O HERÓI COGNITIVO E A INDIVIDUALIZAÇÃO DOS PERSONAGENS NOS FILMES AMERICANOS

June 7, 2017 | Autor: Josias Pereira | Categoria: Semiótica, comunicación y cultura
Share Embed


Descrição do Produto

O HERÓI COGNITIVO E A INDIVIDUALIZAÇÃO DOS PERSONAGENS NOS FILMES AMERICANOS. .

Josiass Pereira 1 - [email protected]

Categoria de Apresentação: Comunicação Oral

1

Mestre em tecnologia educacional, professor e pesquisador da FACNOPAR, roteirista, diretor de TV, cinema e vídeo

1

Resumo: Este trabalho tem como objetivo levantar um debate, sobre o modo que o cinema americano cria seus heróis e como esta subjetividade foi criada. Como a sociologia e a psicologia social contribuíram na formação da sociedade americana e influenciaram roteiristas e diretores. Assim, influenciando na maneira de se fazer cinema neste país. Usaremos os pressupostos destas áreas para compreender a linguagens cinematográfica atual. Palavra Chave – Psicologia Social, Sociologia, cinema, TV e vídeo Introdução Nossa sociedade contemporânea vem passando por diversas mudanças e uma delas é no campo social, aonde o advento de novas tecnologias vem diminuindo barreiras e criando novas maneiras de raciocínio e cognição 2 . Na Antiguidade e Idade Média a filosofia, que Pitágoras teria afirmado que é a sabedoria plena e completa dominou o modo de pensar e ver a vida. A filosofia respondia, ou tentava responder o mundo. Porém, com as mudanças políticas e sociais do século XVIII como a revolução industrial e a revolução Francesa, surgiu a necessidade de outro tipo de explicação que a filosofia não comportava. Deixando aberto os caminhos para o surgimento, no século XIX, da sociologia, uma ciência que teria como principal função estudar o comportamento humano. Pensadores como Saint-Simon, Auguste Comte, Emile Durkheim e Max Weber contribuem para a fortalecer e fixar a nova ciência. A sociologia explica como os grupos interagem e como devem agir, mas não explica o ser humano, como ele pensa e nem como é criado o subjetivismo de cada um. Assim, surge à psicologia para tentar achar respostas. A psicologia surgiu então com o objetivo de evidenciar a interação do ser humano enquanto ser que se adapta ao meio. Já a sociologia procura definir as regras que existem na sociedade, ou seja, os padrões decorrentes da vida social que determinam a ação e que são observáveis pela recorrência do relacionamento entre as pessoas. Esta estuda o meio e os padrões sociais enquanto aquela estuda como o ser internaliza e se estrutura neste meio. Analisaremos como estas duas áreas do conhecimento contribuíram para modificar e criar um modo de pensar, um modelo mental, esquema mental, que indiretamente será usado e repassado pelos meios de comunicação e pelo cinema, através da interação dos roteiristas, diretores e produtores que foram influenciados pelo meio circundante. Sociologia Originalmente a sociologia surge como derivação da filosofia com as mudanças sociais advindas no século XIX . Com a revolução industrial, surge o proletariado, pessoas que saíram do campo e foram morar nas cidades. E agora passam a residir em um espaço físico pequeno, começam a se interagirem de 2

usaremos a definição de cognição como o fenômeno básico que ocorre no processamento simbólico de informação, velocidade de raciocino, adaptação, apreensão dos dados e do conhecimento.

