanente e aberta ao público na Velha Biblioteca (Old Library) da universidade.
No século XVI, os números de capítulo dos Evangelhos, estabelecidos oficialmente no século XIII pelo Arcebispo da Cantuária, Stephen Langton, foram escritos às margens das páginas em números romanos. Em 1621, as folhas foram numeradas pelo bispo de Meath, James Ussher. Em 1849, a rainha Vitória e o príncipe Alberto foram convidados a assinar o livro: na realidade assinaram sobre uma folha colocada posteriormente à criação da obra, mas pensavam estar assinando sobre o original. Esta folha foi retirada quando o livro foi reencadernado em 1953.
O manuscrito sofreu várias reencadernações ao longo dos séculos. Em uma destas ocasiões, no século XVIII, as páginas foram recortadas sem o menor cuidado, ocasionando a perda de uma pequena parte das ilustrações. Em 1895 foi realizada uma nova encadernação, mas esta se deteriorou rapidamente. No final da década de 1920, existiam muitas folhas soltas separadas do manuscrito. Finalmente, em 1953, a obra foi reencadernada em quatro volumes por Roger Powell, que se ocupou pessoalmente de alisar com todo o cuidado algumas páginas que haviam amassado.
No ano 2000, o volume que contém o Evangelho segundo Marcos foi enviado a Camberra, na Austrália, para uma exposição dedicada aos manuscritos iluminados. Foi a quarta vez que o Livro de Kells viajou para o estrangeiro a fim de ser exposto. Infelizmente, durante a viagem, o volume sofreu danos menores em sua pigmentação. Supõe-se que as vibrações produzidas pelos motores do avião podem ter sido a causa.
Reproduções
Em 1951, uma editora suíça, a Urs Graf-Verlag Bern, produziu um fac-símile do Livro de Kells. A maioria das páginas foi reproduzida em fotografias em branco e preto. Havia, contudo, quarenta e oito páginas reproduzidas em cores, incluindo todas aquelas com decorações em toda a página.
Em 1974, Thames e Hudson, com autorização do Conselho do Trinity College Dublin, produziram uma edição fac-símile de todas as páginas totalmente ilustradas do manuscrito e uma seção representativa da ornamentação das páginas de texto. Foram também incluídos detalhes ampliados das ilustrações. Todas impressas em cores. As fotografias foram feitas por John Kennedy, Green Studio, Dublin.
Em 1979, as Éditions Facsimilé Lucerne, outra editora suíça, solicitaram autorização para produzir um fac-símile totalmente em cores. A permissão inicialmente foi negada pelos responsáveis do Trinity College, que temiam que o manuscrito sofresse danos durante a operação. Em 1986, depois de desenvolver um processo de um cuidadoso dispositivo de aspiração que permitia posicionar e fotografar as páginas sem ter que tocá-las, o editor obteve finalmente a permissão para produzir a edição fac-símile. Depois de fotografar cada página, era feita uma cópia para comparar atentamente as cores com as do original, para fazer os ajustes que fossem necessários. Em 1990 publicou-se o fac-símile em dois volumes: o fac-símile propriamente dito e um volume de comentários feitos por especialistas. A igreja de Kells (da Igreja da Irlanda), no local do antigo monastério, dispõe de um exemplar. Está também disponível de uma versão em CD-ROM[18] contendo todas as páginas escaneadas, assim como outras informações.
Descrição
O Livro de Kells contém os quatro Evangelhos constitutivos do cristianismo, precedidos de prólogos, resumos e transições entre certas passagens. Está redigido em maiúsculas com um estilo tipográfico tipicamente insular, com tinta preta, vermelha, violeta ou amarela. O manuscrito consta atualmente de 340 folhas em pergaminho, chamadas fólios. A maioria destes fólios era na realidade parte de folhas maiores, os bifólios, que se dobravam em dois para formar dois fólios. Vários destes bifólios são agrupados e costurados, para obterem-se os cadernos. Pode acontecer de um fólio não fazer parte de um bifólio mas seja uma simples folha solta inserida em um caderno.
Estima-se que cerca de trinta fólios foram perdidos, uma vez que em 1621, James Ussher ao examinar a obra contou 344 páginas. As folhas existentes estão agrupadas em trinta e oito cadernos, cada um deles contém de quatro a doze folhas (de dois a seis bifólios); o mais comum é encontrar cadernos de dez folhas. Alguns fólios são folhas únicas. As páginas mais decoradas geralmente são encontradas em folhas soltas. Os fólios tinham linhas traçadas sobre eles, às vezes dos dois lados, para facilitar o trabalho de escrita dos textos pelos monges: os furos feitos com agulha e os traços podem ainda ser vistos em alguns lugares. O pergaminho é de boa qualidade, apesar de ser trabalhado de maneira desigual: algumas folhas têm uma espessura semelhante ao couro, enquanto que outras são muito finas, quase transparentes. O manuscrito tem 33 cm de comprimento por 25 cm de largura, sendo este um tamanho padrão, apesar de estas dimensões serem posteriores ao século XVIII, período em que as folhas tiveram uma pequena redução durante um processo de reencadernação. A área do texto cobre aproximadamente 25 cm de comprimento por 17 cm de largura, e cada página de texto contém entre dezesseis e dezoito linhas. Contudo, o livro parece estar inacabado, na medida em que algumas ilustrações parecem simples esboços.
Conteúdo
No seu estado atual, o Livro de Kells apresenta, depois de alguns textos introdutórios, o texto integral dos Evangelhos segundo Mateus, segundo Marcos e segundo Lucas. Em relação ao Evangelho segundo João, está reproduzido até o versículo 17:13. O restante deste Evangelho, assim como uma parte dos escritos preliminares, são impossíveis de encontrar. Provavelmente perderam-se devido ao roubo do manuscrito no século IX. O que resta dos escritos preliminares faz parte dos fragmentos de listas de nomes hebreus contidos nos Evangelhos, os Breves causae e os Argumenta dos quatro Evangelhos e finalmente as tábuas canônicas de Eusébio de Cesareia. É bastante provável, como no caso dos Evangelhos de Lindisfarne ou do Livro de Durrow, que uma parte dos textos perdidos inclua a carta de São Jerónimo ao Papa Dâmaso I, designada Novum opus (obra nova), na qual Jerónimo justificava a tradução da Bíblia em latim. Pode supor-se também, embora com algumas reservas, que os textos continham a carta de Eusébio, chamada Plures fuisse, onde o teólogo ensina o uso correto das tábuas canônicas. De todos os evangelhos insulares, apenas o de Lindisfarne contém esta carta.
Existem dois fragmentos de listas contendo nomes hebreus: um deles está no anverso do primeiro fólio e o outro, no vigésimo sexto, está no final dos textos introdutórios do Evangelho segundo João. O primeiro fragmento contém o final da lista destinada ao Evangelho segundo Mateus, tendo em conta que o início da lista devia ocupar outras duas folhas, que hoje estão desaparecidas. O segundo fragmento mostra a quarta parte da lista para o Evangelho segundo Lucas; certamente as três quartas partes restantes deviam ocupar outras três folhas. A estrutura do caderno em questão torna altamente improvável a ideia de poderem estar faltando três folhas entre os fólios 26 e 27, o que induz a pensar que o segundo fragmento não está no seu local original. Não existem vestígios das listas dos Evangelhos de Marcos e João.

