O Evento no Córrego D\'Antas – Mapeamento Geológico – Geotécnico em Área de Difícil Acesso

October 16, 2017 | Autor: Flavio Portella | Categoria: Geology, Engineering Geology
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O Evento no Córrego D’Antas – Mapeamento Geológico – Geotécnico em Área de Difícil Acesso Flávio Eduardo Portella Muniz & Spada Engenheiros Consultores, Rio de Janeiro, Brasil, [email protected] Luiz Francisco Muniz da Silva Muniz & Spada Engenheiros Consultores, Rio de Janeiro, Brasil, [email protected] Marcelo Gomes Rios Filho Muniz & Spada Engenheiros Consultores, Rio de Janeiro, Brasil, [email protected] Guilherme Isidoro Martins Pereira Geomecânica S.A., Rio de Janeiro, Brasil, [email protected]

RESUMO: A situação de instabilidade de blocos e lascas com risco iminente de queda na encosta rochosa do Córrego D’Antas em Nova Friburgo tornou necessário o emprego de técnicas de escalada em rocha para um mapeamento mais detalhado. A abordagem e a avaliação preliminar do terreno foram realizadas por meio de sobrevoos em helicóptero. O acesso inicial na encosta foi feito por meio de corrimão apoiado em tubos metálicos cravados na rocha para permitir a inspeção geológica até a meia altura do maciço rochoso. Posteriormente, foi realizada uma escalada na parte mais alta da encosta para a vistoria dos blocos e lascas soltos. O mapeamento possibilitou o entendimento da dinâmica do escorregamento principal e a identificação dos blocos em situação de instabilidade na encosta para as obras de contenção. PALAVRAS-CHAVE: Mapeamento, Encosta, Contenção, Escalada, Áreas de Risco.

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INTRODUÇÃO

Em janeiro de 2011 em decorrência da ação erosiva das águas das chuvas houve um grande escorregamento no Morro Duas Pedras no bairro do Córrego D’Antas no município de Nova Friburgo. Foram abertos grandes sulcos no depósito de tálus, onde muitos blocos foram expostos e mobilizados para jusante juntamente com o material que se soltou do maciço rochoso. Várias casas foram atingidas pelos escorregamentos, que chegaram até a rodovia RJ-130 (Nova Friburgo-Teresópolis), e outras ficaram em situação de risco. O objetivo deste trabalho é apresentar o resultado do mapeamento geológico-geotécnico realizado entre os dias 02 e 05 de abril de 2012, na escarpa rochosa do morro, para identificar blocos e lascas de rocha isolados no maciço, bem como avaliar as condições de instabilidade dos mesmos e a possibilidade de queda, tombamento ou escorregamento que pudessem proporcionar riscos para as casas existentes no

pé ou ao longo da encosta. Foram identificados dois grandes eventos. Um mais importante, teve inicio no topo do maciço sendo formado pela queda de blocos e lascas de rocha de grandes dimensões misturadas com a capa de solo de cobertura do maciço. Um segundo escorregamento lateral, na direita hidráulica da encosta, originou um grande sulco erosivo no solo, expondo o topo rochoso em alguns trechos no fundo do talvegue. Na base do maciço rochoso, coberta por material coluvionar (depósito de tálus), vários blocos estão em situação de instabilidade e feições erosivas importantes formam ravinas com até 10 m de profundidade. O mapeamento da escarpa rochosa do maciço contou ainda com o apoio de um sobrevoo de helicóptero.

