O Design como Ferramenta de Inclusão da Pessoa Autista

June 24, 2017 | Autor: Gabriel Balbinot | Categoria: Design, Autism Spectrum Disorders, Inclusion, Inclusão, Autismo, Design gráfico
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APS – Atividade Prática Supervisionada 2




APS – Atividade Prática Supervisionada




O DESIGN COMO FERRAMENTA DE INCLUSÃO DA PESSOA AUTISTA
Gabriel Balbinot Rodrigues
Design Gráfico 2015/01 – Faculdade da Serra Gaúcha


Professor Supervisor da APS
M.ª Angie Finkler
Resumo
Através da análise da condição do autismo, tendo como base livros e artigos científicos que definem as características autistas, este trabalho busca conceituar essa condição, bem como, apresentar soluções para as limitações dos mesmos através de ferramentas desenvolvidas pelo design de produto, bem como, aplicativos e softwares que atuam como facilitadores da comunicação. Do mesmo modo, o artigo visa apresentar obras desenvolvidas por autistas como pinturas e filmagens. Tomando como base os dados analisados, fica clara a importância da família no desenvolvimento da criança portadora da condição, bem como o acompanhamento profissional, que através do diagnóstico correto, proporcionam maior possibilidade de desenvolvimento nas áreas da cognição, socialização e comunicação através das ferramentas apresentadas.
Palavras-chave: Autismo. Inclusão. Design. Asperger.



1 INTRODUÇÃO

Este trabalho, através da análise de dados e definições, obtidas através de artigos científicos e literatura especializada, busca apresentar soluções para a limitação enfrentado na interação social da pessoa autista para com outro indivíduo, para que isso seja possível, se faz necessária a divisão do mesmo em partes, que tem como objetivo direto a melhor compreensão do assunto abordado mesmo por aqueles que não tenham nenhum conhecimento sobre a condição ou sobre design e suas vertentes, sem deixar de cumprir todo o rigor necessário para a confecção de uma obra de nível acadêmico.
A primeira parte se dará não só na identificação da condição, bem como nas suas divisões e características que cada grupo do espectro que um portador de autismo pode vir a apresentar, dentre elas, se destacam ao longo do conteúdo a síndrome de Asperger e o autismo clássico, variações nas quais se enquadram dois dos casos apresentados posteriormente neste trabalho.
A segunda parte, tem como objetivo, apresentar ao leitor de que modo o design de produto pode ser usado para facilitar o dia a dia da criança autista e como as mesmas podem também facilitar o seu aprendizado e desenvolvimento social. Essas ferramentas desenvolvidas por designers buscam, como foco central, aprimorar as capacidades através da experimentação, tanto de modo pessoal, como em grupos, aproveitando assim para melhorar também o potencial de interação dessas crianças.
A terceira parte irá apresentar o trabalho de design gráfico, sejam eles através da elaboração de sites ou de pinturas de telas, desenvolvido por pessoas autistas ou com a intenção de apresentar o seu ponto de vista para o leitor deste artigo, já que o mesmo não tem como objetivo tão somente a apresentação de formas de facilitação da vida do portador do espectro autista, mas também o outro lado da situação mostrar para aqueles com quem o autista convive ou se interessam por seu mundo de forma geral, uma pequena parte que nos é acessível do "mundo" onde o autista vive, ou o potencial que os mesmos podem manifestar quando a condição é acompanhada pela síndrome de Savant, que apesar de se tratar de algo separado do autismo, costuma ser confundido dado o fato de que, segundo pesquisas (como isso ainda está sendo pesquisado e debatido, não é senso comum na área, seria interessante citar qual pesquisador, que fonte você usou, etc.) um em cada dez indivíduo portador do espectro autista a possui.
A quarta e última parte será a conclusão deste documento onde, através do material apresentado nos itens anteriores, será dado um veredicto sobre a eficácia do design no bom desenvolvimento da vida da pessoa autista e das formas com que o design de produto pode facilitar o desenvolvimento do portador do espectro autista, durante o período da infância e como o design gráfico é capaz de trazer através de manifestações visuais, podem trazer uma pequena luz dentro da escuridão que, para a ciência, ainda demonstra ser a mente do autista.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 O que é o Autismo

Para se obter o melhor entendimento deste trabalho é essencial que se inicie com a definição do Autismo e quais são suas características.