Ao primeiro fragmento de lista seguem-se as tábuas canônicas de Eusébio de Cesareia. Estas tábuas, anteriores à tradução da Bíblia em língua latina (a Vulgata), foram criadas para comparar os quatro Evangelhos. Eusébio procedeu à divisão dos Evangelhos em capítulos e criou as tábuas que deviam permitir ao leitor situar um dado episódio da vida de Cristo em cada um dos quatro textos. Tornou-se hábito a inclusão das tábuas canônicas nos textos preliminares da maioria das cópias medievais da Vulgata. As tábuas do Livro de Kells revelaram-se inúteis visto que o amanuense as condensou de tal forma que se tornaram um amontoado confuso. Além disso, os números dos capítulos nunca foram colocados nas margens do texto, tornando assim impossível de se encontrar as respectivas secções às quais as tábuas fazem referência. As razões deste esquecimento permanecem obscuras, permitindo-nos colocar duas hipóteses: ou os monges podem ter decidido não numerar os capítulos até que as ilustrações estivessem terminadas, acabando isso por ser adiado sine die, ou a omissão da numeração poderá ter sido deliberada com o intuito da não alterar a beleza da obra.

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As Breves causae e os Argumenta pertencem a uma tradição manuscrita anterior à Vulgata. As Breves causae são, de fato, resumos de antigas traduções em latim dos Evangelhos e estão divididas em capítulos numerados. Esta numeração, como no caso das tábuas canônicas, não foi feita no corpo do manuscrito. Trata-se desta vez duma decisão bastante compreensível, na medida em que os números dos capítulos correspondentes a velhas traduções foram difíceis de harmonizar com os textos da Vulgata. No caso dos Argumenta, trata-se de coleções de lendas dedicadas aos quatro evangelistas. O conjunto destes escritos está ordenado duma forma estranha: em primeiro lugar, encontram-se as Breves causae e os Argumenta sobre Mateus, seguidos dos de Marcos. Chegam então, de maneira bastante inesperada, os Argumenta de Lucas e João, após a continuação das Breves causae destes dois apóstolos. Esta ordem, pouco usual, é a mesma da adotada no Livro de Durrow. Em outros manuscritos insulares, como nos Evangelhos de Lindisfarne, o Livro de Armagh ou os Evangelhos de Echternach, cada Evangelho é tratado separadamente e é precedido por todos os escritos introdutórios. Esta repetição fiel do esquema do Livro de Durrow levou o pesquisador T. K. Abbot a concluir que o amanuense de Kells devia ter em suas mãos o manuscrito em questão, ou pelo menos um esquema comum.
Texto e escrita
O Livro de Kells contém o texto dos quatro Evangelhos em latim segundo a Vulgata, sem ser uma cópia exata desta última: são encontradas numerosas variantes com relação à Vulgata, principalmente quando são utilizadas traduções latinas mais antigas ao invés do texto de São Jerônimo. Estas variantes são encontradas sistematicamente em todos os manuscritos medievais da Grã-Bretanha e apresentam diferenças de uma obra para a outra. Sem dúvida, os monges, pela falta de disporem de um exemplar preexistente, deviam trabalhar de memória.

O manuscrito está escrito em letras maiúsculas, exceto algumas minúsculas, majoritariamente as c ou as s. A universitária estadunidense Françoise Henry identificou no mínimo três amanuenses que contribuíram com a obra e os chamou Mão A, Mão B e Mão C.
A Mão A criou principalmente os fólios de 1 a 19 e do 276 ao 289, antes de retomar seu trabalho do fólio 307 até o fim do manuscrito. O amanuense Mão A utiliza com freqüência uma tinta de cor marrom muito comum na Europa e escreve entre dezoito e dezenove linhas por página.
A Mão B é reconhecida desde o fólio 19 até o 26 e do 124 até o 128; tem mais tendência a utilizar letras minúsculas, prefere uma tinta vermelha, violeta ou preta e escreve um número mais variável de linhas em cada página.
À Mão C, finalmente, é atribuído o restante do manuscrito, tendo ela contribuído para a obra de uma maneira bastante dispersa: tem tendência a usar mais minúsculas que Mão A; utiliza a mesma tinta marrom e escreve quase sempre dezessete linhas por página.
Erros
Existem várias diferenças entre o texto do Livro de Kells e o Evangelho normalmente aceito, por exemplo:
Na genealogia de Jesus, que começa em Lucas 3:23, Kells nomeia erroneamente um antepassado adicional.
Em Mateus 10:34, deveria ter sido colocado non veni pacem mittere, sed gladium (não vim trazer paz, mas espada). Ao invés de gladium que significa espada, no manuscrito de Kells foi escrito gaudium que significa alegria; sendo assim, a tradução fica não vim trazer paz, mas alegria. Provável distração do amanuense.
Decoração
O manuscrito contém páginas totalmente repletas de motivos ornamentais de uma complexidade extraordinária, assim como pequenas ilustrações que acompanham as páginas de texto. O Livro de Kells utiliza uma rica variação de cores, com violeta, vermelho, rosa, verde ou amarelo, entre as mais usadas. A título comparativo, nas ilustrações do Livro de Durrow foram empregadas apenas quatro cores. De forma totalmente surpreendente e apesar da importância que os monges quiseram dar à obra, não fizeram uso de folhas de ouro ou de prata para adornar o manuscrito. Os pigmentos necessários para as ilustrações foram importados de todos os cantos da Europa e foram objeto de aprofundados estudos: o preto obteve-se das velas, o vermelho vivo do realgar, o amarelo do ouro-pigmento (ou orpiment, um sulfeto de arsênio amarelo) e o verde esmeralda do pó de malaquita. O caríssimo lápis-lazúli, de cor azul, veio da região do Afeganistão.
As iluminuras são mais ricas e numerosas que em qualquer outro manuscrito bíblico da Grã-Bretanha. Há dez páginas repletas de iluminuras que sobreviveram à prova do tempo, além dos retratos de evangelistas, três representações dos quatro símbolos dos evangelistas, uma página cujos motivos recordam uma tapeçaria artística, uma figura de Maria e o Menino Jesus, outra figura de Cristo no trono e finalmente duas últimas imagens consagradas à prisão e à tentação de Cristo. Existem ainda outras treze páginas cheias de iluminuras acompanhadas de um curto texto: em particular, é o caso do início de cada Evangelho. Oito das dez páginas dedicadas às tábuas canônicas de Eusébio de Cesareia estão também ricamente ilustradas. Além de todas estas páginas, contabiliza-se no conjunto da obra um grande número de decorações menores ou de iniciais iluminadas.
O manuscrito, em seu estado atual, começa com um fragmento da lista de nomes hebreus, que ocupa a primeira coluna do anverso do fólio 1. A outra coluna deste fólio está ocupada por uma iluminura dos quatro símbolos dos evangelistas, hoje levemente apagada. A iluminura está orientada de tal maneira que o livro deve ser girado 90 graus para que ela possa ser examinada. O tema dos quatro símbolos dos evangelistas está presente do início ao fim da obra: quase sempre são representados juntos, com o objetivo de destacar e afirmar a unidade da mensagem dos quatro evangelhos.

