O interdito, a transgressão religiosa e a desobediencia do corpo feminino na arte contemporânea e latinoamericana

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O interdito, a transgressão religiosa e a desobediência do corpo feminino na arte contemporânea e latino-americana1 Aline Miklos EHESS/USP [email protected]

Resumo:

Este artigo pretende refletir sobre como alguns artistas

contemporâneos e latino-americanos discutem certos temas tabus ligados ao corpo feminino, como a questão do erotismo, de forma a romper com antigas tradições e construir novos paradigmas. Através da tensão entre exaltação e rejeição; glorificação e proibição existentes na concepção ocidental do corpo, estes artistas procuram mostrar como uma suposta herança cristã está presente na construção das subjetividades femininas contemporâneas e latino-americanas. Palavras-chaves:

erotismo, interdito, feminismo, corpo, transgressão

religiosa, arte latino-americana. Résumé: Cet article essaie de réfléchir sur la façon dont certains artistes contemporains et latino-américain discutent, dans leurs œuvres, sur certains sujets tabous liés au corps féminin, comme l'érotisme, afin de rompre avec les anciennes traditions et de construire de nouveaux paradigmes. À travers la tension entre l'exaltation X rejet et glorification X répression existantes dans les conceptions occidentales du corps, ces artistes cherchent à montrer comment l’héritage chrétienne est censé être présente dans la construction des subjectivités féminines contemporaines dans les sociétés latinoaméricaines. Mots-clés: érotisme, interdit, feminisme, corps, transgression religieuse art latino-américain 1

Primeiros resultados da pesquisa realizada pela autora sobre corpo feminino e cristianismo nas artes. Artigo publicado na Revue Artelogie, junho de 2014. Para citar o artigo: MIKLOS, Aline. « O interdito, a transgressão religiosa e a desobediência do corpo feminino na arte contemporânea e latino-americana», in Actualisation du Numéro 5 Artelogie, n° 6, Juin 2014. URL: http://cral.in2p3.fr/artelogie/spip.php?article324



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Apesar

da

maioria

dos

países

latino-americanos

serem

constitucionalmente laicos, isto não significa que existe hoje uma ausência da religião no mundo social. Pelo contrário. Dentre as milhares formas de religiosidade existentes na América latina, o cristianismo teve, desde a colonização, um espaço privilegiado na política destes países e até hoje podemos observar que uma grande parte dos valores cristãos ainda estão presentes em diversos âmbitos destas sociedades como, por exemplo, nos debates públicos sobre o aborto e o uso de contraceptivos, assim como no trato cotidiano entre homens e mulheres, como explicaremos ao longo do trabalho. Por este motivo, se dizer laico em sociedades como estas, onde a igreja católica e as evangélicas possuem uma forte presença política e social, não significa estar imune a esta realidade. Foi justamente ao detectar a presença do cristianismo nestas sociedades e sua influência na vida cotidiana que alguns artistas contemporâneos e latino-americanos procuraram abordar, em suas obras, alguns temas tabus existentes nestas religiões, como a questão do corpo, de forma a questionar antigas tradições e construir novos paradigmas. Por este motivo, neste artigo analisaremos como estes artistas discutem estes temas tabus e realizaremos uma reflexão sobre como eles associam o patriarcalismo ocidental e o controle do corpo feminino presentes nestas sociedades à questões de cunho religioso-cristão. O tema do corpo no cristianismo nos remete, sem dúvidas, à questões que tomaram força na Idade Média e que existiram ao longo da história. Por este motivo, algumas obras que analisaremos fazem referência não só à questões de ordem histórica, mas à obras de arte anteriores ao século XX. Como mesmo afirma Jacques Le Goff: “muito da nossa mentalidade e de nosso comportamento foram concebidos na Idade Média, como as nossas atitudes em relação ao corpo, apesar de ter ocorrido duas fortes mudanças: no século XIX com a ressurgência do esporte e no século XX no domínio da sexualidade. Foi na Idade Média que surgiu este elemento fundamental da nossa identidade coletiva que é o cristianismo, atormentado pela questão do corpo que ora é glorificado e ora é reprimido, ora é exaltado e ora é rejeitado.” (LE GOFF, 2003: 34).



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Obviamente, Jacques Le Goff estava pensando na Europa ocidental ao fazer tal afirmação. No entanto, o cristianismo que chega a América Latina traz estas questões e se mescla com outras tradições e com outras formas de se pensar o corpo. Por este motivo, as obras que analisaremos em seguida nos leva a indagar se estas questões ainda estão presentes nas sociedades latino-americanas, apesar de suas constantes transformações. Para este debate, escolhemos obras de quatro artistas e dois coletivos de artistas distintos, sendo que a maioria é argentina: León Ferrari ( Buenos Aires,1920-2013), Lea Lublin (Buenos Aires, 1929-1999), Liliana Maresca (Avellaneda, 1951-1994) e o coletivo de artistas feministas Mujeres Públicas (Buenos Aires, 2003 - ). Também analisaremos algumas obras de Márcia X (Rio de Janeiro, 1959 - 2005), brasileira, e o coletivo de artistas feministas Mujeres Creando (La Paz, 1992 - ), boliviano. A seleção se deu de acordo com o tema principal do texto: uma reflexão sobre o corpo feminino e o cristianismo feita por artistas contemporâneos e latino-americanos, sem pretender fazer um levantamento exaustivo de todas as obras que abordaram este tema na arte contemporânea desta região. No mais, León Ferrari é o único artista homem que está inserido nestes estudo. Esta inserção é fundamental uma vez que este artista é um dos principais a discutir o tema do corpo e do cristianismo na América Latina. Em todas estas obras os artistas questionam alguma prática ou algum dogma cristãos e, tendo em vista que as religiões cristãs compartilham uma grande parte de suas crenças, a maioria destas obras pode estar direcionada a qualquer forma de religiosidade considerada como cristã, da mesma forma que fiéis de qualquer igreja cristã podem se sentir ofendidos com elas. Por isto, neste texto preferimos usar, em algumas partes, a palavra cristianismo ao invés de catolicismo quando esta religião não é especificada. No entanto, tendo em vista que a população latino-americana é majoritariamente católica, na maioria das vezes preferimos dialogar com esta religião. Um outro motivo que nos leva a preferir o diálogo com esta vertente do cristianismo é o fato de que em algumas das obras que analisaremos a



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ofensa está claramente voltada à igreja católica, como nas obras Oración por el derecho al aborto (2004)

de Mujeres públicas e a performance

Desenhando com terços (2000-2003) de Márcia X. No mais, o artista León Ferrari também deixa claro, ao longo de todo seu trabalho, a sua preferência pela blasfêmia2 contra a igreja católica. O sagrado, o erotismo, o interdito e a transgressão O sexo, o corpo e o erotismo sempre foram temas de controle religioso-cristão e também foram, na maioria das interpretações sobre o assunto, relegados ao mundo dos pecados e das tentações. Em um trecho da bíblia, São Paulo faz a seguinte afirmação:

