O discurso da origem da desigualdade social

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O discurso da origem da desigualdade entre os homens

Desde o princípio, os homens são multifários, e as características multifárias podem ser expressas em diversos elementos, de origem física ou psíquica. Conclui-se então, que existem diferenças entre as pessoas que fazem parte de uma organização social. Por quê?
De acordo com o filósofo suíço Jean-Jacques Rousseau, cada sociedade gera desigualdades específicas, que são o resultado de como tais sociedades organizam-se. Porém, em sua teoria ele não se limita à crítica intrínseca de desigualdades específicas, mas coloca a sociedade como o fator causador da ausência da isonomia.
Rousseau aponta a desigualdade social como fenômeno gerado pela própria sociedade, que faz com que alguém cerque um lote de terra e diga 'isto é meu', e enquanto este o faz, os outros competem. Não é uma condição natural, embora o mesmo citasse desigualdades de origem física e psíquica. O centro no pensamento de Rousseau referia-se à igualdade moral e individual, a qual estabelecia a possibilidade de uma sociedade que tivesse como base a igualdade jurídica de todos os seus membros, porém isso foi sendo eliminado ao decorrer do tempo, por culpa da sociedade, que invade a liberdade do homem. Ainda segundo Rousseau, o homem natural possuía uma característica única, que era exercer naturalmente seus instintos, de forma amoral, existindo assim, poucas desigualdades: idade, saúde e qualidades, estas quais são as desigualdades consideradas 'válidas'. Rousseau, inclusive, utiliza do artifício da 'sociedade' como forma de organizar o homem, pois este é, até o momento que se agrupa com pares seus, um selvagem.
"Pois bem, será preciso destruir as sociedades, aniquilar o teu e o meu, e voltar a viver nas florestas com os ursos? Oh vós, para quem a voz celeste não se fez ouvir, e que não reconheceis para vossa espécie outro destino senão o de acabar em paz esta curta vida; vós, que podeis deixar no meio das cidades vossas funestas aquisições, vossos espíritos inquietos, vossos corações corrompidos e vossos desejos desenfreados, retomai, pois que depende de vós, vossa antiga e primeira inocência, ide para os bosques perder a vista e a memória dos crimes dos vossos contemporâneos, e não receeis aviltar vossa espécie renunciando às suas luzes, para renunciar aos seus vícios." (Jean-Jacques Rousseau. O Discurso da origem e dos fundamentos da desigualdade entre os homens, 1755)
Em contrapartida, o filósofo inglês John Locke, defende parcialmente os interesses burgueses. Mas, como Rousseau, Locke acreditava que todo homem nasce livre, porém para Locke, o homem nasce num estado de paz, altruísmo e preservação individual, em que não existe hegemonia, senão a hegemonia divina e das leis da natureza.
"Um estado de perfeita liberdade para ordenar-lhes as ações e regular-lhes as posses e as pessoas conforme acharem conveniente, dentro dos limites da lei da natureza, sem pedir permissão ou depender da vontade de qualquer outro homem." (John Locke. Segundo tratado sobre o governo, 1689)
O filósofo liberal, Locke, defende 3 premissas: o direito à vida, à liberdade e aos bens. Porém, acima de tudo, Locke defende a propriedade individual sendo um direito de cada ser, que em suma, é a conexão existente entre o homem e as coisas, por meio do processo de trabalho. A tese sustentada por Locke fundamenta-se no fato de que o trabalho é a origem e base da propriedade, tornando assim, as coisas que não passaram por um processo trabalhista, sem valor. Locke, inclusive, se opunha à monarquia absolutista, mas não se opunha ao acumulo de renda, seguindo a premissa de que se o trabalho é uma propriedade individual, o fruto também o será.
Todas estas premissas, idéias e teorias são unificadas em um termo utilizado frequentemente pelo mesmo, enquanto vivo: O estado natural. Segundo Locke, o homem teria abandonado ao decorrer do tempo, o estado natural, e criado uma organização social selada em um pacto de homens igualmente livres, cujo objetivo é a preservação da vida, da liberdade e da propriedade.
"Por essa maneira a comunidade consegue, por meio de um poder julgador, estabelecer castigo que cabe às várias transgressões quando cometidas entre os membros dessa sociedade, que é o poder de fazer as leis, bem como possui o poder de castigar qualquer dano praticado contra qualquer dos membros por alguém que não pertence a ela que é o poder de guerra e de paz e tudo isso para a preservação da propriedade de todos os membros dessa sociedade" (John Locke. Segundo tratado sobre o governo, 1689)
Conclui-se, portanto, que para Locke, a desigualdade é algo 'natural' devido à própria existência social, já que a sociedade evoluiu de forma que abandonou o seu estado natural individualista, tornando a liberdade inexistente.
Muitos economistas contemporâneos acreditam que a solução para a desigualdade sócio-econômica é evitar monopólios e oligopólios, tornando a educação pública à nível de educação privada e conscientizando democraticamente o acesso ao conhecimento científico e não-científico. Unificar grupos de oprimidos e explorados pelo sistema capitalista que domina o mundo desde o século XVIII, e assim lutar contra a desigualdade, é a solução para muitos contemporâneos.
De fato, estas ações diminuiriam parcialmente a distância entre o topo e a base da pirâmide, porém nos levaria a um verdadeiro Complexo de Fourier. Sendo assim, a solução para desigualdade sócio-econômica atual não pode ser cogitada. Em todas as sociedades o mundo viveu e vive com distinções e hegemonias intrínsecas na população, da qual caminhou até o patamar atual. Para a sociedade evoluir é preciso que haja desigualdade, naturalmente ela é superada com o tempo, mas o sistema impede isso, não promove a competição monetária, mas cria oligopólios e monopólios, fazendo com que a sociedade venha sucumbir cada vez mais.


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