O Encanto das Trovas Tomo III – Minas Gerais Vol. 2

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O Encanto das Trovas . . . Tomo III – Minas Gerais Vo. 2......... Página | 1

SUMÁRIO

Eduardo A. O. Toledo .................................................................................. 3 Paulo Emílio Pinto ....................................................................................... 8 Heloísa Zanconato Pinto ............................................................................ 15 Belmiro Braga ........................................................................................... 21 Wagner Marques Lopes ............................................................................. 30 Geraldo Pimenta de Moraes ....................................................................... 37 Roberto Resende Vilela .............................................................................. 42

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Eduardo Amaral de Oliveira Toledo

1 Acalme a ira em seu sangue e as injustiças suporte, pois a ofensa é um bumerangue que sempre volta mais forte!

2 A fé, de crenças tamanhas, é um rio largo e bendito que vai transpondo montanhas e deságua no infinito! 3 Ainda vejo da varanda, em frente à Igreja Matriz, o meu pai regendo a banda e a praça inteira feliz! 4 A mentira mais fingida que aprendi, quando criança, foi ouvir que pela vida quem espera sempre alcança. 5 Ao devolver minhas cartas, o carteiro nem sabia que, além de saudades fartas, os meus sonhos devolvia!

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6 A saudade se embaraça e a paixão se intensifica... - Não pelo instante que passa, mas pelo instante que fica! 7 A vingança não me agride, pois tenho de prontidão as armas para o revide: - o entendimento e o perdão! 8 Bate a neblina... Em meu quarto, na solidão que me invade, a saudade inventa um parto... e nasce uma outra saudade! 9 Corroendo o coração e a cabeça endoidecendo, o ciúme é a sensação do que se vê... não se vendo!

10 Durmo tranquila e feliz na madrugada sem lei, quando meu filho entra e diz: - A bênção, mãe, eu cheguei!!! 11 Em minha filosofia o amor é um barco ao relento: - soberbo na calmaria... - e incauto à fúria do vento!!! 12 Em pouco mais que um segundo, e sem quaisquer cantilenas, a trova canta este mundo em quatro versos apenas! 13 Meu pai, que venero tanto, e não sai dos sonhos meus, foi muito mais do que um santo, foi cá na Terra o meu Deus!

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14 Minha assanhada vizinha, enrugada e sem calor, parece um velho "fusquinha" já "rateando" o motor. 15 Minhas saudades, no estágio de tantos sonhos em vão, até hoje pagam ágio no guichê da solidão! 16 Não te rendas nunca à dor, se o teu bem tem rumo incerto, pois, muitas vezes, no amor, esse longe é muito perto! 17 Na viagem da ilusão, pela tarde azul e morna, vivo a esperar na estação um trem que nunca retorna!

18 Neném... Zé Gordo... Tuinha... Zeca saci... (Que distância!) - Cadê a turma que eu tinha na rua da minha infância"? 19 No engenho do desencanto vou moendo a soledade e destilando o meu pranto no alambique da saudade! 20 No leilão do teu amor, se a prenda for um romance, eu pago qualquer penhor e cubro o último lance! 21 No trem da vida prossigo e, à luz da terceira idade, eu vou levando comigo um vagão só de saudade!

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22 No verão, alguns maridos caem nos blocos da cidade... Pintam lábios, põem vestidos e assumem a outra metade! 23 O homem conquista e arrebanha mais altura e põe-se em pé, quando desce da "montanha" e professa a sua fé!!! 24 O inverno fecunda o chão com sêmens de orvalho e espera as flores que brotarão do ventre da primavera! 25 O medo que me intimida, ante o terror e o poder, é o medo da própria vida que não se pode viver.

26 O meu sonho misantropo, deslizando na subida, até hoje busca o topo do pau-de-sebo da vida! 27 O nosso amor, cuja essência é uma volúpia banal, parece até reticência com ar de ponto final! 28 "O que é o amor'?" me perguntas, e, em coro, os anjos entoam: – "são duas pessoas juntas que se amam e se perdoam!” 29 Os meus sonhos vão ao léu, pelas asas da ilusão... - Plantando flores no céu... - Colhendo estrelas no chão!

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30 O sonho que me incendeia à luz da terceira idade parece uma lua cheia no infinito da saudade! 31 Por mais que eu galgue as montanhas dos sonhos, dos ideais, vem uma voz das entranhas e me ordena: – "Suba mais"!!! 32 Por ser caboclo do mato, de capina a vida inteira, meu mundo tem o formato de uma roça sem fronteira! 33 Recordações na parede, cacos de sonhos no chão e o passado, numa rede, embalando a solidão!

34 Sua história... seus desterros... Minas, de formas Gerais, apesar de muitos erros nos deu acertos demais! 35 Tendo a paixão como escolta e o coração em sentido, saudade é um sonho que volta, sem que nunca tenha ido! 36 Um aroma diferente envolve a terceira idade: – é quando o olfato da gente sente o cheiro da saudade! 37 Vaga o meu sonho ao luar num dilema permanente: - se pesca a estrela-do-mar... - se colhe a estrela cadente!!!

