O Encanto das Trovas - Tomo III – Minas Gerais vol. 1

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O Encanto das Trovas . . . Tomo III – Minas Gerais vol. 1......... Página | 1

SUMÁRIO

Olympio da Cruz Simões Coutinho .............................................................. 3 Relva do Egypto Rezende Silveira ................................................................. 8 José Tavares de Lima ................................................................................ 15 Wanda de Paula Mourthé .......................................................................... 24 Cássio Magnani ......................................................................................... 30 Arlindo Tadeu Hagen ................................................................................. 34 Luiz Carlos Abritta .................................................................................... 46 Maria da Conceição Antunes Parreiras Abritta ........................................... 53

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Olympio da Cruz Simões Coutinho

1. Alegria em plenitude cultiva dentro do peito quem dá valor à virtude e menospreza o defeito.

2. A "meia-noite", querida, relembra pra todos nós os instantes desta vida que não ficamos a sós. 3. As margaridas florindo sob este céu cor de anil... É a primavera surgindo por todo nosso Brasil. 4. As tristezas não me tocam, as crises... busco vencê-las; quando os planetas se chocam do choque nascem estrelas. 5. Belo ocaso e o sol formata com um mar da cor de anil uma tela que retrata a bandeira do Brasil.

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6. Braços de todas as cores traduzindo integração; qual jardim de muitas flores plantadas no coração. 7. Buscando alcançar o céu, entre as nuvens eu me ponho; sigo assim, vivendo ao léu, pela estrada do meu sonho. 8. Capa de livro bem feita, esta foto me extasia: - mostra, de forma perfeita, abraço em prosa e poesia. 9. Campo de terra e o menino, com pés descalços no chão, tem um sonho clandestino: - ser um dia um campeão.

10. Corações são assoprados para outro mundo, virtual... Será que estamos frustrados com nosso mundo real? 11. Cultive a fraternidade, como quem cultiva a terra; quem planta grãos de amizade não colhe os frutos da guerra. 12. Da vida, na falsidade, nossos olhos têm magia; ninguém encobre a verdade, pois o olhar a denuncia. 13. Eu não tenho o que queria, mas sou feliz mesmo assim; faço a minha terapia na mesa do botequim.

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14. Feliz de quem não permite que o domínio da razão seja mais forte e limite o que sente o coração. 15. Juventude, o procurar permanente de viver; enquanto a busca durar ninguém vai envelhecer. 16. Não fuja dos seus caminhos, nem busque atalhos a esmo; quem tem medo dos espinhos não acha a flor em si mesmo. 17. Neste teatro, que é a vida (e a vida é uma somente), prefiro o palco, querida, do que ser mero assistente.

18. O barquinho vai zarpar... E me lembro, entristecida, que por ter medo de amar perdi o barco da vida. 19. Olho os guris abraçados e o meu pesar é profundo; sei que serão separados pela aspereza do mundo. 20. Pelo amor abandonado, hoje sou, na realidade, velho navio ancorado no triste cais da saudade. 21. Pipa empinada e o menino, saudando a força do vento, curte o prazer repentino de ser livre em movimento.

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22. Por mais que esta vida o açoite prossiga na caminhada; depois do negror da noite sempre desponta a alvorada. 23. Qual duas taças de vinho em perfeita simetria; que seja assim o caminho do nosso amor, que inebria. 24. Quisera, no trem da vida, percorrer o meu caminho em passarela florida de paz, amor e carinho. 25. Se em sua rota há procelas não ponha a culpa no vento; cuide do ajuste das velas, ponha o barco em movimento.

26. Se os erros lhe causam dor não busque culpas a esmo: - tente, com vontade e amor, reconstrução de si mesmo. 27. Se tem que lutar não pense em procurar um abrigo; uma luta não se vence se escondendo do inimigo. 28. Simbolizam essas mãos que buscam erguer a Terra um movimento de irmãos pela paz e contra a guerra. 29. Sorria a todo momento por pior que esteja a vida... Quem sorri no sofrimento torna a dor mais dividida.

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30. Tenho ciúmes da lua, ciúmes loucos, meu bem, pois passeia em tua rua... e no teu corpo também. 31. Viagens, sonhos, crianças, cenas que nós já vivemos; são retratos de lembranças que nunca mais esquecemos.

32. Viver não é passatempo, pois um paradoxo encerra: – a gente é que mata o tempo, e o tempo é que nos enterra.

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1 A bengala que rastreia os caminhos, sem cansaços, é feito a luz que se alteia, guiando o cego em seus passos.

2 A brisa doce e envolvente traz seu perfume - que incensa a saudade - e, novamente, eu sinto a sua presença! 3 As vagas brancas, rendadas vêm seu bramido amainar nas areias nacaradas, que são molduras do mar. 4 A tempestade de areia minha trilha não ofusca, pois fulge a crença e norteia os meus passos nestas busca. 5 A vigília tem seu jeito de inquietar meu coração. Fica ao meu lado no leito, despertando a solidão.

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6 Bendiz a lida na enxada o lavrador quando sente cheiro da terra molhada fertilizando a semente. 7 Cai o idoso num tropeço, derrubando uma guria, depois… paga um alto preço por uma noite de orgia. 8 Criam mentiras e ofensas um abismo entre nós dois que vai minar nossas crenças num romance sem depois. 9 Das mãos de Deus vai caindo, em forma de chuva mansa, a bênção da água…e espargindo as sementes da esperança.

10 Desato os nós do passado e as tramas de um sonho eu teço: - sonho é tear encantado que motiva o recomeço. 11 Disse o carteiro, confuso: - mora aqui o “seu” Leitão? - Não mais, respondeu o luso: virou torresmo e sabão. 12 Estás distante... a inquietude a minha vida consome. E, na prece, em solitude, a ladainha é o teu nome. 13 Fecunda o ventre rosado do amor, a fértil semente e, a mãe, abriga um legado que é futuro em seu presente…

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14 Feito um luzeiro divino, o mestre guia o estudante na conquista de um destino produtivo e fulgurante. 15 Finda o dia... A noite desce... Tudo invade sem tardança. Então, meu sonho adormece à sombra de uma lembrança. 16 Homem da terra!… No entanto, por sua sabedoria, meu pai resplendia tanto que se fez estrela – guia. 17 Insensatez?! Não! As horas, no limiar do sol-pôr, eu eternizo em auroras nos braços do meu amor.