2

modo como dantes não havia. O esforço físico em demasia, mais de 12 horas de trabalho, mulheres e crianças trabalhando geraram sentimentos de revolta na população, que foi traduzido na forma de destruição de máquinas, sabotagens, explosão de oficinas, roubos e outros crimes. A Sociologia surgiu como resposta aos desafios da modernidade, com o surgimento de grupos interagindo próximos. Os sociólogos tentavam compreender os grupos sociais que nasciam da revolução industrial e os seus caminhos. Entendendo a “massa” o grupo, seria mais fácil, entender seus passos futuros, se adaptando ou corrigindo futuros erros, o que para a elite seria interessante, alem de ser uma forma de diminuir os futuros distúrbios. Alguns pesquisadores defendem que a sociologia nasce com Auguste Conte e sua sociologia tipicamente positivista. Conte acreditava que toda a vida humana tinha atravessado as mesmas fases históricas e que se pudéssemos compreender este progresso, poderíamos evitar alguns erros. Contradições a parte, alguns sociólogos contemporâneos como Luckmann, Norbert Elias e Anthony Giddens tentam explicar o modo de ser do”ser humano”, seja através da socialização primaria, da teoria da estruturação, das teorias sociais ou redes sociais. Anthony Giddens relata o sentido da sociedade em que vivemos, apresenta o terreno da auto-identidade, procurando analisar de que forma a contemporaneidade se relaciona com os aspectos mais íntimos da vida pessoal. Em seu livro “Modernidade e identidade” , o autor analisa a transformação na concepção de identidade a partir do rompimento com a ordem tradicional. Já os sociólogos Berger e Luckmann (2005) criam a idéia da socialização primaria e secundária. Para os autores o individuo não nasce fazendo parte da sociedade, ele precisa passar por vários “processos de socialização” que acontecem sucessivamente ao longo da vida, mas que se dividem, basicamente, em dois momentos que o autor define como “socialização primaria” e “secundária”. Para Luckmann a socialização primaria é única e imprescindível na vida do indivíduo, acontece na interiorização de valores que surge na infância com apreensão ou interpretação das primeiras coisas do mundo com que a criança tem contato. Segundo os autores é no processo de socialização, de interiorização, compreensão, interpretação e adequação que a criança passa para fazer parte da sociedade, o indivíduo passa a ter consciência de si próprio, dos outros e do mundo. Geralmente é apresentado pelos pais e outros “seres” com os quais ela se relaciona. Para o autor, esta fase e transmitida por laços emocionais, por isso que dentre eles damos destaque as NTIC´s que outros sociólogos não a contemplam como socialização, mas em pesquisas que realizo não só a considero como um modo de socialização, mas diria que a mesma ainda esta no grupo da socialização primaria, pois trabalha com a afetividade. Segundo alguns autores como Ferres (2000) e Silva (2007) a televisão não trabalha apenas o cognitivo, mas o emocional também.

3

Quando analisamos o cinema, basicamente o americano, que tem uma grande influencia em vários paises chegando a mais de 70% de exibição em alguns, vemos que o mesmo também se apresenta como um grande produtor de ideologias do Séc. XX. Para Canevacci, (1990) o destino da ideologia será o de não ser jamais completamente verdadeira nem completamente falsa. O Esquema mental 3 Segundo Piaget (1996) os esquemas são estruturas mentais, ou cognitivas, pelas quais os indivíduos intelectualmente se adaptam e organizam o meio, eles estão em constante desenvolvimento, o que permitem que o indivíduo se adapte aos desafios do meio. Os esquemas mentais não são rígidos, são adaptados através da experiência do individuo. Cheng e Holyoak, Apud Ana Andrade Cordeiro – 2006, defendem a idéia de que as pessoas raciocinam utilizando regras aprendidas indutivamente com o objetivo de tomar decisões e prever eventos futuros. O modelo mental seria uma maneira da mente agir, reproduzindo o que já foi vivenciado, analisado ou visto. Apreendendo o espaço e os acontecimentos a mente fica “livre” de futuras surpresas, sabendo como agir dentro de uma situação. Exemplo. Quando você sai de casa de carro e vai a um bairro pela primeira vez, e não sabe o caminho fica mais “ligado” no que esta fazendo e para onde deve ir. Depois que consegue chegar, fica mais tranqüilo. E na terceira ou quarta vez que você for ao mesmo bairro, vai mais tranqüilo, pois a mente já “decorou” o caminho e você pode ficar livre pra pensar outras coisas. A socialização nos dias de hoje é muito mais do que apenas a família, amigos, escola, igreja, colegas de trabalho, pessoas da cidade e do país em que vivemos. A TV e o Cinema também contribuem para “moldarem” nossas crenças e valores de modo inconsciente. O audiovisual também nos influencia por meio da linguagem e da estrutura do sub texto 4 , do que apreendemos da historia narrada. Se sairmos do pressuposto que em um dialogo com amigos estamos modificando, criando ou apreendendo novos modelos mentais. As NITCs (novas tecnologias de informação e comunicação) que na verdade são apenas suportes, meios, que contribuem para que novos modelos mentais, pré-estabelecidos por profissionais de mídia sejam processados pelo espectador. Por ter acesso a modelos mentais, não significa que o espectador ira modificar os seus, apenas abre possibilidade de conhecer novas realidades que podem ser incorporadas aos seus. Não estou dando todo poder aos meios de comunicação e falando que o espectador é um papel vazio que a mídia ira persuadi-lo com informações, claro que não, sabemos que as pessoas tem suas visões de vida, sua subjetividade e que a interação com o meio dependera de como cada um ira internalizar o apreendido. Estamos levantando a hipótese de que a mídia apenas ira criar um contraponto ou reafirmar seus esquemas mentais. O mesmo acontece quando dialogamos com amigos, pedimos conselhos 3

