O INVESTIMENTO DO GOVERNO CHINÊS EM ENERGIA LIMPA E PROJETOS AMBIENTAIS

August 26, 2017 | Autor: D. Mateus de Paiva | Categoria: China, Economia, Energías Renovables
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Políticas Energéticas para a Sustentabilidade 25 a 27 de agosto de 2014 Florianópolis – SC

O INVESTIMENTO DO GOVERNO CHINÊS EM ENERGIA LIMPA E PROJETOS AMBIENTAIS Dante Lowenthal Lopes Ferreira1 Ramon Porphirio Guabiroba2 Dênis Mateus de Paiva3 Gilmara Muniz de Almeida4

RESUMO O exponencial aumento da demanda chinesa por energia vem acompanhado de significativos impactos negativos ao meio ambiente. Nos últimos anos, é possível verificar maior atenção às questões ambientais por parte do governo chinês. Além da pressão da comunidade internacional, alguns consideram esta mudança como reflexo das necessidades do próprio país de diversificação de sua matriz energética, reduzindo assim a dependência dos recursos naturais advindos de regiões geopoliticamente instáveis. Devido às condições estruturais do crescimento econômico chinês, associadas ao seu descomunal contingente populacional, esta tarefa encontra obstáculos consideráveis. Além dos problemas internos, a conjuntura internacional, especialmente após a eclosão da última crise mundial, adiciona outros desafios à política ambiental da China. Este trabalho tem por objetivo analisar como vem ocorrendo o enfrentamento a estas questões através de investimento em energia limpa e projetos ambientais. Palavras-chave: China, Investimento, Projetos Ambientais, Energia Limpa, Crise

1Universidade

Federal da Bahia, Programa de Pós Graduação em Economia (PPGE), emails: [email protected], [email protected], telefone: 19 992356194. 2Universidade Federal da Bahia, Programa de Pós Graduação em Economia (PPGE), emails: [email protected], telefone: 21 983562788 3Universidade Federal da Bahia, Programa de Pós Graduação em Economia (PPGE), emails: [email protected], telefones:71 82868460, (35) 3422-5731 4 Universidade Federal da Bahia, Programa de Pós Graduação em Economia (PPGE), emails: [email protected], telefones: (71) 9251-4393

ABSTRACT The exponential increase of the Chinese demand for energy also means huge environmental negative impacts. In recent years it’s possible to observe that there’s a higher attention given by the Chinese government to the environmental issues. Added to the international community pressure, some people consider that this change over reflects China’s need to diversify its energetic sources, reducing its dependency on natural resources from instable geopolitical regions. Because of the structural conditions of the Chinese economic growth, associated to its colossal demographic contingent, this task finds considerable obstacles. More than its internal problems, the international conjecture adds other challenges to the Chinese environmental policy, especially after the beginning of the last world crisis. This paper aims to analyze how China has been facing these issues through investment on clean energy and environmental projects. Keywords: China, Investment, Environmental Projects, Clean Energy, Crisis

1.INTRODUÇÃO A mais recente crise mundial reverberou de modo menos destacado alguns países em desenvolvimento. Integrante deste grupo, a China continuou a ser principal motor da economia global, apresentando taxas altas de crescimento, muito superiores às dos demais países, ainda que relativamente mais baixas que no período pré-crise. Este bom desempenho tem como origem uma série de fatores já anteriores à eclosão da crise econômica mundial que vão desde a estrutura característica da economia de cada país, o nível e tipo de envolvimento com os outros países do mundo, etc. Entretanto, não há como não considerar a relevância das medidas que foram feitas pelas autoridades deste país em rápida resposta à notícia de crise sistêmica nos Estados Unidos, entre elas a injeção de 4 trilhões de yuans na economia como parte da política fiscal. Deste total, 350 milhões foram destinados a projetos ambientais (de energia limpa) (LEITE, 2010). Além disso, a questão da segurança energética é uma das principais pautas para o planejamento estrutural de um país. Desde a primeira crise do petróleo em 1973, diversos governos ao redor do mundo passaram a repensar suas matrizes energéticas, então, exclusivamente dependentes da termoeletricidade. Tensões geopolíticas levam os governos a tentar diversificar ao máximo os meios de obtenção de energia de modo a evitar a dependência de regiões politicamente instáveis. Também, no mundo de hoje é inegável a cada vez maior relevância dada a questão ambiental, os problemas resultantes de má conduta em relação ao meio ambiente não têm efeitos estritamente locais, mas de

