O figurino de ficção cientifica na nova trilogia Star Wars

Share Embed


Descrição do Produto

0

FACULDADE CATÓLICA DO CEARÁ CURSO DE DESIGN DE MODA

O FIGURINO DE FICÇÃO CIENTIFICA NA NOVA TRILOGIA STAR WARS.

ANA CAROLINA ARAÚJO DE CARVALHO

FORTALEZA-CE 2013

1

ANA CAROLINA ARAÚJO DE CARVALHO

O FIGURINO DE FICÇÃO CIENTIFICA NA NOVA TRILOGIA STAR WARS.

Trabalho apresentado ao curso de Design de Moda da Faculdade Católica do Ceará como requisito parcial para obtenção de título de Tecnólogo em Design de Moda. Orientação: Prof. Me. Ricardo André Santana Bessa.

FORTALEZA-CE 2013

2

ANA CAROLINA ARAÚJO DE CARVALHO

O FIGURINO DE FICÇÃO CIENTIFICA NA NOVA TRILOGIA STAR WARS.

Trabalho apresentado ao curso de Design de Moda da Faculdade Católica do Ceará como requisito parcial para obtenção de título de Tecnólogo em Design de Moda. Orientação:

Prof.

Me

Santana Bessa.

APROVADA em 29 de novembro de 2013.

_______________________________________ Prof. Me Ricardo André Santana Bessa (orientador) _______________________________________ Prof. Me Emanuelle Kelly Ribeiro da Silva

_______________________________________ Prof. Me Camila Osugi Cavalcanti de Alencar

FORTALEZA-CE 2013

Ricardo

André

3

Dedico esta monografia a minha família, que proporcionaram meus estudos e me incentivaram a ser uma pessoa melhor.

A meus professores, de todas as épocas, que me ensinaram não só o conteúdo pretendido, mas lições que carrego para a vida toda.

Enfim, a todos que me ajudaram a chegar no final dessa jornada.

4

AGRADECIMENTOS A Deus, por me proporcionar viver este momento.

A meus pais, irmãs e familiares que me incentivaram e apoiaram na busca dos meus sonhos.

A todos os professores, pincipalmente ao meu orientador Ricardo Bessa, pela paciência e cuidado que tiveram para comigo.

Aos idealizadores do site Jovem Nerd e do portal Cinema com Rapadura, Alexandre Ottoni, Daive Pazos e Jurandir Filho, que alimentaram minha paixão pelo cinema e literatura fantástica, inspirando a escolha do meu tema e preenchendo meu tempo livre com mais informações.

Aos meus amigos que apoiaram a escolha do meu tema. Em especial a minha maravilhosa e presente amiga Amliz que não deixou que eu desistisse antes do fim.

A todos os que passaram por minha vida, fazendo com que eu me tornasse o ser humano que sou hoje, muito obrigado.

5

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Árvore Genealógica Skywalker/Nabarrie ................................................ 22 Figura 2: Rainha Padmé de Naboo ....................................................................... 23 Figura 3: Sabé Vestida de Rainha com Padmé, Anakin e uma Criada ................. 23 Figura 4: Traje 1- Rainha Amidala Frente.............................................................. 24 Figura 5: Traje 1- Rainha Amidala Lateral.............................................................. 24 Figura 6: Traje 1- Rainha Amidala Costas ............................................................. 24 Figura 7: Traje 2- Rainha Celebração Frente......................................................... 25 Figura 8: Traje 2- Rainha Celebração Costas ........................................................ 25 Figura 9: Traje 2- Rainha Celebração Arte Conceitual .......................................... 25 Figura 10: Elizabeth I, The Ditchley Portrait ........................................................... 26 Figura 11: Viola, Shakespeare Apaixonado ........................................................... 26 Figura 12: Traje 3 - Senadora de Naboo Frente .................................................... 28 Figura 13: Traje 3 - Senadora de Naboo Costas ................................................... 28 Figura 14: Traje 3 - Senadora de Nabbo Lateral .................................................... 29 Figura 15: Mulher da Tribo Mangbetu .................................................................... 29 Figura 16: Traje 4 - Pic-nic Romântico Arte Conceitual .......................................... 30 Figura 17: Traje 4 - Pic-nic Romântico Frente ........................................................ 31 Figura 18: Traje 4 - Pic-nic Romântico Costas ........................................................ 31 Figura 19: Traje 4 - Pic-nic Romântico Cabelos ...................................................... 31 Figura 20: Capa da Revista Vanty Fair com o Traje 4 ........................................... .31 Figura 21: Traje 5 - Vestido Verde em Detalhes ..................................................... 32 Figura 22: Traje 5 - Vestido Verde Frente ............................................................... 32 Figura 23: Imagem de Divulgação do Filme com o Traje 5 ..................................... 33 Figura 24: Ofélia, John Everett Milais ...................................................................... 35 Figura 25: Traje 6 - Leito Aquático no Manequim .................................................... 35 Figura 26: Traje 6 - Leito Aquático Backstage ......................................................... 35 Figura 27: Traje 6 - Leito Aquático Preparação Completa ....................................... 35

6

SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS

1.

INTRODUÇÃO.................................................................................... 08

2.

CINEMA E FIGURINO ....................................................................... 09

2.1

Origem do Cinema............................................................................... 09

2.1.1

O Gênero Fantasia e a Ficção Científica............................................. 11

2.2

O Figurino e sua Importância para o Filme.......................................... 12

3.

O UNIVERSO STAR WARS ............................................................... 14

3.1

A Origem...............................................................................................15

3.2

George Lucas e a Criação da “Marca”................................................. 16

3.3

“Há Muito Tempo Atrás, em uma Galáxia Muito Distante"................... 17

3.3.1

Episódio I: A Ameaça Fantasma (1999).............................................. 17

3.3.2

Episódio II: Ataque dos Clones (2002)................................................. 18

3.3.3

Episódio III: A Vingança dos Sith (2005).............................................. 19

3.4

Trisha Biggare Iain Mccaig……............................................................20

3.5

Padmé Amidala: Rainha, esposa e mãe.............................................. 21

3.5.1

A Jovem Rainha de Naboo...................................................................22

3.5.1.1

O Protocolo do Oriente na Rainha de Naboo.......................................23

3.5.1.2

Imponência da Rainha Virgem: Referências à Elizabeth I da Inglaterra..............................................................................................24

3.5.2

Entre seus Deveres e seus Sentimentos..............................................27

3.5.2.1

Uma Fase Aristocrática Mais Suave.....................................................27

3.5.2.2

Construindo a Imagem de uma Heroína Romântica............................ 29

3.5.3

Clímax da História................................................................................ 32

3.5.3.1

Idealizando a Imagem de uma Mulher................................................. 32

3.5.3.2

Referências Shakespereanas de Tragédia.......................................... 33

CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................... 37 REFERÊNCIAS......................................................................................................... 38

7

O cinema de ficção cientifica na nova trilogia Star Wars. CARVALHO, Ana Carolina Araújo de. O cinema de ficção cientifica na nova trilogia Star Wars. 28p, monografia (Graduação Tecnológica em Design de Moda), Faculdade Católica do Ceará, 2013.