Usaremos a definição de Esquemas mentais como representações práticas de partes da realidade. São como modelos em pequena escala da realidade 4 Sub texto é a idéia que esta atrás do texto e não apenas o texto literal. “oi tudo bem?” pode ser uma expressão de cordialidade ou de amor, dependendo do modo que é expresso pelo enunciador e o que se deseja passar ao enunciatario.

4

ou lemos um livro. Construímos nossos modelos mentais, transmitindo-os ou tendo acesso aos de outras pessoas, por isso, a TV e o cinema podem estar contribuindo para a criação de um padrão mental comum para alguns grupos sociais. com a exibição de padrões, de modelos de vida que podem ser assimilados. Vide a industria cultural e as novelas, roupas e o pop rock. Segundo Eisenck e Keane, (1994), os modelos mentais e as imagens são representações de alto nível, essenciais para o entendimento da cognição humana. Um modelo mental é uma representação interna de informações que corresponde analogamente com aquilo que está sendo representado. Ou seja, se estou vendo um filme romântico, as ações da personagem me fazem repensar os meus modelos de vida, o que eu faria naquela situação, como eu iria agir? Este pensar ou imaginar conscientemente, pode modificar ou reestruturar os meus esquemas mentais, criando novas cognições, modificando minha subjetividade e modificando o meu ser. Então, saímos do pressuposto psicológico de que a interação entre dois indivíduos constitui a interação entre dois modelos mentais. Se pertencerem ao mesmo grupo social, uma grande parcela de seus modelos será equivalente, com muitas crenças, signos, símbolos, capital cultural e valores comuns, o que por um lado gera conforto. Talvez, por isso, que conviver com pessoas muito diferentes, com esquema mental e capital cultural diferente gera certos “conflitos”. E as vezes não sabemos nem como agir. Neste ponto o cinema e o audiovisual contribuem apresentando modelos de vida diferentes e algumas possíveis ações ou reações. As NTICs na verdade são apenas o meio, um suporte entre o que pensa ou o modo de pensar de um grupo de diretores, editores, roteiristas para um outro grupo, o espectador? Não estamos dando força ou poder a comunicação de massa, pensando que o expectador absorve tudo que é transmitido, pelo contrario, o que defendemos é que os meios de comunicação de massa representam uma forma de transmissão de conhecimento e comportamento. O espectador ira assistir e assimilar o que lhe interessar (assimilação e acomodação – Piaget 5 ). A mediação é feita pelos meios de comunicação, mas o processo de modelo mental é o mesmo, podemos aceitar ou não. Outro ponto a se debater é quando ativamos inconsciente um trauma. Exemplo, ao ver um filme que uma mãe não trata bem um filho, e se o espectador tem um trauma com a mãe neste sentido. Ele pode “ativar” inconscientemente este trauma. E ao chegar em casa começa a tratar a mãe de modo ríspido sem saber o motivo consciente. Claro que o mesmo mecanismo de aceitação ou ativação do trauma depende de muitas combinações que vai variar de ser para ser; eis o milagre do ser humano ser único. Como espectadores ao assistir uma obra audiovisual, pensamos no que faríamos naquele momento, fazendo assim, uma representação mental do que estou assistindo e como “eu” agiria. Johnsoh-Laird sugere que as pessoas 5

Segundo Piaget a incorporação de um elemento do meio é assimilado e depois acomodado, surgindo a adaptação e o equilíbrio.