18 Manda notícia! É o que peço. Basta dizeres: “Eu te amo”. E esperarei teu regresso, saudosa mas sem reclamo. 19 Minha vigília parece ritual que me consome na ladainha da prece, digo, em delírio, teu nome. 20 Mostra o leito em desalinho que a indiferença trocamos pelas juras e carinho quando o amor nós celebramos. 21 Na inspiração… devaneios, num ritual sem esperas, dou asas aos meus anseios, recriando primaveras.

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22 Na madrugada, em teus braços, o nosso amor se faz pleno. E o desejo, com seus laços, torna este mundo pequeno. 23 Não rasgue a terra em trincheiras onde a guerra esconde a dor. Plante malvas nas floreiras, componha versos de amor. 24 No alvor, o sol com magia os véus da noite descerra. E boceja um novo dia junto à franja azul da serra. 25 No barco do amor navego, sem tristezas nem cansaços, e sou cativa - não nego, das correntes dos teus braços!

26 No brilho do teu olhar, a tua alma é refletida. Nesse encanto, eu vou buscar o norte da minha vida. 27 No instante da despedida, o pranto contido... o adeus, marcando por toda a vida renúncia dos sonhos meus. 28 No seu talvez reticente, senti acordes de adeus, e, em farrapos, de repente, me despi dos sonhos meus. 29 O meu peito maltratado por um talvez sem razão é menino de recado que a resposta aguarda em vão.

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30 Partes com indiferença sem adeuses nem sinais e crias barreira imensa para abafar os meus ais. 31 Passa o tempo... E se renova toda energia perdida: - a melhor idade prova que a idade é prova de vida. 32 Pescador, em travessia, leva a fé como se fosse, no labor do dia a dia, o seu cantil de água doce. 33 Professor em sua trilha, iluminando outro ser, cultiva o dom da partilha na partilha do saber.

34 Quando volto à antiga herdade, ouço do passado o canto... E, no colo da saudade, toda notícia é acalanto… 35 Quase seco, em lodo, o rio segue lento sem cantar: - natureza em desafio tentando o homem alertar. 36 Receio os falsos anelos que deixam, sempre, o vazio: - são quais sonhos paralelos, margens opostas de um rio. 37 Revendo a pesada conta que a vida me faz pagar, a prova dos nove aponta que eu nunca soube "somar"!

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38 Roçando da noite o véu, o tempo, que tudo invade, desvenda aos círios do céu mistérios da eternidade. 39 Rompeste um antigo laço contudo, mantenho aceso este amor que não desfaço, mas disfarço com desprezo. 40 Se agora o tempo que resta é pouco para nós dois, façamos dele uma festa, pois nada conta o depois! 41 Se a tempestade de areia a minha visão embaça, o lume da fé se alteia e mostra que tudo passa!

42 Segue o amigo de verdade ao nosso lado onde for, ou, em forma de saudade, no alforje do viajor! 43 Se o desejo me arrebata, preceitos são esquecidos: - vivo paixão insensata na linguagem dos sentidos. 44 Se, por receio, o meu sonho perde a magia ou a cor, de novo, o torno risonho por força do nosso amor! 45 Sinto a saudade roçar o véu do tempo... E, acordado, em sonho, vou resgatar todo o encanto do passado.

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46 Tu partiste!… E, no abandono, perdi minha identidade, pois nem de mim sou mais dono, sendo escravo da saudade.

47 Véus do tempo, lentamente, ganham a bênção contida no brinde do sol nascente que, em seu bojo, traz a vida.

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José Tavares de Lima

1 A beleza que estonteia não é tudo, mas eu digo: - cafuné de mulher feia não é carinho… é castigo!

2 A “feia” caça um marido. Porém ao vê-Ia, há quem diga que só um doido varrido pode topar essa briga!… 3 Amar-te em segredo aceito, mas tens que entender meu ais, porque te amar deste jeito é doloroso demais!… 4 A quem, lutando, persegue um sonho que não alcança, suplico a Deus que não negue o consolo da esperança! 5 Confesso que, fascinado por tua graça invulgar, se te amar foi um pecado, não sei viver sem pecar!

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6 Da mulher muito carente seu Brochado anda arredio: - no verão, porque está quente no inverno porque está frio! 7 Depois que te foste embora, eu vejo, ante o amor desfeito, que o sol resplende lá fora… Mas há neblina em meu peito! 8 “Deu trambique sim senhor! Não negue que estou sabendo…” – Responde o Salim: “Doutor, eu nunca dei nada… Eu vendo!” 9 Diz, louquinha pra casar, a viúva, num gemido: - só eu sei como é ficar dez anos sem ter marido!…

10 Dói-me não estar contigo e ter que abafar meus ais; mas, deste amor que eu não digo, guardar segredo dói mais! 11 Dói-me tanto a ausência tua que, imerso na angústia imensa, se a noite é linda ou sem lua, nem percebo a diferença!… 12 Em cascatas de poesias eu transformo, comovido, o rio de águas sombrias que a minha vida tem sido… 13 Esquece a luta perdida porque, mais que insensatez, lembrar fracassos na vida é fracassar outra vez!

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14 Esquece o triste passado que te deixa descontente… Se o teu “ontem” foi nublado, põe um sol no teu “presente”! 15 Esquecer-te? De que jeito?!… Teu receio é sem motivo, porque, dentro do meu peito, tens lugar definitivo! 16 Fazer prece a todo instante tão importante não é; para Deus, mais importante é o suplicante ter fé… 17 Foi o amor que nos unia tido como insensatez… Mesmo assim, como eu queria ser insensato outra vez!