RESUMO Este trabalho aponta o uso de signos para facilitar a compreensão de universos fictícios. Utilizando elementos históricos e culturais como forma de inserir o espectador no mundo fantástico. O objetivo é apontar essas referencias e sua relevância para a construção do personagem. Foi escolhido para exemplificar esse método a analise critica e comparativa de figurinos cinematográficos, através de analise bibliográfica e de filmes. Trata-se de um estudo de caso, que analisa os figurinos da personagem Padmé Amidala, da nova trilogia Star Wars. Palavras-chave: moda, história, cinema, figurino, Star Wals, Padmé Amidala.

8

INTRODUÇÃO

Para a imersão completa do espectador em uma história, temos de situá-la em um cenário, compreender as motivações e características particulares de seus personagens e fazer com que o enredo, além de envolvente, seja claro e informativo. A importância de um estudo aprofundado na composição estética de um personagem é crucial para a apresentação deste ao público, podendo utilizar-se de referencias para manipular a percepção do espectador.

Objetivando demonstrar a eficácia do uso dessas referências na construção da indumentária de um personagem definimos cinema e figurino, acompanhando sua evolução, para comprovar a importância do profissional de moda nas produções cinematográficas. O uso de signos culturais do mundo real para a construção de um universo imaginário guia e facilita a compreensão do espectador. Absorvendo de maneira até subjetiva as referências apresentadas na tela das mais diversas formas.

Utilizando o subgênero Ficção-Cientifica para especificar o universo fantástico em que se passa a história, analisaremos seis exemplares do figurino pertencente a personagem Padmé Amidala, usados nos filmes da saga Star Wars: A Ameaça Fantasma (1999) , O ataque dos Clones (2002) e A vingança dos Sith (2005).

O estudo se desenvolverá através de textos relacionados ao universo Star Wars, historia da indumentária, figurino e cinema. Analisando a nova trilogia por meio de roteiros e a decomposição crítica dos filmes e vídeos extras disponibilizados pela produtora. Traçando um comparativo com pinturas, textos da literatura clássica, filmes contemporâneos e o contexto histórico dessas referências, para fundamentar a eficácia do seu uso.

9

2

CINEMA E FIGURINO

A moda é usada como meio de diferenciação social e expressão individual do ser humano desde as sociedades primitivas. O cinema, quando em seus primeiros anos, também representava a realidade da época. Com o advento do cinema de ficção, a fantasia e a ideia de retratar épocas passadas, os conhecimentos de moda e cinema se fundiram criando um profissional chamado figurinista.

2.1

Origem do Cinema

O cinema tem origem com as lanternas mágicas, que eram aparelhos projetores de imagens, que usavam pinturas em vidro que davam a ilusão de estarem em movimento. Esse aparelho tem origem desconhecida, mas há registros da sua utilização desde o século XVII, pelo jesuíta Kirchner. (BERNARDET,2000)

Já a reprodução de imagens reais teve origem com as pesquisas de Thomas Edson sobre tecnologia na geração de imagens. Este desenvolveu primeiramente, o fonógrafo: uma espécie de máquina fotográfica, que reproduzia imagens estáticas; e em meados de 1893, patenteou, nos Estados Unidos, o quinetoscópio, que reproduzia as imagens em sequencias mais modernas.

Dois anos depois, em Berlim, os irmãos Max e Emil Skladanowsky fizeram a primeira exibição pública e paga do cinema que se tem registro, através do bioscópio, onde durante 15 minutos foi projetado um filme. Entretanto, essa apresentação não foi amplamente divulgada, somente dois meses depois, em Paris, os irmãos franceses Louis e Auguste Lumière fizeram a primeira apresentação pública e paga de um cinematógrafo, inaugurando estão o cinema para o mundo. (MASCARELLO,2006)

O sucesso do cinema veio através dos irmãos Lumiére, que faziam apresentações em seus cafés. Além disso, também vendiam equipamentos de

10

filmagem, os quinetógrafos, que faziam a exibição de filmes, os quinetoscópios, onde eram exibidos os filmes, primeiramente, individualmente.

Segundo MASCARELLO (2006) durante o século XIX houve uma explosão na Europa de empresários e inventores de equipamentos para o cinema, essa é a fase do cinema de atrações, onde eram exibidos cenas cômicas, imagens de animais, paisagens mundo à fora, imagens que dispensavam conteúdo narrativo ou roteiro propriamente dito. Contudo Georges Méliès, mágico francês, usava curtas histórias fantásticas para demostrar suas habilidades de ilusionista. Esses eram ostrickfüms (filmes de truques) que usavam efeitos de stop motion e de “paradas para substituição” para ilustrá-los. Com moldes do teatro de variedades e usando cenários e figurino a seu favor, Méliès abre um novo caminho para o cinema: a ficção.

Foi apenas com o advento do século XX, que o cinema ganhou moldes industriais, onde eram feitos roteiros e todos os elementos dos filmes eram elaborados individualmente; começou-se a utilizar convenções narrativas, os personagens foram apresentados em sua totalidade, utilizando elementos físicos e psicológicos; foram instauradas as histórias de ficção; e este tornou-se a primeira mídia de massa da história.

A partir da década de 1910, o cinema alcançou status de respeitabilidade e passou a ser exibido em teatros caros e deram inicio os longas-metragens. No final dessa década Hollywood já havia ganhado espaço mundial de destaque com as maiores produtoras de cinema, mas a Europa ainda se destacava com a produção de filmes, principalmente, os longas-metragens.

É somente na década de 1930, que Hollywood se transforma na Fábrica de Sonhos e começa a gerar milhões de dólares para os Estados Unidos e se consolida mundialmente como a maior indústria de filmes de cinema, deixando as famosas produtoras europeias para trás.

11

Tornando-se a principal mídia, até o advento da televisão, o cinema reviveu épocas, popularizou ideologias, retratou gerações e adaptou histórias em suas telas elevando atores e diretores ao status de estrelas e gerando uma indústria que recebe cada dia mais investimento.