“Digo, porém: Andai em

Espírito, e não cumprireis a concupiscência da carne. Porque a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes opõem-se um ao outro, para que não façais o que quereis.” (Gálatas 5, 16-17). Ainda neste mesmo trecho, São Paulo define quais são as “obras da carne” e quais são as do Espírito 3 , sendo o adultério, a fornicação e a lascívia, ou seja, práticas sexuais que não estão relacionadas ao casamento e à procriação, obras da carne. Aqui, o corpo é visto como o lugar das tentações e dos pecados, sendo que esta visão conservadora e negativa do corpo foi, na maioria das vezes, a predominante durante a Idade Média, segundo Jacques Le Goff. Ainda sobre este assunto, este autor analisa como o pecado original foi se transformado em pecado sexual segundo alguns teólogos católicos e afirma que, apesar do controle corporal e sexual já existir antes mesmo do cristianismo, foi ele que o intensificou com o intermédio de seus ideólogos e 2

Sobre a blasfêmia nas artes a partir do século XX, ver: MIKLOS, Aline. Blasfêmia e arte contemporânea: uma questão de método. 3 18 19 “ Mas, se sois guiado pelo Espírito, não estais debaixo da lei. Porque as obras da carne 20 são manifestas, as quais são: adultério, fornicação, impureza, lascívia, Idolatria, feitiçaria, 21 inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias, Invejas, homicídios, bebedices, glutonarias, e coisas semelhantes a estas, acerca das quais vos declaro, como já 22 antes vos disse, que os que cometem tais coisas não herdarão o reino de Deus. Mas o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, 23 temperança. Contra estas coisas não há lei. (Gálatas 5, 18-23).



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dos seus praticantes. Estes últimos, inclusive, que difundiram na sociedade o culto à virgindade e à castidade (LE GOFF, 2009: 56). Obviamente, este controle social do corpo (e da sexualidade) não foi sempre exercido com a mesma intensidade e da mesma maneira. Michel Foucault afirma que houve um grande ciclo repressivo em relação à sexualidade que durou entre os séculos XVII e XX, sendo que ele começa e se termina com duas rupturas importantes: a primeira seria a contrarreforma realizada pela igreja católica no século XVII e com ela “o nascimento das grandes proibições, a valorização somente da sexualidade adulta e matrimonial, imperativos de decência, esquiva obrigatória do corpo, silêncio e pudor imperativos no ato da fala” (FOUCAULT, 2011: 152); a segunda seria no século XX, onde “os mecanismos da repressão teriam começado a se afrouxar; teríamos passado dos interditos sexuais prementes a uma tolerância relativa quanto às relações pré-nupciais ou extramatrimoniais (...).” (FOUCAULT, 2011: 152). Dentro deste “grande ciclo repressivo”, M. Foucault também afirma que na virada do século XVIII para o XIX o controle do sexo, sem deixar de ser um problema para a instituição eclesiástica, também passou a ser uma questão de Estado através da pedagogia (se ocupando da sexualidade infantil), da medicina (preocupada com a fisiologia própria às mulheres) e da demografia ( cujo objetivo era fazer um controle de natalidade). A partir de então, apesar deste controle ter tomado uma roupagem laica, ele retoma na realidade métodos já formados pelo cristianismo e estes não são verdadeiramente independentes da temática do pecado (FOUCAULT, 2011: 164) . No século XX, com o advento desta nova ruptura em relação à repressão do corpo e da sexualidade sinaladas por M. Foucault, observamos o aparecimento de algumas mudanças paulatinas nas sociedades ocidentais que estão relacionadas, por exemplo, à aprovação da lei do divórcio, do casamento entre homossexuais e da liberação do aborto. No entanto, isto não

significa

que

nos

países

onde

estas

leis

foram

aprovadas

desapareceram os tabus sociais que existem em torno destes temas, sendo



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que estes são na maioria das vezes de cunho ético-religioso. É justamente por este motivo que analisaremos a seguir como alguns artistas acreditam que certos valores ocidentais, por mais que hoje não estejam explicitamente ligados aos valores cristãos, são, na realidade, herança deles e aparecem na atualidade com novas formas e outras roupagens.

Fig. 1 León Ferrari, A árvore inseminadora, 1964. Col. Ignacio Liprandi. Fonte: GIUNTA, Andrea (org.). León Ferrari, p.33.

A primeira obra que iremos analisar é “A árvore inseminadora” (1964), onde Léon Ferrari recria a história do dilúvio da seguinte forma: Noé estava muito feliz por ter a oportunidade de destruir toda humanidade. No entanto, durante a inundação, as mulheres pecadoras, as revolucionárias, as ateias, aquelas que sabiam bem governar os seus corpos conseguiram inflar os seus “quatro globos redondos” para poder flutuar. Ao observar a catástrofe, o



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bondoso Satã decidiu juntar “as melhores partes dos homens mortos” para construir uma grande árvore inseminadora. Assim, as mulheres que sobrevivessem poderiam ir até esta árvore e escolher os seus frutos preferidos. O artista termina este manuscrito concluindo, de maneira provocativa, que desta maneira: “Deus não pôde fazer nada contra a vida”. Nesta obra, ironicamente León Ferrari separa o que é de Deus e o que é de Satã, mas os valores de cada um não são exatamente aqueles do cristianismo. Deus seria aquele que está contra a vida que, para o artista, esta está relacionada ao sexo, às mulheres ateias, revolucionárias e às que sabem governar os seus corpos. Satã seria, por sua vez, o grande responsável pela continuidade da vida, pois ele que deu uma oportunidade a estas mulheres para continuarem procriando. Assim, León Ferrari não nega algumas categorias cristãs de análise qualitativa de uma sociedade – como o pecado, a virgindade, o bem, o mal etc - , mas ele determina outra escala de valores para estas categorias e defende um mundo governado por aqueles que a igreja católica sempre menosprezou. Assim, Satã e as mulheres ateias são os bons, enquanto Noé e Deus são os maus. Esta dicotomia e a inversão dos valores católicos são evocados em outras obras de León Ferrari. Por exemplo, na sua série Ideias para Infernos (2000 – 2008?) ele faz com que os santos católicos sejam torturados com objetos do cotidiano – como uma frigideira, um liquidificador, um ralador4 etc – por terem participado de diversas atrocidades cometidas contra os seres humanos ao longo da história. Sobre este assunto, ironicamente o artista afirma: “modestamente, eu creio ter tido um grande êxito com ela porque finalmente estou conseguindo fazer com que muitos católicos passassem a não gostar do inferno. Por agora, eles não gostam do inferno quando lá está o Papa, Cristo ou alguns santos. Mas eu espero que a coisa evolua e que mais tarde eles não gostem do inferno quando pessoas como nós estiverem por lá” (FERRARI, 2004). Esta inversão de valores é um dos artifícios que o artista utiliza para fazer uma obstinada crítica contra o cristianismo e a igreja católica, sendo 4



Algumas destas obras podem ser consultadas no site www.leonferrari.com.ar.

