O Encanto das Trovas Tomo VI - Rio de Janeiro vol 3

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O Encanto das Trovas . . . Tomo VI – vol.3 - Rio de Janeiro......... Página | 1

SUMÁRIO

Almerinda Liporage ..................................................................................... 3 Edgard Barcellos Cerqueira ......................................................................... 8 João Rangel Coelho ....................................................................................13 Lilinha Fernandes ......................................................................................18 Magdalena Léa ...........................................................................................23 João Freire Filho ........................................................................................27 Nádia Huguenin .........................................................................................32 Durval Mendonça .......................................................................................36

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Almerinda Liporage Rio de Janeiro

1 Bem caprichosa é a sorte da infância desprotegida que vive à espera da morte, por nada esperar da vida.

2 Cantiga que me transporta da angústia ao sono da paz é ouvir a chave na porta e teus passos logo atrás! 3 Com todo risco a correr hei de em teus braços chegar: sou rio que, até morrer, corre à procura do mar. 4 Criança desprotegida... feita de nãos e de nadas, é só rascunho da vida, rabiscado nas calçadas. 5 Do meu leito eu te arranquei; mas por mais forte que eu banque, do meu coração, eu sei, não há nada que te arranque.

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6 Em meu rosto deslizando vem tua boca em anseios, no teu beijo terminando o mais doce dos passeios! 7 Em toda vida eu te vi tão dentro dos sonhos meus, que ao despedir-me de ti, era a mim que eu dava adeus! 8 Eu sinto, na indiferença com que o tempo me consome, que em seu Livro de Presença a vida apagou meu nome. 9 Meu orgulho se rebela mas o amor faz perdoar, porque a saudade é janela que eu não aprendo a fechar.

10 Meus cataventos da infância, em acenos coloridos vejo ainda hoje, à distância, catando sonhos perdidos. 11 Morre o amor .. o espólio é feito, tudo partido em metade. Minha inteira, por direito, só ficou mesmo a saudade. 12 Mudou o jeito de amar... E em nossa afeição madura, a volúpia deu lugar aos afagos da ternura. 13 Nas lâmpadas salpicadas que enfeitam suas pobrezas, as favelas enjeitadas choram lágrimas acesas!

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14 Nosso amor só necessita de alguns metros de coragem, porque a fronteira limita, mas não impede a passagem. 15 Nosso amor tem tal magia, que, mesmo em noites sem lua, o luar, por cortesia, brilha só na nossa rua. 16 Nós tanto nos pertencemos, nosso amor vai tão além, que nós dois já nem sabemos qual de nós é mais de quem! 17 No verão era tão mini a coleção que mostraram, que uma passou sem biquíni e os presentes nem notaram!

18 O espelho mostra inclemente, nas marcas que o tempo aviva, que hoje eu sigo para a frente em contagem regressiva. 19 Pela “conversa” de amigo e esse adeus dito com arte, o que tu fazes comigo não é renúncia, é descarte. 20 Por que crianças com frio não tem o sol de um abraço, se em tanto braço vazio há desperdício de espaço ? 21 Por um orgulho idiota eu não quis lutar por ti... E com medo da derrota, mesmo sem luta perdi.

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22 Prometo seguir teus passos na prece em que me concentro, até que a cruz dos teus braços se feche, comigo dentro. 23 Quebraste a nossa harmonia e escravizado ao teu jeito, meu coração, hoje em dia, é um corpo estranho em meu peito. 24 Que valem os planos meus de um dia acertar meus passos, se o céu me acena com Deus e eu busco o inferno em teus braços. 25 Se cantar alegra a vida, por que se vê, pelo chão, tanta cigarra caída no fim de cada verão?

26 Sem dúvida nem receios, meu eu te entrego desnudo. Se o fim justifica os meios, o amor justifica tudo! 27 Sem enredo a minha história foi no tempo se perdendo: se existe um dia de glória, a vida está me devendo. 28 Se uma Trova me entristece, fazê-la, sei que não devo ... Tristeza ninguém merece e, por isso, eu não a escrevo... 29 Se voltares por fineza, entra e pisa devagar; não acordes a tristeza que cansou de te esperar.

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30 Tão forte nos abraçamos, confundidos no entrelaço, que eu acho até que trocamos de corações nesse abraço! 31 Teu ciúme em demasia, sem limite a respeitar, transformou em tirania tua maneira de amar. 32 Tuas recusas sem jeito mostram, de modo evidente, que tens meu corpo em teu leito, com outra imagem na mente.