[...]O autismo é um transtorno global do desenvolvimento infantil que se manifesta antes dos 3 anos de idade e se prolonga por toda a vida. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), cerca de 70 milhões de pessoas no mundo são acometidas pelo transtorno, sendo que, em crianças, é mais comum que o câncer, a Aids e o diabetes. Caracteriza-se por um conjunto de sintomas que afeta as áreas da socialização, comunicação e do comportamento, e, dentre elas, a mais comprometida é a interação social. (SILVA 2012, p. 4).

É uma condição que limita as capacidades de interação de seu portador, mas isso não significa necessariamente que a torne incapaz de interagir com outros ou que ele viva em um mundo completamente isolado onde não existe a possibilidade de acesso.
Essa limitação é dívida em quatro Espectros, desde sua forma mais branda, onde o indivíduo apresenta apenas traços autistas. Para Silva (2012), esse espectro não se caracteriza pelo atraso no desenvolvimento da linguagem e não possui a dificuldade de manter o contato visual do autista típico ou os movimentos estereotipados por eles apresentados, mas na dificuldade em interpretar as dicas sociais relacionadas aos seus interesses específicos, o que pode dificultar sua capacidade de se relacionar.
O Segundo espectro é denominado Síndrome de Asperger, que teve seu nome escolhido por Lorna Wing, em 1981, como homenagem ao pediatra Hans Asperger.

[...]...os indivíduos com síndrome de Asperger, que possuem um conjunto de sintomas de prejuízos na socialização. Mantêm-se solitários em suas atividades, têm dificuldade em compartilhar ideias e interesses, dificuldade em entender o que o outro está sentindo ou pensando. Os interesses são restritos, ou seja, focam em alguns temas.
Apresentam rotinas e rituais, inclusive no discurso, e formas peculiares de conversar. (SILVA 2012, p. 44).

Silva (2012) ainda diz que, pessoas com a síndrome de Asperger, não apresentam atrasos no desenvolvimento e nenhuma forma de retardo mental, mas ainda assim, podem demonstrar grandes dificuldades de aprendizado, pois o portador dessa Síndrome não consegue focar no todo e sim em cada parte separadamente. Um exemplo disso, seria a alfabetização, onde cada letra é um foco de atenção separado, existindo portanto grande dificuldade de focar em cada parte para formar uma palavra, ou seja, juntar as peças para ter a visão do todo.
O terceiro espectro, indivíduos de alto funcionamento com autismo, possuem um grande atraso no desenvolvimento da linguagem, bem como problemas comportamentais e de convivência social. Mesmo com essas limitações, as capacidades de aprendizagem não são prejudicadas. Por fugir da visão padrão de um autista, muitas vezes a própria família acaba não indo atrás de ajuda por achar que a criança é tímida por não manter o contato visual, não falar e preferir brincar sozinho.
O último espectro é o autismo grave que é associado ao retardo mental e a dificuldade de independência. Também é conhecido como autismo clássico que, por sua vez, é o que melhor descreve o do estereótipo do autismo, sendo bem próximo em suas características ao que as pessoas imaginam em seus sintomas e condições.

[...]Crianças com este diagnóstico geralmente apresentam grande dificuldade na interação social. Não fazem contato visual, não conseguem desenvolver relacionamentos apropriados e não tentam compartilhar interesses ou brincadeiras com as outras pessoas. Muitos acabam ficando isolados em seu cantinho e não desenvolvem a linguagem adequadamente. Podem ter grandes dificuldades em se comunicar, mesmo que seja para pedir coisas do seu interesse. Apresentam movimentos repetitivos como balançar o corpo e agitar as mãos. (SILVA 2012, p. 47).