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que um dos principais temas com o qual ele trabalha é o erotismo. Em sua série Releituras da Bíblia, Ferrari realiza colagens onde mistura gravuras eróticas chinesas com personagens da Bíblia. Em algumas dessas obras, essas figuras santas ora parecem estar “abençoando” o ato sexual, ora parecem estar “curiosas” com o que estão vendo, ora recriminam o que estão presenciando e ora são indiferentes ao ato sexual. Já em outras colagens, os detalhes eróticos aparecem em lugares poucos comuns: um casal de indianos praticando o ato sexual dentro de uma Igreja; um seio de uma mulher na fachada de outra Igreja, outro seio de mulher exposto em um mural dentro de uma igreja e assim em diante5. Em outras séries do artista, como Brailes e Bíblia Gofrada, Ferrari também trabalha com tal erotismo que aparece, para ele, de maneira implícita nos textos religiosos. Nestas obras (Figuras 2,3 e 4), ele escreve em braile sobre reproduções de gravuras chinesas ou de artistas ocidentais (como mostra a Figura 4). Aliás, o fato do artista ter escrito em braile os interditos religiosos que estão em segundo plano nestas imagens seria também uma forma que o artista encontrou de convidar o espectador a participar da cena, a tocá-la, sendo que este toque significaria a transgressão, de um ponto de vista religioso, uma vez que as imagens tocadas são eróticas.

Fig. 2 León Ferrari, Amate, 1997. Em braile: “Amarás a teu próximo como a ti mesmo” (Mr 12, 31), palavras de Jesus escritas em Braile sobre “Jogos de mãos”, estampa de Utamaro que mostra a

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Uma parte destas obras pode ser vista no site do próprio artista: www.leonferrari.com.ar. Última consulta: 10/05/2014.



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técnica de masturbação mokodaijuji. Col. Alicia e León Ferrari. Fonte: GIUNTA, Andrea (org.). León Ferrari, p. 269.

Fig. 3 León Ferrari, S/ Título, 1997. Em braile: “Fujam da imoralidade sexual. Todos os outros pecados que alguém comete, fora do corpo os comete; mas quem peca sexualmente, peca contra o seu próprio corpo. Acaso não sabem que o corpo de vocês é santuário do Espírito Santo que habita em vocês, que lhes foi dado por Deus, e que vocês não são de vocês mesmos?”(Coríntios 6, 18-19). Fundação Augusto e León Ferrari. Foto de Aline Miklos.

Fig. 4. León Ferrari, sem título, 1997. Em braile: “Não cobiçarás a mulher de teu próximo”(Dt 5,7). Fundação Augusto e León Ferrari. Foto de Aline Miklos.

Todas estas obras questionam o conceito do sagrado6 no pensamento cristão (neste caso, a palavra divina), do interdito (aqui, o sexo) e da 6

Neste texto, utilizaremos a definição de Georges Bataille sobre o sagrado onde afirma, grosso modo, que é sagrado tudo que é objeto de um interdito (BATAILLE, 1987: 45). Aqui, este conceito, assim como o conceito de profano, será usado de uma maneira flexível tendo em vista que, segundo o antropólogo Wunenburger, o sagrado pode ser definido em três diferentes níveis: o da experiência psíquica individual; o das estruturas simbólicas comuns à todas as formas de representação sagrada; e, enfim, o das funções culturais do sagrado nas sociedades.” (WUNENBURGER, 2010: 9). Por este motivo, ao invés de dar uma definição rígida sobre estes conceitos na introdução do artigo, preferimos discutir, quando necessário,



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transgressão. A figura 2 está relacionada ao controle do corpo feminino e especificamente ao autoerotismo. Aqui, o artista escreve em braile o preceito bíblico “Amarás a teu próximo como a ti mesmo” (Mt 22,39) sobre a imagem de uma estampa chinesa onde é ensinado à mulher uma prática de masturbação. Por um lado, ao unir estes dois elementos Ferrari modifica a lógica cristã de amor quando inclui nela a ideia de amor ao próprio corpo. O ato de se amar, para o artista, estaria diretamente relacionado ao conhecimento de seu próprio corpo e dos prazeres que uma pessoa pode proporcionar a si mesmo. Por outro lado, ao modificar esta lógica ele também transgride o preceito católico onde a masturbação é considerada como um pecado grave. No Catecismo da Igreja Católica (Compêndio)7 lançado em 2005 pelo Vaticano, na parte que diz respeito ao o sexto mandamento, não cometer adultério, o documento afirma: “São pecados gravemente contrários à castidade, cada um segundo a natureza do objeto: o adultério, a masturbação, a fornicação, a pornografia, a prostituição, o estupro, os atos homossexuais. Estes pecados são expressão do vício, da luxúria. Cometidos contra os menores, são atentados ainda mais graves contra a sua integridade física 8 e moral” .

Quanto à figura 3, ela revela em si a própria transgressão. Aqui, um casal de chineses está em pleno ato sexual, enquanto a citação da Bíblia, que está em braile sobre a imagem, diz que isto é pecado. Na figura 4, por sua vez, a tensão que ela causa está no fato de que ao mesmo tempo que se evoca um interdito, “não cobiçarás a mulher do teu próximo”, esta mulher se mostra de maneira bastante provocativa. Nestas imagens acima, o sagrado (neste caso, a palavra de Deus) e o interdito (é proibido masturbar, fornicar e cobiçar a mulher do próximo), representados pelas frases em braile, geram uma suposta vontade de cometer a transgressão, sendo que esta, por sua vez, está presente nestas sobre estas fronteiras ao longo do texto e de acordo com o universo de significados contido em cada obra em questão. 7 O Compêndio do Catecismo da igreja católica foi lançado em 2005 pelo Vaticano. Ele contém, de forma resumida, as principais doutrinas do Catecismo da Igreja Católica. 8 Este document pode ser consultado no site do Vaticano: http://www.vatican.va/archive/compendium_ccc/documents/archive_2005_compendiumccc_po.html#%ABAMAR%C1S%20O%20TEU%20PR%D3XIMO%20COMO%20A%20TI%2 0MESMO%BB . Última consulta: 10/05/2014.



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obras através da imagem. Assim, a relação entre frase e imagem funcionaria como se a religião compusesse “um movimento de dança onde o recuo prepara o salto” (BATAILLE,1987 : 43). Ou seja, a repressão aceita pelos devotos seria a propulsora da transgressão. Estas obras também nos remetem à ideia de Georges Bataille sobre o sagrado: “[...] o sagrado designa ao mesmo tempo duas coisas opostas. De maneira fundamental, é sagrado o que é objeto de um interdito. O interdito que designa negativamente a coisa sagrada não tem só o poder de nos dar – no plano da religião – um sentimento de medo e terror. Em última instância, esse sentimento transforma-se em devoção; [...] O interdito e a transgressão respondem a dois movimentos contraditórios: o interdito intimida, mas a fascinação introduz a transgressão.” (BATAILLE, 1987: 45).