33 Uma verdade evidente não há texto que distorça: -Ante a imagem contundente, a palavra perde a força. 34 Um choque levou Zequinha, sem fios e sem tomada, ao se ligar na vizinha, com a mulher dele ligada...

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Edgard Barcellos Cerqueira Rio de Janeiro (1913 - ????)

1 A amizade só persiste quando a gente, sem má fé, não exige que o que existe seja mais do que ele é.

2 A criança, num segundo, domina o que o céu lhe deu: - Deus lhe faz todo este mundo, ela sonha... e faz o seu ! 3 A felicidade é feita do valor que é dado ao bem. É o muito que se aproveita do pouco que a gente tem. 4 A lágrima que caía, do teu rosto, ante o sacrário, falava mais a Maria, que a prece do seu rosário… 5 Ante o mundo em descalabro, sustendo a filha querida, teus braços são candelabro, erguendo a chama da vida.

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6 A saudade que agasalho é resto de amor ardente. Foi-se o fogo do borralho, mas ficou a cinza quente... 7 Bordam, soltos, seus cabelos, caracóis negros na fronha. E eu, insone, horas a vê-los, fico a sonhar com quem sonha... 8 Brinquedo, no chão, quebrado, tragédia de pouco enredo: - um martelo malsinado e esparadrapo, num dedo! 9 Cada ação tem sua vez; o que foi não volta atrás. Orgulho do que se fez não dá fama ao que se faz…

10 Cada vez que tento, em fuga, mascarar o meu desgosto, descubro mais uma ruga a desmascarar meu rosto... 11 Canarinho cantador, que perdeste a liberdade, ganhas fama de "cantor", quando choras de saudade... 12 Com uma roupa, vai-se embora… vem com outra, no arrebol… Eu vi, no ocaso e na aurora, as duas roupas do sol… 13 Conto a vida a uma criança, mas não conto o que sofri. Seu caminho é uma esperança; o meu, eu já percorri...

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14 Criança, - império inocente, mas, de poder tão profundo! Quem manda é um pingo de gente e obedece todo o mundo! 15 Da praia, curvos coqueiros, de palmas esfarrapadas, acenam aos derradeiros lenços brancos das jangadas… 16 Decai tanto a sociedade que o mal chega a ser bom-tom, e a gente finge maldade, com vergonha de ser bom... 17 Duas vidas separadas, dois amores... Dois queixumes Duas saudades... Dois nadas... Somos nós dois, - dois ciúmes!...

18 Entre santinhos... a fita... A foto da irmã noviça... - O meu cartão de visita, no teu livrinho de missa! 19 Esquecido, no meu canto, abro a carta e encontro, grato, a mensagem de acalanto, no sorriso de um retrato… 20 Eu tenho, no meu pensar, que vitória deve ser não tanto o saber ganhar, mas, sim, o saber perder! 21 Fui ao circo e, vendo a cena com o olhar do coração, acabei sentindo pena da alegria do truão…

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22 Há de ter no Céu guarida quem, em vida, vence a treva. - A gente leva da vida a vida que a gente leva. 23 Há gente, cuja bondade faz, de fato, tanto bem, que a gente sente vontade de poder ser bom também. 24 Joga o teu pião, menino, aproveita a brincadeira, que a fieira do destino vai jogar-te a vida inteira... 25 Mãe, no Céu, onde estiveres, Deus, por certo, em Seus arranjos, fez, de um anjo entre as mulheres, mais um anjo entre os seus anjos.

26 Não é só fazer carinho, nem tampouco dar presente. - Bondade é dar o caminho para a criança ser gente. 27 Não lamento o meu passado, a estrada que percorri. Choro o que deixei de lado, a vida que eu não vivi... 28 Não pude dar mais carinho, nem pude ser menos rude… mas existe o nosso ninho, que construí como pude… 29 Não se rompe um laço antigo, sempre há perdão na amizade. Quem deixa de ser amigo nunca o foi na realidade.

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30 Nem sempre os irmãos carnais são irmãos de coração. Quanto amigo vale mais! Quanto amigo é mais irmão! 31 Nossa rede balançando... Nossa conversa entretida... A nossa vida passando... A gente esquecendo a vida... 32 Nostalgia, a do imigrante, que, ao sentir não voltar mais, fica a olhar a onda distante vir morrer no velho cais… 33 Olhos negros!… ora sérios… ora meigos… ora açoites… profundos… são dois mistérios… negrume de duas noites!…

34 O pessimista, em verdade, não crendo poder vencer, põe fora a felicidade muito antes de a perder. 35 Os olhos do moribundo se esforçavam, já sem brilho, por manter seu fim de mundo preso ao mundo do seu filho... 36 Quando soube do segredo da mulher, ele tremia! Não de raiva, mas de medo de saberem que sabia... 37 Saudade – lembrança triste de tudo que já não sou... Passado que tanto insiste em fingir que não passou...

