O Grito da razão: Deleuze leitor de Leibniz ou do princípio de razão suficiente

July 12, 2017 | Autor: Larissa Drigo | Categoria: Critical Theory, Philosophy, Metaphysics, Ontology, 17th Century & Early Modern Philosophy, Continental Philosophy, Gilles Deleuze, Deleuze, Metaphysics of Modality, Gottfried Wilhelm Leibniz, Gilles Deleuze and Felix Guattari, Leibniz (Philosophy), Infinity, Monadology, Early Modern Philosophy, Leibniz, Filosofía, German Philosophy, Contemporary Continental Philosophy, Métaphysique, Ontologias, Ontologia, Histoire de la philosophie, Filosofía francesa contemporánea, Fenomenología y Ciencias sociales, Filosofía francesa contemporánea/Fenomenología/Ciencias sociales, Deleuze Studies, Filosofia Moderna, Filosofía moderna, Filosofía francesa contemporánea, Infinity Exists, History of Philosophy, Guilles Deleuze, Franch Contemporary Philosophy, Infinito, Filosofia, Continental Philosophy, Gilles Deleuze, Deleuze, Metaphysics of Modality, Gottfried Wilhelm Leibniz, Gilles Deleuze and Felix Guattari, Leibniz (Philosophy), Infinity, Monadology, Early Modern Philosophy, Leibniz, Filosofía, German Philosophy, Contemporary Continental Philosophy, Métaphysique, Ontologias, Ontologia, Histoire de la philosophie, Filosofía francesa contemporánea, Fenomenología y Ciencias sociales, Filosofía francesa contemporánea/Fenomenología/Ciencias sociales, Deleuze Studies, Filosofia Moderna, Filosofía moderna, Filosofía francesa contemporánea, Infinity Exists, History of Philosophy, Guilles Deleuze, Franch Contemporary Philosophy, Infinito, Filosofia
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O Grito da razão Deleuze leitor de Leibniz ou do princípio de razão suficiente

Num primeiro momento gostaria de justificar o recuso que Deleuze faz à filosofia leibniziana. Em seguida, me centrarei na exposição da leitura de Leibniz presente nos cursos de 19801, o interesse destes cursos é que aqui vemos um Leibniz que não é aquele presente em Diferença e repetição ou Lógica do sentido. Talvez seja um Leibniz que se situa entre os livros dos anos 60 e A dobra, publicado em 1988, meu objetivo é elucidar de que maneira Deleuze compreende o princípio de razão suficiente e os princípios que podem ser deduzidos dele. Buscaremos traçar uma cadeia de definições e determinar o encadeamento das definições recíprocas.

Historicamente uma ideia de imanência expressiva se opõe ao pensamento platônico e também à teoria neoplatônica da emanação. E é justamente por esta razão que Deleuze se interessa tanto por Espinosa quanto por Leibniz, porque sua filosofia se define, desde Diferença e repetição, em oposição à representação e à lógica do fundamento presente em Platão. Platão teria instaurado uma cisão entre a Ideia e suas cópias. A Ideia, por exemplo, a ideia de justiça implica que só a justiça é justa, ela funda o mundo empírico como cópia, representação, sempre aquém da ideia que ele repete, porém jamais completamente ou inteiramente. O problema dos esquemas platônicos da participação é que o princípio da participação está no participante, ele é concebido como algo que está fora do participado, uma violência que incide sobre este. Os neoplatônicos invertem este problema. Eles procuram um princípio que torne a participação possível, mas do ponto de vista do participado. Para Plotino não é o participado que passa no participante, o participado continua em si, ele é participado quando produz, ele produz quando doa. A participação é emanativa: “emanação significa ao mesmo tempo causa e dom: causalidade por doação, mas também doação produtora. A verdadeira atividade é do participado; o participante é só um efeito, e recebe o que a causa lhe dá2. A causa eficiente e a causa emanativa tem um aspecto em comum, elas continuam em si para produzir, elas não saem de si mesmas. O que as distingue é a maneira através 1 2