18 Gemendo, diz: - meu marido só me chama de canhão!… E ao vê-la, alguém, distraído: - seu marido tem razão! 19 Lamenta-se o caloteiro: - O meu ganho anda precário… - Está faltando dinheiro? - Não! Está faltando otário! 20 Mas o que faz esse “artista”? - Pensa em calo o dia inteiro. - Quer dizer que ele é calista? - Negativo… é caloteiro! 21 Mente quem diz que não fez durante a vida, algum dia, a gostosa insensatez de amar a quem não devia…

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22 Meu coração que sofria, finalmente hoje se solta das amarras da agonia feliz com a tua volta! 23 Muitos sonhos de venturas são cascatas de ilusão: - encantam, lá das alturas, mas se desfazem, no chão… 24 Muito te amo. Podes crer. Mas tenho um receio louco de que, para te prender, todo este amor seja pouco! 25 Na dor, não lamente a sina… Quem no peito a fé conduz, por entre a densa neblina descobre raios de luz !

26 Não fales com toda gente dos teus tormentos e anseios… Pois há quem fique contente ouvindo os dramas alheios! 27 Não foi musa de um momento… Desde que a vi, deslumbrado, alugou meu pensamento por tempo indeterminado! 28 Não merece glória tanta quem só vence… O mais valente é quem perde e se levanta para lutar novamente. 29 Não queiras, na desavença, ofender quem te ofendeu, pois quem revida uma ofensa merece a que recebeu!

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30 Não sei bem por que partiste; mas para o gesto insensato eu sei que o remédio existe: - teu regresso imediato!… 31 Não tem marido, contudo, vai, de topada em topada, a Maria topa-tudo, aumentando a filharada! 32 No momento em que partiste, a lua, no céu, sozinha, me pareceu muito triste… mas a tristeza era minha! 33 Nosso motel não tem cama, mas tem rede … Vão topar? E o jovem casal exclama: - Nós não viemos pescar…

34 No sufoco que o atormenta geme o velhinho, intranqüilo: - a mulher com mais de oitenta voltou a pensar naquilo!… 35 Numa imagem que revela contrastes da vida ingrata, a lua cobre a favela com lindo lençol de prata! 36 Nunca dizia: “não pago”. Mas em calote doutor, simulava que era gago até cansar o credor! 37 Ofensa dói, reconheço; mas a tua indiferença ao amor que eu te ofereço… Dói muito mais que uma ofensa!

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38 O inverno que acinza os dias, insiste em mostrar, sem dó, que em noites longas e frias sofre mais quem vive só!… 39 O receio evidencia, às vezes, sábia conduta; mas disfarça a covardia de alguns que fogem da luta! 40 O sujeito caloteiro diz ao cobrador que insiste: - hoje eu não tenho dinheiro, mas volte… Milagre existe!… 41 Para ver-te, de tão louco nem meço a distância imensa… A viagem cansa um pouco, mas o prêmio, recompensa!

42 Partes, alheia aos meus ais, mas te suplico, sincero: - mesmo que não venhas mais, fala que vens… que eu te espero! 43 Partir grilhões eu não quis … Com teu amor, todavia, sou um escravo feliz que não reclama alforria! … 44 Passa linda… do alto, a lua surpresa ao ver tanta graça, ilumina mais a rua no momento em que ela passa ! 45 Pode ventar ou chover… eu, nos teus braços agora, nem perco tempo em saber se tem inverno lá fora!

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46 Por amor eu sou capaz de fazer insensatez, daquelas que a gente faz sem lamentar por que fez… 47 Por culpa de alguns receios e de tolos preconceitos, somos, hoje, dois anseios que não foram satisfeitos… 48 Porque te dei muito amor fiquei só… Pois não sabia que vai perdendo o valor, o que é dado em demasia!… 49 Quando a Graça na lambada requebra seu corpo jovem, a turma fica assanhada, vendo as “graças” que se movem.

50 Quando me abraças e dizes: -Vivo do amor que te dou… O mais feliz dos felizes não é feliz como eu sou! 51 Que eu devo partir, urgente, ela entende, e não replica… mas, em súplica silente, seus olhos me dizem: fica! 52 Quem por ser pobre reclama, precisa entender, também, que a flor nascida na lama não perde a essência que tem… 53 Que não me queres, sei bem… Suplico a Deus, mesmo assim, que transforme o teu desdém num pouco de amor por mim…

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54 Sangue azul não tenho, sei; de um plebeu sei que não passo, mas sou feliz como um rei no momento em que te abraço! 55 Se em meu rumo há névoa e abrolhos, nem assim me intranqüilizo: - tenho as luas dos teus olhos; tenho o sol do teu sorriso! 56 Se em meus poemas dispersos falo sempre de fracassos, é que a musa dos meus versos vive ausente dos meus braços! 57 Se o amor que te dou te espanta de tão grande, eis o motivo: - és a seiva; sou a planta; se me faltares… não vivo!

58 Só peço a Deus uma graça: - que nunca uma despedida destrua este nó que enlaça minha vida à tua vida! 59 Sozinho, não desespero, pois no verso encontro alento… Não tenho a musa que eu quero, mas tenho a musa que invento! 60 Tarda a chuva; e, por Deus chama o nordestino apreensivo, vendo a seca armar seu drama com cenas de fome ao vivo! 61 Topa um “programa” vovô? E o velhinho, triste, fala: - agora, borocoxô, só topo o pé na bengala!

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62 Uma topada incomum a minha vizinha deu. Não feriu dedo nenhum mas a barriga… cresceu! 63 Veja o golpe do Clemente: - diz que foi uma topada que o fez cair, justamente, lá na cama da empregada!

64 Vence o receio e confia nos teus sonhos; pois, em suma, sem um pouco de ousadia não se alcança coisa alguma! 65 Viva a vida; mas, cuidado! Precavido, não se esqueça de construir seu telhado antes que a chuva aconteça!...