âmbito internacional, o mesmo acontece com as iniciativas positivas de redução dos impactos ambientais. Considerando o gigantismo demográfico e econômico da China, cujas escalas da produção industrial e de energias e expandem em ritmo impressionante, é de grande relevância um estudo mais minucioso do processo de expansão da matriz de energia limpa chinesa e de seus projetos ambientais. A China assiste, já há alguns anos, a um aumento exponencial em sua demanda por energia, apesar de historicamente ter o carvão (recurso energético mais abundante em seu território) como principal forma de energia, o país também utiliza energia advinda de outras fontes. Teve o fim de sua autossuficiência em petróleo em 1993, o que deu início a uma cada vez maior dependência de importação deste recurso natural de países com instável situação geopolítica especialmente do oriente médio e norte da África. Em 2008 a China tornou-se o segundo maior consumidor de petróleo e terceiro maior importador, esta situação, somada a pressão ecologista mundial e ao recente acidente nuclear no Japão (o que desestimulou muitos dos projetos de energia nuclear pelo mundo), fez com que a expansão de projetos de geração de energia, em especial limpa, tornassem-se pauta importante nos planos das autoridades chinesas, visto que os sucessivos governos do pais tiveram tradicionalmente como uma das prioridades manter a autossuficiência e autoconfiança na segurança energética (ZHANG, 2011). Ao contrário do que muitos acreditam, há um empenho por parte do governo chinês para aumentar gradativamente a parcela de fontes renováveis de energia. A agência nacional de estatísticas chinesa informou que com o gradual aumento das obras de geração de energia renovável, a porcentagem de energia eólica, solar, hidráulica e nuclear na matriz energética nacional chegou a 9,5% em 2008, a meta das autoridades chinesas é chegar a 15% deste total até 2020 (THE WORLD BANK, 2010). Em uma reportagem, a agência Xinhua de notícias (2009) mostrou que, enquanto a energia hidroelétrica saltou de 1% do total consumido no país em 1949 para 7,4% em 2008, alcançando 170 milhões de kW, o que tornou a China o maior consumidor de energia hidroelétrica do mundo, no mesmo ano o setor solar do país produziu 6000 toneladas de silicone policristalino (material essencial para fabricar geradores de energia solar) e 2 milhões de kW em células fotovoltaicas. A capacidade instalada do setor nuclear no mesmo ano alcançou 8,85 milhões de kW enquanto o setor eólico aumentou seis vezes em três anos alcançando 12,21 milhões de kW o que fez do país o quarto produtor mundial nesta categoria de geração de energia.Com isso vê-se que a expansão energética renovável chinesa já existia e representava grande volume de consumo do governo antes da crise, assim os formuladores de políticas econômicas do país apenas

utilizaram a ampliação destes gastos como parte de uma ferramenta macroeconômica, o que será o objeto de análise presente trabalho.

2.A MATRIZ ENERGÉTICA CHINESA: CARACTERÍSTICAS E PREVISÕES A China possui diversos recursos naturais como metais, minerais e petróleo, apesar disso o país importa muitas commodities energéticas. Como já visto, historicamente seu o recurso energético mais usado foi e ainda é o carvão mineral, apesar disso, sua importância relativa na produção e consumo energético chinês reduziuse gradativamente por questões econômicas e ambientais, tendo decaído de 96% de toda energia primária da nação em 1952 para 68% em 2008. Apesar de possuir reservas deste mineral e ser o maior produtor do mundo, a China também importa considerável quantidade do recurso, tendo sido o maior importador do mundo em maio de 2009 quando importou 9,43 milhões de toneladas, mais que o dobro do importado no mesmo período do ano anterior, aumento este ocorrido graças à baixa do preço do produto ocorrida entre um ano e outro (XIAOJI, 2009). A demanda por todas as fontes de energia aumenta juntamente com a economia do país, o que fará com que a China seja em breve o maior consumidor de energia do mundo. O consumo de gás natural, por exemplo, entre os anos de 2007 e 2008 cresceu 15,8%, taxa bem superior à média global de crescimento no mesmo período que foi 2,5% (ZHANG, 2011). Com 16 bilhões de barris de reserva provada de petróleo (cerca de 1,2% do total mundial), a China foi até 1993 autossuficiente no que tange a este produto (EIA, 2010). Esta autossuficiência foi por muitos anos o princípio básico da política energética do país, motivo de orgulho e insuflador do patriotismo nos períodos nacionalista e comunista. Ironicamente a exploração intensa de petróleo na China iniciou-se com a descoberta de jazidas e construção de um campo, chamado Fushun, pelos japoneses no período de invasão japonesa da China no começo do século XX (LIN, 2008). Mesmo sendo atualmente o quinto maior produtor de óleo cru do mundo, a situação da China em relação ao petróleo está longe da autossuficiência de outros tempos, a produção petroleira do país cresceu 17 vezes entre 1965 e 2008, enquanto o consumo subiu 37 vezes no mesmo período. No ano de 2008 o consumo do recurso fóssil representou 22% do consumo total chinês de energia primária (um aumento de 3,3% em relação ao ano anterior) o que equivale a 9,5% do consumo global (que obteve um decréscimo de 0,6% no mesmo período). O país hoje importa mais de 50% do petróleo que consome, metade deste petróleo importado pela China vem do Oriente Médio e 85% passa por regiões estratégicas como os estreitos da Ormuz e Suez, a instabilidade política ocorrida no