5

raciocinam com modelos mentais. Que são como blocos de construção cognitivos que podem ser combinados e recombinados conforme necessário. Segundo o autor, estes modelos representam o objeto ou situação em si. Para Laird, ao invés de uma lógica mental, as pessoas usam modelos mentais para raciocinar; por isso, estamos levantando a hipótese de que os meios de comunicação contribuem para a criação de modelos mentais, sua força é indireta e inconsciente. Para Hampson e Morris, apud Marco Moreira 1997, A lógica que aparece em algum lugar não está na construção de modelos e sim na “testagem” das conclusões, pois esta implica que o sujeito saiba apreciar a importância lógica de falsear uma conclusão, e não apenas buscar evidência positiva que a apóie. Vejo, compreendo, realizo, funciona, repito. Por isso os meios de comunicação de massa contribuem para criar, modificar um modelo mental, apresentar uma situação onde passo a passo o personagem ira interagindo fazendo com que o espectador mude ou adapte o seu modelo mental, faça inferências e questione a vida do personagem e a sua própria. Vivenciando e se conhecendo. Isto é uma interação com o meio e uma nova forma de conhecer limites do grupo e ao mesmo tempo uma forma de conhecer entender a subjetividade da personagem e também a própria. Segundo Hampson existem três maneiras de formar modelos mentais. A primeira é por meio das percepções captadas por nossos órgãos sensoriais: ao ouvir o que nos dizem, assistir a um vídeo, uma peça, um filme etc. A segunda decorre de nossa capacidade de raciocínio aplicada sobre essas percepções e a terceira, refere-se à imaginação. Eu vejo algo (primeira forma) , penso sobre ele ( segunda forma) e imagino a solução ( terceira forma). É o que realizamos a todo momento conversando com amigos ou interagindo com os meios de comunicação de massa. Que são apenas suportes para comunicação direta para idéias de outrem. Festinger, apud Isabella Vasconcelos (2008), apresenta a idéia de dissonância cognitiva que é a forma como é construído em determinado momento uma nova informação recebida. Pois quando ela não é coerente com o nosso modelo mental, ele entrará em colapso, obrigando-nos a repensar o que sabemos ou imaginamos sobre aquele assunto ou, simplesmente, levando-nos a descartar a informação recém-chegada. Achamos que o pensamento da dissonância cognitiva, vai de encontro com o pensamento de Piaget sobre acomodação e assimilação. Para Festinger, os seres humanos se sentem tão desconfortáveis em sustentar ações e pensamentos contraditórios com seus modelos mentais, que são capazes de tentar qualquer coisa para recuperar sua coerência interior: concordam de imediato, pedem um tempo para pensar ate chegar a um acordo com seu novo modelo mental. Ou se a mudança for muito grande, preferem o antigo esquema mental que dara a ela a segurança e tranqüilidade de antes, por isso que é mais fácil perdoar um namorado que traiu, pois ele por um lado da a segurança, já o conheço, do que terminar e encontrar outro que não conheço e

6

aprender o novo que sempre “nos da medo”, pela insegurança do que pode acontecer, ate criarmos um esquema mental.

