O design no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE): histórico e perspectivas

June 29, 2017 | Autor: Helga Szpiz | Categoria: Service Design, Strategic Design, Design thinking, Design Politics, Sector Public
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SPGD 2015 1º SIMPÓSIO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESIGN DA ESDI Rio de Janeiro 6 e 7 de Agosto de 2015

O design no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE): histórico e perspectivas

Design at the Brazilian Institute of Geography and Statistics (IBGE): history and perspectives

Szpiz, Helga; Mestranda; PPD/ESDI/UERJ [email protected]

Monat, André S.; PhD University of East Anglia; PPD/ESDI/UERJ [email protected] Patrocínio, Gabriel; PhD Cranfield University; IFHT/UERJ [email protected]

RESUMO

O presente artigo pretende investigar a importância do design no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Será traçado um panorama histórico do design na instituição, desde a entrada dos primeiros designers nos anos noventa, até hoje.

Também serão analisados os editais dos concursos em que designers foram contratados. Por fim, será verificado, através da Escada do Design (ferramenta de diagnóstico utilizada para avaliar o uso do design), em que patamar encontra-se o uso do design no IBGE.

Palavras-chaves: história; design; setor público; IBGE.

ABSTRACT

This paper aims to investigate the importance of design at the Brazilian Institute of Geography and Statistics (IBGE). A historical overview of design activities in the institution is outlined since the first designers were hired in the nineties until the present day.

The research also analyzes the public notices concerning the job positions offered to designers. And finally, the "Design Ladder" (diagnostic tool used to evaluate the use of design) is used as a benchmark tool to assess the use of design at IBGE. Keywords: history; design; public sector; IBGE.

Anais do 1º Simpósio de Pós-Graduaçãoem Design da ESDI | SPGD 2015 ISSN

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Introdução

O design tem sido cada vez mais reconhecido como ferramenta importante na esfera pública, o que se dá especialmente por seu foco no usuário, tanto de produtos quanto de serviços. Autores como Thompson e Koskinen (2012) e Patrocínio (2013) apontam para esta tendência, especialmente a partir de experiências bem sucedidas na Europa, na última década.

No Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foi criado em 1986, o Centro de Documentação e Disseminação de Informações (CDDI), localizado no Rio de Janeiro. Essa Diretoria concentra os designers, os produtores editoriais e os profissionais de comunicação da instituição, sendo também um dos principais pontos de contato entre o público e o IBGE. Suas principais atividades são o atendimento ao usuário, a coordenação das bibliotecas setoriais do Instituto e a editoração, impressão e divulgação dos produtos gráficos e editoriais. É composto pela Coordenação de Atendimento Integrado (COATI), pela Coordenação de Marketing (COMAR), pela Coordenação de Produção (COPRO) e pela Coordenação de Projetos Especiais (COPES). Na figura 1, pode-se ver a distribuição dos designers entre as Coordenações e Gerências do CDDI.

Figura 1: organograma do Centro de Documentação e Disseminação de Informações (CDDI). Fonte: adaptado da intranet do CDDI.

Entre 1986 e 1996, a produção de peças gráficas no IBGE era feita de forma não profissional, por servidores que vieram de diversos setores e foram reunidos na Divisão de Promoção (DIPOM) e, posteriormente alocados na Divisão de Criação (DIVIC). Conforme depoimentos dos gestores do CDDI, esses servidores foram deslocados para a área de criação por serem talentosos e criativos e seus principais projetos eram criar cartazes de divulgação das pesquisas e publicações, ilustrações e capas de livro.

No ano de 1996 foi realizado o primeiro concurso público no Instituto, após o advento da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988

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(CRFB/88), que instituiu a obrigatoriedade para a contratação de servidores no setor público. A partir daí, foram realizados até a presente data, seis concursos públicos em que designers foram contratados.