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João Rangel Coelho Juiz de Fora/MG (1897) Rio de Janeiro/RJ (1975)

1 A angústia que mais me aterra, neste mundo assim medonho, é sentir-me preso à terra, tendo asas para o sonho.

2 A ausência vale, em verdade, como teste de valor: - mede, através da saudade, a fibra de um grande amor! 3 A chuva embala quem sofre... Quando chove como agora, a gente abre um velho cofre, lê velhas cartas e chora... 4 Aérea, fluída de gaze, corpo volátil de essência sua presença era quase como se fosse uma ausência. 5 A justiça imaculada, tendo no céu as raízes, não pode ser acusada dos erros dos maus juízes.

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6 A lágrima é um pingo d'água, Irizado e transparente: - A bailarina da mágoa dançando no olhar da gente. 7 Ante as cantigas de roda das crianças no jardim, a minha infância vem toda cantar também dentro em mim. 8 Ao ver-te sobre os embalos do seu Packard, eu sussurro: "Um carro de cem cavalos guiado por um só burro"… 9 Aquela moça, tão casta, bebe muito... E a gente vê, ante a barriga que arrasta, que o seu caso é de... bebê…

10 Aqui repousa, sem tédio, esse doutor eminente, porque tomou o remédio que receitara a um cliente... 11 As reticências, com a gaze de sua móbil perícia, são bailarinas da Frase, para o ballet da Malícia.. 12 A tua mão cor de neve, frágil lírio delicado, pousou na minha, de leve, para este adeus tão pesado! 13 A vida é mar inclemente, amargo, cheio de mágoas, que põe nos olhos da gente o gosto das suas águas.

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14 A vida é onda encrespada por onde a gente, a nadar, nada, nada, nada, nada, até ao nada chegar! 15 A vida, frágil espuma, volátil como as essências, nos lembra um ai que se esfuma vagamente, em reticências… 16 Ciumento, com fúria louca, às vezes penso, afinal, que beijas na minha boca a boca de um meu rival. 17 Criança! O medo me invade ao ver, ingênuo e profundo, o teu olhar sem maldade ante a maldade do mundo.

18 Das dores que me consomem, eis a que mais me espezinha: ver que há de ser de outro homem quem nasceu para ser minha. 19 Deixei aberta a janela desta minha alma sonora... A saudade entrou por ela e nunca mais foi-se embora. 20 Enquanto o tempo se vinga, anoitecendo as auroras, o velho relógio pinga as reticências das horas… 21 Filhinho meu, ó meu sonho, clarão dos meus olhos baços, tendo-te ao colo, suponho que tenho o mundo nos braços.

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22 Há no silêncio das plantas, a germinar pelas leivas, o grito de mil gargantas, numa algazarra de seivas. 23 Há presente, em minha sorte, uma angústia indefinida... Não é bem medo da morte; é, talvez, medo da vida! 24 "Hoje estás outro!" e a boca beijou-me, falando assim. "Eu... outro? Que coisa louca!" Tive ciúmes de mim! 25 Marejaram pequeninas nos seus olhos rasos d’água, três lágrimas cristalinas: - As reticências da Mágoa...

26 Maria Clara não poupa gastos com a moda. Morou? E vai gastando com roupa o que, sem ela, ganhou... 27 Mesmo na treva mais densa, seu estro tais luzes leva que, trovador de nascença, a trova lhe trava a treva. 28 Morre, nostálgico, o dia... E, ao vê-lo morrer, me ocorre ter a mesma nostalgia da hora em que o dia morre.. 29 Nas ânsias insatisfeitas dos mais frustrados esforços, certas angústias são feitas com retalhos de remorsos.

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30 O cura de Santarém é milagroso de fato: os afilhados que tem são-lhe o perfeito retrato... 31 O mar imenso e profundo vai gemendo, sem parar... Todo gemido do mundo geme no fundo do mar!... 32 Por que meu fado se atreve a dar-me após a desdita, para um amor que foi breve esta saudade infinita? 33 Sendo o amor uma batalha, sentimos que, em sua trama, não há vitória que valha a rendição de quem ama.