A Psicologia social e as NTIC´s Aroldo Rodrigues 6 define a psicologia social como a área do conhecimento humano que estuda as manifestações comportamentais suscitadas pela interação de uma pessoa com outras pessoas, ou pela mera expectativa de tal interação. A integração social, a interdependência entre os indivíduos, o encontro social são os objetos investigados por essa área da Psicologia. E podemos dizer que é basicamente o que o cinema e a TV indiretamente fazem. Cria uma interação, uma mediação entre o que é transmitido e quem recebe. Por outro lado o sinal irradiado passa a ilusão de que todos sabem a mesma coisa, unificando o saber e a informação. São informados da mesma forma. Acreditamos que a psicologia social vai de encontro com a linguagem audiovisual e principalmente o cinema. Você já viu o filme X? Você já assistiu o filme Y? Quem já não ouviu esta pergunta de amigos ou conhecidos? Pois eles acham que você tem o que aprender, ou se divertir com aquele filme como ele. Sabemos que cada indivíduo percebe o mundo de forma diferente, dependendo de sua interação com o mesmo. E o cinema e os meios de comunicação de massa estão, de fato, contribuindo para uma socialização, uma interação com o mundo cada vez mais globalizado e na formação de novos esquemas mentais. Foucault (1981), por exemplo, considera o homem enquanto resultado de uma produção de sentido, de uma prática discursiva e de intervenções de poder. A individualização social é equivalente a des-socialização do individuo, ao mesmo tempo, que as NTIC´s contribuem para uma socialização, ela contribui para um isolamento, onde o virtual perpassa o “ser” real. Psicologia social americana e os Filmes de Hollywood Na Europa a “construção” da psicologia social é diferente da versão americana. Tentaremos abordar esta questão tendo como base os trabalhos desenvolvidos pelo psicólogo inglês Robert Farr. No livro “ As raízes da psicologia Social Moderna”. Farr demarcar os efeitos de uma psicologia social predominantemente americana, diferenciando-a de uma psicologia social eminentemente européia, que teria representado um movimento de resistência contra o positivismo da psicologia social norte-americana. Para o autor a psicologia social moderna é um fenômeno predominantemente americano. Com este objetivo em vista, ele procura demonstrar que este predomínio da psicologia social norte-americana tem origem inicialmente na II Guerra Mundial. Para o autor a psicologia social tem seu desenvolvimento comprometido com os objetivos da sociedade norte-americana do pós-guerra, que precisava de conhecimentos e de instrumentos que possibilitassem a intervenção na realidade, 6

Psicólogo brasileiro, professor da California State University suas pesquisas versam basicamente sobre o comportamento social humano

7

de forma a obter resultados imediatos, com a intenção de recuperar uma nação, garantindo o aumento da produtividade econômica. Para Farr não é para menos que os temas mais desenvolvidos foram à comunicação persuasiva, a mudança de atitudes, a dinâmica grupal etc., voltados sempre para a procura de "fórmulas de ajustamento e adequação de comportamentos individuais ao contexto social". Ate em função da grande imigração sofrida pelo povo americano, sentiam uma necessidade de “ajustar” as pessoas a uma ordem comum. Assim, enquanto a sociologia estudava o grupo e a interação entre eles, o psicologia social estudaria o ser e sua psique com um viés mais cognitivo Segundo Farr(2004) foi através de Gordon Allport que a disciplina de psicologia social foi apresentada a uma geração de pós-graduandos o que o autor chama de era moderna na psicologia social. Assim, para o autor: “os psicólogos da Gestalt não se tinham defrontado com o behaviorismo ate que chegassem ao novo mundo. Foi desse conflito entre duas filosofias rivais, mas incompatíveis, isto é , a fenomenologia de um lado e positivismo de outro que a psicologia social emergiu na América, na forma especifica como se deu logo no inicio do período moderno.” (Farr 2004 p 26) Os psicólogos sociais na América eram teóricos cognitivistas, numa época que isso não era moda, isto é , no auge do behaviorismo. O autor explica que a ciência cognitiva surgiu da colaboração, durante a guerra, entre psicólogos , engenheiros de telecomunicação e cientistas da computação. O que faz a psicologia social americana diferente, ela é mais ligada à cognição do que ao social, ou seja o cognitivo influenciando a subjetividade e não tanto o meio. Está diferença foi construindo na sociedade o ideal de um ser humano onde a “criação” da subjetividade esta ligada a superação mental, a cognição, e não a sociedade, ou em função da mesma. O meio perde em importância para a mente que reina como o principal elo de superação da vida. Nasce assim, a grande diferença entre a psicologia social americana e a européia do pos guerra, pois o behaviorismo clássico, de Watson, não negava o processo mental, mas dava ênfase ao comportamento e ao estimulo do ambiente, diferentemente da psicologia cognitiva que tem como ênfase o processo mental. Para o autor, a psicologia social é, normalmente , transmitida de uma geração de estudantes a seguinte através de um programa de doutoramento. Os manuais desempenham um papel central na formação de pós-graduação da maioria dos psicólogos sociais. Para Ferr (2004 – 27p) “O Behaviorismo poderia estar trocando uma ciência, isto é a ciência da mente, por uma tecnologia. Após a segunda guerra mundial , eles trocaram uma tecnologia, isto é o behaviorismo, por outra, isto é, a ciência cognitiva.” Estes mesmo pós-graduandos que estudaram a psicologia social americana que não tem o viés da sociologia e sim da cognição contribuíram para disseminar na sociedade americana a visão da psicologia social e a importância da mente na construção do ser. Esta nova visão da vida chega à sociedade e aos futuros roteiristas e diretores de Hollywood através das escolas e universidades. Assim 8