O Autista clássico é, dentre os quatro espectros, o único que pode vir a necessitar de acompanhamento para toda a vida, por que suas limitações são intensas a ponto de fazer com que o mesmo não aprenda as habilidades básicas necessárias para poder viver por conta própria. Na infância, é praticamente impossível a de inserção em uma escola convencional, se fazendo necessária a adaptação, prevista por lei, em espaços específicos para pessoas com necessidades especiais.
O principal motivo para a divisão do autismo em grupos, mesmo que sejam semelhantes o suficiente para que sejam caracterizadas como o mesmo transtorno, se faz ainda mais claro depois de lermos, mesmo que de maneira tão superficial, a definição de seus espectros, pois por possuírem características que as diferenciem entre si, faz com que seja necessário diferentes formas de tratamento e acompanhamento especifico. Em suas formas mais brandas é possível que com auxílio terapêutico e conscientização dos pais, a pessoa autista possa vir a ter a melhor inserção na vida em sociedade. Já em suas formas mais graves, se faz essencial a participação de uma equipe de profissionais capacitados para dar ao portador desta condição as ferramentas necessárias para que a mesma seja capaz de se comunicar e mesmo que de uma forma muito mais limitada, ser inserido no contexto social.
Mesmo não sendo um espectro do autismo, se faz necessário falar da Síndrome de Savant, já que, a mesma está se não diretamente, fortemente ligada ao Autismo.

[...]...cerca de 10% das pessoas com autismo são brilhantes em algumas tarefas. De forma geral, essas potencialidades espetaculares estão relacionadas às áreas de memória, cálculos matemáticos, cálculos de calendários, desenhos, artes plásticas, música, literatura e outras de conhecimentos gerais. Pessoas com tamanha capacidade também podem ser chamadas de savants (sábios, em francês). Os savants são poucos no mundo e apresentam "ilhas" de conhecimento em um cérebro com tantas outras "falhas" ou deficiências. (SILVA 2012, p. 47).

O Autista portador da síndrome de Savant, também faz parte da visão equivocada do autista que acredita que todos ou quase todos indivíduos autistas são gênios e capazes de realizar os feitos mais fantásticos em áreas especificas, como a capacidade de tocar qualquer música, tendo ouvido a mesma apenas uma única vez ou serem capazes de reproduzir em uma tela, com perfeição, a paisagem de uma cidade inteira que nunca visitou tendo sobrevoado a mesma em um helicóptero.

2.2 O papel do design de produto

O design de produto se torna especialmente importante para a inclusão da pessoa deficiente, de modo geral, por ser a área do design que lida diretamente com o desenvolvimento de objetos e ferramentas, que podem ser manipuladas pelas pessoas que fazem parte da rotina do autista e neste caso em especial, da pessoa autista, sem a necessidade da utilização de outro produto para existir este contato, como por exemplo, jogos eletrônicos e outros produtos do design gráfico que necessitam a utilização de um computador para que sejam manuseados, tornando assim uma ferramenta muito mais prática e objetiva.

[...]O design inclusivo tem como objectivo encontrar soluções que não atendam apenas a indivíduos portadores de deficiência permanente, mas que beneficiem o maior número possível de utilizadores independentemente das suas características. (SILVA 2011, p.13 apud STEINFELD, 2004).

Não é possível falar sobre os benefícios do design de produto para a vida da criança autista sem falar sobre o design inclusivo. Esse tipo de design não tem como objetivo exclusivo tornar a vida da pessoa portadora de necessidade especial, seja ela qual for, mais fácil e gerar soluções para as suas dificuldades, mas também procura trazer igualdade para todos os indivíduos, sejam eles portadores de alguma deficiência ou não.