34 Senhora, que tenho em mira! Por amar-vos, para ter-vos, em vez das cordas da lira, tanjo as fibras dos meus nervos! 35 Toda saudade consiste neste contraste evidente: uma alegria tão triste numa ausência tão presente. 36 "Todo animal é imperfeito!" Afirma o José de Tal. (Só o homem, no seu conceito, é que é um perfeito animal.) 37 Se tu és rico e eu mendigo, ao morrermos tu mais eu, não levas nada contigo e eu levo tudo o que é meu...

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Lilinha Fernandes Rio de Janeiro (1891 – 1981)

1 Abelha que o favo, prova é o trovador - velho ou novo fabricando o mel da trova que adoça a boca do povo.

2 A cordilheira hoje à tarde, de um verde claro e bonito, era um colar de esmeraldas no pescoço do infinito. 3 A definição exata do remorso, está patente: fino punhal que não mata mas tira a vida da gente. 4 Amanhece... Vibra a terra! O sol que em ouro reluz, sai da garganta da serra como uma trova de luz. 5 A trova é a alma da gente desventurada ou feliz. Em quatro versos somente, quanta coisa a gente diz!

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6 Chorei na infância insofrida para na roda ir cantar. Hoje, na roda da vida, eu canto pra não chorar. 7 Desejei fogo atear ao mundo por onde trilho, vendo uma cega indagar como era o rosto do filho. 8 É a trova, em seu natural, mordaz, alegre ou dolente, lindo trecho musical de quatro notas somente. 9 Embora em própria defesa, é réu quem vidas destrói. Mas na guerra, que tristeza! quem mata se chama herói.

10 És de beleza um portento, no perfil, nas formas puras. Mas beleza sem talento é um palácio às escuras. 11 Esperança, és bandoleira, mas és também sol dourado, de luz a única esteira na cela de um condenado. 12 Esses teus olhos rasgados, muito azuis, muito leais, são miosótis deitados em vasos originais. 13 Eu canto quando a saudade me fere com seu desdém. O canto é a modalidade mais bela que o pranto tem.

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14 Eu não bebia... te juro! Beijei-te, então, podes crer: foi teu beijo, vinho impuro, que me ensinou a beber. 15 Feliz nunca fui! Sem crença, procuro a felicidade, como o cego de nascença que quer ver a claridade. 16 Há muita gente cativa neste mundo, como eu, que vive porque está viva, no entanto, nunca viveu. 17 Lua e Saudade - rendeiras da dor que com a ausência vem, se vós não sois brasileiras, pátria não tendes também.

18 Manhã. O Sol é um botão de fina prata dourada, abotoando o roupão todo azul da madrugada. 19 Minhas trovas sem beleza, se as dizes, são divinais! Só por isso, com certeza, elas serão imortais. 20 Morreu o abade. O terror do pecado, o clero invade: era uma trova de amor o escapulário do abade. 21 Não peço um prazer sequer à vida que à dor se iguala. Já faz muito se me der coragem pra suportá-la.

O Encanto das Trovas . . . Tomo VI – vol.3 - Rio de Janeiro......... Página | 20

22 Na velha igreja te ouço sino alegre... Estás dizendo que há muito coração moço em peito velho batendo. 23 No meu viver triste e escuro, na minha sede de amar, és aquele que eu procuro e não me quer encontrar. 24 O amor que brinca com a sorte, que é sempre chama incendida, é o que vai além da morte! - Não há dois em toda a vida! 25 O tempo passa voando ... Mentira, posso jurar. Se estou meu bem esperando, como ele custa a passar!

26 Partiste ... Ficou-me n'alma tua voz suave e pura... - Ave a cantar sobre a calma da mais triste sepultura. 27 Pela saudade ferida, minha musa se renova! E eu abro o livro da vida e escrevo nele uma trova. 28 Quando tu passas na estrada, dentro de casa adivinho: é teu passo uma toada musicando teu caminho. 29 Que eu tive felicidade, minha saudade vos diz, pois só pode ter saudade quem já foi multo feliz!

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30 "Que levas tu na mochila?" Diz ao corcunda um peralta. E o corcunda: - "A alma tranquila e a educação que te falta." 31 Quem vive em casa ou nas ruas, chagas alheias curando, nem se apercebe que as suas foram sozinhas fechando. 32 São meus ouvidos dois ninhos onde guardo, ao meu sabor, um bando de passarinhos! - Tuas mentiras de amor. 33 Saudade é assim como fado lembrando quem vive ausente: é um suspiro do passado na garganta do presente.