mundo árabe no ano de 2011, somada à volatilidade dos preços das commodities energéticas e a previsão de que se nada for feito a parcela da energia importada alcançará entre 60 e 70% do total consumido pelo país e ao evidente aumento da poluição na região, reforçaram a intenção do governo chinês de aumentar cada vez mais o investimento em geração de energia por fontes renováveis (ZHANG, 2011). Pan (2011) destaca que o motivo para a campanha chinesa rumo a uma matriz energética mais limpa e renovável vai além das decisões de redução global de emissões propostas em assembleias internacionais, para o autor a necessidade de tais mudanças está fortemente ligada a preocupações internas do país. Apesar de já possuir uma quantidade alta de poluentes na atmosfera, o país tem uma taxa de apenas 50 proprietários de carros por mil habitantes, esta taxa é equivalente a apenas 1/15 do que se encontra nos EUA e 1/10 do Japão. Considerando a rápida ascensão social de grandes parcelas da população no país, se nada fosse feito a respeito, a situação poderia caminhar para algo alarmante. Além disso, há também a preocupação em relação ao esgotamento de reservas de recursos fósseis do país, o autor afirma que se não forem descobertas mais jazidas estima-se que o petróleo da China seria o equivalente para sustentar o crescente consumo interno por apenas 11,3 anos, o gás duraria 32,3 anos e o carvão 41 anos, todas estimativas bem inferiores às médias mundiais. Segundo o autor, a questão envolve mais o questionamento de como sustentar o dinâmico progresso do país do que as mudanças climáticas em si. Apesar das alarmantes observações o autor afirma que o processo de transformação chinês está sendo conduzido com sucesso.

3.POLÍTICA ENERGÉTICA E AMBIENTAL CHINESA: PLANOS, DESAFIOS E MEDIDAS TOMADAS Pensando na segurança energética, o governo chinês criou em janeiro de 2010 a Comissão Nacional de Energia, composta pelo Premier Wen Jiabao, 21 ministros e diferentes departamentos do país, como a Comissão Nacional do Desenvolvimento e Reforma e o Banco Popular da China, com o intuito de planejar o desenvolvimento do país e aprimorar a estratégia energética nacional, além de coordenar a cooperação internacional na área. (ZHANG, 2011). Outra demonstração do aumento da atenção dado pelo governo à questão energética foi o fato do11º plano quinquenal chinês (2006-2010) se diferenciar dos anteriores por apresentar metas de conservação de energia. Nele o governo tinha três objetivos principais: eficiência econômica, redução dos impactos sociais da política energética e preservação ambiental. (ZHANG, 2011).