2.2.1. Produtos para Crianças Autistas

Silva (2011) realizou uma pesquisa que avaliou peças de design de produto que incluem brinquedos, mobiliário, suportes de aprendizagem e de desenvolvimento de estimulações. A pesquisa compreende produtos de estimulo visual, auditivo e táctil, de mobilidade, o aumento das capacidades motoras e cognitivas e o desenvolvimento de atividades lúdicas e didáticas.
Dentre os produtos selecionados por Silva (2011) foram selecionados e serão apresentados nesta pesquisa apenas alguns, aqueles que tem relevância ao tema selecionado.









Fig.1 – "Stack a Bug"

(http://www.archive-pt-2013.com/open-archive/1869256/2013-04-12/583b104f7c0454d973097bff2fa1be55 Acesso 25 de Março de 2015)

"Stack a Bug" é um brinquedo desenvolvido pela empresa portuguesa Pimpumplay onde a criança deve empilhar os insetos por ordem de tamanho. O primeiro, que por sua vez é o maior, serve como base e possui um cilindro no centro para facilitar o encaixe das peças.
Segundo Silva (2011), o brinquedo "Stack a Bug" melhora a coordenação motora (equilíbrio, coordenação motora global, coordenação olho/ mão), as capacidades cognitivas (integração sensorial, primeiros exercícios de lógica) e o desenvolvimento afetivo (partilha da atividade, com peças que servem de brinquedos para se relacionar com os outros).


Fig. 2 – SensaRoll

(http://www.thinkingtoys.ie/index.php?route=product/product&product_id=1520 Acesso 25 de Março de 2015)

SensaRoll é um brinquedo planejado para uso em espaços terapêuticos na reabilitação e desenvolvimento das capacidades motoras da criança, o brinquedo possui o recurso adicional de possuir bolas coloridas e desenhos no seu corpo, dando a tudo ainda mais o tom de brincadeira o que facilita e agiliza o processo.
Para Silva (2011) este brinquedo inflável e maleável foi criado para ambientes terapêuticos em que o objetivo é desenvolver a habilidade de marcha, com crianças que manifestam problemas ao nível do desenvolvimento motor. Ele acompanha detalhes feitos com o intuito de motivar ainda mais a criança nas atividades (bolas coloridas, números, etc), tendo como base exercícios de desenvolvimento da coordenação motora.


Fig. 3 – Picco Contrario

(https://www.selecta-spielzeug.de/index.php/selecta/produkte/spiele/mitbringspiele/picco_contrario Acesso 25
de Março de 2015)

Ao contrário do tradicional jogo da memória, Picco Contrario busca ensinar as crianças a relacionar objetos e adjetivos pelas suas diferenças, o que estimula não só a memória pelo fato de ser necessário virar as peças como na versão original, como também a capacidade de associação.
Sobre o jogo Picco Contrario, Silva (2011) diz que as figuras ilustram objetos, ações ou sentimentos experimentados no quotidiano da criança, mas que representam realidades opostas (por exemplo: dia e noite, triste e contente). Assim, pegando em cenas que a criança facilmente referência na sua vida diária, vai-se construindo este conceito de realidades opostas, muito importante para o desenvolvimento do raciocínio lógico.

Fig. 4 – Discos Tácteis

(http://www.topgim.com/products/1380-conjunto-de-discos-tacteis Acesso 25 de Março de 2015)

Conforme Silva (2011) o conjunto Discos Tácteis é um produto que convida a sentir diferentes texturas com as mãos ou com os pés. Além de proporcionar uma ampla variedade de estímulos sensoriais, estes discos apelam a quem os utiliza que descreva verbalmente o que está a sentir. Têm cinco estruturas táteis, cada uma com a sua respectiva cor. As possibilidades de jogar são múltiplas, desde a percepção básica de estruturas táteis aos jogos de memória com os olhos vendados.