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METODOLOGIA DE TRABALHO

Inicialmente, foi feita uma visita ao local acessando-se o pé da escarpa rochosa de onde foi possível traçar uma estratégia para executar o trabalho de mapeamento da encosta e para definir o melhor traçado para a instalação de corrimões tubulares fixados na rocha. Estas estruturas metálicas tiveram como objetivo possibilitar os primeiros acessos de equipes de geólogos e engenheiros geotécnicos para a avaliação do estado da encosta. Posteriormente, foi realizado um sobrevoo de helicóptero que possibilitou uma visão mais ampla de importantes feições do maciço tais como fraturas, blocos soltos e lascas em situação de instabilidade. O sobrevoo também ajudou na tomada de decisão para a escolha das vias e trilhas que seriam utilizadas na escalada haja vista a situação de precariedade da encosta, devido a enorme quantidade de solo misturado com blocos soltos e os riscos envolvidos no trabalho. A subida começou por uma trilha pela face norte, até a base da escarpa rochosa, abaixo do escorregamento principal. Já na rocha, nos lances iniciais até a meia encosta, foram usados como apoio os tubos metálicos cravados na rocha, porém sempre com a ajuda de back-up (segurança) feito com fitas e mosquetões. A maior parte da escalada foi realizada utilizando técnicas de aderência e quando houve necessidade foram colocados grampos para possibilitar a ancoragem e a inspeção dos blocos seja escalando até eles ou descendo de rapel. Foi aberta uma via de escalada com cerca de 60 m com a colocação de 4 grampos e foram feitas duas descidas de rapel para mapear blocos 40 m abaixo na encosta Os restante do trecho foi realizado num “trepa pedra” por entre os boulders dentro da cicatriz principal de escorregamento até o cume do morro numa extensão de aproximadamente 400 m (figura 1). A face da encosta possui em média entre 45° e 55° de inclinação com trechos bastante úmidos e com vários blocos soltos de todos os tamanhos e ainda com vegetação em alguns trechos. Foram vistos alguns grampos de escalada ao longo da subida o que comprova a dificuldade de acesso e a utilização da rocha

para a prática esportiva antes da tragédia ocorrida. Entretanto, recomenda-se que essas vias não sejam mais utilizadas para a prática do esporte porque se tornaram áreas de alto risco depois dos eventos e da tragédia ocorrida.

Figura 1. Maciço rochoso com a localização das vias usadas no mapeamento.

A utilização desta metodologia deu-se por conta da necessidade de detalhar as soluções de contenção numa encosta com grande dificuldade de acesso e aos riscos envolvidos no trabalho. 3 3.1

GEOLOGIA E GEOTECNIA DA ÁREA Escarpa Rochosa

O Morro Duas Pedras é formado por rochas graníticas do Proterozóico pertencentes a suíte Serra dos Órgãos. A face norte da escarpa rochosa possui em média 45° de inclinação com a cota máxima atingindo aproximadamente 1360 m de altitude com cerca de 480 m de altura. Duas famílias de fraturas perpendiculares entre si, com direção 59° e 148° e mergulho subvertical, interceptam juntas de alívio e discretizam blocos e lascas, muitas em situação de instabilidade e precariamente apoiadas sobre o maciço. Em vários pontos mapeados pode-se observar surgência de água por entre as juntas e fraturas. Essas descontinuidades condicionam o caminhamento das águas pluviais e favorecem o desplacamento das lascas através da infiltração e da poropressão, arredondando o maciço e isolando os blocos. O escorregamento principal teve inicio no topo do maciço e prosseguiu orientado por uma

linha de fraturas, erodindo a camada de solo residual e expondo o topo rochoso alterado (figura 2).

Em alguns locais, a camada de solo formada entre as lascas e os blocos não permite a visualização da persistência das fraturas, mas a espessura da camada de rocha alterada acima da rocha sã mostra a importância destas descontinuidades na alteração do maciço. A rocha alterada é escarificável à mão e desplacase facilmente em forma de “casca de cebola”.

Figura 2. Escorregamento principal na escarpa rochosa.

Houve escorregamento e rolamento de blocos e de solo que ficaram acumulados ao longo da cicatriz do escorregamento na escarpa rochosa. Os blocos encontram-se dispersos alguns apoiados na rocha e muitos misturados ao solo e com potencial a novos escorregamentos e rolamentos caso sejam submetidos a condições pluviométricas limites que induzam à ocorrência deste tipo de evento na região. Foram mapeados pontos onde grandes lascas estão apoiadas no maciço, sobre uma delgada camada de solo, e discretizadas pelos sistemas de fraturas (figura 3). De um modo geral todo o maciço está cortado por essas descontinuidades que acabam por dar um aspecto de descamação à rocha (figura 4).