Ver http://www.le-terrier.net/deleuze/ Deleuze. Spinoza et le problème de l’expression. Paris : Minuit, 1968, p. 154

da qual as duas causas produzem. Se a causa emanativa continua em si mesma, o efeito produzido não está nela e não permanece nela. A causa emanativa está além do que ela doa, ela transcende o que doa. Portanto, ela não abole a hierarquia que decorre da teoria platônica da participação. Ela é superior ao efeito, e também ao que ela doa ao efeito. Ela está além do ser ou da substância. Ela é o Uno e cada termo é definido por Um termo primeiro que o precede, ou seja, a partir da distância que os separa, da diferença ou falta que ele apresenta com relação à causa primeira. A causa eficiente presente no pensamento de Espinosa, rompe com esta noção de causalidade transcendente. “Do ponto de vista da imanência, a distinção de essência não exclui, mas implica uma igualdade do ser: é o mesmo ser que permanece em si mesmo na causa, mas também no qual o efeito permanece como em outra coisa3.” Espinosa “coloca a igualdade de todas as formas de ser, e a univocidade do real que decorre desta igualdade4”. O ser unívoco e comum denuncia todos os tratamentos que retiram do ser sua positividade. Contra o mundo hierarquizado do platonismo e do neoplatonismo a imanência estabelece uma comunidade formal em que a participação é concebida de maneira inteiramente positiva. Para Espinosa as coisas são modos do ser divino, implicam os mesmos atributos que constituem a natureza do ser divino. Toda semelhança se define, portanto pela presença de uma igualdade comum à causa e ao efeito. As coisas não são cópias ou imitações. Toda semelhança imitativa ou exemplar é excluída da relação expressiva5. A teoria da expressão está a serviço da univocidade, univocidade dos atributos, da causa, da ideia, já Leibniz multiplica as distinções, a expressão é para ele equívoca6. Se Espinosa permite com que Deleuze defenda a tese de uma univocidade do ser, Leibniz o permite pensar a contrapartida desta tese que Deleuze anunciava da seguinte maneira.

O essencial da univocidade do ser não é que o Ser se diga num único e mesmo sentido. É que ele se diga num único e mesmo sentido de todas as diferenças individuantes ou modalidades intrínsecas. O Ser é o mesmo para todas as modalidades, mas essas modalidades não são as mesmas. Ele é “igual” para todas,

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Idem., p. 156. Idem., p. 152. 5 Idem., 164. 6 Idem., p. 310. 4

mas elas mesmas não são iguais. Ele se diz num único sentido de todas, mas elas mesmas não tem o mesmo sentido. É da essência do ser unívoco de se relacionar às diferenças individuantes, mas essas diferenças não tem a mesma essência, e não fazem variar a essência do ser (...). O Ser se diz em um único sentido do que ele se diz, mas aquilo do que ele se diz difere: ele se diz da própria diferença7.

O ser é unívoco mas ele se diz de diversas maneiras, ou seja, de maneira equívoca. Aquilo do que o ser se diz é uma pergunta que diz respeito à diferença e ao seu modo de produção próprio. Por esta razão podemos afirmar que Deleuze procurava em Leibniz uma maneira para compreender, não mais a univocidade do ser, mas a equivocidade dos seus sentidos, ou como o ser se desdobra em diversos sentidos, pois esta é a pergunta que guia a filosofia leibniziana, “porque isto e não aquilo?”, ou “como o singular se torna tal?”. Leibniz procurou dar um novo sentido à equivocidade a partir do recurso a dois princípios, o de contradição e ao princípio de razão suficiente. Ao caracterizar a filosofia da expressão Deleuze afirma: “É a era do princípio de razão suficiente: os três troncos da razão suficiente, ratio essendi, ratio cognoscendi, ratio fiendi ou agendi, encontram na expressão sua raiz comum8”. Ser, conhecer e agir ou produzir são sistematizadas a partir deste conceito, são espécies da expressão9. O que nos interessa aqui é justamente compreender o funcionamento do princípio de razão suficiente leibniziano, segundo Deleuze e sua relação com o infinito. Citando Merleau-Ponty em seu curso Deleuze insiste que a marca da filosofia do século XVII é uma certa inocência na concepção do infinito, uma inocência que Deleuze parece querer recuperar. O princípio de razão suficiente é comumente interpretado como a proposição segundo a qual “tudo o que é tem uma causa”, “nada é sem uma causa”. No entanto, ao enunciá-lo Leibniz não utiliza o termo “causa”, mas razão. No parágrafo 32 da Monadologia Leibniz nos diz que “nenhum fato é verdadeiro ou existente, nenhuma enunciação verdadeira sem que haja uma razão para que seja assim Deleuze, Différence et répétition. Paris : Minuit, 1969, p. 53. Se Deleuze tem alguma razão para criticar a teoria da expressão em Espinosa é justamente porque, segundo o filósofo francês, susbiste ainda no pensamento espinosista uma indiferença entre a substância e seus modos : « a substância espinosista aparece independente dos modos, e os modos dependem da substância, mas como de outra coisa. Seria preciso que a substância se diga dos modos e somente dos modos. Uma condição destas só pode ser preenchida às custas de uma transformação (renversement) categórica mais geral, na qual o ser se diz do devir, o idêntico do diferente, o un do múltiplo, etc. » Idem., p. 59 8 Deleuze, Op. Cit., 1968, p. 299. 9 Idem., p. 299. 7