Ao fazer uma análise destas obras relacionando-as com o trecho de Georges Bataille citado acima, poderíamos afirmar que, segundo León Ferrari, as proibições ditadas pela igreja católica sobre o sexo geram um sentimento de medo e terror em relação a este ato. No entanto, este sentimento também gera fascinação sobre o assunto e a vontade de transgredir o interdito. Por exemplo, a figura 2 revela justamente a intensificação do desejo de autoconhecimento do corpo uma vez que esta prática ainda é considerada como tabu pelo cristianismo e por muito tempo também o foi, segundo Michel Foucault, pela medicina (FOUCAULT, 1979: 147)9. Seriam estas imagens a própria realização do ato proibido ou seriam apenas imagens de um desejo reprimido? Poderíamos afirmar que as duas hipóteses são válidas. No primeiro caso, as mensagens bíblicas – dispostas em um segundo plano nas imagens e escritas quase de uma maneira invisível uma vez que são poucos os espectadores que sabem ler em braile – podem ser interpretadas como o sentimento de culpa que acompanha os devotos ao realizarem o ato sexual, apesar deste ato ser geralmente aceito 9

A lógica seria similar a que este autor descreve quando fala sobre a sexualidade juvenil: “mas a sexualidade, tornando−se assim um objeto de preocupação e de análise, como alvo de vigilância e de controle, produzia ao mesmo tempo a intensificação dos desejos de cada um por seu próprio corpo...” (FOUCAULT, 1979: 147).



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hoje em dia nas sociedades ocidentais. No segundo caso, as imagens podem ser vistas como fruto da angústia expectante, ou seja, a angústia causada por um sentimento inconsciente de culpa que provoca no sujeito um sofrimento antecipado na expectativa de acontecer um infortúnio. Esta angústia estaria vinculada, segundo Sigmund Freud, ao conceito de punição quando se percebe a presença interna de uma tentação (FREUD, 2002 : 10). Uma outra artista que procura revelar o que há de erótico no mundo religioso é Lea Lublin10. Em junho de 1983 ela expõe suas obras na galeria Yvon Lambert (Paris) , em uma mostra denominada “Strip-tease de l’enfantDieu” (Strip-tease do menino Jesus). Aqui, ela se apropria de trechos de obras renascentistas do século XIV e XV, onde faz intervenções com o objetivo de revelar o que há de erótico nestas imagens. Para esta exposição, ela publica o texto “Le zizi des peintres” (O “pipiu” dos pintores) onde afirma que as representações do menino Jesus em diversas pinturas renascentistas são, na realidade, a representação de algo extremamente pessoal e profundo do pintor: estes corpos não possuem o formato de um corpo infantil, mas o corpo reduzido de um adulto que, no caso, seria o pintor. Assim, segundo a artista, este corpo reduzido seria uma versão renascentista da representação de Eros-Cupido da antiguidade: “o pequeno corpo das representações bizantinas se “strip-tease” e retira as túnicas que o cobre. O Eros-Cupido perde suas asas, sua durabilidade escultural, sua autonomia decorativa e dá lugar a uma cor ocre-dourada, sem sombra, iluminada pelas pulsões realizadas, prazerosas” (LUBLIN, 1983: s/p).

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Filha de imigrantes poloneses, Lea Lublin nasceu em Buenos Aires em 1929 e frequentou a Academia Nacional de Belas-Artes desta cidade, obtendo o seu diploma de professora em 1949. No início dos anos 1950 ela se muda para Paris e em 1977 se torna professor de artes plásticas da Universidade de Paris I. Foi bolsista das fundações FNA (1959) e Guggenheim (1984-85) e recebeu vário prêmio pelo seu trabalho artístico. Ver: http://www.fundacionkonex.com.ar/b897-lea_lublin . Última consulta: 10/05/2014.



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Fig. 5 Lea Lublin, Peinture de chevalet, le désir de Perugino, 1980. Embaixo está escrito: A mãe é uma miragem do pintor?”. Fonte: LUBLIN, Lea e PERRIER, Daniel. Lea Lublin, “présent suspendu”, p. 4.

Fig. 6 Lea Lublin, Le désir de Dürer, 1983. Fonte: LUBLIN, Lea e PERRIER, Daniel. Lea Lublin, “présent suspendu”, p. 22.

Em oposição ao corpo nu do menino Jesus, segundo Lea Lublin, observamos ainda nestas pinturas renascentistas o corpo coberto da figura materna,

sendo

que

este

jogo

entre

nu/vestido,

pequeno/grande,

descoberto/coberto que gera o lado erótico da representação que, por sua vez, está diretamente relacionado ao interdito e à transgressão. Assim, a artista se coloca a seguinte questão: “Nos limites do tema de um quadro, a figura que supostamente representa a mãe do menino Jesus ( ou a mãe do menino pintor ?) com o



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seu olhar oblíquo, ausente ou vazio, ocupa ela o lugar do corpo interdito, 11 do prazer não-representável, pré-verbal?” (LUBLIN, 1983: s/p ) .

Nestas obras citadas por Lea Lublin, observamos que a representação da Virgem combina o amor materno com uma sexualidade juvenil e, como afirma D. Freedberg, “Todos conheciam estas facetas da Virgem e, por consequência, ela se transformou no foco de um grande atrativo sexual. O desejo

sexual

dirigido

a

mulheres

deste

mundo

se

transferiu

convenientemente para ela.” (FREEDBERG, 2011: 361). Por causa deste temor de que a Virgem pudesse gerar alguma atração sexual entre os fiéis, a sua representação foi alvo de intensos debates desde a Idade Média. A ideia era criar uma Virgem despojada de seus desejos e que não tivesse nenhum atrativo sexual de uma mulher, ou seja, criar uma Virgem que tivesse a imagem de uma mulher “dessexualizada”12 .

No entanto, como podemos

observar, esta Virgem “dessexualizada” significou ironicamente o contrário, pelo menos para alguns artistas.

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Neste caso, o pré-verbal está relacionado às lembranças psicossexuais do pintor em sua primeira infância. Para a artista, é analisando os detalhes de um quadro que estas lembranças são reveladas. 12 Por este motivo, algumas representações da Virgem foram censuradas em distintos momentos da história. Nas pinturas A Virgem com o menino Jesus (1452-1455), de Jean Fouquet; Madona de Palafrenieri (1605-1606) de Michelangelo Caravaggio; e A Virgem corrigindo o menino Jesus diante de três testemunhas: André Breton, Paul Eluard e o pintor (1926), de Max Ernst, são exemplos de obras que causaram polêmica pelo grau de erotismo contido na figura da Virgem, onde os seios que amamentam deixaram de ser maternos e passaram a ser os seios da mulher sensual. Desta forma, a Virgem perde esta sexualidade juvenil e revela a sua sensualidade adulta, deixando o universo sagrado para se inserir no mundo profano. Justamente essa dessacralização da Virgem, que deixa de ser pura e inofensiva, que faz com que essas imagens sejam vistas como agressivas por certos membros da igreja católica.