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Wanda de Paula Mourthé

1 Alegrias coleciono neste meu tardio amor. É na colheita do outono que os frutos têm mais sabor.

2 Ao seu filho, desde cedo, ministre a boa lição: - em vez de armas de brinquedo, ponha um livro em sua mão! 3 A realidade transponho e vivo em mundo ideal... Quero as mentiras do sonho, não as da vida real! 4 Arma um barulho no "ninho" ao ver que a cara-metade curte um som com o vizinho em "alta-infidelidade!" 5 – Barata em pinga?! Que horror! E a garçonete “sensata”: – Mas não pediu o senhor a cachaça mais barata?

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6 Bebe a sogra mais que Baco e, tendo um gênio de cão, consegue armar um barraco maior que meu barracão! 7 Chega bêbado… sequer distingue um rosto e malogra: - dá alguns tapas na mulher e muitos beijos na sogra! 8 De um amor que é só miragem finjo agora ter o assédio, para escapar da engrenagem dessa moenda que é o tédio. 9 Disse pra linda tainha o peixe, muito gamado: – Casa comigo, peixinha, que eu estou “apeixonado!”

10 Envolta em brilhos e cores, a natureza se esmera para, em delírio de flores, eclodir na primavera. 11 Esta angústia indefinida, que sempre à noite me invade, são sombras próprias da vida ou disfarces da saudade? 12 Eu fui náufrago da sorte em um mar de solidão, mas teu amor foi suporte e tábua de salvação! 13 Forçada a escolhas na vida - teatro que não domino fui marionete movida pelos cordéis do destino!

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14 Gente que escolhe sem tino as propostas da existência, quando erra, culpa o destino pela própria incompetência. 15 Lembranças de amor desfeito... silêncio em horas tardias, pois tua ausência em meu leito dorme onde outrora dormias. 16 Meu coração se comove por te sentir ao meu lado, quando a saudade se move entre as sombras do passado!... 17 Meu diário! Em tuas folhas morrem desejos sem fim... Pago o preço das escolhas que outros fizeram por mim.

18 Minha insensata paixão passou – transpondo barreiras – das fronteiras da ilusão para a ilusão sem fronteiras... 19 Minha madrasta é um bagulho! No pomar, se abrir os braços, mesmo sem fazer barulho, vai espantar os sanhaços! 20 Minha mulher é nanica, mas na cama é colossal: - ronca mais do que cuíca na terça de carnaval!... 21 Na feira de antiguidade, ao ancião combalido perguntam, não sem maldade: -Vem comprar ou ser vendido?

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22 Na noite do seu casório, sendo um noivo muito antigo, usou até suspensório, mas não sustentou o artigo... 23 Não importam a censura e o louvor da sociedade: - procuro viver à altura da minha própria verdade! 24 Não prometo, em nossa história, meu amor por toda a vida, porque a vida é transitória, e meu amor, sem medida!... 25 No lento passar das horas, em insônia e devaneio, contei inúteis auroras, à espera de quem não veio.

26 O casca-grossa sincero pede a mão da moça aos pais: – Da sua filha eu espero ter a mão e tudo mais… 27 O destino traiçoeiro separou-nos, sem piedade, mas o amor fez do carteiro o porta-voz da saudade. 28 Olho a rua... a noite avança, tudo adormece ao luar... Dorme até minha esperança, pois cansou de te esperar! 29 – O meu marido é carteiro; porém bem cedo aprendeu que, no lar, o tempo inteiro, quem dá as cartas sou eu!

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30 Os meus sonhos delirantes, em sua trilha fugaz, são feito nuvens distantes que o vento logo desfaz. 31 O teu silêncio me afronta; nem breve mensagem veio, mas meu amor faz de conta que a culpa é só do correio. 32 Pão-duro, o cara declara: – Ter cara-metade é asneira. Se a metade já é cara, imagina a esposa inteira! 33 Partiste...e meu desencanto, vendo ruir a ilusão, escorre em gotas de pranto, orvalhando a solidão.

34 Partiu... nem disse o motivo, e eu, da saudade à mercê, estou vivo, mas não vivo, pois não vivo sem você. 35 Quando pisam no meu calo, “calada” não fico não, pois sempre, em revide, falo frases de “baixo calão”. 36 Que me importam os cansaços e o céu distante e encoberto, se, quando presa em teus braços, minha vida é um céu aberto? 37 Que sempre em mim se concentre esta união que bendigo: - filho nascendo do ventre, coração gerando o amigo!

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38 Se a voz do orgulho me impele, sempre, a esquecê-lo de vez, a paixão, à flor da pele, impõe silêncio à altivez. 39 Sem oásis, retirante, na aridez do teu sertão, única sombra flagrante é tua sombra no chão. 40 Tanto amor e afinidade entre nós dois, já se vê, que perdi a identidade: - eu sou eu... ou sou você?

41 Tua partida me fala do teu desprezo... um açoite! E a saudade não se cala nem na calada da noite... 42 Uma estrela cintilante, os Reis, a Belém conduz. Maria, mais fulgurante, deu à luz... a própria Luz! 43 Volto à capela em que, um dia me esperaste ao pé do altar... E hoje a saudade, em magia, me espera no teu lugar…

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1 Ao casarem-se, ia tudo de tal maneira adiantado, que um convidado ficou, para ver o batizado… 2 Araxá, aquela estância, na qual a cheirosa dama paga elevada importância para sujar-se de lama.

3 Assim que o verme esquelético viu dois defuntos na mesa, disse à mulher: – O diabético fica para a sobremesa. 4 A sua barba grisalha, além de esconder-lhe o papo, é também lenço, toalha, e, às refeições, guardanapo. 5 Até quanto aos dedos há a sorte a diferenciá-los os das mãos ostentam joias, os dos pés suportam calos, 6 Certo músico loquaz, na campa da tia e mestra, em vez de pôr: Aqui jaz… escreveu: Aqui orquestra…

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7 Chega a conta do oculista, e o incrível se me depara: - o tratamento da vista custa-me os olhos da cara. 8 Cirurgia, cirurgia, não se escuta outra cantiga. O cara nascer devia com fecho-ecler na barriga. 9 Contra a líquida vingança de um inimigo tratante, sobre esta cova se lança um impermeabilizante. 10 D. Pedro Primeiro grita contra a opressão. E está dito. Assim o Brasil conquista a independência – no grito!