34 Se a trova faz suicidas, não sou eu quem a reprova. - Vale uma trova mil vidas! Não vale a vida uma trova! 35 Sem ti, que treva cerrada pelos caminhos que trilho! Sou como a Lua apagada que, sem o Sol, não tem brilho. 36 Se te vais, que dor imensa! Mas se vens, meu grande amor, ante a tua indiferença cresce mais a minha dor. 37 Vida e morte vão andando no mesmo campo a lutar. A primeira semeando, para a segunda ceifar.

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Magdalena Léa Rio de Janeiro (1913 – 2001)

1 Ah, se eu pudesse saber qual a mulher que ele quer... Que não iria eu fazer para ser essa mulher?!...

2 Com firmeza e tolerância educa em justa medida. São as feridas da infância que nos marcam para a vida. 3 Convenções? Que um tolo as ouça! pois mulher – o mundo zurra – deve ser sempre mais moça, mais baixa e também mais burra. 4 Desculpe-me quem puder, mas a História se enganou: depois que fez a mulher, nunca mais Deus descansou!... 5 Distraída, distraída, é a mulher do Januário; ouve à porta uma batida, tranca o marido no armário!

O Encanto das Trovas . . . Tomo VI – vol.3 - Rio de Janeiro......... Página | 23

6 É a vida, em seu poder, requintada em crueldade: nasce a gente sem querer, e morre sem ter vontade. 7 Em vossos olhos nublados, velhinhos de longas vidas, há prantos cristalizados de todas as despedidas. 8 Em zigue-zague na estrada, guia um “cara” no pileque. - A curva multiplicada dividiu seu calhambeque. 9 É nos elos que nós vemos união e força patentes, porque é que não aprendemos esta lição das correntes?

10 Fazer plástica é bobagem. Se o tempo nos vai minando... - Dar brilho na lanternagem com este motor rateando? 11 Foi tão engraçada a piada que a dentadura da zinha, em tremenda gargalhada, cai no chão rindo sozinha. 12 Hei de te amar – ele jura – até velhinho – que lindo! e ver nossa dentadura no mesmo copo... sorrindo. 13 Inflação! Que mais eu posso senão rir dessa desgraça? Pois rir é o único troço que a gente ainda faz... de graça.

O Encanto das Trovas . . . Tomo VI – vol.3 - Rio de Janeiro......... Página | 24

14 Mesmo em sonhos são fracassos meus encontros fugidios: cerro os olhos, abro os braços e fecho os braços vazios. 15 Minha alegria, querido, por certo não adivinhas: foi o teres esquecido tuas mãos dentro das minhas. 16 Minha sogra, aquela bruxa, num fusca mandando brasa, e eu fico pensando: – puxa! com tanta vassoura em casa! 17 Na educação dos pequenos, belos frutos colherás, censurando muito menos, elogiando muito mais.

18 O amor que teimo ocultar, sem dizer nada a ninguém, pudesse te confessar e apenas diria – vem! 19 Ó realidade, não fira quem sonha e vive contente. Se uma ilusão é mentira, enfeita a vida da gente. 20 Perdoa. Eu também sofri se briguei contigo assim... Eu gosto muito de ti, mas... gosto também de mim! 21 Porque teme envelhecer? Envelheça, a fronte erguida. Um ano mais quer dizer que a vida lhe dá mais vida!

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22 Quando o sol é brasa ardendo nas terras secas crestadas, pingo no zinco batendo é a mais bela das toadas. 23 Quando vejo um assassino, um viciado, um ladrão, eu adivinho um menino a quem ninguém deu a mão. 24 Quando volto ao meu rincão piso a terra comovida. - Cada pedaço de chão conta um pedaço de vida. 25 Quem dentadura precisa cuidado com a gargalhada. Faça que nem Monalisa que ri de boca fechada.

26 Seria desoladora a vida, se, lá na frente, a esperança enganadora não acenasse pra gente. 27 Só te peço amor sincero, e o céu será todo nosso. Se sou tua - que mais quero? Se sou mulher - que mais posso? 28 Toda mulher que é gorducha tem um recurso só seu: ao vestir-se grita – “Puxa! como este troço encolheu!!!” 29 Vão-se os anos. Iludida, nesta angústia de retê-los, vejo que a chama da vida se faz cinza em meus cabelos.