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Fig. 7 Márcia X, Desenhando com terços, 2000. Fonte: www.marciax.art.br

Uma outra artista que trabalha com a questão do erotismo no mundo católico e cristão é Márcia X. De 2000 a 2003 ela realiza a performance Desenhando com terços13 onde, de cabelos soltos, escovados e vestida com uma túnica branca (vestimenta que irá usar em outras performances), usa rosários para desenhar pênis no piso de uma sala. É interessante observar que o rosário é uma antiga forma de devoção católica à Virgem Maria, onde cada vez que se reza uma Ave Maria é entregue a ela uma rosa e, quando se completa todas as rezas que correspondem ao Rosário, lhe é entregue uma coroa de rosas. Em sua performance, a artista parece se colocar no papel de uma mulher que se utiliza do rosário para fazer uma devoção à Virgem Maria, mas ao invés de distribuir rosas, o que oferece são imagens fálicas que são desenhadas com o auxílio de rosários. Estas imagens fálicas estariam ligadas ao desejo inconsciente e reprimido da mulher em relação sexo? Seriam um presente à Virgem com o objetivo de libertá-la de sua castidade? A repetição dos movimentos nesta performance e a sua durabilidade (de três a seis horas) revelam igualmente um caráter obsessivo do ato. A performance então seria uma espécie de libertação do inconsciente da personagem? Tanto León Ferrari quanto Lea Lublin e Márcia X trabalham com a ideia do desejo reprimido pelo catolicismo que é exteriorizado de alguma 13

Uma parte desta performance pode ser vista no youtube. URL: http://www.youtube.com/watch?v=TFxO0zpOalI . Última consulta: 06/03/2014.



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forma. Para León Ferrari eles se exteriorizam através da própria realização do ato (se encaramos as imagens como atos realizados). Para Lea Lublin, eles são exteriorizados através da pintura. Segundo a dialética das imagens de Didi-Huberman, as imagens estariam: “entre um despertar às causas externas e uma remanescente obsessão dos sonhos, dos desejos inconscientes, das causas ‘internas’. Esta seria a dialética das imagens: o que descrevem se encontra, simetricamente, cruzado por um esquecimento. Aos olhos de Warburg, como aos de Freud ou aos de Benjamin, as imagens foram, antes de mais nada, tensões em marcha, situações impuras.” (HUBERMAN, 2005: 42).

Assim, estas pinturas renascentistas, segundo Lea Lublin, estariam inseridas nesta dialética das imagens e seriam resultado de uma obsessão dos sonhos e dos desejos inconscientes dos artistas. Por fim, para Márcia X o desejo reprimido aparece no caráter obsessivo da performance. O controle religioso do corpo e os cânones femininos

Fig. 8 Mujeres Públicas, Mujer colonizada, 2004. Fonte: www.mujerespublicas.com.ar



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O erotismo, como vimos acima, foi e ainda é um objeto de controle religioso, sendo que o corpo da mulher 14 sofreu, ao longo da história, inúmeras restrições por este motivo. Porém, o controle deste corpo não se faz somente através do controle do erotismo, mas também através de ações e de condutas que a mulher deve seguir uma vez que elas servem como prova de que ela pertence ao mundo cristão. “Não abortarás”, “te sacrificarás”, “serás casta e pura”, “obedecerás ao teu marido” são regras que permeiam o mundo cristão e que são asseguradas pela igreja através do sermão, da confissão e da ameaça constante do inferno15. Assim, este poder de controle religioso é onipresente e está simbolizado na figura de um Deus todo poderoso. No entanto, as subjetividades ligadas ao corpo feminino não estão somente ancoradas na religião e o “anticartaz”16 Mujer Colonizada (2004), realizado pelo coletivo Mujeres Públicas

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, aborda justamente esta

complexidade. Esta obra revela os três tipos de “mulheres colonizadas” que possuem o nome das três naus que acompanharam Cristóvão Colombo em sua chegada a América. Elas carregam em si um universo de valores cristãos que chegaram nas Américas através da colonização. Estes valores são construídos através de um jogo entre proibição (não abortarás, as meninas não fazem isto etc) e obrigação (Te sacrificarás, coloque silicone nos seios etc). “La niña” está na origem tanto da “Santa Maria” quanto da “Pinta” que são, na realidade, dois tipos de feminilidade construídos contra a própria vontade da mulher, segundo o coletivo. A coerção (neste caso, a soma entre proibição e obrigação) é o mais evidente nestas imagens e é ela que transforma o corpo feminino em corpo dócil e submisso em relação à religião (La Santa Maria) e ao capitalismo (La pinta) . 14

O corpo do homem também sofreu inúmeras restrições, mas o nosso foco neste artigo é o corpo feminino. 15 Para este assunto, ver: DELUMEAU, Jean. Le péché et la peur. Fayard, Paris, 1983. 16 O anticartaz é o oposto do cartaz. É realizado em branco e preto, é de leitura um pouco mais demorada que a do cartaz tradicional, é feito com material de baixo custo e os desenhos são simples, se aproximando um pouco da estética dadaísta. 17 Para saber mais sobre o grupo, indica-se a leitura do texto ROSA, Maria Laura. “Entre el malestar y el placer. Mujeres Públicas, ¿cuestiones privadas?”. Revista Labrys – estudos feministas. Brasília, Paris, Montréal, janeiro/junho , 2010.



17

La Santa Maria seria o protótipo da mulher religiosa cujo comportamento está baseado na renúncia (te sacrificarás, não gozarás), na obediência (darás a outra face) e na submissão (minha culpa...) . Para o cristianismo, quanto mais a mulher renuncia o controle de seu próprio corpo, mais próxima de Deus ela está. Por este motivo, a imagem construída da Virgem Maria é de uma mulher pura, casta, branca, mãe, submissa etc, para que ela sirva de exemplo a outras mulheres que queiram “seguir o caminho de Deus”. Ao contrário do poder exercido sobre La Santa Maria – que seria um poder tradicional, que diz não, impõe limites e castiga – o poder exercido sobre

La Pinta é aquele que, como diria M. Foucault,

permeia, produz

coisas, que está mas não é visível e só pode ser observado a partir dos detalhes. Na imagem produzida pelo coletivo Mujeres Públicas, a ideia é de revelar estes detalhes que faz com que a mulher contemporânea ainda seja colonizada. La Pinta é o protótipo da mulher moderna: útil, dócil e pronta para o consumo. Este protótipo está inserido em uma lógica de aumento das capacidades e intensificação da sujeição do corpo do indivíduo18 , pois a partir do momento em que a mulher conhece outras realidades além do âmbito privado da casa e da família, sem isto significar um abandono deles, as suas aptidões e capacidades aumentam. Elas, a partir de então, não só cuidam da casa, dos filhos e do marido, como também trabalham, consomem e se tornam objeto de consumo. Então, o aumento de suas capacidades faz com que a mulher se torne cada vez mais útil para a sociedade de consumo, pois além de “oferecerem” ao mercado uma mão-de-obra mais barata porém tão eficiente quanto a do homem, ela ainda é o alvo principal da grande maioria de marcas de produtos que as veem como consumidoras em potencial. No mais, elas também se tornam objeto de consumo uma vez que 18

Aqui, poderíamos então fazer um paralelo com a ideia de disciplina de M. Foucault quando se refere a estruturas fechadas como as escolas ou o exército: “A disciplina aumenta as forças do corpo (em termos econômicos de utilidade) e diminui essas mesmas forças (em termos políticos de obediência). Em uma palavra: ela dissocia o poder do corpo; faz dele por um lado uma “aptidão”, uma “capacidade” que ela procura aumentar; e inverte por outro lado a energia, a potência que poderia resultar disso, e faz dela uma relação de sujeição estrita”(FOUCAULT, 1987: 165).