11 Encontrei meu bem chorando, comentei: – Tristeza tola… Disse-me, a faca largando: – Não é tristeza, é cebola! 12 Entre nuvens finas jaz, lá no céu, a lua albente, como um grande seio atrás de um sutiã transparente. 13 Era um lago a minha vida, só repouso e solidão, até chegares, querida, com pedregulhos na mão. 14 Escritor dos mais sagazes, nem precisa de retoques. É filósofo, com frases em mais de cem para-choques…

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15 É tão limpo e perfumado, que o que expele, dão notícia, ora é água-de-colônia, ora é pasta dentrifícia. 16 Leis, que quantidade abriga a nossa pátria gentil! Porém falta uma que diga: “Cumpram-se as leis do Brasil!” 17 Madama vai ao peixeiro: – A senhora quer Robalo? Ela, mostrando o dinheiro: – Não, senhor, quero comprá-lo! 18 Manda-se apertar o cinto; já, porém, tamanha fome, que hoje o cinto não se aperta, cinto agora já se come!

19 Meu bem, procura alcançar lá no céu o gozo eterno. Quanto a mim, vou descansar, tranquilamente, no inferno. 20 Não cobrindo quase nada de seus seios opulentos, mostra a bonita advogada dois robustos argumentos. 21 Nesta luta encarniçada, na vida inglória e sem brilho, a mãe é sempre lembrada por quem não gosta do filho. 22 Onde o homem mal se comporta, entre insuportáveis cheiros, vê-se, pendurado à porta, este cartaz: “Cavalheiros”.

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23 Pedes só a mão da moça, porém, maldade sem nome, dão-te um corpo – que se veste! mais uma boca – que come! 24 Pedras não faltam… E há gente que tem a ideia ridícula de, penosa e inutilmente, fabricá-las na vesícula. 25 Perdeu sua virgindade a garota quase nua. – Como foi? pergunta o pai – Eu sei lá? Caiu na rua… 26 Quis beijar a coletora, ordenou-me distraída: – Traga-me um requerimento com firma reconhecida.

27 Se achas que a felicidade com a riqueza não condiz, traz-me o dinheiro e verás como ficarei feliz! 28 Se, ao fim do mandato, a salvo lá se chega, é surpreendente. Aqui se faz “tiro ao alvo”, lá é “tiro ao Presidente”. (trova falando do Estados Unidos) 29 Tudo grátis, boia e cama. Tanto conforto e não gostas? Deram-te até um pijama com algarismos nas costas! 30 Uma grotesca figura por detrás e pela frente; trinta metros de feiura num metro e trinta de gente.

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Arlindo Tadeu Hagen

1 A casa quase vazia mostra ao ator, numa trama, que outro drama se inicia quando ele encerra o seu drama

2 Acompanhado ou sozinho, segue em frente, sem parar, que é bem mais longo o caminho dos que não querem andar! 3 A favela é lá no alto e muito farta contudo. Farta esgoto, farta asfalto, farta luz e... farta tudo! 4 A madame tem motivo de viver enciumada: - é mulher de executivo sem ser muito executada! 5 A mulher baixa a moral do marido roncador: – Nem sempre o ronco é sinal de potência do motor!

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6 Ante a clonagem desmaia o cientista pouco esperto fez a sogra de cobaia e a experiência deu certo! 7 Ao te esperar, na agonia, entre o dilema e a incerteza, minha vida é tão vazia que transborda de tristeza 8 A saudade em meu destino é uma criança levada que, brincando, bate o sino de uma igreja abandonada. 9 As ruas são labirintos onde eu noto, em profusão, milhões de dramas distintos vagando na multidão!

10 A tempestade mais feia ao crente não intimida. Deus é o farol que clareia o mar escuro da vida. 11 Bate à porta... e a desconfiança põe o Salim na agonia: - tem mais medo de cobrança do que gato de água fria! 12 "Boa viagem" - perdoa mas te atender não consigo que a viagem só é boa quando tu segues comigo! 13 Cansei de crer tolamente nos meus sonhos de menino. Nem sempre o que agrada a gente também agrada ao Destino!

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14 - Casamento é mesmo o fim! diz ela, no seu enfado, - Quem suspirava por mim agora ronca ao meu lado!... 15 Como negar evidências sobre um Ser especial se, na essência das essências, Deus é sempre essencial!?... 16 Criança, eu ia brincar nos poças-d'água, sozinho. As poças viraram mar e eu continuo um barquinho! 17 Despedida... e, por consolo, neste encontro derradeiro, só me resta o orgulho tolo de ter dito adeus primeiro!

18 Diz o burro: - Não dá pé minha paquera travessa! Não sei fazer cafuné numa "mula sem cabeça"!!! 19 Do trigo da meninice e do pão da mocidade só restaram na velhice, as migalhas da saudade! 20 É catarata... enfisema... Minha sogra é problemática! A velha tem mais problema que prova de Matemática! 21 Ela vive namorando no escurinho atrás do muro e por isto andam chamando seu namoro de ... "namuro"!

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22 Ela voltou de surpresa e eu pude assim, num só dia, após chorar de tristeza também chorar de alegria! 23 Enfrento a dor com firmeza e conservo em minha fé a altivez da vela acesa que se desmancha de pé. 24 Enganador é o Ramiro, que finge como ninguém, e só de "último suspiro" ele já deu mais de cem!... 25 Eras corda enfraquecida... e eu era uma corda só... Fez-se o nó... e a mão da vida jamais desfez este nós!