este aluno, futuro roteirista e diretor, ira apresentar, representar, nos seus trabalhos o seu modo de ver a vida, um modo onde o importante não é o meio influenciando o ser, mas o ser se superando graças a seu cognitivo. Criando um super herói, uma pessoa / personagem, que apresenta uma cognição superior aos outros. E este elo começa a se disseminando na sociedade. Este modo de vida americano, ligado a cognição superior pode ter sido influenciado pela psicologia social, pois passa a mente a ser o mais importante e não o meio que é apenas uma conseqüência do que a mente cria. Para exemplificar se analisarmos filmes como Bem hur (1959), Spartacus (1960) Mad Max (1979), Touro indomável (1980), Conan, o Bárbaro (1982), Rambo, (1982), Karate Kid (1986), Duro de matar (1988), Os imperdoáveis (1992), Missão impossível(1996), , Matrix (1999), Minority Report (2002), dentre outros, tem em comum a apresentação de um personagem que supera as suas dificuldades, não em função do meio, mas por ele possuir uma cognição superior aos outros, um poder especial, uma força única, e por isso poder liderar, liberar realizar o que os outros não conseguem. Ele modifica o meio, por ter um intelecto, uma cognição superior.

Conclusão Apenas desejamos com este trabalho levantar um debate no meio acadêmico, sobre a inclusão da psicologia social e da sociologia não apenas para entender a sociedade e o ser humano, mas como estas áreas do conhecimento influenciam diretamente as pessoas que produzem, criam e usam as NTIC´s. E como roteiristas, editores, repórteres de certa forma estão usando estas áreas do conhecimento sem saber. Talvez com uma nova visão destas áreas no meio de comunicação, ou apenas sua ampliação poderemos estar produzindo profissionais melhores e mais capacitados. A psicologia social americana que difere da européia contribui na criação de filmes diferenciados onde o personagem principal é em geral diferente dos outros, é um ser superior. E isto é levado à população como uma “socialização primaria inconsciente”. Será que alguns problemas americanos como jovens que vão a escolas e matam amigos e professores não é uma resposta a esse modelo de ver o mundo e as cobranças que ele cria na sociedade? De que ele tem que ser superior. Tem que ter uma cognição melhor que outros e o fato de não ter o faz “infeliz?” São apenas suposições, apenas mas uma luz na complexa formação do ser, mas não podemos deixar de pensar que o cinema americano contribui de alguma forma para mudanças sociais e ideológicas que vivemos. Já os filmes europeus tem um viés mais social, por isso, ate a narrativa é mais lenta, para mostrar uma briga que não existe é necessário cortar a imagem para criar a ilusão de continuidade, já no filme europeu onde apresenta o