Hilton (2011) descreve o 12º plano quinquenal (2011–2015) que avançou em relação ao anterior no que diz respeito às questões ambientais pois, em vez de apenas mencionar o problema do aquecimento global como havia sido feito no anterior, colocou a questão como pauta de destaque. Tal mudança é fruto da combinação de diversos fatores, como as diversas críticas que os planos quinquenais anteriores chineses sofreram por priorizar quase exclusivamente um crescimento não ecologicamente sustentável, enfatizado na maciça industrialização. O plano representou, segundo esta autora, um redirecionamento crucial no planejamento nacional chinês. O desafio proposto no plano é a manutenção das melhorias socioeconômicas conseguidas nos últimos anos, porém sem negligenciar as questões ambientais como aconteceu nos trinta anos precedentes. O obstáculo principal para esta missão, segundo a autora, são os resquícios de uma China subdesenvolvida que ainda perduram em algumas partes do país e que necessitam do modelo tradicional de indústrias para criar empregos. Desta vez, o plano apresentou metas quantificadas em relação ao meio ambiente: 16% de redução da intensidade energética e 17% de redução das emissões de CO 2 por unidade de PIB até 2015. Para alcançar tais metas, seria realizada uma política de incentivo fiscal para proporcionar a conservação da energia e redução das emissões. O Banco Industrial e Comercial da China anunciou que dobraria o montante de 93 bilhões de dólares no final de 2010 destinados a empréstimos a setores que promovessem a redução de emissões e a economia de energia, carros elétricos também foram anunciados como parte das medidas a serem adotadas, há menções também a medidas de cooperação externa como transferência de tecnologia entre a China e outros países (SELIGSOHN e HSU, 2011). Outras metas ambientais do plano são o reflorestamento de 600 milhões de metros cúbicos, fazendo a cobertura florestal chegar a 21,66%, o aumento do uso de combustíveis não fósseis dos atuais 8,3% para 11,4% do consumo de energia primária e a redução do consumo de água na indústria por unidade de valor adicionado de produção em 30% para 2015, expandir a geração hidroelétrica, implantar 70 GW de fazendas de geração eólica e 5 GW de fazendas de geração solar. O plano visava aumentar 40 GW de energia nuclear, porém após o acidente ocorrido em Fukushima tal projeto foi suspenso. (BOYD e COPSEY, 2011). Mesmo com tantas iniciativas objetivando uma transformação nas estruturas produtivas chinesas para tornar o país uma potência “verde”, Pan (2010) alerta para o fato de esta mudança não ser tão facilmente alcançável de forma imediata, segundo o autor, a China passa por um dilema pois, mudanças que proporcionam um desenvolvimento rumo às soluções de baixo carbono necessitam por um tempo da ajuda de meios de alto carbono. Desta forma, a compreensão e cooperação por parte da

comunidade mundial rumo ao desenvolvimento sustentável da China seriam necessárias. O autor completa afirmando que é muito mais difícil para um país em pleno crescimento reduzir certa porcentagem de suas emissões de gases do efeito estufa do que uma economia madura que esteja perto do estado de pleno emprego. Segundo Liu e Raven (2010), mesmo com desafios ambientais sérios que fizeram o país ficar na 133ª posição em um ranking mundial de sustentabilidade ambiental com 146 países, a China vem participando ativamente de conferências e esforços mundiais em defesa do meio ambiente. O país teve historicamente uma taxa de emissões de CO 2 per capita baixa em relação aos países hoje desenvolvidos, com o recente crescimento industrial acelerado e consequente deterioração de sua condição ambiental, o país tem se prontificado a cumprir as metas de redução de emissões visando se tornar líder na produção de energia solar. Em relatório referente à primeira sessão do 12º Congresso Popular Nacional (2013), o ministério do meio ambiente chinês destacou os sucessos conseguidos pelo governo nas empreitadas planejadas para o avanço ecológico do país. Segundo o relatório, nos cinco anos que o precederam o consumo energético por unidade do PIB diminuiu 17,2%, setores estratégicos industriais, entre os quais está o de energia limpa, cresceram rapidamente, a demanda química de oxigênio total caiu 15,7 %, o total de emissões de dióxido de enxofre caiu 17,5%, padrões de qualidade do ar foram revistos, foi criado o índice de qualidade do ar para monitorar as partículas finas (PM2.5), registraram-se progressos em importantes projetos ecológicos para proteger as florestas virgens, reflorestar terras agrícolas marginais, e prevenir e controlar a desertificação. Ao longo dos últimos cinco anos, um adicional de 29,53 milhões de hectares de terra foram reflorestados, a desertificação foi interrompida em 11,96 milhões de hectares de terra, a erosão do solo foi controlada em 246 mil quilômetros quadrados de terra e um total de 180.000 quilômetros quadrados de terra foram revitalizados. Alguns resultados das políticas idealizadas no 12º plano quinquenal podem ser verificados na tabela 1. Tabela 1: Investimento Verde no 12° Plano Quinquenal. (UNEP, 2013) Área

Investimento (bilhões de RMB)

Investimento (bilhões de US$)

Gestão ambiental Instalações de proteção ecológica e biodiversidade Energia Renovável Economia de Energia Transporte Urbano Sustentável Prédios Verdes

1530 1200

249 195

1500 500

244 81

1400

228

400 (est.)