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Paulo Emílio Pinto Conselheiro Lafaiete/MG, 1906 Belo Horizonte/MG, ????

1 A amizade mais o amor cultivar bem que eu tentei. Mas quanta praga, Senhor, deu nos jardins que plantei! 2 Aquela? Que bom partido! Além das rendas que tem, é boa no bom sentido e do outro jeito também.

3 As suas cartas, senhora, releio-as de quando em vez. Mas nelas só vejo agora os erros de português... 4 Às vezes fico a pensar que minha alma ainda é menina. Uma garota a brincar num casarão em ruína. 5 Canta um galo. Já distingo um clarão lá no nascente. mais um dia... mais um pingo de tempo a pingar na gente. 6 Com ar assim de quem sonha, filosofava uma cobra: - Ah! se eu tivesse a peçonha que na alma dos homens sobra!

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7 Com ares de gozação, ele à colega dizia: - Essa tua promoção foi reza mesmo, Maria? 8 Como funcionária a Elvira produz pouco, é negligente. Mas como a esperta se vira, terminado o expediente! 9 Cuidai dos ricos, Senhor, protegei-os mais de perto, que aos pobres a própria dor ensina o caminho certo! 10 Dizes que sentes por ela apenas amor carnal. - Com mulher tão magricela, melhor dirias - ossal!

11 Ela, arrependida, ao cura, sem outra desculpa, disse: - Era a noite tão escura, que eu pensei que Deus não visse! 12 Enquanto o bar está cheio de risos e alacridades, eu, sonhando, pastoreio meu rebanho de saudades. 13 Enquanto o mar lambe a areia com volúpia, devagar, de ciúmes a Lua cheia chora prantos de luar. 14 "Era uma santa!" - dizia o viúvo, olhando o caixão. Mas, perto, alguém malicia: - Agora, sim. Antes, não.

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15 Esbelta, leve no andar, calor mostrando também, vem ela. E eu fico a pensar: que puro-sangue ali vem! 16 Escuta, fonte, não sigas jamais os caminhos meus. Tuas quedas são cantigas, as minhas... pergunta a Deus. 17 Esta engrenagem, que é a vida, esmaga a todos, sem dó. E a gente, aos poucos, moída, de novo volta a ser pó. 18 "Fizeram-te mal, Leonor?" - indaga, atento, o legista. E ela, com o rosto em rubor: – "Conforme o ponto de vista..."

19 Foi-se a sogra. E o cenário é bem outro no meu lar. Até meu velho canário voltou de novo a cantar. 20 Há dois tipos de mulher que a nossa vida atormenta. - Aquela que não nos quer e aquela que a gente aguenta. 21 Ia triste. De repente, uns olhos negros, risonhos, deixaram na minha mente uma ninhada de sonhos. 22 Infeliz não é o que chora de inveja ou amargo rancor. É o que vai por vida a fora sem uma história de amor.

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23 Mais bebo, mais me angustio, tamanha é a dor que me invade. - Sou planta de beira-rio, numa enchente de saudade! 24 Maria, com jeito e graça, de meu cigarro reclama. Mas não é pela fumaça, é pela cinza na cama. 25 Morre um doutor. Cena forte. Porém, nesse triste instante, quem mais chora é a própria Morte, que perdeu seu ajudante... 26 Mulher correta é a Maria. Correta e boa também. - Fazendo o que não devia, ela não deve a ninguém...

27 Mundo de gente que chora... Mundo de gente sofrida... E o Tempo fincando a espora na besta magra da vida... 28 Na tarde cinzenta e fria, quê de tristezas no ar! Bate um sino... Ave-Maria... Ah! se eu soubesse rezar! 29 Nesta vida, mar revolto, onde a carne em ânsias grita, quando o demônio anda solto, toda mulher é bonita. 30 Nesta vida que se arrasta, tão cheia de coisas loucas, há mulheres de mil castas, mas castas mesmo, há bem poucas!

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31 Nordeste. Vai longo o estio. Quanta tragédia traduz o leito seco de um rio e à beira dele urubus! 32 Nunca vi coisa mais louca do que os teus olhos, Maria. Como brilham quando a boca da noite devora o dia! 33 O sol, ao romper do dia, olha a Terra em festival, sem saber que essa alegria ele a trouxe em seu bornal. 34 Ó tu que vives por baixo, se subires sê decente. Não sejas como o riacho que faz misérias na enchente.

35 Para a minha alma sofrida quisera apenas um bem: – o de ir brincando com a vida, enquanto a morte não vem. 36 Pernas tortas, magricela, e de biquíni na praia! - Você não sabe, Isabela, que falta lhe faz a saia!... 37 Por essa vida, aos esbarros, sigo só por meu caminho. Sou como um desses cigarros, que vai queimando sozinho. 38 Por que gargalhas, coruja, lá nas grimpas do telhado? Alegra-te a noite suja de tanto vício e pecado?