26 Era um tango... Foste embora me deixando em desatino... e a minha saudade agora tem um sotaque argentino. 27 Erramos... erramos tanto e os nossos erros banais nos fizeram, por encanto, dois infelizes iguais. 28 Esta paixão indomável de emoções tão incontidas é uma força incontrolável que controla nossas vidas. 29 Eu não troco as ilusões pelos caminhos mais certos. Meu sonho de abrir portões despreza os portões abertos.

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30 Eu te imploro, por favor, não insistas neste adeus. Se não for por meu amor, fica pelo amor de Deus! 31 Existe tanta união entre os teus sonhos e os meus, que só não és meu irmão por um descuido de Deus! 32 Faltaram surpresa e encanto em nosso encontro no cais... Eu te esperei tanto, tanto, que eu nem esperava mais... 33 Foi Luiz Otávio, exaltado em sua luta mais bela, um Príncipe apaixonado pela Trova Cinderela.

34 Garimpeiro, pelos vãos dos teus dedos que envelhecem, muda a riqueza de mãos para mãos que não merecem. 35 Indecisos, nossos dias vivem dilemas sem fim, revezando as fantasias de pierrô e de arlequim... 36 Infância é um brinquedo usado que um dia a vida resolve tomar um pouco emprestado e nunca mais nos devolve. 37 Lembrando o amor que a iludia minha alma, feliz, revive... Eu sei que foi fantasia porém foi tudo que eu tive!

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38 Maria é um resto somente no cais, largada ao desdém... ontem - mar de tanta gente... hoje - porto de ninguém!... 39 Meu coração sofredor nunca teve a liberdade. Ontem - escravo do amor... Hoje - refém da saudade… 40 Meu coração tem lutado na guerra contra a razão: - soldado, à força alistado no exército de paixão! 41 Meu sogro cheio de medo, tenta a peruca esconder e o que ele guarda em segredo "tô" careca de saber !

42 Mil conquistas...sonhos vãos que passaram feito a bruma. Eu apertei tantas mãos e não segurei nenhuma. 43 Minha alma reflete o tema de um passarinho fujão, vivendo o eterno dilema entre a fome e o alçapão 44 Minhas mágoas mais secretas em versos vou transformando. No horizonte dos poetas Há sempre estrelas brilhando! 45 Minha sogra é uma desgraça: - magricela e jururu. A coroa é mais sem graça que rodízio de chuchu!

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46 Na farra, ela se refere às transações do marido: - "Todo que com farra fere, com farra será ferido!" 47 Na infância eu ia brincar nas poças d'água, sozinho. As poças viraram mar e eu continuo um barquinho. 48 Não sei de temeridade maior do que andar sozinho. A presença da amizade encurta qualquer caminho. 49 Nova rica não despista a burrice que me espanta. Diz que, sendo ecologista, só compra casas "na planta"!

50 Numa batalha incontida eu luto a ver se domino, na imensa arena da vida, os touros do meu destino! 51 Num constante caminhar, a minha vida consiste na procura de um lugar que nem mesmo sei se existe! 52 Num dilema de amargura, a Deus eu tento culpar meu fascínio pela altura sem asas para voar. 53 Num mau-humor quase eterno, há quem, no viver sombrio, faz da vida um grande inverno... depois reclama do frio!

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54 Olho o perfil da cascata e tenho a impressão estranha de ver um manto de prata sobre as costas da montanha! 55 O sol, em plena alvorada, abrindo o dia bonito, é uma cascata dourada jorrando luz do Infinito. 56 O toureiro Chico Louro é chífrado onde estiver: - Na tourada... pelo touro, No forró... pela mulher. 57 Para manter a mensagem daquele adeus, na partida, eu gastei toda a coragem que eu juntei durante a vida!

58 Para mudar a visão de quem não muda as retinas, Deus, em sábia decisão, encheu as ruas de esquinas! 59 Partir... ficar... e o problema de espinhosa solução enlaça em nós de dilema as cordas da indecisão ! 60 Partiste... eu sonho... tu sonhas e nós seguimos mentindo. Nós somos dois sem-vergonhas que vivem se despedindo! 61 Perdão eu não quis pedir e hoje um remorso sem fim me diz que eu deixei partir quem era parte de mim!

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62 Perder-te sem ter pedido pelo menos um perdão foi meu pênalti perdido num jogo de decisão. 63 Perdoa, Pai, a oração, se eu te peço em demasia mas preciso, além do pão, do sonho de cada dia. 64 Pobre horizonte pequeno de quem crê, sem ver mais nada que uma rosa com sereno é só uma rosa molhada! 65 Por magia, o sonho lindo, que me segue ao fim da estrada, é um pombo alegre fugindo de uma cartola surrada!

66 Por mais que a vida dê volta, nosso carinho perdura... que a mão do tempo não solta as mãos dadas com ternura! 67 Por um contraste cruel, de razões mal explicadas, dos teus olhos cor de mel descem lágrimas salgadas! 68 Por ver a nossa ansiedade ao ter de nos separar, o dilema da saudade é saber com quem ficar. 69 Recordo o velho sobrado... meus pais... a infância inocente... e as essências do passado vão perfumando o presente!...

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70 Respeita as dores e anseios na igualdade que proclamas e vê que os dramas alheios são dos outros... mas são dramas! 71 Saudade são velhos trapos, pedaços do coração, que fica feito farrapos na cerca da solidão! 72 Se alguns sofrem se sozinhos e outros sofrem por amar, dilema é ter dois caminhos e nenhum para trilhar 73 Se a oração foge da mente no instante da dor pior, solta um murmúrio somente... Deus sabe as preces de cor!

74 Se a vida é mera passagem por este plano somente, o preço desta viagem é a própria vida da gente 75 Selei, ao negar-te o abraço, a minha sina de só. A mão que desfaz um laço nem sempre desfaz um nó! 76 Senti, no suave cheiro que o vento me trouxe agora, que o vento passou primeiro pela rua onde ela mora! 77 Se os meus dias não tem tido um colorido mais franco é que eu sonho colorido e conquisto em preto e branco.