Fig. 5 – Geometric Puzzle Board

(http://www.toysrus.com/buy/pegged/geometric-puzzle-board-2430339 Acesso 25 de Março de 2015)

Na definição de Silva (2011) Geometric Puzzle Board é um brinquedo excelente para o desenvolvimento de capacidades de correspondência. Ajuda as crianças a reconhecer cor, forma e dimensão e, principalmente, as formas geométricas básicas.
Como foi apresentado previamente neste trabalho o design de produto foca no desenvolvimento das habilidades que seriam limitados pelas condições impostas pelo autismo em seus espectros, por isso se apresentam na forma de brinquedos, que são atividades simples e que atraem a criança em sua fase de formação, transformando algo prazeroso em um elemento que melhora a qualidade de vida, os sintomas do autismo se apresentam aproximadamente nos 3 anos de idade fase onde o corpo e a mente estão em desenvolvimento o que trás resultados ainda mais expressivos.

2.3 O Papel do Design Gráfico

Como dito por Silva (2012) os Autistas portadores da síndrome de Savant são dotados de capacidades fenomenais de memorização e aprendizagem nas suas áreas de interesse. Essa síndrome pode tornar excepcionalmente talentosos indivíduos que a sociedade considera incapazes e despreparados até mesmo para lidar com as situações mais simples do dia.
Vimos anteriormente que existem graus no espectro autista, que alguns podem ter apenas alguns traços que dificultam sua interação social por serem incapazes de perceber ironia e outros mais severos que não são capazes de levar uma vida dita como normal sem a ajuda e supervisão dos seus pais, porém mesmo estes portadores do autismo clássico são capazes de se comunicar e sensibilizar o mundo através de seu talento.
A seguir serão apresentados dois casos de autistas portadores de espectros diferentes que possuem talentos que quebram o paradigma imposto pela visão de sua deficiência.

2.3.1 Stephen Wiltshire

Stephen Wiltshire é um artista especializado em pintar e desenhar pontos turísticos de forma detalhada e viva, muitas vezes sem ter passado mais do que poucas horas observando a paisagem. Formado pela Fine Art at City & Guilds Art College ganhou em 2006 o título de MBE (Member of the Order of British Empire) por serviços prestados a arte.
Nascido em Londres em 24 de Abril de 1974 foi diagnosticado aos 3 anos com autismo, posteriormente caracterizado como Autista do Espectro Asperger com habilidades Savant, durante sua infância estava sempre calado e não interagia com outras pessoas.
(http://www.stephenwiltshire.co.uk/ Acesso em 24 de março de 2015, tradução nossa).

Fig. 6 –RT London bus on a winters night

(http://www.stephenwiltshire.co.uk/art.aspx?Id=6987 Acesso 25 de Março de 2015)

Dentre suas obras os detalhes que mais impressionam são a fidelidade com as mesmas são feitas, apenas com alguns momentos de observação Stephen é capaz de adicionar detalhes que para muitos podem parecer completamente irrelevante, mas que o tornam um artista tão único, dentre esses detalhes se destacam as placas dos carros, propagandas e números de telefone em outdoors e horários em relógios que são exatamente iguais aos do momento em que ele gravou a cena em sua mente.

Fig. 7 – Panorama de Tóquio

(http://www.stephenwiltshire.co.uk/Tokyo_Panorama_by_Stephen_Wiltshire.aspx Acesso 30 de Março de 2015)

Hoje Stephen vive de sua arte, o quadro Panorama de Tóquio se encontra a venda em seu site assim como dezenas de outras peças também criadas por ele. As mesmas são divulgadas através de exposições realizadas ao redor do mundo.