e não de outra maneira.10” Eis o que Deleuze chama de o “grito da razão” leibniziano. Tudo o que é tem um conceito. E a razão suficiente não está apenas presente nas verdades necessárias, mas também nas verdades contingentes. Ou seja, Deus é certamente causa de tudo, e a razão suficiente das verdades necessárias é Deus, mas Deus não é suficiente para explicar porque tudo o que existe é sempre diverso, ou porque não existem duas coisas iguais na natureza. Por isso o parágrafo § 36 nos diz que a razão suficiente deve também estar presente nas verdades contingentes ou de fato, ou seja, “na série de coisas disseminadas pelo Universo das Criaturas, onde a resolução em razões particulares poderia ir a detalhes sem limites, por causa da variedade imensa das coisas da natureza e da divisão dos corpos ao infinito11.” O que assegura esta progressão infinita na qual o sujeito torna-se ou é o desenvolvimento do seu próprio conceito é o princípio de contradição. Leibniz o formula, contra a ideia de que contraditório é que algo possa ser e não ser ao mesmo tempo, definição aristotélica do princípio. Para Leibniz o princípio deve ser anunciado da seguinte maneira: A não é B, o que impede A de ser B é que B engloba não A, ou seja não A está contido em B. Assim, A é o que A engloba, o que está contido em A. Tudo o que diz respeito há um sujeito, tudo o que lhe ocorre, todos os seus predicados então contidos na noção mesma de sujeito e seria falso dizer o contrário ou o oposto. Assim, a razão é para Leibniz a noção do sujeito, contanto que esta noção contenha tudo o que se diz deste sujeito. No Discurso da metafísica as palavras de Leibniz são: “A noção individual de cada pessoa encerra de uma vez por todas tudo o que lhe acontecerá para todo o sempre12”. Ou seja, tudo o que se diz de um sujeito deve estar contido em seu conceito: “O que ocorre com cada um é o prolongamento de sua ideia ou noção completa unicamente, porque cada ideia encerra todos os predicados ou acontecimentos, e exprime todo o universo13”.

Se os mínimos acontecimentos ou afecções estão contidos na coisa, ou se cada noção individual exprime o mundo nós estamos no domínio da análise infinita. A análise infinita não é a busca pela causa primeira, nós sabemos de antemão que a causa primeira

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Leibniz. Monadologie. Paris: Gallimard, 1995, § 32 p. 101. Idem., § 36 p. 102. 12 Leibniz. Discours de métaphysique. Paris: Gallimard, 1995, § XIII. 13 Idem., § XIV. 11

de tudo é Deus, a análise infinita é análise das consequências ou do desdobramento da noção. A série causal infinita não é interrompida quando encontramos a razão suficiente, ela se torna possível porque há uma razão, há uma razão que permite a continuidade. Ou seja, o princípio de razão suficiente também assegura a lei da continuidade ou ele obedece à lei da continuidade. Por isso, a razão suficiente pode ser concebida a partir do infinitesimal, a condição que o processo de divisão não seja concebido como a divisão da areia em grãos, “mas como a de uma folha de papel ou de uma túnica em dobras, de maneira que possa haver uma infinidade de dobras, umas menores do que as outras, sem que jamais o corpo se dissolva em pontos mínimos14.” O conceito leibniziano funciona como uma dobra que não cessa de se desdobrar infinitamente porque ele contém todos os acontecimentos que ocorrerão a um sujeito para todo o sempre e também todo o universo. Mas se o conceito exprime a totalidade do mundo não estaríamos diante de um único sujeito? Se o sujeito exprime a totalidade do mundo, então não haveria um único sujeito?