Figura 3. Blocos discretizados no maciço.

Figura 4. Lascas precariamente apoiadas.

A camada de solo coluvionar na encosta, próxima ao topo do maciço, apresenta várias cicatrizes de escorregamento. Foram identificados blocos instáveis parcialmente ou totalmente expostos em boa parte do trecho mapeado. O deslizamento ocorrido no Córrego D’Antas foi classificado como do tipo “Parroca”, que tem seu início no contato solo/rocha no topo superior das escarpas rochosas. Durante a queda, o material ganha energia cinética que se dissipa no tálus depositado na base da escarpa gerando um movimento de massa secundário com volume muito superior ao movimento primário. Esse movimento, tem origem na elevação da poro-pressão da camada de solo localizada no topo da escarpa (Dourado e outros, 2012).

para o desplacamento do maciço e para a acumulação desses materiais no sopé da escarpa formando o depósito de tálus e colúvio. Esse tipo de depósito apresenta características texturais variadas, conferindo a esses materiais uma grande capacidade de infiltração. Em função disso possuem alta capacidade de mobilização, tanto da massa de colúvio quanto de blocos de rocha.

Figura 5. Fratura no maciço.

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Figura 6. Depósito de tálus na base do maciço.

Depósito de Tálus 4

O depósito de tálus estende-se desde a base da escarpa até a rodovia RJ-130 e possui mais de 10,0 m de espessura. Há inúmeras ocorrências de blocos misturados na matriz do solo e blocos soltos sobre o terreno. Esses blocos possuem dimensões variadas desde decimétricas até métricas. A incidência de blocos e solos na massa de talus é difícil de ser estimada. É importante destacar que esses blocos podem se apresentar com alteração somente em sua superfície ou totalmente intemperizados, diferenciando-se da massa de solo envolvente apenas pela cor dos minerais e características granulométricas. Este fato evidencia dois fatores (Ferreira e Dias, 2012): (1) Provavelmente ocorreram duas fases de formação do talus, sendo a primeira mais profunda e mais antiga. (2) Os agentes de intemperismo atuaram com bastante rigor provavelmente com grande disponibilidade de água. A ação dos agentes erosivos e intempéricos principalmente da água das chuvas contribuem

CONCLUSÕES

As técnicas de escalada em rocha se mostram efetivas para o trabalho do geólogo no mapeamento de encostas rochosas. (Howard, 2013). O mapeamento detalhado possibilitou o entendimento da dinâmica do escorregamento e apontou os principais locais para as intervenções de contenção. Muitos deslizamentos que ocorrem por conta das chuvas na região serrana, necessitam de obras de contenção para minimizar a situação de risco para a população. E na maioria das vezes são locais de difícil acesso, dificultando o diagnóstico preciso da situação de risco. Consequentemente a técnica de escalada em rocha possibilita um melhor detalhamento das informações necessárias para a elaboração dos projetos de contenção. A utilização de drones ou vants (Veículos Aéreos Não Tripulados), para auxiliar no mapeamento de encostas também deve ser considerada em trabalhos futuros.

AGRADECIMENTOS Ao escalador e estudante de engenharia ambiental Joezer Marques pelo apoio no trabalho de campo.

REFERÊNCIAS Ferreira, L. e Dias, G. (2012) Relatório de Viagem à Área do Evento Córrego Dantas, Muniz&Spada Engenheiros Consultores, 16 p. Howard, B. C. (2013) National Geographic, http://news.nationalgeographic.com/news/2013/06/13 0612-yosemite-el-capitan-rock-mapped/ acesso em 24 de junho de 2013. Dourado, F., Arraes, T. C. e Silva, M. F. (2012) O Megadesastre da Região Serrana do Rio de Janeiro - as Causas do Evento, os Mecanismos dos Movimentos de Massa e a Distribuição Espacial dos Investimentos de Reconstrução no Pós-Desastre, Anuário do Instituto de Geociências – UFRJ, p. 43-54.

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