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78 Ser seu amigo é um valor que para mim não compensa, para quem deseja o amor, a amizade é quase ofensa!. 79 Se um sonho que se esfacela não passa de cão vadio, a ilusão é uma cadela eternamente no cio. 80 Sol e chuva e no horizonte, decompondo a luz ao léu, o arco-íris é uma ponte no lago imenso do céu. 81 Sou gota d'água a cismar num dilema-desafio, entre a ventura do mar e a segurança do rio

82 Sou no final da existência, em meu cansaço, grisalho, folha seca na iminência de desprender-se do galho. 83 Tem a ventura, o estupendo poder de nos fascinar. e a gente a segue sabendo que nunca vai encontrar! 84 Ter ou não ter seu amor... Este dilema profundo me faz o mais sofredor dos sofredores do mundo. 85 Teu olhar tenho evitado, pois sei que ninguém, querida, mexe em cinzas do passado impune às brasas da vida!

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86 Trata o amor com fantasia para fazê-lo viver; o amor que perde a magia tem muito pouco a perder!... 87 Vens... não vens... e na incerteza do dilema que me cansa, a minha vida está presa neste fio de esperança!

88 Violando os frágeis abrigos, a chuva lembra uma espada cortando os sonhos mendigos no meio da madrugada.

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Luiz Carlos Abritta

1 As tuas mãos - que brancura -que bonito de se ver, pois elas têm a ternura dos lírios do amanhecer.

2 Aos jovens dou um conselho, nesta vida tão incerta: - não se olhem tanto no espelho pois Narciso é morte certa! 3 Ao teu prazer eu me entrego - seja lá o que quiseres – pois te escolhi, eu não nego, entre todas as mulheres. 4 Casaste. Triste eu sofria, pois vestiste, bem contente, a camisola macia que eu te dera de presente! 5 Com seu amor eu me aqueço e sempre me recomponho; só por isso eu lhe ofereço a vigília do meu sonho.

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6 Desde que tu foste embora, tua saudade é açoite que já começa na aurora e dói mais durante a noite ! 7 Dessa forma Cristo pensa: "maior será o perdão quanto maior for a ofensa". - Que bela e sábia lição!! 8 De todo "não" que me deste, o que mais triste me fez foi aquele que disseste disfarçado num "talvez". 9 Do meu verso é sempre a fonte essa cidade lendária chamada Belo Horizonte, a Capital centenária!

10 Do simples pó eu procedo, sei que a ele hei de voltar; a vida não tem segredo: - é um eterno retornar. 11 Em cada nota eu receio, na pauta que a vida escreve, que transformem nosso enleio numa simples semibreve 12 É muito estranho, meu bem, o relógio do destino: - vai de manso, vai e vem, depois bate em desatino ! 13 Essa vitória alcançada nos obriga a meditar: - sem o povo não há nada, que verdade singular!

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14 Eu bem sei que tu me esperas e, se te vejo, ao sol-posto, projeto um céu de quimeras na moldura do teu rosto ! 15 Eu confesso abertamente, e disso não me envergonho, que tu foste, simplesmente, o amplo portal do meu sonho. 16 Eu sei que o belo e a verdade caminham juntos na vida e atinjo a felicidade se a ternura é dividida. 17 Eu te amo tanto, mas tanto que já pus num pedestal toda a glória desse encanto, que se tornou imortal.

18 Eu te digo, com alegria, e a realidade comprova que o melhor da poesia é a beleza de uma trova. 19 Eu tenho perseverança e à tristeza me anteponho: - garimpeiro da esperança, sempre vivi do meu sonho. 20 Jamais eu temo o fracasso pois me deste o teu amor e a simples força do abraço me transforma em vencedor! 21 Não me queres...pouco importa. Só penso no amanhecer, pois ele sempre abre a porta à sedução de viver !

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22 Na magia desse sonho, nessa noite calma e pura, a sonata que componho tem as notas da ternura. 23 Na tessitura do sonho, vou cortar, sem mais tardança, esse nó górdio que imponho a um amor sem esperança. 24 Navegador solitário, singrando as águas do mar, jamais pensa em numerário, mas conjuga o verbo amar ! 25 Nem o sofista profundo esta verdade falseia: quem se julga rei do mundo é um pequeno grão de areia!

26 Nenhum amor se constrói só com flores e ternura, pois aquele que mais dói certamente é o que mais dura. 27 Nesse exílio que me imponho, não senti que era miragem e dos pedaços de sonho eu recompus tua imagem. 28 Nosso amor já teve história e, por isso, eu te proponho seja posto na memória do relicário do sonho. 29 Novo estatuto vigora nas leis do amor hoje em dia: - sei que vale mais o agora do que a mais bela utopia!

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30 Numa alquimia de nume, à tristeza me anteponho, transformando teu perfume no perfume do meu sonho! 31 O açougueiro viu passando a mulher que é só pele e osso e disse, a faca afiando: "Isso é carne de pescoço". 32 Olhando o tempo passar, no relógio da memória, eu senti coisa invulgar, pois revivi nossa história! 33 O que conta nessa vida não é tempo nem idade, mas a procura renhida da deusa felicidade.

34 Passa o tempo num instante e dele jamais se esquece, pois fica sempre o importante: - o velho amor permanece. 35 Quando o cãozinho e o menino se abraçam por um segundo, solto o canto peregrino: - Há salvação para o mundo! 36 Quis esquecer-te...não pude: a saudade é traiçoeira e ela sempre nos ilude, pois nos prende a vida inteira ! 37 Quis retratar um romance que fosse mesmo um primor, e fiz, com tinta e nuance, uma aquarela de amor.