O fólio 2º contém uma das tábuas canônicas de Eusébio de Cesareia.
A unidade dos Evangelhos fica ainda mais realçada pela decoração das tábuas canônicas de Eusébio de Cesareia. Estas tábuas foram criadas para estabelecer a unidade dos quatro textos, permitindo ao leitor identificar as passagens equivalentes em cada Evangelho e normalmente ocupam doze páginas. Os amanuenses do Livro de Kells já reservaram doze páginas com esta finalidade (fólios 1 a 7) mas, por motivos desconhecidos, acabaram por condensar as tábuas em dez páginas somente, deixando assim duas páginas em branco (os fólios 6 e 7). Este reajuste deixou as tábuas confusas e inutilizáveis. A decoração das oito primeiras páginas das tábuas canônicas parece fortemente influenciada por manuscritos mais antigos da região mediterrânea, onde o costume era inserir as tábuas no desenho de um arco. Os monges que trabalharam no Livro de Kells empregaram este estilo, mas adicionando a sua própria idiossincrasia: os arcos não estão tratados como elementos arquitetônicos mas como motivos geométricos, decorados com motivos ornamentais tipicamente insulares. Os quatro símbolos dos evangelistas ocupam o espaço existente acima e abaixo dos arcos. As duas últimas páginas representam as tábuas em uma grade, o que é mais conforme a tradição dos manuscritos insulares, como no Livro de Durrow.
O restante do livro, tirando as tábuas canônicas, divide-se em seções, estando cada início de seção indicado por iluminuras e páginas cheias de texto decorado. Em especial, cada um dos Evangelhos é introduzido com iluminuras meticulosamente preparadas. Os textos preliminares são tratados como sendo uma seção, recebendo então uma decoração suntuosa. Além dos Evangelhos e dos textos preliminares, o segundo início do Evangelho segundo Mateus tem direito à sua própria decoração introdutória.

O fólio 7 está ilustrado com uma imagem de Maria e o Menino Jesus. Trata-se da mais antiga representação existente da Virgem Maria em um manuscrito ocidental.
Os textos preliminares são introduzidos por uma imagem em ícone de Maria e o Menino Jesus (fólio 7º). Esta iluminura é a representação mais antiga da Virgem dentre todos os manuscritos do mundo ocidental. Maria aparece em uma rara mescla entre uma pose de frente e de três quartos. O estilo iconográfico da iluminura poderia originar-se de um modelo ortodoxo ou copta.
A iluminura de Maria e o Menino Jesus está na primeira página de texto e é adequada para introduzir as Breves causae de Mateus, que começa por um Nativitas Christi in Bethlem (o nascimento de Cristo em Belém). A primeira página das Breves causae (fólio 8º) está decorada e rodeada de uma elegante moldura. A combinação entre a iluminura posicionada à esquerda e o texto à direita constitui, deste modo, uma introdução muito viva e colorida dos textos preliminares. As primeiras linhas das outras seções dos textos preliminares foram igualmente objeto de cuidados particulares, mas sem alcançarem o mesmo nível que o início das Breves causae de Mateus.

O Livro de Kells foi criado para que cada Evangelho dispusesse de decorações introdutórias altamente elaboradas. Originalmente, cada um dos quatro textos era precedido de uma iluminura de página inteira que continha os quatro símbolos dos evangelistas, seguida de uma página em branco. Depois se seguia, antes das primeiras linhas ricamente decoradas do texto, o retrato do evangelista correspondente. O Evangelho segundo Mateus conservou o retrato de seu evangelista (fólio 28º) e sua página de símbolos evangélicos. No Evangelho segundo Marcos falta o retrato do evangelista, mas sua página de símbolos permaneceu até os nossos dias (fólio 129º). Infelizmente, no Evangelho segundo Lucas não se conseguiu preservar nenhum dos dois. Finalmente, no Evangelho segundo João, assim como no de Mateus, conservou-se o retrato de João (veja aqui ao lado o fólio 291º) e sua página de símbolos (fólio 290º). Provavelmente, as páginas que faltaram existiram, mas foram perdidas. Em qualquer caso, o uso sistemático de todos os símbolos dos evangelistas no início de cada Evangelho é tremendamente surpreendente, demonstrando o forte empenho em querer manter a unidade da mensagem evangélica.

A decoração das primeiras palavras de cada Evangelho é primorosamente trabalhada. As páginas correspondentes, de fato, parecem tapetes decorados: as ilustrações são tão elaboradas que o texto torna-se ilegível. A página de início do Evangelho segundo Mateus (veja acima o fólio 29º), é um exemplo: só tem duas palavras, Liber generationis (o livro da geração). O lib de Liber transformou-se em um monograma gigante que domina toda a página. O erde Liber está representado por um entrelaçado de ornamentos com o b do monograma lib. A palavra Generationis estende-se por três linhas diferentes inserindo-se em uma moldura sofisticada à direita inferior da página. Todo o conjunto está agrupado por um elegante ribete. Este ribete e as mesmas letras estão ainda decoradas com espirais e arabescos, muitos deles zoomorfos. As primeiras palavras do Evangelho de Marcos, Initium evangelii (Início do Evangelho, veja ao lado) e do de João, In principio erat verbum (No princípio era o Verbo), foram objeto de tratamentos semelhantes. Estas ornamentações, ainda que particularmente mais trabalhadas no Livro de Kells, são encontradas em todos os evangeliários das ilhas britânicas.
O Evangelho segundo Mateus, como manda a norma, começa com uma genealogia de Jesus: o relato propriamente dito da vida de Cristo não se inicia até o versículo 1:18, que é considerado, por este motivo, como o segundo início deste Evangelho. O Livro de Kells trata este segundo início com uma ênfase digna de um texto separado. Esta parte do Evangelho de Mateus começa pela palavra Cristo, que os manuscritos medievais tinham por costume abreviar com as duas letras gregas Qui e Ró.

Este monograma Qui Ró, mais conhecido como monograma da Encarnação, foi objeto de um cuidado especial no Livro de Kells, até invadir o fólio 34º em sua totalidade. A letra Qui domina a página, com um de seus braços estendendo-se por uma grande superfície da folha. A letra Ró está enroscada sob as formas de Qui. Ambas as letras estão divididas em compartimentos luxuosamente decorados com arabescos e outros motivos. No fundo do desenho dezenas de ilustrações entrelaçam-se umas nas outras. Entre esta massa de ornamentos ocultam-se toda classe de animais, inclusive insetos. Finalmente, de um dos braços de Qui surgem três anjos. Esta iluminura, no zênite de uma tradição iniciada com o Livro de Durrow, mostra-se como a mais formidável e mais cuidada dos monogramas da Encarnação dentre todos os manuscritos bíblicos das ilhas britânicas. Segundo Claude Médiavilla, especialista em caligrafia, o monograma da Encarnação seria provavelmente a peça de iluminura mais complexa alguma vez produzida […] Exigiu muitas semanas, talvez meses, de um trabalho árduo para o corpo e a visão.
O livro de Kells contém outras duas iluminuras de página inteira, que ilustram episódios da Paixão de Cristo. A primeira (fólio 114º) está dedicada à sua prisão: Jesus, imobilizado por dois personagens claramente menores que ele, está representado sob um arco estilizado. A segunda iluminura (fólio 202º) está consagrada à Tentação de Cristo: Jesus, de quem não se vê mais da cintura para cima, está no topo do Templo, com uma multidão à sua direita, que provavelmente representa seus discípulos. À sua esquerda e abaixo dele está a figura tenebrosa de Satanás, enquanto que dois anjos voam no céu.

A decoração da obra não se limita às passagens principais. Todas as páginas, com exceção de duas delas, contêm um mínimo de ornamentos. Algumas delas trazem iniciais decoradas, com pequenos personagens humanos ou zoomorfos. É a arte dos entrelaçamentos, de figuras de animais e de labirintos microscópicos inspirados, entre outros, na tradição celta. O texto das Beatitudes no Evangelho de Mateus, por exemplo, (fólio 40º) é acompanhado por todo o comprimento da margem de uma grande iluminura, na qual as letras B que iniciam cada linha entrelaçam-se como uma corrente. Da mesma maneira, a genealogia de Cristo no Evangelho de Lucas (fólio 200º) aproveita a repetição da palavra qui no início de cada linha para desenhar uma corrente. À direita das páginas são representados pequenos animais para preencher os vazios ocasionados pelas linhas que se desviam de sua trajetória, ou simplesmente para ocupar o espaço à direita das linhas. Não existe um motivo idêntico a outro e nenhum manuscrito anterior pode rivalizar com tal profusão de ornamentos.