O Encanto das Trovas . . . Tomo VI – vol.3 - Rio de Janeiro......... Página | 26

João Freire Filho Rio de Janeiro (1940 – 2012)

1 Ah! Se esta brisa pudesse, depois de tanger-me a lira, levar-lhe, em forma de prece, as trovas que ela me inspira!...

2 Alegava, após pilhado... pilhando uma residência: - A casa é de um deputado... Concorrência é concorrência!” 3 A lua, que nos clareia, é diferente de quem, recebendo luz alheia, não ilumina ninguém! 4 A saudade é dependência… É meu vício, em tal medida, que você se fez a ausência mais presente em minha vida! 5 As revoltas não têm fim e explodem cada vez mais, que a fome acende o estopim das convulsões sociais!

O Encanto das Trovas . . . Tomo VI – vol.3 - Rio de Janeiro......... Página | 27

6 A tormenta, que atordoa, não distingue, em mar bravio, a humildade da canoa… da soberba do navio!… 7 A vida me presenteia com tamanhas alegrias, que a tristeza é um grão de areia na ampulheta dos meus dias! 8 Cai na rua… Perde o tino, no alcoolismo em que se esvai… E, aos passantes… um menino diz, inocente: – “É meu pai”… 9 Cometeu esta tolice aquela ciumenta crônica: que o marido despedisse a "secretária eletrônica"!

10 Com sabor de penitência… de brinde contra a vontade, vou bebendo a tua ausência… em meus porres de saudade! 11 Com seus dois metros e tal, a solteirona assegura não ter casado, afinal, por falta de homem à altura! 12 CURVA FECHADA - ele leu na placa... e, em sua tolice, parou o carro e desceu... para esperar que ela abrisse... 13 Deu fuzuê, acredite, com a filha do Aristeu, quando a sua “apendicite” com quatro quilos nasceu…

O Encanto das Trovas . . . Tomo VI – vol.3 - Rio de Janeiro......... Página | 28

14 Distante, a lua prateada, entre nuvens de inconstância, me lembra a mulher amada… mais amada… se à distância! 15 Distante do olhar das ruas, num sonho que me enternece, em nosso céu brilham luas que só nosso amor conhece!… 16 Eu compreendo os desvios a que leva uma paixão… As vezes, são desvarios que dão à vida… razão!… 17 Eu lhe disse: “se eu passar dos trinta, não casarei!”. E ela: “enquanto eu não casar, dos “trinta” não passarei...”

18 Faz-me rir certo vizinho: a uma dona meio macha... chamando-a "meu biscoitinho" levou tremenda bolacha!... 19 Fim do amor… Desiludidos, sabemos juntos, mas sós, que há silêncios inibidos… tentando falar por nós! 20 Hoje, em meu leito, sem ela, enquanto resisto ao sono, a Saudade é sentinela… dando plantão… no abandono! 21 Imperfeito, eu rogo, aflito, por nosso amor, que é perfeito: - Não faças de mim um mito… que mitos não têm defeito!

O Encanto das Trovas . . . Tomo VI – vol.3 - Rio de Janeiro......... Página | 29

22 Lutando por ideais, mesmo à beira da utopia, tenho enfrentado os “jamais” com meus “sempres” de ousadia. 23 Meus ideais mais risonhos correm livres, sempre em frente, numa corrente de sonhos, que rompe qualquer corrente! 24 Na pesca, era o Chico Armando o maior ... pescava aos feixes... até que o pesquei... pescando num Entreposto de Peixes... 25 Na vida, que te conduz às mais diversas pelejas, se não puderes ser luz, que, ao menos, sombra não sejas!

26 O meu amor te ocultei! Seguimos rumos diversos… Passou-se o tempo, e, hoje, eu sei: - permaneceste em meus versos! 27 Que encrenca, junto ao jazigo, causa o defunto... esquentado: - “Nada de tampa comigo, que eu vou morrer... sufocado!”... 28 Quem tem a luz do saber, muito mais que outro qualquer, tem de cumprir o dever de ser luz… onde estiver! 29 Saudade - aquela torneira que, apesar de bem fechada, pinga e pinga... a noite inteira, mantendo a insônia acordada!

O Encanto das Trovas . . . Tomo VI – vol.3 - Rio de Janeiro......... Página | 30

30 Saudoso, namoro a Lua e sinto, por seu feitiço, que o nosso amor continua, embora nem saibas disso! 31 Se em casa ele manobrava, maquinista, um "trem" de filhos, na rua a mulher levava a vida "fora dos trilhos"... 32 Tenho um segredo profundo - e, é de amor… – e, tarde ou cedo, eu gostaria que o mundo soubesse desse segredo!