O célebre exemplo do movimento das ondas que ilustra o papel e a importância das pequenas percepções pode servir como exemplo da natureza do infinitesimal em Leibniz. Nós não seriamos capazes de ouvir o murmúrio do mar ou o barulho das ondas se nós não fossemos afetados pelo movimento da onda ao mesmo tempo em que somos afetados pela percepção de cada um destes murmúrios, por menores que sejam, não seríamos capazes de ouvir o som de cem mil ondas porque cem mil nadas não fariam uma coisa. A apercepção clara e distinta do todo, depende da percepção confusa de cada uma das partes. E o que na percepção é confuso e indistinto é a razão suficiente que faz com que cada coisa seja o que é.

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Assim cada sujeito ou cada noção exprime a totalidade do mundo,

mas de um único ponto de vista, cada sujeito exprime o mundo parcialmente, porque esta expressão não é totalmente clara, ela é em parte confusa ou indistinta. Leibniz completa a descrição afirmando que “estas pequenas percepções são portanto, mais eficazes do que pensamos”. São elas que formam “este não sei o que, estes gostos, estas imagens de qualidades sensoriais, claras no conjunto, mas confusas em suas

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Leibniz. Opuscules et fragments inédits de Leibniz. Organização Couturat, L. Paris: Heldensheim, 1961, p. 615. 15 Leibniz. Nouveaux essais de l’entendement humain. Paris: Flammarion, 1990, p. 42

partes, estas impressões que os corpos que nos rodeiam provocam em nós, e que envolvem o infinito, esta ligação que cada ser tem com o resto do universo16.” Estas percepções marcam ainda e constituem o mesmo indivíduo. Elas conservam traços dos estados precedentes do indivíduo, fazendo a conexão com o estado presente, permanecendo inclusive inconscientes para o indivíduo. Ou seja, as pequenas percepções permitem que Leibniz inclusive inclua no conceito de individuo um tempo que lhe é próprio, um tempo que como o indivíduo é singular. O conceito de indivíduo encerra portanto, seu passado, seu presente e seu futuro, e as relações que os momentos do tempo estabelecem são inconscientes para o próprio indivíduo e contingentes porque inseridas numa série causal infinita. Nada justificaria, portanto que as pequenas percepções sejam descartadas porque são inconscientes ou estão fora do alcance dos sentidos até porque a lei da continuidade depende das pequenas percepções: “Nada se faz de repente, é uma das minhas grandes máximas e das mais verificáveis que a natureza não dá saltos: o que eu chamava de lei da continuidade17”. Inquietude é o nome dessas pequenas percepções inconscientes que, no entanto são responsáveis pela apercepção consciente. Somos habitados por singularidades que são para nós confusas ou imperceptíveis. Ou seja, o infinitesimal não é uma diferença evanescente ou uma ficção, ele é imperceptível, por isso como o princípio de razão suficiente, como a razão suficiente de tudo o que é, ele só pode ser pensado. O conceito não apenas contém todos os predicados ou acontecimentos que dizem respeito à um indivíduo como ele parece afetado por uma constante inquietude que faz com que seu movimento seja variável, mas constante. Por esta razão Leibniz afirmará que as pequenas percepções constituem um mesmo indivíduo, o que significa que cada indivíduo é constituído por uma inquietude infinita. Do princípio de razão suficiente decorre a infinita variedade da natureza ou o princípio de individuação. O princípio de individuação garante que todo corpo difere em si mesmo de qualquer outro. Por isto, a razão é singular ou o conceito é o indivíduo, um nome próprio, uma noção individual. Assim o que vale para o conceito vale também para o sensível. A razão depende invariavelmente de uma série infinita seja porque a análise passa da apercepção para o imperceptível, como quem vai do maior ao menor ou do todo em direção as partes, em busca de uma causa, seja porque ela passa da parte para o todo, ou do sujeito para os 16 17