Além de verificar a evolução do design no IBGE, esse artigo pretende investigar sua importância para a instituição. Para essa avaliação, foram consultados os editais de contratação de designers1, bem como uma série de entrevistas realizadas com designers, produtores editoriais e gestores do IBGE em junho de 2015.

Como parte da conclusão, a Escada do Design será utilizada, para identificar em qual dos três estágios de uso do design, a instituição se encontra: 1 design para problemas isolados: 2 - design como capacidade e 3 - design como política.

1 - Os concursos

Durante as entrevistas, os gestores do CDDI afirmaram que já haviam identificado a necessidade de profissionalizar a produção de peças gráficas e de criar uma identidade para a instituição. Também estavam cientes de que não havia na instituição profissionais habilitados para desempenhar essas funções. Por essas razões, solicitaram dois designers no concurso público de 1996. Nesse concurso, no total, foram abertas 92 vagas, conforme previsto no edital 1.

Os passos iniciais para a criação de identidade para a instituição foram a criação do projeto editorial para padronizar as publicações (considerado por muitos gestores e servidores como um marco na história do design na instituição) e o redesenho do logotipo − projetos que foram desenvolvidos pelos designers com a colaboração de servidores da área de criação e também de técnicos de outras áreas. Esses projetos foram realizados entre os anos de 1996 e 1998.

Ainda em 1996, os gestores decidiram divulgar o material do IBGE de forma gratuita. O Instituto foi o primeiro órgão a fazer isso, sob o fundamento de que uma vez que o IBGE é um órgão público e recebe recursos do Governo sob a forma de impostos pagos pelos cidadãos, nada mais justo do que oferecer as informações para a sociedade, sem custos.

Para confirmar as informações acima, segue trecho de entrevista:

E em 96, a gente tomou a decisão, com o advento da internet que veio para o CDDI, de divulgar todo o material do IBGE de forma gratuita na internet. A gente foi também o primeiro órgão que fez isso (...)

Havia um plano de reposição de servidores, prevendo concursos a cada dois anos. Porém, por causa da conjuntura econômica e política do país, só foi possível que novos concursos fossem abertos em 2001 e 2002. 1 Editais do IBGE de números 01/96, 01/2001, A-1/2002, 1/2004, 06/2009 e 03/2013. (Fonte: arquivo CDDI/IBGE)

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Em 2001, ocorreu concurso para preenchimento de 304 vagas de nível superior, sendo 4 vagas destinadas para programadores visuais 2. Dois designers foram alocados na Gerência de Criação (GEC), que foi incorporada à Coordenação de Marketing (COMAR) em 2003. Nessa Coordenação, o trabalho de design é voltado principalmente para a criação e produção de impressos e atualmente há projetos sendo desenvolvidos para as redes sociais. Os outros dois foram convocados para atuar na Gerência On-Line (GEON), que é responsável por desenvolver e manter o site do Instituto.

No ano seguinte, em 2002, foi aberto outro concurso com 376 vagas de nível superior 3. Dessa vez, foram oferecidas 2 vagas para programador visual e 2 para produtor editorial. Um programador visual foi alocado na GEON e outro na Gerência de Editoração (GEDI), aonde foram alocados também os 2 produtores editoriais. A GEDI tem como principais atribuições planejar, coordenar, supervisionar e executar as atividades de editoração dos produtos do programa editorial e gráfico do IBGE, entre outras. Nessa época, a opção por alocar mais designers na GEON se justificou, porque o acesso à internet crescia e por isso, era necessário impulsionar o site do IBGE. Atualmente, um deles encontra-se na GETEC (conforme fig. 1), atuando como gerente de tecnologia.

Em seus depoimentos, os gestores do CDDI afirmaram que estavam preocupados em aplicar as diretrizes de design desenvolvidas no projeto editorial e no redesenho do logotipo em toda a instituição. E para isso, era necessário o conhecimento de designers em setores como a GEON e de designers e produtores editoriais na GEDI. Mais um concurso foi realizado em 2004 para preenchimento de 97 vagas de nível superior, com 2 vagas para programador visual e 2 vagas para produtor editorial 4. Um programador visual foi alocado na GEON e 1 na COMAR e 2 produtores editoriais na GEDI.