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39 Quando o sol descamba além e os sinos soltam lamentos, intrusa, a saudade vem despertar meus pensamentos. 40 Que a esmola que dás ao pobre seja sempre aos olhos teus apenas um gesto nobre, nunca um empréstimo a Deus. 41 Que luta quando eu a vejo tão tentadora e inocente! Já viu respeito e desejo brigando dentro da gente? 42 Quer sejam feias ou belas, das mulheres fujo sim. Das feias - de medo delas. Das belas, medo de mim.

43 Regra, filho, o teu viver para não teres a mágoa de ver que o falso prazer num mar de tédio deságua. 44 Revendo a velha cidade onde deixei meu umbigo, qual cicerone, a saudade é quem passeia comigo. 45 Roteiro duro o da vida! Tem setas bem indicadas, mas quanta gente perdida em suas encruzilhadas! 46 Sem rumo, triste, mofino, segue o rebanho pastando. Quem pastoreia é o Destino. De cima Deus fica olhando.

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47 Tua sorte, companheiro, à de mais ninguém se iguala: – tens saúde, tens dinheiro... e uma mulher que não fala! 48 Uma estátua, um monumento que lembre amor e carinho? - Uma mulher no momento de amamentar seu filhinho!

49 Vai o boi, dando de duro, com o velho carro que chia. Soubesse de seu futuro, tanto esforço não faria. 50 Vejo-o sempre em meu caminho e invejo-lhe a placidez. - Ensina-me a ver, ceguinho, a Vida assim como vês!

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Heloísa Zanconato Pinto

1 A centelha do ciúme transformou-se em fogaréu. Queimou-me o peito... E seu lume pôs o inferno onde era o céu!

2 A lei da vida nos diz que, entre o instinto e a prudência, é sempre o melhor juiz, nossa própria consciência! 3 A ofensa mais dolorida, que à humilhação se compara, é quando a mão estendida leva uma "porta na cara"! 4 Ao ler o verso perfeito que algum poeta escreveu, brota-me o ousado direito de achar que a Musa fui eu!! 5 Após o parto, o marido vendo o nariz da criança, saiu buscando, ofendido, um turco na vizinhança!

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6 A saudade me garante, já que a tristeza persiste, que eu devo, de agora em diante, me acostumar a ser triste! 7 A tristeza mais pungente... aquela que ninguém vê, é a que dói dentro da gente e a gente sabe por quê! 8 Ciúme - diz o ditado é o tempero do amor. Mas, se não for bem dosado toma indigesto o sabor! 9 Dando, à solidão, guarida, na amplidão de seus portais, as noites de minha vida ficaram longas demais!!!

10 É meio a meio, eu garanto, a culpa de meus pecados, pois só deixei de ser santo quando aceitei seus agrados! 11 Eu não sou Mago, nem Santo, mas na magia do amor hei de quebrar teu encanto; fazer-te escrava... e, eu, Senhor! 12 Feito a chama de uma vela que se esvai no alvorecer, qualquer poder se esfacela ante o Supremo Poder! ... 13 Gente existe em que o entalho de um visual elegante apenas lustra o cascalho mas não o torna um brilhante!

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14 Magoei afetos, trilhando rumos, os mais incorretos... E agora pago, penando nas garras dos desafetos! 15 "Meu bem - indaga o marido o que é brega...que eu não sei?" “É aquela saia, querido, que me deste e eu nunca usei!” 16 Não busque ocultar os traços do amor, com farsa nenhuma... Se me prefere em seus braços, tire o disfarce... e me assuma! 17 Na solidão que, hoje resta, em meio à casa vazia, eu bebo as sobras da festa que nós tivemos um dia!

18 Na vida, faço e desfaço duras laçadas sem medo, porque no ajuste do laço é Deus quem me empresta o dedo! 19 No ardor com que me devora, esse amor, sinto, afinal, que se foi delírio outrora... hoje, é loucura total!!!... 20 Nosso conflito, suponho, deu-se em razão de um defeito: – coração, é que o teu sonho era maior que o meu peito! 21 O afeto mais eloquente que a vida nos pode dar é o que expressa a mãe da gente, numa canção de ninar!

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22 O ciumento: - Não, senhora, nada de roupa moderna! Quer pôr barriga de fora? Ponha a barriga da perna! 23 O Destino se afigura aquela torre elevada que oferta o gozo da altura pelo suplício da escada!… 24 O nosso amor clandestino, vivendo à mercê da sorte, viaja pelo Destino sem carimbar passaporte!... 25 O solitário modera seus passos no viajar. Quem não tem ninguém à espera, não tem pressa de chegar!...

26 Padece a Nação inteira e explodem forças armadas, quando a Sorte põe, arteira, o poder em mãos erradas! ... 27 Para inseri-la entre as flores, Deus, empunhando a paleta, pintou um mundo de cores nas asas da borboleta!... 28 Parece que um anjo arruma, no céu, a luz das estrelas: de dia, apaga uma a uma... E à noite, torna a acendê-las! 29 Porque, sempre, nas vitórias, logrei o apoio de alguém, eu reparto as minhas glórias com meus amigos também!