Idem., p. 42. Idem., p. 43.

acontecimentos e encontros que o concernem. A razão suficiente pode tanto ser causa suficiente ou final, no primeiro caso ela implica um movimento no interior do qual o conceito não cessa de dobra-se sobre si mesmo, até que sejam encontrados os elementos mínimos ou partes que permitem a configuração do todo, num segundo, o conceito não cessa de se desdobrar numa série infinita de causas e efeitos, de acontecimentos, encontros e aventuras. Deleuze definia a dobra como “operação infinita”: O problema não é terminar uma dobra, mas continuá-la, fazer com que ela atravesse o teto, levá-la ao infinito.” Assim, “a dobra infinita separa ou ela passa entre a matéria e alma, a fachada e a peça fechada, o exterior e o interior. A linha de inflexão é uma virtualidade que não cessa de se diferenciar: ela se atualiza na alma, mas ela se realiza na matéria. Cada um do seu lado.”18 É portanto, a partir da lei da continuidade que podemos compreender as razões que fazem com Deus escolha o melhor dos mundos possíveis e que explica não a necessidade, mas as inclinações que movem as coisas criadas. Se colocarmos a pergunta porque um possível dentre muitos se atualiza e outros não, sabemos que a resposta leibniziana implica na distinção entre mundos compossíveis e mundos incompossíveis. E se o mundo compossível pudesse ser definido a partir das séries contingentes? Se fosse assim poderíamos dizer que Deus escolheu o mundo em que César cruza o Rubicão porque este ato é o que produz uma infinitude de consequências, e não outro. Deus escolhe o mundo onde o infinito é atual, onde as ações executadas são aquelas que não cessam de produzir consequências. O infinito é produzido, portanto ou assegurado pelo princípio de razão suficiente. Mundos são compossíveis quando há uma razão suficiente para isso, para que um possível se insira no interior de uma série infinita. O melhor dos mundos possíveis é o mundo onde a razão nunca cessa de se desdobrar infinitamente produzindo consequências mais diversas que nosso entendimento inclusive não seria capaz de analisar ou abarcar. No Discurso da metafísica, Leibniz é claro ao tratar das as verdades contingentes, elas não são fundadas nas ideias puras ou no simples entendimento de Deus, mas em seus decretos livres e na continuidade do universo (“sur la suíte de l’univers”) 19

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Deleuze. Le Pli. Paris: Minuit, 1988, p. 49. Leibniz. Discours de métaphysique. Paris: Gallimard, 1995,

§XIII.

Sem este critério a contingência ficaria reduzida ao intercambiável, perderia a sua singularidade, não seria capaz de realizar um processo de individuação e nem manteria o princípio de distinção. Se um possível não tem uma razão para ser, isto significa que ele também não tem condições de continuar sendo, porque o princípio de razão suficiente deve fornece uma razão de ser e uma razão para a ação ou o devir. A lei da continuidade é que permite, portanto, que possamos distinguir o compossível e o incompossível. Neste caso o incompossível é a alternativa improdutiva, que não produz consequências infinitas como as alternativas compossíveis, ela não é escolhida porque é estéril, porque não insere o sujeito numa série causal infinita, porque não produz consequências, o incompossível é um limite que restringe as possibilidades ou a potencialidade do conceito, porque ele funciona como um limite, Deus a rejeita, porque ele funciona como um limite um sujeito não se inclina em direção à ele. Podemos concluir com esta afirmação deleuziana, segundo a qual, a filosofia de Leibniz cria conceitos, como um pintor cria linhas e cores, o autor da Teodicéia é também o autor de uma outra narrativa, de uma odisseia onde o conceito se desdobra no melhor dos mundos possíveis. Sua filosofia é uma aposta, uma aposta que o cálculo infinitesimal torna possível. É por que Leibniz criou o cálculo infinitesimal que ele pode apostar que Deus criou o melhor dos mundos possíveis, porque no melhor dos mundos possíveis o infinito é atual.

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