33 Toda noite ela regressa em meus sonhos erradios… Não há distância que impeça de eu tê-la… em meus desvarios ! 34 Vai pra pesca... apetrechado... Mas, sendo ao caniço avesso, volta com peixe embalado, etiquetado... e com preço!... 35 Vem do sol a luz de prata que parte da lua encerra… E a lua, modesta e grata, deita pratas sobre a terra!

O Encanto das Trovas . . . Tomo VI – vol.3 - Rio de Janeiro......... Página | 31

Nádia Huguenin Nova Friburgo (1946 – 2008)

1 A nossa história proibida vence a mágoa e o preconceito quando o amor da minha vida vem aninhar-se em meu leito!

2 Ante a insistência que existe no apelo do teu olhar, meu coração não resiste... E pecado é... não pecar!... 3 Ante o olhar austero e frio daqueles que te criticam, sê feito as pedras do rio: vão-se as águas... elas ficam! 4 Ao ver vazio o meu leito, minh'alma triste te chama. Mas o vazio do peito é bem maior que o da cama... 5 Apresentando-me a prole (que é quase uma multidão), justificou-se: - Foi mole, não tenho televisão...

O Encanto das Trovas . . . Tomo VI – vol.3 - Rio de Janeiro......... Página | 32

6 Aquele olhar envolvente que com meus olhos cruzou, fez qual estrela cadente: mostrou-me a luz... e passou. 7 Caprichoso, o meu destino, de mansinho, sem alarde, feito um travesso menino, mostrou-me o amor... e era tarde!... 8 Em busca da liberdade propus fugir dos teus braços, e, por castigo, a saudade aprisionou-me em seus laços. 9 Enquanto houver na calçada crianças dormindo, a esmo, eu vou - se não fizer nada me envergonhar de mim mesmo...

10 Estes versos que componho, a cada ilusão perdida, são retalhinhos de sonho que remendam minha vida. 11 Este vazio em meu peito... Esta falta de carinhos... São drogas de longo efeito, vão me matando aos pouquinhos!... 12 Foi amigo de verdade, meu exemplo, meu herói. Hoje meu pai é saudade, e como a saudade dói!... 13 Foi por falta de carinho, que errei e perdi meus passos, mas bendigo o “mau caminho” que me levou a teus braços…

O Encanto das Trovas . . . Tomo VI – vol.3 - Rio de Janeiro......... Página | 33

14 Loucuras... quantas já fiz nos tempos da mocidade... "Morri de amor"- fui feliz! Hoje, vivo de saudade… 15 Não quero fazer fofoca, nem falar da vida alheia, mas a mulher do Candoca, Coitadinha! Como é feia!… 16 Não tem jeito essa loucura... Nosso amor inconsequente fez de mim, mulher madura, uma eterna adolescente!… 17 No amor que a nós dois encanta e, para alguns, é até “crime”, há tanta ternura, tanta, que, mesmo errado... é sublime!…

18 No hospício, o maluco Otelo fez um grande zumzumzum: quis engolir um martelo para quebrar... o jejum!… 19 No instante em que, lá na praça, recebemos nosso irmão, e cada um nos abraça, é imensa a nossa emoção. 20 Nossas brigas são tão raras e a indiferença entre nós é tanta, que nem reparas que estamos juntos... e sós. 21 O mundo inteiro condena nosso amor por ser pecado, mas eu pago qualquer pena por um instante ao teu lado!

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22 "Perdão" propões ao voltar-, por mais que isto me doa, meu corpo quer perdoar, mas minha alma não perdoa. 23 Perdi sonhos... esperanças, perdi tudo. E em meu cansaço tento reter as lembranças nos versos tristes que faço… 24 - Quero a pensão do menino!" - berrava - e, na hora H, teve que piar bem fino: deu zebra no DNA! 25 Se fofoca desse grana, minha sogra, dona Eutária, em menos de uma semana estaria milionária!

26 Tirei da gaveta o sonho, limpei o mofo, espanei, revi meu viver bisonho e, afinal, recomecei. 27 Ultrapassei meu limite, mais uma vez te aceitei... Mas o amor tudo permite e eu, tola, recomecei. 28 Uma moleza danada... E, quando a mulher reclama, sonolento, diz "- Que nada, eu sou muito bom... de cama...”