18

estas propagandas se utilizam continuamente da imagem da mulher para venderem os seus produtos. La Santa Maria e La Pinta representam dois protótipos de mulheres que são, na realidade, duas faces de uma mesma moeda uma vez que as duas são oprimidas, mas de maneiras distintas. Como mesmo afirma Agnés Varda em seu documentário “O que é ser uma mulher” (1975), ter um corpo de mulher significa viver em uma enorme contradição: se de um lado é dito “seja pudica, não mostre o seu traseiro”; do outro é dito “mostre suas pernas, os consumidores adoram”. É justamente esta dicotomia do corpo, que ora é glorificado e ora reprimido, ora exaltado e ora rejeitado, que levou várias artistas latino-americanas a discutirem o tema com o objetivo de transformar o corpo dócil e obediente da mulher em corpo desobediente, ou seja, livre para escolher. Na Bolívia, Maria Galindo e o grupo Mujeres Creando19 acreditam que a independência feminina também se faz a partir da apropriação da imagem construída da Virgem Maria pela Igreja Católica uma vez que esta serve como modelo de mulher ideal para os cristãos 20 . Por este motivo, em algumas das obras de Maria Galindo ela busca criar um novo exemplo do que seria uma “boa” mulher. Enquanto que para a Igreja Católica a “boa” mulher é aquela que mais se assemelha à Virgem, para a artista é a que busca os seus direitos e o seu reconhecimento enquanto tal. Em 2006 este grupo criou em La Paz o projeto La virgen de los deseos ( A Virgem dos Desejos) que consiste em um espaço que funciona tanto como um hostel quanto como um lugar de criação artística. Este grupo também criou o personagem La Virgen de los Deseos, que seria a virgem das “amigáveis, rebeldes, índias, putas e lésbicas, brancas e mulatas” 21 . 19

Mujeres Creando é um coletivo de mulheres, artistas ou não, que possui uma notável militância político-feminista (1992 - ). Um dos grandes objetivos deste grupo é refletir sobre a situação social da mulher organizando debates, publicando livros e elaborando atividades lúdicas e performances artísticas. 20 Vale ressaltar que María Galindo, em uma conferência realizada na Universidad Nacional de San Martín (UNSAM, Buenos Aires) em 22/05/2014, afirmou que o patriarcalismo e, consequentemente, o machismo não está presente somente na religião católica, mas também nas religiões indígenas. 21 Frase retirada do poema “Oración a La Virgen de los Deseos” de Maria Galindo : “Estamos bajo tu manto, hermanadas y revueltas, indias, putas y lesbianas, blancas, negras y mulatas.



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Segundo a Oración a la virgen de los deseos, ela seria a santa protetora das mulheres e por isto a autora, Maria Galindo, faz o seguinte pedido à ela: “Livrai-nos dos racistas, homofóbicos, corruptos, machistas, colonialistas e exploradores. Livrai-nos dos bispos e dos curas hipócritas que desde seus púlpitos usam a morte de Jesus Cristo para culpar uma vez mais as mulheres”22. A Virgem, neste caso, não seria a senhora da moral e dos bons costumes, a santa imaculada mãe de Jesus, ou a “Virgem Barbie” como mesmo diz a artista, mas a santa (ou a heroína) subversiva, pecadora, determinada e libertadora das mulheres oprimidas. Com o personagem A virgem dos Desejos, a artista se apropria de um cânon religioso e feminino com o objetivo de desconstruí-lo. Este cânon estaria representado na figura da Virgem Barbie, construída igualmente pela artista Maria Galindo e o coletivo Mujeres Creando para a exposição Princípio Potosí, Como podemos cantar el canto del Señor en tierra ajena? (2010), realizada no museu Reina Sofia23.

Todas nosotras, cualquiera de nosotras, todas despojadas de apellidos, sin adjetivos. Cualquiera cabe en este regazo, cualquier mujer rebelde, perseguida, buscada, criticada o señalada. Somos todas bastardas, somos todas hermanas. Todas sin padre, todas hijas de una misma madre.” Poesia retirada do site www.mujerescreando.org. 22 Trecho do poema Oración a la Virgen de los Deseos. URL: www.mujerescreando.org. 23 Esta exposição contou com a curadoria de Alice Creischer, Max Jorge Hinderer, y Andreas Siekmann. Aqui, foram expostas pinturas de Cuzco (Perú) e Potosí (Bolívia) e vários artistas foram convidados para fazer uma releitura destas obras. Como o próprio título da exposição já demonstra (Como podemos cantar el canto del Señor en tierra ajena?), estas releituras foram incentivadas a serem realizadas a partir da reflexão sobre o caráter sincrético destas imagens e do confronto entre uma cultura oficial católica e as culturas de resistência autoctonas. Para este assunto, ver o artigo de Esther Moreno no site de Mujeres Creando: http://www.mujerescreando.org/pag/activiades/2010/espana-potosi/museoreinasofia.htm. Última consulta realizada em 10/05/2014.



20

Fig. 9. Anónimo, Virgen del Cerro, 1720, Museo Nacional de Arte La Paz. Fonte : http://www.museoreinasofia.es/actividades/principio-potosi-como-podemos-cantarcanto-senor-tierra-ajena

Fig. 10 Maria Galindo, imagem do curta-metragem Virgen Barbie (2010). Fonte : http://www.museoreinasofia.es/actividades/principio-potosi-como-podemos-cantarcanto-senor-tierra-ajena

Nesta exposição, a artista se inspira em uma das pinturas mais clássicas do barroco boliviano, La Virgen del Cerro (anônimo, século XVIII) onde aparece a coroação da Virgem sendo realizada no Cerro Rico, cerro que possuía uma das reservas de prata mais abundantes do mundo na época da colonização, sendo que ele aparece como se fosse a manta que cobre o corpo da Virgem. Esta coroação é feita pela Santíssima Trindade,



21

que está na parte superior da pintura, e é assistida por membros da igreja, por figuras políticas importantes e pelos deuses incas Inti (Sol) y Quilla (luna). Nesta exposição, ao lado desta pintura aparece o grafite de Mujeres Creando com a seguinte frase: Ave María, llena eres de rebeldía. Do outro lado está o curta metragem Virgem Barbie onde uma mulher branca, loira e de olhos claros se veste de Virgem. Em sua manta estão desenhadas princesas da Disney, enquanto ela carrega, penduradas em seu pescoço, várias bonecas barbies. Em uma mão está um globo com o mapa do mundo, na outra está a cabeça de um cordeiro. Esta Virgem, colocada encima de um ataúde, é levada por algumas indígenas bolivianas até o alto do mirador de Killi Killi (La Paz), sendo que este mirador seria uma alusão ao Cerro Rico. Quando chega ao seu destino, ela começa o seu discurso. Aqui, ao contrário da Virgen del Cerro que é coroada, a Virgem Barbie renuncia à sua coroa em uma espécie de ritual onde ela começa com uma negação de si mesma: “Já não quero ser a Virgem Barbie. Já não quero ser a padroeira do racismo nem a protetora do capitalismo. Não quero ser a Virgem Barbie. Não quero ensinar às meninas a odiar os seus corpos morenos. Não quero ser ninho de prejuízos, insultos e complexos.”