Todas as ilustrações são de grande qualidade e sua complexidade segue sendo objeto de fascinação. O exame de uma delas, que não ocupa mais que uns 2,5 cm², permitiu contabilizar não menos de 158 entrelaçamentos de faixas brancas orladas de preto de cada lado. A sutileza de algumas filigranas não pode ser apreciada sem a ajuda de lentes de aumento e isto se levando em conta que não se podia dispor de lentes de amplificação necessária até vários séculos depois da realização da obra. Estas complicadas operações de arabescos foram realizadas do mesmo modo na mesma época sobre metais ou pedras. Desde sua gradual redescoberta a partir do século XIX, esses desenhos têm tido também uma permanente popularidade: muitos destes motivos são usados na atualidade, por exemplo, em jóias ou em tatuagens.
Uso
Originalmente, o Livro de Kells, tinha uma intenção sacramental e não educativa. Um evangeliário tão grande e luxuoso devia ser deixado em cima do altar da igreja e usado apenas para ler passagens dos Evangelhos na missa. Ainda que seja provável que o sacerdote oficiante não leria realmente o manuscrito, mas que recitaria de memória. A este respeito, é interessante recordar que o roubo da obra no século XI, segundo os Anais de Ulster, aconteceu na sacristia, lugar onde as taças e os outros acessórios litúrgicos estavam guardados, antes mesmo de irem para a biblioteca da abadia. A elaboração do livro parece ter integrado esta dimensão, fazendo do manuscrito um objeto muito belo, porém muito pouco prático. Há numerosos erros no texto que não foram corrigidos e outros indícios dão testemunho do frágil compromisso com a exatidão do conteúdo: linhas demasiadas grandes freqüentemente eram completadas nos espaços livres da linha de cima ou de baixo e os números de capítulo, necessários para poder usar as tábuas canônicas, não foram colocados nas margens das páginas. Em geral, nada foi feito que pudesse perturbar a beleza formal das páginas: priorizou-se a estética, ao invés da utilidade

- Santos Ortodoxos e Ortodoxia.
- São Jorge- Origem www.uoleducação.com.br
Nascido no século III na Capadócia, região da atual Turquia, Jorge mudou para a Palestina ainda criança. Na adolescência, iniciou a carreira militar e logo foi promovido a capitão do exército romano. Aos 23 anos passou a fazer parte da corte imperial, exercendo a função de Tribuno Militar. Ao ter conhecimento dos planos do imperador Diocleciano de matar todos os cristãos, revoltou-se.
Jorge distribuiu toda a sua riqueza aos pobres e permaneceu fiel a fé cristã. O imperador mandou matá-lo no dia 23 de abril de 303. Os relatos de seu martírio contam que mesmo torturado e forçado a caminhar sobre brasas, Jorge não sentia dor e que não se importou em ser enterrado vivo. A última ação dos soldados foi a de degolá-lo. Dizem ainda que diante de tamanha resistência, a mulher do próprio imperador teria se convertido ao cristianismo.
Os seus restos mortais foram transportados para Lida, cidade onde crescera com sua mãe e ali ele foi sepultado. Mais tarde o imperador Constantino mandou erguer uma igreja para a devoção dos fiéis.
São Jorge é representado como um guerreiro montado em um cavalo branco, enfrentando um dragão com uma espada. Diz a lenda que havia uma pequena cidade turca que era atacada periodicamente pelo animal, se não lhe entregasse uma donzela. Quando chegou a vez de a filha do rei ser sacrificada, o jovem guerreiro matou o dragão e se casou com a princesa.
O túmulo do santo está na cidade de Lida, próxima a Tel Aviv, em Israel, onde foi decapitado. Ele foi escolhido como o padroeiro da Inglaterra, de Portugal e da Lituânia, da Catalunha, de Gênova e de outras localidades no mundo.

- Santa Catarina de Alexandria
(Fonte- Enciclopédia Livre)
Catarina de Alexandria, também conhecido como A Grande Mártir Santa Catarina (do grego ἡ Ἁγία Αἰκατερίνη ἡ Μεγαλομάρτυς) é uma santa e mártir cristã que se alega ter sido uma notável intelectual no início do século IV. Passados 1.100 anos, Joana d'Arc disse que Santa Catarina apareceu-lhe várias vezes. A Igreja Ortodoxa a venera como uma "grande mártir", e na Igreja Católica, ela é tradicionalmente reverenciada como um dos Catorze santos auxiliares.
Vida
Catarina nasceu na cidade egípcia Alexandria e cresceu como uma pagã, mas em sua adolescência converteu-se ao cristianismo. Diz-se que ela visitou seu contemporâneo, o imperador romano Maximiano, e tentou convencê-lo do erro moral na perseguição aos cristãos. Ela conseguiu converter a Imperatriz, esposa de Maximiano, e muitos pagãos que o Imperador enviou para disputar com ela.
Conversão
Numa visão, Catarina foi transportada para o céu, encontrou-se com o menino Jesus e a Virgem Maria e, em êxtase, casou-se misticamente com Cristo, convertendo-se ao Cristianismo. Ela tinha , na época, dezoito anos de idade.
A Condenação
Foi então à "presença do imperador romano Maximino Daia, que perseguia violentamente os cristãos, censurando-o por sua crueldade. Apontou a limitação do imperador, por ser pagão, e afirmou que o seu Deus era o único realmente vivo e o seu Rei era Jesus Cristo".
O imperador mandou prendê-la no cárcere até que viessem os 50 maiores sábios do mundo e a humilhassem por causa da sua argumentação aparentemente simples.
Quando chegaram, os sábios riram-se do imperador por tê-los convocado para contra-argumentar com uma simples garota. Porém, o imperador os advertiu que, se conseguissem convencê-la, ele os presentearia com os melhores bens do mundo; mas se não conseguissem, ele os condenaria à morte. Catarina foi tão plenamente sábia nas suas colocações e argumentos que mesmo perante esta ameaça os sábios não conseguiram convertê-la aos ídolos. Pelo contrário, vencidos pela eloqüência de Catarina, converteram-se ao cristianismo. Frustrado, o imperador mandou prender e torturar Catarina na masmorra. Visitada na prisão pela esposa do imperador e pelo chefe de sua guarda, Catarina os converteu, fazendo o mesmo com inúmeros soldados. Mais enfurecido ainda, o imperador mandou assassinar os sábios e sua esposa, lançou os guardas aos leões no Coliseu" e condenou a Santa à morte lenta na roda (instrumento de tortura que mutilava e causava grande sofrimento). Mas quando foram amarrar Catarina na roda, ela fez o sinal da cruz e a roda quebrou. Ao determinar sua execução, apareceu-lhe o Arcanjo Miguel para confortá-la e Catarina rezou suplicando que, em nome do seu martírio, Deus ouvisse as orações de todos aqueles que a ele recorressem e que tudo obtivessem por sua intercessão. Por fim, Catarina de Alexandria morreu decapitada mas ao invés de sangue saiu leite; por isso, as mães que amamentam recorrem também à sua intercessão.
O corpo de Catarina desapareceu milagrosamente, sendo transportado por anjos para o topo de Jebel Katerina, o pico mais alto da península do Sinai. Três séculos mais tarde, o seu corpo, incorrupto, foi encontrado por monges e levado para o Mosteiro da Transfiguração, onde algumas das suas relíquias e o seu nome ficaram até hoje.
Foi ouvindo a voz de Santa Catarina que Joana d'Arc encontrou a espada que usaria em sua missão e que mudaria a história da França. Junto de Santa Margarida e do Arcanjo São Miguel, era uma das vozes que falavam com ela e a instruíram na sua missão de salvar a França.
Santa Catarina é considerada padroeira dos estudantes, filósofos e professores e também invocada pelos que trabalham com rodas e contra acidentes de trabalho. No Brasil, é a padroeira principal do Estado e da Ilha de Santa Catarina e co-padroeira da Catedral metropolitana de Florianópolis.
- São Cipriano –
(Fonte – Enciclopédia Livre)
São Cipriano era filho de pais pagãos muito ricos. Nasceu em 250 d.C. na Antioquia, região situada entre a Síria e Arábia, pertencente ao governo da Fenícia. Desde a infância, Cipriano foi induzido aos estudos da feitiçaria e das ciências ocultas como a alquimia, astrologia, adivinhação e as diversas modalidades de magia.
Após muito tempo viajando pelo Egito, Grécia e outros países aperfeiçoando seus conhecimentos, aos trinta anos de idade Cipriano chega à Babilônia a fim de conhecer a cultura ocultista dos Caldeus.
A Conversão Cristã
Vivia em Antioquia a bela e rica donzela Justina. Seu pai Edeso e sua mãe Cledonia, a educaram nas tradições pagãs. Porém, ouvindo as pregações do diácono Prailo, Justina converteu-se ao cristianismo, dedicando sua vida as orações, consagrando e preservando sua virgindade.
Um jovem rico chamado Aglaide apaixonou-se por Justina. Os pais da donzela, agora já convertidos à fé cristã, concederam-na por esposa. Porém, Justina não aceitou casar-se. Aglaide recorreu a Cipriano para que o feiticeiro aplicasse seu poder, de modo que a donzela abandonasse a fé e se entregasse ao matrimônio.
Cipriano investiu a tentação demoníaca sobre Justina. Fez uso de um pó que despertaria a luxúria, ofereceu sacrifícios aos demônios e empregou diversas obras malignas. Mas não obteve resultado, pois Justina defendia-se com orações a Deus e o sinal da cruz. A ineficácia dos feitiços fez com que Cipriano se desiludisse profundamente perante sua fé pagã e se voltasse contra o demônio. Influenciado por um amigo cristão de nome Eusébio, o bruxo converteu-se ao cristianismo, chegando a queimar seus manuscritos de feitiçaria e distribuir seus bens entre os pobres.