Assim como a indústria têxtil, a indústria cinematográfica demonstra seguir tendências na temática de suas produções. Para facilitar a compreensão do público foram criadas divisões de gêneros: Comédia, drama, aventura, comédia-romântica, fantasia, terror, suspense. Onde cada um desses gêneros possuem suas especificações, seguindo um modelo básico que pode influenciar na sua classificação e exibição.

2.1.1 O Gênero Fantasia e a Ficção Cientifica

Um dos gêneros de cinema mais fortes na atualidade é a Fantasia. Sendo a Ficção Científica uma das suas subdivisões mais consumidas no mundo inteiro, trazendo monstros, mutantes, extraterrestres, viagens intergalácticas e aos lugares mais remotos como o centro da terra.

Para Jacques Aumont e Michel Marie, no Dicionário Teórico e Crítico de Cinema, ficção é “uma forma de discurso que faz referência a personagens ou a ações que só existem na imaginação de seu autor e, em seguida, na do espectador. De modo geral é ficção tudo o que é inventado como simulacro.”. É com o uso das leis cientificas que damos um limite ao pensamento criativo desse gênero, como enfatiza Nogueira: “Assim, podemos considerar ficção científica todo o relato que efabula ou especula sobre mundos e acontecimentos possíveis a partir de hipóteses logicamente verosímeis. O plausível é aqui, portanto, uma consequência de um saber que tem na sua necessidade causal e na sua argumentação racional os fundamentos de qualquer especulação criativa”.(NOGUEIRA, 2010. p. 29)

12

A origem desse gênero no cinema remota o advento do século XX. Apesar de Méliès tocar no assunto com seu “Le Voyage danslaLune” (1902) e , mais tarde, Fritz Lang com “Metropolis” (1927) o gênero de Ficção Cientifica só se destacou nos anos de 1950, com as adaptações de clássicos da literatura do gênero homônimo como Viagem ao centro da Terra (1959) e A Guerra dos mundos (1953).

Na década de 1960, com o avanço tecnológico e a moda futurista, o Sci-Fi (Science Fiction) populariza-se mundialmente em séries de televisão como Jornada nas Estrelas (NBC, 1966), Doctor Who (BBC, 1963) e Perdidos no espaço (20th Century Fox, 1965). Ganhando os cinemas com os títulos como: Barbarella (Continental Home Video, 1968), 2001 – Uma odisseia no espaço (Warner Bros, 1968) e O planeta dos Macacos (20th Century Fox, 1968).

Por construírem uma nova realidade, podendo se passar até em mundos imaginários, os filmes desse gênero tem grande apelo visual. Profissionais como o diretor de arte, cenógrafo, diretor de efeitos visuais e o figurinista são de suma importância para que a história do script passe para as telas com grande riqueza de imagens e referenciais para o público. Dentre as funções do figurinista está: a pesquisa, desenho e produção de guarda-roupa dos personagens.

2.2

O Figurino e Sua Importância para o Filme

Segundo Rosane Muniz (2004), ao elaborar o personagem o ator só tem como norteador as falas, as indicações do diretor e o figurino, única pista material. Ao vestir-se ele encontra definitivamente o espirito daquela atuação. O figurino ajuda a definir não só a personalidade, mas todo o contexto em que se encontra na história: local, tempo histórico e atmosfera em que vive. Podendo ser usado para aproximar ou distanciar o espectador do personagem.

Antes dos anos de 1920, era escolhido pelo diretor entre as roupas que os próprios atores traziam de casa, não ocupava destaque na tela. Somente na era áurea do cinema, década de 1940, os figurinistas conquistaram papel de destaque e

13

alguma autonomia na construção do vestuário dos personagens.(CHIERICHETTI, 2003)

Marcel Martin (2005) classifica o figurino em três categorias: Realista, Pararealista e Simbólico. O primeiro retrata o vestuário da época que se passa o filme de maneira fiel, o segundo, usa como base a época em que se passa a história, mas fica livre para adaptar e incorporar referências de outras épocas. Já a terceira não leva em conta o contexto histórico mais o simbólico do enredo. Após os anos de1960, com a moda futurista, populariza-se o gênero de ficção cientifica no cinema. Filmes como Barbarella (1968), com figurino do estilista Paco Rabanne, se passam no futuro, em outros planetas e até em realidades paralelas e mundos fantásticos. Já não se encaixando mais em somente uma classificação de Martin, publicada em 1955, e não seguindo nenhum modelo pré-estabelecido.

A partir daí, a utilização de referências se tornou frequente ferramenta nesses gêneros fantásticos na forma de signos. Descrito por Ana Paula Kwitko (2010) como a noção de relacionar algo que não está necessariamente presente, mas se associa e estimula a chegar em um mesmo significado, eles guiam o espectador na compreensão da história. Se apropriando de características de várias etnias e épocas distintas, o figurinista esculpe a personagem de maneira com que o espectador relacione essas características com o contexto criado no filme, auxiliando assim seu entendimento e inserção nesse mundo fantástico.

14

3

O UNIVERSO STAR WARS A franquia Star Wars foi lançada no ano de 1977 com o filme homônimo, que

corresponde hoje ao episodio IV da série. Originalmente escrita para se passar em um único filme, a história com influências tecnológicas, cientificas e espirituais, foi dividida em seis partes onde, inicialmente, só foram produzidas as três ultimas. Classificada como ficção cientifica, seu roteiro segue o molde das space-operas: histórias de aventura situadas no espaço sideral com narrativas típicas do romance e melodrama.(NOGUEIRA, 2010)

George Lucas quis que o filme, voltado para o publico infantil, não usasse de longas explicações técnicas como os outros para basear cientificamente seus cenários e personagens. Ele queria que o espectador tivesse a ilusão de conhecer os cenários e os fatos ocorridos, para logo depois ser lembrado de que nada daquilo ocorria em sua realidade. “Lucas ainda estendeu essa síntese criativa para o design visual ‘Eu estou tentando fazer tudo parecer muito natural, quase um casual – um olhar de Já vi-isso-antes.", diz ele em 1975. "Você olha para a pintura de TuskenRaiders e os Banthas, e você diz, 'Oh sim, beduínos ...' Então você olha para ele mais um pouco e diz: 'Espere um minuto, isso não está certo. Aqueles que não são beduínos, e o que são essas criaturas em volta? Como o X-wing e TIE fighterbattle, você diz, 'Eu vi isso, é a Segunda Guerra Mundial -, mas espere um minuto -. não é qualquer tipo de jato que eu já vi antes.’ Eu quero que todo o filme tenha essa qualidade!’. " (KAMINSKI, 2007 p. 50)

Essa proposta trouxe o Sci-Fi mais próximo da Fantasia e inovou ao usar cenários reais em suas gravações e criar referências para a melhor identificação com o espectador. O filme foi um grande sucesso e garantiu a produção da sequência em 1980 e 1983.