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30 Qual seria o saldo bruto da nossa conta corrente, se Deus cobrasse tributo pelas fraquezas da gente?! 31 Quando ao amor te recusas, a inspiração não acordas... Porque poetas sem musas lembram violas sem cordas! 32 Quando a sorte traiçoeira cresta o fogo da ilusão, volto a ser a Borralheira entre as cinzas do fogão! 33 Quando, formal, eu te abraço, tu nem percebes, suponho, o quanto eu sinto que enlaço a forma viva de um sonho!

34 Se ao romance eu me refiro, a moçada de hoje em dia me responde que suspiro se encontra... em Confeitaria! 35 Seja cobrado... ou de graça, num paradoxo profundo, por melhor que algo se faça, não se agrada a todo mundo! 36 Sendo esquelético, feio, ao cemitério não vai, pelo devido receio de que se entra... não sai! 37 - Se um dia eu virar defunto, vou ser na rede, enterrado. - Que melhor caixão, pergunto, pra quem viveu "pendurado"?...

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38 Sol a pino, castigando... Terra seca do sertão! E o nordestino chorando... Só seu pranto molha o chão! 39 Tu és a chuva voltando após os meses de estio... E eu, o rio te esperando naquele leito vazio! 40 Unem-se povos irmãos num gesto nobre e fecundo, cuja corrente de mãos faz-se o suporte do Mundo!

41 Vai à luta enquanto é cedo que amanhã já será tarde e, da semente do medo, terá nascido um covarde! 42 Vendo chegar a saudade que a tua ausência me trouxe, mesmo não sendo verdade, gravei na porta: – MUDOU-SE!

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1 A beleza não te atrai? Só te casas por dinheiro? Tu pensas como teu pai, que morreu velho e... solteiro.

2 A caridade... Consola ao vermos que ela é perfeita, não por ser grande a esmola, mas no modo por que é feita. 3 A mãe que aperta no seio um filho de seu amor, tudo enfrente sem receio a calúnia, a injúria e a dor. 4 A mãe que a um filho acalenta - tal o seu amor profundo tem a impressão que sustenta em seus braços todo um mundo. 5 Amigos... E quanta gente não crê na verdade atroz que, no mundo, há somente: - Aquele que existe em nós.

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6 A mulher, além de terna, faz tudo com perfeição, que até nos passando a perna, tem a nossa gratidão... 7 Aquele que dá esmola tem duas vezes a palma: - Primeiro, o pobre consola, depois, consola a sua alma. 8 As almas de muita gente são como o rio profundo: -a face tão transparente, e quanto lodo no fundo!... 9 Assim como brotam flores do triste, empedrado chão, em rima brotam-me as dores que trago no coração.

10 A vida, pelo que vejo, hoje é vale e amanhã cimo: -A quantos pobres invejo e a quantos ricos lastimo! 11 Casa em março Ester Macedo e em julho é mãe... Ora, o alarde! O filho não veio cedo, o esposo é que veio tarde... 12 Chegaste, afinal ! Chegaste no instante mais preciso; vens trazer a quem mataste as rosas de um teu sorriso... 13 Com juiz, reto e calmo posso afirmar sem receio: - Mulher de boca de palmo tem língua de palmo e meio

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14 Coração, bate de leve; deixa os teus sonhos horríveis, que um coração nunca deve sonhar coisas impossíveis. 15 De Júlia o pesar profundo parece uma coisa pouca; - vive na boca do mundo por ser beijada na boca. 16 Desilusões, desenganos, tudo a velhice nos traz, mas existe, além dos anos, a eterna bênção da paz... 17 Dizem que a lágrima nasce do fundo do coração... Ah! se a lágrima falasse, que doce consolação!

18 Do berço à tumba há um caminho que todos tem de transpor: de passo a passo - um espinho, de légua em légua - uma flor. 19 Dos beijos me lembro, Glória, mas não do sabor, meu bem. Por que a fronte tem memória e a minha boca não tem ? 20 Em ti, minha mãe, se encerra todo o meu maior troféu: - guardas num corpo de terra uma alma feita de céu. 21 Entre o berço e a sepultura um relâmpago fugaz, mas que século perdura pelo que nele se faz !

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22 Eu morro por Filomena, Filomena por Joaquim, o Joaquim por Madalena e Madalena por mim. 23 Eu não lamento o revés do morto que se fez pó; do vivo, que espera a vez desse sim, eu tenho dó. 24 Fiz na vida o meu escudo desta verdade sagrada: - o nada com Deus é tudo e tudo sem Deus é nada. 25 Há dois poderes no mundo que tudo movem. Primeiro: - Mulher bonita. Segundo: dinheiro, muito dinheiro.

26 Há no livro uma luz calma que torna o mundo maior: - quem vê pelos olhos da alma, vê mais longe e vê melhor. 27 (Mãe) Acima de tudo, acima do céu, te devemos por: – o teu nome não tem rima, nem limite o teu amor. 28 Meu coração é uma ermida toda enfeitada de flores, onde conservo escondida Nossa Senhora das Dores. 29 Minha vida é uma jangada num mar revolto de escolhos, baloiçando sossegada à doce luz dos teus olhos.

