1 O ENSINO/APRENDIZAGEM/DESENVOLVIMENTO DA ÉTICA NOS JOGOS ESPORTIVOS COLETIVOS Renato Sampaio Sadi / DCEFS-UFSJ
[email protected] Palavras-Chave: Ética, ensino, aprendizagem. INTRODUÇÃO A pedagogia do esporte é uma subárea que constrói, aproxima e tensiona o esporte educacional com o esporte de rendimento dentro de áreas maiores como as Ciências do Esporte e a própria Educação Física. Trata-se de um setor responsável por preservar aspectos importantes da iniciação esportiva como: valores simbólicos, olímpicos (e não olímpicos), estéticos (e éticos), princípios de superação, pensamento estratégico, conhecimentos amplos da cultura do esporte, entre outros. Responsabiliza-se também por adaptar e construir práticas alternativas e inteligentes, transformando o jogo e o esporte em jogo esportivo, ou seja, possibilitando aprendizagens criativas e significativas. Por outro lado, alimenta discussões filosóficas sobre políticas sociais e desenha projetos que articulam questões teórico-práticas com novas possibilidades de intervenção. (SADI, 2010) Neste texto, a discussão central se dirige ao ensino, à aprendizagem e ao desenvolvimento da ética como um conteúdo transversal no interior dos Jogos Esportivos Coletivos (JECs). Dentro da formação superior e inicial de professores, a ética necessita de tempo, relação com metodologias ativas e atitude dos docentes. (CARNEIRO, 2010) Filosofia e ciência se misturam como referência fundamental da formação humana. Para o pensamento estratégico, a formação de esportistas e atletas se reveste como possibilidade teórica, investigativa e de intervenção (BARBANTI, 2005; SADI, 2012) Os modelos pedagógicos mais integrados à condução da ética nos JECs são o TGFu, o SEM e o TPSR, respectivamente, Teaching Games For understanding, Sport Education Model e Teaching Personal and Social Responsability. (MITCHELL, OSLIN, GRIFFIN, 2013; SIEDENTOP, HASTIE, VAN DER MARS, 2004; HELLISON, 2011) Entre estes modelos o contrato de equipe é uma possibilidade pactuada por professores para que os alunos registrem suas intenções éticas. O documento inclui temas como o fair play, os desafios (trabalhar duro), a cooperação, o respeito, as atitudes positivas e a responsabilidade. (MITCHELL, OSLIN, GRIFFIN, 2003) Por meio dos pactos, 1
2 os JECs possibilitam extrair e derivar diversas atitudes éticas de professores, treinadores, alunos e atletas. Outras formas de visualização do ensino/aprendizagem/desenvolvimento da ética podem ser vistas na perspectiva dos modelos SEM e TPSR, respectivamente a ideia de autenticidade/entusiasmo no esporte e o eixo de responsabilidade/capacitação de liderança. MÉTODO Como pano de fundo teórico-metodológico, a totalidade social de humanização do homem foi relacionada com a perspectiva ecológica do desenvolvimento sustentável somado aos determinantes atuais da pedagogia do esporte. A presente investigação foi constituída por um trabalho cumulativo e de generalização de resultados, dentro de uma lógica de autenticidade e mediação, cujo objeto
exigiu
rigorosidade
e
saturação
como
atitudes/posturas
pró-ativas
dos
pesquisadores (ZANTEN, 2004) Os procedimentos técnicos de pesquisa qualitativa foram direcionados por meio de recortes estruturais das particularidades contidas nos quadros 1, 2 e 3. O Quadro 2, diretamente relacionado à formação superior e inicial de professores fundamentou parâmetros filosóficos para permitir uma real aplicabilidade dos Quadros 1 e 3. Por fim, a recuperação de conhecimentos específicos e críticos da pedagogia do esporte foram determinantes para a construção de um método ativo que articulou teoria e prática na exposição deste trabalho. RESULTADOS E DISCUSSÃO Por fazer parte de um conhecimento mais abstrato do que concreto a ética precisa ser desmembrada em conceitos que não são simples de serem assimilados, não estão presentes em livros didáticos e, no que se refere à prática dos JECs, são, muitas vezes, encapsulados e quase lacrados. Entretanto a contenção e limitação das possibilidades mais efetivas de um ensino/aprendizagem/desenvolvimento da ética podem ser superadas pela opção (e recorte) e enfrentamento dos conceitos agrupados nos pólos positivo e negativo conforme o Quadro 1. Ressalta-se que ambos os pólos são impactados por contradições externas e internas do ambiente de ensino/aprendizagem da ética nos JECs e que os conceitos em forma de valores são informados a partir de uma concepção ampla do processo de ensino/aprendizagem/desenvolvimento, ou seja, são permeados pela transversalidade dos cohecimentos e não pela verticalidade de etapas ou fases de crescimento/progressão de faixas etárias, etc. 2
3 Possibilidades de enfrentamento das questões da ética no ensino/aprendizagem dos JECs Pólo positivo
Pólo negativo
Agressividade
Passividade
Fair-Play
Ameaça de rompimento
Autonomia
Autocracia
Desafio – trabalhar duro
Preguiça
Respeito
Indiferença
Cooperação
Individualismo excessivo
Atitudes positivas
Atitudes negativas
Responsabilidade