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Durval Mendonça Rio de Janeiro (1906 – 2001)

1 A gente vê a poesia mais natural e mais pura, quando a rês, lambendo a cria, dá-lhe um banho de ternura.

2 Ah, como são transitórias minhas raras alegrias! Elas me vêm de vitórias num mundo de fantasias. 3 Alta noite... Um sino plange... No espaço, a lua silente traz a arrogância do alfange no lirismo do crescente. 4 Ao beijar a tua mão, que o destino não me deu, tenho a estranha sensação de estar roubando o que é meu... 5 Após cruentas batalhas, quantas lágrimas fluíram, umedecendo medalhas de bravos que nunca as viram.

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6 A praia é cama estendida, onde o mar e a lua cheia... - Cala-te, boca atrevida, não fales da vida alheia! 7 As vitórias que eu consigo neste mundo de ilusões vêm, por certo, dos perigos que transponho aos trambolhões 8 A vida é roda de fogo, gira em franco desatino... Cartas sem naipe de um jogo em que o parceiro é o Destino. 9 Bateram, fui ver. À toa... Ninguém bateu... Ilusão! Deve ter sido a garoa fugindo da solidão.

10 Bebo, sim!... Quanto puder! Pois vejo, ao fundo da taça, tua graça de mulher fazendo minha desgraça... 11 Cachaça sempre dá jeito, quando a saudade me abafa: ponho a cachaça no peito e a saudade na garrafa 12 Com humildade e paciência, como juncos eu me inclino para abrandar a inclemência dos vendavais do destino. 13 Como a lua é lisonjeira, quando eu canto em serenata! Ela aplaude a noite inteira, batendo palmas de prata.

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14 Como é belo, à luz mortiça do dia, quando desmaia, ver o mar, que se espreguiça, rolando, em ondas na praia 15 Criança brava, e atrevida faz da vassoura um corcel e enfrenta os mares da vida num barquinho de papel. 16 Em desforra merecida, porque me dá muitas sovas, atiro pedras na vida e minhas pedras são trovas. 17 Em meu barraco de zinco, sem ninguém, sem afeição, eu deixo a porta sem trinco, mas só entra a solidão.

18 Entrei nas lojas da vida, quis comprar felicidade; fui lesado na medida, no preço e na qualidade. 19 Essas vitórias compradas, que a gente vê a granel, são farsas mal disfarçadas, desses heróis de papel. 20 Este mar de cara feia, de adamastores e lendas, é o mesmo que, à lua cheia, recobre as praias de rendas. 21 Felicidade - mosaico de pedrinhas coloridas, que, em meu destino prosaico, não consigo ver unidas.

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22 Fui ao forró distraído... Filomena me sorriu. Eu não lhe vi o marido... Mas o marido me viu! 23 Naqueles tempos de antanho, de escribas e fariseus, um homem do meu tamanho tinha o tamanho de Deus. 24 Poças que o mar faz na areia... Ao vê-las, paro e medito nessa humildade tão cheia das estrelas do Infinito. 25 Quando a noite vem descendo e o mundo parece em calma, existe um mundo fervendo na inquietação de minha alma.

26 Vai o rio em cantochão... Suas águas se lamentam. Parecem pedir perdão às pedras que as atormentam. 27 Vai-se o trem.. - Deixa a estação. O silvo agudo é o sinal... E uma lágrima no chão, marcando um ponto final... 28 Vejo, perdido de amores, por entre incertos meandros, encantos enganadores em teus olhinhos malandros. 29 Vem, lua, pela vidraça ver minhas noites vazias... Um quarto frio, sem graça, de um pobre João sem Marias.

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NOTA As trovas foram obtidas em livros, boletins de trovas, jornais, trovas enviadas pelos trovadores e em alguns sites, como www.falandodetrova.com, www.poesiasemtrovas.blogspot.com.br , www.singrandohorizontes.blogspot.com.br Biblioteca J. G. de Araújo Jorge, as Mensagens Poéticas enviadas pelo falecido trovador potiguar Ademar Macedo, etc. Montagem da Capa da Revista sobre imagem o btida na internet, não foi encontrada a autoria. Esta revista não pode ser comercializada em hipótese alguma , sem autorização de seus autores ou representantes legais. Pode ser copiado, desde que se coloque o autor das trovas, caso contrário pode ser caracterizado como crime e ser enquadrado nas sanções legais. Respeite os direitos do autor.

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