Cipriano e Justina de Antioquia sendo martirizados.
As notícias da conversão e das obras cristãs de Cipriano e Justina chegaram até o imperador romano Diocleciano que se encontrava na Nicomédia. Assim, logo foram perseguidos, presos e torturados. Frente ao imperador, viram-se forçados a negar a fé cristã. Justina foi chicoteada e Cipriano açoitado com pentes de ferro, mas não cederam. Irritado com a resistência, Diocleciano ainda lançou Cipriano e Justina numa caldeira fervente de banha e cera. Os mártires não renunciaram e tampouco transpareciam sofrimento. O feiticeiro Athanasio, que havia sido discípulo de Cipriano, julgou que as torturas não surtiam efeito devido a algum sortilégio lançado por seu ex-mestre. Na tentativa de desafiar Cipriano e elevar a própria moral, Athanasio invocou os demônios e atirou-se na caldeira. Seu corpo foi dizimado pelo calor em poucos segundos.
Após este fato, o imperador Diocleciano finalmente ordenou a morte de Justina e Cipriano. No dia 26 de setembro de 304, os mártires e um outro cristão de nome Teotiso, foram decapitados às margens do rio Galo da Nicomédia. Os corpos ficaram expostos por seis dias, até que um grupo de cristãos recolheu e os levou para Roma, ficando sob os cuidados de uma senhora chamada Rufina. Já no império de Constantino, os restos mortais foram enviados para a Basílica de São João de Latrão.

- Teologia da Libertação. Fonte. - www.gotquestions.org
Pergunta: "O que é a Teologia da Libertação?"

Resposta: Em termos simples, a Teologia da Libertação é uma tentativa de interpretar a Escritura através do sofrimento dos pobres. É em grande parte uma doutrina humanista. Tudo começou na América do Sul, na turbulenta década de 1950, quando o marxismo estava fazendo grandes ganhos entre os pobres por causa de sua ênfase na redistribuição da riqueza, permitindo que os camponeses pobres participassem da riqueza da elite colonial e, assim, melhorasse a sua situação econômica na vida. Como uma teologia, tem raízes católicas romanas muito fortes.

A Teologia da Libertação foi reforçada em 1968 na Segunda Conferência dos Bispos da América Latina, a qual se reuniu em Medellín, na Colômbia. A ideia era estudar a Bíblia e lutar por justiça social nas comunidades cristãs (católicas). Já que o único modelo governamental para a redistribuição da riqueza em um país da América do Sul era um modelo marxista, a redistribuição da riqueza para elevar os padrões econômicos dos pobres na América do Sul assumiu um sabor definitivamente marxista. Já que aqueles que tinham dinheiro eram muito relutantes em separar-se dele em qualquer modelo de redistribuição de riqueza, o uso de uma revolta populista (ou seja, dos pobres) foi incentivada por aqueles que trabalhavam mais perto dos pobres. Como resultado, o modelo de Teologia da Libertação estava influenciada pelo marxismo e em causas revolucionárias.


Elogio as Utopias Cristãs.
Um dos mais belos poemas de Fernando Pessoa a meu ver é o poema do Menino Jesus no qual ele desmistifica a figura de Cristo. Contudo deste Cristo Menino do qual trata o Poema.
Fazendo uma homenagem tanto a Fernando Pessoa quanto as Utopias Cristãs presentes, sobretudo na Teologia da Libertação simulei uma continuação deste Poema narrativo como "Poema do Jovem Menino Jesus"
Apresento, portanto o poema original seguido de minha simulação de continuação do poema narrativo em homenagem as utopias cristãs em geral


- Poema do Menino Jesus – Fernando Pessoa –
Num meio-dia de fim de primavera eu tive um sonho como uma fotografia: eu vi Jesus Cristo descer à Terra.