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30 Muitas vezes imagino, nos meus dias desolados, que o meu coração é um sino dobrando sempre a finados. 31 Muito mais desenxabido que a goiaba sem queijo, é te abraçar, bem querido, e não poder dar-te um beijo. 32 Muitos supõe a ventura ver em meus olhos brilhar, quando esse brilho é tortura de não poder chorar. 33 Mulheres que eu vi no banho, vejo-as depois no salão! -Se pelo rosto as estranho, pelas pernas sei quem são.

34 Na justiça tem confiança e verás depois, surpreso que, por ter venda e balança, ela te rouba no peso. 35 Não conhecem mesmo os sábios este caso singular : - Fala a mente pelos lábios e o coração pelo olhar. 36 Na terra que te consome, nem uma triste inscrição! Pudera! Porque teu nome não me sai do coração. 37 Na vida, maior ventura nada nos pode causar do que a tépida ternura que nos vem de um doce olhar.

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38 (À Maria Teresinha) Nestes dois nomes se encerra um rutilante troféu: - Se Maria é a flor da Terra, Teresinha é a flor do céu. 39 No anel que me deste, pego e vejo que é falso, crê. - Se o amor verdadeiro é cego, também falso é o amor que vê... 40 Noite de núpcias. O Gama encontra a esposa envolvida num lindo roupão e exclama : — Posso, enfim, ver-te vestida! 41 Num tronco seco, sem vida minha mão teu nome abriu e o tronco seco, em seguida, reverdeceu e floriu.

42 Olhos pretos, dois acesos e rescendentes carvões: - Par de algemas que traz presos corações e corações. 43 O maior dos meus desejos é ver-te, vendo com gosto eu entupir com meus beijos as covinhas do teu rosto... 44 O noivo, da noiva outrora via o rosto e nada mais ; se o rosto não vê agora, todo o resto vê demais... 45 O que perdemos na vida, procuramos sem achar, exceto a mulher perdida, que achamos sem procurar...

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46 Os beijos, segundo os sábios, dados com muita afeição, não deixam sinal nos lábios, mas deixam no coração. 47 Ouvindo-a falar da vida dos próprios pais, tive pena de ver língua tão comprida numa boca tão pequena. 48 Para ser feliz, um louco costuma me aconselhar: - deverás desejar pouco e quase nada esperar... 49 Pobre de mim! Por desgraça meu coração é um coador: nele, o riso escorre e passa e fica o que é dor.

50 Por ver-me alegre e contente, julga-me o mundo feliz: – nem sempre o coração sente aquilo que a boca diz… 51 Prezado amigo, perdoa a resposta demorada: – tu sabes, quem vive à toa, não tem tempo para nada. 52 Quanta vez junta a um jazigo alguém murmura de leve: - Adeus para sempre, amigo! E diz-lhe o morto: - Até breve! 53 Quantas vezes tenho ouvido: - como ele ri de prazer! Quando esse riso é um gemido que aos lábios me vem morrer...

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54 Que grande, triste verdade me sussurra o coração: - a dor é uma realidade, a alegria - uma ilusão... 55 Quem maldiz a vida, prova não conhecer que ela é vã: - no espaço do berço à cova há ontem, hoje, amanhã. 56 Quem, mesmo nas alegrias, de lastimar não se furta de ver tão longos dias, para uma vida tão curta?.. 57 Quis a sorte que te visse, quis o amor que eu te adorasse, quis o dever que eu partisse, quis a paixão que eu ficasse.

58 Saudade... palavra linda, de sete letras... Saudade é noite que tem ainda lampejos de claridade. 59 Sobre o triste chão de abrolhos em que tu vieste ficar, meus tristes, cansados olhos, não se cansam de chorar. 60 Tenho um neto e essa ventura veio florir os meus dias, que um neto é um sol que fulgura num céu de nuvens sombrias. 61 Teu coração é morada que não atrai, felizmente: – Quem nele arranja pousada encontra a cama ainda quente.

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62 Teus olhos, Rosália amada, me recordam dois ladrões, sob a pálpebra rosada tocaiando corações... 63 Tu não vês que vivo louco por causa desta afeição ? Coração, sossega um pouco, coração sem coração ! 64 Uma princesa parece pelos trajes do alto preço, mas quanta gente conhece seus vestido pelo avesso!…

65 Vi teus braços... que ventura! teu colo... as pernas... que gosto! Agora, tira a pintura, Que eu quero ver o teu rosto. 66 Vivo, encheu (a História o prova) com suas glórias o mundo, e, morto, não enche a cova de quatro palmos de fundo.

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Pedro Leopoldo/MG 1 Anotam que as lavadeiras Falam demais nos riachos!… Quem conta as muitas besteiras Que em velório dão em cachos?!… 2 Ante o fogo violento, em rodopios sem fim, diz um moço, em seu lamento: “ – Queimaram parte de mim!…”

3 Ao escrever estes versos, uma tristeza me invade: – com retratos tão diversos, eu começo a ter saudade… 4 Aquele que sempre joga O lixo em qualquer lugar É o desleixado que roga: “ – Venha, dengue, me atacar!”. 5 As almas compreensivas avançam ao perdoar. Carregam pedras – as “vivas”, mal saindo do lugar. 6 A saudade é, em verdade, ação do mar, por que não? Rolam seixos de saudade nas praias do coração.