Aspecto relevante nesse concurso e que foi confirmado pelos gestores nas entrevistas é que começou a se perceber uma necessidade crescente de investir na internet. Por essa razão, no edital para programador visual, constaram como requisitos: preparação de arquivos eletrônicos e produção de páginas para internet.

O concurso de 2009 ofereceu 350 vagas de nível superior, sendo 2 para programador visual e 2 para produtor editorial. Um programador visual encontra-se na COMAR e outro na GEON e os produtores editoriais estão lotados na GEDI. Nesse ano, percebe-se maior exigência nas atribuições dos cargos para programadores visuais de conhecimentos na área de web, o que demonstra a contínua preocupação da instituição em se adequar ao aumento do acesso às redes sociais e à Internet em geral, como pode-se ver a seguir 5: Idem. Ibidem. 4 Ibidem. 5 Ibidem. 2 3

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....desenvolver projetos de comunicação visual para a web; dominar ferramentas de produção de páginas para Internet (softwares Adobe Photoshop, Flash, Dreamweaver, Fireworks e Illustrator, da plataforma Adobe CS3, animação, digitalização e tratamento de imagens para a Internet); ter conhecimento avançado das linguagens XHTML, CSS e javascript; conhecer as técnicas para a produção de páginas compatíveis com diferentes equipamentos e navegadores, respeitando assim os padrões de acessibilidade exigidos pelo Governo Federal; ter conhecimento de tecnologias "tableless", acessibilidade, "cross browser media" e padrões W3c; e executar outras atividades compatíveis com o cargo.

E para corroborar a intenção dos gestores em reforçar a web, segue trecho de entrevista: Você tem que ter um design bom pra transformar número em informação de forma rápida e isso era fundamental na web (...) hoje... todas as pessoas estão na internet.....

O último concurso realizado pela instituição até o presente momento, ocorreu em 2013, tendo oferecido 120 vagas de nível superior 6, sendo 3 vagas de nível superior para programadores visuais, que foram alocados na GEON, GEDI e COMAR.

2 - Importância do design

Considerando-se o número de designers efetivados e a atual inserção do design na instituição, é inegável que este já faz parte do seu dia-a-dia. Nos depoimentos, tanto os gestores quanto os designers e produtores editoriais afirmaram que consideram o design muito importante não só para o IBGE, mas para todas as empresas e instituições.

Nas entrevistas, nota-se que muitos respondentes disseram que a importância do design reside na imagem de seriedade e confiança que o IBGE transmite para a sociedade, o que se dá principalmente através de seu site, da divulgação de suas pesquisas através da mídia (jornal, TV e outros) e da disseminação das informações (pela internet, pelas publicações e outros). Nesse sentido, seguem depoimentos dos gestores do CDDI:

….O design trabalha na construção da personalidade de uma instituição (…) o usuário vai sempre olhar o IBGE como uma instituição de referência, com compromisso com a sociedade (…) independente de governo, independente de política, independente de crise….. Eu acho que o design, no mundo moderno…..é fundamental. Então, hoje em dia quase todas as atividades estão ligadas ao design (…), portanto em uma área que trate de disseminação, marketing etc., é indispensável ter uma equipe de design.

6

Ibidem.

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3 - Escada do Design

Importa verificar em que medida o design é utilizado pelo IBGE e para isso, existem ferramentas que são utilizadas para fazer esse diagnóstico, tais como a tabela de Alpay Er 7 e a Escada do Design, conforme já mencionado.