Após um hiato de 16 anos, o diretor lançou o primeiro filme da segunda trilogia, um prelúdio contando a história do jovem Anakin Skywalker até sua transformação em Darth Vader. Apresentando novos personagens e completando a história de outros que já haviam sido citados ou que pertencem a trilogia original.

15

Em outubro de 2012 a Lucasfilm, produtora de George Lucas, foi vendida aos Studios Walt Disney que anunciaram a produção de mais uma trilogia no universo expandido de Star Wars e mais três filmes solo de personagens relacionados. A estreia de Star Wars: episodio VII está prevista para o ano de 2015.

3.1

A origem

Segundo George Lucas, a história original apresentado por ele a 20th Century Fox tinha o conteúdo das duas trilogias e teria cinco horas de duração. Após esse texto ser vetado, ele revisou o roteiro e decidiu usar somente metade do segundo ato no filme que não pretendia ser uma série. Sendo lançada em 25 de maio de 1977 de 1977 a história de Luke Skywalker, um jovem criado em um planeta marginal, lutando contra um grande Império maligno para resgatar uma princesa reunia elementos comuns ao gênero Fantasia, mas se passava em outra galáxia em um passado distante.

Joseph Campbell, em seu livro O herói de mil faces (1949), descreve um modelo de 12 passos chamado Jornada do Herói que se encaixa no enredo de Luke na trilogia original. Nesse modelo conhecemos o herói em seu mundo comum, nesse caso no desértico e simplório planeta de Tatooine, logo em seguida algo o leva ao “Chamado à Aventura” e o receio do desconhecido o leva a recusar ou adiar ao máximo essa aventura. O encontro com o mentor ou o “auxílio sobrenatural” vem na forma do mestre Obi-Wan Kenobi que introduz o jovem ao mistério da Força. No estágio do “primeiro portal”, o herói abandona o mundo que conhece e começa a trilhar seu caminho nessa nova realidade. Por meio de provações ele aprende as regras desse novo mundo encontrando aliados e inimigos pelo caminho. Aqui vemos a apresentação de personagens como a princesa: Leia, o pirata: Han Solo, o gigante gentil :Chewbacca e o lorde negro: Darth Vader.

Por meio de alguns êxitos o protagonista se aproxima cada vez mais do objetivo de sua missão. É nesse momento onde ele enfrentará seu maior desafio e ,

16

após vencê-lo, ganha uma recompensa. No filme Luke destrói a nave de Darth Vader, a Estrela da Morte, e resgata a princesa Leia. Logo vem o retorno ao seu mundo comum e o uso dos ensinamentos aprendidos na jornada para ajudar a mudá-lo.

O diretor usou a cultura oriental e até a Segunda Guerra mundial como fontes para as nomenclaturas encontradas no filme. Alguns exemplos são: o nome dos soldados do Império Galático que foram batizados como os paraquedistas nazistas: Stormtroopers, e o nome Jedi que seria inspirado no gênero de drama japonês que conta a história dos samurais: o JidaiGeki. Além da filosofia do Jedi se aproximar muito a dos guerreiros japoneses, o diretor Akira Kurosawa é uma das inspirações de Lucas em sua carreira no cinema.

3.2

George Lucas e a Criação da "Marca"

Em 1971 ele funda sua própria produtora e logo depois lança seu primeiro grande filme American Graffiti (Universal Pictures, 1973). É por meio desse sucesso que a 20th Century Fox o conhece e aprova seu projeto para um filme que era resumido pelo próprio George Lucas na época como “um western no espaço”. Por conta da realização do primeiro Star Wars foi aberta a Ligth& Magic, empresa de produção de efeitos especiais. Com o sucesso de suas franquias :Star Wars e Indiana Jones, George Lucas fundou empresas para expandir ainda mais seu trabalho como a Skywalker Sound, empresa de efeitos e pós produção de áudio, e a Lucas Arts, desenvolvedora de jogos. Juntas esses empreendimentos formam a Lucas Film Ltd que produz nas mais diversas áreas de entretenimento.

Ao apresentar o projeto de Star Wars a Fox, ele impôs duas condições que mudariam totalmente o modo de se pensar em grandes filmes em Holywood: os direitos sobre as continuações e os direitos de licenciamento e merchandising. Antes de Star Wars não era comum para um filme o comércio de inúmeros produtos diferentes relacionados e o uso do marketing multi-plataforma. Usando livros,

17

bonecos, desenhos, HQs e animações a saga se popularizou e expandiu o universo criado no cinema.

Atuando como diretor em somente dois filmes, Lucas aprova até hoje todos os produtos que levam o nome Star Wars. Mesmo após a venda da produtora para os Studios Disney ele continua a ser consultor chefe e supervisor geral dos produtos da empresa.

3.3

“Há muito tempo atrás, em um galáxia muito distante..."

A história se passa em diversos planetas em outra galáxia, que formam a Republica Galáctica. Cada planeta tem pelo menos um representante no Senado Galáctico que governa a Republica e elege um Supremo Chanceler. Existem também guerreiros treinados pela Ordem Jedi para usar suas habilidades com a Força a fim de assegurar a paz e justiça.

3.3.1 Episódio I: A Ameaça Fantasma (1999)

No primeiro episódio da Saga somos apresentados à figura dos Jedi por meio do personagem Qui-GonJinn e seu aprendiz Obi-WanKenobi. Os dois são mandados pelo Supremo Chanceler para resolver um conflito entre a Federação do Comércio e o planeta Naboo. Após um ataque da Federação ao planeta, os Jedi resgatam a rainha Amidala e sua comitiva afim de levá-los até o Senado, mas por conta de um problema na nave são obrigados a parar em um planeta marginal chamado Tatooine. Lá eles encontram um menino de nove anos chamado Anakin Skywalker, escravizado junto com sua mãe.

Qui-Gon descobre a presença da Força em Anakin em proporções nunca vistas antes e desconfia que o menino possa fazer parte de uma antiga profecia, que diz que um menino com grandes poderes trará equilíbrio a Força. Então resolve levá-lo com ele e treiná-lo para se tornar um Jedi. Depois de serem atacados por Darth Maul, lorde das trevas integrante da ordem dos Sith que deseja usar a Força para

18

obter vantagens próprias, a comitiva da rainha e os Jedi chegam a Coruscant capital da Galáxia.