2.3.1 Carly Fleischmann

Diagnosticada com autismo severo ou clássico, aos 2 anos de idade, a canadense Carly Fleischmann aprendeu a se comunicar com o mundo através do seu computador, pois sua condição é agravada por ser uma autista não-verbal e por possuir muitas limitações motoras.
Durante uma sessão com um de seus terapeutas, Carly começou a se sentir mal, sem ser capaz de se comunicar, caminhou até o teclado e digitou "Ajuda dente dói". Esse foi o primeiro passo para a libertação de sua voz. (http://www.edition.cnn.com/2012/11/14/tech/mobile/carlyfleischmann-mobile-autism/ Acesso em 30 de Março de 2015, tradução nossa).
Carly se tornou famosa mundialmente após o lançamento de seu livro, escrito em coautoria com seu pai Arthur Fleischmann, no ano de 2012. A obra recebeu o título de "Carly's Voice: Breaking Through Autism" e conta sua trajetória de vida, falando das dificuldades de comunicação e demonstrando como aparelhos eletrônicos, em especial os produtos da Apple como o Iphone e Ipad lhe ajudaram a fazer com que o mundo fosse capaz de ouvi-la.
A principal contribuição para o mundo entender melhor as limitações do autista clássico, entretanto não foi seu livro mas sim, um vídeo intitulado "Carly's Cafe" que apresenta um dia na vida de uma pessoa portadora desta condição. O mesmo acontece em um café, onde Carly por sua incapacidade de se comunicar, não pode dizer o que deseja beber, não consegue explicar para o pai aquilo que se passa em sua cabeça e também mostra como pequenos detalhes que, para a maioria passam completamente despercebidos, mas para os autistas, por possuírem em alguns casos capacidades sensoriais mais desenvolvidas, podem ser o causador de uma forte crise, como o barulho do sino de uma porta que avisa da chegada de um cliente ou o som da máquina de café moendo os grãos.

[...]Adivinhem só, o gato saiu da sua caixa. Eu CARLY FLEISCHMANN, alguém definido como não verbal foi aceita em uma Universidade a partir deste outono. Adoraria ver a cara da minha professora do jardim de infância agora. Ela sempre achou que eu não gostasse dela por que nunca a olhava em seus olhos. A moral da história é que todos nós somos capazes. (
https://www.facebook.com/carlysvoice/posts/10151502657387749 Acesso 30 de Março de 2015, tradução nossa).

Hoje com 19 anos, Carly estuda na Victoria College's Bachelor of Arts famosa no Canadá por sua tradição literária, onde cursa jornalismo.
2.3.3 Aplicativos do Design Gráfico

Em seu site, Carly Fleischmann faz recomendações de aplicativos que facilitam a comunicação da pessoa autistas aqueles que fazem parte de sua convivência e que facilitam tanto o trabalho pedagógico quanto o processo de acompanhamento terapêutico.

Fig. 8 – Proloquo2Go

(http://www.assistiveware.com/product/proloquo2go, Acesso 30 de Março de 2015 )

O Aplicativo para Ipad, Iphone e Ipod Proloquo2Go, da empresa americana Assistiveware, apresenta cerca de vinte mil figuras e textos personalizáveis que ajudam na comunicação da pessoa portadora de necessidades especiais. As palavras são separadas em grupos específicos, separados por cores que facilitam a seleção das palavras desejadas, bem como, uma função de sugestão e reorganização de palavras tornando as frases mais claras e objetivas. Também, está presente uma função que permite com que as palavras selecionadas sejam faladas dando ao usuário uma maior sensação de comunicação.

Fig. 9 – iPrompts

(https://itunes.apple.com/br/app/iprompts-pro-leading-visual/id313144705?mt=8, Acesso 30 de Março de 2015)