Nesse estudo, optou-se pela Escada do Design apresentada no relatório Design for Public Good (2013), por ter sido desenvolvida especificamente para o setor público, dividindo o uso do design dentro das instituições da seguinte forma: •

• •

Degrau 1 - design para problemas isolados - os projetos de design são únicos e o design não está inserido nas organizações. Degrau 2 - design como capacidade - os empregados do setor público não apenas trabalham com designers, mas entendem e usam design por si mesmos; Degrau 3 - design como política - o design é usado como política pelas organizações. O design é visto como processo, desde a política à sua implementação e principalmente, é uma maneira de engajar as pessoas de todos os departamentos da organização nos processos de design.

Figura 2: Escada do Design do relatório Design for Public Good

Ao analisar a produção de design dos últimos vinte anos, os depoimentos já levantados e os desafios que são propostos, nota-se que em relação ao nível de utilização de design, o IBGE encontra-se ainda no degrau 1 - uso de design para problemas isolados, podendo-se afirmar que quase todos os projetos são únicos e que não é muito comum projetos envolvendo equipes compostas por designers e/ou multidisciplinares. Há uma tendência, que ainda não é possível ser confirmada, de maior participação dos designers na elaboração de projetos desde sua fase inicial.

7 Tabela Alpay Er (2002) citada por Patrocínio (2013) em sua tese de doutorado, em que são demonstrados os estágios de desenvolvimento do desenho industrial nas indústrias.

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Está em andamento desde o início do ano, um projeto chamado "Oficina de Relação com o Informante", formado por equipe multidisciplinar em que designers estão participando de sua concepção.

Conclusões preliminares

Como visto, o IBGE tem contratado designers para atuar em várias áreas, a saber: editoração, internet e marketing. Por essa razão, se poderia concluir que o design é considerado ferramenta relevante pela instituição, fazendo parte de seu planejamento para auxiliar no cumprimento de sua missão institucional: "Retratar o Brasil com informações necessárias ao conhecimento de sua realidade e ao exercício da cidadania."

E também de acordo com os depoimentos de gestores, produtores editoriais e designers, o design é relevante para o IBGE. Muitos disseram que o design está na imagem da instituição, no portal e nas publicações.

O que se pode perceber, é que o design ainda não é usado para a resolução de problemas mas, somente para a solução de questões rotineiras, tais como produção de peças gráficas, publicações impressas e digitais e desenvolvimento de sites e aplicativos.

Vale então ressaltar a opinião unânime dos entrevistados de que design é importante para o IBGE e que que ainda há muito o que fazer em termos de design para a instituição. Por isso, é fundamental aproveitar esse potencial para atender cada vez melhor o governo, sociedade e usuários em geral.

Referências

GOLDENSTEIN, L.; ROSSELÓ, P. What’s the Role of Design In Innovation Policy? Qual o Papel do Design na Política de Inovação? Londres: British Council, 2014.

IBGE. Organização. Disponível em: . Acesso: em 14 de junho de 2014. MAGALHÃES, C. F. Design estratégico: integração e ação do design industrial dentro das empresas. Rio de Janeiro: SENAI/CETIQT, 1997.

PATROCÍNIO, G. The Impact of European Design Policies and their Implications on the Development of a Framework to Support Future Brazilian Design Policies (Tese de PhD). Cranfield: School Of Applied Sciences Centre For Competitive Creative Design, Cranfield University, 2013.

RUBINSTEIN, L. O censo vai contar para você: design gráfico e propaganda política no Estado Novo. Rio de Janeiro: Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, e IBGE, Centro de Documentação e Disseminação de Informações, 2007.

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SEE Platform. Design Ladder. In Library of Case Studies. Disponível em: . Acesso em: 28 de abril de 2015.

THOMPSON, M.; KOSKINEN, T. Design for Growth and Prosperity. DG Enterprise and Industry, European Commission. Helsinki: 2012.

WHICHER, A. The value of design to the public sector. Disponível em: . Acesso em: 29 de junho de 2015.

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