O DISCURSO DO “DONO” NA MÍDIA: ANALISANDO EDITORIAIS

November 22, 2017 | Autor: Michel Carvalho | Categoria: Imprensa, Editorial, Folha de S. Paulo, Discurso
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O DISCURSO DO “DONO” NA MÍDIA: ANALISANDO EDITORIAIS Me. Michel Carvalho da Silva Jornalista e Mestre em Ciências da Comunicação pelo PPGCOM/USP

Introdução A mídia é um lugar de circulação e produção de sentidos. Por ‘sentido’ entendemos aquele estabelecido na própria construção verbal, através de suas conotações, isto é, o que se quer dizer. Assim, acreditamos que os campos da Análise de Discurso (AD) e dos estudos comunicacionais podem estabelecer um diálogo significativo a fim de entender o papel do discurso midiático na construção das ideias.

Discurso •Pode ser definido como toda atividade comunicativa produtora de sentidos que se dá na interação entre enunciadores dentro de uma mesma formação discursiva (Brandão, 2010) •A formação discursiva reúne um conjunto de enunciados marcados por algumas características comuns e está vinculada intrinsecamente à formação ideológica. •A formação discursiva determina o que e deve ser dito pelo enunciador a partir do lugar, da posição social, histórica e ideológica que ele ocupa.

A Análise do Discurso • A escola francesa de análise do discurso se configura como uma teoria crítica da linguagem. • Apresenta um caráter multidisciplinar, em que se investiga as relações entre a linguagem, a história, a sociedade e a ideologia, a produção de sentidos e a noção de sujeito. • A comunicação discursiva seria quase impossível se tivéssemos que construir um novo gênero a cada enunciado. • Um gênero não é uma forma fixa, cristalizada de uma vez por todas e que deve ser tratado como um bloco homogêneo (Brandão, 2011). • Cada dimensão da atividade humana comporta um repertório de gêneros discursivos que se ampliam à medida que essa esfera se torna mais complexa, reivindicando novas tipologias. • Num determinado gênero, mais de uma sequência pode vir a organizar a composição temática.

Contexto Discursivo • Designa os atos de linguagem existentes (aqueles que já foram produzidos) numa determinada sociedade e que intervêm na produção e compreensão do texto. • Para persuadir, é preciso levar em conta o “lugar de fala” daquele que argumenta e da situação em que este se encontra diante do interlocutor, ao qual está ligado por um contrato de comunicação.

Gênero do Discurso • Os gêneros do discurso são formas enunciativas relativamente estáveis e normativas que variam de acordo com os diferentes campos da atividade humana. • É impossível tratar os gêneros independentemente de sua realidade social e de sua relação com as sequências discursivas e seus elementos principais. • A comunicação discursiva seria quase impossível se tivéssemos que construir um novo gênero a cada enunciado. • Um gênero não é uma forma fixa, cristalizada de uma vez por todas e que deve ser tratado como um bloco homogêneo (Brandão, 2011). • Cada dimensão da atividade humana comporta um repertório de gêneros discursivos que se ampliam à medida que essa esfera se torna mais complexa, reivindicando novas tipologias. • Num determinado gênero, mais de uma sequência pode vir a organizar a composição temática.

Ethos Discursivo • Baseada na tradição retórica, o ethos representa a capacidade de agir do locutor sobre seus alocutários. • A construção discursiva de uma imagem de si é suscetível de conferir ao orador o poder de influir nas opiniões e de modelar atitudes. • O ethos é uma imagem de si num processo de troca verbal que visa construir e reconhecer legitimidade • O ethos é identificado pelas pistas enunciativas no discurso • O sentido veiculado por nossas palavras depende ao mesmo tempo daquilo que somos e daquilo que dizemos, sendo o ethos resultado dessa dupla identidade.

Discurso Editorial • Por meio dos editoriais, as empresas de comunicação manifestam oficialmente sua opinião sobre os fatos mais importantes ocorridos no cotidiano. • Popularmente descrito como a “voz do dono”. • O editorial reflete o consenso das opiniões emitidas pelo grupo de dirigentes que participam da gestão da organização. • Mesmo que destinados à coletividade, esses textos pretendem dialogar na verdade com os agentes de governo. • O editorial tem caráter múltiplo. • O editorialista constrói um raciocínio avaliativo, através do qual defende, com argumentos persuasivos, a posição políticoideológica do jornal e refuta as contrárias, tentando conduzir o leitor à conclusão planejada pela organização.

Editorial

Estratégias para a Análise 1. Observar as relações entre os planos de conteúdo e de expressão 2. Atentar-se para as seguintes questões: O que diz/ O porquê/ Como diz. 3. Identificar as marcas enunciativas do sujeito do discurso.

4. Localizar o caráter e a intensidade do viés ideológico no discurso editorial. 5. Toda análise se faz a partir de um sistema de referência.

Editorial na TV

Editorial na TV • “[...] mas é essencial numa democracia um jornalismo profissional, que busque sempre a isenção e a correção para informar o cidadão sobre o que está acontecendo”. • “[...] cidadão informado de maneira ampla e plural”. • “Em todos esses casos a imprensa condenou ou o excesso ou a omissão [...]”. • “[...] jornalistas - que são os olhos e os ouvidos da sociedade”. • “[...] o jornalismo profissional vai estar lá sem tomar posição a favor de lado nenhum”.

Editorial na TV

Editorial na TV • “O governo brasileiro apoiado por políticos demagógicos e oportunistas tentam impor à população uma ideia falsa [...]”. • Comanda essa ofensiva – que é mentirosa – o Ministro da Justiça omitindo fatos [...]”. • “[...] armas clandestinas que o ministro e seu governo deveriam combater” • “É chocante como a força da demagogia tapa os olhos de quem deveria ver com mais clareza”. • “Ao empunhar a bandeira da mentira[...]”. • “O Estado não cumpre seu papel na segurança pública”.

Editorial no jornal impresso

Folha de S. Paulo, 14 ago. 2006, A2

Editorial no jornal impresso

O Globo, 31 ago. 2013, Pág. 6

Editorial no jornal impresso

Folha de S. Paulo, 13 jun. 2013, A2

Editorial no jornal impresso

O Estado de S. Paulo, 13 jun. 2013, Pág. 3

As relações editoriais e empresariais

Algumas observações • Todo discurso busca um efeito de verdade. • Nesse processo de análise discursiva, temos que considerar três sujeitos: o enunciador, leitor virtual e o leitor real. • Texto, enunciado e discurso são termos que possuem especificidades, mas, no processo de comunicação, são um só produto. • Como nos diz Pêcheux, as palavras e as expressões recebem seu sentido da formação discursiva na qual são produzidas. • Uma análise editorial requer conhecimento histórico do momento em que é produzido o discurso. • O discurso editorial constrói, reforça ou modifica relações sociais de poder.

Referências •

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BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais do método sociológico nas ciências da linguagem. São Paulo: Hucitec, 1989. CITELLI, A. Odair. Linguagem e persuasão. 16. ed. São Paulo: Ática, 2005. FÍGARO, Roseli (org.). Comunicação e Análise do Discurso. São Paulo: Contexto, 2012. MAINGUENEAU, Dominique. Análise de textos de comunicação. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2004. PÊCHEUX, Michel. Semântica e discurso: uma crítica à afirmação do óbvio. 4. ed. Campinas: Editora da Unicamp, 2009. SILVA, M. Carvalho da. A educação superior no discurso midiático: imagens de excelência e democratização nos editoriais da Folha de S. Paulo. Dissertação (Mestrado em Interfaces Sociais da Comunicação) - Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2013. Disponível em: .

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