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7 A saudade é tão ladina que se retrata a valer: – em mil imagens me ensina a recordar o viver. 8 A saudade pequenina tem certo preciosismo: – é casinha na colina – lá morar o quanto cismo. 9 Aurora. O Sol se irradia, superando névoa densa. No lar, o sol da alegria bela manhã nos dispensa. 10 Cantam aves folgazãs!... Cantam rios, corredeiras!... Ouço o canto das manhãs em céus de nuvens ligeiras!...

11 Cautela tem seu lugar – o prudente é o mais feliz. Há lobos que vão cear distantes de seus covis! 12 Contadora de meus casos dos bons tempos que vivi!… Saudade não marca prazos para me ver por aqui. 13 Em velórios, não carece Opinar sobre os defuntos… Melhor é silêncio e prece… E discrição nos assuntos. 14 Em todo velório quis falar mal de quem partia. Um intenso diz-que-diz marcou presença em seu dia.

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15 Entre miríades de estrelas, quero as duplas, a brilhar… Em céus de amor hei de vê-las: – a família e o doce lar! 16 Escolha o destino exato Para os montes de sucata; Ou a dengue, sem recato, Vem até nós… e nos mata! 17 Eu quero alcançar a estrela do amor a me confortar, para enfim poder retê-la no recesso do meu lar. 18 Fim de tarde… Um sol mortiço a cair lá no poente… Saudade – não mais que isso – tênue luz dentro da gente.

19 Há muito um mundo caduca – mais um tanto, e chega ao fim – tempo de vida maluca: – do irmão distante de mim!… 20 Incêndio feroz, ranzinza, impiedoso, sem dó. E faz muito verde em cinza, lá na Serra do Cipó. 21 Lata e vidro a céu aberto… Tempo de chuva que vem: – Triste cenário!… por certo, Algo que à dengue convém! 22 Luquinha do Rancho Quieto foi bem tirano com os seus. Tira o chapéu… Diz ao neto: - Aguardo o perdão de Deus!…

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23 Minha família seguia buscando terras além… A saudade, hoje em dia, é viajora de trem. 24 Moroso... De quando em quando, ele passa... Mal avança... Saudade – um trem transportando todo o peso da lembrança. 25 Morreu o Zeca Perneta, como foi o seu velório?… Mentira foi de muleta… Desandou o falatório!… 26 Mundo vem… E mundo passa… A Terra não vê seu fim!… Informo: - a grande ameaça Anda aqui dentro de mim.

27 Não entrou a Terra em “S”!… Outra vez, cadê o fim?… Um novo mundo se tece; melhor, apesar de mim… 28 No lar, alguém que lidera, dispensando muito amor, suporta a mais longa espera tem a fé, ao seu dispor. 29 No seu destino cruel de remanso traiçoeiro, a fofoca tem papel de engolir o fofoqueiro… 30 No velório, o proceder pede atitude contida. precisa o mundo saber muito mais da alheia vida?!…

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31 Num velório, quem desfia Um rosário de suspeitas, Esquece que chega o dia De toda alma direita!… 32 O lar justo é parte rica, alcançando bons escores: – noutros lares se duplica, tão iguais ou bem melhores. 33 O lar que escreve nas linhas da convivência sincera, descobre nas entrelinhas a paz que ele tanto espera. 34 O mal – um corcel no unto Que cavalga a mais de cem!… Quem fala mal de defunto Cai do cavalo também!…

35 O homem busca conquistas: – Lua, redes, Internet… Só o lar detém as pistas de verdades que o complete. 36 O "não" é um malabarista: – nega ou faz confirmação... Quem atende, mais conquista quando se expressa: – "Pois não!..." 37 O perdão, em qualquer meio, não se mostra interesseiro: – é doação sem receio – alma entregue por inteiro. 38 O sol rompe no horizonte, o otimismo me incendeia sol que rompe em minha fronte e ilumina a vida alheia.

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39 Paraíso adamantino - lugar de vivo esplendor – o lar é núcleo de ensino, onde o bom mestre é o Amor. 40 Que ofício ele adotaria?… Andei pensando bastante… Em tormenta ou calmaria, o perdão – bom navegante. 41 Saneando nossas casas, Sem lixo na vizinhança, Mosquito não cria asas, A dengue jamais avança. 42 São criatórios – mais nada – Donde a dengue tem partida: – Caixa d’água destampada E uma piscina esquecida.

43 Saudade é clarão, lampejo de um paraíso distante – quem dera eu tivesse o ensejo de vivê-lo, a todo instante. 44 Seja de andrajos vestida ou trajada de princesa, saudade é sempre garrida, um encanto, uma surpresa!… 45 Seja minha e seja tua esta verdade solar: – quem perdoa lá na rua resguarda as portas do lar. 46 Se num velório desponta Julgamentos de montão, O defunto até levanta: - Tô fora, comigo não!…

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47 Sendo fingido ou finório, devo a isto dar um fim. A maldade – algo notório que existe dentro de mim. 48 Sucata empoçando chuvas – à dengue, bom ambiente, onde ela cresce… E põe luvas para atacar muita gente! 49 Surge um monstrengo: – o revide... Como se deve enfrentá-lo? Perdoando a quem agride, a fera some no ralo! 50 Todo lar pede grandeza após a luta, o trabalho: – que a Ternura ponha a mesa e que a Paz dê o agasalho.