Ele veio pela encosta de um monte, mas era outra vez menino, a correr e a rolar-se pela erva
A arrancar flores para deitar fora, e a rir de modo a ouvir-se de longe.
Ele tinha fugido do céu. Era nosso demais pra fingir-se de Segunda pessoa da Trindade.
Um dia que DEUS estava dormindo e o Espírito Santo andava a voar, Ele foi até a caixa dos milagres e roubou três.
Com o primeiro Ele fez com que ninguém soubesse que Ele tinha fugido; com o segundo Ele se criou eternamente humano e menino; e com o terceiro Ele criou um Cristo eternamente na cruz e deixou-o pregado na cruz que há no céu e serve de modelo às outras.
Depois Ele fugiu para o Sol e desceu pelo primeiro raio que apanhou.
Hoje Ele vive na minha aldeia, comigo. É uma criança bonita, de riso natural.
Limpa o nariz com o braço direito, chapinha nas poças d'água, colhe as flores, gosta delas, esquece.
Atira pedras aos burros, colhe as frutas nos pomares, e foge a chorar e a gritar dos cães.
Só porque sabe que elas não gostam, e toda gente acha graça, Ele corre atrás das raparigas que levam as bilhas na cabeça e levanta-lhes a saia.
A mim, Ele me ensinou tudo. Ele me ensinou a olhar para as coisas. Ele me aponta todas as cores que há nas flores e me mostra como as pedras são engraçadas quando a gente as tem na mão e olha devagar para elas.
Damo-nos tão bem um com o outro na companhia de tudo que nunca pensamos um no outro. Vivemos juntos os dois com um acordo íntimo, como a mão direita e a esquerda.
Ao anoitecer nós brincamos as cinco pedrinhas no degrau da porta de casa. Graves, como convém a um DEUS e a um poeta.
Como se cada pedra fosse todo o Universo e fosse por isso um perigo muito grande deixá-la cair no chão.
Depois eu lhe conto histórias das coisas só dos homens. E Ele sorri, porque tudo é incrível. Ele ri dos reis e dos que não são reis. E tem pena de ouvir falar das guerras e dos comércios.
Depois Ele adormece e eu o levo no colo para dentro da minha casa, deito-o na minha cama, despindo-o lentamente, como seguindo um ritual todo humano e todo materno até Ele estar nu.
Ele dorme dentro da minha alma. Às vezes Ele acorda de noite, brinca com meus sonhos. Vira uns de pena pro ar, põe uns por cima dos outros, e bate palmas, sozinho, sorrindo para os meus sonhos.
Quando eu morrer, Filhinho, seja eu a criança, o mais pequeno, pega-me Tu ao colo, leva-me para dentro a Tua casa. Deita-me na tua cama. Despe o meu ser, cansado e humano.
Conta-me histórias caso eu acorde para eu tornar a adormecer, e dá-me sonhos Teus para eu brincar.


Jovem Menino Jesus. – Continuação – Ivan da Silva Poli. (Osunfemi Elebuibon)
Na primeira juventude ao sairmos escondido das beatas que louvavam sua divina imagem, para as festas ciganas o menino se apaixona pela vida.
Apaixonado pelos sonhos dos homens que lhe levariam um dia à própria Paixão, respondia ao som dos ventos que lhes contavam estes sonhos.
Respondia em silêncio, através dos olhos das almas que lhe louvavam na busca destes sonhos. Amava a dança e os movimentos das saias daquelas mulheres ciganas que dançavam faziam lhe lembrar o curso do Universo.
Percebia este Universo em cada homem o que lhe fazia se encantar cada vez mais com a vida e as possibilidades de felicidade mundanas dos homens.
Os barulhos das alegrias dos corações humanos lhe povoavam a mente como breves pensamentos que ao que abrirem se em um sorriso fronte o despertar do dia esta era sua voz em seu diálogo diário com o Sol dos Pagãos.
Algumas vezes ficava triste com as paixões humanas e o ódio que aqueles sedentos de poder sentem dos mais fracos. Tão triste que vertiam lhe lágrimas dos olhos que se uniam ao curso do Atlântico, que não era o mesmo Atlântico que banhava o porto de suas ilusões, mas sim o dos descobridores que o desbravaram muitas vezes embriagados por estas mesmas paixões.
Sentia de perto pulsar do coração das mulheres como um canto de hostes divinas e achava incrível o dom da maternidade e cantava louvores aquelas filhas de Santa Sara Kali que cuidavam de seus rebentos pela maravilha de serem mães da Terra, que mesmo como Deus, este era um privilégio que lhe tinha sido negado.
Púbere, seduziu as míticas sereias que iludiam os homens a partir de suas próprias ilusões, pois amava os sonhos de todos os seres e foi o marido de todas elas para a eternidade com seus votos de eterna luxúria da alma que era a poesia presente no amor dos seres da qual se alimentava.
Em tais festas, ébrio de amor pela Humanidade, peregrinou dentro dos medos e receios dos homens pelos caminhos do Mundo, e se tornou filho dos Orientes mais exóticos em busca de respostas que já tinha.
Enfrentou no caminho nos desertos das almas dos homens, o maior de todos os demônios, que era o seu próprio Ego de filho de Deus com quem lutou em batalha épica.
Desbravou caminhos desconhecidos e carregou o fardo dos sofrimentos de todos os homens e livrou lhes todos da culpa divina que sentiam pelo o que na verdade não tinham feito e eram na verdade inocentes.
Enamorou-se de toda Humanidade, e todos os homens foram seus irmãos e as mulheres suas mais veneradas esposas. Seu desejo conversava e falava a língua das utopias dos Homens e se realizava a cada oprimido que se liberava da opressão.
Um dia pega naquele primeiro raio de sol no Oriente o caminho de volta a sua aldeia que fica em todos os lugares do mundo às margens de todos os oceanos e ao pé de todas as montanhas na beira de todos os vales dos rios que sustentam todas as civilizações.
Era dia de festa como aquela das ciganas de sua juventude, e todos comemoram retorno daquele que saiu na busca da maior verdade, ainda quase menino.
Neste momento toda humanidade que estava presente nesta festa se embriaga com o vinho em uma verdadeira comunhão de todos os povos, ao que diz o jovem: - Este vinho (que os homens se embriagam na comunhão entre os povos) será meu sangue.
Daí em diante, inspirados pelas suas diversas Utopias, os homens compartilharam nesta festa eterna daquele pão que nunca mais faltou em suas mesas, ao que o jovem diz: - Este pão ( filho da utopia dos homens que não mais lhes faltará à mesa ) é meu corpo.
Ao fim da Festa o jovem mergulha no reflexo da lua nas águas da eternidade dos sonhos humanos entoando o hino de Aruanda dos pretos Velhos para seguir sua Paixão e seu Destino em nome da Humanidade.
Desde então não fora mais visto sozinho, pois vive agora para sempre nos sonhos de todos os homens.

Laicidade e Educação.

Dentro deste capítulo que conclui esta obra definimos o conceito de Utopia a partir da Obra de Thomas Morus brevemente, falaremos de utopias contemporâneas, abordaremos o Socialismo Utópico e o Socialismo Científico brevemente e o conceito de Laicidade, A Utopia que deve permear as religiões. A visão de humanidade da Laicidade. O Combate aos abusos religiosos. Só o Estado Laico garante a Liberdade Religiosa. Laicidade e Humanização das Religiões. Concluímos com o Poema de Elogio à Laicidade através dos Tempos.

- A Utopia de Thomas Morus. – www.uoleducacao.com.br
Utopia é uma palavra frequentemente usada em português e em outras línguas para designar uma sociedade ideal, embora de existência impossível, ou uma ideia generosa, porém, impraticável. Enfim, uma quimera ou fantasia. Muita gente sabe que esse termo designa também a obra escrita por Thomas More ou Tomas Morus (1478-1535), onde o pensador e estadista inglês imagina uma sociedade perfeita.

No entanto, pouca gente leu ou conhece a obra de More - que é também um santo da Igreja católica - a que faz referência ao usar o seu título como vocábulo. Vale a pena começar analisando o próprio nome da obra, que se origina do grego: "u" é um advérbio de negação e "tópos" significa lugar. "Não lugar", portanto, ou lugar inexistente, é o modo irônico com que o pensador batizou sua sociedade perfeita.


Tradição platônica
A ideia de Morus de criar uma sociedade imaginária vem de uma tradição que remonta a Platão (427-347 a.C) na obra "A República". Outras obras se filiam a essa mesma tradição, como é o caso de "A Cidade do Sol", escrita em 1602 pelo italiano Tommaso Canpanella (1568-1639), ou ainda "Walden 2", publicada em 1948, pelo psicólogo B. F. Skinner (1904-1990), o fundador do behaviorismo.
A "Utopia", de More, divide-se em dois livros: o primeiro, de caráter negativo faz a crítica à Inglaterra da época em que o autor vivia; o segundo, em contraponto, apresenta uma sociedade que lhe é alternativa. Em ambos os livros, Rafael Hitlodeu - personagem que é o "alter-ego" de More - narra sua viagem a Utopia e descreve a sociedade que viu.