65

Total

6530

1062

Em apena 5 anos a China deixou de ser um mercado pouco significante no que diz respeito à energia Eólica e passou a ser o líder mundial. Seu crescimento anual em 2011 foi de 40% com mais de 11000 turbinas instaladas (UNEP, 2013). A tabela 2(UNEP, 2013), mostra dados a respeito da energia eólica para os maiores produtores do mundo, revelando que a China hoje é líder com larga vantagem em relação aos demais países: Tabela2: Dados comparativos referentes à energia eólica para diferentes países do mundo. Países

Capacidade Total (GW)

Participação Total Mundial (%)

China

62,4

25,9

Estados Unidos Alemanha

47,1 29,2

19,5 12,1

Resto do Mundo

101,6

42,5

A exemplo da energia eólica, o investimento em energia proveniente de biomassa cresceu muito nos últimos 5 anos e as metas futuras de crescimento são ambiciosas. Já no que tange a biocombustível, apesar do considerável incremento do setor nos últimos anos, as metas são pouco ambiciosas se comparadas com as do Brasil e Estados Unidos. Os gráficos das figuras 1 e 2 (UNEP, 2013) mostram dados sobre a biomassa na China, o primeiro gráfico mostra a expansão da capacidade instalada de geração de energia elétrica pela biomassa com projeções para os anos que ainda não vieram, e o segundo gráfico mostra o avanço da produção de bicombustível:

Figura 1: Capacidade instalada da biomassa na China.Figura 2:Produção de bicombustível na China.

4.A UTILIZAÇÃO DAS POLÍTICAS AMBIENTAIS COMO FERRAMENTA DE COMBATE À CRISE Para Nan (2010), apesar de a crise mundial ter representado grande desafio não só para a China, mas também a muitos outros países do mundo, esta situação singular pôde representar uma oportunidade para se repensar a forma do atual modelo de desenvolvimento. O autor afirma que a China é uma das economias que melhor soube tirar proveito desta situação, investindo em novos tipos emergentes de indústrias como as geradoras de energia limpa, as de carros elétricos, as indústrias de biotecnologia e aquelas dedicadas ao desenvolvimento de novos materiais menos danosos ao meio

ambiente, e com isso expandindo a demanda interna. Para o autor, este é o momento para o país, que teve um desenvolvimento nos últimos 60 anos equivalente a 200 anos ou mais dos países ocidentais, utilizar inovações tecnológicas, opinião otimista compartilhada também com Jiantang (2012) que descreve com entusiasmo tais inovações em seu artigo. Zhang (2009) mostra em seu trabalho que apesar de ter sido menos afetada que muitos países, a China também sofreu as consequências da crise mundial após o estouro da bolha imobiliária. Segundo o autor, o crescimento do PIB no ano de 2008 foi de 9%, número inferior aos 13% observados em 2007, e seguiu caindo, em 2009 chegando, a 6,1% no primeiro trimestre comparado ao mesmo período do ano anterior, antes de voltara subir a partir do segundo trimestre. Os índices de preço relacionados à inflação, que medem o grau de aquecimento da economia também desabaram. O autor aponta como principais motivos para estes efeitos, a retração da demanda internacional em especial a das economias centrais, e a consequente redução do investimento fabril que afetou profundamente o mercado de commodities em agosto de 2008. Para combater os efeitos citados, o governo chinês realizou uma série de medidas macroeconômicas complementadas por algumas políticas industriais. O principal elemento desta série de políticas macroeconômicas foi o pacote de estímulos de 4 trilhões de yuans para os anos de 2009 e 2010, apesar de ter suas maiores parcelas destinadas aos investimentos em transportes (1800 milhões de yuans), auxílio à reconstrução de regiões devastadas por terremotos (1000 milhões) e recursos destinados à infraestrutura rural (370 milhões); um valor considerável de 350 milhões foi destinado aos projetos ambientais. Estes recursos turbinaram o processo que Müller-Kraener (2009) chama de “Green New Deal” chinês, a autora cita os principais usos do pacote destinado a questões ambientais: reconstrução de estruturas de geração de energia e transportes buscando menor impacto no meio ambiente, construção de “carros verdes“ e adaptação gradual dos existentes, investimento em melhora na eficiência energética chinesa que ainda é bastante aquém da encontrada em muitos países, e projetos de adaptação climática e proteção das áreas florestais. Mesmo passado o auge dos efeitos negativos da crise sobre a China, os pacotes destinados ao desenvolvimento ecológico continuaram e aumentaram, segundo apontado por Xuecheng (2009). O autor completa mostrando que os incentivos governamentais também são observados na forma de impostos diferenciados para setores de inovações energéticas e de materiais menos danosos à natureza. O setor bancário também deu sua contribuição à política ambiental do país oferecendo taxas menores em empréstimos aos projetos ambientais, e taxas punitivas