51 Tomar pé, quando preciso, das águas novidadeiras… Quantas modas sem juízo são correntes traiçoeiras!… 52 Um bom convívio se alcança se este trio vem a nós: – chegam Perdão e a Esperança… E surge a Paz logo após. 53 Um mundo velho se apaga: – o pior terá seu fim, quando eu fizer boa vaga do melhor que existe em mim.

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Geraldo Pimenta de Moraes São Sebastião do Paraíso/MG, 1913 Passos/MG, 1997

1 Ao beirar-se o fim da vida, com tristes acenos francos, quais lenços em despedida, são nossos cabelos brancos. 2 Aquele que ri de um triste não se lembra, com certeza, do curto espaço que existe entre a alegria e a tristeza.

3 A saudade mais aflita que o nosso coração sente é essa saudade esquisita que a gente sente da gente. 4 Chega a me causar espanto quem pode, comigo eu penso, na dor, enxugar seu pranto, usando, apenas o lenço… 5 Com muita certeza eu digo que agrada mais ao Senhor quem, além do pão de trigo, dá ao pobre o pão do amor! 6 Com seu jeito assim calado, saudade, na alma da gente, é um silêncio do passado, cochichando com o presente.

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7 Deus, jardineiro da Terra, Tu, que tanto amor nos dás, planta, nos campos da guerra, os lírios brancos da paz! 8 Esperança - bem que enleva nossa vida, no presente; - um raio de luz na treva do incerto amanhã da gente. 9 Esperança: - benfazeja visão de um doce porvir algo bom que se deseja; que pode vir ou não vir. 10 É triste, mas é verdade, verdade que nos crucia: – Quando cheia de saudade, nossa vida é tão vazia!

11 Ganância negra, sem nome, que só miséria semeia, tem-na aquele, cuja fome se nutre da fome alheia. 12 Gente existe que, com calma, disfarçando o seu desgosto, tendo a noite dentro d'alma, mostra auroras no seu rosto! 13 Longe da pessoa amada, à sombra da solidão, o silêncio é a voz do nada, falando alto ao coração. 14 Mesmo morta a Conceição, o Zé diz, com ciúme dela: - Cheguem perto do caixão mas não ponham a mão nela!...

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15 Mulher bela, indiferente, é como a sorte fugaz: - Quanto mais foge da gente, mais a gente corre atrás... 16 Nos candomblés se descobre ao som louco do zabumba, que a discoteca de pobre é o terreiro de macumba... 17 No seu mundo de esperança, muito engraçadinha e calma, pergunta, séria, a criança: - boneca, mamãe, tem alma?... 18 O que me nega a existência de venturoso e risonho, devagar e com paciência eu lhe vou roubando em sonho...

19 Ó Vida, por que tu expandes o amargor dos teus venenos, impondo males tão grandes a corações tão pequenos? 20 Por este mundo sem dono, ver, meu Deus, como desola, tanta gente, no abandono, faminta, pedindo esmola! 21 Quando a escuridão se espalha pelos céus, a mim me ocorre: – A noite é negra mortalha, cobrindo a tarde que morre… 22 Quando chove no Nordeste, chove amor, chove bonança. E a terra inteira se veste de alegria e de esperança!

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23 Quando escondo meu lamento, fingindo que eu sou ditoso, sem querer, ante o tormento, cai-me o pranto... de teimoso! 24 Quanta dor não se descobre na vida, ainda bem cedo, no olhar da criança pobre, que chora por um brinquedo! 25 Quanta vida existe, amigo, pelo mundo, em soma enorme, que tem, como único abrigo, o chão da ponte, onde dorme! 26 Quanto dinheiro se gasta só por luxo e ostentação, enquanto a fome se arrasta por tantos lares sem pão!

27 Quem no seu sonho acredita vive ditoso e risonho. - A verdade mais bonita não vale o enlevo de um sonho... 28 Saudade é livro à distância, que o tempo vive escrevendo, enquanto a gente, com ânsia, de olhos fechados, vai lendo… 29 Se a despedida nos cobra muita dor, muita ansiedade, a gente paga e nos sobra um saldo triste – a saudade. 30 Sendo, embora, mal ingrato, foi um grato bem, outrora… – Saudade é bem o retrato de um riso, que a gente chora.

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31 Se vendesses teu carinho, teu carinho que é tão doce, comprá-lo-ia inteirinho, por qualquer preço que fosse... 32 Tudo aquilo que nós temos não é tão belo e risonho. Melhor mesmo é o que queremos, sem jamais passar de sonho...