Em seguida, de uma negação de si a Virgem começa a dizer o que gostaria de ser (alegre, amiga, defeituosa, imperfeita e amante) e depois fala o que deseja para este mundo capitalista, racista e patriarcal que conhecemos : “Que por detrás de mim O Capitalismo se desmorone E perca todos os deuses E as Virgens que os sustentam Que por detrás de mim Se desmorone o racismo 24 E a cor branca que o sustenta”

24



Frases retiradas do curta-metragem Virgen Barbie, de Maria Galindo.

22

Depois de pronunciar estas palavras, a Virgem começa a despir-se: desce de seu ataúde, dá o globo para um menino que começa a jogar futebol com ele, tira sua manta que continua sendo sustentada como se ela estivesse dentro, coloca a cabeça do cordeiro encima da manta e a coroa encima da cabeça do animal. Ao despir-se, a Virgem descobre como o seu corpo foi oprimido e humilhado pelo patriarcalismo. Em seguida, ela é cumprimentada pelas indígenas à maneira delas e depois começa a lavar os seus pés. Finalmente, a Virgem se veste com os trajes tradicionais das mulheres indígenas bolivianas. Neste curta-metragem, a artista Maria Galindo procura se apropriar de um símbolo feminino, a Virgem Maria, com o objetivo de desconstruí-lo e de criar novos símbolos e referências para o universo feminino pois, para ela, a luta contra o patriarcalismo é também uma luta simbólica (GALINDO, 2014). Se neste vídeo ela desconstrói a representação da Virgem, que seria a Virgem Barbie, na Oração à Virgem dos Desejos citada acima ela constrói o que seria este novo modelo de Virgem que seria similar à figura de Eva na Bíblia. Eva, como mesmo afirma o teólogo Emilio Estébanez em seu livro Contra Eva, é a figura que sintetiza a demonização da mulher nos escritos bíblicos, enquanto a Virgem Maria sintetiza o bem e as virtudes femininas como a maternidade, a castidade e a obediência. Além disto, a Virgem seria a redentora dos pecados de Eva e, por este motivo, a salvadora das mulheres, pois como afirma o Concílio do Vaticano de 1964, «O nó da desobediência de Eva foi desatado pela obediência de Maria; aquilo que a virgem Eva atara com a sua incredulidade, desatou-o a Virgem Maria com a sua fé»25. Fazendo uma analogia destas informações com as duas Virgens criadas por María Galindo, poderíamos dizer que ela, ao descontruir a Virgem Barbie e construir a Virgen de los deseos, estaria anunciando, de 25

Este trecho está presente em Lumen Gentium, uma das quatros constituições conciliares promulgadas pelo Concílio do Vaticano II em 1964, e foi citado em (ESTÉBANEZ, 2008: 70).



23

determinada maneira, uma época na qual a figura de Eva triunfaria sobre a figura da Virgem Maria e seria levada, de volta, ao mundo da devoção. Assim, Eva deixaria de ser demonizada. Aqui, poderíamos fazer uma relação com a primeira imagem que discutimos no texto, A árvore Inseminadora de León Ferrari, pois ela também anunciaria uma nova época onde as mulheres que mais se assemelham à Eva – ou seja, as mulheres pecadoras, as revolucionárias e aquelas que sabiam bem governar os seus corpos triunfariam. Quando o direito de escolha é crime

Fig. 11 Liliana Maresca, Cristo autotransfundiéndose, Mitominas II, 1988. Fonte: ROSA, Maria Laura. El arte feminista de la segunda ola en Buenos Aires, p. 344.

Na Argentina, na década de 1980 as mulheres artistas tomam uma nova visibilidade com a exposição Mitominas I (1986) e Mitominas II (1988) coordenadas por Monique Altschul 26 . Das obras expostas nestas duas edições da mostra, merece destaque a de Liliana Maresca, Cristo autotransfundiéndose (1988), onde o sangue que circula em uma reprodução de Cristo é trocado constantemente através de sondas que conectam suas feridas. O sangue de Cristo exposto em pleno contexto da AIDS, como bem 26

Para este assunto, ver a tese de doutorado de Maria Laura Rosa, Fuera de discurso. El arte feminista de la segunda ola en Buenos Aires. Inclusive, nesta tese está a única descrição e imagem que temos como referência para este artigo.



24

nos lembra Maria Laura Rosa, fez com que alguns católicos se sentissem ofendidos e, por este motivo, a curadora da exposição pediu para que a artista escrevesse um texto sobre a obra. Ao negar o seu pedido, segundo Maria Laura Rosa, os organizadores da mostra preferiram deixar a obra em um lugar menos visível para que ela não fosse alvo de outras críticas do gênero. O sangue de Cristo, neste caso, “remete à infecção e ao amor, ao martírio dos doentes e à piedade que muitas vezes não vivenciam da parte das pessoas que os rodeiam. O sangue, ao ser transfundido, lembra o grande número de contágios por este meio – característicos dos hemofílicos, entre outros infectados – e da necessidade da transfusão para poder seguir viva/o. Como um líquido alquímico, - temática que a artista abordará em seus trabalhos deste mesmo ano - o sangue nos iguala e nos diferencia ao mesmo tempo, nos dá vida mas também exibe o final.” (ROSA, 2011 : 347).

A AIDS é vista pela Igreja Católica como a marca do pecado e o preço que uma pessoa paga por ter saído do caminho do bem. Por isto foi (e talvez ainda seja) uma doença “demonizada” nas sociedades ocidentais por ter sido fruto, segundo a igreja católica, da promiscuidade, da fornicação e da homossexualidade. Esta doença seria então o resultado da liberação sexual dos anos 1970 e pertencia, principalmente (e segundo a igreja católica), àqueles que se relacionam com pessoas do mesmo sexo27. Outro ato “demonizado” pelos cristãos é o aborto pois ele é visto, assim como o infanticídio, um crime abominável28, fruto de uma desordem moral particularmente grave. Este é um dos motivos pelo qual ele ainda não 27

Segundo o Compêndio do Catecismo da Igreja Católica de 2005: “Deus criou o ser humano como homem e mulher, com igual dignidade pessoal, e inscreveu nele a vocação ao amor e à comunhão. Compete a cada um aceitar a sua identidade sexual, reconhecendo a sua importância para a pessoa toda, bem como o valor da especificidade e da complementaridade.” (Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, 2005: s/p). 28 Ainda segundo o compêndio do Catecismo da Igreja Católica (2005), é um crime grave contra a lei moral “O aborto direto, querido como fim ou como meio, e também a cooperação nele, crime que leva consigo a pena de excomunhão, porque o ser humano, desde a sua concepção, deve ser, em modo absoluto, respeitado e protegido totalmente” (Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, 2005: s/p). Vale lembrar que tanto o aborto quanto o homossexualismo são criminalizados tanto pelos católicos quanto pelos protestantes.