A rainha tenta negociar a ajuda do Senado para retirar a Federação do Comércio do controle do seu planeta, mas mesmo com a troca do Chanceler Supremo, ela acredita ser tarde demais para esperar por esse apoio e volta para Naboo. Na companhia dos dois Jedi e, do agora padawan (aprendiz de Jedi), Anakin, ela forma uma aliança com os Gungans, raça que também habita o planeta, para retomá-lo. Enquanto eles marcham para combater o exército da Federação, os Jedi e o secto da rainha se infiltram no palácio para capturar o vice-rei e forçá-lo a reunir suas tropas e abandonar Naboo.

Após uma luta de sabres de luz Quin–Gon é mortalmente ferido por Darth Maul que, logo depois, é morto por Obi-Wan. Quin-Gon faz seu aprendiz prometer cuidar e treinar Anakin. Porque há sempre dois Sith, a qualquer momento (um mestre e um aprendiz), o conselho Jedi acredita que um outro Sith ainda trama contra eles. Após o enterro de Quin-Gon, uma grande festa é realizada para celebrar a libertação de planeta e da aliança recém construída entre os Naboo e os Gungans.

3.3.2 Episódio II: Ataque dos Clones (2002)

Dez anos após a batalha em Naboo, a galáxia está à beira da guerra civil. Sob a liderança de um renegado Jedi chamado Conde Dooku, milhares de sistemas solares ameaçam romper com a República. Após uma tentativa de assassinato envolvendo a então senadora Padmé Amidala, o aprendiz Anakin Skywalker, de apenas vinte anos de idade, é designado para protegê-la.

No curso de sua missão, Anakin descobre seu amor por Padmé e sua natureza para o lado negro. Após a captura de Obi-WanKenobi, os dois vãos até o centro do movimento Separatista para resgatá-lo. Então se dá o início das Guerras Clônicas, que envolvem a criação de um exército de clones para proteger a república.

19

Por ser um Jedi, Anakin não tem direito de se comprometer com ninguém. Ele e Padmé tentam se manter afastados, já que ela também é um membro importante da República e não pode se envolver com alguém nesse momento. Por fim, os dois se casam em segredo e começam a viver juntos.

3.3.3 Episodio III: A Vingança dos Sith (2005)

Após alguns anos do inicio das Guerras Clônicas, acompanhamos Anakin em uma missão de resgate ao Chanceler Palpatine que foi raptado pelos separatistas. Nota-se a grande influencia dele sobre o jovem no momento em que o Jedi mata o Conte Dooku ao seu comando. Após o fim da missão, com o retorno a Coruscant, Anakin encontra Padmé que lhe diz que está gravida. No primeiro momento, ele fica entusiasmado e feliz com a notícia até que ele tem visões, parecidas com as que teve com a mãe antes dela morrer, em que ela não resiste ao parto.

O Chanceler usa sua grande influência para colocar Anakin no conselho Jedi e o manipula para abalar sua confiança neles. Usando seu medo de perder a esposa, Palpatine afirma que somente um Lord Sith tem o conhecimento necessário para evitar a morte, seduzindo o jovem para o lado negro da força. Em quanto Obi-Wan é mandado para perseguir o General Grievous e acabar com os separatistas, o jovem jedi descobre a verdadeira identidade do Chanceler, Lorde Sith Darth Sidious.

Após se tornar aprendiz de Sidious e ser nomeado Darth Vader, Skywalker vai até o Templo e comanda um massacre aos Jedi e, no sistema Mustafaz, ataca os líderes separatistas. Alegando que os Jedi tentaram derrubar a República, o Chanceler reorganiza o poder e declara a criação do Império Galáctico.

Com a ajuda de Bail Organa, senador da República e amigo de Pamé, ObiWan sobrevive ao ataque. Voltando ao templo, ele descobre o que aconteceu a seu aprendiz, procura Padmé a fim de localizá-lo e matá-lo. Ela não acredita no que o guerreiro conta sobre seu marido. Ela resolve alertá-lo pessoalmente e acaba, acidentalmente, delatando sua localização. Ao se encontrarem, Vader confirma suas ações bárbaras e oferece a Amidala a chance de governar a Galáxia a seu lado.

20

Ao ver Obi-Wan sair da nave da esposa, Vader é tomado pela raiva e o sentimento de traição. Ele usa a Força e termina deixando Padmé inconsciente. Os dois entram em confronto e o mestre derrota seu aprendiz deixando-o às margens de um rio de lava a beira da morte. Padmé é levada pelo mestre jedi e seu amigo BailOrgana, já Vader é resgatado por Darth Sidius que o reconstrói em uma armadura.

Padmé recebe assistência médica, e embora esteja fisicamente bem, sua vontade de viver se foi. Ela dá a luz a gêmeos, um menino e uma menina e dá-lhes os nomes de "Luke" e "Leia". Antes de morrer ela diz a Obi-Wan que ainda há algo bom dentro de Anakin. Quando Anakin pergunta a Sidious sobre a condição de Padmé, ele diz que, em sua raiva, o próprio Vader a matou. Obi-Wan, Yoda, e Bail Organa concorda em manter os filhos escondidos e separados. Leia é levada para Alderaan para viver com a Rainha e BailOrgana e Luke é transferido para Tatooine para viver com Owen e Beru, o meio irmão de Anakin e sua esposa.

3.4

TrishaBiggar e Iain McCaig

O responsável pela criação da estética usada nos filmes é Iain McCaig, conceptual designer da nova trilogia. O californiano que estudou na Gasgow School of Art também trabalhou nos filmes Harry Potter e o Cálice de Fogo (Warnes Bros. 2005) e Peter Pan (Columbia Pictures, 2003). Responsável pelo story board que representa a estética inicial do projeto, ele guia a produção de outros trabalhos como os de construção de cenário, efeitos especiais e figurino.

Trisha Biggar é creditada como figurinista nos três filmes, tendo ganhado três prêmios de melhor figurino pelos episódios I e II na Academy of Science Fiction, Fantasy & Horror Films e Las Vegas Film Critics Society Awards nos Estados Unidos.

21

3.5

Padmé Amidala: Rainha, esposa e mãe

A personagem é interpretada, nos três filmes, pela atriz Natalie Portman é parte do arco principal da história, como podemos observar na figura 1.

Ela e seu

interesse romântico, Anakin são a base que constitui a família Skywalker que são cruciais para o desenvolvimento das duas trilogias. Muito comparada com a heroína que a antecedeu na história, sua filha Princesa Leia Organa, Padmé explora ainda mais fundo a figura feminina. Além de demonstrar força e independência, ela explora os aspectos femininos como o amor puro e a maternidade. Se Leia representava os direitos recém-conquistados das mulheres nos Estados Unidos, sua mãe os consolida a imagem decidida e atuante da mulher na sociedade.