33 Um pingo de chuva minúsculo nos olhos surge fulgente… – Luz acesa no crepúsculo, quanto anoitece na gente.

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Roberto Resende Vilela Pouso Alegre/MG 1 A educação esmerada, ao preparar para o novo, conduz, em sua escalada, à identidade de um povo. 2 Alegria verdadeira, neste mundo de ilusão, é sonhar a vida inteira... sem tirar os pés do chão.

3 A luz que jorra na fonte que os olhos não podem ver, amplia mais o horizonte que a nuvem tenta esconder ! 4 A mentira, com extrema e total habilidade, tem passado, sem problema, como exemplo da verdade! 5 A noite, pela cidade… coração triste e alma nua, eu sempre encontro a saudade me procurando na rua! 6 Ao som do despertador, erga-se alegre... sorria!... E agradeça ao Criador pelo sol de um novo dia!

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7 A Trova bem construída... que aos bons princípios conduz, pelos escuros da vida é uma cascata de luz! 8 Cai a chuva... o rio inunda... o vento torce o arvoredo... Mas, se a raiz é profunda, nenhuma planta tem medo! 9 Com belas coreografias no chão e na imensidade, as aves, todos os dias, dão lições de liberdade! 10 Da varanda da fazenda, uma saudade sem fim escuta aquela moenda que agora só range em mim!

11 Embora longe e tardia, com débil luminescência, a estrela do amor nos guia pelas noites da existência. 12 Esta mulher que me inspira – Musa na luta esculpida – é ingênua, pobre e caipira, mas razão da minha vida! 13 Este relógio é um castigo! - Vai, de meia em meia hora, acordando um sonho antigo... que se nega a ir embora! 14 Mesmo contra a correnteza - poluída, que envenena o Amor à Pátria é a certeza de que a luta vale a pena.

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15 Mesmo quando se fracassa e a vida é mar de incerteza, a esperança, embora escassa, é sempre uma vela acesa! 16 Nada machuca, dói tanto nem nutre mais a descrença e o profundo desencanto do que a extrema indiferença. 17 Não malogre o seu desejo… Nem pense que é uma vergonha, pois é nas asas de um beijo que chega à lua… quem sonha! 18 Nem mesmo em noite de inverno o luar contém mais brilho que as luas do olhar materno rondando o berço de um filho!

19 Nos bons tempos das varandas, das mangueiras nos quintais e das alegre cirandas o mundo sonhava mais! 20 O meu coração é um galo empoleirado no sino silencioso e sem badalo da capela do destino! 21 O meu espírito é um frade em sua própria capela... a procura da saudade que vagueia dentro dela! 22 O patrimônio maior - saldo da luta… sofrida -, Todos sabemos de cor: – É o bom exemplo de vida.

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23 O poeta não lamenta o caminho e a caminhada, pois é a graça que o sustenta todo o tempo, em toda a estrada! 24 O que fiz, quando criança, deu rédeas à mocidade... Hoje - o coração balança na gangorra da saudade! 25 Pelas veredas singelas da Trova e da Poesia, se difundem as mais belas lições de Filosofia. 26 Por entre as ramas hirsutas, em pomares carregados, o luar espreme frutas na boca dos namorados!

27 Quando a estiagem persiste e a terra se faz ardente, nenhuma nuvem resiste aos apelos da semente. 28 Quando piso, descuidado... as trilhas da solidão, sinto, a cada passo dado, minha mãe me dando a mão! 29 Quanto mais se estende a mão e a justiça cresce e avança, mais brilha, no coração, a centelha da esperança! 30 Quem não escolhe a semente, nem cultiva com capricho, às vezes colhe somente restolhos e carrapicho.

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31 Quem trabalha a ecologia Com exemplo e amor profundo Sente o prazer e a alegria De estar melhorando o mundo. 32 Rio de águas incontidas, como é vária a tua sorte, - se tu levas muitas vidas, carregas também a morte. 33 Sem dúvida, em toda parte, Naturalmente, não cansa: – Brinca, grita, ri, faz arte… -criança é sempre criança!

34 Sem responder pelos atos, à luz da conveniência, ainda há muitos Pilatos crucificando a inocência! 35 Se quiseres um luar prateando o interior, deixa em ti mesmo piscar uma centelha de amor. 36 Sob os trapos do luar, na brisa envolvente e branda, a saudade vem chorar pelos cantos da varanda.

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NOTA As trovas foram obtidas em livros, boletins de trovas, jornais, trovas enviadas pelos trovadores e em alguns sites, como www.falandodetrova.com, www.poesiasemtrovas.blogspot.com.br, www.singrandohorizontes.blogspot.com.br Biblioteca J. G. de Araújo Jorge, as Mensagens Poéticas enviadas pelo falecido trovador potiguar Ademar Macedo, etc. Montagem da Capa da Revista sobre imagem obtida na internet, não foi encontrada a autoria. Esta revista não pode ser comercializada em hipótese alguma, sem autorização de seus autores ou representantes legais. Pode ser copiado, desde que se coloque o autor das trovas, caso contrário pode ser caracterizado como crime e ser enquadrado nas sanções legais. Respeite os direitos do autor.

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