Negação da equipe
Liderança
Ausência de liderança
Inteligência no jogo Quadro 1
Perda de foco no jogo
Os resultados deste trabalho indicam que o ensino/aprendizagem da ética nos JECs, considerando as múltiplas facetas das polaridades, ocorrem por meio de duas perspectivas, a primeira com conteúdo indireto e transversal, a segunda, pelo formato didático, técnico e instrumental dos modelos pedagógicos, conforme o Quadro 2. Entre os diversos conteúdos transversais de conhecimento dos JECs a ética pode ser disseminada indiretamente em um conjunto de categorias e temas relacionados à humanização do homem. Perspectivas e sentidos humanos para os Jogos Esportivos Coletivos Categorias
Temas
Reflexões teóricas e filosóficas
Valores morais, senso crítico, humanização das relações e necessidades de mudança
Aspectos metodológicos
pedagógicos
e Problemas e resolução de problemas (do individual para o coletivo)
Avaliação da aprendizagem
Tempo de assimilação, sensibilidade ética de aceitação, aplicação na prática do jogo. Quadro 2 (adaptado de Carneiro, 2010, p. 416) Do ponto de vista particular e pedagógico, isto é, didático, tático, técnico e instrumental que o docente/treinador utiliza, a ética vem traduzida e desenvolvida em momentos específicos da aula/treino, como as conversas, os acordos, a avaliação e a auto-avaliação. Trata-se de um trabalho multidisciplinar que, partindo da diretividade e do centralismo, atinge tons democráticos entre todos, envolvendo áreas como a psicologia 3
4 do esporte, a fisiologia do esporte, a fisioterapia e influencia as engrenagens práticas dos JECs (Quadro 3) Desenvolvimento didático, tático, técnico e instrumental da ética nos Jogos Esportivos Coletivos Fases das sessões (aula/treino) Início
Processamento da ética Conversa sobre objetivos, normas, regras, pacto ético que inclui o aquecimento/alongamento
como
formas para se criar e fomentar a vontade do fazer, do exercitar, do pensar; Desenvolvimento
Rituais
esportivos
como
momentos de introspecção da ética Controle emocional em jogadas e conclusões aceitas e não aceitas da arbitragem; dosagem
vontade
em
superar;
adequada
do
esforço;
cobrança e solidariedade de atitudes pró-ativas Revisão de acordos ditos e não ditos;
Fim
avaliação processos;
e
auto-avaliação perspectivas
dos para
melhoria das posturas e antecipação de novos desafios. Quadro 3 CONCLUSÕES A perspectiva humana do esporte pode encontrar eco na ideologia da bondade desportiva em contraposição ao apagão ético. ( BENTO, 2006, p. 77) Dentro dos JECs o ensino/aprendizagem/desenvolvimento da ética não é tão nítido quanto o discurso faz crer, mas pode ser potencializado a partir das características de aspectos centrais da formação nas variadas abordagens do tema, dos sentidos humanos e de um processamento particular e próprio à cada indivíduo ou grupamento social. Os esforços da pedagogia do esporte se farão sentir na perspectiva de desenvolvimento dos modelos pedagógicos, incluindo o diálogo produtivo entre determinantes técnico-táticos e sócio-educativos (DE ANDRADE RODRIGUES, DARIDO, PAES, 2013) bem como o desdobramento e enfrentamento de proposições pertinentes.
4
5 REFERÊNCIAS BARBANTI, Valdir. Formação de esportistas. São Paulo, Manole, 2005. BENTO, Jorge. Olímpio. Desporto e princípio do rendimento. In: TANI, Go; BENTO, Jorge Olímpio; PETERSEN, Ricardo Demétrio (orgs) Pedagogia do Desporto, Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 2006. CARNEIRO, Larissa Arbués; PORTO, Celmo Celeno; DUARTE, Soraya Bianca Reis; CHAVEIRO, Neuma; BARBOSA, Maria Alves. O ensino da ética nos cursos de graduação da área de saúde. Revista Brasileira de Educação Médica, v. 34, nº 3, p.412-421, 2010. DE ANDRADE RODRIGUES, Heitor; DARIDO, Suraya Cristina; PAES, Roberto Rodrigues. O esporte coletivo no contexto dos projetos esportivos de inclusão social: contribuições a partir do referencial técnico-tático e sócio-educativo.Pensar a Prática, v. 16, n. 2, 2013. HELLISON, Donald R. Teaching personal and social responsibility through physical activity. Human Kinetics, 2011. MITCHELL, Stephen A.; OSLIN, Judith L.; GRIFFIN, Linda L. Sport foundations for elementary physical education: A tactical games approach. Human Kinetics, Champaign, 2003. _________________________________________________ Teaching Sport Concepts and Skills: A Tactical Games Approach for Ages 7 To18. Human Kinetics, 2013. SADI, R. Pedagogia do Esporte: descobrindo novos caminhos. São Paulo, Ícone, 2010. ________.Projeto de formação de esportistas e atletas brasileiros com a perspectiva dos jogos olímpicos rio de janeiro 2016 e sua relação com a educação física ea base formativa de atletas. Revista Mineira de Educação Física, Viçosa, nº 1, p. 1485-1496, 2012 SIEDENTOP, Daryl; HASTIE, Peter A.; VAN DER MARS, Hans. Complete guide to sport education. Champaign, IL: Human Kinetics, 2004. ZANTEN, A. V. Pesquisa qualitativa em educação: pertinência, validez e generalização. Perspectiva, Florianópolis, v. 22, n. 01, p. 25-45, 2004.
5