Criado para ajudar a definir as noções de rotina e ajudar a criança portadora do autismo a ter uma interação maior com o conceito de rotina, o iPrompts da desenvolvedora HandHold Adaptive, disponível para as plataformas Apple, se utiliza de imagens e sons. Além da possibilidade de definição de tempo das atividades, também é possível utilizar uma função que mostra as atividades disponíveis para que o autista escolha qual prefere, montando assim, uma ordem a seu gosto, o que gera menos stress ao longo do seu dia, bem como, uma função de vídeos pré-instalados que mostram ambientes e como as pessoas se comportam nos mesmos, como escola ou livraria.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através dos dados coletados e analisados fica clara a importância da participação e do interesse da família no melhor desenvolvimento da pessoa autista e por consequência a maior interação no meio social. Contar apenas com as ferramentas aqui apresentadas e tantas outras existentes no mercado, não vão surtir o efeito desejado sem que os familiares aceitem as limitações de seus filhos e compreendam que isso não os torna incapazes, mas que através do auxílio de profissionais especializados como psicólogos, psiquiatras e terapeutas, podem a maioria das vezes levar uma vida normal, podendo ir a escola, estudar e até ser completamente independentes.
A maioria das ferramentas, pertencentes ao design de produto, tem como foco o autista ainda na fase da infância por ser possível neste período da vida obter maiores resultados no desenvolvimento motor e intelectual. Muitos destes produtos são adaptações de jogos e brincadeiras comuns na infância de qualquer indivíduo aprimorados para compreender as limitações de seu público alvo.
Dentre os aplicativos apresentados, fica claro que o principal papel do design gráfico se encontra na facilitação da comunicação da pessoa deficiente, através do uso de imagens e associações das mesmas. O auxilio visual que os aplicativos trazem se torna a forma de interação, substituindo com maestria a funcionalidade da fala, tendo em vista que, dependendo do espectro, o portador desta condição é incapaz de se comunicar.
Com o objetivo de apresentar soluções para as limitações da pessoa com essa condição este artigo atinge seu objetivo tendo como mérito adicional a apresentação, mesmo que de forma superficial, as muitas facetas desta condição que para muitos de nós ainda se limita a um estereótipo de uma pessoa incapaz de se comunicar, de pensar por si só, como se o mundo fosse sua própria ilha, trazendo assim uma desmistificação da mesma.

6 REFERÊNCIAS

SILVA, A. B. B. Mundo Singular: entenda o autismo. Rio de Janeiro: Editora Fontanar, 2012. 190 p.

SILVA, C. S. M. R. Design de Produto para Crianças Autistas Lisboa: UTL, 2011. Tese (Mestrado em Design de Produto) Faculdade de Arquitectura, Universidade Técnica de Lisboa.

ARQUIVO PIMPUMPLAY – LOJA ONLINE 12-04-2015. Stack a Bug – Bichinho de Empilhar. Disponível em: < http://www.archive-pt-2013.com/open-archive/1869256/201304-12/583b104f7c0454d973097bff2fa1be55>. Acesso em: 25 de Março de 2015.

THINKING TOYS – SPECIAL TOYS FOR SPECIAL KIDS. SensaRoll – 35cm. Disponível em: . Acesso em: 25 de Março de 2015.

SELECTA. Picco Contrario. Disponível em: . Acesso em: 25 de Março de 2015.

TOPGIM – MATERIAL DESPORTIVO E LAZER. Conjunto de Discos Tácteis. Disponível em: . Acesso em: 25 de Março de 2015.

TOYSRUS. Geometric Puzzle Board. Disponível em:
. Acesso em: 25 de Março de 2015.

THE STEPHEN WILTSHIRE GALLERY. Drawings, paintings and prints. Disponível em: . Acesso em: 25 de Março de 2015.

ORIGINALS. RT London bus on a winters night. Disponível em:
. Acesso em: 25 de Março de 2015.

THE STEPHEN WILTSHIRE GALLERY. Stephen Wiltshire's Tokyo Panorama. Disponível em:
Acesso em: 30 de Março de 2015.

CNN INTERNATIONAL EDITION. How tablets helped unlock one girl's inner voice. Disponível em: . Acesso em: 30 de Março de 2015.

FACEBOOK. Carly Fleischmann. Disponível em:
. Acesso em: 30 de Março de 2015.

ASSISTIVEWARE. Proloquo2Go. Disponível em:
. Acesso em: 30 de Março de 2015.

ITUNES STORE. iPrompts® PRO. Disponível em:
. Acesso em: 30 de Março de 2015.
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