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38 Sempre foste minha amada e, no doce cativeiro, sem algema e sem mais nada, tu me prendes por inteiro. 39 Se navegar é preciso e viver nem tanto assim, vou partir com teu sorriso, em busca do mar sem fim! 40 Se todos temos defeitos, se o mistério vem de Deus, se nem os bons são perfeitos, o que dizer dos ateus? 41 Somos poeira que a vida sempre leva de roldão; em sua sanha atrevida, ela não vê coração

42 Só se louva a juventude, porém jamais alguém disse que só se atinge a virtude quando se alcança a velhice 43 Todos querem sufocar, com disfarces atrevidos, e sordidez invulgar, o grito dos excluídos . 44 Tudo ele faz com amor e traz o céu na bagagem; na verdade, o trovador de Deus na Terra é a imagem 45 Tu partiste... e essa magia que deixaste no meu peito vai fazer que certo dia tu voltes de qualquer jeito.

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46 Vejo o mar em ondas mansas - foto de rara beleza e, reforçando as lembranças, um céu chamado Veneza ! 47 "Veredas, grandes sertões"... a nossa vida é uma estrada toda cheia de senões, do início ao fim da jornada.

48 Vou definir a saudade e não sei se estarei certo: - saudade é aquela vontade de que o longe fique perto.

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1 Aarão Reis te fez surgir, teus filhos te deram glória, Belo Horizonte, és porvir dos cem anos de uma história.

2 A brisa passou cantando, e trouxe, com seus enleios, teu rosto, em sonho, singrando as águas dos meus anseios. 3 A cara de Sá Constança é de osso e pele somente, mas tem ela uma poupança tão gorda que assusta a gente. 4 A cortina solta ao vento dança, insone, o seu bailado: - revolve o velho aposento e os segredos do passado. 5 A gata ruiva e bonita passa toda rebolando; o garotão logo grita: - tem "filet mignon" sobrando!...

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6 A vida me revigora, lembranças que tanto amei! E dos sonhos, junto, agora, os retalhos que guardei. 7 Belô, mais bela e altaneira, em teus cem anos de glória, és rainha e timoneira de teu povo e de uma história. 8 Canto, alegre, a fortaleza que sempre cobriu meus passos, porém escondo a fraqueza de não contar meus fracassos. 9 Chuva fina nas calçadas vai regando a minha dor, que cresce nas madrugadas, distante do meu amor.

10 Com juras apaixonadas, compondo sonhos a dois, brindamos às madrugadas, num talvez... que vem depois. 11 Em nossos dedos, ternura, lindo troféu de esplendor; anel que tem espessura e o brilho do nosso amor. 12 Entre as dunas da lembrança a saudade, em fantasias, deixa areia de esperança no deserto de meus dias. 13 Entre colinas reinando, Belô, és sonho encantado: - mulher bonita enfeitando cem anos de teu passado!

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14 Foi tão lindo o sentimento que nos uniu, sem apelos, que o luar brindando o evento prateou nossos cabelos. 15 Hoje a vitória te alcança! Cuidado, ao virar a mesa, a vida é imensa cobrança, num mercado de surpresa. 16 Já nasceste Capital, traçada em retas iguais; hoje és linda e magistral, centenária das Gerais. 17 Lá no alto, bem escondido, no velho tronco que o enlaça, um coração esculpido veste a ramagem da praça.

18 Manhã dourada, sol quente, nós dois e o sonho que aflora. Deitados na areia ardente... Só o amor importa agora! 19 Marido a deixa sozinha... E, com medo de ladrão, a beldade da vizinha chama o gato do patrão. 20 Na balança deste mundo, pesa mais que seu talento, ser honesto, ser profundo, ser direito em pensamento. 21 Na madrugada vazia, quando o desprezo me invade, teu desprezo me angustia num resquício de saudade.

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22 Não desanime, trabalhe, combata o mal, queira o bem... Pois o bom, mesmo que falhe, é sempre luz para alguém! 23 Nesta aflição que me cansa, distante de teu amor, com timidez, a esperança tenta acalmar minha dor. 24 Nunca, em tardes de sol-posto, eu me ponho esmorecida; rasgo o véu do meu desgosto e brindo ao sabor da vida! 25 O luar flertando a areia, cai do céu feliz, por certo, enamorado vagueia, cobrindo em prata o deserto.

26 O luar, olhando a areia, cai do céu, quase desmaia; em vigília ele vagueia cobrindo de prata a praia. 27 O tempo não mede espaços, passa em corrida fatal, e o trovador, em seus passos, nunca passa, é um imortal. 28 Passa a noite... raia a aurora... Só pensamento enfadonho; o teu desprezo se ancora na solidão do meu sonho. 29 Recordam tempos passados, toda magia e ternura, nossos sonhos enlaçados no retrato na moldura.

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30 Se o seu horizonte brilha, não se esqueça do irmão pobre, veja que, na mesma trilha, passa o humilde e passa o nobre. 31 Sob a névoa, sem ruído, juntei meu sonho aos pedaços: - no véu do tempo, esmaecido, senti-me presa em teus braços. 32 Tive alegrias e penas, vi noites e amanhecer, fui palco de muitas cenas, na conquista do viver.

33 Transformei em lindo adorno os ritos do meu sonhar... Andei, vaguei sem retorno, me acampei no teu olhar. 34 Um manto em prata orvalhada acobertou com pudor, o nascer da madrugada no seio de nosso amor.

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NOTA As trovas foram obtidas em livros, boletins de trovas, jornais, trovas enviadas pelos trovadores e em alguns sites, como www.falandodetrova.com, www.poesiasemtrovas.blogspot.com.br, www.singrandohorizontes.blogspot.com.br Biblioteca J. G. de Araújo Jorge, as Mensagens Poéticas enviadas pelo falecido trovador potiguar Ademar Macedo, etc. Montagem da Capa da Revista sobre imagem obtida na internet, não foi encontrada a autoria. Esta revista não pode ser comercializada em hipótese alguma, sem autorização de seus autores ou representantes legais. Pode ser copiado, desde que se coloque o autor das trovas, caso contrário pode ser caracterizado como crime e ser enquadrado nas sanções legais. Respeite os direitos do autor.

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