aos muito poluidores (Xuecheng, 2009). A ideia de associação entre o setor de financiamentos e a promoção do progresso ecológico se iniciou ainda em 2007 quando as agências governamentais e os reguladores financeiros criaram diretrizes para políticas de crédito verde, o que incluía a regulação conjunta entre o Ministério do meio ambiente, o Banco

Central

e

a

Comissão

de

Regulação

Bancária

(China

Banking

RegulatoryComission- CBRC) (BIN, 2013).Em 2008-2009, o Banco Industrial e o Banco Industrial e Comercial da China (Industrial and Comercial Bank of China- ICBC) foram os líderes em políticas de crédito verde. Enquanto o Banco Industrial contribuiu com 2,15 bilhões em empréstimos a projetos de economia de energia e redução de emissões, o ICBC fez um montante de 49,15 bilhões em empréstimos a projetos de mesma natureza. O ICBC foi o primeiro banco chinês a criar um “veto ambiental”, exigindo dos clientes, conformidade com certas normas ambientais para a concessão (Xuecheng, 2009).Em 2011, o crédito verde vindo dos seis maiores bancos da China totalizou 1,9 trilhões de yuans, e no fim do terceiro trimestre de 2012 os empréstimos do Banco de Desenvolvimento Chinês a projetos ambientais somaram 780,4 bilhões de yuans, o equivalente a 13,9% de todos os empréstimos realizados pela instituição no período (BIN, 2013).

5.CONCLUSÃO A relação entre o planejamento de desenvolvimento econômico chinês tanto social quanto ambientalmente tem sido dúbia. Existem duas Chinas: de um lado o país que desde as primeiras assembleias ambientais das Nações Unidas participou ativamente dos esforços para a preservação ambiental e desenvolvimento sustentável. De outro está a China que necessitava sustentar energeticamente sua crescente industrialização fazendo uso considerável de combustíveis fósseis, e consequentemente, das altas emissões de gases do efeito estufa. Com o passar dos anos e o gradativo aumento da importância dada pela comunidade internacional aos problemas ambientais, aquela China engajada em projetos de redução de impactos ambientais foi aumentando sua força relativa, o que acabou transparecendo em sua política oficial, notadamente no último plano quinquenal. Apesar disso, aquela China ávida por crescimento a qualquer custo, que destacada especialmente nas mais remotas regiões industriais de seu território, nas grandes usinas termoelétricas, nas cinzentas metrópoles e nos subúrbios do país, chamados parques industriais, perdurava com energia igualmente intensa. O Partido Comunista Chinês, a cada assembleia realizada, dá ênfase maior às metas ambientais, o que demonstra a

clara intenção das autoridades do país em mudar seu padrão de produção intenso em energia de fontes não renováveis e poluidor, esta postura representa a consciência dos governantes de que entre as características do desenvolvimento de um país está a qualidade de vida da população, e esta será melhorada com a redução dos níveis de poluição. A vinda da crise, como apontaram alguns autores, acabou sendo uma chance para aumentar os estímulos a projetos de caráter ambiental que mesmo com o passar do auge da crise continuam a se expandir. Assim, apesar de a luta do governo chinês para reformular seu padrão de crescimento ser árdua, gradativa, relativamente lenta e demandar paciência de agências internacionais, ela está obtendo sucessos e se mostrando mais rápida do que se esperava há alguns anos. É provável que dentro de algumas décadas a imagem que o mundo tem da China seja completamente diferente da que se tem hoje, de um monstro poluidor passaria a uma nação verde.

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