9

personagem e suas reflexões, não há necessidade de cortar 7 tanto a imagem. Defendemos a hipótese de que por ter uma psicologia social voltada a sociologia, os filmes europeus estão mais voltados ao âmbito social, como o social contribui para mudanças do personagem. Pois foi assim que os roteiristas e diretores europeus aprenderam, o meio influenciando o homem. Diretores como Bergman, Antonioni, Bertolucci, Truffaut e Fellini dentre outros, são exemplos desta afirmação. Acredito que a narrativa dos filmes europeus são mais lentos do que o americano também em função disto, por usar um viés social em vês de cognitivo. Pois a narrativa lenta e poucos cortes da ênfase a contemplação, a entender o roteiro. Já o corte rápido ira dar ênfase à ação, deixando de lado o conteúdo, roteiro. Queremos levantar um pensamento que a psicologia social nos cursos de pós-graduação contribuiu para levar a sociedade americana um novo modo de ver e pensar. Será que no Brasil os cursos de pós-graduação estão cumprindo seu papel social? Na área técnica vemos as mudanças sociais principalmente na agroindústria, mas e na área social? Quantos doutores em educação nos temos e por que a educação no Brasil tem índices tão ruins? Será apenas em função das políticas publicas? Ou os doutores e doutorandos no Brasil, muitas vezes formados com dinheiro publico não estão cumprindo o seu papel social? São apenas divagações que espero sejam analisadas e repensadas por outros pesquisadores. Bibliografia BERGER, Peter L; LUCKMANN, Thomas. A Construção Social da Realidade . Ed vozes, Rio de Janeiro 2005 BOSI, E. O tempo vivo da memória. 1ª edição, São Paulo, Ateliê, 2003. CANEVACCI, Massimo. Antropologia do Cinema. 1990. Ed. Brasiliense, São Paulo, SP. CAPUZZO, Heitor. O Cinema Além da Imaginação. 1990. Ed. Fundação Ceciliano Abel de Almeida, UFES. CHENG, Patrícia, Holyoak, Keith J.."Pragmatic reasoning schemas." CORDEIRO, Ana Andrade; BORGES Maria Bompastor. A teoria da lógica mental e as teorias competitivas.Revista interamericana de psicologia. N. 003. Porto alegre 2006 EISENCK, M.W. e KEANE, M.T. Psicologia cognitiva: um manual introdutório. Artes Médicas. Porto Alegre, RS: 1994 FARR,

R.

Raízes

da

Psicologia

Social

Moderna.

Petrópolis:

Vozes,

1998.

FERRES, Joan. Vídeo e educação. Ed Artes. Medicas sul. 20000 FOUCAULT, Michel. Arqueologia do Saber, RJ: Forense, 1987.

7

corte é a passagem de um plano para outro, visão de outro ponto de vista da ação cinematográfica.

10

GARDNER, Howard. A nova ciência da mente. São Paulo: Editora ÛSP, 1996. GIDDENS, Anthony. Modernidade e identidade. Jorge Zahar Editor, RJ, 2002 MOREIRA, Marco Antonio. MODELOS MENTAIS. Trabalho apresentado no Encontro sobre Teoria e Pesquisa em Ensino de Ciências - Linguagem, Cultura e Cognição, Faculdade de Educação da UFMG, Belo Horizonte, 1997. PIAGET, J. A Formação do Símbolo na Criança. Rio de Janeiro, Zahar, 1978. · PEPITONE, A. (1981). Lessons from the history of social psychology. American Psychologist, SILVA, A. & Pinto, J. Uma visão global sobre as ciências sociais. Metodologia das Ciências Sociais . Porto: Edições Afrontamento. 1986 SILVA, J. P. Se a TV é o espelho da sociedade, a escola seria o que? A sombra da sociedade? Ou o anti-reflexo da TV? www.erdfilmes.com retirado do site no dia 10 de Junho de 2008 VASCONCELOS, Isabella Freitas Gouveia de. A (Des)Construção Social da Identidade: Mudanças no Trabalho e suas Implicações para a Identidade do “Trabalhador Reflexivo”. EAESPFGV e UNINOVE – retirado do site http://www.fgvsp.br/iberoamerican/Papers/0347_Desconstrucao%20da%20Identidade%20%20IBERO2003.pdf dia 10 Junho 2008

11

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.