Pelo contexto em que se encontrava a heroína de 1977, em meio a uma guerra que já durava mais de quinze anos, sua indumentária era bem mais simples e despreocupada. Lucas resolveu trazer elementos históricos e de moda para a protagonista da nova trilogia a fim de evidenciar e ilustrar seu papel numa sociedade em pleno auge.

22

Figura 1 - Árvore genealógica Skywalker/Nabarrie. Fonte: (Comicbookmovie.com).

3.5.1 A Jovem Rainha

A personagem é apresentada como uma figura de destaque e imponência, Rainha do planeta Naboo, com apenas 14 anos. O filme passa a mensagem de que, apesar de jovem e inexperiente com assuntos de guerra, a jovem Padmé é determinada e atuante nas questões de seu povo.

Utilizando artifícios como a maquiagem e o corte de suas roupas de rainha, a personagem torna-se mais formal em certas ocasiões. Eles também são uteis no disfarce de sua criada, que finge ser a Amidala a fim de protegê-la. Quando disfarçada de criada, ela demonstra sua curiosidade de conhecer novos planetas e sua amabilidade e carinho para com Anakin.

23

A maior influência do filme é sem dúvida a do oriente, com elementos principalmente japoneses. A atmosfera formal e o protocolo desses povos dá um clima de nobreza à indumentária da personagem.

3.5.1.1 O Protocolo do Oriente na Rainha de Naboo

Mesclando tradições dos povos orientais, a maquiagem é usada no filme como uma ferramenta para esconder a identidade da rainha e torná-la uma figura mais madura e distante. Pode ser vista no primeiro episódio sendo usada por Amidala, a verdadeira rainha, e Sabé, sua criada e sósia, conforme Figura 2 e 3. A pele coberta por uma espessa massa branca, delineado preto nas pálpebras superiores e lábios vermelhos parecidos ao de uma boneca são característicos das gueixas e do Kibuki japonês. Já a maçã do rosto bem marcada vem das tradições coreanas. (FAUX)

Figura 2 - Rainha Padmé de Figura 3 - Sabé vestida de rainha com Padmé, Anakin e uma Naboo. Fonte: (Portal Star Wars criada. Fonte: (Portal Star Wars : Fit for a Queen) : Fit for a Queen)

No segundo episódio vemos a nova rainha de Naboo, Jamillia, usar o mesmo desenho que Padmé e, no terceiro episodio, a então rainha Apailanausa uma versão em azul com lágrimas falsas no canto dos olhos na cena do funeral de Amidala. Observando as três personagens encontram-se elementos comuns em seu vestuário como o uso de quimonos, penteados que remetem a vida aquática e o uso de pérolas e do símbolo do planeta Naboo.

A seguir, as ilustrações 4, 5 e 6 apresentam o vestuário da Rainha Amidala em três ângulos diferentes:

24

Figuras 4, 5 e 6 - Traje 1: Rainha Amidala frente, lateral e costas. Fonte: (Portal Star Wars : Fit for a Queen)

Na cena em que se prepara para encontrar o Senado, Padmé usa três quimonos sobrepostos em cores diferentes, sendo o ultimo ornamentado com bordados dourados. Um grande obi, faixa usada para segurar o quimono fechado, mais claro e um acessório de cabeça com perolas e uma fileira de plumas. Essa estrutura rígida e conceitual é a marca da indumentária desse cargo de poder.

3.5.1.2 Imponência da Rainha Virgem: referencias a Elizabeth I da Inglaterra

Usado nas cenas finais do primeiro filme, esse conjunto é composto por um vestido, manto e uma espécie de arranjo aramado preso às costas do manto, representadas nas Figuras 7, 8 e 9, a diante.

25

Figuras 7, 8 e 9 - Traje 2- Rainha Celebração frente, costa e arte conceitual. Fonte: (Portal Star Wars : Fit for a Queen)

A cor branca do vestido remete a paz e a pureza. O manto, além de sofisticar a composição, traz camadas em forma de pétala numa alusão à flora do planeta. Porém, o elemento de maior importância e significado é o arranjo, confeccionado com uma fina base metálica, coberto com tecido fino e transparente, bordado com arabescos, uma clara referência a indumentária usada pela rainha Elizabeth I da Inglaterra. Como base para a comparação foi observado o quadro “Elizabeth I” (1592) conhecido como The Ditchley portrait, do pintor Marcus Gheeraerts the Younger. De acordo com a Figura 10 da página seguinte, observa-se similaridades como o uso de um manto, cores claras, um diadema na cabeça, uma gola de renda semicircular e um aramado bordado em joias na parte de trás do vestido.

26

Figura 10 - Elizabeth I, The Ditchley portrait. Fonte: (National Portrait Gallery, Londres)

A referência à rainha, com o uso do mesmo acessório, era presente em outras obras contemporâneas a trilogia como no filme Shakespeare Apaixonado (Universal Pictures, 1999). A personagem Viola, heroína romântica da história, aparece em uma passagem do filme usando uma versão do arranjo, na cena em que é apresentada a corte inglesa, conforme ilustrado na Figura 11.

Figura 11 - Viola, Shakespeare Apaixonado. Fonte: (Costumer’s Guide)

27

Ambas as personagens são retratadas com a personalidade da rainha que, apesar de jovem, tinham uma atitude decidida e confiante.

3.5.2 Entre Seus Deveres e Seus Sentimentos Dez anos se passam entre a “A ameaça fantasma” e “O ataque dos clones”, Padmé já não é mais rainha de Naboo, mas ainda participa do comando do planeta como Senadora. Mais madura e segura de seus ideais, ela precisa de menos ostentação e simbolismo para sustentar sua posição de superioridade.

É instaurado, ao redor da personagem e Anakin, um clima de romance clássico: gradual e proibido. Vista pelo seu par romântico como uma figura angelical e maternal, ela não deixa de confrontá-lo ao expressar suas opiniões. A partir das cenas em que ela volta para sua cidade natal, suas roupas são mais leves e menos formais, representando a beleza clássica do romantismo.

3.5.2.1 Uma Fase Aristocrática Mais Suave

São usados como fonte duas sociedades aristocráticas bem distintas, a europeia do século XVI e a tribal congolesa, para ressaltar seu poder e imponência. Na cena em questão a senadora reencontra Ankin, agora com 19 anos e prestes a se tornar um Jedi, após ter sofrido um atentado. Mesmo demonstrando sua alegria em revê-lo, ela precisa manter-se firme em suas decisões: buscar e punir o culpado e não fugir de suas obrigações com a República.

Esse conjunto exemplifica a mudança na abordagem feita para diferenciar o figurino de rainha e de senadora. As estruturas agora são mais leves, e permitem mais liberdade de movimento e expressão da personalidade individual de Padmé. As Figuras 12 e 13 dispostas na próxima página ilustram a referida mudança.