25

foi legalizado na maioria dos países latino-americanos. No mais, nos países onde esta prática é legalizada não significa que não existe um tabu em torno do tema. Na Espanha, por exemplo, a nova lei a favor do aborto lançada em 2014 significa um retrocesso em relação à lei aprovada em 2010, uma vez que ela restringe drasticamente as possibilidades onde o aborto pode ser realizado.

Fig. 12 Mujeres Públicas, Oración por el derecho al aborto, 2004. Fonte: www.mujerespublicas.com.ar

Fig. 13 Mujeres Públicas, Cajitas de Fósforo, 2005. Fonte: www.mujerespublicas.com.ar.

Contra esta situação, em 2004 o coletivo Mujeres Públicas fabrica “santinhos” (Fig. 12) para serem distribuídos em vias públicas e em igrejas. O modelo seguido é de um santinho tradicional, com uma imagem da Virgem Maria na frente e uma oração atrás. No entanto, esta oração se intitula “Oração pelo direito ao aborto” na qual elas reivindicam o direito das mulheres a decidirem sobre os seus próprios corpos. Mas só o direito ao aborto não é o suficiente, segundo estas artistas, para que a sociedade se



26

torne livre de preconceitos cristãos. Por este motivo, em 2005 elas realizam, através da apropriação e da sobre-identificação, caixinhas de fósforos (Fig. 13) com a imagem de uma igreja em chamas e com a seguinte frase anarquista “ A única igreja que ilumina é a que arde”29.

Conclusão

Fig. 14 Márcia X, Sem título, Série Fábrica Fallus, 1992- 2004. Fonte : www.marciax.art.br

Fig. 15 Em nome do Pai. Série Fábrica Fallus, 1994. Fonte: www.marciax.art.br

29

Nesta mesma linha de protestos, em 2013 Eloïse Bouton, militante do grupo Femen, entrou na igreja da Madeleine em Paris e fez uma performance na qual, antes de urinar no chão da igreja, ela simulou estar “abortando” Jesus. Em suas costas estava escrito “O Natal foi anulado”. Por este ato, hoje ela responde por um processo judicial e, se for condenada, poderá pagar até 15 000 euros de multa.



27

Quando se fala em repressão do corpo feminino, a maior parte da bibliografia sobre o tema discorre principalmente sobre o machismo do Estado e de instituições laicas. No entanto, como afirma Luce Irigaray,

“Eu não acredito que alguém entre vocês possa dizer: ‘Eu não quero considerar a questão de Deus’, notadamente porque nós estamos em uma economia cultural monoteísta, submissa a uma cultura do Deus masculino, da Trindade masculina. Eu sempre soube, como filósofa, que a dimensão da teologia não pode ser ignorada” (IRIGARAY, 1996: p. 212).

E de fato não pode ser ignorada uma vez que machismo e cristianismo andaram (e andam) de mãos dadas a maior parte do tempo30. Esta parceria pode ser observada em duas obras de Márcia X pertencentes à Série Fábrica Fallus (1992-2004). Na primeira obra (Fig. 14), Márcia X pendura várias medalhas de santinhos em um pênis de plástico e coloca uma cruz em sua superfície superior. Aqui, poderíamos fazer duas interpretações sobre esta obra: (1) o falo estaria representado como um órgão submisso e controlado pela moral católica; (2) o falo seria considerado como o objeto todo poderoso e predominante no catolicismo. Estas duas interpretações podem então desembocar em uma terceira: a do falo submisso e controlador ao mesmo tempo. Submisso à Deus e, por isto, controlador na terra. Esta associação entre machismo e catolicismo é mais evidente na figura 15. Aqui, podemos observar uma crítica à visão machista construída da Virgem Maria no seio da igreja católica uma vez que a imagem da Virgem, dentro de uma cápsula, toma a forma de um falo, ou seja, do próprio mundo masculino e machista. Devido à estas constantes trocas e fusões entre o machismo e o catolicismo que León Ferrari e os coletivos de artistas Mujeres Públicas e 30

Quanto à questão do Deus masculino, somente no final do século XIX que começaram a aparecer teólogos que procuraram dar uma maior importância ao tema da mulher nos escritos bíblicos. Graças a esta iniciativa, hoje a teologia feminista e o movimento feminista dentro das religiões cristãs procuram realizar uma releitura destas tradições a partir de uma perspectiva feminista. No mais, também procuram aumentar o papel e a importância das mulheres dentro de suas instituições. Porém, as mudanças dentro destas instituições, apesar deste debate está tomando cada vez mais força, ainda está por vir.



28

Mujeres Creando também buscam fazer uma crítica à imagem patriarcal construída da Virgem Maria ou da “mulher exemplar” como branca, casta, pura e submissa. A Virgem Maria, para estes artistas, seria o símbolo e o resultado da opressão que a mulher sofreu e ainda sofre nos dias de hoje. Por este motivo, eles se apropriam de símbolos femininos do catolicismo com o objetivo de desconstruí-los. Ao mesmo tempo, também criam outras referências de feminilidade, como a Virgem de los Deseos de Maria Galindo ou as sobreviventes do dilúvio de León Ferrari. Em todas estas obras, os autores procuraram refletir sobre as subjetividades do corpo feminino ocidental construídas a partir de diversas amarras e limitações impostas pelo cristianismo (e pela sociedade machista) com o objetivo de transformar estes “corpos dóceis, obedientes e paradoxalmente pecaminosos” em corpos desobedientes, pensantes, livres e capazes de escolher. Este artigo procurou refletir sobre este assunto de acordo com o seguinte fluxo: na primeira parte discutimos sobre as proibições e os desejos reprimidos que acabam sendo exteriorizados de alguma maneira; na segunda parte discutimos sobre a criação de cânons femininos pelo cristianismo a partir desta repressão dos desejos e como artistas contemporâneos buscam se apropriar destes cânons com o objetivo de desconstruí-los e reinterpretá-los. Por fim, na última parte discutimos como estas proibições religiosas, que acabam sendo incorporadas pelo estado laico ou relativamente laico, como é o caso da Argentina31, interferem nos direitos de escolha de cada indivíduo e como alguns artistas abordam esta questão. Através desta discussão, este trabalho pretende ser uma contribuição aos estudos feministas tendo como premissa a ideia de que o cristianismo (e sobretudo o catolicismo), seja de forma direta ou indireta, ainda está presente na construção das subjetividades femininas contemporâneas e latino-americanas.

31

A Argentina é um país majoritariamente católico e, além disso, A Igreja Católica possui um status diferenciado das outras Igrejas tanto na Constituição Nacional quanto no Código Civil, apesar disto não fazer do catolicismo a religião oficial do Estado.



29

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