Como se disse, a primeira parte é de crítica a uma Inglaterra em que os camponeses estão sendo expulsos do campo para as cidades, onde há bandos de ladrões e uma justiça cega, porém cruel, a realeza ávida de riquezas e sempre pronta para a guerra, sem falar nas perseguições religiosas. Essas regras são invertidas na República de Utopia.



Tolerância e paz
No âmbito religioso, por exemplo, não se pode prejudicar ninguém em nome da religião. A intolerância e o fanatismo são punidos com o exílio e a servidão. O povo pode escolher suas crenças e vários cultos coexistem em harmonia ecumênica.

Da mesma maneira, More/Hitlodeu descrevem os benefícios da paz e os horrores da guerra - numa crítica direta às guerras travadas por Henrique 8º por ganânica ou por paixão pela glória militar. Nesse sentido, mostra-se como o interesse da comunidade é sacrificado pela paixão dos príncipes pela guerra, que só enriquecerá os nobres e os novos proprietários (burguesia).

Enquanto isso, o povo, cada vez mais oprimido pelo trabalho incessante, precisa manter o exército, a corte e uma multidão de ociosos. A sede de dinheiro dos reis, dos nobres e dos grandes burgueses cria a miséria da maioria, alarga cada vez mais o abismo entre as classes sociais, transforma os juízes em carrascos e as penas em castigos pavorosos.

Em Utopia, naturalmente, nada disso existe, ou melhor, existe o contrário disso, numa República em que o Parlamento zela pelo bem do povo, o qual descobre que a propriedade individual e o dinheiro são incompatíveis com a felicidade.



Utopias contemporâneas
A ideia de uma sociedade igualitária subjacente à obra de Morus inspirou os socialistas do século 19, como Pierre Proudhom (1809-1865), Charles Fourier (1772-1837), Robert Owen (1771-1858) e Saint-Simon (1760-1825), a quem Karl Marx (1818-1883) chamou de "socialistas utópicos", contrapondo-se a eles com a criação de um suposto "socialismo científico".
O bem comum, a divisão do trabalho e a propriedade privada
Um dos pontos principais de Utopia é a preocupação com o bem comum ao qual se submete o bem individual. Para tanto, os utopianos preferem a divisão dos bens entre todos, pois acreditam que isso garantiria a abundância para todos e não a concentração de riquezas nas mãos de um grupo pequeno. Diz Morus:
"É minha convicção firme que uma distribuição segundo critérios de equidade ou uma planificação justa das coisas humanas não é possível sem eliminar totalmente a propriedade privada. Enquanto ela subsistir, estou convencido de que há de continuar sempre a haver, entre grandíssima parte da humanidade e entre a melhor parte dela, o fardo angustiante e inelutável da pobreza e da miséria." (MORVS, 2006, p. 479).
Por meio da divisão do trabalho, todos trabalhariam apenas o necessário para garantir o bem geral, pois do mesmo modo que ninguém trabalharia para outra pessoa, ninguém poderia se esquivar da sua responsabilidade. Até os viajantes deveriam trabalhar antes de serem alimentados. Em caso de haver produção além da necessidade de consumo, as horas de trabalho seriam reduzidas. A esse respeito, diz Morus:
"Se todos trabalhassem, a carga horária diminui para todos. Havendo seis horas apenas para trabalhar, [...] esse tempo é suficiente para produzir bens abundantes que bastem para as necessidades e que cheguem não apenas para remediar, mas até sobrem" (MORVS, 2006, p. 507).
Socialismo científico.