28

Figuras 12 e 13 - Traje 3 - Senadora de Naboo frente e costas. Fonte: (Portal Star Wars: Fit for a Queen)

Mais uma vez utilizando referencias contemporâneas à rainha Elizabeth I, o conjunto de corpete, saia e a sobreveste. Na Alemanha e na Italia, Köhler(2001), aponta duas características marcantes que podem ser vistas na sobreveste usada pela personagem: a gola que se assemelha ao Goller e o corte e montagem das mangas na peça. O Goller, ou Koller, consistia em uma peça que cobria ombros, pescoço e nuca, usada quando o decote do corpete era muito baixo. Sobre as mangas ele diz: “Em alguns lugares como Siena, as mangas eram exageradamente longas; em outros, eram pendentes. Em Bolonha, costumavam ser tão longas que, para assegurar maior liberdade de movimentos, tinham que ser amarradas atrás. Contudo, eram as sobrevestes abertas na frente que apresentavam a maior diversidade de mangas”. (KÖHLER, 2001 p. 348)

29

O penteado é inspirado nas mulheres da tribo Mangbetu, do Congo, que usam cordões e pedaços de ossos para alongar o crânio, conforme ilustrado nas Figuras 14 e 15, servindo como fundamento para esta comparação.

Figura 14 - Traje 3- Senadora de Naboo Lateral. Fonte: (Portal Star Wars: Fit for a Queen)

Figura 15 - Mulher da tribo Mangbetu Fonte: (FAUX, P.245)

O etnólogo alemão Georg Schweinfurth , primeiro europeu a entrar em contato com esses povos, os descreveu em seu livro: No coração da África (1871), como um povo elegante e aristocrático. O uso desses signos dá poder e superioridade à figura que os carrega nessas duas culturas e, consequentemente, a personagem que os sustenta.

3.5.2.2 Construindo a Imagem de uma Heroína Romântica

O conjunto usado pela personagem na cena de pic-nic com Anakin, conforme representado na Figura16, explora inspirações renascentistas e a figura construída pela corrente artística do romantismo.

30

Figura 16 - Traje 4 - Pic-nic romântico arte conceitual. Fonte: (Portal Star Wars : Fit for a Queen)

Usando tecidos bordados com motivos vegetais, populares na virada do século XV, o conjunto é composto por saia, blusa e um corpete, conforme ilustrado nas Figuras 17, 18 e 19. Köhler (2001) descreve “mangas franzidas em vários lugares e amarradas com fitas coloridas” sendo usadas pelas espanholas no inicio do século XVI. Os cabelos poderiam ser trançados, soltos para as mulheres mais jovens e era comum o uso de redes de cabelo. Podendo ser confeccionada em ouro, era usada com os cabelos repartidos e puxados para as laterais da cabeça em forma esférica.

31

Figuras 17, 18 e 19 - Traje 4 - Pic-nic romântico frente, costas e cabelo. Fonte: (Portal Star Wars : Fit for a Queen)

A construção de uma identidade medieval, juntamente com o cenário campestre remete aos ideais da literatura romântica do século XIX, muito utilizada para a promoção do filme, como mostra a ilustração 20. Pregando a valorização do sentimento, a idealização da figura da mulher e a inspiração nas obras Shakespearianas e nas novelas de cavaleiros do Trovadorismo com o uso recorrente de temas como o amor proibido. O recurso aproxima os personagens de uma realidade fictícia e distante do publico utilizando referências conhecidas e próximas a ele, facilitando a empatia com os personagens.

Figura 20 - Capa da revista Vanty Fair com o traje 4. Fonte: (Portal Star Wars : Fit for a Queen)

32

3.5.3. Clímax da História

Apaixonada pelo marido e esperando um filho, a imagem romântica do segundo filme torna-se sagrada e maternal. Mesmo preocupada com o destino de Anakin, confuso por uma influência maligna, não perde a esperança nele. A figura heroica e decidida do segundo filme é abalada pelas preocupações e revelações de um destino trágico. Reunindo todas as características de uma obra de romance trágico, as referências deste último episódio levam a personagem a se tornar uma figura frágil e vulnerável.

3.5.3.1 Idealizando a Imagem de Uma Mulher

Já na terça parte do filme, Padmé aparece mais frágil e preocupada com o destino de seu marido. O vestido usado por ela (Figuras 21 e 22) assemelha-se a descrição feita por Köhler (2001) do robe usado pelas francesas no século XV:

“Era alto nos ombros e, na frente, o decote baixo era cortado em V. Do busto para baixo, a largura ia aumentando aos poucos. Era muito longo na frente e nos lados e tinha uma longa cauda. Abaixo do busto, era preso por um cinto largo com uma fivela metálica”. (KÖHLER, 2001 p.207)

Figuras 21 e 22 - Traje 5- Vestido verde em detalhes e frente. Fonte: (Portal Star Wars : Fit for a Queen)

33

O uso do capuz, do tecido ornamentado por desenhos em devore juntamente com os cabelos soltos e o broche no decote são outros detalhes que comprovam essa inspiração medieval. Ele esconde a gestação avançada da personagem também dando a ela um ar nobre e puro, retomando a ideia da heroína idealizada das novelas de cavaleiros do Trovadorismo europeu. Foi usado para a gravação de duas cenas, sendo uma delas cortada da versão que foi exibida em 2005, e ficou mais conhecido pelas imagens promocionais do filme, conforme exemplificado na Figura 23.

Figura 23 - Imagem de divulgação do filme com o traje 5. Fonte: (Portal Star Wars : Fit for a Queen)

3.5.3.2 Referencias Shakespearianas de Tragédia

Padmé encontra seu fim pelos mesmos motivos que a personagem Ofélia da peça trágica de Willian Shakespeare, Hamlet. Apaixonada por um homem com quem é proibida de se relacionar se desilude com ele, que parece ter perdido completamente a cabeça. Essa decepção é a causa da perda da razão de sua existência. A notícia de sua morte, dada na peça pela rainha, envolve Ofélia envolta a flores em quanto boia na água.