Socialismo Científico foi um projeto social que buscava formas para superar as dificuldades sociais que se agravavam na Europa, decorrentes da Revolução Industrial.
O Socialismo Científico, criado por Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895), foi assim chamado devido à base científica com que formularam sua doutrinas, partindo de análises sobre a evolução do homem, da história e dos mecanismos de exploração capitalista.
As ideias básicas do socialismo científico revolucionaram as concepções socialistas do século XIX e XX e encontram-se em algumas das principais obras de Marx, como Manifesto Comunista, O Capital e a Crítica de Economia Política.
Socialismo Utópico
O Socialismo Utópico, assim chamado por Marx e Engels, concebia uma igualdade social sem levar em conta as dificuldades e sem apontar os caminhos viáveis para se conquistá-las.
Os socialistas utópicos, entre eles, Saint-Simon, Charles Fourier, Robert Ower e Joseph Proudhon, criticavam a sociedade capitalista, mas tinham uma visão superficial das verdadeiras causas dos conflitos sociais. Apenas desejavam uma sociedade não capitalista, onde homens e mulheres viveriam em harmonia, sem competir entre si.
Socialismo e Capitalismo
O socialismo pregava a criação de um novo sistema econômico e social, onde os meios de produção pertenciam aos trabalhadores. Esse sistema nasceria com a desagregação do capitalismo, que segundo Marx e Engels, não duraria para sempre.
Enquanto no capitalismo a sociedade era dividida em duas classes sociais, a dos dominantes (os donos dos meios de produção) e os dominados (os que não tinham posse e se sujeitavam aos exploradores), na sociedade socialista, o Estado continuaria existindo não mais como instrumento de defesa da classe dominante, mas como guardião e defensor dos interesses coletivos.
Com o fim das desigualdades sociais e consequentemente dos conflitos de classes, não haveria mais necessidade do Estado. Isso significa que, para Marx, o socialismo era uma etapa de transição para se atingir o sistema comunista. Nesse novo sistema, a comunidade seria responsável pela produção e pela administração dos bens.
- Laicidade - O que é Laicidade:
Laicidade é um substantivo feminino que designa a qualidade de algo ou de alguém que é laico. A laicidade corresponde a uma doutrina ou um sistema político que defende a exclusão da influência da religião no estado, na cultura e na educação. A laicidade é uma característica da grande maioria dos países.
A laicidade sofreu uma expansão com a Revolução Francesa e teve como consequência a separação entre a Igreja e o Estado. Por esse motivo, a laicidade é centrada na cultura e no ensino. Alguns autores afirmam que em alguns casos, a laicidade originou a irreligiosidade, e muitas vezes a anti-religiosidade, que muitas vezes culminam em manifestações contra algumas religiões, como o catolicismo, por exemplo.
Muitos dicionários classificam o laicismo como um sinônimo de laicidade, pois ambas as expressões se referem a alguma coisa que é laica. Apesar disso, alguns estudiosos defendem que os dois termos são distintos, sendo que o laicismo se refere ao conceito de ausência de interferência de uma ordem religiosa em matérias do Governo; e a laicidade diz respeito ao sistema político em si, que determina que o Estado seja laico ou secular.
A laicidade de um Estado não significa que ele é contra a religião, significa que as decisões administrativas do país são tomadas pela classe política e não pela classe religiosa. Aliás, uma das tarefas do Estado Laico é garantir que existe liberdade religiosa, e que não há religiões com mais regalias e benefícios a nível legal. De igual forma, a laicidade de um país concede o direito ao cidadão de ter ou não uma fé religiosa, sendo que essa escolha não pode ser motivo de discriminação.
- A Utopia que deve permear as religiões.
A idéia que esta obra traz em sua conclusão ao falar em Utopia é que é fundamental que esta Utopia deve permear as religiões para que a Humanidade atual não se autodestrua com a influência do Espírito do Capital que é a predisposição de acumular capital como um fim em si mesmo.
Só estaremos livres do caos que este Espírito do Capital traz a Humanidade quando todos os pensamentos filosóficos e religiosos estiverem permeados pelo conceito de Utopia presente a partir de Morus e que conheceu sua evolução através dos tempos a partir do conceito de Socialismo Utópico.
Georges Balandier em sua obra "A Desordem, Elogio do Movimento" basicamente nos comprova que a Humanidade passa por períodos de Ordem e desordem e que os períodos de desordem dependendo da forma como forem vivenciados podem conduzir a uma ordem mais perfeita que se sucederá a um novo período de desordem que se sucederá a um período de ordem mais perfeita e assim se alternando através dos tempos.
Atualmente o mundo passa por um momento de desordem, sobretudo de seu sistema econômico (com a crise do capitalismo) que mostra sinais de esgotamento de modelo.
Segundo o autor a humanidade normalmente reage a estes momentos de desordem de três formas.
- A resposta total ou conservadora
- A resposta religiosa ou da ordem do sagrado
- A resposta pelo movimento (do afrontamento com as tradições vigentes)
Vemos nesta onda conservadora atual em todo mundo com a ascensão da extrema direita em diversos lugares do mundo esta resposta total ou conservadora que o mundo já vivenciou no século XX no que culminou nas experiências do Nazismo e fascismo.
Igualmente conservadora há também uma resposta religiosa que vemos também na natureza de determinados radicalismos religiosos que vivenciamos atualmente em diversos lugares do mundo e que de certa forma em outro grau o mundo ocidental viveu nos momentos de desordem da Idade Média.
Contudo também é possível a resposta pelo Movimento e afronta às tradições que tivemos exemplo no Ocidente com o Advento do Movimento Modernista nas Artes na primeira metade do século XX que teve seu desdobramento, sobretudo após o fracasso da resposta totalitária que lhe foi concomitante e que foi na segunda metade deste mesmo século XX.
As transgressões do movimento Modernista transformaram o pensamento do século XX e foram as precursoras da revolução dos costumes dos anos 60.
Atualmente transgredir e agir pelo movimento pode ser aliar o pensamento filosófico e religioso às Utopias para que independentemente de linha filosófica que estejamos influenciados trabalhemos pela ruptura e renovação de nosso sistema econômico e social atual que passa por seu esgotamento.
- A visão de humanidade da Laicidade.
A Laicidade através dos tempos mostra em si uma visão de Humanidade e Ética Universais que devem estar presentes em todas as linhas filosóficas e religiosas.
O homem laico não se vê diferente dos demais por suas posições filosóficas ou religiosas e em primeiro lugar se guia ao invés de dogmas pela ética e não raro tem uma tendência a se guiar pelas emoções de forma mais acentuada, pois ao não se guiar por dogmas pré estabelecidos, suas emoções afloram e se mostram mais presentes dos que através dos dogmas se guiam por um suposto dever.
Humano, é desta forma que se definem os homens na Laicidade antes de tudo.
Amor à Humanidade indistintamente, esta é sua pátria e Religião.
Ética, este é seu dogma.
- Combate aos abusos religiosos.
A Laicidade se faz importante institucionalmente como nos mostra a história para o combate dos abusos e atrasos sociais que podem trazer dogmas religiosos.
Imaginem o que seria da Ciência se ainda acreditássemos que a Terra é o Centro do Universo, e que é achatada.
Imaginem se acreditássemos que alquimistas (cientistas) fossem bruxos a serem queimados.
Imaginem se as heresias medievais ainda tivessem peso institucional em nossas sociedades.
Só a laicidade pode combater tais abusos frutos do dogma religioso que sabemos bem do que foi capaz através dos tempos e ainda é capaz hoje em dia.
- Só o Estado Laico garante a Liberdade Religiosa.
Em uma sociedade plural, sobretudo na qual certas minorias expressam determinada fé só o Estado Laico garante a Liberdade Religiosa e a convivência entre as diversas religiões existentes em uma sociedade.
A visão do Humano antes de tudo estando acima de prováveis dogmas que possam questioná-la garante a liberdade de culto e crença a minorias que sofrem perseguição religiosa ou são vítimas de intolerância por razões de abusos de fundamentalismos religiosos.
- Laicidade e Humanização das Religiões.
Mais uma vez, colocando que a Laicidade valoriza o Humano antes de tudo somente esta visão pode humanizar as religiões se sobrepondo a dogmas desta ou daquela religião que possam colocar em risco tal premissa básica ao convívio humano.
A Laicidade humaniza as religiões ao passo que estas considerem que seus adeptos antes de pertencerem a este ou aquele grupo fazem parte de uma mesma Humanidade que tem o direito de se expressar em suas diversas formas de pensamento sem ferir os direitos básicos da Declaração dos Direitos Humanos e o próprio conceito de Humanidade como um todo por nenhum dogma que esteja presente nesta mesma religião.
- Poema de Elogio à Laicidade através dos Tempos.
Senhor,
Hoje não te pedirei pelos santos,
Nem tampouco pelos castos e fiéis,
Nem te agradecerei por todos os milagres que não tenho dúvida que fizestes em minha vida
Nem por toda felicidade que me possibilitou ter no caminho que me conduziu.
Não te pedirei fé, nem inspiração nos que creram em ti.
Te pedirei que abençoe sim, aqueles que duvidaram de ti ,
Quando homens matavam em teu nome,
Quando homens promoviam o caos social em teu nome,
Quando homens exploravam uns aos outros por sua boa fé, em teu nome,
Quando homens deixaram de se ver como filhos de uma mesma Humanidade em teu nome.
Peço que abençoe àqueles que duvidaram de tudo isso
Que através do Progresso Intelectual revolucionaram e combateram dogmas que destruíam esta Humanidade.
Que através de sua crença na Utopia se igualaram todas as crenças na ética dos laicos que foi a guia de sua fé.
Abençoa aquele que duvidou quando em teu nome oprimiam corações e mentes e as enchiam de culpa.
Abençoa aquele que provou a mentira dos vendilhões dos templos através dos tempos.
Abençoa aquele que o fez não por querer atingir um céu e um paraíso, mas porque via somente Humanidade em todos os seres.
A mesma Humanidade de que se é filho dentro do que falava a lei Natural e Primitiva.
Abençoa aquele que não me distingue se sou do povo da Cruz, da Lua Crescente, da Estrela de Davi ou qualquer outro credo.
Abençoa aquele que duvidou de paraísos exclusivos
Abençoai a todos Hereges, Magos, Bruxas e Transgressores que transformaram nossa visão.
Abençoa aquele que denunciou as cartas de indulgência
Por ter já em seu coração toda indulgência e considerar-se irmão de toda Humanidade.
Abençoa os que transgrediram os dogmas e a lei que contrariavam sua própria Humanidade e assim transformaram a sociedade que viveu.
Abençoa os que em nome desta Utopia, duvidaram dos opressores, dos charlatões, que mostraram que o eu humano é maior que qualquer dogma.
Abençoa Senhor a todos estes descrentes que mais que oram para a Humanidade através de sua ética que não permite que o dogma oprima consciências ou as transforme na morada da culpa.
E em nome destes Nobres Seres Humanos,
Faz de mim e de todos nós muito mais que divinos na dimensão das crenças e descrenças que nos dividem,
Fazei de mim e de todos nós a partir de nossos sonhos que nos unem uma mesma condição em nossas crenças e descrenças simplesmente e igualmente Humanos.
Ivan da Silva Poli (Osunfemi Elebuibon)
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