34

A fala a seguir mostra a descrição dada pela rainha da morte de Ofélia na peça, vista de forma trágica e romântica. Ela deixa no ar o questionamento: se esta morte foi de fato um suicídio, onde a personagem esta ciente do risco de sua morte ao subir na árvore; ou apenas um trágico acidente, no qual a personagem aproveitou apenas do momento e deixou-se morrer. “[...] Inclinado nas margens de um arroio, levanta-se um salgueiro que reflete as esbranquiçadas folhas na corrente cristalina. Para lá se dirigiu, adornada com estranhas grinaldas de botões de ouro, urtigas, margaridas e com aquelas largas flores púrpuras às quais nossos licenciosos pastores dão um nome grosseiro, mas as nossas castas donzelas chamam de dedos de defunto. Ali trepou pelas ramagens pendentes para colher sua coroa silvestre, quando um pérfido ramo se desprendeu e, junto com seus agrestes troféus, foi cair no soluçante arroio. Suas roupas, a principio, se espalharam e a sustentaram durante alguns instantes, como se fosse ela uma sereia. Enquanto isto, cantava estrofes de antigas árias, como se estivesse inconsciente da própria desgraça, ou como ondina dotada pela natureza para viver no elemento próprio. Mas não poderia aquilo durar longo tempo e os vestidos embebidos tornaram-se mais pesados e arrastaram a desgraça para uma morte lodosa, em meio de seus melodiosos cantos”. (SHAKESPEARE, 1603 p. 300 e 301)

Inspirado pela descrição feita pela rainha, o pintor John Everett Milais reproduz o leito aquático no momento da morte da jovem. A pintura Ophelia (1852) foi o ponto de partida para a criação do leito de morte da personagem Amidala, (Figura 24). Dando o efeito de que seu vestido faz parte das águas do arroio e que seus cabelos se espalham e se enfeitam com flores.

35

Figura 24 - Ofélia, John Everett Milais. Fonte: (Tate Britain Gallery).

O conjunto composto de um vestido em nuances de verde e um manto em azul bordado com pequenas lantejoulas. Os cabelos soltos e encaracolados são decorados com finas fitas brancas e pequenas flores, assim como as laterais de seu manto, representados nas Figuras 25, 26 e 27 a seguir:

Figuras 25, 26 e 27 - Traje 6 - leito aquático no manequim, backstage e preparação completa. Fonte: (Portal Star Wars : Fit for a Queen)

36

Outro motivo pelo qual é escolhido explorar um leito “aquático” é o fato de que seu planeta natal, Naboo, é conhecido por seus vários lagos e extensos pastos verdes.

37

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A escolha em referenciar outras obras no intuito de agilizar a compreensão de um enredo é muito comum na construção de um roteiro. George Lucas utiliza-se de elementos comuns na literatura clássica como o amor proibido e o mito do herói para explorar um universo completamente novo no cinema de Ficção-Cientifica.

Comprovamos, usando como exemplo a personagem Padmé, que a utilização de signos para guiar a construção de um figurino é uma eficaz ferramenta no auxilio para a compreensão e assimilação de dados ao público. Mesmo não sendo usados explicitamente, as referências são, habitualmente, absorvidas de maneira subjetiva pelo espectador. A exploração desse recurso pode ser feita também para exemplificar o caráter de um personagem, relacionando-o com uma figura conhecida.

Durante o decorrer da pesquisa, notou-se a grande quantidade de informação a respeito do filme, mas suas poucas fontes oficiais. Em relação aos dados referentes a filmes foi constatado o mesmo empecilho.

Os trabalhos

encontrados analisando figurinos com a ajuda de signos eram mais subjetivos e não apresentavam uma base metodológica especifica.

A moda sempre foi um meio de expressar os acontecimentos e uma época, ir contra ou a favor das tendências também poderia exteriorizar sua personalidade. A compreensão e o domínio sobre a história da indumentária e seu contexto social na época são características essenciais para o profissional encarregado da idealização do figurino. Foi constatada a necessidade da formação de profissionais como o figurinista com conhecimentos tanto nas áreas de técnicas cinematográficas quanto de moda e comportamento.

38

REFERÊNCIAS AUMONT, J.; MARIE, M.. Dicionário Teórico e Crítico de Cinema. Tradução Eloisa Araújo Ribeiro. Campinas: Papirus, 2003. BAUDOT, F.. A Moda do Século . São Paulo: Cosac & Naify, 2002. BERNARDET, J.. O que é Cinema. Coleção Primeiros Passos. São Paulo: Brasiliense, 2000. CAMPBELL, J.. O herói de Mil Faces. São Paulo: Pensamento, 1997. COMICBOOKMOVIE. Star Wars Family. Disponível em: . Acesso em: 06/10/2013. COSTA, F. A.. O Figurino como Elemento Essencial da Narrativa. Sessões do Imaginário. FAMECOS/PUCRS, Porto Alegre, nº 8, p. 38, agosto 2002. COSTUMERS GUIDE. Shakespeare Apaixonado. Disponível em: . Acesso em: 02/11/2013, às 17h22min. FAUX, D. S.. A Beleza do Século. São Paulo: Cosac & Naify, 2000 MARTIN, M.. A Linguagem Cinematográfica. Lisboa: Dinalivro, 2005 MASCARELLO, F.. História do Cinema Mundial. Coleção Campo Imagético. Campinas: Papirus, 2006. MUNIZ, R.. Vestindo os Nus: o figurino em cena. Rio de Janeiro: Senac, 2004 NOGUEIRA, L.. Géneros Cinematográficos. Covilhã, Portugal. LabCom, 2010. Disponível em: . Acesso em 09/10/2013, às 16h36min. KAMINSKI, M. The Secret History of Star Wars.Legacy Books Press, 2008 Disponível em: . Acesso em: 24/10/2013, às 13h32min. KÖHLER, C.. História do Vestuário. São Paulo: Martins Fontes, 2001 KWITKO, A. P.. O Sistema do Figurino no Cinema, Uma abordagem semiológica. Revista Eletrônica do Programa de Pós-Graduação da Faculdade Cásper Líbero, São Paulo, v. 2, nº 1, junho/novembro 2010. Disponível em:

39

. Acesso em 09/10/2013, às 16h. LucasFilm. Companhia Cinematográfica. Disponível em: . Acesso em 19/10/2013, às 15h18min. NPG. National Portrait Gallery. Rainha Elizabeth I ('The Ditchley portrait'). Disponível em: . Acesso em: 02/11/2013, às 17h15min. REBELSHAVEN. Website dedicado aos figurinos Star Wars. Disponível em : . Acesso em: 02/11/2013, às 17h10min.. SHAKESPEARE, W.. Romeu e Julieta; Macbeth; Hamlet, príncipe da Dinamarca; Otelo, o Mouro de Veneza / traduções de F. Carlos de Almeida Cunha Medeiros e Oscar Mendes; sinopses, dados históricos e notas de F. Carlos de Almeida Cunha Medeiros. São Paulo: Abril Cultural, 1981 STAR WARS. Site oficial da franquia Star Wars. Disponível em: Acesso em 19/10/3013, às 14h30min. TATE. Biblioteca de Imagens: Ophelia. Disponível em: . Acesso em: 02/11/2013, às 17h43min.

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.